EDITORIAL

 

Aqui estamos em nosso segundo número escrevendo mais uma página no debate sobre a formação em psicologia no Brasil com os olhos e mentes voltados também para a nossa inserção em um contexto mais amplo: o da realidade e dos desafios do ensino em nosso país. Sintonizados com o cotidiano de colegas e alunos, não só da psicologia, mas também de outras áreas, os autores se voltam para temas importantes como a qualidade do ensino público, a violência que marca a sociedade contemporânea, as dificuldades presentes no exercício da docência e o momento, muitas vezes doloroso, de entrada dos jovens na vida universitária.

Deste modo, na seção dedicada a ensaios e estudos teóricos, encontramos uma discussão aprofundada, a partir da Teoria Social Cognitiva, sobre a Síndrome de Burnout e seu impacto na vida de alunos e professores. Nossa existência como professores é também tocada diretamente pela reflexão sobre a qualidade do ensino na escola pública, que constitui um desafio permanente para todos aqueles preocupados com a dimensão sócio-política da nossa atuação profissional e também com o futuro dos nossos jovens e do nosso país. Esta forma de ensino se encontra marcada pelo aumento cotidiano da violência, inclusive doméstica e contra as mulheres, que é tema de mais um artigo desta seção.

Para completar a seção, e para a nossa alegria, apresentamos a primeira contribuição de um estudante de graduação à revista. O texto consiste em uma reflexão emocionada e engajada sobre a questão vocacional, inclusive na medida em que tal questão se reflete também nos estudantes de psicologia no momento do estágio, confrontados de algum modo com as próprias escolhas e a realidade da atuação profissional.

No relato de experiências novamente o tema da inserção no mercado de trabalho é enfrentado, desta vez, no estágio em psicologia clínica pelo viés da supervisão.

A seção de relatos de pesquisa traz duas contribuições que tem como tema respectivamente os desafios de ser professor de psicologia no ensino médio; e aqueles enfrentados com o ingresso no ensino de terceiro grau e, de certa maneira, com o que gostamos de chamar de vida adulta.

Costurando de algum modo preocupações que aparecem como pano de fundo em muitos dos trabalhos publicados até agora, colocamos desta vez em debate o tema dos direitos humanos no ensino de psicologia. Tal assunto tem mobilizado nossos colegas e entidades, em especial nos últimos anos desde a retomada da democracia em nosso país, como parte não apenas do nosso trabalho como formadores de cidadãos e em defesa das nossas liberdades e direitos, mas também como elemento vital na preservação da memória brasileira para que certas coisas definitivamente não voltem a acontecer.

Para além do que virá nas próximas páginas, esperamos que elas despertem nos leitores outros escritos e novas idéias, para as quais as próximas edições da revista certamente reservam um lugar, seja em uma das seções referidas acima, seja como ressonância aos artigos e opiniões publicados até agora. Lembrem-se de que nós reservamos uma seção especialmente para este debate e que estamos aguardando a sua colaboração.

 

Eduardo Leal Cunha
Editor