Resenha

Sandra Maieski^{1, i}

¹Universidade Estadual de Londrina

Boruchovitch, E., Bzuneck, J. A., & Guimarães, S.E.R. (Orgs.) (2010). Motivação para aprender: aplicações no contexto educativo. Vozes, Petrópolis/RJ.

Possuir motivação para aprender constitui um grande desafio no âmbito escolar. Diversos fatores contribuem para essa realidade que atinge estudantes e professores e se apresenta no cenário educacional como um elemento essencial para a efetivação de um processo de ensino e aprendizagem qualitativo.

A obra citada na epígrafe foi elaborada num trabalho conjunto de professores do Grupo de Estudos e Pesquisa em Psicopedagogia (Gepesp) da Unicamp, sob a coordenação da Profa. Evely Boruchovitch, e dos professores: José Aloyseo Bzuneck e Sueli Édi Rufini Guimarães, do Programa de Pós-Graduação em Educação da Universidade Estadual de Londrina (UEL). Há anos essa equipe vem investigando o constructo motivação e agora proporciona a professores, pesquisadores, psicólogos educacionais, educadores, estudantes de graduação e pós-graduação interessados em adquirir ou aprofundar seus conhecimentos teórico-práticos acerca da motivação para aprender uma valiosa contribuição.

Estruturado em três partes, o livro apresenta ao leitor as principais teorias sociocognitivas da motivação e o estado da arte das pesquisas relativas a essas teorias. Possibilita identificar instrumentos de medida da variável motivação para fins de pesquisa, diagnóstico e intervenção e fornecendo estratégias que contribuem para motivar alunos em sala de aula, além de possibilitar reflexões importantes sobre a motivação e suas relações com o processo criativo.

Cabe destacar que cada capítulo que compõe a obra apresenta uma vasta lista de referências atualizadas. Permite ao leitor tomar contato com o conhecimento produzido em âmbito nacional e internacional sobre o constructo motivação.

A primeira parte do livro consta de três capítulos. Sugestões práticas de como motivar os alunos, de autoria de José Aloyseo Bzuneck, oferece elementos valiosos para ação docente no seu fazer pedagógico. O texto aproxima o leitor de uma referência bibliográfica extensa quanto à temática motivacional, permitindo visualizar situações concretas de sala de aula e ações reais na busca da motivação discente. Como tornar significativas as tarefas e atividades, como dar tarefas e atividade, embelezamentos para motivar e feedback são temas abordados nesse primeiro capítulo.

A promoção da autonomia como estratégia motivacional na escola é proposta por José Aloyseo Bzuneck e Sueli Édi Rufini Guimarães numa análise teórica e empírica, configurando o segundo capítulo. Os autores apontam a autonomia como um elemento importante sobre o qual se apoia a motivação escolar sob o aspecto qualitativo. Nesse conjunto, a autonomia é focalizada à luz da teoria da Autodeterminação, uma macroteoria contemporânea que interpreta o envolvimento pessoal em atividades de aprendizagem como um esforço para satisfazer três necessidades psicológicas básicas: competência, autonomia e vínculo.

O terceiro e último capítulo que compõe a primeira parte foi elaborado pelos organizados da obra e apresenta instrumentos brasileiros de avaliação da motivação no contexto escolar, fornecendo contribuições para pesquisa, diagnóstico e intervenção psicopedagógica. Inicialmente apresenta um referencial teórico-prático de como avaliar a motivação dos alunos. No total são propostos quinze instrumentos que avaliam a motivação de estudantes do ensino fundamental e médio, de universitários e de professores. Os instrumentos não são apresentados na íntegra, contudo a explanação é bem detalhada, possibilitando a compreensão dos mesmos.

A teoria de Metas de Realização é apresenta no quarto capítulo que abre, portanto, a segunda parte da obra. Rita da Penha Campos Zenorini e Acácia Aparecida Angeli dos Santos apresentam inicialmente a relevância da motivação como um dos principais fatores que favorecem a aprendizagem de alunos. Esse trabalho é realizado à luz de diversos autores e pesquisas em âmbito internacional que apontam como a teoria de Metas de Realização tem contribuído para o entendimento dos fatores motivacionais que influenciam o comportamento dos alunos. A leitura do texto permite compreender a teoria proposta e conhecer pesquisas brasileiras com a teoria de Metas de Realização.

No bojo das abordagens teóricas apresentadas na obra, o papel da autoeficácia e autorregulação no processo motivacional é desenvolvido por Roberta Gurgel Azzi e Soely Aparecida Jorge Polydoro. As autoras examinam a motivação a partir da contribuição da perspectiva da Teoria Social Cognitiva, proposta por Albert Bandura. No primeiro momento é proposta uma pequena incursão no contexto da teoria de forma clara e consistente, possibilitando o entendimento da mesma. Cabe destacar que as crenças de autoeficácia apontadas pelas autoras se dirigem tanto a alunos como a professores, salientando-se a influência dos últimos sobre os primeiros.

Outra teoria na perspectiva da Psicologia Cognitiva abordada na obra diz respeito às atribuições causais na explicação da aprendizagem escolar. Leandro S. Almeida e Maria Adelina Guisande apoiados na taxonomia de Weiner apresentam no sexto capítulo as dimensões que formatam as atribuições causais: lócus, estabilidade e controlabilidade. Discriminando cada uma delas, os autores possibilitam a compreensão e a inferência do leitor quanto à atribuição que mais convém conferir a um evento para que ele seja promotor de motivação.

Principiando a terceira parte da obra que trata das especificidades e dos contextos da motivação para aprender, Geraldina Porto Witter aborda o tema motivação e leitura. Num primeiro momento a autora conceitua leitura e motivação e apresenta dados de pesquisas em âmbito internacional relativas à motivação para ler. Como as pessoas ficam motivadas para ler e como a leitura pode motivá-las para outros comportamentos e para a própria leitura são questões que comumente preocupam professores e são temas de pesquisas no campo acadêmico. Nesse capítulo, o leitor poderá encontrar elementos valiosos, respaldados teórico-praticamente.

Associada a leitura, a escrita constitui um universo o qual todo o indivíduo deve conquistar como meio para sua inserção na sociedade e consequente conquista da cidadania. Elis Regina da Costa e Evely Boruchovitch, ao abordar essa temática, apontam para o conceito de motivação intrínseca e extrínseca e apresentam fatores que contribuem para desenvolver e manter a motivação para a escrita em sala de aula. Nesse conjunto, as autoras destacam, pormenorizadamente, o importante papel do professor na motivação para a escrita, propondo ações docentes.

No nono capítulo, a motivação é abordada por Denise de Souza Fleith e Eunice M. L. Soriano de Alencar em sua inter-relação com a criatividade, partindo da indagação: que forças motivacionais levam o indivíduo a gerar uma produção criativa? As autoras embasam seu texto na literatura nacional e internacional que corroboram a afirmação de que um trabalho criativo requer um alto nível de motivação. Conceito de motivação intrínseca e extrínseca aparece no corpo do texto, sendo utilizados como base para o trato da relação entre esses níveis de motivação e a criatividade. Concluindo o capítulo, as autoras salientam a importância do ambiente para o desenvolvimento da criatividade e oferecem dicas fundamentais para que um espaço se torne motivador de criatividade.

No último capítulo da obra, Evely Boruchovitch e José Aloyseo Bzuneck apresentam o estado da arte e caminhos futuros da motivação para aprender no Brasil. Nesse conjunto, os autores citam e fazem uma breve elucidação das pesquisas relativas à motivação intrínseca e extrínseca, metas de realização acadêmica, atribuições causais e autoeficácia.

A obra é bem organizada com uma linguagem acessível e de fácil compreensão, proporcionado ao leitor uma gama de conhecimentos a respeito da motivação para aprender. Com textos instigantes, o livro contribui para o desenvolvimento científico e prático do processo de ensino e aprendizagem, fornecendo elementos importantes para a ação de todos os envolvidos nesse processo.

Endereço para correspondência
e-mail irmasandra@yahoo.com.br

iPedagoga e mestranda do Programa de Pós-graduação em Educação da Universidade Estadual de Londrina.