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Revista Brasileira de Terapias Cognitivas

versão impressa ISSN 1808-5687versão On-line ISSN 1982-3746

Rev. bras.ter. cogn. vol.19 no.spe1 Rio de Janeiro  2023  Epub 15-Jul-2024

https://doi.org/10.5935/1808-5687.20230042 

Artigo de revisão

Considerações preliminares à construção de programas de treinamento de habilidades sociais conjugais para casais em diversidade sexual e de gênero

Preliminary considerations for the development of couples’ social skills training programs for couples in sexual and gender diversity

Bruno Luiz Avelino Cardoso1 

Sheila Giardini Murta2 

Zilda Aparecida Pereira Del-Prette3 

1Universidade Federal de Minas Gerais, Departamento de Psicologia/ Programa de Pós-graduação em Psicologia: Cognição e Comportamento - Belo Horizonte - Minas Gerais - Brasil

2Universidade de Brasília, Departamento de Psicologia Clínica do Instituto de Psicologia - Brasília - Distrito Federal - Brasil

3Universidade Federal de São Carlos, Programa de Pós-graduação em Psicologia - São Carlos - São Paulo - Brasil


RESUMO

O campo teórico-prático das habilidades sociais tem sido cenário para diversas pesquisas. Todavia, ao buscar por estudos de intervenção com casais, sob o enfoque do treinamento de habilidades sociais (THS), as pesquisas concentram-se em classes específicas de comportamento, como alvo de intervenção, e poucas focam na temática do gênero ou orientação sexual como variável que afeta as habilidades sociais conjugais. Esse é um tópico pouco explorado no campo do THS e aberto para debates e para a criação de programas. Foi objetivo deste estudo, de revisão narrativa, apresentar a base conceitual e teórico-prática do THS aplicada aos casais em diversidade sexual e de gênero e discutir suas implicações em termos de: a) influência da sociedade no desempenho de habilidades sociais conjugais nesses casais; b) pesquisas e justificativas para a construção de programas voltados para a diversidade sexual e de gênero; c) encaminhamentos, cuidados e tópicos centrais para uma intervenção em habilidades sociais conjugais para casais. Compreender as especificidades desses conceitos e sua aplicabilidade tende a resultar em intervenções orientadas pelas necessidades dos participantes, com foco nos requisitos de competência social e não reprodutoras de estigmas.

Palavras-chave: Habilidades sociais; Terapia de casal; Minorias sexuais e de gênero

ABSTRACT

The theoretical and practical field of social skills has been the setting for various research endeavors. However, when seeking intervention studies involving couples, particularly from the perspective of social skills training (SST), research tends to focus on specific categories of behaviors as the intervention targets. Only a few studies address the themes of gender or sexual orientation as variables influencing couples social skills. This remains a relatively underexplored area within the field of SST, leaving ample room for discussion and the development of programs. The objective of this narrative review study is to present the conceptual, theoretical, and practical foundations of SST applied to couples within sexual and gender diversity. It aims to discuss implications regarding: (a) the influence of society on the performance of social skills in these couples; (b) research and justifications for creating programs tailored to sexual and gender diversity; (c) recommendations, precautions, and key topics for intervening in couples social skills. Understanding the specificities of these concepts and their applicability tends to result in interventions customized to participants needs, emphasizing the requirements of social competence, and avoiding the perpetuation of stigma.

Keywords: Social Skills; Couples Therapy; Sexual and Gender Minorities

INTRODUÇÃO

O campo teórico-prático das habilidades sociais tem sido cenário para diversas pesquisas. Os estudos têm indicado resultados promissores do treinamento de habilidades sociais (THS) tanto para sintomas clínicos e/ou psiquiátricos (Turner et al., 2018) quanto para o desenvolvimento pessoal dos indivíduos em diversos contextos (Del Prette & Del Prette, 2017). Em relação ao público-alvo, o THS tem apresentado estudos de intervenção para crianças (Del Prette & Del Prette, 2022a), adolescentes (Storebø et al., 2019), adultos até 59 anos (Del Prette & Del Prette, 2017) e idosos (Braz & Del Prette, 2011). As temáticas e focos dos treinamentos também têm sido diversos, abarcando como essas habilidades podem estar associadas a correlatos positivos na saúde. Contudo, algumas lacunas ainda permanecem como desafios para novos encaminhamentos de pesquisa e elaboração conceitual.

Ao buscar por estudos de intervenção com casais, sob o referencial do THS, constata-se que as pesquisas focam na promoção de classes específicas de comportamento como alvo de intervenção, como: a) comunicação (Babaee & Ghahari, 2016; Falconier, 2015), b) expressividade emocional (Shahid & Kazmi, 2016), c) resolução de problemas (Fallahchai et al., 2017) e d) habilidades sexuais (Farah & Shahram, 2011). Alguns autores combinam essas habilidades em classes mais amplas denominadas “habilidades de relacionamento” (Gottman, & Notarius, 2000). Diversas variáveis podem afetar o desempenho dessas habilidades, entre elas, o gênero e a orientação sexual. Contudo, esses tópicos ainda são pouco estudados na literatura. O que se dispõe são estudos de caracterização de repertório, discutindo diferenças nas habilidades sociais entre homens e mulheres (Del Prette & Del Prette, 2018), prevenção ao sexismo e heterossexismo (Murta et al., 2010) e habilidades sociais conjugais em homens e mulheres (Villa & Del Prette, 2013). Mesmo o estudo de Villa e Del Prette (2013), embora caracterize o repertório de habilidades sociais conjugais nos indivíduos casados, não teve a orientação sexual como objeto de análise, restringindo suas discussões ao gênero em uma perspectiva cisnormativa.

A carência de pesquisas voltadas para o desenvolvimento de intervenções ou avaliação de casais não heterossexuais tem sido apontada (Pepping et al., 2019). Esse é um tópico aberto para debates e para a criação de programas, porém, ainda pouco explorado pelo campo do THS. De acordo com Pachankis e Safren (2019), há pelo menos quatro obstáculos que precisam ser superados para a construção de práticas interventivas baseadas em evidências com os casais em diversidade sexual e de gênero: 1) falhas na delimitação dos objetivos do tratamento; 2) escassez de estudos focados na saúde mental da população; 3) falhas em reportar o status (orientação sexual e gênero) dos participantes, o que acaba alocando-os em categorias estritamente cisnormativa; e 4) estigma, que tende, por exemplo, à marginalização da população de minorias sexuais e de gênero em sua diversidade, não a incluindo nas pesquisas.

Os estudos desenvolvidos no exterior, sobre casais em relações heterossexual e homossexual, têm mostrado algumas diferenças entre essas formas de relacionamento (Pepping et al., 2019). Há uma indicação quanto às especificidades na formação e na manutenção das relações (como são formadas e como se mantêm), influências do estresse de minoria e do preconceito às relações não heterossexuais (que tendem a sofrer mais desfechos negativos em sua saúde mental do que as heterossexuais), entre outras variáveis significativas na compreensão das peculiaridades entre esses relacionamentos (Pepping et al., 2019), que podem ter relação com o repertório de habilidades sociais e sociais conjugais.

Compreender as especificidades dos relacionamentos não heterossexuais e sua relação com o repertório de habilidades sociais e conjugais tende a resultar em intervenções orientadas pelas necessidades dos participantes, com foco nos requisitos de competência social e não reprodutoras de estigmas. No exterior, há um avanço de estudos de intervenção com casais em diversidade sexual sob diferentes modelos teóricos (Buzzella et al., 2012; Pachankis & Safren, 2019), principalmente sob o enfoque cognitivo-comportamental (Pachankis & Safren, 2019). Todavia, no Brasil, não obstante ser um campo em desenvolvimento, as pesquisas de intervenção que dialogam com o THS ainda estão mais centradas nos casais em relação heterossexual (Neumann et al., 2018) com poucos estudos realizados com casais do mesmo sexo (Catelan & Costa, 2020).

Entende-se que identificar variáveis que podem impactar sobre os resultados do treinamento é um passo preliminar à construção das intervenções efetivas e socialmente relevantes (Pachankis & Safren, 2019). O objetivo deste estudo foi, por meio de uma revisão narrativa da literatura, apresentar a base conceitual e teórico-prática do THS aplicada aos casais em diversidade sexual e de gênero e discutir suas implicações em termos de: a) influência da sociedade no desempenho de habilidades sociais conjugais nesses casais; b) pesquisas e justificativas para a construção de programas voltados para a diversidade sexual e de gênero; e c) encaminhamentos, cuidados e tópicos centrais para uma intervenção em habilidades sociais conjugais para casais.

MÉTODO

Trata-se de um estudo de revisão narrativa da literatura. Para essa estratégia metodológica, não é empregada uma busca sistemática rigorosa nem se pretende esgotar os estudos sob enfoque da temática investigada (Camargo et al., 2023). Esse método foi utilizado devido à escassez de literatura acerca da interface entre o campo do THS e os casais em diversidade sexual e de gênero. Apesar de o conceito de “habilidades sociais conjugais” ter sido cunhado em 2001 (Del Prette & Del Prette, 2014) no Brasil, os primeiros estudos com casais do mesmo sexo, incluindo um programa de treinamento dessas habilidades com casais em diversidade, só foi publicado 20 anos depois (Cardoso, 2021).

Dessa forma, a seleção dos estudos aqui explanados foi feita a partir da compreensão: 1) da base teórico-prática do campo do THS, principalmente considerando o protagonismo de Del Prette e Del Prette nesse cenário; 2) das diretrizes da American Psychological Association ([APA], 2015) quanto à compreensão dos conceitos pertinentes às minorias sexuais e de gênero; e 3) da identificação de programas de treinamento para casais que perpassasse alguma classe de habilidade social conjugal.

Neste estudo, foram abarcados livros que contivessem a base conceitual do THS e que aprofundassem o conceito de “habilidades sociais” e “competência social” (Del Prette & Del Prette, 2014, 2017) e capítulos de livros que abordassem a temática de gênero e/ou habilidades sociais conjugais. Os artigos que abrangiam essa temática e que também mostrassem inter-relação com os conceitos de “gênero”, “diversidade sexual” e/ou “casais” também foram inclusos. Para isso, eles foram selecionados randomicamente nas bases de dados SciELO, PubMed, PsycINFO, Portal CAPES e Lilacs, com a finalidade de apresentar e discutir conceitos desse campo, a saber: a) diversidade sexual, saúde mental e habilidades sociais conjugais em uma sociedade heteronormativa; e b) pesquisa e prática no atendimento às necessidades de casais em diversidade sexual. Por fim, são discutidas as implicações dos estudos para o desenvolvimento de programas de THS conjugais.

RESULTADOS E DISCUSSÃO

Influência da sociedade no desempenho de habilidades sociais conjugais em casais em diversidade sexual e de gênero

Relacionar-se de modo socialmente competente não é um padrão biologicamente herdado. Embora existam características filogeneticamente selecionadas no desempenho de habilidades sociais (Del Prette & Del Prette, 2022b), os indivíduos não nascem com um repertório de habilidades desenvolvido e suficiente para o êxito em suas relações com familiares, amigos(as) ou parceiros(as) românticos(as). As habilidades sociais são classes de comportamentos sociais, aprendidos e valorizados pela cultura (ou subcultura) na qual o indivíduo está inserido (Del Prette & Del Prette, 2017).

Del Prette e Del Prette (2017) destacam que o conceito de habilidades sociais está relacionado ao de competência social. Em termos gerais, esta é definida como “um construto avaliativo do desempenho de um indivíduo (pensamentos, sentimentos e ações) em uma tarefa interpessoal que atente aos objetivos do indivíduo e às demandas da situação e cultura, produzindo resultados positivos para o indivíduo, seus interlocutores e o grupo social” (Del Prette & Del Prette, 2017, p. 38). Desse modo, o objetivo central das intervenções não seria apenas o de promover repertório de habilidades, mas favorecer que elas sejam desempenhadas de modo socialmente competente nas tarefas sociais em que os indivíduos estão envolvidos, considerando os demais requisitos de competência social. É importante enfatizar: a) a automonitoria; b) o autoconhecimento de recursos e dificuldades interpessoais; c) o conhecimento sobre regras e normas sociais que se impõem sobre a relação e sobre o contexto no qual ela está inserida; e d) valores de convivência que estão na base de um desempenho social competente em um relacionamento conjugal (Cardoso & Del Prette, 2020; Del Prette & Del Prette, 2017).

Na relação entre parceiros(as) íntimos(as), as tarefas sociais conjugais podem envolver uma diversidade de demandas que ocorrem desde as trocas afetivas satisfatórias para ambas as pessoas até a solução de problemas cotidianos. São necessidades que requerem diferentes classes de habilidades sociais, com topografia e função específicas e que, quando desempenhadas de acordo com requisitos de competência social (Cardoso & Del Prette, 2020), tendem a resultar em satisfação no relacionamento (Villa & Del Prette, 2013).

O desempenho das habilidades sociais conjugais não acontece sem um contexto - ele é influenciado diretamente pelas experiências de relacionamentos anteriores (com familiares, cuidadores e pares), pela cultura com suas normas, regras e estereótipos e pelas características psicológicas do indivíduo (temperamento, esquemas cognitivos). Adicionalmente, é importante destacar o papel do gênero e da orientação sexual e o padrão de parceria desenvolvido entre os cônjuges (ver Figura 1), que são mais detalhados neste estudo.

Figura 1 Variáveis que influenciam o desempenho de habilidades sociais conjugais. 

A sociedade, como regulamentadora de práticas, nomeia o que é referente a “homens versus mulheres” e isso tem papel crítico na supressão ou no desenvolvimento das habilidades sociais, assim como nos funcionamentos cognitivo e afetivo em geral (Cardoso et al., 2019). Há uma construção estereotipada sobre algumas das habilidades cujo desempenho é esperado para um gênero, mas não para o outro, em uma perspectiva binária (masculino versus feminino) e heteronormativa. Quando há alguma variação nessa perspectiva (estritamente homem/ macho versus estritamente mulher/fêmea), há um desconforto social em aceitá-la e, geralmente, resulta em preconceitos e estigma (Murta et al., 2010).

Por exemplo, um menino que é muito expressivo emocionalmente pode ser tolhido pela comunidade verbal como sendo “inadequado” e, mesmo que essas não sejam palavras pejorativas (o pejorativo está na atribuição de significado que é feita por aquele que pretende ofender a pessoa), pode ser visto como “menininha” ou “gay” - pois se espera que a expressividade emocional seja uma habilidade de meninas/mulheres. Em outro caso, uma adolescente que é direta naquilo que quer e fala abertamente para o outro (assertividade) pode ser vista como “atrevida”, enquanto seria “normal” que um menino/homem falasse a mesma coisa. Trata-se de práticas permeadas por estereótipos sobre o que se espera do outro e que têm influência no desenvolvimento ou nos déficits das habilidades (Murta et al., 2010).

Nesses exemplos, há uma diferença entre pelo menos quatro conceitos centrais, que são discutidos na literatura (APA, 2015; Catelan & Guimarães, 2023): a) sexo designado, b) identidade de gênero, c) expressão de gênero e d) orientação sexual. O sexo designado refere-se ao conjunto de características biológicas (p. ex., cromossomos, órgãos sexuais e gônadas) utilizado para indicar uma pessoa como homem ou mulher. A identidade de gênero é a percepção subjetiva (como a pessoa se vê) em relação a ser homem, mulher ou gênero fluido/alternativo. A pessoa pode se ver como cisgênero (cis), quando sua identidade de gênero é conforme o sexo designado, ou transgênero (trans) quando sua identidade de gênero não está alinhada com o sexo designado. A expressão de gênero é a forma em que as características do gênero com o qual a pessoa se identifica são demonstradas (p. ex., forma de se vestir, se comportar e interagir). A orientação sexual, por sua vez, refere-se à atração (p. ex., física, emocional, intelectual) que a pessoa sente por outra (p. ex., heterossexual, bissexual, homossexual).

Ainda nessa conceituação, gênero é definido pela APA (2015, p. 834) como “um construto não binário que permite uma variedade de identidades de gênero”. Apesar de haver uma prevalência binária na sociedade sobre a compreensão da sexualidade humana (homem versus mulher), o gênero transcende essa perspectiva (APA, 2015). É um conceito construído socialmente, a partir da interação com a comunidade na qual a pessoa está inserida (Catelan & Guimarães, 2023). Desde o nascimento, ou do exame de sexagem fetal, a pessoa que receberá a criança a chamará de “menino” ou “menina”. Antes disso, também haverá uma construção de expectativas sobre aquela criança que está “a caminho”.

No caso de uma sociedade heterossexista e LGBTfóbica, espera-se, caso seja um menino, que ele, durante o seu desenvolvimento, seja heterossexual (demonstre interesse apenas por meninas), se interesse por entretenimentos estereotipadamente masculinos (p. ex., futebol, carros, etc.), seja mais duro (e expresse poucas emoções), sexualmente ativo (sempre pronto para o sexo) e superior. Das meninas, por sua vez, espera-se que sejam retraídas sexualmente (tenham pouco autoconhecimento sexual e sem iniciativas para o sexo), emocionalmente dependentes (carentes de validação emocional), demonstrem interesse por tarefas do lar e maternais e assumam uma postura mais compassiva e submissa (Cardoso et al., 2019).

Sob essas expectativas estereotipadas, algumas classes de habilidades são modeladas e reforçadas socialmente. A depender de como ocorrem esses processos de socialização, homens e mulheres podem internalizar “regras” sociais diferentes, as quais são transmitidas implicitamente. Nota-se que os homens são socializados de forma a serem reforçados ao demonstrar assertividade, habilidades de liderança, resolução de problemas e habilidades sociais relacionadas à sexualidade. Nesse processo, comportamentos interpretados como “femininos” são reprovados, principalmente, por outros homens (Santos & Nardi, 2023; Welzer-Lang, 2001). As mulheres, por sua vez, são socializadas para características mais cuidadoras que incluem habilidades de expressividade emocional, comunicação, empatia e civilidade (Teixeira, 2015).

Essas expectativas estereotipadas sobre os papéis que homens e mulheres devem desempenhar podem se refletir nas habilidades sociais conjugais. Ao ser punida por desempenhar uma habilidade que é vista como “incompatível” com o seu gênero ou orientação sexual, a pessoa poderá não obter proficiência naquele padrão de comportamento. Por exemplo, a expressividade emocional é uma classe de habilidades sociais conjugais (Cardoso & Del Prette, 2020; Del Prette & Del Prette, 2017). Ao expressar carinho e afeto pelo(a) parceiro(a), há uma tendência a nutrir aquela relação de forma saudável e manter a conexão (Gottman & Silver, 2015). Desempenhar essa habilidade em público, por meio de abraços, beijos ou dar as mãos, é comum para casais heterossexuais. Para eles, não há uma punição imediata da sociedade sobre a expressão dessa habilidade. Em contrapartida, quando essa habilidade é desempenhada por casais de gays ou lésbicas, há uma repressão social do comportamento (p. ex., olhares julgadores, cochichos, reprovações, insultos, agressões, etc.) por uma cultura LGBTfóbica. Em ambos os casos, trata-se do desempenho de uma classe de habilidades sociais conjugais. No entanto, os casais de gays ou lésbicas foram vítimas de preconceito e sofreram uma punição social pelo desempenho da expressividade emocional.

Essas repressões tendem a influenciar o desempenho das habilidades em contextos públicos, o que, não necessariamente, se reflete no contexto pessoal do relacionamento conjugal de casais do mesmo sexo. É provável que o casal de gays ou lésbicas se sinta ameaçado ao desempenhar as habilidades novamente em contexto público, por medo de experienciar a mesma sensação de insegurança do passado. Nisso, há uma exigência não só quanto ao repertório de habilidades sociais conjugais desses casais, que precisam assegurar esses comportamentos em sua relação (seja publicamente ou não), mesmo com a pressão social para a sua não existência, mas também de habilidades sociais gerais para se expressar e garantir direitos de livre expressão em uma sociedade que não garante direitos e ameaça a existência de casais do mesmo sexo.

Em relação à demonstração privada dessas habilidades, os estudos têm discutido que as relações de heterossexuais e homossexuais podem ser, ao mesmo tempo, similares e diferentes (Catelan & Costa, 2020). As relações seriam similares quanto ao processo estrutural (p. ex., namoro, noivado, casamento, união estável) e quanto à importância do desempenho de habilidades sociais conjugais, visto que elas proporcionam satisfação e ajustamento relacional (Villa & Del Prette, 2013). Em contrapartida, elas se diferenciam quanto: a) à oficialização do relacionamento (casais homossexuais tenderiam a sofrer preconceito por assumir publicamente uma união não heterossexual); b) aos estereótipos de gênero assumidos na relação, que podem influenciar o desempenho dessas habilidades (p. ex., “estas são funções de mulheres/homens, então eu não farei isso...”); c) à divisão de tarefas na relação (casais do mesmo sexo tendem a apresentar melhor divisão); e d) a outras características e habilidades, como reciprocidade assertiva, autoafirmação assertiva e afetividade/empatia (ver mais em Cardoso et al., (no prelo); Pepping et al., 2019).

A sociedade também influencia na construção de um conjunto de crenças distorcidas sobre casais de gays e lésbicas. Pensamentos preconceituosos que violentam a saúde mental dessas pessoas cotidianamente são expressos em afirmações como: “homossexuais vão para o inferno”, “gays são promíscuos”, “elas são lésbicas porque não ficaram com um homem bom”, “isso foi um problema de criação que resultou nessa anomalia”, “posso chamar esse casal de mulheres para uma orgia que elas aceitarão”, “gays afeminados são ridículos”.

Lidar com essas expressões resulta em diversos efeitos negativos à saúde mental de gays e lésbicas (Catelan & Paveltchuk, 2023) e tende a influenciar negativamente a manutenção do relacionamento (Catelan & Costa, 2020). Por exemplo, como forma de fugir das repressões sociais (e/ou familiares), um homem gay ou uma mulher lésbica pode buscar a “cura” para a sua sexualidade, por acreditar que é um erro ou “pecado”, e abandonar o relacionamento. Embora possa haver compreensão e desempenho de habilidades de solução de problemas pelo(a) parceiro(a), o que controla um decisão como essa são variáveis culturais de repressão à orientação sexual do relacionamento (ver ilustração desse exemplo no filme Eu sou Michael (Kelly, 2015)).

Pesquisa e prática no atendimento às necessidades de casais em diversidade sexual

Direitos às pessoas LGBT+ estão sendo lentamente garantidos. Apenas em 2011 houve reconhecimento do casamento de pessoas do mesmo sexo no Brasil. A obrigatoriedade de oficializar essa união, em todos os cartórios, só foi instituída em 2013, pelo Conselho Nacional de Justiça. Contudo, sabe-se que, embora seja legalizada, a sociedade ainda age com preconceito e estigmatização aos casais do mesmo sexo, o que repercute na saúde mental desses indivíduos.

Hatzenbuehler et al. (2011) identificaram, em uma pesquisa realizada nos Estados Unidos, que lésbicas, gays e bissexuais (LGB) que vivem em locais que proíbem o casamento entre pessoas do mesmo sexo têm prevalência aumentada para transtornos psiquiátricos diversos. O estudo permitiu identificar o aumento de 36,6% para transtornos do humor, 248,2% para transtornos de ansiedade generalizada, 41,9% para quaisquer transtornos induzidos pelo uso de álcool e 36,3% para comorbidades psiquiátricas. Esses percentuais não foram identificados para casais LGB que viviam em estados que adotam medidas de regulamentação ao casamento de pessoas do mesmo sexo ou em casais heterossexuais.

Dificuldades no relacionamento, de modo geral, tendem a resultar em problemas de saúde das pessoas envolvidas na relação (Gottman & Silver, 2015). Casais heterossexuais e homossexuais são afetados em sua saúde mental de diferentes formas. Todavia, uma cultura heteronormativa inclui consequências adoecedoras específicas aos casais do mesmo sexo, simplesmente por não serem heterossexuais, como foi percebido no estudo de Hatzenbuehler et al. (2011).

Meyer (1995) descreve esse fenômeno como estresse de minoria. Trata-se de um adoecimento psicossocial que as pessoas sofrem por fazerem parte de determinado status social de minoria. No caso de casais do mesmo sexo, ao vivenciarem publicamente a sua orientação sexual, há uma tendência a sofrerem estigmatização e discriminação quanto à manifestação da sua sexualidade. Há três dimensões envolvidas no estresse de minoria (Meyer, 1995): a) homofobia internalizada, que refere à internalização de atitudes anti-homossexuais da sociedade dominante; b) percepção do estigma, que tende a tornar as pessoas não heterossexuais hipervigilantes quanto aos seus próprios comportamentos, emoções, formas de se vestir, etc., por medo de sofrer alguma retaliação da classe dominante; e c) experiências de preconceito, discriminação e violência. Catelan e Costa (2020, pp. 426-427) também destacam que:

estressores particulares da experiência conjugal podem incluir a expectativa de rejeição familiar e comunitária; “a saída do armário” como um casal não heterossexual; o manejo da visibilidade/ocultação pública da relação; o medo de desvalorização e discriminação; a busca por espaços seguros (física e emocionalmente); preocupação com vigilância/escrutínio público da relação; limitações na interação com as famílias de origem; manejo dos estereótipos a respeito de casais não heterossexuais; e ausência de modelos relacionais não heterossexuais.

Fatores como estes contribuem para que pessoas em uma relação não heterossexual tenham impactos negativos em sua saúde mental e na manutenção dos seus relacionamentos conjugais (Catelan & Costa, 2020). Todas essas questões apontam a urgência de se desenvolver e implementar intervenções em habilidades sociais conjugais orientada por requisitos de competência social. Aos casais heterossexuais, já é documentada na literatura uma correlação positiva entre habilidades sociais conjugais e satisfação conjugal (Villa & Del Prette, 2013) e que programas com essa proposta podem ampliar a satisfação desses casais. Para casais de pessoas do mesmo sexo, não há dados, na literatura brasileira, de caracterização e intervenção sobre essas variáveis, e os estudos no exterior ainda são pouco representativos (conforme apontado por Pachankis e Safren, 2019). Contudo, os dados preliminares de programas no exterior que se aproximam do campo teórico-prático das habilidades sociais evidenciam benefícios para esses casais (Kousteni & Anagnostopoulos, 2019), por exemplo: melhora na comunicação e satisfação com o relacionamento (Whitton et al., 2016, 2017), ajustamento conjugal (Villa & Del Prette, 2013), aumento da satisfação com o relacionamento e redução de abuso emocional, violência doméstica e abuso de substâncias (Garanzini et al., 2017).

Os estudos de intervenção com casais (psicoeducativos e de treinamento), embora em fase ascendente (Hawkings et al., 2012), apresentam uma limitação quanto à aplicabilidade com casais do mesmo sexo (Kousteni & Anagnostopoulos, 2019). Por meio de um levantamento não sistemático da literatura, alguns programas com casais foram mapeados no Brasil e no exterior conforme resultados organizados no Tabela 1 (Apêndice A). Foram recuperadas informações sobre: a) país, b) temáticas e habilidades abordadas, c) estrutura da intervenção, d) público-alvo (incluindo orientação sexual) e e) efeitos alcançados pelo programa. Em relação ao país com mais programas já realizados, os Estados Unidos se destacam, inclusive com um específico para casais do mesmo sexo - Strengthening Same-Sex Marriage (Buzzella et al., 2012). Nesses estudos, evidencia-se uma dificuldade no relato da pesquisa sobre a orientação sexual dos casais, questão já criticada por outros pesquisadores, por dificultar o acesso às intervenções personalizadas para casais em diversidade sexual e de gênero (Pachankis & Safren, 2019).

Tabela 1 País, focos de treinamento, habilidades abordadas, design, participantes e efetividade em programas conjugais. 

Referência País Temáticas e habilidades abordadas Estrutura Público-Alvo Efeitos
Falconier (2015)Programa:
Together
Estados Unidos Identificar indicadores de estresse financeiro em si mesmo e na parceria; ajudar a parceria a lidar com o estresse financeiro; habilidades de gerenciamento financeiro; habilidades de resolução de problemas e comunicação (gerais e sobre problemas financeiros); entendimento mútuo sobre crenças, papéis e expectativas; enfrentar a tensão financeira individualmente e como casal; lidar com finanças. Módulos: 9 Duração: Sem informação
Avaliação: Incharge
Financial Distress/
Financial WellBeing Scale; Dyadic
Adjustment Scale;
Dyadic Coping
Inventory; Conflict
Tactics Scale-2;
Depression, Anxiety,
Stress Scales; Financial Management Scales.
Casais casados ou coabitando, juntos há 10 anos. Sem informações sobre a orientação sexual. Tensão financeira H**M**
Gerenciamento financeiro H* M**
Depressão H^ M
Ansiedade H M
Satisfação com o relacionamento H* M
Agressão psicológica H**M*
Apoio. Enfrentamento diádico H M
Enfrentamento diádico em comum H^ M^
Babcock,
Gottman,
Ryan e
Gottman
(2013) Workshop:
The Art and
Science of
Love
Dia 1. Aumento da amizade:
construir mapas de amor; nutrir carinho e admiração; aumentar conexão emocional (voltar-se um para o outro).
Dia 2. Gerenciamento de conflito: regular conflitos que estão em impasses; gerenciamento de conflitos “resolvíveis”; habilidades de comunicação (aceitar influência, reparos efetivos, autorregulação fisiológica e acalmar a parceria, utilizar pausas efetivas, comprometer-se).
Workshops: 2 (dias) Duração: 8 horas por workshop
Avaliação: Marital
Adjustment Test;
Sound Relationship
House Questionnaires;
Problems in Friendship Quality; Problems with Destructive Conflict.
Casais casados, sem dados sobre o tempo de casamento. Sem informações sobre orientação sexual. Satisfação com o relacionamento
Problemas com conflitos destrutivos
Problemas na amizade
C
C**
C**
Buzzella,
Whitton e
Tompson
(2012) Programa: Strengthening Same-Sex Marriage
Estados Unidos Divertir-se juntos; comunicação; bom(a) falante, bom ouvinte; passos para resolução de problemas; saber e comunicar o que você quer; lidar com estressores como um casal; criar um senso de segurança e estabilidade (compromisso); importância do suporte social e comunitário. Sessões: Uma sessão ao final de semana (duração de 6 horas) e dois dias na semana pela noite (2 horas cada) Duração: 10 horas (programa completo) Avaliação: Communica-
tion Skills Test; Support for the Relationship Measure; Social Support
Assessment; Perceived
Stress Scale; Dyadic Adjustment Scale; Confidence Scale; End of Treatment Questionnaire.
Casais do mesmo sexo (homens), noivos ou recém casados. Parceiro contactado
Resolução de problemas
Comunicação negativa
Estresse percebido
Apoio social
Apoio percebido pelo relacionamento
Funcionamento do relacionamento - qualidade
Funcionamento do relacionamento - confiança
Outros parceiros
Estratégias de comunicação positiva
Resolução de problemas
Estresse percebido
Satisfação com o relacionamento
*
*
^
^
^
**
^
*
^
*
Confiança ^
Renick,
Blumberg e Markman
(1992)1
Programa: PREP
Comunicação; habilidades para uma fala e escuta efetivas; dar feedbacks específicos e diretos ao outro; expressão construtiva de sentimentos; ampliar momentos agradáveis juntos; valores espirituais (honra, respeito, intimidade e perdão); compromisso e compartilhamento de visão de mundo; comunicação sensual. Sessões: 12
Duração: no information Avaliação: Marital Adjustment Test; Relationship Problem Inventory; Conflict Tactics Scale; Snyder’s Marital
Satisfaction Inventory;
The Couples Interaction
Scoring System; The Interaction Coding System; The Communication Box; The Communication Skill Test.
Casais planejando o casamento pela primeira vez.
Sem informações sobre orientação sexual.
Sem informações. Os autores indicaram: “Não houve efeitos significativos ou interações nas medidas de satisfação com o relacionamento e intensidade dos problemas” (p. 44).
Markman e
Floyd (1980) Programa: PREP1
Estados Unidos Habilidades do ouvinte (escuta ativa), sumarizar o outro, refletir sentimentos; habilidades do falante (fala expressiva), expressar sentimentos, ser específico, falar por si; habilidades de resolução de problemas; habilidades de monitoramento comportamental; identificar quais comportamentos são prazerosos ou não para seu parceiro; fazer solicitações específicas para mudança de comportamento; habilidades de negociação. Sessões: 6
Duração: 3 horas por sessão
Avaliação: Standardized
30-minute interview;
Demographic information sheet; The Problem Intensity Form; The
Locke-Wallace Marital Adjustment Test (Premarital Adjustment Test); Inventory of Marital Conflicts; Communication Box.
Casais antes do casamento, namorados por em média 22.8 meses. Sem informações sobre orientação sexual. Sem informação. Os autores mencionaram sobre efetividade, mas não há dados quantitativos no estudo.
Hahlweg,
Fehm-
Wolfsdorf e Groth (1998) Programa:
A Learning Program for Married Couples2
Alemanha Habilidades de comunicação, falar por si, expressar sentimentos, permanecer no assunto, parafrasear o ponto de vista do parceiro; expressar sentimentos negativos, autodescoberta; resolução de problemas; efeitos das expectativas no relacionamento; comunicação sobre domínios sexuais. Partes: 5
Duração:18 horas por programa
Avaliação: Partnership
Questionnaire; Problem List; Center for Epidemiological Studies - Depression Scale; Coding
System for Marital and
Family Interaction; Consumer Satisfaction (scale rating).
Casais em uma relação de pelo menos 3 anos de duração. Sem informações sobre orientação sexual. Variáveis de autorrelato
Comunicação verbal
Comunicação não-verbal
*
^
Fallahchai, Fallahi e Ritchie (2017)1 Program: PREP Irã Resolver problemas como uma equipe; identificar fatores de risco para o estresse conjugal; estabelecer segurança no relacionamento. Sessões: 10
Duração: 90 minutos
por sessão Avaliação:
Demographic
Questionnaire; The
Marital Conflicts
Questionnaire; ENRICH Marital Satisfaction Scale.
Casais heterossexuais, média de 5 anos de casamento. Satisfação conjugal
Conflitos conjugais
**
**
Moghadasi and Mohammadi-
pour (2016) Program: Communica-
tion Skills and Effective dialogue
Comunicação (falar, negociar); entender a si e os outros; autoexpressão; empatia; resolução de conflitos; escuta efetiva (atenção, pontuar, convidar, sumarizar, perguntar). Sessões: 8
Duração: 90 minutos por sessão Avaliação: Afrooz
Marital Satisfaction
Scale; Dimensions of
Commitment Inventory.
Casais casados há menos de 5 anos. Sem informações sobre orientação sexual. Satisfação do casal
Compromisso conjugal
**
**
Vazhap-
pilly and Reys (2018) Programa:
Emotion-
Focused
Couples’
Communication Program
Índia Consciência sobre compaixão, conexão e comunicação; auto-empatia; autoaceitação; escuta ativa e compassiva; receber críticas jovialmente; reconhecer sentimentos e necessidades do outro e responder a elas positivamente; empatia; ser genuíno e verdadeiro ao expressar suas necessidades; expressar sentimentos abertamente; acalmar e curar memórias dolorosas do passado; reconectar-se com a parceria; apreciar e agradecer ao outro; nutrir camaradagem, pertencimento, abertura e honestidade; compartilhar vida sexual ativa e satisfatória. Sessões: 9 Duração: Sem informação
Avaliação: Primary
Communication
Inventory; Dyadic Adjustment Scale.
Casais casados
(civil ou religioso), não menos que 3 e não mais que 25 anos de relação. Sem informações sobre orientação sexual.
Comunicação
Satisfação conjugal
**
**
Neumann,
Wagner and
Remor (2018) Programa:
Viver a dois: compartilhando este desafio
Brasil Comunicação; autoconhecimento; empatia; gerenciar/ lidar com conflito; reconhecimento sobre tolerância e intensidade emocional quando enfrentando os conflitos; expressão efetiva; negociação; controle emocional; conversar sobre sexualidade; divertir-se. Workshops: 6
Duração: 90 minutos por grupos de três a cinco casais e 120 minutos para grupos de seis a oito casais. Avaliação: Questionário de Dados Sociodemográficos;
The Golombok and
Rust Inventory of
Marital State; The
Marital Conflict Scale; Conflict Resolution Style Inventory.
Maior parte dos casais eram oficialmente casados. A média do tempo de relacionamento foi de 13 anos. Sem informações sobre orientação sexual. Qualidade conjugal
Frequência do conflito
Resolução positiva
Engajamento no conflito
Retirada
Complacência
H^ W
H W*
H* W*
H* W**
H**W**
H^ W^

Notas: H=homem, M=mulher, C=casal,

Notas:

Notas:

Notes:

Notas:

**p<.01,

*p<.05, ^p<.10

**d ≥.8,

*.7 ≤ d ≥.5, ^.2 ≤ d ≥ 4,

**d ≥.8,

*.7 ≤ d ≥.5, ^.2 ≤ d ≥ 4.

1Atualmente, o PREP tem outras versões, ver mais em: https://www.prepinc.com/Content/CURRICULA/for-couples.htm

2 Baseado no PREP

**p<.01

**d ≥.8,

*.7 ≤ d ≥.5, ^.2 ≤

Em relação às temáticas abordadas, os programas indicam diversos tópicos e comportamentos que podem ser estudados no campo teórico-prático das habilidades sociais (p. ex., comunicação, resolução de problemas e expressividade emocional, entre outras). Quanto aos recursos de avaliação utilizados, os estudos têm priorizado instrumentos específicos para identificar repertório de comunicação, satisfação conjugal e outras variáveis. Os resultados encontrados nas intervenções têm indicado efeitos positivos na satisfação conjugal, redução de conflitos conjugais, compromisso conjugal e em outros aspectos, conforme pode ser visto no Tabela 1.

Implicações para o desenvolvimento de programas de treinamento de habilidades sociais conjugais

Tomando como base as propostas metodológicas para a prática no campo das habilidades sociais e o referencial antes explicitado sobre diversidade de gênero e orientação sexual, esta seção busca aplicar essas noções no atendimento às necessidades de casais em geral, com destaque para as necessidades de casais do mesmo sexo. Especificamente, são abordados os cuidados e os encaminhamentos que, decorrentes das considerações anteriores e da literatura no campo das habilidades sociais (orientadas pelo conceito de competência social), deveriam ser levados em conta nos programas de promoção de habilidades sociais e satisfação conjugal.

Uma metanálise acerca dos moderadores de efetividade para programas de educação conjugal (Hawkings et al., 2012) indicou que as intervenções já desenvolvidas são estruturadas com uma margem de 6 a 12 sessões, com tempo de duração de 60 a 90 minutos em cada sessão. Os programas com 9 a 20 horas de contato foram associados com efeitos positivos mais fortes do que os programas com 1 a 8 horas (Hawkings et al., 2012).

Antes de iniciar o treinamento, programas bem-sucedidos tendem a ser precedidos por uma avaliação criteriosa. No campo do THS, é indicado que haja uma avaliação multimodal do repertório dos(as) participantes a fim de mapear déficits e recursos para a intervenção (Cardoso & Del Prette, 2020). Um portifólio com esses resultados é importante para um monitoramento personalizado dos progressos dos(as) participantes ao longo e após a intervenção (Del Prette & Del Prette, 2017).

Hawkings et al. (2012) indicam que, ao estruturar um programa para casais, deve-se atentar para pelo menos sete dimensões/questões centrais, incluindo: 1) conteúdo (o que será ensinado?); 2) intensidade (qual a dosagem da intervenção, nível baixo, moderado ou alto?); 3) métodos (como o conteúdo será aprendido?); 4) momento (quando a intervenção ocorrerá? Em qual estágio da vida?); 5) configuração/setting (onde ocorrerá a intervenção?); 6) população (quem receberá a intervenção?); e 7) entrega (como será disseminada ao público?).

Essas perguntas, associadas a cada uma das dimensões, contribuem para nortear a estrutura do programa. Ao considerar as intervenções com casais em relação heterossexual e homossexual, inicialmente, é importante a compreensão de que, embora essas relações possam ser semelhantes em alguns aspectos, elas diferem em muitos outros, como antes discutido. De forma geral, pode-se indicar, com base na literatura discutida neste estudo, alguns cuidados essenciais na aplicação do programa com essas duas populações.

Em qualquer programa, é importante que o facilitador: a) fique atento para não reforçar estereótipos de gênero que dificultam o desempenho de habilidades no relacionamento; b) equilibre a atenção aos membros de cada casal da intervenção (e tome cuidado para não focar em apenas uma pessoa da relação); c) utilize técnicas e vivências específicas para as habilidades que serão treinadas; d) esteja sensível ao tempo de duração e conteúdo da intervenção; e) avalie as habilidades dos casais de forma multimodal (considerando diversas formas de avaliação, incluindo testes, observações, etc.), multi-informante (obtenha a avaliação de outras pessoas além da que está sendo avaliada, por exemplo, a pessoa A avaliar o repertório da pessoa B) e multielementos (identificando a forma e o conteúdo das habilidades, incluindo componentes não verbais e paralinguísticos; ver mais em Cardoso & Del Prette, 2020); e f) trace planos de ações conjugais adequados à realidade dos casais e conectados com as classes de habilidades treinadas nas sessões.

Especificamente aos casais do mesmo sexo, Kousteni e Anagnostopoulos (2019) discutem sobre a necessidade de intervenções que abordem temáticas específicas a esses casais, por exemplo, o estresse e o preconceito contra a diversidade sexual e de gênero. Ademais, deve-se prezar por práticas afirmativas e não estigmatizantes (Pachankis & Safren, 2019). Nesse cenário, o facilitador precisa ter cuidado para não reproduzir eventuais microagressões que podem ampliar o sofrimento dos casais não heterossexuais.

Uma prática mal preparada de profissionais da psicologia, tanto em atendimentos psicoterapêuticos individuais ou da díade quanto em grupos de intervenção, pode ser um fator de agravamento de sofrimento desse público. Vezzosi et al. (2019), em estudo com 692 psicólogos brasileiros, identificaram que 29,4% exibiam atitudes corretivas quando solicitados pelo(a) paciente, e 12,43% as exibiam mesmo quando não solicitados. Esses tipos de microagressões por parte dos profissionais, como atitudes corretivas e tentativas de reorientação sexual, podem afetar negativamente a saúde mental dessa população. Desse modo, os pesquisadores sobre diversidade sexual e de gênero indicam que intervenções junto a essa população precisam ser orientadas por práticas afirmativas da sexualidade e que não reproduzam microagressões nem resultem em prejuízos à saúde mental (Catelan & Costa, 2020; Pachankis & Safren, 2019; Pepping et al., 2019).

Sobre as microagressões por orientação sexual, Sue (2010) indica pelo menos sete formas que podem ser cometidas, tanto pela sociedade quanto por profissionais que também estão em uma cultura heterossexista e podem, até mesmo sem perceber, reproduzir esses comportamentos: 1) supersexualização, que é uma forma de associar gays e lésbicas com a atividade sexual, vendo-os exclusivamente sob essa perspectiva (p. ex., sentir medo de que crianças que estejam próximas de pessoas homossexuais “possam ser violentadas” ou receio em ser amigo(a) de uma pessoa gay ou lésbica por imaginar que será assediado(a); 2) homofobia, como um medo de ser ou tornar-se homossexual (p. ex., pensar que crianças que são expostas às pessoas homossexuais tenderão a ser homossexuais); 3) uso de linguagem e terminologia heterossexista, que ocorre, por exemplo, quando se utilizam termos como “opção sexual” e “homossexualismo” ou mesmo ao inferir que um homem deve estar em relacionamento com uma mulher e vice-versa; 4) associação da homossexualidade como algo pecaminoso; 5) ideias sobre anormalidade ou problemas psicológicos (p. ex., quando uma pessoa se vê como bissexual e as outras interpretam como uma crise de identidade ou indecisão); 6) negar atitudes heterossexistas (p. ex., afirmar que não existe homofobia ou que não está sendo homofóbico/transfóbico ao usar pronome errado para se referir à uma pessoa trans); e 7) reforçar a cultura e comportamentos heteronormativos que podem, por exemplo, invalidar a vivência de pessoas LGBT+, pressupondo a universalidade e a normalidade apenas da orientação heterossexual.

Considerando essas diferentes formas de microagressões, é importante que os programas desenvolvidos estejam adequados à população em diversidade sexual e de gênero. Isso significa atentar para a linguagem adotada (o facilitador precisa estudar conceitos para não reproduzir homofobia ou outras microagressões), para a identidade visual do programa (não estereotipada ou fixada em modelos de casais de apenas uma orientação sexual), para o uso da identidade de gênero ao se referir a pessoa (devo chamá-la no masculino ou feminino? Ou não devo atribuir nenhum rótulo de gênero?), para o uso de ilustrações adequadas ao público-alvo (não reproduzir modelos de “adequação” dos casais homossexuais aos casais heterossexuais) e para a adoção de materiais com linguagem adequada à diversidade sexual e de gênero.

Quanto às classes de habilidades que seriam centrais ao processo de intervenção, a comunicação é apresentada como uma das principais habilidades associadas com efeitos positivos na relação (Hawkins et al., 2012). Todavia, outras habilidades também são indicadas na literatura, o que permite a compreensão de que, para uma relação satisfatória, são necessárias, além da comunicação, classes de habilidades sociais como assertividade afetivo-sexual e expressão da sexualidade (Farah & Shahram, 2011), expressividade emocional e empatia (Shahid, & Kazmi, 2016), autocontrole proativo e reativo (Villa & Del Prette, 2013), resolução de problemas (Cardoso & Del Prette, 2020), empatia e assertividade (Del Prette & Del Prette, 2017; Villa & Del Prette, 2013), todas relevantes para uma relação mais saudável.

No campo do THS, é recomendado que os programas contemplem essas habilidades em articulação com suas características topográficas efetivas e, principalmente, com os demais requisitos de competência social (Del Prette & Del Prette, 2017). Destaca-se que, ao promover determinadas classes de habilidades, é possível a generalização e a aprendizagem de habilidades secundárias àquela que está sendo treinada (Del Prette & Del Prette, 2017). Por exemplo, ao promover a assertividade, é possível que elementos da empatia estejam combinados na intervenção e sejam também aperfeiçoados no repertório do público-alvo. O facilitador, ao compreender a combinação desses comportamentos, pode traçar um programa mais rico que facilite a ampliação dos resultados.

CONSIDERAÇÕES FINAIS

Este estudo teve como objetivo principal apresentar a base conceitual e teórico-prática do THS aplicada aos casais em diversidade sexual e de gênero. Abordou-se como as habilidades sociais conjugais podem ser aprendidas ou punidas pela sociedade e/ou contexto aos quais os casais estão inseridos. Não foi objetivo deste estudo esgotar a temática, dado que se trata de uma discussão profunda e com diferentes perspectivas de análise. Todavia, discutiu-se como o estresse de minoria contribui para que casais do mesmo sexo tenham prejuízos específicos em sua saúde mental e em como as habilidades sociais conjugais podem ser fatores protetivos na relação dessa população.

As temáticas abordadas neste estudo indicam a importância de práticas afirmativas comprometidas com os princípios éticos na atuação com minorias sexuais e de gênero (APA, 2015). Destaca-se que o Conselho Federal de Psicologia ([CFP], 1999) (Resolução nº 01/1999) proíbe qualquer tipo de terapia de conversão/correção sexual (“cura gay”). Dessa forma, além de pensar em programas de THS para população de casais em grupos minoritários, é emergente a criação de estratégicas macrossociais (como as políticas anti-homofobia) e mesossociais (como as ações educacionais) para a ampliação de ambientes inclusivos para a diversidade sexual e de gênero.

Este estudo trouxe à luz as limitações das pesquisas sobre casais em diversidade sexual e de gênero, principalmente quanto à avaliação da saúde mental e vida conjugal dessas pessoas. Muitos estudos conduzidos sobre casais têm focado apenas em relações heterossexuais cisgêneros em formato monogâmico, o que justifica maior investimento na investigação de especificidades dos programas de habilidades sociais conjugais para casais em relacionamentos em diferentes orientações sexuais e configurações. Novas pesquisas poderiam investigar especificidades na avaliação e intervenção com os casais em diferentes orientações sexuais e configurações, por exemplo, casais homossexuais (cis ou transgêneros), casais poliamor, entre outros. Os dados coletados por esses estudos favoreceriam futuras intervenções baseadas em evidências.

Outro ponto a ser considerado é o momento histórico ao qual os casais estão inseridos. Embora este estudo tenha focado em papéis mais tradicionais de gênero e ainda haja ganhos e direitos que precisam ser assegurados para os casais em diversidade sexual e de gênero, eles coexistem em um período histórico ao qual há o suporte de movimentos sociais que contribuem para práticas afirmativas e combativas ao preconceito.

Apesar das limitações deste estudo, inclusive quanto ao seu formato de revisão narrativa, a perspectiva aqui defendida se mostra relevante por abordar uma temática nova, principalmente na literatura brasileira, que já dispõe de elementos gerais para que programas de habilidades sociais conjugais possam ser realizados não apenas com a população de casais heterossexuais, mas também com casais do mesmo sexo em suas necessidades. As considerações apresentadas destacam a centralidade do conceito de competência social na relação da parceria e para as variáveis socioculturais que podem estar envolvidas no desempenho socialmente competente dessas habilidades. Como foi ilustrado previamente, o desempenho público de algumas habilidades pode ser tolhido socialmente nos casais de gays e lésbicas, o que suscita questões variadas: não se caracterizaria a competência social naquela relação? Ou a sociedade ainda não seria socialmente competente para lidar com a diversidade? São questões para estudos futuros que aprofundem o conceito de competência social, principalmente com a população LGBT+.

Fonte de financiamento: Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo (FAPESP) e Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior - Brasil (CAPES) - código de financiamento 001

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Recebido: 26 de Agosto de 2023; Aceito: 16 de Novembro de 2023

Correspondência: Bruno Luiz Avelino Cardoso. E-mail: brunolacardoso@gmail.com

Editora responsável: Carmem Beatriz Neufeld.

Trabalho vencedor na categoria Tese de Doutorado do Prêmio Monográfico Bernard Rangé do ano de 2022

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