Serviços Personalizados
Journal
artigo
Indicadores
Compartilhar
Revista Brasileira de Orientação Profissional
versão On-line ISSN 1984-7270
Rev. bras. orientac. prof v.7 n.2 São Paulo dez. 2006
ARTIGOS
Análise de teses e dissertações em orientação profissional
Analysis of theses and dissertations on vocational guidance
Análisis de tesis y disertaciones en orientación profesional
Ana Paula Porto Noronha* 1; Regina Gioconda de Andrade**; Fabiano Koich Miguel; Monalisa Muniz Nascimento; Maiana Farias Oliveira Nunes; Sílvia Verônica Pacanaro; Aleteia Henklain Ferruzzi; Fernanda Argentini Sartori; Luis Torahiko Takahashi; Heitor Francisco Pinto Cozza
Universidade São Francisco, Itatiba
RESUMO
O presente estudo teve como objetivo a análise da produção de teses e dissertações relacionadas à área de orientação profissional e vocacional (OP/OV). Para tanto, procedeu-se a uma busca em bases de dados eletrônicas (CAPES e BVS-Psi), utilizando-se das palavras-chaves orientação profissional, orientação vocacional, testes de interesses, testes psicológicos e teste vocacional. Foram identificados 100 trabalhos, dos quais analisou-se título, autoria, resumo e palavras-chave. Os achados foram avaliados sob duas perspectivas, quantitativa e qualitativa. Para a segunda, foram criadas categorias de análise. Os resultados indicaram que a maior parte dos resumos era referente à área de psicologia, embora também estivessem representadas saúde pública, enfermagem e administração. Houve um pequeno número de trabalhos financiados e a maioria das teses e dissertações foi desenvolvida em instituições públicas. Em síntese, observou-se que houve um aumento das produções científicas ao longo das décadas, especialmente a partir da década de 90.
Palavras-chave: Avaliação psicológica, Testes psicológicos, Escolha profissional, Produção científica.
ABSTRACT
The present study aimed at the analysis of the scientific production of theses and dissertations on vocational guidance (VG). To do that, a search in electronic databases (CAPES and BVS-Psi) was performed, using the following keywords: vocational guidance interest tests, psychological tests and vocational tests. One hundred works were identified, from which heading, authorship, abstract and keywords were analyzed. The findings were evaluated under two perspectives: quantitative and qualitative. For the second perspective, some categories of analysis were created. The results indicated that most of the abstracts were on psychology, although there were also abstracts on public health, nursing and administration. A small number of works was funded and most of them were developed in state institutions. In conclusion, an increase of scientific production across decades was observed to occur especially starting from the 1990’s.
Keywords: Psychological assessment, Psychological tests, Professional choice.
RESUMEN
El presente estudio tuvo como objeto el análisis de la producción de tesis y disertaciones relacionadas con el área de orientación profesional y vocacional (OP/OV). Para esto, se procedió a una búsqueda en las bases de datos electrónicos (CAPES y BVS-Psi), utilizando las palabras clave orientación profesional, orientación vocacional, pruebas de intereses, pruebas psicológicas y pruebas vocacional. Fueron identificados 100 trabajos, de los cuales se analizó título, autoría, resumen y palabras clave. Los hallazgos fueron evaluados bajo dos perspectivas, cuantitativa y cualitativa. Para la segunda fueron creadas categorías de análisis. Los resultados indicaron que la mayor parte de los resúmenes se refería al área de la psicología, aunque también estuvieran representadas la salud pública, la enfermería y la administración. Hubo un pequeño número de trabajos financiados y la mayoría de las defensas ocurrió en instituciones públicas. En síntesis, se observó que hubo un aumento de las producciones a lo largo de las décadas, especialmente a partir de la década de los 90.
Palabras clave: Evaluación psicológica, Pruebas psicológicas, Elección profesional, Producción científica.
A análise da produção científica é relevante em qualquer área de conhecimento, uma vez que permite a identificação dos temas já estudados, dos que necessitam de exploração, além de uma cuidadosa reflexão sobre outros elementos importantes do estado da arte, tais como as revisões de teorias e as definições de políticas, científicas e tecnológicas. Esse tipo de investigação pode indicar as necessidades de pesquisas futuras e tende a contribuir com a delimitação dos problemas que servirão de objeto de outros estudos.
De acordo com Witter (1999), a observação do que já foi produzido deveria ser prática constante em todas as ciências. Ainda para a autora, os caminhos para essa avaliação são distintos; dentre as maiores relevâncias encontram-se o tipo de autoria, o tipo de estudo (se teórico ou de pesquisa), o tema investigado, o delineamento do trabalho (no caso das pesquisas), os instrumentos utilizados, e outras informações não menos relevantes.
A esse respeito, Zancan (2000) sugere que as pesquisas devem ser realizadas extrapolando o escopo já desenvolvido na área, a fim de evitar um volume de publicações muito superior em uma área de conhecimento, em detrimento de outra. Assim, estudos que traduzam a produção existente se justificam. E, sob essa perspectiva, a presente pesquisa abordou a análise de dissertações e teses elaboradas na área de orientação profissional.
A orientação profissional e vocacional (OP/OV) no Brasil encontra-se em um momento de franco desenvolvimento, de acordo com Melo-Silva, Oliveira e Coelho (2002). A organização de eventos científicos específicos para a discussão de temas correlatos, a publicação de um periódico especializado na área, a criação de uma associação científica, bem como a maior publicação de pesquisas sobre instrumentos e outras técnicas de coleta de dados, são alguns dos marcos representativos desse período. Mais recentemente, pode-se destacar a reflexão sobre a formação profissional, tanto no âmbito da graduação, quanto da formação continuada do orientador.
A preocupação com a orientação profissional e vocacional esteve presente desde os primórdios da organização das instituições de ensino. No que se refere ao fato, Baptista (1984) destaca a promulgação das Leis Orgânicas, em 1942, a partir das quais a Orientação Profissional e Vocacional foi introduzida oficialmente no Brasil. Ao lado disso, o Serviço Nacional de Aprendizagem Industrial (SENAI) desenvolveu um amplo sistema de cursos com vistas à orientação profissional e vocacional e, em 1947, foi criado o Instituto de Seleção e Orientação Profissional (ISOP), no Rio de Janeiro, como órgão da Fundação Getúlio Vargas, dirigido por Myra e Lopes. Em 1952, foi publicado o primeiro Manual de Trabalho dos Orientadores Educacionais, o que resultou na elaboração de descritores das funções dos profissionais, enquanto em 1955 foi criado em São Paulo o Conselho Educacional, que estabeleceu princípios e conceitos da Orientação Educacional.
Com o advento da Lei nº 4.119 de 1962, que regimentou a formação e o exercício profissional em Psicologia no país, os cursos já existentes passaram por ampla revisão, o que implicou na inclusão das disciplinas profissionalizantes e dos respectivos estágios e disciplinas como a Seleção e Orientação Profissional. Em síntese, Lehman (1988) destacou os momentos históricos, em termos de estágios, pelos quais passaram a Orientação Profissional e Vocacional brasileira, quais sejam, informativo, psicométrico, clínico e político social. O objetivo do informativo era oferecer dados sobre as profissões e divulgar suas perspectivas de trabalho, enquanto o psicométrico ressaltava a avaliação de características e aptidões pessoais. A ênfase no papel ativo do adolescente, no que diz respeito à decisão sobre o futuro, era dada no estágio clínico. E, por fim, o político social incluiu a relevância do contexto sóciopolítico, na sua relação com o momento da escolha, e a convergência das complexas configurações sociais, presentes, passadas e futuras.
É possível observar, tendo em vista o exposto, que a área vem se expandindo e, em conseqüência, as pesquisas sobre o tema têm se ampliado. No que se refere às competências internacionais para orientadores educacionais e vocacionais, Talavera, Liévano, Soto, Ferrer-Sama e Hiebert (2004) investigaram os saberes esperados dos profissionais, quais sejam, diagnóstico, orientação educacional, desenvolvimento de carreira, aconselhamento, administração da informação, pesquisa e avaliação, gestão de programas, dentre outros. Com vistas ao desenvolvimento da educação continuada, Jenschke (2003) discutiu a cooperação internacional e as necessidades de orientação e aconselhamento, em face das mudanças mundiais. O autor destacou a relevância dos serviços de Orientação Profissional e Vocacional para a promoção do desenvolvimento de recursos humanos saudáveis.
As abordagens teóricas também serviram de base para a investigação de alguns pesquisadores. Nesse particular, Campos (2001) fez uma revisão da literatura sobre a orientação profissional na perspectiva da psicologia analítica. Por sua vez, os tipos psicológicos junguianos e a escolha profissional foram investigados por Zacharias (1994) em um grupo de policiais militares. À guisa de síntese, o autor endossa as contribuições que a teoria pode trazer para a área. Ainda numa visão psicodinâmica, Velloso (2000) discutiu o fenômeno da adolescência, à luz da psicanálise, no momento de escolha profissional.
Também no que respeita à escolha do referencial teórico adotado no processo de orientação profissional/ vocacional, há que se destacar estudos que utilizaram outras teorias. Dentre elas, alguns trabalhos podem ser mencionados, como é o caso do trabalho de Canedo (1997), que fez uso das contribuições da Gestalt-terapia, mais especialmente, das contribuições de Perls, assim como das reflexões de Botelho e Sigelmenn (1999), com vistas a propor um atendimento em OP/OV na perspectiva da Gestalt-terapia. A análise experimental do comportamento também serviu de referencial para o trabalho de Moura e Silveira (2002), que avaliaram 10 adolescentes, com idades entre 15 e 19 anos, em um programa grupal de orientação profissional. De acordo com as autoras, o modelo teórico permitiu a realização do processo, revelando-se efetivo.
Dentre os instrumentos utilizados na avaliação, Franchi (1957) apresentou suas considerações, após oito anos de trabalho com o Teste de Koch, concluindo que ele é útil quando da orientação profissional e educacional; que o índice de concordância entre os seus resultados e outros métodos de investigação da personalidade é alto; e que a prova permite exprimir os interesses dos avaliados, assim como analisar o nível intelectual, dentre outras observações.
Almeida e Campos (1986) apresentaram alguns resultados da aferição da Bateria de Provas de Raciocínio Diferencial junto a estudantes do ensino secundário de Portugal. Os autores entenderam que o instrumento é adequado para o uso no âmbito da orientação profissional. O Teste de Fotos e Profissões (BBT) foi o objeto de investigação Melo-Silva e Santos (1998), Melo-Silva e Jacquemin (2000), de Okino, Noce, Assoni, Corlatti e Jacquemin (2003), e, mais recentemente, de Maran (2004), dentre outros.
Especialmente no que se relaciona à construção de instrumentos, Fernandes e Scheeffer (1986) dedicaram-se à investigação do Instrumento Brasileiro de Maturidade Vocacional (IBMV) para estudantes do Ensino Fundamental e Médio. A pesquisa envolveu a elaboração de itens, a análise de juízes e fatorial, a fim de determinar as qualidades psicométricas. Ao lado disso, Japur e Jacquemin (1989) traduziram a Escala de Atitudes (B-1) do Career Maturity Inventory (CMI) de J. O. Crites e a aplicaram em uma amostra de estudantes brasileiros, com o intuito de investigar os parâmetros psicométricos. Os autores concluíram que o uso do referido instrumento, na forma integral, não é recomendável no Brasil, considerando a baixa confiabilidade das sub-escalas. Por fim, Primi e colaboradores. (2000) desenvolveram um Inventário de Dificuldades de Decisão Profissional. Para tanto, aplicaram o instrumento em estudantes de 14 a 17 anos e nos resultados indicaram evidência de validade de construto e índice de precisão satisfatório.
Considerando os trabalhos que tiveram como objeto de estudo o uso de técnicas, Gimenez (1998) investigou o Sandplay; Figueiredo (1965) discutiu a importância da entrevista e Araújo e Morselli (1991) enfatizaram a técnica de colagem. No que se refere ao último estudo, os autores utilizaram recortes de palavras e figuras de revistas comerciais, com o intuito de analisar as relações que os jovens estabelecem entre o material colado e seus sentimentos.
Os construtos teóricos investigados no processo de orientação profissional/vocacional têm sido variados, em razão de uma multiplicidade de fatores, que variam desde o interesse do pesquisador, até as necessidades das clientelas dos profissionais, dentre outros. Primi, Moggi e Caselatto (2004) objetivaram uma análise correlacional entre interesse e personalidade; a inteligência e a personalidade de estudantes de psicologia foram investigadas por Bueno, Lemos e Tomé (2004); Neiva (2000), Melo-Silva, Oliveira e Coelho (2002) e Lobato e Koller (2003) pesquisaram a maturidade para a escolha profissional em grupos distintos; já as preferências profissionais foram objetivadas por Balbinotti, Marroco e Tétreau (2003); e, por fim, a indecisão vocacional foi tema do trabalho de Teixeira e Magalhães (2001).
A análise da produção científica da orientação profissional no Brasil foi realizada por Noronha e Ambiel (2006), a partir das bases de dados eletrônicas BVS e IndexPsi, utilizando-se as palavras-chave Orientação Profissional, Orientação Vocacional, Interesses Profissionais, Escolha Profissional e Testes de Interesse como chave para busca. Os autores interessaram-se por investigar apenas os artigos científicos e, nesse sentido, os achados revelaram que houve um aumento dos artigos a partir da década de 1990 e que o tipo mais encontrado foi revisão teórica. Não obstante, as técnicas de avaliação foram as mais encontradas, e em seguida, os testes de interesse.
Com o objetivo de descrever o desenvolvimento da orientação profissional brasileira, Sparta (2003) abordou os fatos históricos mais importantes, assim como o panorama atual da OP/OV no país. Destaque pode ser dado às relações estabelecidas pela autora entre a área e os principais modelos teóricos sobre escolha profissional utilizados em nosso meio, dentre eles o clínico e o desenvolvimental.
Partindo do pressuposto de que a OP/OV tem grande importância para a Psicologia brasileira, a análise da produção científica da área se faz necessária, uma vez que seus resultados poderão nortear ações futuras de pesquisas e intervenções. Considerando o exposto, o presente trabalho pretendeu analisar as teses e dissertações, cujos resumos encontravam-se disponíveis em bases de dados eletrônicas, e, com isso, contribuir para uma maior compreensão da conjuntura das pesquisas em OP/OV.
MÉTODO
Material e Procedimento
A pesquisa realizada utilizou-se das bases de dados da Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior (CAPES) e da Biblioteca Virtual da Saúde (BVS-Psi) por serem consideradas as bases de dissertações e teses mais completas. A consulta se deu por meio de palavras-chaves, quais sejam, orientação profissional, orientação vocacional, teste de interesse, testes psicológicos e teste vocacional. Ressalta-se que os trabalhos acessados datam o período entre 1969 e 2005, por se tratar do período disponível pelas bases de dados.
Foram encontrados 100 resumos de trabalhos desenvolvidos em instituições de ensino superior brasileiras, sendo que 76% se referiam a mestrado acadêmico, 22% a doutorado, 1% a pós-doutorado e 1% a mestrado profissional. Para a análise, foram utilizadas as informações advindas do título, da autoria, do resumo e das palavras-chave. Mais especialmente foram avaliados ano de defesa, titulação (mestrado acadêmico ou profissionalizante, doutorado ou pós-doutorado), área de concentração, instituição de origem do autor, sexo do autor, modalidade das pesquisas, o referencial teórico utilizado, instrumentos ou técnicas usadas e participantes, no caso dos relatos de pesquisa.
Para realizar a análise de conteúdo, foram criadas categorias pelo grupo de pesquisadores de acordo com os princípios de Bardin (1971), sendo que a inclusão dos dados coletados nas respectivas categorias se deu de maneira consensual. Para a compreensão dos dados obtidos nos resumos das teses e dissertações foram estabelecidas 15 categorias de análise cujas definições vêm a seguir.
Modalidade de pesquisa: três critérios foram utilizados, a saber, reflexão teórica, que se referiu à busca de determinado referencial teórico a fim de compreender uma situação singular; relato de pesquisa, que compreendeu tanto o uso de procedimentos por meio de instrumentos e técnicas com determinada população, quanto o relato de experiência profissional e por fim, a categoria de modalidade de pesquisa não identificada, por ausência de dados conclusivos.
Palavras-chave: foram consideradas todas as palavras-chave que apareceram nos resumos, sendo que os da BVS-Psi não continham estas informações.
Utilização de instrumentos: foram considerados todos os instrumentos desenvolvidos exclusivamente para OP/OV, como os testes e inventários de interesses profissionais.
Outros instrumentos: essa categoria abrangeu instrumentos utilizados na OP/OV, mas que não foram desenvolvidos especificamente para esta finalidade, como inventários de personalidade, testes de inteligência, de aptidão e testes projetivos.
Utilização de técnicas: averiguou a utilização de técnicas de avaliação, como observação e entrevistas.
Modalidade dos participantes: referiu-se aos sujeitos que participaram do estudo nos casos em que a modalidade de pesquisa incluía determinada população, sendo subdividida em alunos do ensino fundamental, médio, pré-vestibular, superior, outros participantes (pais, orientadores e professores) e não informado.
Carreira em OP/OV: investigou se o estudo fazia referência a uma carreira específica.
Outros construtos: considerou se a pesquisa estudou a relação da OP/OV com outros construtos, como, por exemplo, personalidade e inteligência.
Nomenclatura utilizada: os nomes atribuídos ao processo foram incluídos nesta categoria; podendo ser orientação profissional, orientação vocacional, aconselhamento de carreira, projeto de carreira, interesse profissional ou informação profissional.
Objetivo: indicou se o resumo analisado apresentava objetivo do trabalho.
Resultados: verificou a presença ou ausência de resultados no resumo do trabalho analisado.
Construção de instrumento: indicou se a pesquisa teve como finalidade a construção de um instrumento de OP/OV.
Validade: verificou se houve estudo de validade para o instrumento de OP/OV utilizado na pesquisa.
Normatização: referiu-se à presença de estudos de normatização.
Importância da OP/OV: verificou se o trabalho fazia algum tipo de discussão relativa ao papel da OP/OV.
RESULTADOS E DISCUSSÃO
Depois de examinados os resumos e extraídas as informações para a composição desse estudo, obteve-se como resultados os dados apresentados nesta seção. Ressalta-se que as informações foram tratadas no programa estatístico SPSS e foram registradas as freqüências e porcentagens das categorias dos resumos analisados.
Quanto aos autores das teses e dissertações, foram encontrados 74% do sexo feminino e 26% do sexo masculino. Dentre as áreas de concentração às quais os trabalhos estavam vinculados, a psicologia preponderou com 72% dos trabalhos, seguida pela educação com 21%, saúde pública com 3%, enfermagem com 2% e, por fim, pesquisa operacional e administração, com 1% cada. Como se observou, os resumos apresentados por mulheres e na psicologia foram os mais freqüentes, o que pode estar em concordância com a tendência das áreas de psicologia e educação, no sentido de haver prevalência do sexo feminino.
No que diz respeito ao tipo de instituição de ensino superior, encontrou-se que 65% dos trabalhos foram realizados em instituições públicas e 35%, em particulares. Ao lado disso, a região Sudeste foi a que gerou mais trabalhos (73%), com maior incidência de defesas advindas da USP (29%) e das PUCs do estado de São Paulo (17%). Em seguida, a região Sul contribuiu com 18% dos trabalhos (maior prevalência da UFSC e da UFGRS, com 6% cada); a região Nordeste, com 7% (com maior expressão da UFRN); e a Centro-Oeste, com 2% (representado apenas pela UCBra).
O fomento dos trabalhos não foi uma constante dentre os resumos analisados, uma vez que a ausência foi encontrada em 68% deles, sendo que, dos 32% que o receberam, a CAPES financiou 17%, o CNPq 6%, a FAPESP 5% e financiamentos da própria instituição foram representadas por 4%. Com relação às décadas de conclusão dos trabalhos, a Tabela 1 demonstra um crescimento expressivo especialmente nas décadas de 1990 e 2000, corroborando com os achados de Melo-Silva, Oliveira e Coelho (2002). Em três trabalhos não foi possível recuperar a data de conclusão.
Tabela 1
Freqüência das modalidades dos trabalhos por década
Nas modalidades das pesquisas, foram encontrados 81% de relato de pesquisa, 16% de reflexão teórica e em 3% não foi possível identificar o tipo. O aumento observado tende a ser maior nas pesquisas e relatos de experiência enquanto os trabalhos teóricos tiveram uma produção mais estável e menor ao longo do tempo. A grande incidência de trabalhos de pesquisa também foi encontrada por Noronha e Ambiel (2006).
Quanto aos participantes das pesquisas, em 26% professores, orientadores e pais foram consultados; os estudantes do ensino médio fizeram parte de 22% dos resumos; os universitários em 13%; por fim, estiveram alunos de ensino fundamental com 5% e do pré-vestibular com 4%. Em 25% dos casos, essa análise não se aplicava e em 5% não foi possível identificar essa informação.
A utilização de instrumentos de medida nas pesquisas realizadas também foi objeto de investigação do presente estudo. Sob essa perspectiva, 22% utilizaram instrumentos destinados à OP/OV, sendo que as maiores ocorrências foram em relação ao Teste de Fotos de Profissões BBT (6%) e à Escala de Maturidade para Escolha Profissional EMEP (2%). Vale ressaltar que esses são instrumentos recomendados pelo Conselho Federal de Psicologia (CFP, 2006). Com relação a outros recursos de avaliação, os questionários sócio-demográficos foram utilizados em 11% dos trabalhos, a Escala Diagnóstica Adaptativa Operacionalizada EDAO e o Raven em 2% cada um.
Outro aspecto analisado nesse estudo refere-se à estrutura dos resumos e, nessa direção, em 90% foi possível identificar os objetivos, enquanto 62% deles traziam informações sobre os resultados. Dentre os relatos de pesquisa, 4% envolveu a construção de instrumentos para orientação profissional, 4% abordou a validação e apenas 1% estudou a normatização. Nesse particular, a pequena quantidade de estudos voltados à construção e/ou validação de instrumentos explica a carência de testes psicológicos disponíveis com estudos apropriados para a OP/OV, como já denunciado por autores diversos (Almeida & Campos, 1986; Japur & Jacquemin, 1989; Primi & colaboradores, 2000; Okino & colaboradores, 2003). Quanto aos construtos pesquisados, foi possível observar que 11% não estavam diretamente relacionados à orientação profissional e sim a outros construtos, a saber, personalidade (5%), estilos parentais (2%), inteligência artificial (1%), ansiedade (1%), autoconceito (1%) e aptidão (1%).
O trabalho realizado por profissionais na área de OP/OV foi discutido em 41% dos resumos. Em apenas 10% dos trabalhos foram investigadas carreiras de domínios específicos, sendo estes nas carreiras de odontologia (3%), enfermagem (2%), vida religiosa (2%), psicologia (1%), ciência da computação (1%) e cursos do SENAI (1%). Diversas nomenclaturas foram utilizadas para descrever o processo de orientação vocacional, conforme consta na Tabela 2.
Tabela 2
Nomenclatura utilizada nos resumos analisados
A nomenclatura mais encontrada nos resumos para referir-se ao processo de OP/OV foi orientação profissional (41%), seguida de orientação vocacional (10%). Em 32% dos casos nenhuma nomenclatura específica foi utilizada. Foram encontradas 128 diferentes palavras-chave, sendo que as mais freqüentes foram orientação profissional com 33 citações, escolha profissional, com 13, orientação vocacional, com 11, adolescente, com 9 e avaliação, com 6. As demais palavras-chave apareceram com freqüência inferior a 5 ocorrências. Os achados podem revelar a confusão conceitual que se estabeleceu na área, tal como já identificado por Noronha e Ambiel (2006) e Sparta (2003).
CONSIDERAÇÕES FINAIS
O objetivo da presente pesquisa foi avaliar resumos de teses e dissertações disponíveis em duas bases de dados eletrônicas, a saber, CAPES e BVS-Psi. Entre os resultados encontrados, pode-se destacar o crescimento da área de OP/OV, a partir da década de 1990, revelando também uma preponderância dos relatos de pesquisa ou de experiência prática. Pode-se considerar esse achado como algo positivo para a área, uma vez que possibilita a estruturação de um corpo científico e teórico voltado para o contexto nacional.
Apesar desse crescimento, observa-se uma grande variedade de terminologias utilizadas para a definição do processo de OP/OV, além da ausência de uma nomenclatura específica em parte dos casos. Esse dado pode indicar tanto uma baixa concordância entre os profissionais que realizam pesquisa na área, como uma diversidade de referenciais teóricos adotados. Aliado a isso, o resumo pode não ter contemplado todas as informações importantes do estudo.
A construção e validação de instrumentos voltados para OP/OV foram pouco abordadas enquanto objetivo dos trabalhos, observando-se apenas 4% de ocorrência. Considerando que apenas dois instrumentos específicos para a área foram aprovados pelo CFP, seria relevante o desenvolvimento de mais pesquisas visando à construção e validação.
Os dados encontrados nesta pesquisa propiciaram uma ampliação do conhecimento sobre a condição atual das pesquisas em OP/OV. Esse estudo levantou lacunas e possibilidades que envolvem a área, o que proporciona subsídios para a realização de novas pesquisas, uma vez que, de acordo com Witter (1999), a observação do que já foi produzido deveria ser prática constante em todas as ciências.
Em síntese, como pondera Baptista (1984), a preocupação com a orientação profissional e vocacional esteve presente desde os primórdios da organização das instituições de ensino. No entanto, há que se ressaltar que, apesar do crescimento já apontado, a área necessita de investimentos teóricos e metodológicos. Para tanto, acredita-se que o desenvolvimento de mais pesquisas sobre temas correlatos tende a contribuir para a superação das carências.
REFERÊNCIAS
Almeida, L. S. & Campos, B. P. (1986). Aferição de uma Bateria de Provas de Racioncínio Diferencial para utilização nas atividades de orientação vocacional dos alunos do ensino secudário. Psicologia Teoria e Pesquisa, 2(3), 201-212. [ Links ]
Araújo, S. M. B. & Morselli, V. L. (1991). A colagem como técnica projetiva na orientação profissional. Revista Brasileira de Pesquisa em Psicologia, 1(3), 53-54. [ Links ]
Balbinotti, M. A. A., Marroco, A. & Tétreau, B. (2003). Verificação das propriedades psicométricas do Inventário de Cristalização das Preferências Profissionais. Revista Brasileira de Orientação Profissional, 4(1/2), 71-86. [ Links ]
Baptista, M. T. D. S. (1984). Um estudo do significado da informação profissional no currículo do 2o grau. Dissertação de Mestrado não-publicada, Instituto de Psicologia, Universidade de São Paulo. São Paulo, SP. [ Links ]
Bardin, L. (1971). Análise de conteúdo. São Paulo: Edições 70. [ Links ]
Botelho, I. & Sigelmann, E. (1999). A orientação clínica em Gestalt-terapia para um mundo em transformação. Arquivos Brasileiros de Psicologia, 51(3), 7-27. [ Links ]
Bueno, J. M. H., Lemos, C. G. & Tomé, F. A. M. F. (2004). Interesses profissionais de um grupo de estudantes de psicologia e suas relações com inteligência e personalidade. Psicologia em Estudo, 9(2), 271-278. [ Links ]
Campos, I. F. (2001). A escolha profissional na psicologia analítica. Psicologia Revista, 12(1), 69-79. [ Links ]
Canedo, I. R. (1997). Contribuições da Gestalt-terapia para o referencial teórico da orientação profissional. Revista da Associação Brasileira de Orientação Profissional, 1(1), 59-67. [ Links ]
Conselho Federal de Psicologia (2006). Lista de testes com parecer favorável. Retirado em 14/03/2006, do Psicologia OnLine no World Wide Wed: http://www.pol.org.br. [ Links ]
Fernandes, L. M. & Scheeffer, R. (1986). A construção do Instrumento Brasileiro de Maturidade Vocacional. Arquivos Brasileiros de Psicologia, 38(2), 186-197. [ Links ]
Figueiredo, J. C. (1965). A entrevista de orientação profissional. Arquivos Brasileiros de Psicotécnica, 17(2), 57-70. [ Links ]
Franchi, L. V. (1957). O Teste de Koch e seu emprego na orientação educacional e profissional. Arquivos Brasileiros de Psicotécnica, 9(1/3), 139-156. [ Links ]
Gimenez, P. (1998). Orientação profissional: Criação de um espaço ritual através do Sandplay. Junguiana, 16, 55-65. [ Links ]
Japur, M. & Jacquemin, A. (1989). Escala de Atitudes (B-1) do Inventário de Maturidade Profissional (CMI): Análise psicométrica. Psicologia Teoria e Pesquisa, 5(3), 297-314. [ Links ]
Jenschke, B. (2003). A cooperação internacional: Desafios e necessidade da orientação e do aconselhamento em face das mudanças mundiais no trabalho e na sociedade. Revista Brasileira de Orientação Profissional, 4(1/2), 35-55. [ Links ]
Lehman, Y. P. (1988). Aquisição de identidade vocacional em uma sociedade em crise: Dois momentos na profissão liberal. Dissertação de Mestrado não-publicada, Instituto de Psicologia, Universidade de São Paulo. São Paulo, SP. [ Links ]
Lobato, C. R. P. S. & Koller, S. H. (2003). Maturidade vocacional e gênero: Adaptação e uso do inventário brasileiro de desenvolvimento profissional. Revista Brasileira de Orientação Profissional, 4(1/2), 57-69. [ Links ]
Maran, M. L. C. J. (2004). A escolha profissional de adolescentes através do BBT-Br e do questionário desiderativo. Dissertação de Mestrado não-publicada, Faculdade de Filosofia, Ciências e Letras de Ribeirão Preto, Universidade de São Paulo. São Paulo, SP. [ Links ]
Melo-Silva, L. L. & Santos, M. A. (1998). BBT como instrumento diagnóstico em orientação profissional: Uma abordagem psicodinâmica. Revista da ABOP, 2(1), 59-76. [ Links ]
Melo-Silva, L. L. & Jacquemin, A. (2000). Contribuição para interpretação do BBT de Martin Achtnich: A história das cinco fotos preferidas. Psic, 1(3), 72-79. [ Links ]
Melo-Silva, L. L., Oliveira, J. C. & Coelho, R. S. (2002). Avaliação da orientação profissional no desenvolvimento da maturidade na escolha da profissão. Psic, 3(2), 44-53. [ Links ]
Moura, C. B. & Silveira, J. M. (2002). Orientação profissional sob o enfoque da análise do comportamento: Avaliação de uma experiência. Estudos de Psicologia, 19(1), 5-14. [ Links ]
Neiva, K. M. C. (2000). EMEP: Escala de Maturidade para Escolha Profissional. Psic, 1(3), 28-33. [ Links ]
Noronha, A. P. P. & Ambiel, R. A. M. (2006). Orientação profissional e vocacional: Análise da produção científica. Psico-USF, 11(1), 75-84. [ Links ]
Okino, E. T. K., Noce, M. A., Assoni, R. F., Corlatti, C. T. & Jacquemin, A. (2003). A adaptação do BBT Teste de Fotos e Profissões para o contexto sociocultural brasileiro. Revista Brasileira de Orientação Profissional, 4(1/2), 87-96. [ Links ]
Primi, R., Moggi, M, A. & Casellato, E. O. (2004). Estudo correlacional do Inventário Busca Autodirigida (Selfdirected Search) com o IFP. Psicologia Escolar e Educacional, 8(1), 47-54. [ Links ]
Primi, R., Munhoz, A. M. H., Bighetti, C. A., Di Nucci, E. P., Pelegrini, M. C. K. & Moggi, M. A. (2000). Desenvolvimento de um inventário de levantamento das dificuldades da decisão profissional. Psicologia Reflexão e Crítica, 13(3), 451-463. [ Links ]
Sparta, M. (2003). O desenvolvimento da orientação profissional no Brasil. Revista Brasileira de Orientação Profissional, 4(1/2), 1-11. [ Links ]
Talavera, E. R., Liévano, B. M., Soto, N. M., Ferrer-Sama, P. & Hiebert, B. (2004). Competências internacionais para orientadores educacionais e vocacionais. Revista Brasileira de Orientação Profissional, 5(1), 1-14. [ Links ]
Teixeira, M. A. P. & Magalhães, M. O. (2001). Escala de Indecisão Vocacional: Construção de um instrumento para pesquisa. Aletheia, 13, 21-26. [ Links ]
Witter, G. P. (1999). Metaciência e leitura. Em G. P. Witter (Org.), Leitura: Textos e pesquisas (pp. 13-22). Campinas: Editora Alínea. [ Links ]
Velloso, R. (2000). O que há de psicanalítico em um acompanhamento vocacional. Cógito, 2, 69-74. [ Links ]
Zacharias, J. J. M. (1994). Tipos psicológicos e escolha profissional: Uma investigação com policiais militares da cidade de São Paulo. Tese de Doutorado não-publicada, Instituto de Psicologia, Universidade de São Paulo. São Paulo, SP. [ Links ]
Zancan, G. (2000). Quem sabe dos institutos do milênio? Jornal da Ciência, 14, 443. [ Links ]
Recebido: 05/07/2006
1ª Revisão: 18/09/2006
Aceite Final: 12/10/2006
1 Endereço para correspondência: Rua Alexandre Rodrigues Barbosa, 45, 13.251-900, Centro, Itatiba, SP. E-mail: ana.noronha@saofrancisco.edu.br; ana.noronha@pesquisador.cnpq.br.
Sobre os autores
* Ana Paula Porto Noronha é Doutora em Psicologia Ciência e Profissão pela Pontifícia Universidade Católica de Campinas. Docente do Programa de Pós-graduação Stricto Sensu em Psicologia da Universidade São Francisco. Bolsista Produtividade em Pesquisa do CNPq.
** Regina Gioconda de Andrade; Fabiano Koich Miguel; Monalisa Muniz Nascimento; Maiana Farias Oliveira Nunes; Sílvia Verônica Pacanaro; Aleteia Henklain Ferruzzi; Fernanda Argentini Sartori; Luis Torahiko Takahashi e Heitor Francisco Pinto Cozza são alunos do Programa de Pós-graduação Stricto Sensu em Psicologia da Universidade São Francisco.