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Contextos Clínicos

versão impressa ISSN 1983-3482

Contextos Clínic vol.5 no.1 São Leopoldo jul. 2012

https://doi.org/10.4013/ctc.2012.51.06 

ARTIGOS

 

Mulheres no tráfico de drogas: a criminalidade como estratégia de saída da invisibilidade social feminina

 

Women in drug trafficking: criminality as a strategy to overcome female social invisibility

 

 

Mariana Barcinski

Pontifícia Universidade Católica do Rio Grande do Sul. Av. Ipiranga, 6681, Partenon, 90619-900, Porto Alegre, RS, Brasil. mariana.barcinski@pucrs.br

 

 


RESUMO

Através da análise discursiva sistêmica (Falmagne, 2004) de entrevistas com duas mulheres com histórias passadas de envolvimento na rede do tráfico em favelas do Rio de Janeiro, o presente artigo tem como objetivo entender a forma como a entrada em uma atividade criminosa primordialmente masculina representou para as participantes a possibilidade de se diferenciar de outras mulheres ao seu redor, construindo suas identidades como "mulheres especiais" em suas comunidades. Como membros de um grupo socialmente marginalizado (de mulheres, pobres e, em sua maioria, negras), a participação no tráfico de drogas conferira a essas mulheres um poder e um status reconhecidos como propriedade dos homens. A análise evidencia que o poder como traficante fora exercido quase que exclusivamente sobre outras mulheres. A distância de "mulheres comuns" e a simultânea aproximação ao mundo masculino representado pelo tráfico de drogas, retiraram (mesmo que temporariamente) as participantes da invisibilidade social que caracteriza a vida de mulheres em periferias urbanas.

Palavras-chave: criminalidade feminina, invisibilidade, gênero.


ABSTRACT

From the systemic discursive analysis (Falmagne, 2004) of interviews with two women with a past history of involvement in drug trafficking in slums in Rio de Janeiro, the present work has the goal of understanding the ways in which joining a traditional male criminal activity had represented to participants the possibility to differentiate themselves from women around them. As members of a socially marginalized group (of poor and usually black women), participating in drug trafficking had given these women a power that is often recognized as male property. Analyses show that the power as drug trafficker had been almost always exerted over other women. The distance from "common women" and the consequent approximation to the male world represented by drug trafficking had moved these women away (even if temporarily) from the social invisibility that characterizes women's lives in urban peripheries.

Key words: female criminality, invisibility, gender.


 

 

Introdução

O ingresso de jovens de camadas mais pobres brasileiras na rede do tráfico de drogas como estratégia de fuga da invisibilidade social e da falta do sentimento de pertença que marcam suas vidas tem sido discutido na literatura (Cruz Neto et al., 2001; Pereira, 2009). Excluídos de um sistema social que não reconhece sua existência no cotidiano, como consumidores ou em suas necessidades básicas de proteção, educação e trabalho, esses jovens optariam por atividades criminosas para se tornarem visíveis. Causar medo nas pessoas, através da associação com facções criminosas e da ostentação de armas ou tornar-se parte das estatísticas acerca da violência urbana são formas de adquirir visibilidade, mesmo que carregada de conotações e sentimentos negativos.

Nesse sentido, a rede do tráfico de drogas representa, para muitos jovens, diante de suas dificuldades relacionais, sociais e econômicas, umas das poucas possibilidades de inserção e de um sentimento (ainda que ilusório) de pertencimento a um grupo. A inserção na atividade propiciaria aos jovens o alcance do que Sales (2007) descreve como uma "visibilidade perversa", estabelecida através da violência e da prática infracional. Violentado pela sociedade que o exclui, o jovem violenta aqueles que o condenam a tal invisibilidade, reforçando o estigma de "pobre e criminoso" a ele atrelado. O sentimento temporário de pertencimento, portanto, reforça o estigma social que justifica a exclusão e a invisibilidade a que são destinados os jovens de certas camadas sociais.

Quando tratamos da participação feminina no tráfico de drogas, a questão da invisibilidade como motivadora de comportamentos criminosos ganha contornos peculiares. Como o tráfico é, indiscutivelmente, reconhecido como uma atividade masculina, participar dele dá às mulheres traficantes a possibilidade de se distinguir de outras mulheres. Elas se tornam visíveis (diferentes de outras) ao desempenharem tarefas reconhecidas como masculinas. A saída da invisibilidade, no caso das mulheres envolvidas no tráfico, se dá principalmente pela diferenciação, pela afirmação de um poder antes exclusivo dos homens e pelo reconhecimento externo desse poder.

Os dados analisados no presente artigo refletirão as especificidades da participação feminina no tráfico de drogas e a forma como as mulheres traficantes constroem suas identidades primordialmente em oposição a outras mulheres ao seu redor. As referências ao poder e ao status adquiridos como traficantes ganham significado especial quando tratadas sob uma perspectiva de gênero, se entendermos a violência e a transgressão como prerrogativas masculinas.

O objetivo deste trabalho, portanto, é compreender como mulheres traficantes definem a sua participação na rede do tráfico de drogas e de que forma a descrição dessa participação -desde a motivação para a entrada até os papéis desempenhados na atividade -está permeada pela tentativa de saída da invisibilidade que marca determinado grupo socialmente marginalizado, especialmente as mulheres que o compõem. Suas identidades são, portanto, construídas primordialmente através da tentativa de adquirir uma visibilidade tradicionalmente reservada aos homens.

Antes da análise dos dados faz-se necessário discutir a forma como a criminalidade feminina vem sendo teorizada na literatura. O engajamento de mulheres em atividades criminosas, notadamente no tráfico de drogas, é descrito de maneira geral como subordinado à participação dos homens nessas mesmas atividades. Sem ignorar o fato de que parecem ser, de fato, os homens os maiores motivadores para a entrada das mulheres na rede do tráfico de drogas (Zaluar, 1993), a ênfase quase que exclusiva na criminalidade feminina como decorrente de suas relações afetivas retira o protagonismo e reforça a invisibilidade feminina na prática de crimes violentos e atividades ilícitas. Ao ignorar as especificidades dos crimes cometidos por mulheres, a própria literatura atesta ou reforça a invisibilidade feminina no que se refere aos fenômenos sociais da violência e da transgressão.

Mulher e criminalidade

A literatura em criminologia aponta para o papel central dos homens - especialmente os parceiros afetivos - na iniciação de mulheres em atividades criminosas (Steffensmeier e Allan, 1996; Zaluar, 1993). Dessa forma, a análise da criminalidade feminina está intimamente relacionada à criminalidade masculina. Além disso, as particularidades do envolvimento feminino em tais atividades ficam obscurecidas por dados estatísticos que atestam para uma relevância periférica dos crimes cometidos pelas mulheres. Tais crimes teriam, portanto, uma gravidade e uma consequência social reduzidas, quando comparados aos crimes perpetrados por homens (Souza, 2005). De uma maneira geral, as teorizações acerca dos comportamentos criminosos têm sido baseadas nas experiências de homens, sem reflexões sobre se as teorias, os conceitos e os resultados encontrados devem ser tratados sob uma perspectiva das diferenças de gênero (Daly e Chesney-Lind, 1988).

Gilfus (1992) aponta para a falta de estudos em criminologia baseados numa apreciação direta das percepções, experiências e motivações exclusivamente femininas. Ao invés de procurar entender os motivos da disparidade entre o número de crimes cometidos por homens e mulheres, a autora acredita que as teorias deveriam se ocupar das experiências de mulheres "reais" que decidem entrar para o crime, contribuindo assim para um retrato mais fiel da criminalidade feminina.

A partir de uma perspectiva de gênero podemos compreender que, para além da reduzida relevância social atribuída à criminalidade feminina, a ausência de estudos sobre mulheres envolvidas em atividades criminosas se deve também ao fato de a violência, a agressividade e a transgressão não estarem previstas nos discursos acerca do feminino. As explicações tradicionais para a diferença entre as taxas de criminalidade feminina e masculina baseiam-se na imagem da mulher como naturalmente dócil, passiva e menos suscetível à prática de comportamentos violentos (Walker, 2003). Sob essa mesma perspectiva, Goetting (1988) sugere que a falta de atenção aos crimes femininos se deve, em grande parte, ao fato de as expectativas sociais sobre os papéis desempenhados pelas mulheres legitimarem a posição das mesmas como vítimas, mas não como perpetradoras de violência.

Além de as características associadas ao feminino servirem teoricamente como elementos protetivos à prática criminosa, a socialização feminina, com sua ênfase no espaço privado como domínio privilegiado de atuação das mulheres, seria a origem da participação subalterna das mulheres em atividades ilícitas e da característica não violenta dos crimes femininos (Assis e Constantino, 2001). A invisibilidade das mulheres nas teorias acerca da criminalidade seria, então, justificada pelo caráter atípico dos crimes por elas cometidos.

Numa tentativa de preencher a lacuna deixada pelos estudos em criminologia de uma forma geral, estudiosas feministas têm investigado as especificidades da criminalidade feminina (Goodstein, 2001; Barcinski, 2009). Essa investigação tem como objetivo reconhecer o papel desempenhado por questões de gênero, principalmente na prescrição de comportamentos masculinos e femininos (incluindo os comportamentos criminosos) na sociedade.

Ao teorizar acerca das especificidades dos crimes femininos, autores apontam para o seu caráter relacional (Musumeci e Ilgenfritz, 2002; Martins, 2009). Neste sentido, as mulheres criminosas enfatizam seus papéis de cuidadoras e seu envolvimento é justificado através da proteção das suas relações afetivas (românticas) e familiares. O papel dos parceiros é novamente enfatizado, porém através de uma perspectiva que inclui a iniciativa feminina na manutenção de suas relações. Ainda que motivadas principalmente pelo desejo de proteger aqueles ao seu redor, esse entendimento acerca da criminalidade feminina pressupõe algum nível, mesmo dentro de limites rígidos, de exercício do desejo e da atividade pessoal das mulheres.

Autores apontam ainda para o papel desempenhado pela discriminação social e pela pobreza no delineamento de crimes femininos (Chesney-Lind, 1989; Gilfus, 1992). Em um contexto caracterizado por relações patriarcais de poder, a vitimização, a marginalização e a invisibilidade criam um cenário propício à criminalidade feminina. Portanto, a partir da perspectiva do lugar ocupado socialmente pelas mulheres, o entendimento da criminalidade feminina deve necessariamente envolver um nível mais amplo de análise, que inclua o papel exercido pelo controle e pela opressão sobre as mulheres em diferentes esperas, do espaço privado das relações familiares ao espaço público da divisão do trabalho (Heidensohn, 1993).

Mulheres no tráfico de drogas

Dados do Departamento Penitenciário Nacional (DEPEN) apontam para uma taxa de crescimento de cerca de 38% no encarceramento feminino no Brasil entre os anos de 2004 a 2008, taxa significativamente maior que a do encarceramento masculino no mesmo período. Um dado adicional importante é que 40% das mulheres encarceradas entre esses anos foram sentenciadas pelo crime de tráfico de drogas (Centro pela Justiça e pelo Direito Internacional 2007).

Apesar do expressivo aumento da criminalidade feminina no Brasil, especialmente da participação de mulheres no tráfico de drogas, esse cenário ainda não justifica um proporcional interesse acadêmico pelo tema. A partir de uma abordagem que ignora o protagonismo e a intencionalidade feminina, as mulheres traficantes são vistas exclusivamente como vitimizadas por homens criminosos. Sua participação na rede do tráfico é resultado da opressão, do medo e da falta de opção que caracterizam a vida de mulheres afetivamente envolvidas com esses homens (Frinhani e Souza, 2005).

Os poucos relatos acerca de mulheres diretamente envolvidas na rede do tráfico de drogas são contados como anedotas; de certa forma, há um tom ficcional caracterizando suas histórias. Durante estudos em comunidades populares no Rio de Janeiro, Zaluar (1993) cita apenas três mulheres envolvidas em atividades criminosas. Por causa do caráter transgressor e não usual de suas atividades, essas mulheres tornaram-se verdadeiras lendas nas favelas onde viviam.

Apesar do crescente número de mulheres traficantes, atestado pela mídia e por incipientes iniciativas acadêmicas, a presença de valores patriarcais no tráfico de drogas é evidente, em especial quando investigamos os papéis desenvolvidos usualmente pelas mulheres na atividade. Como afirma Zaluar (1993), o tráfico, como atividade organizada, reproduz o sistema hierárquico de gênero da sociedade mais ampla. Apesar do caráter subversivo, a ideologia tradicional de gênero é curiosamente refletida nas dinâmicas internas da rede do tráfico de drogas.

Mais de 50% das mulheres entrevistadas nos estudos de Zaluar, por exemplo, descrevem seus papéis no tráfico como subordinados ou secundários, apesar de essa conotação crítica não ser necessariamente verbalizada de maneira explícita pelas mesmas. De forma similar, Barcinski (2008), a partir de pesquisa realizada com ex-traficantes de cinco favelas cariocas, atesta que a maior parte das mulheres entrevistadas trabalhou como "vapor", a pessoa que vende drogas nas bocas-de-fumo1 das comunidades, função considerada de pouco prestígio na hierarquia do tráfico. Além das mulheres, crianças costumam ocupar essa mesmo posição, fato que corrobora a não valorização dessa função.

Zaluar argumenta que a presença de valores tradicionais e hegemônicos fica clara, ainda, quando identificamos as formas como os homens criminosos em seus estudos se referem à mulher ideal e às expectativas a respeito dela. Nas palavras da autora: "A mulher verdadeira do bandido é aquela que, junto com a mãe e as irmãs, o ajuda na hora do sufoco, quando está na prisão e precisa de dinheiro, advogado, roupas, comida e tudo mais" (Zaluar, 1993, p. 181).

Apesar do sofrimento acarretado pela associação com um parceiro criminoso, incluindo o seu potencial comportamento violento, a mulher deve permanecer ao seu lado, atendendo-o em suas necessidades, especialmente na circunstância do encarceramento. Mesmo quando mantém relações afetivas e sexuais com outras mulheres fora da prisão, o homem encarcerado tem o direito de cobrar fidelidade de sua parceira permanente (a "fiel", como é conhecida nas favelas do Rio de Janeiro) e de demandar sua presença, dinheiro e favores para tornar sua vida mais fácil na prisão. É importante salientar como a identidade dessa mulher está construída -legitimando os discursos hegemônicos acerca do feminino -em torno da sua capacidade e dever de servir aos outros, atendendo constantemente às necessidades daqueles ao seu redor (Miller, 1986; Gilligan, 1982).

A "mulher de bandido" é outro personagem na dinâmica do tráfico de drogas que atesta para o caráter conservador e patriarcal da atividade. Ela se envolve no tráfico de drogas -voluntariamente ou não -como resultado de seu relacionamento afetivo com um "bandido". Assim como a "fiel", a mulher de bandido é submetida às leis informais e aos acordos tácitos que orientam a relação entre as pessoas (especialmente entre homens e mulheres) na rede do tráfico de drogas.

Portanto, a inserção e a participação de mulheres no tráfico de drogas são, de formas diversas, influenciadas pela relação estabelecida com homens na atividade. Ao lado de dificuldades financeiras e da falta de oportunidades em um mercado lícito de trabalho, o envolvimento emocional com homens (amantes, maridos, namorados, filhos e pais) é mencionado como um dos maiores motivadores para o desenvolvimento de atividades ilegais por parte das mulheres (Gay, 2005; Gilfus, 1992).

Provavelmente pelo atestado papel dos homens na iniciação criminosa de mulheres, há ainda pouco interesse acadêmico acerca da criminalidade feminina e das especificidades da inserção e da participação de mulheres em atividades criminosas. Apesar do crescente aumento da participação feminina no tráfico de drogas no Brasil, por exemplo, as mulheres traficantes permanecem invisíveis, tendo suas particularidades apagadas em função do papel primordial desempenhando pelos homens em suas "trajetórias criminosas".

O objetivo do presente artigo é, através da experiência de mulheres diretamente envolvidas no tráfico de drogas em favelas do Rio de Janeiro, entender de que forma elas constroem as suas identidades a partir da vivência de invisibilidade que marca suas vidas. Invisíveis socialmente pela sua posição econômica, de classe e de cor, elas constroem suas identidades criminosas como forma resistência a sua posição marginalizada e, principalmente, contra a própria invisibilidade das mulheres no tráfico de drogas. A investigação proposta focará nas maneiras particulares como as mulheres traficantes se apropriam e resistem a discursos hegemônicos acerca do feminino, na tentativa de se aproximarem dos homens e do poder usualmente associado a eles, através do exercício da força e da dominação daqueles ao seu redor.

Algumas questões que norteiam a análise dos dados coletados são: de que forma a participação no tráfico de drogas concede às entrevistadas uma forma de visibilidade não associada usualmente às mulheres? Quais as estratégias discursivas adotadas pelas entrevistadas para se distanciarem das outras mulheres ao seu redor, especialmente através da menção à participação no tráfico de drogas? O foco da análise, portanto, será no processo de construção de uma certa visibilidade feminina, adquirida através do desempenho da incorporação de atividades e comportamentos masculinos.

 

Método

O presente trabalho baseia-se em estudos de casos delineados a partir de entrevistas em profundidade. Tais estudos têm como objetivo descrever a trajetória de vida de duas mulheres envolvidas no tráfico de drogas em favelas cariocas, especialmente no que se refere à construção de suas identidades através da afirmação do poder e de status tradicionalmente associado aos homens criminosos. A escolha por estudos de caso baseia-se primordialmente pela possibilidade desse delineamento em acessar a profundidade e a complexidade dos casos estudados (Stake, 2003).

As participantes entrevistadas têm longas histórias de participação na rede do tráfico de drogas em uma das maiores favelas do Rio de Janeiro. As duas expressam grande orgulho das suas trajetórias criminosas, especialmente quando enfatizam o caráter não usual delas. Ambas estavam, na ocasião das entrevistas, afastadas do tráfico de drogas, se identificando, portanto, como "ex-traficantes".

Participantes2

Denise tem 30 anos de idade, é negra e tem uma história de participação de 15 anos na rede do tráfico de drogas. Ela tem três filhas e é casada com um homem que se encontrava encarcerado por essa mesma atividade criminosa. Somado ao já não usual caráter da sua história como traficante, Denise representa um caso excepcional dentro da própria atividade, uma vez que ocupou um cargo particularmente prestigioso como traficante. Ela foi "gerente" de uma boca-de-fumo em sua comunidade, responsável por todos os produtos ali vendidos e por todos os empregados trabalhando no local. Esse é um cargo tradicionalmente ocupado por homens e Denise orgulha-se de ter sido das poucas mulheres a adquirir tamanho status na rede do tráfico de drogas. Seu discurso evidencia, em diversos momentos, a consciência que Denise tem da não tipicidade de sua trajetória.

Vanessa tem 26 anos, é mulata e trabalhou na rede do tráfico de drogas por 8 anos. Ao descrever sua atuação como traficante, ela acentua sua distância em relação a outras mulheres traficantes, principalmente por não ter se envolvido na atividade a partir de relações afetivas com "bandidos" e por jamais ter temido tomar parte em ações arriscadas no exercício da função de traficante, tais como entrar em confronto armado com a polícia ou com facções criminosas rivais.

Entrevistas

As entrevistas abertas e em profundidade aconteceram na sede de uma organização não-governamental (ONG) na qual as duas participantes trabalhavam à época da coleta de dados. A organização funciona na favela em que Denise e Vanessa moravam e seu objetivo é o desenvolvimento de ações culturais e educacionais em espaços populares, principalmente como estratégia de enfrentamento ao grande atrativo representado pelo tráfico de drogas aos jovens nesses espaços. As duas participantes ingressarem na ONG após terem abandonado o tráfico de drogas e auxiliam a equipe da organização com as atividades realizadas com jovens ainda na rede do tráfico. Suas histórias passadas como traficantes e o acesso privilegiado a pessoas ainda trabalhando na atividade fazem de Denise e Vanessa colaboradoras fundamentais nos trabalhos da referida ONG.

Foram realizadas duas entrevistas em profundidade com cada uma das participantes. Esse tipo de entrevista forneceu o tipo de dados necessários para a análise discursiva proposta neste trabalho. O caráter aberto das entrevistas encorajou a produção de relatos mais espontâneos por parte das participantes, uma vez que o processo não foi constrangido por uma estrutura pré-estabelecida de perguntas fixas (Fontana e Frey, 1994). As duas participantes foram escolhidas por representarem casos peculiares, uma vez que participaram por longo período de tempo da rede do tráfico de drogas e assumiram cargos de prestígio na atividade.

Cada entrevista -cujo foco foi a história de vida das participantes -durou cerca de duas horas. O objetivo era entender, a partir da perspectiva das entrevistadas, quais os elementos familiares, culturais, sociais e econômicos que influenciaram a decisão dessas mulheres de ingressar na rede do tráfico de drogas. Portanto, perguntas sobre a constituição e a dinâmica familiar, sobre a vida afetiva e amorosa, sobre a trajetória educacional e profissional compuseram as entrevistas. O envolvimento no tráfico de drogas, com uma descrição detalhada dos papéis por elas desempenhados na atividade, surgiu naturalmente no depoimento das entrevistadas. Seja porque elas sabiam do interesse da entrevistadora pelas suas histórias como traficantes, seja porque tais histórias, de fato, estão no centro do processo de construção de suas identidades, a "trajetória criminosa" foi descrita por ambas sem que o tema tivesse que ser explicitamente introduzido nas entrevistas.

Análise dos dados

Os dados coletados foram analisados a partir de uma perspectiva discursiva sistêmica (Falmagne, 2004), que considerou os micro e macro elementos envolvidos no processo de construção da identidade das duas entrevistadas no presente estudo. Em nível macro, foram analisados os discursos mais frequentemente apropriados pelas entrevistadas na construção de suas trajetórias. Nesse nível, as identidades são consideradas como o resultado da apropriação e da resistência a discursos hegemônicos. Teorizando acerca do poder constitutivo de discursos culturais, Wetherell (1998) aponta para o fato de que sujeitos são construídos por discursos que se sedimentam na forma de linhas habituais de argumentação, ou "repertórios interpretativos".

De fundamental relevância para o entendimento da construção das identidades das participantes é a investigação da forma como elas se apropriam de discursos acerca do feminino e do masculino, especialmente na delimitação recorrente da diferenciação com outras mulheres ao seu redor. Em outras palavras, o discurso das entrevistadas reflete, de maneiras diversas, a forma como as participantes exercem o poder primordialmente sobre outras mulheres, legitimando tal poder como propriedade masculina. Ao se afirmarem como traficantes, Denise e Vanessa se aproximam dos homens (e de todos os benefícios que lhes são exclusivos) e se distanciam de mulheres desprovidas desse poder.

Ao nível micro, o entendimento do discurso das participantes deve se dar a partir da análise das especificidades de suas histórias familiares, sociais e econômicas. É em nível micro -através da adoção de estratégias retóricas específicas -que observamos a resistência e a transformação de discursos hegemônicos. Acerca da relevância do indivíduo e de seus recursos pessoais na constituição de subjetividades, Chodorow (1995) afirma que devemos considerar a forma como discursos culturais são individualmente "animados" por pessoas concretas, a partir das suas histórias, dos seus medos e desejos. Dessa forma, conteúdos sociais e culturais são dotados de individualidade e singularidade a partir das experiências pessoais daqueles que deles se apropriam de tais conteúdos.

Portanto, a análise sistêmica aqui proposta assume que as identidades são simultaneamente constituídas por discursos culturais hegemônicos e estratégias individuais de apropriação e resistência a esses discursos. Os trechos de discurso analisados no presente trabalho evidenciarão, portanto, as linhas habituais de argumentação e as transgressões ou os contradiscursos construídos a partir da singularidade das duas participantes entrevistadas.

 

Resultados

Nesta seção, os dados serão analisados a partir da perspectiva sistêmica descrita acima. Serão reproduzidos e interpretados trechos de discursos em que Denise e Vanessa discorrem sobre as suas trajetórias criminosas, utilizando tal acontecimento (e suas especificidades) como estratégia para a saída da invisibilidade feminina. Os trechos selecionados refletem as tentativas das participantes de estabelecerem a distância entre elas e outras mulheres ao seu redor. Como dito anteriormente, é através dessa diferenciação que as duas se tornam -ainda que temporariamente -visíveis como mulheres em suas favelas.

Ser reconhecida como bandida

Nos trechos a seguir, Denise e Vanessa se referem ao poder adquirido ao serem reconhecidas como mulheres traficantes por pessoas de suas comunidades, especialmente por outras mulheres. Ao ser perguntada sobre as vantagens experimentadas através da participação na rede do tráfico de drogas -o que talvez justificasse a longa história de permanência das entrevistadas na atividade -Vanessa responde:

Eu também gostava do respeito, tudo. Pô, eu chegava, era legal assim eu ir no baile aí, caramba, o baile cheião, um montão de vagabunda andando e eu lá no meio. Caraca, todo mundo parava pra olhar (risos da entrevistadora). Caraca, aí só ouvia cochichando: "caraca, olha aquela garota.

Ser respeitada e temida é central nos depoimentos de Vanessa. No trecho acima ela estabelece a distância em relação a outras me-ninas/mulheres, fazendo uso de um termo pejorativo para se referir a elas (vagabundas). As outras mulheres invejavam a posição de Vanessa como traficante, especialmente quando ela ostentava o poder que sua função lhe conferia. A surpresa e a inveja de outras meninas se deviam especificamente ao fato de Vanessa chegar aos bailes portando um fuzil. Em sua demonstração pública de poder, é acerca da reação das mulheres que Vanessa discorre; é como se o reconhecimento do seu status por outras mulheres tivesse, para a participante, um valor especial.

Vanessa equaciona medo e respeito repetidas vezes em seu discurso. Tal como descrito pela literatura, a invisibilidade social de determinados grupos é temporariamente remediada através da capacidade desses grupos de causar medo em outros. Vanessa fala com orgulho do temor que causava àqueles ao seu redor:

Todo mundo que me batia antigamente não olhava nem pra minha cara. Passava por mim assim de cabeça baixa. Sabe, tu vê quando as pessoas sente medo de você, tá com medo de você. Então aquilo foi me fortalecendo cada vez mais. Ai ficava, 'tá vendo, isso é o respeito'.

Após discorrer sobre as atividades exercidas como "gerente" em uma boca-de-fumo na favela, Denise relata os sentimentos atrelados a ser reconhecida como bandida. Uma vez mais o poder como traficante parece ser exercido de forma relativa, especialmente subjugando outras mulheres:

Me sentia superior. Todas tinham que ser submissas a mim [...] era ótimo ter o controle de tudo. Assim, eu nunca nasci pra ser liderada, eu tenho isso em mim. Eu sempre nasci pra ser líder.

Embora Denise aponte para uma suposta essência para a liderança (não usual nos discursos acerca do feminino), é fundamental notarmos que o poder de gerente era exercido primordialmente sobre as mulheres sob seu comando. Mesmo que responsável por todos trabalhando em seu ponto de venda -homens e mulheres -Denise inclui apenas as mulheres no grupo das pessoas submissas a ela ("todas tinham que ser submissas a mim"). O poder como traficante parece ser exercido dentro dos limites sociais que estabelecem a força e comando como prerrogativas masculinas. Segundo esses discursos, a mulher percebe a possibilidade do exercício da força somente sobre aqueles considerados mais vulneráveis (crianças e mulheres), no que Saffioti (1989) descreve como a "síndrome do pequeno poder".

As duas participantes, para enfatizarem a sua visibilidade como traficantes, subjugam e submetem outras mulheres ao seu poder. Através do conceito de opressão internalizada, Yamato (1995) nos fala do processo através do qual grupos socialmente marginalizados reagem à opressão sofrida oprimindo pessoas ou grupos percebidos como mais vulneráveis. Nesse sentido, diminuir outras mulheres potencialmente remove Denise e Vanessa da posição de tradicional submissão a que mulheres (especialmente mulheres pobres, negras e moradoras de favelas) são expostas.

Ser uma mulher diferente

Nos trechos reproduzidos nesta seção, as participantes se referem ao caráter pouco usual das atividades por elas desempenhadas como traficantes. Com orgulho, Denise e Vanessa falam do reconhecimento de sua ousadia e coragem, especialmente pelos homens traficantes. É se aliando aos homens, desempenhando funções masculinas e sendo pelos eles reconhecidas como "mulheres diferentes" que as participantes destacam-se em meio a outras mulheres. Portanto, seu poder não é somente garantido pelo exercício de tarefas reconhecidas como masculinas -pelo grau de violência que envolviam -, mas principalmente pela legitimação dos homens de tal poder. Além da inveja causada em outras mulheres, a participação no tráfico de drogas é descrita como causadora de admiração por parte dos homens.

Quando perguntada sobre outras mulheres na rede do tráfico de drogas, Vanessa discorre sobre a particularidade da sua atuação na atividade:

Eu achava diferente uma mulher - a gente praticamente não via nenhuma mulher no tráfico. Aí os garotos também já gostava. [...] da forma que eu trabalhei no tráfico, eu só conheci mais uma menina.

No trecho a seguir, ela explica o que diferenciava ela de outras mulheres envolvidas no tráfico, usualmente desempenhando funções consideradas de pouco prestígio, como a venda de drogas nas bocas-de-fumo.

[onde] os garotos estavam, eu tava. Andava armado, dava tiro, trocava tiro. Tudo com eles e eu fazia ali, entendeu? Sem- não ficava ali igual a elas, só sentada vendendo. [...] como se eu fosse um soldado mesmo, entendeu, do tráfico.

Nas suas duas entrevistas, Vanessa enfatiza a coragem e o destemor com que sempre assumiu as funções de traficantes. Como um homem, "como um deles", ela não limitava a sua atuação à venda de drogas. A identificação com os homens fica evidente acima, quando Vanessa simultaneamente se afasta das mulheres ("não ficava ali, igual a elas") e usa termos masculinos para se referir a sua própria atuação (andava armado como um soldado). Apropriando-se de um discurso hegemônico que define o masculino como a oposição ao feminino (Torrão Filho, 2005), ela constrói a sua identidade simultaneamente por afastamento das atividades femininas e por aproximação do "mundo dos homens", caracterizado pela expressão da coragem e da força física.

Ao ser questionada sobre a situação atual da rede do tráfico de drogas, especialmente no que diz respeito à participação feminina, Denise constrói um relato que define a sua participação na atividade como única, como um divisor de águas no reconhecimento de mulheres traficantes. O trecho tem um tom de hipérbole, de intensa valorização da forma como ela atuara na rede do tráfico.

Com a minha saída, com a minha recuada, ficaram poucas mulheres. Porque assim, eu além de ser mulher envolvida com o tráfico, eu fazia missões impossíveis. [...] Outras mulheres que ficaram não faziam o que eu fazia. Foi por isso mesmo que o dono me concedeu essa oportunidade de me dar um preço na boca de fumo.

Uma vez mais, Denise se afasta de outras mulheres ao enfatizar sua aproximação dos homens traficantes. Sua participação fora tão relevante que o "dono" lhe concedera a oportunidade de trabalhar como gerente no ponto de venda sob sua responsabilidade. "Dono" é o traficante que manda em todas as bocas-de-fumo de uma favela; é ele quem designa seus comparsas, os gerentes dos produtos nos pontos de venda. E Denise, pela confiança adquirida como traficante, recebeu do "dono" a incumbência de gerenciar um dos pontos sob seu comando. Assim como Denise, Vanessa também atribui a sua ascendência no tráfico de drogas à confiança que inspirava nos "donos" do negócio. Portanto, a confiança garantira às duas o distanciamento de outras mulheres traficantes ("que ficavam só vendendo drogas no varejo") e a visibilidade como boas traficantes. Vanessa, nos trechos abaixo, reforça o poder conquistado através do seu trabalho diferenciado, marcado pelo desempenho de todas as atividades arriscadas nas quais os homens tomavam parte.

No trecho a seguir, Vanessa reproduz o diálogo do "dono" da boca-de-fumo com outras mulheres traficantes que se queixavam do poder adquirido por ela:

Ela tá aqui porque ela merece. Você não tem porque tu corre.

A coragem de Vanessa, de agir como os homens, não "correndo" dos embates travados com a polícia ou com grupos rivais, garante a sua ascendência. Novamente, quem concede a Vanessa o poder exercido sobre outras mulheres é um homem. Nesse caso, não somente a identificação com tarefas e comportamentos masculinos concede o poder às participantes, como são os homens que concretamente concedem o status diferenciado a certas mulheres traficantes.

 

Discussão

As análises e as discussões propostas no presente artigo representam uma tentativa de ampliação do entendimento acerca do fenômeno da criminalidade feminina, especialmente do crescente aumento de mulheres no tráfico de drogas das grandes capitais brasileiras. Desconstruindo a centralidade do fator econômico como determinante nas trajetórias criminosas femininas, o foco das análises recai sobre o papel do poder e do status adquirido pelas mulheres traficantes.

Como anteriormente mencionado, tal perspectiva, informada pelos estudos de gênero, entende como fundamental para a compreensão da criminalidade feminina a consideração do papel subordinado ocupado por mulheres em uma sociedade patriarcal, em que o poder é reconhecido como propriedade do homem. É nesse contexto que ocupar o lugar de homens em uma atividade reconhecida como masculina como o tráfico de drogas concede à mulher a possibilidade de saída (transitória e relativa) da invisibilidade característica de suas trajetórias. Dessa afirmação não decorre, no entanto, a suposição de que as mulheres traficantes, por adentrarem em um espaço antes reservado aos homens, transgridam a hierarquia característica do sistema social de gênero. Como descrito pela literatura e ilustrado pelos presentes dados, a dinâmica do tráfico de drogas reproduz, em sua estrutura interna e em sua divisão do trabalho, o sistema de gênero patriarcal vigente na sociedade mais ampla. Portanto, ter sido traficante e, principalmente, ter o reconhecimento externo dessa participação concede às mulheres entrevistadas poder e status, porém dentro dos limites socialmente legitimados ao exercício do poder feminino.

Se o argumento central do presente trabalho é que a entrada no tráfico de drogas conferira às participantes o poder e o status tradicionalmente associados aos homens, faz-se necessárias algumas palavras acerca da saída dessas mulheres da atividade. Denise e Vanessa, à época das entrevistas, não mais faziam parte da atividade, identificando-se ambas como ex-traficantes. As duas relatam terem abandonado o tráfico de drogas após terem sido vítimas de abordagens extremamente violentas por parte da polícia. O medo pela sua integridade e pela segurança de suas famílias é apontado pelas duas como o motivador da saída da atividade. Portanto, a distância professada em relação a outras mulheres é definida pelas duas participantes em retrospecto, fazendo referência à atividade passada como traficantes e ao ainda reconhecimento das pessoas ao redor desse papel então desempenhado por elas.

A saída da atividade representou para as duas participantes uma volta à esfera doméstica do lar, do cuidado com a casa, com os filhos e os pais. Numa clara renúncia ao "poder masculino" e à consequente visibilidade adquirida como mulheres especiais, Denise e Vanessa retomam atividades típicas do universo feminino. O discurso das duas reflete, em vários momentos, o dilema entre ser uma mulher recuperada, reformada, porém invisível na comunidade e o desejo de reviver o prazer experimentado no passado como traficante, distanciando-se novamente das mulheres ao seu redor.

 

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Submetido: 30/06/2011
Aceito: 01/03/2012

 

 

1 Bocas-de-fumo são pontos reconhecidos de venda de drogas nas favelas.
2 Os nomes das participantes são fictícios.