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Revista do NUFEN

versão On-line ISSN 2175-2591

Rev. NUFEN vol.16  Belém  2024  Epub 22-Nov-2024

https://doi.org/10.26823/rnufen.v16i01.24396 

REVISÃO

Entre muros e wi-fi: uma revisão sobre clínica online e gestalt-terapia

Between walls and wi-fi: a review on online clinic and gestalt-therapy

Entre paredes y wi-fi: una revisión sobre la clínica online y la terapia

Caroline Pereira da Silva1 

Psicóloga; Pós-graduada Lato Sensu em Psicologia Clínica pela UNEB


http://orcid.org/0000-0002-2140-4990

José Bonifácio do Amparo Sobrinho2 

Mestrado em Psicologia Social e do Trabalho pelo Programa de Pós-Graduação em Psicologia da Universidade Federal da Bahia. Formação em Gestalt-Terapia pelo Instituto de Gestalt-Terapia da Bahia (IGTBA)


http://orcid.org/0000-0001-8718-1593

1Gestalt-terapeuta em formação pela Comunidade Gestáltica da Bahia

2Professor Substituto de Psicologia e da Pós-Graduação na UNEB. Pesquisador e fundador do Centro de Estudos e Pesquisas em Ciências do Comportamento (CEPECC).


RESUMO

Este artigo é uma revisão narrativa de literatura com o objetivo investigar o que produções científicas brasileiras têm apresentado sobre desafios e potencialidades na atuação de gestalt-terapeutas no manejo clínico online entre 2020 e 2022, período crítico de pandemia da Covid-19. A revisão foi feita em fevereiro de 2022, nas bases de dados Capes, Scielo, Pepsic e Google acadêmico, na busca por livros, artigos, teses e dissertações. Como critério de inclusão, foram consideradas apenas publicações em português-Brasil, disponibilizadas na íntegra, que abordam a clínica online e Gestalt-terapia, no período dos dois anos. Como critério de exclusão, foram desconsiderados estudos em outros idiomas, publicados antes da pandemia da Covid-19, e que fogem do tema Clínica Online e da abordagem teórica pesquisada. A partir do método de análise de conteúdo de Bardin, foram identificadas quatro categorias de análise, a saber: 1) Panorama social, pandemia e clínica online; 2) Manejo clínico gestáltico online: desafios e potencialidades; 3) Relação terapêutica em gestalt-terapia no setting online; 4) Clínica gestáltica online e demandas contemporâneas. Os resultados apontam para a relevância da clínica online como importante ferramenta de cuidado em saúde mental. Reitera-se a necessidade de adequação da formação de psicólogas, com capacitação especializada e atenção à inclusão do estudo das facetas da psicologia clínica online para aperfeiçoamento dos serviços. Nota-se a escassez de produção científica sobre a temática, e urgência de estudos especificamente no campo da Gestalt-terapia, ampliando o acervo acadêmico.

Palavras-chave: Clínica online; Atendimento online; Gestalt-terapia; Pandemia Covid-19

ABSTRACT

This article is a narrative literature review with the aim of investigating what Brazilian scientific productions have presented about challenges and potential in the work of gestalt therapists in online clinical management between 2020 and 2022, a critical period of the Covid-19 pandemic. The review was carried out in February 2022, in the Capes, Scielo, Pepsic and Google academic databases, in the search for books, articles, theses and dissertations. As an inclusion criterion, only publications in Portuguese-Brazil, available in full, which address the online clinic and Gestalt therapy, over the two-year period, were considered. As an exclusion criterion, studies in other languages, published before the Covid-19 pandemic, and which deviate from the Online Clinic theme and the theoretical approach researched were disregarded. Using Bardin’s content analysis method, four categories of analysis were identified, namely: 1) Social panorama, pandemic and online clinic; 2) Online Gestalt clinical management: challenges and potential; 3) Therapeutic relationship in gestalt therapy in the online setting; 4) Online Gestalt clinic and contemporary demands. The results point to the relevance of the online clinic as an important mental health care tool. The need to adapt the training of psychologists is reiterated, with specialized training and attention to the inclusion of the study of the facets of online clinical psychology to improve services. There is a lack of scientific production on the subject, and the urgency of studies specifically in the field of Gestalt therapy, expanding the academic collection.

Keywords: Online clinic; Online service; Gestalt therapy; Covid-19 pandemic

RESUMEN

Este artículo es una revisión narrativa de la literatura con el objetivo de investigar lo que las producciones científicas brasileñas han presentado sobre los desafíos y potencialidades del trabajo de los terapeutas gestálticos en la gestión clínica en línea entre 2020 y 2022, período crítico de la pandemia de Covid-19. La revisión se realizó en febrero de 2022, en las bases de datos académicas Capes, Scielo, Pepsic y Google, en la búsqueda de libros, artículos, tesis y disertaciones. Como criterio de inclusión, fueron consideradas únicamente publicaciones en portugués-brasileño, disponibles íntegramente, que aborden la clínica online y la terapia Gestalt, en el período de dos años. Como criterio de exclusión, fueron excluidos los estudios en otros idiomas, publicados antes de la pandemia de Covid-19, y que se desvíen de la temática de la Clínica Online y del abordaje teórico investigado. Utilizando el método de análisis de contenido de Bardin, se identificaron cuatro categorías de análisis, a saber: 1) Panorama social, pandemia y clínica en línea; 2) Gestión clínica Gestalt online: desafíos y potencialidades; 3) Relación terapéutica en terapia gestalt en el ámbito online; 4) Clínica Gestalt online y demandas contemporáneas. Los resultados apuntan a la relevancia de la clínica online como una importante herramienta de atención de la salud mental. Se reitera la necesidad de adaptar la formación de los psicólogos, con formación especializada y atención a la inclusión del estudio de las facetas de la psicología clínica online para mejorar los servicios. Existe una falta de producción científica sobre el tema, y la urgencia de estudios específicamente en el campo de la terapia Gestalt, ampliando el acervo académico.

Palabras-clave: Clínica en línea; Servicio en línea; terapia gestalt; Pandemia de COVID-19

INTRODUÇÃO

A pandemia da Covid-19 pode ser considerada um dos maiores acontecimentos da história da humanidade dos últimos tempos. Três anos após alerta de pandemia, em maio de 2023, a OMS (Organização Mundial de Saúde) declarou o fim da Emergência de Saúde Pública de Importância Internacional (ESPII), onde a pandemia da Covid-19 já não se configura como emergência sanitária global (OPAS, 2023). Isso se deu após o Comitê de Emergência analisar periodicamente o cenário epidemiológico ao longo dos anos e destacar a queda de mortes por Covid-19, declínio de hospitalizações e internações, bem como altos níveis de imunização da população com o avanço científico e vacinação (OPAS, 2023). Entretanto, o fim da emergência global não anula os riscos e ameaças da doença à saúde. Impactos gerados e avanços até aqui não podem ser desperdiçados, sendo a fase crítica da pandemia uma história recente que necessita ser relembrada e elaborada.

Em janeiro de 2020, a OMS anunciou a existência de uma nova doença conhecida como Covid-19, sinalizando uma circunstância emergencial na saúde pública em âmbito internacional. Em março do mesmo ano, a OMS declarou pandemia após avaliar o estado alarmante de contaminação causado pelo novo coronavírus (Sars-Cov-2), que rapidamente se espalhou pelo mundo, ocasionando sobrecarga nos serviços de saúde e escassez de recursos na área da saúde para o cuidado das pessoas infectadas (OMS, 2020). Com isso, mudanças súbitas ocorreram na dinâmica social, sendo compartilhadas preocupações, medos e incertezas, diante da realidade que se apresentava, atravessada por riscos de adoecimento e morte por um vírus invisível e pouco conhecido. Medidas de prevenção e proteção à saúde foram tomadas pelas autoridades, orientações sobre cuidados higiênicos, distanciamento social, quarentena, lockdown e isolamento tornaram-se parte do cotidiano social do cenário mundial.

Além do agravamento na saúde física e perda de tantas vidas em decorrência do vírus, a pandemia gerou graves consequências socioeconômicas (OPAS, 2021). Frente à crise sanitária e política, populações em situação de maior vulnerabilidade social sofreram e ainda sofrem com o aumento da fome, pobreza, desemprego e outras iniquidades que atravessam o processo de saúde e adoecimento dos grupos. Paralelo a isso, dados da OMS indicam o aumento no número de casos de violência doméstica, incluindo maus tratos contra crianças, idosas(os), e violência contra mulheres por parceiros íntimos (OMS, 2020). Conforme ressalta Costa (2021), pensando na pandemia da Covid-19 como uma tragédia humanitária, as tragédias são sempre socialmente desiguais, pois descortinam e intensificam desigualdades já existentes e historicamente construídas.

Não há como negar os impactos devastadores da pandemia sobre a saúde mental e bem-estar das coletividades. Cada pessoa em sua complexidade, a partir de seu lugar, sentiu repercussões psicoemocionais e sócio-políticas nesse contexto. A Organização Pan-Americana da Saúde (OPAS) destacou implicações da pandemia sobre a saúde mental das populações das Américas, sinalizando aumento dos níveis de sintomas de ansiedade, depressão, estresse e aumento das psicopatologias em geral, assim como a falta de acesso aos serviços de saúde mental (OPAS, 2021). Aspectos da vida social na pandemia refletiram na saúde mental coletiva e, portanto, na prática clínica em psicologia, sendo o atendimento online uma expressão de aproximação da clínica às necessidades das pessoas e sociedade. Conforme sinaliza Ribeiro (1997), somos seres de forças bio, psico, sócio-espirituais inseridas(os) numa realidade que é mais ampla do que a percepção que temos dela, de forma que nossas necessidades são determinantes das experiências individuais e grupais. A expansão do atendimento online é a expressão disso, afinal, diante da impossibilidade de atendimentos presenciais frente às medidas de segurança e isolamento, a prática clínica online se apresentou, como sugere Costa (2021, p. 13), “como maneira de existir em tempos de pandemia”.

Contudo, apesar da emancipação da utilização durante a pandemia, o atendimento psicológico por meio de TIC (Tecnologias de Informação e Comunicação) já era possível a partir da Resolução CFP Nº 11/2018, que dispõe sobre a prestação de serviços psicológicos por meio de TIC. Vale ressaltar que, apesar da Resolução ser recente, esse assunto já era pauta no Sistema de Conselhos de Psicologia desde a década de 1990. As Resoluções CFP Nº 02/1995, CFP Nº 03/2000, CFP Nº 12/2005 e CFP Nº 11/2012 antecedem a Resolução CFP Nº 11/2018, que é resultado da construção histórica de normativas a respeito deste tema, e da mudança de paradigma em relação à prestação dos serviços de Psicologia mediados pelas TIC. Na Resolução CFP N° 011/2012, a prestação de serviços era vinculada a existência de website cadastrado, sendo revogada sob a regra de que as(os) profissionais da Psicologia seriam, destarte, responsáveis pela adequação e pertinência dos métodos prestados no trabalho mediado pelas TIC (CFP, 2018).

Segundo o Conselho Federal de Psicologia (CFP, 2020), na pandemia da Covid-19 houve um aumento considerável de pedidos da categoria para cadastramento e inscrições na Plataforma E-PSI: site oficial do CFP em consonância com o Sistema Conselhos de Psicologia, que lista e cadastra psicólogas(os) que queiram prestar serviços por meio das TIC. Além disso, a Plataforma E-PSI possibilita que pessoas interessadas(os) nos serviços encontrem profissionais autorizadas(os) e habilitadas(os) em várias áreas de atuação. O CFP adotou medidas a fim de facilitar o cadastramento de profissionais na E-PSI e nortear a atuação profissional no atendimento online. Uma dessas medidas foi a Resolução CFP Nº 04/2020, que dispõe sobre regulamentação de serviços psicológicos prestados por meio das TIC durante a pandemia da Covid-19. A nova resolução suspende algumas normativas da resolução anterior e reforça para o exercício profissional remoto o cumprimento do Código de Ética Profissional da categoria, bem como cadastro na plataforma E-PSI e regularidade junto aos Conselhos Regionais.

Estas transformações ocorridas do início da pandemia até aqui, no campo da Psicologia enquanto ciência e profissão, revelam a necessidade de novos ajustamentos na atuação clínica frente às necessidades contemporâneas, do mesmo modo que demanda produções científicas que aprofundem sobre atendimento online. A abordagem gestáltica, enquanto teoria e prática, oferece arcabouço para uma análise crítica e cuidadosa dessa realidade que vem se transformando. É uma abordagem atenta ao momento presente e com respeito à história, e enxerga o Ser fenomenológico em sua totalidade buscando contribuir com o processo de auto suporte, desenvolvendo o potencial que é intrínseco ao ser humano, de se autorregular, existir e experimentar novas formas de sentir e dar sentido à própria vida (Perls et al., 1977).

Com a escolha desse olhar, a clínica gestáltica é entendida enquanto modalidade psicoterapêutica interessada na aproximação das experiências e da natureza das relações de contato das pessoas consigo e com o mundo (Ribeiro, 1997). Dito isto, este trabalho lança luz sobre as práticas de profissionais de psicologia que se utilizam dos pressupostos da Gestalt-terapia, desenvolvida por Perls, Hefferline e Goodman (1997), neste contexto de reconfigurações de ordens diversas. Entende-se aqui o fazer clínico psicoterápico em sua potência ético-política e afetiva, apostando no desenvolver de um pensamento crítico, reflexivo e contextualizado que a prática clínica cotidianamente demanda. Posto isso, e levando em consideração a emergência de produção científica sobre a temática, este trabalho tem como objetivo investigar o que estudos têm apresentado sobre desafios e potencialidades na atuação de gestalt-terapeutas no manejo clínico online. Com isso, busca mapear e examinar as diferentes produções científicas em gestalt-terapia e manejo clínico online entre 2020 e 2022, ano de sua produção.

MÉTODO

Este estudo, de caráter qualitativo e exploratório, trata-se de uma revisão narrativa da literatura, a partir do levantamento bibliográfico, na intenção de reunir resultados de pesquisas em torno do manejo em gestalt-terapia na clínica online no período da pandemia da Covid-19. A escolha desta estratégia metodológica justifica-se por ser útil para o acesso ao estado da arte de uma temática muito recente e ainda pouco explorada. Esta estratégia permite mapear dados de literatura teórica e empírica, abrangendo estudos experimentais e não-experimentais, possibilitando o acesso a um panorama compreensível sobre o assunto (Souza, Silva & Carvalho, 2010).

Após definição do tema, pergunta de pesquisa e objetivos norteadores, foi feita a revisão nas bases de dados Capes, Scielo, Pepsic e Google Acadêmico, na busca de livros, artigos, teses e dissertações nacionais publicadas entre 2020 e 2022, que abordam a clínica online e o manejo em gestalt-terapia, conforme apresentado na Figura 1. Foram utilizados como descritores os termos: gestalt-terapia; online; gestalt online, que foram combinados ao operador booleano AND e OR na plataforma Pepsic. Na plataforma Capes, os termos foram combinados aos filtros: grande área do conhecimento - Ciências humanas; área do conhecimento - Psicologia. Na plataforma Scielo, os termos foram combinados ao filtro: Áreas Temáticas -Ciências Humanas; Psicologia.

Fonte: Elaborado pelos autores

Figura 1 Fluxograma do processo de seleção para revisão narrativa. 

Como critério de inclusão, foram considerados apenas artigos, teses e dissertações nacionais, escritos em português-Brasil, disponibilizados na íntegra, que abordam a clínica online e a Gestalt-terapia, no período de dois anos (2020-2022). O período de busca nas bases de dados (Capes, Scielo, Pepsic e Google Acadêmico) foi feito em fevereiro de 2022, na cidade de Salvador-BA. A escolha do recorte temporal de 2020 a 2022, se justifica pelo momento histórico de pandemia da Covid-19, onde a clínica online se expandiu e foi popularizada. Busca-se, com a revisão narrativa de literatura, a aproximação com esta modalidade de atendimento psicológico. Como critério de exclusão, foram desconsiderados estudos em outros idiomas, publicados antes da pandemia da Covid-19, e que fogem do tema Clínica Online e da abordagem teórica pesquisada. Os dados foram analisados com base no método de análise de conteúdo de Bardin (1991), a partir de identificação e, posteriormente, discussão de eixos temáticos. Na intenção de organizar os estudos encontrados, foi construída a Tabela 1 do processo de coleta, seleção e triagem das publicações.

Tabela 1 Estudos selecionados sobre Gestalt-terapia e Clínica Online 

1 A Psicoterapia “online” em Gestalt-Terapia: Vantagens e desvantagens Severino, A. K. F. 2021 Google Acadêmico 30
2 O Corpo do Terapeuta no Atendimento Online: afetos produzidos na experiência clínica Costa, C. M. A. da. 2021 Capes 65
3 Psicoterapia dialógica gestáltica como mecanismo de sobrevivência em tempos de pandemia Morais, J. K. R. de; Almeida, J. M. T. de. 2021 Google Acadêmico 36
4 Transtorno de ansiedade na perspectiva de gestalt-terapeutas na pandemia Cruz, C. N. da; Primo, D. D. A. 2021 Google Acadêmico 34
5 IGT na Pandemia da COVID-19: Apoio psicológico on-line em grupos abertos Alves et al. 2020 Pepsic 23
6 Covid-19 e a Gestalt-terapia diante de um mundo impraticável Bocardi, D. de Oliveira. 2020 Google Acadêmico 13

Fonte: Elaborado pelos autores

RESULTADOS E DISCUSSÃO

A partir da leitura dos títulos, resumos e palavras-chave, foram selecionados 27 estudos, sendo 06 dissertações e 21 artigos. Dentre os 27 documentos, 21 foram excluídos da amostra, devido a falta de embasamento específico na Gestalt-terapia (n=19) ou por não tratar do campo de atuação online (n=2). Apenas 6 ocupam-se da gestalt-terapia na clínica online, sendo 1 dissertação e 5 artigos, indicando a escassez de produção científica sobre atendimento online dentro da abordagem teórica de enfoque. Logo, foram triados e examinados criteriosamente apenas os seis estudos nacionais, na íntegra, publicados entre 2020 e 2022, que abordam a clínica online e a Gestalt-terapia, apresentados na Tabela 1.

Como indicado na Tabela 1, o estudo de Nº 1 debate vantagens e desvantagens do atendimento psicológico online em gestalt-terapia. A discussão é baseada nos resultados de um questionário aplicado a gestalt-terapeutas que já realizavam atendimento online em 2019, ou seja, antes da pandemia da Covid-19. Já o estudo de Nº 2 é uma dissertação que versa sobre o corpo da(o) terapeuta no setting online, onde por meio de um caso clínico, investiga como os afetos produzidos neste campo atravessam os corpos ali presentes. O estudo de Nº 3 constrói, através de um caso clínico, considerações sobre a relação terapêutica dialógica e a construção de um ambiente online fértil para transformações. O estudo de Nº 4 ocupa-se da relação entre pandemia e ansiedade, descrevendo a compreensão de gestalt-terapeutas sobre o manejo clínico no contexto de pandemia da Covid-19. O estudo de Nº 5 é um relato de experiência, fruto de um trabalho realizado durante a pandemia, de atendimento em grupo online para comunidade. O estudo de Nº 6 busca incitar reflexões sobre a clínica gestáltica frente às experiências de sofrimento no capitalismo, na pandemia da Covid-19, apontando reverberações existenciais e proposições clínicas.

Observa-se que todas as pesquisas selecionadas possuem método qualitativo, sendo que a maioria das pesquisas concordam com a relevância do atendimento psicológico online, confirmando a escassez de produção científica sobre o assunto, e a necessidade de novos estudos sobre o atendimento online na abordagem gestáltica, frente ao crescimento das interações sociais mediadas pelas TIC.

A partir destas produções foram construídas quatro principais categorias temáticas, a saber: 1) Panorama social, pandemia e clínica online; 2) Manejo clínico gestáltico online: desafios e potencialidades; 3) Relação terapêutica em gestalt-terapia no setting online; 4) Clínica gestáltica online e demandas contemporâneas. As categorias analisadas e discutidas a seguir são conteúdos encontrados com frequência considerável nos estudos selecionados, e atendem aos objetivos de mapear e examinar diferentes temáticas sobre as publicações associadas ao manejo clínico online em gestalt-terapia.

PANORAMA SOCIAL, PANDEMIA E CLÍNICA ONLINE

Esta categoria versa sobre os aspectos da vida social que atravessam a saúde coletiva e a prática clínica em psicologia, especificamente, a clínica online gestáltica. O uso da internet, bem como seus recursos, têm crescido e se tornado cada vez mais presente na vida das pessoas: fenômeno intensificado na pandemia da Covid-19. Como aponta Severino (2021), as resoluções do CFP parecem acompanhar esse crescimento facilitando diferentes trocas que antes eram limitadas pela distância, acompanhando as mudanças e necessidades do social.

A partir das análises realizadas, as pesquisas concordam que o atendimento psicológico online foi importante ferramenta de contato na pandemia, sendo uma modalidade de atendimento em saúde mental ideal em contexto de isolamento social. Boa parte das experiências clínicas, na modalidade online relatadas nos estudos, se deram como estratégia de adaptação à realidade da pandemia. É digno de nota que, apesar do estudo Nº 6 discorrer sobre psicologia, gestalt-terapia e pandemia, não apresenta um posicionamento claro sobre a utilização do atendimento online enquanto recurso importante na pandemia. Assinala ser óbvio, em contexto de crise sanitária e política, o reconhecimento da tecnologia e das ciências estarem a favor das necessidades coletivas (Boccardi, 2020).

A impossibilidade de contato presencial instigou psicoterapeutas a se adaptarem ao setting online para ofertar cuidado e suporte à saúde psíquica (Morais & Almeida, 2021). Sugere Costa (2021, p.53) que buscou compreender como o encontro clínico, a relação e os corpos da(o) terapeuta e paciente seriam afetadas no online, enxergando no primeiro momento a clínica online “[...] como única possibilidade de se fazer a clínica e, dentro deste espaço, dar suporte às pessoas em suas próprias questões, como também àquelas que vieram a sofrer justamente em decorrência deste momento histórico”. Alves et al. (2020) sinalizam os efeitos psicoemocionais da pandemia e a eficácia da clínica de grupos na virtualidade, apresentando o projeto “IGT com Você: Acolhimento na Rede” como uma experiência exitosa da modalidade online. Destacam que o atendimento em grupo online propiciou a convivência com as diversidades, favorecendo trocas ricas e desenvolvimento de potencialidades tanto individuais quanto coletivas, o que contribuiu para a construção de redes com a integração de pessoas de diferentes territórios (Alves et al., 2020).

O estudo Nº 4 debate sobre o panorama psicopatológico e de saúde mental da população na pandemia. Segundo Cruz e Primo (2021), houve um aumento na porcentagem dos transtornos mentais no Brasil, aumento dos casos de pessoas que desenvolveram ansiedade, de forma que, aquelas que já experimentaram sintomas de ansiedade comunicaram a percepção do aumento de intensidade. Descrevem ao longo do trabalho o manejo da ansiedade na abordagem gestáltica em tempos de pandemia, a partir da experiência de gestalt-terapeutas atuantes da clínica online. Observaram dificuldades das entrevistadas em fazerem diagnóstico no que se refere ao atendimento de pacientes ansiosos, bem como uma compreensão diagnóstica diversificada sobre sintomatologia e causalidade da ansiedade (Cruz & Primo, 2021). Contudo, sinalizam a necessidade e relevância de educação continuada com cursos e capacitações, para que as gestaltterapeutas possam ofertar atendimentos éticos e de qualidade.

Boccardi (2020), por outro lado, tece críticas e reflexões para pensar a clínica gestáltica articulada ao contexto de pandemia. Provoca que, ao invés de priorizar o debate sobre metodologias psicoterapêuticas, faz-se necessário o resgate das bases teóricas da abordagem gestáltica para analisar o social e as experiências de sofrimento que reverberam no momento histórico presente. Boccardi (2020, p. 9) assinala a importância de reconhecer a legitimidade das repercussões psicoemocionais como a ansiedade, por exemplo, porém, entendendo-as “[...] enquanto ajustamentos criadores e, portanto, respostas possíveis a demandas avassaladoras. Não são simplesmente sintomas. São modos de enfrentamento e de recusa às expectativas por produção e consumo”. Com isso, convoca uma clínica atenta ao campo, pois entende que as raízes dos sofrimentos compartilhados, que aparecem no discurso da pessoa no setting, estão nas injustiças e iniquidades sociais (Boccardi, 2020).

O contexto de pandemia ressoou diretamente no manejo clínico psicológico. Psicóloga(o)s e pacientes experimentaram o contexto de crise sem precedentes ao mesmo tempo, ativando o lembrete de que apesar de não estarmos todas(os) no mesmo barco, vivemos em um só planeta. A pandemia também revelou que saúde mental existe e é dimensão importante na saúde integral das pessoas, escancarando as desigualdades sociais que se intensificaram no contexto, fazendo ecoar uma sociedade já adoecida. O que aparece enquanto sofrimento na clínica, seja ela individual ou de grupos, é reflexo de fatores sociais e históricos, considerando, como apontam Perls, Hefferline e Goodman (1997) que toda a problemática humana é complexa e se dá num campo social-animal-físico. Em outras palavras, não há como tratar do sofrimento humano sem considerar as raízes capitalistas e os determinantes sociais de saúde. Boccardi (2020, p.9) pontua que “[...] não é cabível, portanto, propor uma terapêutica que se pretenda gestáltica mas que vise a busca por harmonia social em condições adversas”. Assim sendo, a clínica online demanda um olhar amplo para o sujeito e seu entorno, assim como para quem a pratica, pois só assim torna-se possível a construção de uma psicologia clínica cada vez mais contextualizada.

MANEJO CLÍNICO GESTÁLTICO ONLINE: DESAFIOS E POTENCIALIDADES

Aqui são levantados pontos importantes sobre o campo de prática clínica online em gestalt-terapia. A clínica online pode ser considerada como desafiadora, no sentido de ser identificada enquanto práxis pouco explorada, enxergando-a não como extensão da clínica presencial, mas como algo novo que merece a devida atenção. Como acrescenta Costa (2021, p.13) a clínica online impõe o desafio e pode ser encarada como “[...] uma outra forma de se fazer a clínica, mas não menos possível e não menos intensa”.

Costa e Severino (2021) concordam que a clínica online possibilita ampliação da atuação no campo da psicologia clínica, alcançando pessoas e promovendo a extensão da presença. Os pontos favoráveis à profissional da psicologia no contexto de atuação online envolvem a redução dos custos em relação à clínica presencial, crescimento da demanda e procura por parte da clientela e ampliação do mercado (Severino, 2021). Já Primo e Cruz (2021) apontam entraves na adaptação ao contexto online no que se refere à adesão e resistência por parte das(os) pacientes, afinal, algumas pessoas aderiram à psicoterapia online e outras não.

A relação entre o atendimento mediado pelas TIC e público-alvo que acessa esse serviço é um tema existente em duas pesquisas. O estudo Nº 1 indica em seus resultados a dificuldade de ajustar a modalidade às pessoas idosas e crianças. Severino (2021) ressalta que dependendo da faixa etária, crianças podem ter facilidade e acesso a essa modalidade, provocando sobre o que pode estar bloqueando gestalt-terapeutas no atendimento online a este público. No caso de pessoas idosas, é possível que a não familiaridade por parte destas com as TIC seja um empecilho (Severino, 2021). Em contraponto, Morais e Almeida (2021) apresentam em seu artigo um cenário possível na prática, por meio do estudo de caso de uma idosa de 81 anos que foi acompanhada na modalidade online, em situação de isolamento domiciliar na pandemia.

No que tange aos públicos assistidos no atendimento online, faz-se necessário considerar as especificidades contidas nas legislações que versam sobre o atendimento a crianças e adolescentes, pessoas em situação de urgências, emergências e desastres, e ao atendimento de pessoas em situação de violação de direitos. Vale ressaltar que as restrições encontradas nos artigos 5º, 6º, 7º e 8º da Resolução CFP Nº 11/2018 foram suspensas, de forma temporária, a partir da Resolução CFP 04/2020 que passou a vigorar na pandemia da Covid-19. Esta foi comentada e fundamentada com o objetivo de orientar as(os) profissionais que prestam serviços por meios das TIC, reiterando particularidades que devem ser respeitadas no atendimento a públicos específicos, e a devida consulta ao Conselho Regional de Psicologia de referência em caso de dúvidas (CFP, 2018).

Um tema pertinente levantado pelas pesquisas é o trabalho corporal no setting online. Segundo Severino (2021), no atendimento online surgem dificuldades no manejo da linguagem corporal, onde alguns sentidos além da visão e audição ficam limitados. Além disso, sugere existirem diferenças no uso das funções de contato, o que exige da(o) psicóloga(o) criatividade para construir novos experimentos. No atendimento por chamada de vídeo, por exemplo, a autora assinala (2021, p. 41) que só é possível enxergar parte do corpo da(o) cliente, o que “[...] impossibilita a visão do todo, algo que é tão importante na Gestalt-terapia, porém apesar da limitação da visão do todo, existe muito material na psicoterapia “online” para que o psicólogo possa observar se estiver presente e atento”.

Em relação aos sentidos, existem ganhos quanto às expressões faciais com o destaque da câmera no rosto, e que o atendimento online apresenta novas formas de análise das expressões corporais (Severino, 2021). A câmera pode ser como um espelho para que a pessoa atendida se veja enquanto fala, assim como a(o) gestalt-terapeuta que deve estar atenta a si mesma e ao seu campo, bem como às possíveis afetações no momento do encontro. Alves et al (2020) abordam, na avaliação de resultados, o quanto pode ser sedutor avaliar o atendimento online focando nos possíveis desafios e comparações ao atendimento presencial, desfazendo em primeira mão o contato, as trocas e ampliação do fazer clínico. No relato de experiência, as autoras abordam que no trabalho em grupo foram utilizadas ferramentas e experimentos artísticos, como a música, para manejo clínico.

A necessidade de manejo das tecnologias por parte das(os) psicólogas(os) durante a pandemia aparece nas pesquisas como um dos ajustamentos essenciais para que a prática clínica fosse possível na modalidade online. O desenvolvimento de habilidades foi necessário para as profissionais que se propuseram ao atendimento online na pandemia (Alves et al., 2020). O estudo Nº 5 complementa que, além da necessidade do desenvolvimento de habilidades para manejo das ferramentas virtuais por parte das profissionais da equipe, foi crucial a criação de metodologia própria para que o trabalho em grupo online fosse possível (Alves et al., 2020). Cabe aqui ressaltar o dever fundamental em oferecer um serviço ético e de qualidade, que consta no art.1º Das Responsabilidades do Psicólogo do Código de Ética, onde a(o) profissional deve “Prestar serviços psicológicos de qualidade em condições de trabalho dignas e apropriadas à natureza desses serviços, utilizando princípios, conhecimentos e técnicas reconhecidamente fundamentados na ciência psicológica, na ética e na legislação profissional” (CFP, 2005).

A clínica online também demanda novas reflexões sobre acordos, sigilo e confidencialidade, com novas orientações para a(o) paciente, seja no contrato, na escolha do aplicativo e/ou plataforma e na construção de regras para guarda do sigilo (Severino, 2021). A psicóloga deve instruir a(o) paciente sobre os encontros online, trabalhando auto responsabilização e implicação no processo terapêutico, orientando sobre a importância de estar em um local seguro e sozinha(o) onde a privacidade seja preservada, construindo em conjunto estratégias para a garantia do sigilo. Isso tem relação com as desvantagens levantadas no estudo Nº 1, no que se refere a perda de controle no setting online, a dependência da conexão com a internet que pode oscilar e atrapalhar o serviço prestado, assim como os aparelhos tecnológicos (celular, computador, tablet, notebook) que podem deixar de funcionar ou travar no momento do atendimento.

O cuidado às nuances que o setting online demanda deve partir da profissional, que deve estar atenta e em constante troca com a(o) paciente. Cruz e Primo (2021, p. 26) consideram a pertinência de que “[...] não apenas os pacientes desenvolvessem seus ajustamentos criativos, mas também os profissionais, sempre que depararem com situações novas que exijam adaptação a novas modalidades e formas de exercer suas funções, como o atendimento on-line, por exemplo”.

RELAÇÃO TERAPÊUTICA EM GESTALT-TERAPIA NO SETTING ONLINE

Este tópico tem a intenção de apresentar o que as pesquisas têm demonstrado sobre a relação terapêutica no encontro online, na perspectiva da gestalt-terapia. A clínica, para a gestalt-terapia, é o campo da relação, sendo a relação entre terapeuta e paciente o que há de mais precioso que faz emergir do processo terapêutico novas maneiras de sentir, pensar e agir (Rodrigues, 2011). Para que isso aconteça, a experiência clínica da psicóloga gestalt-terapeuta deve ser implicada, com presença e disponibilidade de contato.

A gestalt-terapia direciona o olhar para a postura da gestalt-terapeuta, que participa ativamente do processo, pois considera a si mesma força atuante no campo vivencial da pessoa que busca a psicoterapia, da mesma forma que a pessoa atua no seu campo vivencial (Rodrigues, 2011). Ao acessar pacientes, a terapeuta também se acessa, tomando a relação terapêutica como uma história que se constrói junto. Nesse sentido, a terapeuta necessita a todo o tempo lidar com as forças atuantes no campo, assumindo seu compromisso ético-político, sua existência e o seu fazer clínico único. Considera-se não só o que acontece com a(o) paciente, mas o que Rodrigues (2011) denomina “três tipos de relação”: a relação da terapeuta consigo mesma, da(o) paciente com ela(e) mesma(o) e da relação que se constrói no processo terapêutico.

Durante a pandemia da Covid-19, se colocar na relação terapêutica fisicamente tornou-se uma questão frente aos riscos de contaminação pelo vírus, comprovando a relevância do atendimento online na oferta do cuidado em tempos de isolamento e distanciamento. Morais e Almeida (2021) apostaram na “psicoterapia dialógica gestáltica como mecanismo de sobrevivência em tempos de pandemia”, dedicando à modalidade online o trabalho com elementos dialógicos no fazer clínico gestáltico. A partir do estudo de caso, as autoras incitam reflexões sobre adoecimento e sofrimento em meio à crise, e as possibilidades de cuidado à saúde e manutenção da vida. A psicoterapia dialógica é fundamentada pela filosofia dialógica de Martin Buber (1957), que toma a relação como ponto de partida para compreensão da experiência humana, sendo o diálogo algo que acontece no “entre”, marcado pelas atitudes Eu-Tu e Eu-Isso (Morais & Almeida, 2021). A relação dialógica acontece quando o diálogo é verdadeiro, sem reservas, onde a psicóloga em atitude fenomenológica e dialógica, encontra a pessoa que a procura tal como ela é (Chagas, 2016). Desse modo, no atendimento psicoterápico dialógico online, a(o) gestalt-terapeuta deve se preocupar em cuidar muito bem do contato e da relação terapêutica, sendo o contato segundo, Ponciano (1997, p.15) “o fenômeno pelo qual o encontro ocorre e no qual toda ação humana e psicoterapêutica se baseia”.

É notável que o vínculo terapêutico no atendimento online se apresenta como aspecto central nas pesquisas analisadas, comumente tendo a modalidade presencial como referência comparativa. Severino (2021) apresenta nos resultados de sua pesquisa um gráfico correspondente à resposta de uma das perguntas da entrevista aplicada, a saber: “Como fica a relação terapêutica no atendimento online em comparação ao atendimento presencial?». O resultado apontou que 76,9% das psicólogas(os) dizem que a relação não muda e que não veem diferença entre as diferentes modalidades. Já 19,2% referem que a relação terapêutica online é fria e distante. A autora pontua que, apesar das diferenças que a modalidade online apresenta, é crucial que a gestalt-terapeuta tenha uma postura cuidadosa, disponível e interessada com a(o) paciente, para que seja possível a construção do vínculo (Severino, 2021).

Cruz e Primo (2021) também fazem comparações entre as modalidades, e concordam que a relação terapêutica no setting online não sofre alterações em relação ao presencial, seja no contexto de pandemia ou não. Em contraste, Costa (2021) não utiliza a clínica presencial como ponto de partida para a analisar a relação terapêutica no campo online. Sugere que, a relação terapêutica que acontece através do encontro online, se torna possível quando existe engajamento à presença e disponibilidade da terapeuta. A autora considera que “[...] o campo virtual não se opõe ao real, mas vai ao encontro da abertura de possibilidades, no qual o corpo do terapeuta continua sendo um importante instrumento nesse processo” (Costa, 2021, p. 36). O corpo é entendido como potência e via para esse encontro, de forma que, se no atendimento online existe a distância física, por exemplo, a modalidade online oportuniza a aproximação da(o) terapeuta à intimidade da casa ou local escolhido pela(o) paciente. Sendo assim, a relação terapêutica, a postura da terapeuta e o corpo podem ser categorias de análise relevantes dos novos fenômenos que podem emergir no atendimento online.

A psicóloga gestalt-terapeuta que se propõe ao atendimento online, apercebe-se e entende que a pessoa que a procura é quem convoca a teoria, que a relação clínica atravessa ambos e necessita, além da disponibilidade, o que Costa (2021) chama de “confiança na humanidade”, que quando ampliada, se expande para relação da pessoa com o mundo e consigo. Acrescenta ainda que a(o) terapeuta possui a tarefa de posicionar-se sendo ela(e) mesma(o), ou seja, “[...] não sendo neutro, mas envolvido na relação e, não aceitando qualquer coisa passivamente, ele autoriza e favorece, acompanhando o consulente e permitindo, sem modelo ou julgamento, que ele conserve a sua própria alteridade” (Costa, 2021, p.53). Para isso, a postura da(o) gestalt-terapeuta deve ser implicada criticamente, no sentido de revisitar teorias e práticas, atentar ao contexto histórico, mas também, estar atenta(o) a si mesma(o), independente da modalidade de atendimento que se propunha.

À vista disso, o atendimento online é uma modalidade clínica que permite novas experiências e novas formas de olhar para a relação terapêutica, sendo a gestalt-terapia uma abordagem que dá lugar à alteridade e a pessoa da terapeuta. O ambiente online possibilita a extensão da presença mesmo com o distanciamento dos corpos que estão imersos em diferentes contextos e que, ao mesmo tempo e no aqui-agora, se conectam na experiência de campo que é a sessão de psicoterapia. Frente à pandemia e às mudanças resultantes desse cenário, Boccardi (2020, p. 12) provoca que gestalt-terapeutas sejam incitadas(os) a se posicionarem e revisitar suas práticas profissionais, pois “[...] Resulta impróprio, portanto, ao projeto que origina a Gestalt-terapia, reduzir nossa prática a um apaziguamento dos conflitos ou dos efeitos destes junto àqueles que sofrem”. Logo, a tarefa clínica de cuidado deve ser transgressora.

CLÍNICA GESTÁLTICA ONLINE E DEMANDAS CONTEMPORÂNEAS

Esta categoria versa sobre as contribuições da clínica online em gestalt-terapia na ampliação do campo teórico e prático da Psicologia Clínica. Podemos pensar a clínica online enquanto demanda contemporânea, já que esta modalidade vem sendo estabelecida a partir das novas necessidades de cuidado em saúde mental, na medida em que a contemporaneidade vem apresentando reconfigurações nas formas de trabalho e ações na vida cotidiana com a incorporação das tecnologias de informação e comunicação, bem como os novos fenômenos que surgem (Castells, 2013; Santana; Sobrinho, 2020).

Nesse sentido, não se pode desconsiderar que a clínica online é recente e precisa ser melhor assimilada pela categoria profissional. Isso sinaliza a demanda de criação de novas formas de trabalho e, como aponta Severino (2021), a importância de ajustamentos criativos e não de um espelhamento da modalidade de atendimento presencial. A este respeito são verificáveis reconfigurações de conjuntos de variáveis que complexificam sobremaneira a experiência de profissionais e pacientes em suas práticas de cuidado, destoando daquelas exclusivas às interações face a face. Por exemplo, há novos tipos de compartilhamento de presença, regras e expectativas sociais experimentadas pelas interações mediadas online (Thompson, 2018; Sobrinho, Ayres & Ribeiro, 2019), bem como há novas experiências de formação, experimentação e compartilhamentos de espaços que funcionam como palcos com configurações heterogêneas na experiência social (Couldry & Heed, 2017).

Para além das características de ordem técnicas, desdobramentos de competências operacionais e éticas exigem reconfigurações das práxis de psicólogas(os) a esta altura da contemporaneidade. Haja vista que, durante a pandemia da Covid-19, a psicóloga foi convidada a refletir e se posicionar sobre os efeitos psicoemocionais esperados em contexto de emergência, bem como obter informações sobre a nova doença e seus protocolos de biossegurança, algo novo incorporado à prática clínica. Contribuir no processo psicoterapêutico, com o acesso à informações científicas seguras, além de combater a desinformação e fake news durante a pandemia, possibilita que as pessoas reflitam sobre suas escolhas e o impacto destas em seu entorno.

No que se refere ao Código de Ética, a psicóloga enquanto profissional da saúde e também linha de frente na pandemia da Covid-19, precisou enxergar além da subjetividade da sua época e, como sugere o artigo III, atuar com responsabilidade social “[...] analisando crítica e historicamente a realidade política, econômica, social e cultural” (CFP, 2015, p.7). Quanto a isso, Cruz e Primo (2021) indicam a necessidade de profissionais da psicologia estarem capacitadas(os) a fim de legitimarem informações sobre possíveis reações emocionais e físicas na pandemia. Morais e Almeida (2021) também sinalizam a relevância de psicólogas(os) estarem atentas(os) aos estudos sobre impactos da pandemia na vida das pessoas, já que o contexto de crise sem precedentes reverberou muitos sofrimentos, deixando resquícios e prejuízos futuros à saúde mental coletiva. Destarte, aponta-se para a necessidade de produção científica sobre saúde mental e pandemia, sobretudo a atuação clínica online em psicologia enquanto campo de atuação contemporâneo potente.

Os novos desafios emergidos na pandemia à profissional da psicologia indicam a urgência de aproximação e diálogo da psicologia com outras áreas do conhecimento. No exercício da práxis em modalidade online, novos funcionamentos e feitos emergentes das interações mediadas pelas TIC, confirmam a necessidade de encontro com a criação e abandono de práticas e paradigmas do passado que já não cabem mais. A clínica transdisciplinar proposta por Passos e Barros (2000), propõe radicalmente a clínica como campo transdisciplinar que se ocupa dos modos de subjetivação e das forças que a todo tempo se entrecruzam e possibilita concretamente, a cada encontro, o novo e as possibilidades de criação. A noção de transdisciplinaridade sugere a problematização da universalização dos saberes, das dicotomias e tendências a especialismos, propondo a problematização dos limites de cada área na criação de novas redes de conhecimento por ressonâncias, incitando intercessores e possibilidades de caminhos (Passos & Barros, 2000). Para que a transdisciplinaridade aconteça, faz-se necessário o rompimento com paradigmas que sustentam a compreensão de uma clínica dogmática conhecida em seus moldes biomédicos, que teve seu início com a medicina, e que, de alguma maneira, ainda inspira a prática clínica em psicologia nos dias atuais (Costa, 2021). A autora sugere o engajamento da clínica da percepção pautada nos fundamentos da abordagem gestáltica, em que a modalidade online enquanto prática clínica atualmente torna-se possível.

A clínica da percepção enxerga o ser humano sob seus sentidos, sensações, historicidade, bagagens de vivências e experiências, conhecimento de si e do mundo, onde a(o) terapeuta se disponibiliza por inteiro a estar junto da pessoa em sua totalidade (Costa, 2021). A clínica, por sua vez engajada, se preocupa verdadeiramente com a pessoa que é protagonista de sua vida, que possui existência única e se compõe de suas escolhas individuais, mas que também se constitui no social e em seu tempo histórico. Busca-se a aproximação com a pessoa e o potencial intrínseco de se auto regular, se transformar e modificar o ambiente ao seu redor. Costa (2021, p.31) complementa que “[...] a ampliação da clínica está para além do indivíduo, já que compreende as questões coletivas e políticas, sendo estas entremeadas em jogos de força e poder, o que pode ou não contribuir na qualidade do cuidado oferecido ao sujeito”.

O olhar expansivo para o cuidado em saúde vem do que conhecemos como Clínica Ampliada. Esta abandona a clínica de prática normativa e se aproxima das necessidades do Ser e da sociedade, pois reconhece a complexidade das experiências humanas de sofrimento, acolhe as diferenças sem perder de vista os direitos humanos, preconizando o resgate do respeito pela pessoa que antes de adoecer e buscar cuidados profissionais, possui historicidade (Brasil, 2009). Nessa perspectiva, a clínica online fundamentada na Gestalt-terapia pode também ser sugerida enquanto clínica ampliada e transdisciplinar, pois abrange as demandas contemporâneas e reconhece seus limites. A clínica deve ocupar o lugar de potencialização das pessoas e dos grupos em seu compromisso ético-político, sem que se localize em um consultório particular. Esta pode mover-se atravessando muros e wi-fi, na construção de redes de cuidado e na tecedura de novos modos de vida mais humanizados em distintos contextos socioculturais.

CONSIDERAÇÕES FINAIS

A pandemia da Covid-19 gerou transformações no campo da psicologia clínica, revelando a necessidade de expansão da profissão, sendo a clínica online a confirmação disso. O contexto de crise possibilitou a reavaliação da maneira como enxergamos e fazemos psicologia, frente às necessidades contemporâneas e a nova modalidade que se apresenta como possibilidade de ampliação do campo de atuação da profissão. O atendimento online é uma modalidade clínica que permite novas experiências e formas de olhar para os fenômenos que emergem do processo psicoterapêutico, assim como ajuda a refletir e se localizar frente às mudanças sociais que atravessam a prática clínica. No atendimento psicoterápico online, a(o) gestalt-terapeuta deve se preocupar em cuidar da relação terapêutica, estando implicada a revisitar teorias e práticas, considerando o contexto histórico e a si mesma(o).

Nos trabalhos triados percebe-se lacunas no que tange às nuances do setting online, em particular em relação a segurança na guarda de dados, uso de aplicativos/plataformas e proteção do sigilo e confidencialidade, pontos importantes a serem melhor investigados. A privacidade é tema crucial no debate do uso da internet e das interações mediadas pelas TIC, algo que não foi mencionado nas pesquisas triadas e que merece maior atenção. O setting online deve ser encarado como um espaço de cocriação, onde as pessoas envolvidas criam ferramentas necessárias para o andamento ético e seguro do processo terapêutico. Ao mesmo tempo, a profissional da psicologia que se propõe ao trabalho na modalidade online, possui deveres éticos, sendo inteiramente responsável por cuidar da garantir o sigilo, guarda e proteção de dados e manejo das implicações decorrentes das TICs.

Observa-se a tendência em analisar a clínica online partindo da referência conhecida da clínica convencional presencial, comparando-a na busca por possíveis desvantagens. O estranhamento diante do que é novo no que tange a atuação da Psicologia Clínica fora dos moldes do espaço tradicional de consultório decorre das lacunas no processo de formação acadêmico-profissional. Advém, portanto, do domínio e dedicação a enquadres teóricos e metodológicos por muito tempo sustentados no campo da psicologia, enraizados na história da profissão que necessita ser encarado.

Conclui-se que a clínica é lugar de experiências e encontros transformadores, independente do seu formato, comprovando a relevância da clínica online como importante ferramenta de cuidado em saúde mental, podendo ser expandida e melhor estudada. Reitera-se a importância de adequação das práticas profissionais às necessidades contemporâneas, com atenção à capacitação especializada que inclua o estudo da psicologia clínica na modalidade online para aperfeiçoamento e melhora da qualidade dos serviços. Verifica-se a necessidade de produções científicas que se ocupem da modalidade de atendimento psicológico online em Gestalt-terapia, ampliando o acervo acadêmico sobre a temática dentro da abordagem teórica, e que possa ser devolvida ao social.

REFERÊNCIAS

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Recebido: 01 de Junho de 2023; Aceito: 01 de Agosto de 2023

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