A adolescência é um marco histórico do desenvolvimento, no qual ocorrem mudanças biológicas, psicológicas e sociais. No Brasil, o período da adolescência, em termos etários, é de 12 a 18 anos de idade (Estatuto da Criança e do Adolescente, 1990). As mudanças esperadas nesse momento da vida englobam modificações inesperadas no corpo, busca de autonomia, estreitamento de relações de amizade e afetivas, construção da identidade, o que pode gerar frustrações, medos e expectativas (Santrock, 2014).
A adolescência é o período mais propício à exposição de situações de risco à saúde física e mental (Malta et al., 2010). Comportamentos como o uso de álcool, tabaco, drogas ilícitas, atos sexuais desprotegidos favoráveis a gravidez indesejada, transmissão de doenças sexualmente transmissíveis, maus hábitos alimentares e de pouca atividade física acometem muitos adolescentes (Granado et al., 2021; Zappe et al., 2018). Cabe destacar também que o índice de suicídio vem aumentando, tornando-se a segunda maior causa de morte entre jovens de 15 a 29 anos de idade, com maior prevalência no sexo masculino, sendo considerado um grave problema de saúde pública (Ministério da Saúde, 2017; Silva et al., 2021).
O contexto em que o adolescente se desenvolve possui impacto sobre seu desenvolvimento. A influência parental na adolescência ocorre de forma direta, sendo as práticas parentais determinantes de comportamento de saúde e risco (Toni & Silvares, 2017). Relacionamentos baseados em compreensão, monitoramento, estabelecimento de regras, comunicação assertiva e empatia direcionam os adolescentes na resolução de conflitos pessoais e sociais (Gonçalves et al., 2019). Por outro lado, conflitos familiares, percepções negativas e relações de baixo envolvimento entre pais e filhos viabilizam pensamentos e comportamentos disfuncionais, muitas vezes autodestrutivos nos adolescentes (Cruz et al., 2013).
As relações parentais se fundem de estilos próprios baseados em dimensões relevantes entre pais e filhos adolescentes (Santos, 2018). Práticas parentais são definidas como estratégias que os pais elencam para educar os filhos, por exemplo, usar a punição, recompensas, ameaças, castigos. Já o estilo parental envolve padrões de comportamentos dos pais que caracterizam a interação com os filhos em diversos contextos, incluindo as práticas parentais. Os pais e cuidadores transmitem suas crenças, valores e cultura por meio do estilo parental (Darling & Steinberg, 1993).
Os estudos de Baumrind (1966) serviram como base para Maccoby e Martin (1983) estabelecerem duas dimensões para o exercício da parentalidade: responsividade e exigência. A responsividade envolve a afetividade e comunicação mantida entre pais e filhos, enquanto a exigência se refere ao controle dos pais no sentido de regras e punições (Baumrind, 1997). Deste cruzamento pode-se descrever quatro estilos parentais referidos ao padrão de comportamento dos cuidadores: o autoritativo/competente (pais apresentam alta responsividade e exigência); autoritário (alta exigência e baixa responsividade); permissivo (baixa exigência e alta responsividade) e negligente (exigência e responsividade baixas) (Maccoby & Martin, 1983). O estilo parental mais adequado é o autoritativo/competente, no qual os cuidadores mantêm o diálogo, uma boa comunicação, auxiliam na independência, criam um ambiente afetivo e exigem responsabilidades (Baumrind, 1966; Maccoby & Martin, 1983).
Os estilos e as práticas parentais vêm sendo estudados em diferentes contextos, como o bullying (Oliveira et al., 2017). Uma pesquisa realizada com adolescentes em Portugal constatou que os estilos parentais autoritário e permissivo propiciam mais a prática de bullying (Mota & Pinheiro, 2018). Estilos parentais autoritários não munidos de autonomia, comunicação e empatia, associam-se com filhos mais propensos a brutalidade. Ademais, pais irritáveis e com pouca paciência corroboram o envolvimento e perpetração do bullying nas relações interpessoais (Oliveira et al., 2015).
Além do comportamento agressivo vinculado ao bullying, as relações familiares também influenciam o comportamento suicida em adolescentes (Milanez et al., 2019). Estilos parentais negligentes não auxiliam no desenvolvimento da autonomia, resultando em comportamento dependente e baixa autoestima nos adolescentes, sendo considerado um facilitador para comportamento suicida (Magnani & Staudt, 2018). Sintomas depressivos e níveis de desesperança nos adolescentes fortalecem os pensamentos suicidas e, a falta de presença, escuta e comunicação dos pais desestabilizam e desfalcam os possíveis apoios necessários (Santos-Vitti et al., 2020).
Desta forma, percebe-se grande influência dos estilos e práticas parentais nos comportamentos, nas experiências sociais e emocionas dos adolescentes (Faria & Ponciano, 2018). Identificar e avaliar estilos e práticas parentais no contexto de comportamentos de risco dos adolescentes possibilita repensar as relações dos pais com seus filhos tanto de forma preventiva quanto como uma intervenção clínica. Sendo assim, o presente estudo teve como objetivo investigar a relação entre estilos e práticas educativas parentais, vitimização por bullying e ideação suicida em adolescentes. Além disso, pretendeu-se identificar as relações entre as percepções dos adolescentes de responsividade e exigência com as vítimas de bullying e ideação suicida e verificar os níveis de ideação suicida e bullying presentes na amostra.
MÉTODO
Trata-se de uma pesquisa quantitativa, de caráter transversal e correlacional (Breakwell et al., 2010).
Participantes
Participaram 117 adolescentes de quatro escolas (pública e privada) de uma cidade localizada no norte do Estado do Rio Grande do Sul. Incluíram-se adolescentes que cursavam o ensino fundamental ou ensino médio, que obtiveram autorização dos pais e/ou responsáveis a participarem da pesquisa por meio da assinatura do Termo de Consentimento Livre e Esclarecido (TCLE) e adolescentes que assinaram o Termo de Assentimento Livre e Esclarecido (TALE). Excluíram-se os adolescentes que não trouxeram o TCLE ou o TALE e os jovens que estavam afastados das atividades escolares no período da coleta desta pesquisa. A maioria dos participantes era do sexo feminino (n = 83, 71%), de cor branca (n = 79, 67,5%), solteiros (n = 116, 99%), moravam com os pais (n = 85, 72,6%), estavam cursando o 9º ano do ensino fundamental, (n = 49, 42%) de escolas públicas (n = 75, 64,1%). Os adolescentes que participaram da pesquisa tinham idade média de 15,14 anos (DP = 1,06).
Instrumentos
Foram utilizados os seguintes instrumentos:
Questionário Sociodemográfico: um instrumento construído para o presente estudo, com o objetivo de mapear dados como sexo, idade, escolaridade, com quem residiam, estado civil, dentre outros.
Escala de Responsividade e Exigência Parental (EREP): tem por finalidade medir os níveis de exigência e responsividade parentais compreendidos pelos adolescentes. É composta por 24 itens, respondidos em escala Likert de um a cinco pontos, 1 (ocorrem com pouca frequência) a 5 (ocorrem com muita frequência). As análises dos elementos centrais apresentaram dois fatores principais e com índices de precisão (alfa de Cronbach) de 0,81 para o fator Exigência e 0,91 para Responsividade. Em uma revisão geral do instrumento, com os 24 itens, o alfa de Cronbach foi entre 0,78 e 0,92 (Teixeira et al., 2004).
Escala Califórnia de Vitimização do Bullying (ECVB): é composta por sete questões, que indicam a frequência de comportamentos vivenciados no contexto escolar em uma escala Likert de 0 (nunca) a 4 (várias vezes) e se considera os comportamentos intencionais e capaz de magoá-lo (a). Ao final, o adolescente deve responder, por meio de 10 características, comparando-se com o colega agressor, o quão parecido/diferente se considera do mesmo. O estudo de adaptação reuniu indícios de boas evidências de validade e precisão, cumprindo critérios gerais de homogeneidade, obteve alfa de Cronbach de 0,72 (Soares et al., 2015).
Beck Scale for Suicide Ideation (BSI): detecta a presença de ideação suicida, mede a extensão da motivação e planejamento de um comportamento suicida. Composto por 21 itens, no qual os dois últimos itens não são incluídos no escore final, mas fornecem informações sobre o paciente a respeito de tentativas de suicídio e intenção de morrer. A escala não tem um ponto de corte; soma-se, então, a pontuação dos 19 itens. Quanto mais altas as contagens, maior o risco de ideação suicida. A nível da consistência interna, os estudos psicométricos revelam um coeficiente alfa de Cronbach 0,96 (Cunha, 2001). A estimativa de fidedignidade da BSI, baseada no coeficiente alfa de Cronbach, numa amostra de adolescentes (não clínicos) foi de 0,94 (Werlang et al., 2004).
Procedimentos
O estudo foi realizado a partir do banco de dados de uma pesquisa intitulada “Vítimas de bullying, sintomas depressivos, ansiedade, estresse e ideação suicida em adolescentes”, com aprovação pelo Comitê de Ética e Pesquisa pela CAAE 77923817.1.0000.5319. A pesquisa obteve o aceite de quatro escolas (sendo três escolas públicas e uma particular). A coleta de dados se deu a partir da organização da agenda da coordenação de cada escola.
Primeiramente, a pesquisadora entrou nas turmas e fez o convite para os adolescentes participarem da pesquisa e esclareceu a natureza e os propósitos do estudo, bem como da responsabilidade do pesquisador sobre o sigilo da identidade dos participantes. Na oportunidade, foi entregue e lido com os adolescentes o TCLE e o TALE, os quais foram levados para casa por cada um deles para obter o aceite dos pais ou responsáveis.
Em nova data, previamente estabelecida, foi realizada a coleta de dados. A aplicação dos instrumentos ocorreu na sala de aula, de forma coletiva, com os alunos que trouxeram os termos assinados. Primeiro, os participantes responderam ao questionário sociodemográfico e, em seguida, as demais escalas. Cabe ressaltar que foi realizada a devolução com a coordenação pedagógica e psicólogo escolar (nas instituições que tinham esse profissional) de cada escola.
ANÁLISE DE DADOS
As médias em responsividade e exigência foram utilizadas para determinar os estilos parentais, de acordo com o estudo de Pacheco et al. (2008). Os pais (pais e mães) que pontuaram alto nível em responsividade e exigência foram classificados como autoritativos ou competentes; os que apresentavam baixos níveis em ambas as dimensões foram classificados como negligentes; os que pontuaram baixa responsividade e alta exigência foram classificados como autoritários e os que apresentavam alta responsividade e baixa exigência como permissivos. As divisões em alta e baixa responsividade e exigência foram realizados pela mediana dos escores da responsividade e exigência parental da amostra.
Os dados foram analisados quantitativamente, com descrição e interpretação dos resultados pelo Banco de Dados “Statistical Package for the Social Sciences” (SPSS), versão 22.0. Realizou-se as análises descritivas (médias e desvios-padrão) de cada constructo. A análise inferencial dos escores foi efetuada por meio do teste U de Mann-Whitney, Kruskal-Wallis e correlação de Spearman, a 5% de probabilidade para as variáveis avaliadas (Dancey & Reidy, 2006). A escolha por testes não-paramétricos se deu pela não normalidade na distribuição dos escores das variáveis investigadas.
RESULTADOS
Os resultados apontaram que as meninas atribuíram maiores pontuações para exigência e responsividade para as mães em comparação com os pais, sendo que o teste Mann-Whitney mostrou diferença estatisticamente significativa. Os meninos pontuaram média mais alta de responsividade para as mães e também houve diferença estatisticamente significativa quando comparado aos pais, conforme Tabela 1.
Tabela 1 Média, desvio padrão de exigência e responsividade (pai e mãe) e estatística inferencial pelo teste Mann-Whitney
| Pai | DP | Mãe | DP | Mann-Whitney | |||
|---|---|---|---|---|---|---|---|
| Média | Média | U | p | ||||
| Feminino | Exigência | 30,53 | 13,24 | 38,29 | 9,44 | 2351,5 | <0,01 |
| Responsividade | 23,41 | 14,66 | 29,06 | 15,05 | 2454,5 | <0,01 | |
| Masculino | Exigência | 24,57 | 14,16 | 29,57 | 10,97 | 459,5 | 0,15 |
| Responsividade | 22,57 | 14,39 | 31,43 | 15,96 | 413,5 | 0,04 | |
Na comparação entre meninas e meninos, as médias apontaram maior pontuação para exigência (pai), exigência (mãe), responsividade (mãe) no sexo feminino. Os meninos pontuaram maior média para vitimização de bullying e ideação suicida. O teste Mann-Whitney indicou diferença significativa nas médias da exigência (mãe), indicando que as meninas apontaram as mães como mais exigentes em comparação com os meninos, conforme Tabela 2.
Tabela 2 Médias, desvio padrão da exigência (pai e mãe), responsividade (pai e mãe), bullying, ideação suicida e estatística inferencial pelo teste Mann-Whitney
| Feminino | Masculino | Mann-Whitney | ||||
|---|---|---|---|---|---|---|
| Média | DP | Média | DP | U | p | |
| Exigência pai | 30,53 | 13,24 | 24,57 | 14,16 | 1249 | 0,43 |
| Exigência mãe | 38,29 | 9,44 | 29,57 | 10,97 | 1026,5 | 0,03 |
| Responsividade pai | 23,41 | 14,66 | 22,57 | 14,39 | 1373 | 0,98 |
| Responsividade mãe | 29,06 | 15,05 | 31,43 | 15,96 | 1303 | 0,98 |
| Bullying | 5,91 | 4,61 | 6,57 | 3,36 | 1180,5 | 0,16 |
| Ideação suicida | 11,15 | 6,28 | 14,86 | 6,36 | 87,5 | 0,21 |
A correlação de Spearman foi realizada com o objetivo de verificar a correlação entre exigência (pai), exigência (mãe), responsividade (pai e mãe), ECVB (total) e exigência (mãe), ECVB total, BSI total. As maiores correlações, moderadas, foram entre a exigência e responsividade dos pais, e entre a responsividade do pai e da mãe (p < 0,01). Também foram encontradas correlações moderadas entre a exigência do pai e da mãe, entre exigência e responsividade das mães, e entre bullying e ideação suicida (p < 0,01), segundo Tabela 3.
Tabela 3 Correlação de Spermann entre exigência (mãe e pai), responsividade (mãe e pai), ECVB total e entre exigência (mãe e pai), responsividade (mãe e pai), ECVB total e BSI total
| Exigência (pai) | Exigência (mãe) | Responsividade (pai) | Responsividade (mãe) | ECVB total | |
|---|---|---|---|---|---|
| Exigência (mãe) | 0,420** | 1 | |||
| Responsividade (pai) | 0,679** | 0,277** | 1 | ||
| Responsividade (mãe) | 0,361** | 0,426** | 0,616** | 1 | |
| ECVB total | -0,023 | -0,017 | -,254** | -,211* | 1 |
| BSI total | -0,108 | -0,138 | 0,034 | -0,176 | 0,418** |
Nota. **Correlação significante a nível de p<0,01
*Correlação significante a nível de p≤0,05
Quanto aos estilos parentais, 36% (n=41) adolescentes avaliaram os pais como negligentes, 35% (n=40) como autoritativo/competente, 15% (n=17) como permissivos e 14% (n=16) como autoritários. O teste Kruskal-Wallis mostrou diferença estatisticamente significativa na amostra, ou seja, houve mais adolescentes que classificaram seus pais nos extremos (negligentes ou autoritativos/competentes) do que nas avaliações combinadas (permissivos ou autoritários) (X2 = 20,22, p < 0,001).
Referente a avaliação da vitimização do bullying, a ECVB variava de 0 a 28 pontos, sendo que, neste estudo, variou de 0 a 16 pontos, tendo média de 3,88 (DP = 3,76). As médias de bullying conforme os estilos parentais foram 5,75 (DP = 4,39) para pais autoritários, 4,2 (DP = 3,9) para negligentes, 3,9 (DP =3,59) para permissivos e 2,95 (DP = 3,14) para autoritativos/competentes. O teste Kruskal-Wallis identificou que não houve diferença significativa entre vítimas de bullying e estilos parentais (X2 = 6,87, p = 0,07).
Quanto ao BDI, os resultados mostraram que 48,71% (n=57) adolescentes apresentaram ideação suicida. A média foi de 1,75 (DP = 2,34), considerando-se que a presença é um escore diferente de zero, variando o escore 1 a 9. Com o intuito de avaliar a gravidade na ideação suicida, foram somados os escores das afirmativas 1 a 19. A variação nos escores variou de 3 a 28, sendo a média 12 (DP = 6,64). As médias do BSI conforme o estilo parental foram 13,71 (DP =7,5) para pais negligentes, 11,89 (DP = 7,27) para autoritativo/competente, 10,4 (DP = 5,5) para permissivos e 9,1 (DP = 2,02) para autoritários. Não houve diferença estatisticamente significativa entre as médias do BSI e os estilos parentais na amostra estudada (X2 = 2, p = 0,57).
DISCUSSÃO
Quanto as práticas parentais, os resultados apontaram que as meninas pontuaram maior média para as mães tanto na responsividade quanto na exigência quando comparados com os pais e os meninos pontuaram média mais alta de responsividade para as mães, havendo diferença significativa. A responsividade se refere à afetividade, comunicação, melhor empenho aos filhos e, exigência se trata do controle, cobranças e punições (Costa et al., 2000). Em pesquisas semelhantes, as mães também foram consideradas mais responsivas e exigentes, destacando que as elas têm maior envolvimento do que os pais em relação a criação dos filhos (Ambiel et al., 2019; Sacilotto & Abaid, 2021).
Embora se perceba uma mudança neste contexto, a mulher ainda é a maior responsável pelos afazeres domésticos e cuidados com os filhos (Cunha et al., 2021). Semelhante aos papeis impostos pela sociedade, os pais normalmente se abstêm do amparo afetivo, para fornecer o suporte financeiro (Maia & Soares, 2019). As responsabilidades impostas e carregadas pelas mães parecem ser as que melhor suprem as demandas de um filho, pensando em monitoria, comunicação e afetividade (Weber, 2017).
Os resultados mostraram correlação entre a exigência e responsividade dos pais, entre a responsividade do pai e da mãe, entre a exigência do pai e da mãe, entre exigência e responsividade das mães, e entre bullying e ideação suicida. Pais muito exigentes influenciam nos índices de vitimização de bullying (Simões et al., 2015). Altos níveis de cobrança podem resultar em filhos com baixa autoestima, falta de confiança e extroversão (Fritz, 2012). Pais muito rígidos, controladores e agressivos tendem a ser fonte de risco para a vitimização destes adolescentes que simultaneamente não estão preparados para sair destas agressões. O fato de serem controlados, mandados e agredidos passa a ser entendido pelo adolescente como algo natural e corriqueiro, pois tiveram o mesmo comportamento vindo de seus pais (Barbosa et al., 2021).
Neste estudo, houve correlações moderadas entre bullying e ideação suicida. Pesquisas encontraram associação entre a vivência de bullying e ideação suicida com adolescentes no Chile (Sandoval-Ato et al., 2018), na Índia (Beattie et al., 2019) e nos Estados Unidos (Hinduja & Patchin, 2018). Como consequência do bullying, as agressões podem resultar numa baixa autoestima, levando o adolescente a questionar seu papel social, sua importância e desencadear ideação e tentativas de suicídio (Silva & Oliveira, 2019).
O transtorno depressivo maior tem como um dos critérios diagnósticos a ideação e tentativas de suicídio (American Psychiatric Association, 2022). As práticas de bullying interferem também no agravamento da sintomatologia (Sousa et al., 2017). Assim como a vitimização resulta em sentimentos e pensamentos disfuncionais, o que está por traz de quem pratica as agressões também intenciona reflexões e atos autodestrutivos (Ramos et al., 2021). Referente aos estilos parentais, neste estudo, a maior parte dos adolescentes classificou os pais como negligentes, seguido por autoritativos/competentes. A diferença das maiores médias dos estilos foi pequena, o que também foi confirmado em outra pesquisa nacional com adolescentes (Patias et al., 2018). O estilo negligente foi o mais prevalente em estudos nacionais semelhantes (Horn et al., 2020; Sacilotto & Abaid, 2021).
Adolescentes educados por pais negligentes assumem papel de risco e vulnerabilidade para diferentes dificuldades no bem-estar psicológico e social, como por exemplo envolvimento em práticas e vitimização do bullying, ideação suicida, transtornos depressivos e de ansiedade, assim como o uso de álcool e drogas ilícitas (Rinhel-Silva et al. 2012; Rodrigues & Mendes, 2019). Mesmo que a adolescência seja um período de maior independência, os jovens necessitam de uma maior doação parental neste período do desenvolvimento (Maia & Soares, 2019).
Sobre bullying e os estilos parentais, médias mais altas foram para pais autoritários, seguido de pais negligentes. Os achados estão em consonância com estudos anteriores, advertido que a ausência parental e autoridades rígidas influenciam na vida dos adolescentes (Machimbarrena et al., 2019). Pais negligentes tendem a se ausentar de forma significativa, comprometendo não somente a relação pais-filhos, como também o desempenho emocional e social destes jovens, sendo um dos preditores de experiências negativas e geradoras de conflitos, como o bullying e as ideações suicidas (Barrios, 2014; Secco, 2014).
No que diz respeito a pontuação do BSI, 48,71% dos adolescentes apresentaram ideação suicida, o que está em consonância com outras pesquisas (Amaral et al., 2020, Ferreira de Luca et al., 2017). O suicídio é a maior causa de morte de adolescentes, tendo como alguns de seus principais fatores de risco, pensamentos suicidas, bullying e disfunções familiares (Beserra et al., 2020; Bhering et al., 2020). Comportamentos como a ideação suicida mostram o quanto o adolescente não está conseguindo lidar com conflitos, e que por muitas vezes, pode ser reforçado pelos movimentos ocorridos no âmbito familiar (Milanez et al., 2019).
Referente a pontuação do BSI conforme o estilo parental, os pais negligentes pontuaram maior média na amostra. Famílias com pais negligentes, na visão dos adolescentes, são aqueles que mais prejudicam os filhos, oferecendo poucos cuidados e preocupações (Patias et al., 2018). Fatores como sintomas depressivos e níveis de desesperança nos adolescentes são os mais comuns facilitadores para pensamentos suicidas. Deste modo, a falta de apoio, presença, escuta e comunicação dos pais desestabiliza e desfalca os possíveis apoios necessários (Santos-Vitti et al., 2020).
Por outro lado, pais autoritativos/competentes são um fator de proteção para comportamento suicida, ou seja, uma prática parental focada no respeito, atenção, autonomia, sem o uso de métodos agressivos, está diretamente relacionada a menores índices de ideação suicida (Santos, Hilario et al., 2021). Estes pais utilizam da responsividade e exigência na criação e educação dos filhos (Baurimd, 1966), ou seja, auxiliam na resolução de problemas e conflitos, estão presentes, dispostos e comunicativos, advertindo e abrindo espaço para atender e ouvir a demanda dos filhos (Santos, Araujo et al., 2021; Santos, Hilario et al., 2021).
CONSIDERAÇÕES FINAIS
Os resultados obtidos apontaram maior pontuação para exigência (pai), exigência (mãe), responsividade (mãe) no sexo feminino. Os meninos pontuaram maior média para vitimização de bullying e ideação suicida, havendo diferença significativa nas médias da exigência (mãe). Houve correlações moderadas entre a exigência e responsividade dos pais, a responsividade do pai e da mãe, exigência e responsividade das mães, e entre bullying e ideação suicida. Quanto aos estilos parentais, a maioria dos adolescentes avaliaram os pais como negligentes, seguido de autoritativo/competente. A média de bullying teve maior pontuação para pais autoritários e a média do BSI para pais negligentes. A educação parental deve ser entendida como estratégia de prevenção e suporte a fim de auxiliar na saúde mental dos adolescentes. Portanto, promover materiais educativos, palestras, grupo de orientação de pais abordando os estilos e práticas parentais são alternativas na promoção de cuidados, atenção e afeto, fortalecendo o papel dos pais no bem-estar dos adolescentes.
Como limitação deste estudo, o fato de ter sido utilizado instrumentos de autorrelato, pode acabar não gerando resultados tão verídicos. Sugere-se novos estudos que abordem a temática incluindo avaliação de pais e cuidadores sobre seus estilos e práticas parentais, oportunizando comparar com a percepção dos adolescentes.














