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Mental
versão impressa ISSN 1679-4427
Mental vol.8 no.14 Barbacena 2010
SESSÃO COMUNICAÇÃO
A história da psicanálise no Brasil e em Minas Gerais
Sebastião Abrão SalimI, II *
I Grupo de Estudos Psicanalíticos de Minas Gerias
II Sociedade Psicanalítica do Rio de Janeiro
1 INTRODUÇÃO
Atualmente há muitas escolas de Psicanálise no Brasil e em Minas. Iniciarei discorrendo sobre a que deu origem à Federação Brasileira de Psicanálise e ao Grupo de Estudos Psicanalíticos de Minas Gerais. Trata-se da Psicanálise de Freud e de seu grupo de adeptos, desde o século XIX. Vou remontar às suas origens, fazendo breve esboço da sua criação.
Freud nasceu em 6 de maio de 1856 em Freiberg, Moravia, no império austro-húngaro, hoje Pribor, Checoslováquia. Em 1860, devido à falência do pai, sua família mudou-se para Viena. Freud tinha 4 anos. Lá ele fez o curso de Medicina e passou a se interessar pelo estudo da histeria. Após publicar alguns trabalhos, em 1896 reuniu sob a designação de Psicanálise o conjunto dos conhecimentos acumulados, até então, sobre o funcionamento mental, no artigo Novas observações sobre as Psiconeuroses de Defesa.
De 1897 a 1902, dedicou-se à sua autoanálise, período que denominou de isolamento esplêndido, no qual seu único interlocutor foi Fliess, um otorrinolaringologista de Berlim, com o qual manteve uma extensa correspondência.
Contribuiu para esse isolamento a inamistosa recepção de seus colegas da Universidade de Viena, onde era bem conceituado, às suas teorias sobre a sexualidade infantil.
Em 1902 ele reuniu uns poucos conhecidos e criou a Sociedade Psicológica das Quartas-feiras.
Em 1905 Freud foi convidado a fazer cinco conferências nos Estados Unidos, onde a Psicanálise encontrou um grande número de adeptos.
Em 1908 realizou, com 14 integrantes, o Primeiro Congresso Internacional de Psicanálise em Weimar, e a Sociedade Psicológica de Quartas-feiras passou a se chamar Sociedade Psicanalítica de Viena.
Entre seus adeptos mais influentes cita-se Alfred Adler, filho de judeus húngaros com formação em Medicina, Psicologia e Filosofia. Praticou clínica geral antes de se dedicar à Psiquiatria. Em 1902 aproximou-se de Freud, realizando pesquisas no campo da Psicanálise. Mais tarde, em 1908, desliga-se dele por considerar o fator sexual na etiologia das neuroses superestimado por Freud.
Outro importante discípulo foi Carl Gustav Jung. Nasceu na Suíça, e em 1902 deslocou-se para Paris, onde estudou com Pierre Janet. No ano seguinte entrou em contato com a obra de Freud. Jung enviou-lhe seus trabalhos sobre a existência do inconsciente, confirmando concepções freudianas de recalque e repressão. A partir de então Freud e Jung passaram a se corresponder. O primeiro encontro entre eles, em 7 de fevereiro de 1907, transformou-se em uma conversa que durou 13 horas ininterruptas, e foi prosseguida por uma amizade de aproximadamente sete anos, durante os quais trocavam informações sobre sonhos, análises e casos clínicos. Contudo, Jung não aceitava a insistência de Freud de que as causas dos conflitos psíquicos sempre envolveriam algum trauma de natureza sexual.
Carl Jung obteve a confiança de Freud e dirigiu cargos importantes dentro do movimento psicanalítico. O rompimento foi inevitável por ele discordar da teoria sexual de Freud sobre a etiologia das Psiconeuroses, fato agravado mais tarde pelos nazistas, que proibiram e queimaram os livros de Freud, o que o obrigou a deixar Viena, doente, aos 80 anos, para se dirigir ao exílio em Londres.
Em 1910 foi criada a Associação Internacional de Psicanálise (IPA), sob a Presidência de Gustav Jung, com a finalidade de organizar o crescente movimento psicanalítico.
Em 1924, contando com 263 membros, sob a presidência de Karl Abraham, foram regulamentados os critérios da formação psicanalítica, cujo eixo central, desde então, tem sido a análise pessoal, as supervisões clínicas e os seminários clínicos, com duração do curso de cinco anos para se qualificar como psicanalista.
Hoje, a IPA tem 70 sociedades em 33 países, com cerca de 11.500 membros associados.
UM RECORTE DA HISTÓRIA DA PSICANÁLISE NO BRASIL
Em 1899, Juliano Moreira, professor catedrático na Faculdade de Medicina de Salvador, foi o primeiro brasileiro a citar, em conferência, artigos científicos de Freud, quando a prática clínica profissional da Psicanálise não havia sido bem estabelecida em Viena, no chamado período de isolamento esplêndido de S. Freud (1898-1902).
Entre 1900 e 1902, quando morava na Europa para tratar de uma tuberculose, viajou por vários países, com o objetivo de conhecer os tratamentos e as instituições psiquiátricas. Em 1903, retornou ao Brasil e instalou-se no Rio de Janeiro, onde se tornou o diretor do Hospital Nacional dos Alienados.
Nessa instituição, as obras de Freud foram transformadas em teorias de interesse acadêmico e se tornaram objeto de teses de Doutorado nas Faculdades de Medicina.
A primeira tese sob sua inspiração foi a de Genserico de Souza Pinto, um médico cearense, intitulada "Psicanálise a sexualidade nas neuroses", defendida em 26 de dezembro de 1914, na Faculdade Nacional de Medicina.
Em 1920, Franco da Rocha lançou a obra "A doutrina pansexualista de Freud", baseada em suas aulas e conferências na Faculdade de Medicina e Cirurgia de São Paulo.
Em 1924, João César de Castro defendeu sua tese de doutoramento em Medicina, intitulada "Concepção freudiana das psico-neuroses".
Essas três primeiras publicações acadêmicas não tiveram repercussão expressiva no contexto cultural e científico da época.
Conta-se que Einstein surpreendeu-se ao encontrar Juliano Moreira na presidência dos trabalhos da Faculdade de Medicina, um senhor de olhos grandes e penetrantes, pele escura e franzino. Ele foi presidente da instituição de 1926 a 1929, passando a presidente honorário em 30.4.1929.
Na Sociedade Brasileira de Neurologia, Psychiatria e Medicina Legal ele recebeu o título de Presidente Perpétuo, reconhecido mundialmente.
Segundo seu discípulo Afrânio Peixoto,
Juliano, ele era um homem de formação múltipla, pois era médico, tropicalista, dermatólogo, sifilógrafo, alienista, psicólogo, naturalista e historiador da Medicina. Sob qualquer ângulo que examinamos, a história de Juliano Moreira é extraordinária. Quem poderia imaginar tão brilhante carreira para um menino negro, nascido em 6 de janeiro de 1873, na cidade de Salvador, Bahia, no Bairro da Sé.
Em São Paulo distinguia-se Franco da Rocha, aluno de psicopatologia de Teixeira Brandão, interno da Casa de Saúde Doutor Eiras no Rio de Janeiro. Planejou e construiu o Hospício de Juqueri. Era músico, escritor, ornitólogo (especialista em tico-tico) e o primeiro professor de Neurologia e Psiquiatria da Faculdade de Medicina de São Paulo (1918-23). Se não bastasse tudo isso, foi um bom pai e bom marido. Criou seis filhos dentro do espaço físico do Juqueri. Foi, talvez, o primeiro médico-residente na acepção radical do termo. Foi o precursor da Psicanálise no Brasil. Em 1919, sua aula inaugural baseou-se na abordagem psicanalítica de um assunto psiquiátrico que foi transformado em artigo de jornal publicado no O Estado de São Paulo, com o título Sob o delírio em geral.
Em 1920, escreveu o livro A doutrina pansexualista de Freud, que abordava o instinto sexual na obra freudiana, porém dando um destaque muito diferente à sexualidade. Esse título foi corrigido em 1930, quando do lançamento de sua segunda edição, por influência de Durval Marcondes.
Assim como Franco da Rocha, a maioria dos médicos interessados na Psicanálise naquela época, de modo geral médicos psiquiatras ou neuropsiquiatras ou neurologistas que se interessaram pela obra de Freud, ficou apenas no plano teórico ou especulativo, não tendo se dedicado à prática da clínica psicanalítica. Mesmo assim, eles devem ser considerados os precursores da obra de Freud no Brasil.
Até então, Freud já havia publicado alguns trabalhos e é interessante cotejá-los com a data cronológica no Brasil:
1893 - O mecanismo psíquico dos fenômenos histéricos (Breuer).
1895 - Estudos sobre a Histeria (Breuer).
1895 - Projetos para uma Psicologia Científica.
1900 - A interpretação dos sonhos.
1901 - Psicopatologias da vida cotidiana.
1905 - Três ensaios sobre a teoria da sexualidade.
1909 - O pequeno Hans um caso de fobia.
1909 - O homem dos ratos um caso de neurose obsessiva.
1910 - O caso Schreber um caso de paranóia.
1911 - Os dois princípios do funcionamento mental.
1914 - Sobre o Narcisismo.
1921 - Além do princípio do prazer.
OS PIONEIROS
Há uma diferença fundamental entre os precursores e os pioneiros. Enquanto os precursores tiveram um interesse apenas teórico pela nascente Psicanálise, os pioneiros já se interessaram, desde o início, pelo envolvimento na prática clínica.
No Brasil, o pioneiro da Psicanálise foi Durval Bellegarde Marcondes. Nasceu em São Paulo, no dia 27 de novembro de 1899. Psiquiatra erudito, formado pela Faculdade de Medicina de São Paulo em 1924, já no ano seguinte introduziu as ideias da Psicanálise na atividade clínica brasileira.
Em 1927, escreveu a Freud comunicando a fundação, junto com Franco da Rocha, da Sociedade Brasileira de Psicanálise - a primeira da América Latina, que renasceu como Grupo Psicanalítico de São Paulo em junho de 1944. Em 1951, no Congresso da IPA, em Amsterdã, tornou-se a Sociedade Brasileira de Psicanálise de São Paulo. Freud responde:
Meu prezado senhor!
Infelizmente não domino o seu idioma, mas graças aos meus conhecimentos da língua espanhola pude deduzir de sua carta e do seu livro que é sua intenção aproveitar os conhecimentos adquiridos em psicanálise nas belas letras, e, de um modo geral, despertar o interesse de seus compatriotas por nossa ciência. Fico sinceramente grato pelos seus esforços, desejo-lhe muito sucesso e posso assegurar-lhe que achará rica e recompensadora em revelações a sua continuada associação com o tema.
Cordiais saudações,
Freud.
As primeiras instituições psicanalíticas brasileiras
Em 24 de outubro de 1927, foi fundada a Sociedade Brasileira de Psychanalyse, em São Paulo. Foram eleitos: Francisco Franco da Rocha, presidente, e Durval Marcondes, secretário.
Em 17 de junho de 1928, Durval Marcondes participou da fundação dessa primeira sociedade no Rio de Janeiro. Na sede do Hospital Nacional de Alienados, foram eleitos: Juliano Moreira, presidente, e Porto-Carrero, secretário.
Todo o grupo de discípulos de Juliano Moreira tornou-se membro dessa sociedade.
A primeira Sociedade Brasileira de Psychanalyse teve o objetivo de divulgar a Psicanálise, assim como criar um centro de debates científicos entre seus membros. Durante cerca de três anos, permaneceu ativa. Nos anos subsequentes acabou se extinguindo por inatividade. O motivo determinante pode ter sido o fato de Durval Marcondes ter tomado conhecimento do sistema de formação psicanalítica e considerar este o principal objetivo a ser alcançado no Brasil. Os demais membros não aderiram, mas Durval resolveu seguir nessa caminhada.
Em junho de 1928, foi lançado o primeiro número da Revista Brasileira de Psychanalyse, com artigos de Franco da Rocha, J. Ralph, J. P. Porto Carrero, Durval Marcondes e Paulo José de Toledo. A revista não teve continuidade, porém em 1967 ela foi retomada e relançada, e a partir de então não foi mais interrompida. Nessa ocasião, o grupo estabeleceu que seria criada uma Comissão de Ensino para organizar a formação de psicanalistas, conforme estipulados pela IPA.
Em 1936, o Dr. Durval Marcondes conseguiu que a Dra. Adelheid Koch (1896-1980), a primeira psicanalista com formação reconhecida pela IPA a atuar na América Latina e a exercer a análise didática, viesse ao Brasil. Em 1951, por ocasião do XVII Congresso Internacional em Amsterdam, a IPA reconheceu como sua integrante a Sociedade Brasileira de Psicanálise de São Paulo (SBPSP), graças ao seu trabalho.
As três novas sociedades de Psicanálise
No Rio de Janeiro, somente nos anos de 1940 iniciou-se um movimento de médicos psiquiatras interessados em se qualificarem como psicanalistas.
Liderados por Danilo Perestrello, esses médicos começaram o movimento para trazer um analista didata da Europa para morar no Rio de Janeiro, a exemplo do que tinha ocorrido em São Paulo com Adelheid Koch.
Após várias tentativas frustradas Danilo Perestrello, Alcion Baer Bahia e Marialzira Perestrello foram fazer a formação psicanalítica em Buenos Aires, naquela época o maior centro formador de psicanalistas da América Latina.
Finalmente em março de 1949, o psicanalista alemão Werner Kemper aceitou o convite para morar no Rio, e iniciou a análise de alguns candidatos.
Em 1953 seu grupo foi reconhecido pela IPA, no Congresso Internacional de Londres, e em 1955, no Congresso Internacional de Genebra, foi reconhecido como Sociedade Psicanalítica do Rio de Janeiro.
Em fevereiro de 1948, Mark Burke, membro da Sociedade Britânica de Psicanálise, aceitou o convite de alguns outros candidatos à formação para vir morar no Rio, mas em 1953 retornou a Londres, por não ter se adaptado às condições meteorológicas da cidade. Seus analisandos procuraram a Sociedade Brasileira de Psicanálise de São Paulo para terminar a formação e foram prontamente aceitos. Esse grupo juntou-se ao grupo argentino composto por Danilo Perestrelo, Marialzira Perestrelo e Alcion Baia para formar um grupo que ficou conhecido como Study Group pela IPA, em 1957, no Congresso Internacional de Paris, e em como Sociedade Brasileira de Psicanálise do Rio de Janeiro em 1959, durante o Congresso Internacional de Copenhague.
O início da Psicanálise em Porto Alegre foi simultâneo ao de São Paulo e ao do Rio de Janeiro. Ele também teve seus precursores, João César de Castro e Martim Gomes, e seus pioneiros, Mário Martins, Zaira Martins, José Lemmertz e Cyro Martins. Uma peculiaridade é que todos os pioneiros do movimento psicanalítico de Porto Alegre tiveram sua formação em Buenos Aires, na Associação Psicanalítica Argentina, e depois retornaram ao Estado para formar o seu Study Group, reconhecido como tal pela IPA em 1961, no Congresso Internacional de Edimburgo. Em 1963, no Congresso de Estocolmo, foi reconhecido como Sociedade Psicanalítica de Porto Alegre.
Entidades componentes atuais da Federação Brasileira de Psicanálise
- Sociedades:
Associação Psicanalítica do Estado do Rio de Janeiro
Associação Psicanalítica Rio 3
Sociedade Brasileira de Psicanálise de Porto Alegre
Sociedade Brasileira de Psicanálise de Ribeirão Preto
Sociedade Brasileira de Psicanálise de São Paulo
Sociedade Brasileira de Psicanálise do Rio de Janeiro
Sociedade de Psicanálise de Brasília
Sociedade Psicanalítica de Mato Grosso do Sul
Sociedade Psicanalítica de Pelotas
Sociedade Psicanalítica de Porto Alegre
Sociedade Psicanalítica do Recife
Sociedade Psicanalítica do Rio de Janeiro
- Grupos de Estudos:
Grupo de Estudos Psicanalíticos de Fortaleza Grupo de Estudos Psicanalíticos de Minas Gerais
- Núcleos
Núcleo de Psicanálise de Campinas e região
Núcleo Psicanalítico de Aracaju
Núcleo Psicanalítico de Curitiba
Núcleo Psicanalítico de Florianópolis
Núcleo Psicanalítico de Goiânia
Núcleo Psicanalítico de Maceió
Núcleo Psicanalítico de Marília e região
Núcleo Psicanalítico de Natal
Núcleo Psicanalítico de Santa Catarina
Núcleo Psicanalítico do Espírito Santo
As origens do Grupo de Estudos Psicanalíticos de Minas Gerais
A história do GEPMG está estreitamente vinculada ao meu empenho para dotar Belo Horizonte e Minas Gerais de uma entidade filiada à IPA.
Desde o ano da minha formatura pela Faculdade de Medicina da Universidade Federal de Medicina, em 1963, mantive contato com muitas entidades e psicanalistas de outros Estados e países para efetivar meu propósito. Em 1964, eu já era professor da Faculdade de Medicina da UFMG, interessado em Psicanálise e com desejo de ser psicanalista.
Durante anos ministrei cursos de Psicoterapia Psicanalítica na FMUFMG, introduzi a Psicanálise no Departamento de Psiquiatria e Neurologia da FMUFMG, com grupos de discussão de casos e supervisões individuais e coletivas, e promovi vários encontros científicos na Faculdade, com a presença dos mais importantes psicanalistas brasileiros na época.
Eu conhecia bem as normas da IPA para formação de psicanalistas e testemunhei o nascimento e crescimento de outra escola aqui em 1963, por colegas meus ávidos de conhecimentos de Psicanálise.
Após 30 anos de incessante trabalho, conseguimos oficializar o Núcleo Psicanalítico de Belo Horizonte, sob a coordenação da Sociedade Psicanalítica do Rio de Janeiro. Essa trajetória está minuciosamente narrada em outro artigo meu.
Aqui vou apenas resumi-la. Após constatar a impossibilidade de conseguir um ou mais psicanalista didata para iniciar a formação de colegas, decidi buscar minha formação na Sociedade Brasileira de Psicanálise de São Paulo (sede Brasília), vindo a completá-la na SPRJ - Sociedade Psicanalítica do Rio de Janeiro. Foram muitos anos, durante os quais viajei toda semana, em alguns períodos até duas vezes por semana. Graduei-me psicanalista em 1989, como membro associado da SPRJ.
Lá conheci o Dr. Sérgio Khedy e o convidei para se mudar para Belo Horizonte. Ele aceitou o convite e veio graduado como Membro Associado da SPRJ.
Começamos a trabalhar no sentido de criar um Núcleo da Sociedade Psicanalítica do Rio de Janeiro aqui em Belo Horizonte.
Durante cinco anos nos reunimos para concluir nossos trabalhos sobre Psicanalista Didata. Nesse período organizamos eventos e mantivemos contatos frequentes com a SPRJ, com o objetivo de sensibilizar seus membros sobre a importância de coordenarem em Belo Horizonte a Psicanálise da IPA.
Nesse período contamos com a valiosa colaboração de dois colegas, Jannê de Oliveira Campos, que promoveu, por conta própria, vários eventos para os quais convidou analistas ligados à IPA que nos mostraram uma forma de trabalhar diferente e divulgaram a ideia da criação de um Núcleo de For-mação, e o Dr. Flávio José de Lima Neves, influente psiquiatra local, que abraçou a causa e divulgou, em seus concorridos cursos, a ideia de uma formação nos moldes da IPA, o que trouxe uma grande parte das pessoas que constituíram a primeira e a segunda turma do Núcleo Psicanalítico de Belo Horizonte (NPBH).
A ideia de um Núcleo em Belo Horizonte foi assumida por alguns analistas importantes da SPRJ, merecendo destaque a Dra. Maria da Paz Manhães, uma das fundadoras da SPRJ, e que doou para o NPBH parte de sua biblioteca, com obras raras e fundamentais da Teoria Psicanalítica, biblioteca que hoje leva o seu nome; e o Dr. Victor Manoel Andrade, que tomou a frente, e não se poupou, para conseguir oficializar o Núcleo. Importante também foi a participação da Dra. Edna Pereira Vilete, que vinha mensalmente a Belo Horizonte para coordenar cursos, e que muito ajudou a sedimentar o desejo das pessoas por uma formação.
Nesse período, mudou-se para Belo Horizonte a Dra. Clemilda Barbosa de Souza, analista didata da SPRJ, e que por insistência do Dr. Sérgio Kehdy se juntou ao grupo, passando a se dedicar à criação do NPBH.
Agora, com três didatas, tornava-se possível conseguir o patrocínio científico da SPRJ para que se iniciasse um polo de formação psicanalítica em Minas Gerais, segundo os padrões da IPA, tendo sido constituído o NPBH em março de 1993. Sua primeira diretoria foi formada por Sebastião Abrão Salim (presidente), Sérgio Kehdy (secretário) e Clemilda Barbosa de Souza (tesoureira).
A primeira turma foi composta por 12 candidatos. Alguns deles não chegaram ao final da formação, mas a maioria permaneceu. Hoje são psicanalistas e concluíram seus seminários clínico-teóricos em 1997. Iniciaram a primeira turma: Adelaide Rocha Silva, Alcy Cabral Souza de Gouvêa, Adriana de Fátima dos Santos Meira, Eliane de Andrade, Helena Campos Lamassa, Jannê de Oliveira Campos, Maria Cristina Dias, Márcio Henrique Salim, Marília Macedo Botinha, Reginaldo Henrique dos Santos, Rosália Lage Martins Bicalho, Rossana Nicoliello Pinho e Simone Facuri Lopes.
Em julho de 2000 iniciaram-se os seminários da segunda turma do NPBH, composta de seis candidatos, e sua conclusão deu-se em julho de 2005. Esta turma era formada por Lélio Márcio Dias, Maria Letícia Capanema (falecida em 2003, durante a formação), Marise Maria de Souza, Roberval da Neves Chaves, Paula Linhares de Andrade e Thereza Cristina Paione Rezende.
A formação psicanalítica do NPBH era ministrada pelo Instituto de Ensino da Psicanálise da SPRJ, segundo seus padrões, dentro das exigências da IPA, por meio das vindas quinzenais de seus docentes a Belo Horizonte para coordenar seminários às turmas de formação. As análises didáticas eram feitas pelos analistas didatas aqui residentes, e as supervisões, em parte por estes, e em parte pelos didatas do Rio de Janeiro. A partir de 2001, os membros docentes do ainda NPBH passaram a dividir com os docentes da SPRJ os seminários teóricos e clínicos. Durante sua trajetória, o NPBH contou com três comissões coordenadoras instituídas pela SPRJ. A primeira comissão foi coordenada pelo Dr. Victor Manoel Andrade, a segunda pelo Dr. Jaques Vieira Engel e a terceira pela Dra. Maria Eliana Mello Helsinger, que contaram com a colaboração de outros membros docentes da SPRJ na avaliação dos trabalhos dos candidatos do NPBH.
Em 1997, dois outros analistas com formação da SBPSP, Mário Lúcio Alves Baptista e Gisele de Mattos Brito, integraram-se ao NPBH e se associaram à SPRJ. Em 2001 juntou-se a nós Maria da Penha Zabani Lanzoni, membro da SBPSP, e pouco mais tarde Edna Pires Guerra Torres, membro da SPRJ. Durante esse tempo, já psicanalistas formadas pelo Núcleo Psicanalítico de Belo Horizonte, foram qualificadas como membros associados, efetivos e docentes da SPRJ. Foram elas: Jannê de Oliveira Campos, Rosália Lage Martins Bicalho, Marília Macedo Botinha, Eliane de Andrade e Thereza Cristina Paione Rezende.
Passaram-se mais 15 anos e conseguimos oficializar o Study Group - Grupo de Estudos Psicanalíticos de Minas Gerais (GEPMG)-, que com mais algum tempo deverá ser reconhecido como Sociedade da IPA. É filiado à Federação Brasileira de Psicanálise (FEBRAPSI) e é a única instituição em Minas Gerais a oferecer formação psicanalítica nos padrões exigidos pela IPA.
Finalmente, em julho de 2008, na reunião do BOARD da IPA, realizada em Porto Alegre, sob a direção de seu Presidente Dr. Cláudio Laks Eizirik, o NPBH foi admitido como Study Group da IPA, passando a ser denominado Grupo de Estudos Psicanalíticos de Minas Gerais. O Sponsoring Committee designado pela IPA para acompanhar o GEPMG foi formado pelo Dr. Luiz Carlos Mabilde (Chair) e pela Dra. Diana Vazquez Guijo de Canovi.
Em agosto de 2009 teve início a formação psicanalítica da terceira turma de Belo Horizonte, pelo agora GEPMG, coordenada pelo seu Instituto de Psicanálise e conduzida pelos psicanalistas aqui residentes, sob a supervisão direta da IPA, através de seu Sponsoring Committee.
Atualmente o GEPMG é composto de dez membros efetivos, um membro associado e 12 membros em formação; e o Instituto de Psicanálise conta com dez analistas didatas e noce docentes. A primeira turma de formação do agora GEPMG iniciou seus seminários clínico-teóricos em 7 de agosto de 2009, e conta com dez participantes. Como é um grupo pequeno, a maioria dos membros pertence a alguma Comissão, e todos colaboram nas atividades internas e eventos científicos.
Com este quadro de membros e esta história, e com a chegada da nova turma, o GEPMG se consolidou definitivamente no cenário da Psicanálise brasileira como uma instituição forte e influente, em direção ao status de Sociedade Provisória, e finalmente de Sociedade.
Esta é a história resumida da Psicanálise no Brasil e em Minas. O trabalho foi longo, artesanal. Como a IPA foi fundada em 1910, estamos comemorando este ano o seu centenário, com vários eventos científicos, inclusive aqueles que estamos patrocinando em Belo Horizonte.
Freud criou a IPA com o objetivo de integrar as pessoas interessadas em Psicanálise dentro de padrões uniformes de formação e evitar distorções e descaminhos na Psicanálise, com a expansão de sua prática. Essa associação é o organismo mentor do movimento psicanalítico reunido em sociedades componentes e grupos de estudo, razão pela qual nos empenhamos em individualizá-la em meio a tantas outras entidades.
* Psicanalista do Grupo de Estudos Psicanalíticos de Minas Gerias Psicanalista da Sociedade Psicanalítica do Rio de Janeiro Endereço: Rua do Ouro, 104, sala 904 - Bairro Serra, Belo Horizonte, Minas Gerais. Telefone 31- 3223-3786 E-mail: sebastiaosalim@superig.com.br