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SMAD. Revista eletrônica saúde mental álcool e drogas
versão On-line ISSN 1806-6976
SMAD, Rev. Eletrônica Saúde Mental Álcool Drog. (Ed. port.) vol.14 no.1 Ribeirão Preto jan./mar. 2018
https://doi.org/10.11606/issn.1806-6976.smad.2018.000406
ARTIGO ORIGINAL
DOI: 10.11606/issn.1806-6976.smad.2018.000406
Atitudes dos professores de ensino fundamental e médio frente ao uso de substâncias psicoativas*
Actitudes de los profesores de enseñanza fundamental y medio frente al uso de sustancias psicoactivas
Ana Beatriz Nogueira PerezI; Sônia Regina ZerbettoI; Angelica Martins de Souza GonçalvesI
IUniversidade Federal de São Carlos, São Carlos, SP, Brasil
RESUMO
O objetivo do estudo foi avaliar as atitudes dos professores de Ensino Fundamental e/ou Médio diante do uso de substâncias psicoativas, em sua função laboral. Trata-se de estudo descritivo e transversal. Participaram 75 professores de quatro instituições municipais e estaduais de dois municípios, que responderam um questionário contendo informações sociodemográficas e Drug and Drug Problems Perceptions Questionnaire. Utilizaram-se estatísticas descritivas e inferenciais para análise dos dados. Os resultados mostraram indiferença dos professores acerca do tema; aqueles que já haviam participado de capacitação tiveram atitudes mais negativas; os do sexo masculino, entretanto, atitudes mais positivas. Concluiu-se que tais atitudes evidenciam emergência de ações coletivas, preventivas que vinculem saúde e educação.
Descritores: Drogas Ilícitas; Saúde Escolar; Capacitação de Professores, Conhecimentos, Atitudes e Prática em Saúde.
RESUMEN
El objetivo del estudio fue evaluar las actitudes de los profesores de Enseñanza Fundamental y/o Medio frente al uso de sustancias psicoactivas en su función laboral. Se trata de un estudio descriptivo y transversal. Participaron 75 profesores de cuatro instituciones municipales y estatales de dos municipios, que respondieron un cuestionario que contenía informaciones sociodemográficas y Drug and Drug Problems Perceptions Questionnaire. Se utilizaron estadísticas descriptivas e inferenciales para el análisis de los datos. Los resultados mostraron indiferencia de los profesores acerca del tema; Los que ya habían participado en la capacitación tuvieron actitudes más negativas; Los varones, sin embargo, actitudes más positivas. Se concluyó que tales actitudes evidencian emergencia de acciones colectivas, preventivas que vinculan salud y educación.
Descriptores: Drogas ilícitas; Salud Escolar; Formación del Profesorado; Conocimientos, Actitudes y Práctica en Salud.
Introdução
Embora o termo "atitudes" seja amplamente estudado, não há uma definição completa e definitiva. Pode ser compreendida a partir de três concepções, sendo a primeira relacionada ao comportamento afetivo, que vai ser o que a pessoa sente em relação a um objeto de atitude, resultando em sentimentos positivos ou negativos de acordo com seu próprio julgamento. A segunda refere-se ao comportamento cognitivo e engloba as informações que o objeto de atitude transmite, assim como as informações e conhecimentos que o indivíduo possui sobre o referido objeto. Por fim, o componente comportamental, que se trata da ação que será realizada diante de um estímulo de atitude(1). Constituem objetos de investigação atrelados à psicologia social, que se constituiu em um importante campo de pesquisa das ciências sociais no século XX(2).
As atitudes seriam, então, um conceito útil para analisar as classes de respostas humanas, determinando o controle das ações sociais(2).
Outros conceitos que permeiam essa temática, tais como valores, opiniões, crenças e questões sociais, influenciam na forma como uma pessoa lida com situações e problemas. Assim, a atitude pode ser entendida como um conjunto de fatores em torno de um objeto ou situação que preordena uma resposta direcionada, positiva ou negativa, de cunho cultural, vinda de experiências, na qual determinará uma preferência(3-4). Estudar atitudes é relevante, uma vez que elas determinam a relação do indivíduo com o meio em que vive.
A aplicação do conceito supracitado pode permear respostas avaliativas atribuídas a diversos fenômenos humanos, entre eles, o trabalho que precisa abordar, por exemplo, a questão do uso de substâncias psicoativas. Em se tratando, especificamente, deste assunto, um dos ambientes nos quais seria pertinente avaliar atitudes em relação ao uso de álcool e outras drogas, é o escolar, visto ser este diretamente afetado pelo problema.
No contexto apresentado, avaliar as atitudes dos professores pode ser uma ferramenta útil para se pensar na criação de formas efetivas de implementação de programas de prevenção ao uso de substâncias psicoativas em âmbito escolar, pois afeta substancialmente o tipo de trabalho desenvolvido por esses profissionais em sala de aula.
Vale lembrar que o desenvolvimento de tais ações por professores de Ensino Fundamental e Médio são imprescindíveis, visto que constituem pilares de formação e informações. É nesta faixa etária que os alunos incorporam referências aos seus comportamentos, as quais servirão como base para a formação de suas opiniões, personalidade e caráter, levando muito em conta o que assimilam em sala de aula(5).
Sabe-se que o maior contingente de professores demonstra não estar suficientemente preparado para transmitir as informações necessárias sobre uso e abuso de álcool e drogas. Estudo aponta conceitos errôneos destes profissionais como "as drogas lícitas são menos perigosas do que as ilícitas" e "o principal fator de risco para o início do consumo de drogas é a situação socioeconômica". Além disso, também foi observado receio ao discutir sobre o uso de substâncias psicoativas. Mas, por outro lado, acreditam que a escola tem grande possibilidade de contribuir para a prevenção dos casos(5).
Com isso, abre-se um cenário que aponta para a necessidade de criar subsídios para treinar e qualificar tais profissionais, utilizando bases científicas(4) e criando situações que possam tornar suas atitudes mais positivas em relação ao tema "uso e abuso de álcool e drogas", pois é importante para os adolescentes ter o apoio de seus professores em ações de promoção e prevenção à saúde(6-7). Poucos estudos, no entanto, abordam atitudes dos professores em relação à prevenção do uso de substâncias psicoativas em sua rotina de trabalho. A investigação deste tema se faz necessária para pensar em melhores estratégias de sensibilização e formas mais efetivas para lidar com tal problemática nas escolas.
Diante do exposto, o objetivo desta pesquisa foi avaliar as atitudes dos professores de Ensino Fundamental e/ou Médio perante a problemática do uso de substâncias psicoativas em sua rotina de trabalho. O objetivo específico foi verificar a relação entre dados demográficos e laborais (tempo de exercício no magistério, religião, sexo e idade) e as atitudes dos professores diante da temática.
Método
Trata-se de um estudo observacional transversal e descritivo. Os dados foram coletados em quatro instituições estaduais de Ensino Fundamental e/ou Médio de dois municípios do interior do Estado de São Paulo, oriundos de quatro escolas. A população do estudo foi de 129 professores, sendo distribuídos da seguinte maneira: no município de Jardinópolis, 48 professores no total, distribuídos em duas escolas; no município de Brodowski, as escolas envolvidas têm total de 81 professores. Compôs-se uma amostra não probabilística de 75(58,1%) professores. A perda amostral deveu-se ao não preenchimento do critério de exclusão e também à não devolução dos instrumentos de pesquisa.
Foram Critérios de inclusão: trabalhar como professor de Ensino Médio ou Fundamental há mais de seis meses; ambos os sexos. Critérios de exclusão: não responder ao instrumento de pesquisa na íntegra.
Os dados foram coletados no período de setembro a novembro de 2016 nas respectivas escolas, nos horários disponibilizados pelos professores, mediante assinatura do Termo de Consentimento Livre e Esclarecido. O presente estudo foi aprovado por Comitê de Ética em Pesquisa em Seres Humanos da instituição signatária, sob parecer número 1.718.924. Foram preservadas as garantias previstas pela Resolução 466/2012 do Conselho Nacional de Saúde. Esta pesquisa é um desdobramento do projeto temático intitulado "Intervenções preventivas para o uso de álcool e drogas em ambiente escolar: avaliação do impacto de um programa destinado a estudantes de Ensino Fundamental e Médio", financiado pelo Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico. Os participantes foram convidados a participar do estudo, mediante orientação sobre justificativa, objetivos e procedimentos. Aqueles que concordaram em participar da pesquisa assinaram o Termo de Consentimento Livre-Esclarecido (TCLE), de acordo com a Resolução 466/2012 do Conselho Nacional de Ética em Pesquisa.
Foi dividido em duas partes: informações sociodemográficas e uma escala de avaliação de atitudes, intitulada "versão brasileira do Drug and Drug Problems Perceptions Questionnaire" (DDPPQ-br), adaptado para professores. Informações sociodemográficas: será útil para avaliar o perfil de idade, sexo, religião, estado civil e dados ocupacionais; DDPPQ-br: é um instrumento que avalia as atitudes em relação ao trabalho que envolve a problemática com o uso de drogas, validado originalmente para o uso entre estudantes de Enfermagem. Foi utilizada uma versão adaptada desse instrumento para o uso entre professores, que está em processo de validação para esta população-alvo. É composto por 20 itens e pode ser autoaplicável. Os itens consistem em assertivas, em que o respondente pode concordar ou discordar de seu conteúdo, ou seja, as respostas compõem uma escala que varia de zero (0) - concordo muito a sete - discordo muito, ou seja, quanto menor o escore, melhor as atitudes diante do trabalho que aborda o uso de substâncias psicoativas(8).
Como recurso para viabilizar as análises, foi construído um banco de dados no programa Excel, que sofreu dupla checagem, em seguida foi migrado para o programa estatístico SPSS 22. Em relação à caracterização, foram calculadas as estatísticas descritivas, utilizando-se medidas de tendência central (médias, medianas) e medidas de dispersão (mínimos e máximos, quartis, desvios padrão). Para testar a normalidade da distribuição dos dados foram aplicados os testes de Kolmogorov-Smirnov e Shapiro-Wil. Utilizaram-se os testes de Kruskal Wallis Test e Mann-Whitney para verificar a relação entre os dados sociodemográficos e os escores da escala de atitudes. Para todos os testes estatísticos, foi adotado o intervalo de confiança de 95%. Com o objetivo de avaliar a consistência interna da versão adaptada para professores do DDPPQ-br, foi utilizado o Alfa de Cronbach(9).
Resultados
O DDPPQ-br apresentou valor global de Alfa de Cronbach=0,83 para a amostra estudada (Tabela 1).
Os professores que participaram do estudo apresentaram média de idade de 42,3 anos, Dp±9,72 anos, sendo a máxima 64 e mínima, 21. A Tabela 1 apresenta a distribuição dos participantes pelas escolas onde os dados foram coletados.
A Tabela 2 mostra que encontramos diferenças significativas entre as atitudes de professores do sexo feminino e masculino, mostrando que os homens manifestam atitudes mais positivas com relação ao trabalho que aborda o uso de substâncias do que as mulheres. Também foi evidenciado que aqueles profissionais que não receberam capacitação específica para o tema apresentam atitudes mais positivas do que aqueles que tiveram tal oportunidade.
Em relação às respostas oferecidas na escala, de acordo com as opções disponíveis, observamos que a maioria dos professores é indiferente à abordagem do tema em seus campos de trabalho, conforme detalhado na Tabela 3.
Discussão
O impacto causado na vida de crianças e adolescentes, assim como de suas famílias pelo uso de substâncias químicas é grande, sendo importantes ações preventivas para essa faixa etária e que não se limitem apenas ao campo de saúde(10). A questão do uso de drogas psicoativas é um assunto de extrema relevância na saúde pública e educação. A Legislação Brasileira sobre o uso de drogas regulamenta a formação continuada de professores na prevenção do uso de álcool e drogas, tendo uma implementação de ações pedagógicas nas escolas(5,11). A prevenção desenvolvida nas escolas por professores do Ensino Fundamental e Médio são ações estratégicas que devem ser implantadas em melhores condições, para resultados mais efetivos.
Os professores têm papel fundamental na formação de personalidades e opiniões dos alunos, uma vez que são figuras que transmitem informações e estão em contato direto com alunos de todas as faixas etárias. A escola, geralmente, é o primeiro ambiente social que a criança e o adolescente vão frequentar. Assim, suas ações vão se espelhar em situações que ocorrem na escola, bem como nas atitudes dos professores. Apesar disso, os programas de prevenção não estão atingindo a eficácia necessária para uma prevenção efetiva(5).
Neste presente estudo, observou-se que apesar de os professores acharem relevante a capacitação para trabalhar o tema do uso de drogas nas escolas, quem já participou de capacitações anteriores, tem atitudes mais negativas em relação a capacitações. Além disso, nossos principais resultados apontam que a maioria é indiferente ao tema, o que é alarmante. Estudos prévios mostram que professores compreendem a relevância da questão, mas têm a tendência a não assumir essa tarefa, talvez por receio de abordar tal tema em sala de aula, alegando exatamente falta de conhecimento teórico e de acesso a informações sobre o assunto, medo de sofrerem represálias (dos alunos, dos pais e de traficantes do entorno escolar) e, ainda, o entendimento de que este é um trabalho a ser executado por profissionais especializados da área(7,12).
É evidente que os cursos de formação para a abordagem do uso de substâncias psicoativas não promovem mudanças nas atitudes e valores dos professores, assim como não parecem ser suficientes para que esses profissionais se sintam preparados para lidar com o tema em seu contexto de trabalho(5). Ademais, destaca-se a falta de uma política pública integrada que possibilite ações de prevenção longitudinais e oferecem modelos ineficazes, destinados principalmente à prevenção, mas com apelo moral, baseados na repressão e educação formal (palestras)(7,13).
Depoimentos oriundos de educadores relatam a falta de programas de prevenção nas escolas e sugerem cursos específicos para o tema, com formação continuada. Estudo chama a atenção para a formação do professor, questionado-a por ser uma formação vulnerável em relação a alguns assuntos, como prevenção do uso de álcool e drogas. Outra discussão é em relação aos educadores não possuírem subsídios para implementarem as ações discutidas nos referidos âmbitos de formação(14). Eles recebem as demandas, propostas e acabam não recebendo apoio e material das instituições(5,11).
Estudo prévio que entrevistou professores de ensino fundamental e médio da cidade de São Paulo relatou o que eles consideram que seria necessário para abordar, efetivamente, o uso de drogas na escola: um bom material; investimento laboral; trabalho coletivo, constante, aberto a novas opiniões e a novos conhecimentos(15), o que deveria ser desenvolvido em parceria com pessoas que se aprofundassem e se especializassem no assunto(5,16).
Outro resultado relevante do presente estudo foi em relação aos professores do sexo masculino. Eles têm atitudes mais positivas em relação ao trabalho preventivo de álcool e drogas. Há escassez evidente de pesquisas científicas prévias que possam fornecer dados comparativos, entretanto, é possível fazer um paralelo sobre as perspectivas de gênero e discriminação positiva. Discriminação positiva é a referência que se faz às vantagens de competição trazidas para um grupo para um mesmo benefício. Os professores do sexo masculino sofrem preconceito de diversos lados, porque a profissão de educar é considerada historicamente, um papel feminino. Em pesquisa pregressa, alguns dos professores relataram se reconhecerem como diferentes por serem minoria do sexo masculino na profissão, mas desejam mostrar que podem ser comprometidos e fazerem a diferença no magistério. Os professores do estudo afirmaram que aproveitam o fato de serem homem na sociedade(17). Assim, atrela-se ao tema a perspectiva de gênero, que aponta maior positividade masculina em relação aos aspectos escolares, o que possivelmente está atrelado às atitudes mais positivas verificadas neste estudo.
No contexto, tem havido iniciativas por parte do governo que visam à capacitação para o tema, como o Curso de Prevenção do Uso de Drogas para Educadores de Escolas Públicas, organizado pela Secretaria Nacional de Políticas sobre Drogas (SENAD), em parceria com a Secretaria de Educação Básica do Ministério da Educação (MEC). Esse curso propõe programas de redução do uso de drogas por meio da responsabilidade compartilhada, vinculando diversas redes sociais, como a escola, a família, a comunidade e o governo, a fim de reestruturar programas embasados. Além disso, ainda há práticas para se repensar as formas mais efetivas de prevenção a se implantar. O Projeto Saúde Escola (PSE) é um programa que articula educação e saúde e amplia as possibilidades de prevenção ao uso de álcool e drogas nas escolas(5,11).
Num trabalho realizado em que se analisaram as ações de um projeto desenvolvido em uma escola, na qual implementaram um programa permanente de prevenção ao uso indevido de drogas, discutiram-se métodos de capacitação que poderiam ser efetivos. Foi ressaltada a importância de se colocar o tema de modo consistente e contínuo, com base em fundamentos teóricos, políticos e institucionais, pesquisas epidemiológicas, sensibilização da comunidade escolar, treinamento de voluntários, colocando o jovem como foco e dando espaço para conversas, estímulo a esportes, mostras culturais e artísticas(12).
As áreas da saúde, especialmente a enfermagem, que estão introduzidas na atenção primária à saúde, podem contribuir, cumprindo seu papel fundamental para a prevenção do uso de substâncias. A colaboração entre saúde e educação pode contribuir para a melhorar as atitudes dos professores em seu campo laboral, por meio das trocas de experiências e conhecimentos. Os enfermeiros, junto com a equipe de enfermagem, são fundamentais na construção e implantação de ações, programas em Unidades Básicas de Saúde ou Unidades Saúde da Família, devido à proximidade com a comunidade de seu território de abrangência e com as escolas dos bairros adstritos(15,18). Autores pesquisados em uma revisão integrativa que investigou estratégias educativas para a prevenção do uso de álcool e drogas para crianças do ensino Fundamental I, no Brasil, destacaram a figura do enfermeiro como sendo parte essencial de estratégias de prevenção, pois é um profissional que sempre anexa novos conhecimentos, desenvolto, capaz de realizar mudanças(19).
A Educação em Saúde seria uma maneira de conscientizar jovens e professores sobre o tema em questão, articulando saberes técnicos e populares, promovendo qualidade de vida por meio de grupos, oficinas, rodas de conversa, sendo a base das ações desenvolvidas sobre a problemática, tanto dentro das Unidades de Saúde, quanto nas escolas(15-18).
Limitações do estudo
Apesar dos resultados relevantes deste estudo, os limites referem-se ao fato de a amostra ter sido não probabilística, bem como o número de participantes da pesquisa ter sido reduzido. Assim, os resultados obtidos não são generalizáveis.
Conclusão
Este estudo evidenciou que professores que já participaram de capacitações possuem atitudes mais negativas em relação ao trabalho que envolve a questão do uso de substâncias psicoativas. Por outro lado, os professores do sexo masculino demonstraram atitudes mais positivas sobre o tema que suas colegas de trabalho, que é uma nova hipótese a ser aprofundada em estudos futuros.
Os resultados encontrados sinalizam para a necessidade de projetos que sejam realmente efetivos e façam sentido para os professores em seu cotidiano.
É clara a emergência de ações conjuntas entre saúde e educação, como o investimento em capacitações, desde que tenham caráter de continuidade, que desconstruam conceitos errôneos e que sejam realizados de forma compartilhada, fornecendo embasamento científico acerca do tema. Além disso, devem prever implantação de alternativas que estimulem os estudantes a práticas mais saudáveis de vida, seguimento de uma política institucional sobre o assunto e realização de eventos informativos. Capacitações preventivas ao consumo de substâncias, conduzidas de forma equivocada, sem recursos pedagógicos, investimentos e apoio, refletirão e se reproduzirão nos sentimentos de impotência e indiferença verificados no presente estudo.
As contribuições deste estudo alertam para o papel dos profissionais de saúde (e não apenas dos de educação) na compreensão do ambiente escolar como um espaço profícuo para provocar mudanças nos hábitos de saúde dos indivíduos jovens. Neste sentido, a escola se constitui em um local estratégico para a realização de ações, especialmente preventivas, de vários assuntos de interesse da área, assim como o uso de substâncias. Parceiro essencial nesse processo é o professor, profissional ícone para quaisquer intervenções educativas e de formação dos estudantes, o que o torna um agente natural de transformação social, também para assuntos relacionados à saúde.
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Recebido: 28.07.2017
Aceito: 31.07.2018
Autor de correspondência
Angelica Martins de Souza Gonçalves
E-mail: angelicamartins@ufscar.br
https://orcid.org/0000-0002-7265-5837
* Apoio financeiro do Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq), Brasil, nº processo 484235/2013-3.