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Revista Brasileira de Orientação Profissional
versão impressa ISSN 1679-3390versão On-line ISSN 1984-7270
Rev. bras. orientac. prof vol.17 no.1 Florianópolis jun. 2016
ARTIGOS ORIGINAIS
Expectativas de universitários sobre a universidade: sugestões para facilitar a adaptação acadêmica
Students' expectations regarding university: suggestions to facilitate adjustment to college
Expectativas de universitarios sobre la universidad: sugerencias para facilitar la adaptación académica
Clarissa Tochetto de OliveiraI; Anelise Schaurich dos SantosII; Ana Cristina Garcia DiasIII
IUniversidade Federal do Rio Grande do Sul, Porto Alegre-RS, Brasil
IIUniversidade do Vale do Rio dos Sinos, São Leopoldo-RS, Brasil
IIIUniversidade Federal do Rio Grande do Sul, Porto Alegre-RS, Brasil
RESUMO
Buscou-se conhecer as expectativas dos estudantes em relação ao Ensino Superior e identificar como a universidade pode facilitar a adaptação acadêmica dos mesmos. Foram entrevistados 20 estudantes universitários de uma universidade pública. As respostas foram submetidas à análise de conteúdo. As expectativas dos estudantes em relação ao Ensino Superior incluíam maior integração com os colegas, melhor relação com os professores, uma formação mais completa, maiores informações sobre a universidade e o próprio curso. As expectativas não satisfeitas ao ingressar na universidade deram origem a sugestões sobre como a instituição pode facilitar a adaptação acadêmica dos estudantes. Conclui-se que as sugestões dos universitários podem ser úteis para a reformulação das práticas das universidades que visem atender melhor as necessidades dos estudantes.
Palavras-chave: estudantes universitários, ajustamento escolar, esperança, análise de conteúdo
ABSTRACT
This study aimed to verify students' expectations regarding higher education and to identify how the university can facilitate their adjustment to college. We interviewed 20 students from a public university. Their answers were submitted to content analysis. Students' expectation regarding higher education were greater interaction with classmates, better relationship with professors, a better education, more information about university and their major. Data indicated that the expectations which were not met when the students joined the university become suggestions about how the university may facilitate their adjustment. We conclude that the suggestions of the students may be useful to reformulate supporting services offered by universities.
Keywords: college students, school adjustment, hope, content analysis
RESUMEN
Este estudio tuvo como objetivo conocer las expectativas de los estudiantes con relación a la educación superior e identificar cómo la institución universitaria puede facilitar su adaptación académica. Fueron entrevistados 20 estudiantes de una universidad pública. Las respuestas fueron sometidas a análisis de contenido. Las expectativas de los estudiantes en relación con la educación superior incluían mayor integración con los colegas, mejor relación con los profesores, una formación más completa, más información acerca de la universidad y la propia carrera. Al existir expectativas no satisfechas al ingresar a la universidad, emergieron sugerencias sobre como la institución puede facilitar la adaptación académica de los estudiantes. Se concluye que las sugerencias de los universitarios pueden ser útiles para la reformulación de las prácticas institucionales en las universidades, para atender mejor las necesidades de los estudiantes.
Palabras-clave: estudiantes universitários, adaptación escolar, esperanza, análisis de contenido
O ingresso no Ensino Superior (ES) é frequentemente acompanhado por acontecimentos singulares na vida dos estudantes, sendo permeado por mudanças que exigem um esforço de ajustamento do indivíduo. Diferentes variáveis influenciam nesse processo, que é complexo e multidimensional. De fato, a saída da casa dos pais, a mudança de cidade (Assis & Oliveira, 2011; Sulkowski & Joyce, 2012; Teixeira, Dias, Wottrich, & Oliveira, 2008), o distanciamento do núcleo familiar (Almeida, 2007), as transformações no grupo de amizades (Credé & Niehorster, 2012) e a troca do ambiente escolar para o universitário (Hagenauer & Volet, 2014) são algumas das mudanças vividas pelos universitários. Ingressar no ES traz novas responsabilidades, gera alterações na maneira de organizar o tempo e nos níveis de exigência requeridos para executar as tarefas acadêmicas (Teixeira et al., 2008).
Essas mudanças geram expectativas nos estudantes que começarão a frequentar a Universidade. Os indivíduos, ao receberem a notícia de aprovação no ES, começam a imaginar como será o seu relacionamento com os novos colegas e professores, como lidarão com as demandas acadêmicas e como poderão usufruir da estrutura e das atividades que essa nova instituição oferecerá (Almeida, 2007). Essas expectativas são cognições, motivações e afetos que os alunos possuem (Soares et al., 2014); são aquilo que os estudantes esperam encontrar e concretizar no ES (Alves, Gonçalves, & Almeida, 2012).
As expectativas são idealizadas e podem não condizer com a realidade vivida no ES (Soares et al., 2014). Essa discrepância pode gerar frustrações e diminuir o envolvimento acadêmico do estudante (Alves et al., 2012), o que, por sua vez, influencia na disponibilidade dos mesmos para atender as demandas inerentes à universidade (Feldt, Graham, & Dew, 2011). Portanto, as expectativas tendem a impactar no nível de compromisso e de investimento dos estudantes, afetando a qualidade da adaptação acadêmica, o nível de aprendizagem, o desenvolvimento psicossocial e a persistência nas tarefas acadêmicas (Alves et al., 2012; Gomes & Soares, 2013). Existem indicativos de que quanto mais expectativas o aluno possui sobre o envolvimento curricular e vocacional, melhor é o seu desempenho acadêmico (Gomes & Soares, 2013).
As instituições dificilmente se preocupam em conhecer as expectativas dos estudantes diante do ingresso no ES e as suas possibilidades de concretização (Nadelson et al., 2013). Os estudos sobre o tema são frequentemente desenvolvidos a partir de uma perspectiva quantitativa, utilizando-se de instrumentos como o Questionário de Vivências Acadêmicas (Almeida, Guisante, Soares, & Paisana, 2007; Soares, Almeida & Guisante, 2011), o Questionário de Envolvimento Acadêmico (Gomes & Soares, 2013) ou ambos (Soares et al., 2014). Embora os instrumentos reflitam modelos teóricos interessantes para a investigação desses temas, através de suas dimensões, a abordagem quantitativa não oportuniza a descrição da experiência conforme vivenciada pelos participantes. Os estudos quantitativos citados também não investigam possíveis sugestões e opiniões que os próprios estudantes apresentam sobre como a universidade poderia contribuir para sua adaptação. Este estudo, de caráter qualitativo, objetivou tanto conhecer as expectativas de calouros e formandos de uma universidade pública do Rio Grande do Sul/Brasil sobre o curso e a Universidade, como conhecer suas opiniões sobre como a instituição pode facilitar a adaptação acadêmica dos mesmos. A adaptação acadêmica foi abordada, nesta pesquisa, levando em consideração quatro grandes aspectos tidos como relevantes no processo de adaptação: o ajustamento acadêmico (relacionado às questões de engajamento com os estudos), o ajustamento relacional-social (que abrange as demandas interpessoais), o ajustamento pessoal-emocional (associado à saúde psicológica e física do aluno) e o vínculo com a instituição (relacionado ao compromisso e satisfação com a universidade) (Baker & Syrik, 1984). Parte-se do pressuposto que tanto as expectativas quanto a adaptação podem diferir em função do momento vivido (início ou fim de curso). No entanto, independente disto, é importante compreender o que os discentes esperam e as diferentes soluções por eles indicadas para que se construam atividades e/ou programas que facilitem o processo de adaptação à universidade.
Método
Participantes
Participaram do estudo 20 universitários de ambos os sexos (65% mulheres), idades entre 17 e 26 anos (M= 21,95; DP = 3,44), provenientes dos cursos de Economia (3 calouros e 5 formandos) e de Psicologia (5 calouros e 7 formandos) de uma Instituição de Ensino Superior Pública localizada no interior do Rio Grande do Sul. Estes foram selecionados por conveniência, após um sorteio realizado entre os cursos de graduação do Centro de Ciências Sociais e Humanas. A saturação teórica das informações foi utilizada como critério para determinar o número da amostra (Fontanella, Ricas, & Turato, 2008).
Procedimentos e Instrumento
Para divulgação da pesquisa alguns professores cederam alguns minutos de suas aulas para explicar os objetivos e procedimentos do estudo. Foram realizados convites para participação na pesquisa, sendo solicitado aos voluntários que fornecessem nome, endereço eletrônico e/ou telefone para que as pesquisadoras pudessem entrar em contato e agendar um encontro posterior, em dia, horário e local conveniente aos participantes. Uma entrevista se-miestruturada foi conduzida a fim de compreender como os sujeitos percebiam e vivenciavam sua trajetória acadêmica. Os tópicos da entrevista procuraram abordar os aspectos acadêmico, relacional-social, pessoal-emocional e de vínculo com a instituição envolvidos no processo de adaptação à universidade (Baker & Siryk, 1984). Todas as entrevistas foram gravadas e transcritas na íntegra. A pesquisa foi submetida e aprovada pelo comitê de ética da universidade onde o estudo foi realizado, sendo observados todos preceitos éticos durante a sua condução.
Análise de dados
Os dados analisados nesse artigo estão relacionados a duas perguntas da entrevista: (a) quais eram as suas expectativas em relação à universidade e ao curso no qual está matriculado? e (b) você acha que a universidade poderia ajudar os estudantes na transição para a universidade? De que modo? As informações referentes as demais questões investigadas podem ser encontradas nas publicações (Oliveira & Dias, 2014; Oliveira, Wiles, Fiorin, & Dias, 2014; Santos, Oliveira, & Dias, 2015). As respostas foram lidas na íntegra para familiarização com o conteúdo das mesmas, sendo submetidas a uma análise de conteúdo temática (Bardin, 2011). Foram agrupadas com base em sua semelhança em duas categorias: 1. expectativas dos estudantes em relação à universidade e ao curso e 2. sugestões dos participantes para a universidade facilitar a adaptação acadêmica.
Resultados e discussão
Expectativas dos estudantes em relação à universidade e ao curso
Verificaram-se semelhanças em algumas expectativas de calouros e formandos em relação à universidade e ao curso. De maneira geral, os acadêmicos que estavam iniciando e concluindo a graduação esperavam maior integração com os outros universitários no campus da instituição. Essa é uma característica específica da amostra estudada, visto que a universidade possui dois campi em bairros diferentes da mesma cidade. Os participantes estudavam no campus menor, localizado no centro da cidade, e revelaram que gostariam de maior integração com os estudantes dos outros cursos, no campus maior da universidade. Já em relação ao curso universitário, os participantes desejavam uma formação mais completa, com mais opções extracurriculares e com um melhor relacionamento com os professores. Os alunos gostariam ainda de receber maiores informações sobre o funcionamento da universidade e do próprio curso na transição para o ES.
No que se refere à universidade, os calouros e os formandos entrevistados reconheceram aspectos positivos e negativos em relação a sua infraestrutura. O Restaurante Universitário (RU) parece ter atendido as expectativas dos estudantes, já que os auxilia a realizar refeições em local próximo aos seus cursos com um preço mais acessível, além de proporcionar o contato com outros acadêmicos. Entretanto, os estudantes esperavam uma infraestrutura mais adequada para sua formação (prédio, salas de aula, laboratórios de informática), que oferecesse as ferramentas necessárias para as aulas e para a apresentação de trabalhos.
"O RU acho bem bom. A biblioteca acho boa. O prédio em questão de laboratório de informática, faltou. A estrutura do auditório também não acho boa. Tu vê os que tem Data Show dentro da sala, e nós não temos isso" (Janaina, caloura, Psicologia).
Os jovens também esperavam vivenciar uma experiência universitária típica, envolvendo passar o dia na instituição e ter contato com estudantes de outros cursos. No entanto, a Economia e a Psicologia situam-se no centro da cidade, enquanto o campus, com a maior parte dos cursos, localiza-se em um bairro mais afastado na cidade. Somado a isso, os participantes relataram já ter perdido oportunidades acadêmicas em função do isolamento geográfico de seus cursos no que se refere ao restante da universidade, pois a informação não chegou até eles.
"O curso perde muito não estando dentro da universidade, tu acaba perdendo muita coisa por estar isolado. Dentro da estrutura, é isso que mais influenciou, não estar envolvido com a universidade" (Denise, formanda, Economia).
"Psicologia no centro. Eu gostaria que fosse no campus, porque eu tinha aquela imagem de estudante pegando o ônibus, mochila nas costas, vai pro campus passar o dia" (Eduardo, formando, Psicologia).
Os resultados desta pesquisa confirmam que a estrutura da universidade pode interferir na adaptação acadêmica. Assim, a falta de recursos materiais percebida pelos estudantes pode não só prejudicar o aprendizado dos mesmos, mas também desmotivá-los a se comprometerem com sua formação. Da mesma forma, os programas e eventos institucionais, a prestação de serviços e os docentes são fatores que contribuem para o ajustamento dos estudantes ao ES. Por isso, é importante que os alunos se sintam parte da comunidade universitária e tenham acesso às oportunidades oferecidas pela instituição (Soares, Baldez, & Mello, 2011).
No que se refere ao curso de graduação, os formandos de Psicologia reclamaram das poucas opções de atividade extracurriculares, como projetos e estágios. Percebe-se que os estudantes esperavam mais oportunidades extraclasse e uma divulgação explícita dessas por parte dos docentes. Os acadêmicos ainda desejavam que a estrutura curricular do curso fosse mais bem distribuída, contemplando uma maior diversidade de disciplinas em vez de restringir seu aprendizado aos temas de interesse dos professores. Os formandos também esperavam que o curso e os supervisores se preocupassem em oferecer suporte no início das atividades de estágio.
"É difícil ter uma abertura pra fazer atividades extra. Naquela época, não tinha abertura por parte dos professores. Não é aberto um processo de seleção" (Ângela, formanda, Psicologia).
"A gente não vê Humanismo, Behaviorismo, vê pouco TCC. [...] Quando a gente vai atender paciente, é o momento que a gente precisaria de segurança, que por parte dos professores a gente não encontra. Isso deveria ser uma preocupação do curso" (Letícia, formanda, Psicologia).
Já os calouros entrevistados revelaram o desejo de entrar em contato com os conteúdos diretamente relacionados à profissão no início do curso. Os estudantes consideraram as disciplinas introdutórias como um aspecto negativo para sua motivação, apesar de reconhecerem a importância das mesmas. Ademais, os estudantes possuíam a expectativa de que iriam gostar de todas as disciplinas e de que se sentiriam motivados a estudar todos os conteúdos propostos, uma vez que estavam frequentando o curso desejado. Contudo, com o passar do tempo perceberam que isso não é possível.
"No primeiro semestre, achei que ia aprender mais, mas isso é por ignorância minha. Tem que ir com calma, não dá pra aprender tudo no primeiro semestre" (Laís, caloura, Psicologia).
"No começo, foi bem decepcionante [...]. Chegar aqui e se deparar com a realidade de que grande parte das coisas não necessariamente a gente gosta" (Ângela, formanda, Psicologia).
Sabe-se que as atividades extracurriculares podem contribuir para a adaptação acadêmica dos alunos que se envolvem com as mesmas (Teixeira et al., 2008). Tais oportunidades, como projetos e pesquisas, possibilitam maior contato com os professores e com a realidade da profissão, além de motivar os jovens em relação à vida acadêmica (Teixeira et al., 2008). Dessa forma, é possível que a associação das disciplinas básicas com o envolvimento em atividades extraclasse facilite o ajustamento dos estudantes ao ES pela possibilidade de explorar a profissão desde o início da graduação.
Os estudantes da Economia ainda esperavam que os professores estabelecessem relações entre conteúdos trabalhados em sala de aula e a realidade da profissão, com exemplos baseados na prática. Porém, a ausência dessa relação gerou sentimentos de decepção nos alunos, decorrentes das lacunas percebidas em sua formação profissional que, por sua vez, contribuíram para o desenvolvimento de crenças de menor autoeficácia profissional.
"Outra coisa que me abateu foi o fato de que nos formam pra um meio teórico e a gente não tem a opção de trocar o caminho" (Leandro, 17, calouro, Economia).
"Não me sinto apta a prestar consultorias" (Ana, formanda, Economia).
"Os professores deveriam chegar e falar sobre o que está acontecendo no dia a dia, fazer uma ligação" (Carolina, formanda, Economia).
De fato, os estudantes buscam na universidade qualidade no processo de formação, no que se refere às atividades curriculares e extracurriculares (Soares et al., 2014). Entretanto, a adaptação acadêmica implica aprender a lidar com as frustrações em relação ao curso (Soares et al., 2014; Teixeira et al., 2008). Nesse sentido, estudantes que exploram oportunidades além daquelas oferecidas pelo currículo do curso podem identificar preferências dentro de sua área de formação, além de se sentirem mais competentes profissionalmente (Bardagi & Boff, 2010).
Também havia expectativas relacionadas ao nível de exigência presente no ES. Os estudantes acreditavam que, na universidade, as provas seriam mais difíceis e os critérios de avaliação, mais rígidos do que aqueles encontradas no Ensino Médio.
"Sempre deu pra dar um jeitinho, estudando ou não, a gente passava. O critério de compreensão de conteúdos não foi o principal para a avaliação, ninguém roda" (Carlos, formando, Psicologia).
Além disso, os participantes deste estudo esperavam que os professores mantivessem um bom relacionamento entre si, em função de pertencerem a uma área que trabalha com as relações humanas. Os alunos também desejavam que os docentes demonstrassem maior preocupação e interesse com o aprendizado dos estudantes em vez de somente ministrar suas aulas.
"Eu me frustrei bastante, porque eu não esperava que existissem brigas entre os professores" (Ana, formanda, Economia).
"A relação dos professores é um pé de guerra, respinga na gente. Não conseguem conversar, pensar junto [...].
Falta acolhimento por parte dos professores" (Letícia, formanda, Psicologia).
De maneira geral, observou-se o desejo dos estudantes de que o corpo docente possuísse características de um bom professor, tais como considerar os questionamentos dos alunos em sala de aula, estar atualizado, contextualizar o conhecimento transmitido, exercer autoridade sem ser autoritário, ser pontual e organizado (Quadros et al., 2010) e, por outro, mostrar-se aberto ao diálogo e preocupado com a adaptação acadêmica dos estudantes (Oliveira et al., 2014). Contudo, não se sabe se os docentes percebem a importância creditada a eles pelos estudantes, se buscam dar conta dessas expectativas, de que forma isso ocorre e as possíveis dificuldades encontradas (Oliveira et al., 2014).
Outra expectativa apontada pelos calouros e formandos de ambos os cursos refere-se à informação disponibilizada a respeito da universidade. Os estudantes esperavam receber informações sobre as facilidades oferecidas pela instituição (restaurante universitário, bibliotecas, cursos de idiomas) para que pudessem aproveitar as oportunidades da vida acadêmica. Além disso, os estudantes gostariam de conhecer melhor o funcionamento das reuniões de colegiado, da matrícula em disciplinas complementares e da participação em projetos de pesquisa e extensão. Porém, a universidade ou o curso não disponibilizaram essas informações.
"Nada com professores ou ligado à universidade, é tudo os veteranos que te falam, tu que descobre. Alguma coisa básica tem no site" (Márcio, calouro, Economia).
"A universidade oferece bastante coisa aos alunos que eu não sabia. Por exemplo, todo mundo pode almoçar no Restaurante Universitário, pegar livros em qualquer biblioteca. Cursos de línguas que a universidade oferece, curso de informática" (Camila, formanda, Economia).
"A gente não fica sabendo como as coisas acontecem. Eu fui saber o que era uma reunião de colegiado quando caí no meio de uma" (Ângela, formanda, Psicologia).
Os relatos dos participantes desta pesquisa confirmam que a falta de informação em relação aos aspectos burocráticos da instituição pode dificultar a adaptação acadêmica dos estudantes. O conhecimento a respeito do funcionamento do curso e das oportunidades oferecidas pela universidade poderia contribuir para o ajustamento dos estudantes ao ES, bem como evitar sentimentos de estar perdido e de desmotivação (Mattanah et al., 2010; Teixeira et al., 2008).
As expectativas dos participantes (maior integração com os outros universitários, mais opções extracurriculares, melhor relacionamento com os professores, melhor infraestrutura e maiores informações sobre o curso e a universidade) parecem ser específicas do contexto dos mesmos, visto que outros estudos sobre expectativas de estudantes na transição para o ES mostraram resultados diferentes (Alves et al., 2012). Outras expectativas não mencionadas pelos participantes incluem pressão social, desenvolvimento pessoal, envolvimento político e cidadania (Alves et al., 2012).
Verifica-se que os participantes deste estudo expressaram, principalmente, suas expectativas sobre a trajetória acadêmica que não foram satisfeitas. Uma explicação para isso pode ser a falta de iniciativa por parte da universidade para atender aos alunos no que se refere ao ajustamento à vida acadêmica, conforme já evidenciado pela literatura (Ribeiro & Bolsoni-Silva, 2011). Assim, os estudantes podem ter aproveitado o momento da pesquisa para expressar suas expectativas, visto que não houve (ou não foi explicitado) um espaço "oficial" para tal. Ademais, a capacidade de expressar as expectativas não satisfeitas durante as entrevistas pode indicar um fator protetor contra a evasão. Afinal, a não reformulação das expectativas iniciais frustradas pode levar ao abandono precoce do ES (Soares et al., 2014). As reflexões dos participantes sobre essas questões resultaram em sugestões para que a universidade possa facilitar a adaptação acadêmica de seus alunos.
Sugestões dos participantes para a universidade facilitar a adaptação acadêmica na universidade
As sugestões dos estudantes entrevistados para a universidade facilitar o ajustamento ao ES de seus alunos possuem relação com as expectativas não satisfeitas dos acadêmicos. Verificou-se que algumas propostas apresentadas pelos estudantes são comuns a calouros e veteranos de ambos os cursos, entre elas: a preparação dos alunos para a transição antes da entrada na universidade, o investimento na infraestrutura, a transmissão de informações sobre o funcionamento da instituição e do curso, a melhoria na qualidade da relação professor-aluno. Contudo, foi possível observar também sugestões específicas de formandos, como a melhoria no relacionamento entre o corpo docente.
Os participantes do estudo sugeriram que o processo de transição para a universidade fosse trabalhada com eles antes do ingresso na instituição. Nesse sentido, as escolas de Ensino Médio poderiam preparar os alunos para a realidade universitária, por meio de orientações profissionais, do estímulo para conhecer a universidade e frequentar a feira das profissões. Além disso, a própria universidade poderia oferecer palestras sobre o seu funcionamento e continuar promovendo eventos como uma feira das profissões. Um aspecto elogiado pelos alunos foi a iniciativa da universidade de disponibilizar informações relevantes, sobre hotéis e ônibus, para os jovens que fazem o concurso vestibular da instituição.
"No vestibular, eles dão lista de hotel, no site tem endereços, telefones" (Márcio, calouro, Economia).
"Os colégios poderiam ir preparando os alunos a entrar na universidade. A Feira das Profissões já ajuda bastante, podia ter um espaço para os alunos que vão fazer o vestibular perguntarem, se informarem como é, cada curso poder dar informações sobre a universidade" (Paula, caloura, Psicologia).
Após o resultado de aprovação no vestibular, o estudante tende a criar expectativas sobre a experiência universitária (Soares et al., 2011; Soares et al., 2014). Contudo, o desconhecimento dos jovens sobre o funcionamento e o que esperar da instituição pode gerar dificuldades na adaptação acadêmica (Bardagi, 2007). Com base nas falas dos entrevistados, sugere-se que as escolas e os serviços de orientação profissional incentivem seus alunos a entrar em contato com estudantes universitários a fim de reunir informações tanto sobre a universidade quanto sobre o curso e carreira que desejam frequentar. É possível que esse tipo de comportamento dos estudantes seja ainda útil para o desenvolvimento da autonomia frente à aprendizagem e, futuramente, no processo de transição da universidade para o mercado de trabalho. Além disso, após a entrada na universidade, intervenções que auxiliem os estudantes na resolução de problemas também podem ser úteis para a busca de informações para enfrentar dificuldades na universidade e para a adaptação acadêmica de modo geral (Oliveira, Dias, & Piccoloto, 2013).
Ao visar à facilitação da integração dos estudantes ao ambiente do ES, diversas universidades norte americanas criaram programas de adaptação à universidade, principalmente para os jovens que estão ingressando no ambiente acadêmico. Esses programas contemplam sessões estruturadas para a concessão de informações e intervenções clínicas, no caso de estudantes que apresentam dificuldade no ajustamento ao ES. Nessas universidades, também é comum a realização de grupos de apoio para calouros, a fim de discutir sobre a vida no ES. Esses grupos iniciam na primeira semana de ingresso na universidade e são compostos por seis a 10 encontros. Os resultados indicam que os acadêmicos que participam desses grupos percebem maiores níveis de apoio social, além de apresentarem níveis mais baixos de solidão e depressão (Mattanah et al., 2010).
Já no Brasil, ainda é pequeno o número de universidades nas quais são realizadas ou planejadas ações para o atendimento das necessidades de saúde mental (Assis & Oliveira, 2011) e/ou de ajustamento à vida acadêmica (Ribeiro & Bolsoni-Silva, 2011) dos universitários.
Quando essas existem, normalmente restringem-se a realização de workshops de desenvolvimento pessoal e de competências acadêmicas, de gestão do tempo e de manejo da ansiedade (Dias, 2001). Nesse caso, fatores como a estrutura curricular, as estratégias de ensino e de avaliação e a qualidade das relações no espaço universitário, os quais também interferem na promoção do sucesso acadêmico, não têm sido alvo de intervenção das universidades (Bisinoto, Marinho-Araújo, & Almeida, 2010; Santos, Souto, Silveira, Perrone, & Dias, 2015).
Na opinião dos participantes desta pesquisa, a in-fraestrutura e a localização dos cursos de Psicologia e Economia foram fatores críticos para a desmotivação dos estudantes entrevistados. Os alunos explicaram que estar no campus e ter contato com os outros universitários são aspectos fundamentais para o desenvolvimento de um melhor processo de adaptação acadêmica.
"Aqui na Psicologia, a gente tem um andar para o curso inteiro. Tem prédios lá fora que são só para um curso e a gente não tem isso. Deveria ser investido um pouco mais no curso" (Betânia, caloura, Psicologia).
"A gente entra aqui e não tem aquela cara de curso, faltam componentes na estrutura física que motivem. Seria legal ir para o campus, entrar realmente naquele clima de universidade, ter toda a integração dos alunos" (Helena, formanda, Psicologia).
Em um estudo realizado nos Estados Unidos foram investigadas as vantagens de uma melhor infraestrutura na visão de estudantes universitários (Hill & Epps, 2010). Verificou-se que as características das salas de aula contribuem não só para a satisfação dos alunos, mas também para a motivação dos mesmos para ir às aulas. Constatou-se que cadeiras e mesas mais confortáveis, organizadas em forma de anfiteatro, o controle do barulho e a luminosidade são mais importantes para os estudantes do que uma sala equipada com computadores. Além disso, os estudantes tendem a avaliar melhor seus professores e acreditam que a probabilidade de aprender algo novo é maior em uma sala de aula confortável e conservada (Hill & Epps, 2010). Somado às necessidades materiais, os acadêmicos apontam a necessidade de a instituição oferecer serviços de assistência à saúde, especialmente acompanhamento psicológico (Osse & Costa, 2011). Portanto, recomenda-se que as instituições de ES invistam na sua infraestrutura e em serviços que possam contribuir para a adaptação acadêmica de seus estudantes.
Os estudantes também sugeriram que as coordenações dos cursos, os professores e os veteranos dividissem as tarefas de transmissão de informações sobre o funcionamento da universidade e sobre a própria cidade para os calouros. Os coordenadores poderiam organizar apresentações com informações sobre a universidade e sobre o curso na primeira semana dos calouros na instituição. Os professores poderiam desempenhar um papel complementar, reforçando as informações fornecidas nas aulas, buscando sanar eventuais dúvidas dos alunos e descrevendo algumas oportunidades de atividades extracurriculares que os mesmos poderão se deparar ao longo de seus cursos. Já os veteranos poderiam apresentar as oportunidades oferecidas pela universidade e as facilidades que o próprio município oferece, como oportunidades de lazer e cultura, além de compartilhar a própria experiência de ingresso no ES.
"No primeiro dia de aula, sempre tem uma apresentação do curso, da universidade. Aquele monte de informação fica um pouco vago. Talvez se fizesse mais de um dia, seria mais proveitoso" (Camila, formanda, Economia).
"Eles [veteranos] fizeram uma apresentação de slides com todas as informações da universidade, as oportunidades de curso de inglês, de academia, dança de salão, essas coisas que eles podiam aproveitar na cidade, não só na universidade. Aqui as pessoas vão vir morar sozinhas, então saber que é normal sentir falta..." (Janaina, caloura, Psicologia).
"O funcionamento da universidade, o que tem que fazer pra ser monitor, como funciona o diretório. Não sei se teria como ter alguém explicando" (Laís, caloura, Psicologia).
Recomenda-se que as universidades organizem uma forma de disseminar informações aos estudantes tanto sobre a vida acadêmica quanto sobre os benefícios que a instituição oferece (Teixeira et al., 2008). Os estudantes também devem buscar informações a respeito das oportunidades que a universidade lhes proporciona. Afinal, o desenvolvimento dos alunos depende do esforço e do envolvimento dos mesmos com os recursos oferecidos pela instituição e com as experiências externas (Igue et al., 2008). Uma estratégia que pode ser testada no Brasil é a criação de sites que promovam o contato entre os alunos de uma mesma instituição, focado no processo de adaptação à universidade. Nos Estados Unidos, verificou-se que o uso de um site com essa proposta contribuiu para a percepção dos estudantes sobre a universidade como um lugar onde é possível encontrar os recursos necessários para a resolução dos problemas enfrentados. Além disso, o contato entre calouros pode constituir uma importante fonte de informação, capaz de auxiliar na transição para o ES (DeAndrea, Ellison, Larose, Steinfield, & Fiore, 2012).
Outra sugestão dos participantes entrevistados refere-se ao acolhimento dos estudantes no curso. Nesse sentido, os jovens destacaram que poderiam ser oferecidos atendimentos psicológicos por parte da universidade, a fim de trabalhar não só a adaptação de calouros, mas também os momentos críticos enfrentados por outros estudantes, como o desejo de abandonar o curso. Ademais, a postura dos profissionais que trabalham nas secretarias e dos próprios professores poderia ser mais acolhedora, de forma a criar um ambiente agradável tanto para aulas e supervisões quanto para compartilhar experiências pessoais. O acolhimento ainda poderia ser trabalhado com turmas que irão receber alunos de outras instituições para evitar discriminações aos novos colegas, em situações de transferência.
"Colegas ficaram extremamente mal e o que o curso fez foi: 'tranca e se trata'. Não tem outro tipo de acolhimento em relação a isso, nem um interesse de saber sobre isso. Seria bom se isso fosse disponível, porque outros estudantes de outros cursos também queriam largar" (Ângela, formanda, Psicologia).
"Eu tenho me sentido melhor depois que a secretaria ficou mais aberta e que eu consegui um contato mais próximo das pessoas" (Carlos, formando, Psicologia).
"Os transferidos chegaram e foi um choque. Poderia ter sido diferente se todo mundo estivesse preparado pra essa mudança" (Carla, formanda, Psicologia).
Sabe-se que o papel da universidade não é transmitir somente conhecimento técnico (Teixeira et al., 2008). Afinal, o sucesso acadêmico dos alunos está associado não apenas ao desenvolvimento de habilidades acadêmicas, mas também com competências cognitivas e sociais (Ferreira, Almeida, & Soares, 2001). Contudo, ainda não há espaço para discutir as dificuldades comuns à adaptação acadêmica nessas áreas, de forma que os jovens podem não ter a quem recorrer quando enfrentam dificuldades (Osse & Costa, 2011), o que pode não só diminuir o envolvimento acadêmico do estudante (Alves et al., 2012), mas também contribuir para o abandono do ES (Soares et al., 2014).
Sugere-se que a universidade elabore propostas de intervenção a fim de prevenir e amparar os jovens nas dificuldades de adaptação encontradas, como a distância da família, problemas nos relacionamentos interpessoais e na estrutura e organização institucional que podem interferir na rotina do estudante (Teixeira et al., 2008). Um estudo realizado por Oliveira et al. (2013), por exemplo, fez um levantamento de dificuldades na adaptação acadêmica durante o primeiro ano de graduação de estudantes universitários de diversos cursos. A partir disso, os autores propuseram como a Terapia Cognitivo-Comportamental poderia contribuir para minimizar as dificuldades dos alunos. É possível que a adoção de estratégias como essa não só prepare os estudantes para lidar com eventuais obstáculos da vida acadêmica, como também mostre que a universidade se importa com a qualidade da experiência universitária de seus alunos.
Os estudantes que participaram deste estudo ainda ofereceram sugestões que podem ser adotadas pelos professores. Dentre as ideias descritas pelos mesmos, destacam-se a criação de atividades extracurriculares para que os alunos possam ter maior contato com a profissão no início do curso, quando estão cursando as disciplinas introdutórias e o desenvolvimento de uma postura menos agressiva e mais compreensiva em sala de aula. O estabelecimento de uma relação entre docentes e estudantes que possibilite o diálogo entre ambos também foi citado como algo que pode facilitar a adaptação, uma vez que os jovens se sentiriam mais a vontade para tirar dúvidas e sugerir novas ideias com professores que parecem facilitar o processo de comunicação. Além disso, o zelo por um relacionamento de respeito entre o próprio corpo docente poderia contribuir para maior integração entre professores e alunos.
"Deveriam incentivar mais. Ter grupos de estudo, projetos, palestras destinadas à área. Se eles buscassem trazer o aluno pra realidade do curso, seria mais fácil pra se adaptar, pra não abandonar" (Fabiana, formanda, Economia).
"A metodologia dos professores é à base do susto, no sentido de colocar medo nos alunos. Fica um clima muito pesado nas aulas" (Ana, formanda, Economia).
"Os alunos têm coisas a dizer, e se os professores pudessem escutar os alunos, se os alunos pudessem escutar os professores, e se pudessem construir alguma coisa pra ser feita juntos, as relações melhorariam" (Ângela, formanda, Psicologia).
Os relatos dos participantes deste estudo confirmam que os professores desempenham papel importante para a adaptação acadêmica. A competência e a capacidade de ensinar do docente contribuem para a satisfação dos alunos com o curso. Da mesma forma, a demonstração de interesse a respeito do aprendizado por parte dos professores também parece estimular a adesão dos jovens ao curso (Teixeira et al., 2008). Ou, por outro lado, a relação pode gerar um maior distanciamento da universidade, quando a relação professor-aluno é mais formal, com menos espaços de interação social e menor interesse dos docentes (Bardagi & Hutz, 2012).
Em contraste, alguns estudantes relataram que facilitar a adaptação acadêmica não é papel da universidade. Assim, sugeriram a construção de uma rede de apoio pelo aluno para que o mesmo possa experimentar um melhor ajustamento ao ES e à nova cidade, no caso de quem precisa sair da casa dos pais para estudar. Além disso, as famílias também podem auxiliar seus filhos, preparando--os para as atividades domésticas associadas ao morar sozinho.
"Não que a universidade tenha que ajudar o aluno, a própria estrutura familiar ou os amigos que tu faz vão te auxiliar a ter um convívio melhor com os aspectos da cidade" (Denise, formanda, Economia).
"A família tem que agir mais, preparar melhor pra pessoa sair de casa" (Carolina, formanda, Economia).
As características individuais dos estudantes, além dos fatores institucionais, interferem no processo de ajustamento dos mesmos ao ES. Dessa forma, as sugestões dos participantes deste estudo, de que os alunos construam uma rede de apoio que possa auxiliá-los durante a trajetória acadêmica e de que as famílias preparem seus filhos para essa nova etapa do desenvolvimento, podem contribuir para uma melhor adaptação ao novo ambiente. A saída da casa dos pais pode constituir uma dificuldade para aqueles que somam as atividades domésticas e saudade dos familiares ao período de adaptação acadêmica. É possível que a adaptação ao "morar longe da família" seja amenizada conferindo maior autonomia aos estudantes e responsabilidades nas tarefas domésticas (Oliveira & Dias, 2014). A construção de uma rede de apoio formada por familiares, colegas e amigos em geral também é uma estratégia fundamental para facilitar a adaptação acadêmica, pois permite que os estudantes tenham a quem recorrer em caso de dificuldade (Oliveira & Dias, 2014). Há evidências de que os estudantes tendem a contar com os genitores para receber apoio emocional e financeiro, já outros familiares podem auxiliar na adaptação à nova cidade e os colegas acabam apoiando no rendimento acadêmico (Santos et al., 2015).
Os participantes deste estudo também perceberam que algumas de suas expectativas não satisfeitas não podem ser modificadas pela universidade, uma vez que correspondem a características da trajetória acadêmica e são necessárias para o crescimento profissional. Nesse sentido, os estudantes relataram mudanças na forma de pensar e agir após o ingresso no ES.
Considerações finais
Os relatos dos participantes permitiram constatar que muitas das expectativas de calouros e formandos de Economia e Psicologia não foram satisfeitas. Isso pode indicar que os jovens ingressam na universidade sem saber o que irão encontrar durante a trajetória acadêmica e, também, que a instituição pode estar falhando no desempenho do seu papel, especialmente no que se refere à transmissão de informações e suporte aos alunos. Diante disso, os estudantes sugeriram que a universidade promova ações voltadas para a preparação dos alunos para a transição antes da entrada na universidade (palestras, feira das profissões, informações sobre hotéis e restaurantes para quem irá prestar o concurso vestibular). Sugerem investimento na infraestrutura, na transmissão de informações sobre o funcionamento da instituição e do curso e no acolhimento do aluno que apresenta dificuldades de adaptação acadêmica. Essas sugestões podem ser úteis para que as coordenações dos cursos e os serviços de apoio ao estudante possam pensar e reformular suas práticas, com o intuito de atender melhor as necessidades dos estudantes.
Esta pesquisa possui limitações que devem ser consideradas na interpretação dos resultados. Não foram consideradas características demográficas, econômicas e culturais da amostra estudada, de forma que as informações coletadas não podem ser atribuídas a esses aspectos. O estudo também foi realizado com os estudantes que estavam na sala de aula no momento da divulgação da pesquisa, de forma que os alunos ausentes não tiveram a mesma oportunidade de compor a amostra. Talvez os alunos que estavam presentes em sala de aula e se dispuseram a participar estejam melhor adaptados e satisfeitos. Portanto, essa forma de convite pode não ter garantido a heterogeneidade dos estudantes. É possível que estudantes de cursos de outras áreas, como rurais ou saúde, possuam expectativas diferentes da trajetória universitária. Além disso, essas expectativas podem ter sido satisfeitas por estudarem no campus da universidade e por frequentarem cursos diferentes. Ressalta-se, ainda, que as sugestões oferecidas pelos estudantes para melhorar a adaptação acadêmica de alunos de universidades públicas podem não fazer sentido para jovens de instituições particulares. A partir disso, sugere-se que mais pesquisas sejam realizadas abrangendo acadêmicos de cursos de outras áreas e outras instituições, no intuito de verificar se as expectativas e as sugestões são as mesmas encontradas neste estudo.
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Endereço para correspondência:
Clarissa Tochetto de Oliveira
Universidade Federal do Rio Grande do Sul - UFRGS
Rua Ramiro Barcelos, 2600, Sala 117
Rio Branco, Porto Alegre-RS
E-mail: clarissa.tochetto@gmail.com
Recebido 11/03/2016
1a Revisão 06/05/2016
Aceite Final 01/07/2016
Sobre as autoras
Clarissa Tochetto de Oliveira é psicóloga e mestre em Psicologia pela Universidade Federal de Santa Maria (UFSM). Atualmente, é doutoranda no Programa de Pós-graduação em Psicologia da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS) e bolsista CNPq.
Anelise Schaurich dos Santos é psicóloga e mestre em Psicologia pela Universidade Federal de Santa Maria (UFSM). Atualmente, é doutoranda no Programa de Pós-Graduação em Psicologia da Universidade do Vale do Rio dos Sinos (UNISINOS) e bolsista CAPES/PROSUP.
Ana Cristina Garcia Dias é psicóloga, mestre em Psicologia pela Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS), doutora em Psicologia pela Universidade de São Paulo (USP) e professora do Programa de Pós-graduação em Psicologia da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS).