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Revista Brasileira de Orientação Profissional
versão On-line ISSN 1984-7270
Rev. bras. orientac. prof v.6 n.1 São Paulo jun. 2005
ARTIGOS
Um estudo sobre a maturidade para a escolha profissional de alunos do ensino médio
A study about maturity for professional choice of high school students
Un estudio sobre la madurez para la elección profesional de alumnos de enseñanza preparatoria
Kathia Maria Costa NeivaI 1 *; Mariita Bertassoni SilvaII III **; Vera Regina MirandaII III ***; Cristiano EstevesIV ****
I Universidade Ibirapuera, São Paulo
II PUC-PR
III UnicenP, Curitiba
IV Vetor Editora, São Paulo
RESUMO
O objetivo desta pesquisa foi verificar se existem diferenças significativas no nível de maturidade para a escolha profissional de alunos do ensino médio da cidade de Curitiba PR, segundo o sexo, o tipo de escola, o turno de estudos (diurno ou noturno) e a série escolar do ensino médio. Para tanto, aplicou-se a Escala de Maturidade para a Escolha Profissional EMEP numa amostra de 950 alunos do ensino médio, provenientes de escolas públicas e particulares dessa cidade. Os resultados indicaram diferenças significativas na maturidade para a escolha profissional em função do sexo, do tipo de escola e da série escolar. As moças mostraram-se mais maduras do que os rapazes, os alunos de escola particular mostraramse mais maduros do que os de escola pública e os alunos da terceira série mais do que os de primeira série. Entretanto, não foram observadas diferenças significativas na maturidade para a escolha profissional, em função do turno de estudo dos alunos (diurno ou noturno).
Palavras-chave: Maturidade para a escolha profissional, Estudantes do ensino médio, Orientação profissional.
ABSTRACT
The aim of this research was to explore significant differences in maturity for professional choice of high school students from the city of Curitiba, Brazil, considering sex, school type, attendance time (day or evening) and high school grade. A sample composed of 950 high school students, from both private and public schools located in that city, was submitted to the Maturity for Professional Choice Scale. The results indicated significant differences in maturity for professional choice concerning sex, school type and high school grade. The girls showed more maturity than the boys, students from private high school showed more maturity than students from public schools and 12th grade high school students more than 10th grade. However, no differences were observed in maturity for professional choice, concerning attendance time.
Keywords: Maturity for professional choice, High school students, Professional guidance.
RESUMEN
El objeto de esta investigación fue verificar si existen diferencias significativas en el nivel de madurez para la elección profesional de alumnos de enseñanza media de la ciudad de Curitiba, Brasil, según el sexo, el tipo de escuela, el horario de estudio (diurno o nocturno) y el año escolar de la enseñanza media. Con ese fin, se aplicó la Escala de Madurez para la Elección Profesional a una muestra de 950 alumnos de enseñanza media, de escuelas privadas y públicas, de esta ciudad. Los resultados indicaron diferencias significativas en la madurez para la elección profesional según el sexo, el tipo de escuela y el año escolar. Las chicas se mostraron más maduras que los varones, los alumnos de escuela privada se mostraron más maduros que los de escuela pública y los alumnos de tercer año más que los de primer año. Sin embargo, no se observó diferencia significativa en la madurez para la elección profesional, según el horario de estudio (diurno o nocturno).
Palabras clave: Madurez para la elección profesional, Alumnos de enseñanza media, Orientación profesional.
A escolha profissional tem sido objeto de estudo e análise de muitos teóricos, e várias propostas já foram formuladas, visando facilitar este processo. Alguns autores referem-se às modalidades de Orientação Profissional existentes, dentre eles Bohoslavsky, (1998), Neiva (2002), Melo-Silva e Jacquemin (2001), Giacaglia (2003). Entretanto, ainda são poucos os jovens que elaboram esta decisão de forma consciente e madura e muitos acabam abandonando seus projetos profissionais. Algumas pesquisas, baseadas na realidade brasileira, indicam que apenas 5% dos jovens que ingressam em um curso superior têm certeza de sua escolha (Avancini, 1998; Zanella, 1999). Segundo Soares (1993, p. 12), “25% a 30% dos alunos que ingressam nas diversas universidades públicas brasileiras já haviam iniciado anteriormente outro curso superior, do qual se afastaram...”.
A escolha profissional não depende de uma única variável, ao contrário, é multifatorial. Vários fatores influenciam na maior ou menor “qualidade” da escolha e no tipo de vínculo que o sujeito vai desenvolver com o seu objeto de trabalho. Dentre eles podem-se citar: os políticos, os econômicos, os sociais, os educacionais, os familiares e os psicológicos. Em relação aos fatores psicológicos, algumas variáveis podem influenciar a escolha profissional, tais como: os interesses, as habilidades, os traços de personalidade, os valores, as expectativas com relação ao futuro e a maturidade para a escolha profissional (Neiva, 2002; 1999). O presente estudo está relacionado a esta última variável.
Super (1955) introduziu o conceito de maturidade vocacional, definindo-a como um conjunto de atitudes e comportamentos que devem ser empreendidos, visando a inserção profissional. De acordo com este autor e outros que apóiam o modelo desenvolvimentista (Crites, 1978; Pelletier, Bujold & Noiseux, 1979), o desenvolvimento vocacional é um processo contínuo que se estende da infância à velhice, geralmente ordenado e previsível. De acordo com Super (1955), o desenvolvimento vocacional dá-se em estádios e o nível de maturidade vocacional corresponde ao ponto em que o sujeito situa-se no continuum desse desenvolvimento. Seu modelo de maturidade vocacional é composto por cinco dimensões: orientação para a escolha profissional; informação e planejamento; coerência da escolha; cristalização dos traços e pertinência da escolha.
Crites (1961) propôs um outro modelo teórico para a maturidade vocacional, distinguindo quatro dimensões: consistência, realismo, competência e atitude. As duas primeiras referem-se ao conteúdo, enquanto que as duas últimas referem-se ao processo de escolha. Vários colaboradores de Super e outros pesquisadores interessaram-se pelo estudo e validação desse conceito, e diferentes instrumentos foram construídos, visando à avaliação da maturidade vocacional. Dentre eles, pode-se citar: Career Development Inventory CDI elaborado por Super (1973), que deu origem posteriormente ao CDI-A para jovens adultos (Super & Thompson, 1979) e ao Adult Career Concerns Inventory ACCI, publicado por Super e colaboradores em 1988 (Balbinotti, 2003), assim como ao Career Maturity Inventory - CMI elaborado por Crites (1978). Outros instrumentos são também mencionados por Balbinotti (2003), como o Questionário de Educação à Carreira (QEC) elaborado por Dupont e Gringas em 1990, e o Inventário de Desenvolvimento Profissional (IDP) construído por Dupont e Marceau em 1982. Este último possui uma versão brasileira Inventário Brasileiro de Desenvolvimento Vocacional IBDP construída por Lobato e Koller (2003). Balbinotti (2003) comparou a estrutura e as qualidades métricas de alguns desses instrumentos. Além disso, analisou vários estudos sobre maturidade vocacional e a sua relação com outras variáveis, tais como: sexo, nível de estudos, origem cultural e aspirações ocupacionais. Estes estudos foram realizados com diferentes instrumentos, junto a amostras de culturas variadas. Com relação à variável sexo, alguns estudos analisados por Balbinotti (2003) constataram que as meninas obtiveram um nível de maturidade mais alto do que os meninos, mas outros não constataram diferenças na maturidade vocacional segundo o sexo. Este autor apontou ainda que, apesar de algumas pesquisas detectarem a evolução da maturidade em função do nível de estudos, outras indicaram que não há uniformidade e constância no desenvolvimento vocacional. Com relação à origem racial e étnica, vários estudos analisados por Balbinotti, Wiethaeuper e Barbosa (2003) apontaram diferenças na maturidade vocacional. Entretanto, este autor considerou a possibilidade destes resultados poderem estar associados a diferenças no nível socioeconômico e nos valores culturais.
Em outro estudo, Balbinotti, Wiethaeuper e Barbosa (2004) utilizou a Escala de Avaliação Vocacional (EAV), versão brasileira da Vocational Rating Scale elaborada por Barrett em 1976, para comparar os níveis de cristalização de preferências profissionais em alunos do ensino médio. A cristalização foi entendida pelo autor como uma das etapas do desenvolvimento de carreira que corresponde, geralmente, à faixa etária de 14 a 18 anos. Os resultados não indicaram diferenças significativas segundo o sexo, a idade e a série do ensino médio. Entretanto, foram observadas diferenças significativas quanto à variável tipo de escola, indicando que alunos de escola pública mostraram níveis de cristalização das preferências profissionais mais altos que os de escola particular.
Lobato e Koller (2003) pesquisaram a relação entre maturidade vocacional e sexo utilizando o Inventário Brasileiro de Desenvolvimento Profissional, junto a alunos da terceira série do ensino médio, não constatando diferença na maturidade total em função do sexo. Entretanto, foi observada diferença significativa na subescala de Planificação, favorável aos homens. Observa-se, assim, que não há na literatura uma uniformidade nos resultados das pesquisas, envolvendo a maturidade vocacional e variáveis como sexo e nível de estudos.
Neiva (1998, 1999) partindo das idéias de Super (1955, 1973), Super e Thompson (1979) e Crites (1961, 1965, 1978), interessou-se por estudar, especificamente, a noção de maturidade para a escolha profissional. Para esta autora, a maturidade para a escolha profissional corresponde a um conjunto de atitudes e conhecimentos que o indivíduo deve adquirir a fim de elaborar uma escolha profissional madura e consciente. De acordo com esta autora, a maturidade para a escolha profissional é composta por duas dimensões: atitudes e conhecimentos. A dimensão atitudes é dividida em três subdimensões: a) Determinação para a escolha, que se refere a quanto o indivíduo está definido e seguro com relação à escolha profissional; b) Responsabilidade para a escolha profissional, que se refere a quanto o sujeito está engajado no processo de escolha profissional e empreende ações para tomar esta decisão; e c) Independência, que se refere a quanto o indivíduo processa esta decisão de forma independente, sem influência de outras pessoas (familiares, professores, amigos, mídia etc). A dimensão Conhecimentos é dividida em duas subdimensões: a) Autoconhecimento, que se refere ao conhecimento que o indivíduo possui sobre vários aspectos de si mesmo e que são importantes para a escolha profissional, dentre eles: interesses, habilidades e valores; e b) Conhecimento da Realidade Educativa e Socioprofissional, que se refere ao conhecimento que o sujeito tem das instituições educativas, das profissões, do mercado de trabalho etc.
Neiva (1998, 1999) elaborou a Escala de Maturidade para a Escolha Profissional (EMEP), instrumento que tem como principal objetivo avaliar, junto a alunos do ensino médio, a maturidade para a escolha profissional. Esta escala pode ser utilizada para vários fins: a) detectar alunos que necessitem de orientação profissional; b) diagnosticar, junto ao orientando, seu nível de maturidade para a escolha profissional e detectar quais os aspectos da sua maturidade que estão menos desenvolvidos, permitindo assim planejar melhor o processo de orientação profissional; c) avaliar a evolução do orientando ao longo do processo de orientação profissional. Além disso, a escala já foi utilizada para avaliar programas de orientação profissional, como é o caso de um programa oferecido, via internet (Nogueira, 2004). Nesta pesquisa, aplicou-se a escala no início e no final da intervenção, com o objetivo de avaliar a eficácia do programa construído e aplicado. Melo-Silva, Oliveira e Coelho (2002) também constataram a utilidade deste instrumento para a avaliação de intervenções em orientação profissional.
Na pesquisa bibliográfica realizada, foi encontrado apenas um estudo sobre a maturidade para a escolha profissional, cujo objetivo e metodologia são bem semelhantes aos do presente trabalho. Neiva (2003) estudou a maturidade para a escolha profissional junto a 506 estudantes do ensino médio de uma escola particular da cidade de São Paulo, com o objetivo de verificar a existência de diferenças estatisticamente significativas em função do sexo e da série escolar. Apesar de não ter constatado diferença significativa segundo o sexo, com relação à maturidade total para a escolha profissional observou que as moças se mostraram mais responsáveis e independentes do que os rapazes e que estes últimos mostraram ter mais conhecimento da realidade educativa e socioprofissional. Observou, ainda, o aumento progressivo do nível de maturidade para a escolha profissional ao longo das três séries do ensino médio. Entretanto, constatou que apenas a determinação se desenvolve progressivamente da primeira para a terceira série; os demais componentes se desenvolvem em momentos específicos. A responsabilidade e o autoconhecimento aumentam da primeira para a segunda série e o conhecimento da realidade educativa e socioprofissional da segunda para a terceira série. A independência não mostrou evolução de acordo com a série escolar; ao contrário, foi constatada uma involução entre a segunda e a terceira séries.
Os resultados encontrados por Neiva (2003) referem-se a uma amostra específica da cidade de São Paulo e não podem ser generalizados para as demais regiões do país. Visando ampliar o estudo da maturidade para a escolha profissional na realidade brasileira e verificar se estudantes de outras cidades ou regiões do país comportam-se de forma semelhante aos estudantes da cidade de São Paulo, decidiu-se realizar o presente estudo, cujo objetivo é avaliar a maturidade para a escolha profissional de alunos do ensino médio na cidade de Curitiba. Ressalta- se que este estudo faz parte de uma pesquisa mais ampla, que inclui a obtenção de normas para a referida população e que será objeto de uma outra publicação.
OBJETIVOS
O presente estudo tem como objetivo estudar a maturidade para a escolha profissional em alunos do ensino médio da cidade de Curitiba. Pretende-se ainda verificar a existência de diferenças significativas nesse nível de maturidade em função das seguintes varáveis: sexo, tipo de escola, turno de estudos e série escolar.
MÉTODO
Amostra
Para a composição da amostra foram utilizados dois critérios: 1) a amostra seria formada de alunos das três séries do ensino médio, de escola pública e particular; 2) para cada tipo de escola, a amostra seria composta por cerca de cem alunos em cada série escolar, garantindo assim um número razoável de alunos de cada uma das séries.
Os critérios visaram obter uma amostra que oferecesse a possibilidade de comparação entre os grupos em função das variáveis tipo de escola e série escolar que são objetos deste estudo. Além disso, procurou-se obter uma amostra com composição semelhante à utilizada no estudo realizado por Neiva (2003) junto a estudantes da cidade de São Paulo, o que permitiria assim comparar melhor os resultados, evitando vieses provenientes de diferenças amostrais.
A amostra foi composta por 950 alunos do ensino médio da cidade de Curitiba, sendo 579 alunos (60,9%) provenientes de escola particular de grande porte, localizada em bairro próximo ao centro da cidade, e 371 alunos (39,1%) de escola pública de grande porte, localizada em bairro da periferia. As idades dos sujeitos variaram entre 14 e 49 anos com uma média de 16,7 anos e um desvio padrão de 3,10, sendo que a maior concentração dos alunos (95,2%) pertencia à faixa de 14 a 20 anos. A distribuição da amostra em função do sexo (masculino e feminino), série (primeira, segunda ou terceira) e turno (diurno ou noturno), para a escola particular e pública, é apresentada na Tabela 1.
Tabela 1 Distribuição dos sujeitos em função do tipo de escola, sexo, série e turno de estudo
Observa-se, através da análise da Tabela 1, que em relação ao grupo total de participantes da pesquisa, a maior parte da amostra foi composta por alunos da instituição particular de ensino (579 alunos) quando comparado com o número de alunos da escola pública (371 alunos). O número de alunos do sexo masculino (485) foi muito próximo ao número de alunas (465). A maior parte dos alunos estuda no turno diurno (730), em relação ao grupo que estuda no turno noturno (220). No que diz respeito à série do ensino médio, a maior concentração dos sujeitos encontra-se na primeira série do ensino médio (412), seguida pelo grupo da segunda série (341) e por último pelo grupo da terceira série (197 alunos).
Analisando a Tabela 1 em função do tipo de escola, pode-se observar que há maior concentração de alunos do sexo masculino em todas as séries da escola particular, enquanto que na pública é mais freqüente o grupo feminino. Tanto para a escola pública quanto para a particular é maior o número de alunos cursando a primeira série. Em relação ao turno de estudo, o maior grupo corresponde aos alunos que estudavam no turno diurno quando comparado com o turno noturno, sendo que para a escola particular todos os alunos da primeira e segunda séries estudavam no turno diurno, apenas os da terceira série freqüentavam o noturno. Já para a escola pública, a amostra foi formada por alunos de todas as séries nos dois turnos de estudo (ou seja, diurno e noturno).
Instrumento
O instrumento utilizado foi a Escala de Maturidade para a Escolha Profissional EMEP, construída por Neiva (1999). Este instrumento foi devidamente validado, tendo como amostra alunos do ensino médio da cidade de São Paulo. Foram realizados os seguintes procedimentos para o estudo de validade e fidedignidade da escala: análise fatorial, análise discriminativa com relação às variáveis de natureza temporal nível de escolaridade e idade e a obtenção de coeficientes de consistência interna para todas as sub-escalas - alfa de Cronbach (Neiva, 1998, 1999, 2001).Os dados obtidos nestes estudos mostraram que a escala possui uma qualidade psicométrica satisfatória. Em outro estudo realizado por Neiva (2000), foi comprovado que esta escala permitiu detectar um aumento significativo da maturidade para a escolha profissional a partir de um programa de orientação profissional, reforçando assim sua validade. Vale a pena ressaltar que este instrumento recebeu parecer favorável da Comissão do Conselho Federal de Psicologia, conforme Resolução CFP nº 002/2003 (www.pol.org.br), o que reafirma suas qualidades psicométricas.
A Escala de Maturidade para a Escolha Profissional é uma escala de tipo Likert, contendo cinco modalidades de resposta, num total de 45 afirmações que indicam atitudes com relação à escolha profissional. O sujeito deve analisar cada uma delas e determinar a freqüência com que atua ou pensa segundo a forma indicada em cada afirmação. As modalidades de resposta são: “sempre”, “freqüentemente”, “às vezes”, “raramente” e “nunca”. Como a escala possui cinco subescalas (Determinação, Responsabilidade, Independência, Autoconhecimento e Conhecimento da Realidade Educativa e Socioprofissional), pode-se calcular a pontuação bruta para cada uma delas e para a Maturidade Total. As normas da escala foram extraídas de uma amostra de 1176 alunos do ensino médio, provenientes de escolas públicas e particulares da cidade de São Paulo e são expressas em percentil (Neiva, 1999).
Procedimentos
A idéia desta pesquisa surgiu durante o VI Simpósio Brasileiro de Orientação Vocacional e Ocupacional, ocorrido em setembro de 2003 em Florianópolis. A realização do trabalho foi efetivada por meio de projeto apresentado ao grupo de pesquisa em Saúde e Desenvolvimento Humano do curso de Psicologia da PUCPR, ao qual duas das autoras são vinculadas. Devido à extensão do trabalho, as pesquisadoras contaram com o auxílio de oito colaboradores, acadêmicos do último e penúltimo períodos do curso de Psicologia da PUCPR. Uma vez aprovado o projeto, foram feitos os contatos com escolas públicas e privadas da cidade de Curitiba. A escolha das escolas levou em conta os seguintes critérios: a) que uma das escolas fosse de dependência administrativa pública e a outra privada; b) que ambas as escolas tivessem alunos nas três séries do ensino médio e, c) que cada série tivesse um número mínimo de alunos próximo a cem.
Após a aprovação da proposta de pesquisa pela PUCPR foram encaminhadas pelas pesquisadoras cartas-convite para escolas de grande porte, com clientela de ensino médio, públicas e particulares de Curitiba, que preenchiam os requisitos da pesquisa. Dentre as escolas que aceitaram o convite, duas foram selecionadas, por possuírem uma maior quantidade de alunos cursando a terceira série do ensino médio, permitindo assim uma amostra maior de alunos deste nível de estudos. As escolas autorizaram, por escrito, a realização da pesquisa junto aos alunos do ensino médio.
Os colaboradores que aplicaram a escala foram treinados pelas pesquisadoras, tendo sido submetidos à aplicação e realizado a avaliação do instrumento. O cronograma de aplicação foi submetido à apreciação das escolas e tendo sido aprovado, procedeu-se à aplicação propriamente dita.
Em ambas as escolas, a aplicação foi coletiva, seguindo as instruções do manual da escala (Neiva, 1999) e ocorreu no segundo semestre de 2003. O tempo médio para a realização do teste foi de 25 minutos, incluindo as explicações iniciais. Em ambas as escolas nenhum aluno recusou-se a participar. Em algumas turmas os professores permaneceram em sala durante a aplicação do instrumento, porém sem interferir no processo.
As dúvidas mais comuns foram quanto a itens que apresentavam certa semelhança no conteúdo, provocando questionamentos por parte de alguns alunos sobre se havia “pegadinhas”.
Alguns dos protocolos de teste aplicados tiveram que ser desprezados, por terem mais do que quatro respostas inutilizadas.
Após a coleta de dados, os protocolos foram avaliados de acordo com as orientações contidas no manual da escala (Neiva, 1999). Procedeu-se em seguida à comparação do nível de maturidade para a escolha profissional, em função das variáveis estudadas: sexo, tipo de escola, turno de estudos e série escolar. Foram obtidas as médias e os desvios padrão para cada um dos subgrupos, nas várias subescalas e para a escala total. Para verificar a existência de diferenças estatisticamente significativas nos resultados dos subgrupos em relação às variáveis estudadas foram comparadas as médias dos diversos subgrupos através do Teste t de Student para grupos independentes. Optou-se por utilizar este tratamento estatístico uma vez que os resultados obtidos cumprem as exigências necessárias para a sua utilização, ou seja, apresentam distribuição normal e variâncias amostrais semelhantes (Levin & Fox, 1941/2004).
RESULTADOS
Para a apresentação dos dados observados optou-se por dividir os resultados em quatro partes de acordo com as análises e comparações entre grupos realizadas:
- A maturidade para a escolha profissional, em função do sexo
- A maturidade para a escolha profissional, em função do tipo de escola
- A maturidade para a escolha profissional, em função do turno de estudo
- A maturidade para a escolha profissional, em função do nível escolar
1) A maturidade para a escolha profissional, em função do sexo
Foram comparadas as médias dos alunos em cada uma das subescalas da EMEP e para a Maturidade Total, em função do sexo, no intuito de verificar a existência de diferenças estatisticamente significativas entre os grupos. Os resultados são apresentados na Tabela 2.
Tabela 2 Comparação do nível de maturidade para a escolha profissional, segundo o sexo
* Diferença significativa a p < 0,05
A análise da Tabela 2 mostra que existe diferença estatisticamente significativa entre as médias dos rapazes e das moças quanto à Maturidade para a Escolha Profissional (t = 3,438; p<0,001), sendo que as moças obtiveram uma média maior do que os rapazes, indicando que, na amostra estudada, as alunas mostraram-se mais maduras que os alunos. Foram encontradas também diferenças significativas entre as médias dos dois grupos nas subescalas Responsabilidade (t = 5,809; p<0,001) e Autoconhecimento (t = 2,236; p<0,026). As moças mostraram-se mais responsáveis com relação à escolha profissional e com maior autoconhecimento, do que os rapazes. Entretanto, não foram observadas diferenças significativas, com relação às médias das subescalas Determinação, Independência e Conhecimento da Realidade Educativa e Socioprofissional.
2 ) A maturidade para a escolha profissional, em função do tipo de escola
A Tabela 3 mostra os resultados obtidos na comparação das médias da EMEP em função do tipo de escola: pública ou particular.
Tabela 3 Comparação do nível de maturidade para a escolha profissional, segundo o tipo de escola
* Diferença significativa a p < 0,05
Observou-se que existem diferenças significativas, em todas as subescalas e na escala total, sendo que as médias obtidas pelos alunos das escolas particulares foram mais altas em todos os casos. Neste sentido pode-se dizer que, na amostra estudada, os alunos provenientes da escola particular, quando comparados aos alunos da escola pública, mostraram-se mais determinados com relação à escolha profissional (t = 3,168; p<0,002), ter mais responsabilidade para com esta escolha (t = 3,676; p<0,001), ser mais independentes na tomada dessa decisão (t = 5,365; p<0,001), ter maior autoconhecimento (t = 2,304; p<0,021) e conhecimento da realidade educativa e socioprofissional (t = 6,461; p<0,001). Finalmente, os alunos da escola particular apresentaram uma maior maturidade para a escolha profissional, do que os da escola pública (t = 6,123; p<0,001).
3 ) A maturidade para a escolha profissional, em função do turno de estudo
Comparando-se a Maturidade Total para a escolha profissional dos alunos em função do turno em que estudavam - diurno ou noturno não foram observadas diferenças significativas entre as médias dos dois grupos (t = 1,047; p<0,295). Entretanto, constataram- se diferenças nas subescalas Determinação e Independência. Os alunos que estudavam no turno noturno mostraram-se mais determinados com relação à escolha profissional do que os que estudavam no turno diurno (t = 2,835; p<0,005). Já os que estudavam no turno diurno mostraram-se mais independentes na tomada da decisão profissional do que os que estudavam no turno noturno (t = 2,784; p<0,005). Com relação às demais subescalas (Responsabilidade, Autoconhecimento e Conhecimento da Realidade Educativa e Socioprofissional) não foram observadas diferenças significativas, segundo o turno de estudo. A Tabela 4 apresenta os resultados obtidos.
Tabela 4 Comparação do nível de maturidade para a escolha profissional, segundo o turno de estudo
* Diferença significativa a p < 0,05
4 ) A maturidade para a escolha profissional, em função da série escolar
Para verificar a existência de diferença significativa entre as médias obtidas pelos alunos das três séries nas várias subescalas e na escala de maturidade total, comparou-se as séries duas a duas, utilizando- se a estatística t de Student para grupos independentes, como foi feito no estudo realizado por Neiva (2003), visando assim facilitar a comparação dos resultados obtidos pelos dois estudos.
Não foram observadas diferenças significativas entre as médias obtidas pelos alunos da 1ª e da 2ª séries do ensino médio, com relação à maturidade para a escolha profissional (t = 1,818; p = 0,69). Entretanto, os alunos da 2ª série mostraram um nível de responsabilidade para com a escolha profissional significativamente maior que os da 1ª série (t = 2,695; p<0,007). Isto indica que os alunos da 2ª série, comparados aos de 1ª série, empreendem mais ações para a efetivação desta escolha e engajam-se de forma mais responsável neste processo. Ainda que a diferença entre as médias não tenha sido significativa nas subescalas Determinação, Independência, Conhecimento da Realidade profissional, nem na escala de Maturidade Total, observou-se que as médias da 2ª série foram mais altas do que as da 1ª série, indicando uma tendência de desenvolvimento destes aspectos de uma série para a outra. A tabela 5 apresenta as médias e os desvios padrão obtidos pelos alunos da 1ª e 2ª séries nas várias subescalas e para a maturidade total. Mostra também os valores do teste t de Student que foi utilizado para comparar as médias dos dois grupos e o grau de significância (p) das diferenças encontradas entre os valores das médias observadas.
Tabela 5 Comparação do nível da maturidade para a escolha profissional, por série escolar (1ª e 2ª)
* Diferença significativa a p < 0,05
Comparando-se as médias obtidas pelos alunos da 2ª e da 3ª séries, não foram observadas diferenças significativas na escala maturidade total, nem nas subescalas Responsabilidade, Autoconhecimento e Conhecimento da Realidade. Entretanto, pode-se observar que as médias obtidas pelos alunos da 3ª série nestas subescalas são mais altas que as obtidas pelos alunos da 2ª série, indicando também uma tendência ao desenvolvimento destes aspectos. Em contrapartida, diferenças significativas foram observadas na subescala Determinação (t = 3,059; p<0,002) e na subescala Independência (t = 2,022; p<0,04). O resultado obtido na subescala Determinação indica que os alunos da 3ª série são mais decididos que os da 2ª série, o que era esperado, pois, em virtude da finalização do ensino médio, a necessidade de tomar uma decisão profissional se faz premente. Os resultados obtidos na subescala Independência mostram, entretanto, que os alunos da 3ª série são menos independentes quanto à escolha profissional que os da 2ª série, deixando-se influenciar mais por outras pessoas (familiares, professores, amigo, mídia etc). A tabela 6 apresenta os resultados obtidos pelos alunos da 2ª e 3ª séries nas várias subescalas e na escala total. Mostra também os valores do teste t de Student que foi utilizado para comparar as médias dos dois grupos e o grau de significância (p) das diferenças encontradas entre os valores das médias observadas.
Tabela 6 Comparação do nível da maturidade para a escolha profissional, por série escolar (2ª e 3ª)
* Diferença significativa a p < 0,05
Comparando-se as médias obtidas pelos alunos da 1ª e da 3ª séries, contatou-se uma diferença significativa no nível de maturidade total (t = 2,939; p d•0,003), de responsabilidade (t = 2,855; p d•0,004) e de determinação (t = 3,956; p d•0,0001). Sendo assim, os alunos da 3ª série, comparados aos da 1ª série, mostraram-se mais maduros para a escolha profissional, mais decididos e mais responsáveis. Entretanto, não foram observadas diferenças significativas nas médias obtidas por esses grupos nas demais subescalas: Independência, Autoconhecimento e Conhecimento da Realidade Educativa e Socioprofissional, apesar de nestas duas últimas subescalas as médias obtidas pelos alunos da 3ª série serem superiores às obtidas pelos alunos de 1ª série, mostrando também uma tendência ao desenvolvimento. Pode-se observar também, que para a subescala de Independência, a média obtida pelos alunos da 1ª série foi maior do que a obtida pela 3ª série, ainda que a diferença entre as médias não tenha sido significativa. A tabela 7 apresenta os resultados obtidos pelos alunos da 1ª e 3ª séries nas várias subescalas e na escala total. Mostra ainda os valores encontrados do teste t de Student (procedimento estatístico que foi utilizado para comparar as médias dos dois grupos) e o grau de significância (p) das diferenças encontradas entre os valores das médias observadas.
Tabela 7 Comparação do nível da maturidade para a escolha profissional, por série escolar (1ª e 3ª)
* Diferença significativa a p < 0,05
DISCUSSÃO
Constatou-se, junto à amostra de alunos do ensino médio de Curitiba, que a maturidade para a escolha profissional varia em função do sexo, do tipo de escola e da série escolar. Entretanto, não foram constatadas diferenças significativas em função do turno de estudos.
Quanto à variável sexo, os resultados obtidos com relação à Maturidade para a escolha profissional e à subescala de Autoconhecimento diferem dos obtidos por Neiva (2003), visto que no presente estudo foram observadas diferenças significativas segundo o sexo, o que não ocorreu junto à amostra paulistana. Entretanto, em ambos os estudos as moças mostraram maior responsabilidade para com a escolha profissional do que os rapazes. Além disso, os dois estudos não observaram diferenças significativas, segundo o sexo, nas subescalas determinação, independência e conhecimento da realidade educativa e socioprofissional.
As pesquisas analisadas por Balbinotti (2003), relacionadas à medida de maturidade vocacional através de diferentes instrumentos, também obtiveram resultados discrepantes ao compararem os sujeitos segundo o sexo. Este mesmo autor, em um estudo sobre os níveis de cristalização das preferências profissionais (Balbinotti & cols., 2004), não observou diferença significativa entre moças e rapazes do ensino médio. Lobato e Koller (2003) também não constataram diferença significativa na maturidade total em função do sexo dos sujeitos, medida pelo Inventário Brasileiro de Desenvolvimento Profissional; apenas no que se refere à planificação e, neste caso, a diferença foi favorável aos rapazes.
A discrepância nos resultados das pesquisas analisadas não permite concluir que o fato de pertencer a um ou outro sexo, realmente gere diferenças no nível de maturidade para a escolha profissional, principalmente se for considerado o fato de que estas pesquisas foram feitas com diferentes instrumentos e em diferentes culturas ou mesmo regiões do Brasil. Pode-se afirmar, no entanto, que para a amostra de Curitiba estudada foram encontradas diferenças significativas na maturidade para a escolha profissional em função do sexo, indicando que as alunas se mostraram mais maduras que os alunos.
Quanto à variável tipo de escola, os alunos de escola particular mostraram-se mais maduros para a escolha profissional do que os de escola pública. Em todas as subescalas da EMEP, a média obtida por alunos provenientes de escola particular foi superior à obtida por alunos de escola pública. No manual da EMEP (Neiva, 1999), apesar de não constarem as médias obtidas por alunos paulistanos de escolas particulares e públicas, as tabelas de normas são separadas em função do tipo de escola. Comparando-se as tabelas, observa-se que as pontuações obtidas pelos alunos de escolas particulares são superiores às obtidas por alunos de escolas públicas. A semelhança nestes resultados indica que o tipo de escola é uma variável que diferencia a maturidade para a escolha profissional, sendo que os alunos de escola particular sobressaem-se com relação aos de escola pública. Este resultado poderia estar associado a diferenças em relação ao nível de ensino destas escolas e ao nível socioeconômico e cultural dos estudantes que as freqüentam. Em geral, as escolas particulares brasileiras têm um nível de ensino superior aos das escolas públicas e são freqüentadas por alunos com nível socioeconômico e cultural mais alto. Sendo assim, os estudantes de escolas particulares têm mais oportunidade de discutir sobre a escolha profissional, mais acesso a informações profissionais e mais independência com relação aos fatores socioeconômicos que afetam esta escolha. Entretanto, Balbinotti e cols. (2004) ao estudar o nível de cristalização de preferências profissionais, constatou exatamente o oposto, ou seja, um nível mais elevado de cristalização das preferências em alunos de escola pública e tentou explicar este resultado como fruto da “necessidade de cristalização prematura por parte dos estudantes da rede pública” (p. 23), possivelmente por questões de ordem financeira. Vale ressaltar, que a maturidade para a escolha profissional, conforme a concebe Neiva (1999), é composta de vários aspectos, dentre eles a capacidade de decisão, medida pela subescala de determinação. Ou seja, o estudo de Balbinotti e cols. (2004) abrange apenas um aspecto da escolha profissional a cristalização das preferências enquanto que o presente estudo toma em conta os vários aspectos que compõem a maturidade para a escolha profissional, conforme definição de Neiva (1999). É possível que este fato contribua para as diferenças observadas entre os resultados das duas pesquisas.
Quanto à variável turno de estudo, a presente pesquisa não constatou diferenças entre alunos que estudavam no turno diurno e noturno no que se refere à maturidade total. Entretanto, os alunos que estudavam no turno noturno mostraram-se mais determinados com relação à escolha profissional do que os que estudavam no turno diurno, enquanto que aqueles que estudavam no turno diurno evidenciaram maior independência na tomada da decisão profissional do que os que estudavam no turno noturno. Não foi encontrada, dentre as pesquisas analisadas, alguma que relacionasse a maturidade para a escolha profissional com o turno de estudo, o que não permite traçar comparações. No entanto, analisando- se a realidade escolar brasileira, pode-se observar que, em geral, os alunos que estudam no turno noturno trabalham durante o dia e já estão, portanto, inseridos na realidade profissional. Sendo assim, podemos considerar a hipótese de que estes alunos estejam mais decididos que os que estudam no turno diurno, em virtude de já terem iniciado uma atividade profissional. Mas, por outro lado, esta decisão pode estar sendo influenciada pela própria realidade profissional em que estão inseridos. É comum que os jovens já inseridos profissionalmente busquem uma profissão vinculada ao seu trabalho, na esperança de garantir a estabilidade no emprego. Entretanto, isto não indica que esta decisão seja resultado de um nível alto de maturidade para a escolha profissional, considerando-se o modelo de maturidade proposto por Neiva (1999), o que poderia justificar a não constatação de diferença significativa na maturidade total, em função do turno de estudo.
Quanto à variável série escolar, o presente estudo constatou que os alunos da 3ª série, quando comparados aos da 1ª série, são mais maduros, mais decididos e mais responsáveis para com a escolha profissional. Estes resultados também foram observados por Neiva (1999, 2003) no estudo realizado com estudantes paulistanos de ensino médio. Entretanto, Neiva (1999, 2003) constatou ainda que os alunos de 3ª série têm um nível mais elevado de autoconhecimento e conhecimento da realidade educativa e socioprofissional do que os alunos da 1ª série, resultado que não foi observado no presente estudo. No entanto, ainda que as diferenças entre as médias dos dois grupos nestas subescalas não tenham sido significativas, observou-se que, tanto para o autoconhecimento quanto para o conhecimento da realidade educativa e socioprofissional, a média obtida pelos alunos de 3ª série foi mais alta que a obtida pelos de 1ª série, indicando uma tendência ao desenvolvimento destes aspectos, com o aumento do nível de estudos.
Com relação à Independência, os resultados obtidos foram semelhantes ao do estudo realizado por Neiva (1999, 2003). Não foram observadas diferenças significativas entre a 1ª e a 3ª séries e foi constatada uma diminuição da independência entre a 2ª e a 3ª séries. Uma hipótese pode ser formulada para justificar este resultado. Na iminência de finalização dos estudos, os alunos que não conseguem escolher sozinhos uma profissão tendem a absorver influências externas para poderem tomar uma decisão. Balbinotti (2003) analisando vários estudos que utilizaram diferentes instrumentos e diferentes amostras constatou, que apesar de algumas pesquisas detectarem a evolução da maturidade em função do nível de estudos, outras indicaram que o desenvolvimento vocacional não é uniforme. Este mesmo autor em pesquisa realizada com alunos do ensino médio (escolas públicas e privadas) do Rio Grande do Sul, utilizando a Escala de Avaliação Vocacional (EVA), não observou a existência de diferenças significativas nos níveis de cristalização de uma preferência profissional, em função da série escolar (Balbinotti e cols., 2004).
CONCLUSÃO
Constatou-se, nesta amostra de alunos do ensino médio de Curitiba, que a maturidade para a escolha profissional variou em função do sexo, do tipo de escola e da série escolar. As moças mostraramse mais maduras que os rapazes, os alunos de escola particular mostraram-se mais maduros que os de escola pública e os alunos da terceira série mais que os da primeira.
Estes resultados, em geral, são semelhantes a algumas das pesquisas encontradas na literatura, mesmo aquelas que utilizaram outros instrumentos de medida da maturidade e amostras diferentes, inclusive provenientes de outras culturas (Balbinotti, 2003).
Ao comparar a presente pesquisa com o estudo realizado por Neiva (1999, 2003), que utilizou o mesmo instrumento e teve desenho similar, constatou- se que apesar dos vários resultados semelhantes, algumas diferenças foram observadas. Tais diferenças podem estar associadas a diferenças na composição das amostras, uma vez que a amostra de Curitiba foi formada por alunos de escolas públicas e particulares e a de Neiva (2003) foi formada apenas por alunos de escolas particulares. A interferência da variável tipo de escola em questões relacionadas à escolha profissional é sustentada por pesquisas realizadas com estudantes brasileiros (Neiva, 1999; Balbinotti e cols., 2004).
Estas diferenças também podem sugerir que a região de origem da amostra seja uma variável que possa interferir na maturidade para a escolha profissional, visto que os alunos de escolas de São Paulo não se comportam exatamente da mesma maneira que os alunos de escolas de Curitiba. Nesse sentido, torna-se importante a elaboração de normas regionais para a EMEP.
Sugere-se que mais estudos sejam realizados, analisando a maturidade para a escolha profissional de jovens de diferentes regiões do Brasil, em virtude não só do tamanho do país, mas, sobretudo das diferenças culturais que são importantes. Em virtude das diferenças constatadas em função do tipo de escola (pública versus particular), seria interessante também pesquisar a maturidade para a escolha profissional em função do nível socioeconômico, visto que as diferenças socioeconômicas dos alunos que freqüentam as escolas públicas e particulares são marcantes. Sugere-se assim, que futuras pesquisas nesta área utilizem um questionário socioeconômico e estudem a existência de diferenças na maturidade para a escolha profissional em função desta variável.
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Recebido: 02/06/05
1ª revisão: 06/10/05
Aceite final: 11/11/05
1 Endereço para correspondência: Rua Inhambú, 1069, apto 82, 04520-013, São Paulo, SP. Fone: (11) 5093-7614, (11) 5096-2100, 9975-8964. E-mail: neivasp@webcable.com.br; kathia.neiva@ibirapuera.br
Sobre os autores
* Kathia Maria Costa Neiva é psicóloga pela PUCSP, Especialista em Orientação Vocacional pelo Instituto Sedes Sapientiae (S.P.), Doutora em Psicologia pela Université Paris V, autora de vários livros e artigos na área de Psicologia; atualmente é professora e coordenadora do Curso de Psicologia da Universidade Ibirapuera, São Paulo.
** Mariita Bertassoni Silva é psicóloga pela PUCPR, Orientadora Profissional, Mestre em Educação pela UFPr, autora de artigos na área da Psicologia; é professora adjunta e supervisora de estágios do curso de Psicologia da PUCPR e do curso de Psicologia do UnicenP, desempenhando atualmente a função de Coordenadora do Centro Psicológico do UnicenP, em Curitiba, Paraná e membro da diretoria da Associação Brasileira de Orientadores Profissionais (ABOP), gestão 2003-2005.
*** Vera Regina Miranda é psicóloga clínica e escola (curitibana), formada pela PUCPR em 1982, mestre em Psicologia da Infância e da Adolescência pela UFPR, professora de cursos de graduação em Psicologia e pós-graduação na PUCPR e UnicenP-PR, autora de livros na área da educação.
**** Cristiano Esteves é psicólogo pela USP, Mestrando do Programa de Psicologia da Aprendizagem e do Desenvolvimento da Personalidade do Instituto de Psicologia da Universidade de São Paulo na área de Avaliação Psicológica, autor de artigos na área de Psicologia; atualmente é o coordenador do Departamento de Pesquisas da Vetor Editora Psico-Pedagógica.