EDITORIAL

 

 

A história desta revista começou muito antes de alguém ter a boa ideia de publicar uma revista que tornasse visível o debate sobre o ensino de psicologia e a formação do psicólogo. Começou há pouco mais de dez anos, quando um grupo de professores e profissionais da área uniu-se para criar um fórum permanente de debates e mobilização política sob a forma da Associação Brasileira de Ensino de Psicologia.

A ABEP é a condição de possibilidade desta revista não apenas porque a edita, com o apoio solidário e efetivo do Conselho Federal de Psicologia, mas principalmente porque, ao longo destes dez anos, seus membros enfrentaram obstáculos para que os temas do ensino e da aprendizagem, bem como da formação e atuação do profissional, se afirmassem como objetos prioritários de discussão entre nós. E estes colegas fizeram isso procurando respeitar permanentemente a diversidade das áreas de atuação do psicólogo e suas diferentes escolhas teóricas.

É, portanto, como testemunha desta história de mais de dez anos e, ao mesmo tempo, como futuro que Psicologia: Ensino & Formação chega a você, leitor, e esperamos, futuro autor. Pois este debate só manterá sua força e tornar-se-á cada vez mais presente, com a sua participação. Mais do que uma apresentação, este nosso primeiro contato é um convite. Convite a que você venha literalmente para o lado de cá, juntar forças na promoção deste diálogo.

Por isto, lançamos esta revista com periodicidade quadrimestral simultaneamente em versão impressa e eletrônica de acesso livre e com processo de submissão eletrônica, dentro do portal PEPSIC e em articulação com a BVS/PSI, com o objetivo de garantir mais rápido acesso para os psicólogos do Brasil e da América Latina.

As seções desta revista também foram pensadas de modo a facilitar esta participação: a primeira delas trará relatos de experiência. No sentido mais amplo que tal experiência possa ter, não importa se você é professor ou aluno, da graduação ou pós, se atua em clínica ou empresa, na escola ou nos movimentos sociais. Aqui, seu olhar sobre a formação profissional pode encontrar outros olhares e, assim, novas perspectivas podem ser buscadas e inventadas. Neste primeiro número, você encontrará uma discussão sobre maneiras de fazer os estudantes refletirem sobre suas emoções e perceberem como a ciência pode se materializar em seus corpos, testemunhará a busca de novas formas de trazer o debate ético para dentro das salas de aula e acompanhará duas diferentes abordagens da questão do estágio, seu lugar no processo formativo e seus desafios.

Em seguida, vêm os ensaios e estudos teóricos. Com os trabalhos desta seção, esperamos contribuir para a ampliação do debate sobre a formação, articulado com os referenciais teóricos e o conhecimento produzido em nossa área, como prova concreta da articulação entre formação e pesquisa, teoria e prática, construção da psicologia como ciência e consolidação da nossa atuação na comunidade. Nesta edição, discutem-se as implicações da reinserção da psicologia na formação dos psicólogos e a relevância da manutenção ou da quebra das fronteiras disciplinares nesta formação.

Pesquisas empíricas relativas a temas relevantes aos processos de ensino e aprendizagem constituem o foco dos relatos de pesquisa. Aqui, esperamos a divulgação de dados proeminentes e verificáveis sobre a realidade da formação do psicólogo, em especial no Brasil e na América Latina em seus mais diversos contextos, revelando aspectos e variáveis que podem até mesmo passar despercebidos para a maioria de nós. A primeira colaboração publicada traz informações sobre como os psicólogos em formação percebem a realidade do meio rural, nos colocando como formadores, como profissionais e como futuros psicólogos diante da realidade do nosso imenso país.

Para a última seção, selecionamos textos que nos ajudem a colocar em debate temas vitais para a atuação do psicólogo no Brasil de hoje, a partir de seu lugar em nossa formação. Para começar, uma discussão sobre os impasses e desafios da formação em psicoterapia.

É isso que temos a oferecer a vocês neste primeiro momento, com a esperança de informar e de fornecer novos subsídios para todos aqueles que participam do ensino e formação em psicologia, como responsáveis diretos ou indiretos, e também como estudantes ou profissionais em permanente esforço de aperfeiçoamento.

Mas esperamos poder fazer mais. Queremos provocá-lo a participar, a refletir, a se arriscar, enviando o seu testemunho do processo de formação, sua reflexão teórica, os últimos resultados de uma pesquisa que em sua opinião possa contribuir para o debate sobre o ensino de psicologia, a leitura de um livro que fez repensar a sua formação, dos seus colegas ou alunos, enfim, sua contribuição para um debate que interessa a todos e que só alcançará o seu maior impacto e efeito sobre a comunidade se cada um de nós dele fizermos parte.

Deste modo, reservamos uma seção exclusivamente para acolher sua opinião e registrar todas as ressonâncias dos artigos publicados, ampliando a discussão e valorizando tanto as contribuições dos autores quanto a opinião do leitor.

Para concluir, nossos agradecimentos à diretoria da ABEP, seus membros e aos funcionários da sede, a toda a equipe da revista, aos membros da Comissão Editorial e do Conselho Consultivo, aos que enviaram artigos e colaboraram como consultores ad hoc. A todos que tornaram possível a materialização de um antigo sonho, que sonharam antes de nós, que nos ensinaram a sonhar.

 

Eduardo Leal Cunha
Editor