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Estudos Interdisciplinares em Psicologia

versão On-line ISSN 2236-6407

Est. Inter. Psicol. vol.4 no.2 Londrina dez. 2013

 

Resenha

 

 

Ana Carolina Zuanazzii

Universidade de São Paulo

 

Bartholomeu, D., Montiel, J. M., Miguel, F. K., Carvalho, L. F., & Bueno, J. M. H. (Orgs.) (2013). Atualização em avaliação e tratamento das emoções. São Paulo: Vetor.

 

A Psicologia é composta por diversas abordagens e possibilidades de atuação sendo que um mesmo tema pode ser abordado a partir de diferentes olhares. As emoções são um exemplo de tema que, além de ser muito relevante, é tratado, concebido e avaliado de diferentes maneiras, respaldado em diferentes teorias psicológicas. O livro "Atualização em avaliação e tratamento das emoções", organizado pelos autores Daniel Bartolomeu, José Maria Montiel, Fabiano Koich Miguel, Lucas de Francisco Carvalho, José Maurício Haas Bueno, tem como principal objetivo apresentar uma ampla perspectiva sobre o tema e suas atualidades no Brasil e no mundo. O livro traz visões variadas sobre as emoções, além de discutir formas de avaliação e tratamento em diferentes contextos como o clínico, esportivo e educacional. O livro é dividido em três partes e cada parte se destina a um foco de análise das emoções.

A primeira parte, composta por oito capítulos, trata sobre as diversas teorias propostas para se discutir e avaliar as emoções. O primeiro capítulo, intitulado "Emoções: Evolução, neuroanatomia e neurobiologia" escrito pelas autoras Cintia Heloína Bueno, Bianca Albertini, Natália Gaiola, Mônica Gaspar e Érica Glauce Moreira, contextualiza as emoções a partir do processo evolutivo, trazendo comparações neuroanatômicas entre o cérebro humano moderno e o de primatas. O conceito de emoção é definido e sua fundamental função na sobrevivência das espécies é discutida à luz da teoria darwiniana. As autoras discutem outras teorias relacionadas ao tema, como é o caso da Teoria da Expansão de Tomkins, a Teoria de James-Lange, a Teoria Psicoevolutiva de Plutchik, entre outras. Por fim, as principais estruturas neurais envolvidas no comportamento emocional são apresentadas e explicadas a partir de sua relação com o comportamento emocional.

O segundo capítulo, escrito por Fabio Scorsolini-Comin e Manoel Antônio dos Santos, nomeado "Avaliação das emoções: Considerações sobre o conceito de bem-estar subjetivo e sua utilização na ciência psicológica", apresenta estudos atuais desenvolvidos sobre o bem-estar subjetivo. A partir da pesquisa realizada pelos autores, foi constatada a dificuldade em definir o conceito bem-estar subjetivo, seus instrumentos e escalas de avaliação. O conceito é diferenciado de outros termos que são usualmente referenciados como sinônimos, por exemplo, o bem-estar psicológico. Apesar de discordâncias teóricas relativas à definição do bem-estar subjetivo, há um consenso em relação às dimensões que envolvem esse construto como é o caso das dimensões "satisfação com a vida" e "afetos positivos e negativos". Os autores finalizam o capítulo trazendo a importância do desenvolvimento de estudos que objetivam correlacionar o bem-estar subjetivo e outras variáveis como idade, profissão etc., pois auxiliam tanto na investigação das variáveis relacionadas ao construto como na melhor definição do conceito.

O próximo capítulo, nomeado "Emoções morais: Definição do conceito e revisão da literatura nacional" e desenvolvido pelos autores Daniel Bartholomeu, Felipe Fernandes de Lima, Gabriela Armond, Jéssica Amoroso e José Maria Montiel, é iniciado a partir da contextualização histórica do tema relacionado às emoções morais. Os autores partem da filosofia moral, passando pelas principais teorias desenvolvidas sobre o raciocínio moral até a definição atual das emoções morais. As teorias de Bee, Piaget e Kohlberg são apresentadas, seguida da apresentação da teoria desenvolvida por Haidt, que divide as principais emoções morais em duas famílias grandes ("condenação do outro" e "autoconsciente") e duas pequenas ("sofrimento do outro" e "elogiando o outro"). As principais emoções morais envolvidas nessas divisões são apresentadas e discutidas. Na revisão dos estudos brasileiros sobre o tema, os autores apontam que nenhum dos trabalhos encontrados objetivou a aplicação, desenvolvimento ou discussão de instrumentos na área, sendo essa uma lacuna na literatura brasileira.

O quarto capítulo, intitulado "Amor: Múltiplas perspectivas", desenvolvido por Vicente Cassepp-Borges e Luiz Pasquali, apresenta um panorama geral sobre as diversas teorias atuais do amor. O amor é apresentado como algo além das emoções, envolvendo toda a constituição psíquica humana. Os diferentes tipos de amor propostos por Platão são apresentados, além da concepção teórica de dois nomes da psicologia: Freud e Skinner. Em seguida, faz-se uma transposição da teoria do apego de Bowlby para a perspectiva de amor abordada. A teoria triangular do amor de Sternberg e a teoria das cores do amor, consideradas teorias psicometricamente mensuráveis sobre o amor, são apresentadas. Os autores também discutem um dos construtos mais utilizados na avaliação dos relacionamentos, a "satisfação no relacionamento". Por fim, os autores apresentam as contribuições do amor no processo evolutivo e os conhecimentos neuropsicológicos relacionados ao amor, bem como estudos com algumas substâncias neuroquímicas envolvidas no amor e no relacionamento amoroso.

"O circumplexo de Kiesler: Um modelo interpessoal da personalidade" é o título do capítulo cinco, desenvolvido por Luc Vandenberghe, Gleiber Couto e Antonius Cornelius van Hattum. Nesse capítulo é apresentado e descrito o modelo circumplexo de personalidade proposto por Kiesler. O modelo contém 16 categorias, rotuladas pelas letras de A a P distribuídas ao redor de uma circunferência. Cada categoria se relaciona a uma atitude interpessoal que caracteriza a personalidade. As dimensões interpessoais representam atos concretos e publicamente observáveis. Dois instrumentos psicométricos que estão disponíveis para aplicação desse modelo em pesquisas e situações de avaliação psicológica são apresentados. Segundo os autores, os instrumentos contribuem para mapear como a interação vai moldando o estilo de personalidade. Os estudos de validade da versão adaptada do CLOIT-R são apresentados ao final do capítulo.

Alexsandro Luiz de Andrade e Vicente Cassepp-Borges são os autores do sexto capítulo, intitulado "Considerações teóricas e práticas sobre qualidade em relacionamentos românticos". Nesse capítulo são apresentados os aspectos mais investigados no Brasil em relação ao relacionamento romântico. Os autores apontam para a diversidade de nomenclaturas utilizadas para se referir à qualidade dos relacionamentos românticos, entendendo que esse é um fenômeno multidimensional. Diversas pesquisas tentam identificar as variáveis preditoras da qualidade conjugal. Algumas habilidades consideradas como causadoras na manutenção e qualidade de um relacionamento romântico são indicadas. O modelo triangular do amor de Sternberg é apresentado e relacionado com a satisfação no relacionamento. Também é apresentado o modelo cognitivo do amor de De Andrade, desenvolvido no contexto brasileiro. Por fim, são expostas algumas questões acerca da composição da satisfação conjugal, demostrando que esse construto é afetado por múltiplas variáveis.

O próximo capítulo, que apresenta um recorte de uma pesquisa desenvolvida pelos autores Rodrigo Sanches Peres e Manoel Antônio dos Santos, leva o título "Avaliação das relações interpessoais em mulheres acometidas por câncer de mama: Contribuições do Teste de Apercepção Temática". A pesquisa foi realizada com o objetivo de caracterizar e comparar a dinâmica das relações interpessoais em dois grupos de mulheres acometidas por câncer de mama. A pesquisa envolveu a realização de entrevista psicológica e a aplicação do TAT. Os resultados apontados são discutidos à luz da teoria psicossomática psicanalítica, sendo que diferenças importantes foram observadas entre os grupos.

O último capítulo da primeira parte do livro, nomeado "Medindo o amor apaixonado", foi desenvolvido por Cyrille Feybesse, Elaine Hatfield e Félix Neto e pretendeu apresentar uma revisão sobre as recentes descobertas científicas sobre o amor e expor alguns instrumentos de medida traduzidos para o português e utilizados em países lusófonos, para se medir o amor apaixonado. Segundo a taxonomia desenvolvida por Elaine Halfield e Ellen Berschei, o amor é dividido em duas partes principais: o amor apaixonado e o amor companheiro. Pesquisadores ligados à neurociência passaram a desenvolver estudos sobre o tema e, de acordo com pesquisas, algumas áreas do cérebro são ativadas quando uma pessoa vê a foto da pessoa amada, sendo que alguns neurotransmissores têm papel importante no amor romântico. São apresentadas algumas teorias discutidas e reconhecidas internacionalmente sobre o tema. Por fim, os autores apresentam algumas escalas adaptadas sobre o amor apaixonado baseadas na teoria das cores do amor e na teoria triangular de Sternberg.

A segunda parte do livro se dedica ao estudo das emoções no contexto da prática clínica ao longo de 10 capítulos. O capítulo inicial dessa parte se intitula "Psicoterapia experiencial e emoções: Avaliação e intervenção" e foi desenvolvido por João Carlos Caselli Messias, Giuliana Gnatos Lima Bilbao e Walter Andrade Parreira. Esse capítulo traz a explanação sobre o fluir psicológico de uma pessoa em psicoterapia a partir do referencial experiencial de Eugene Gendlin. Segundo os autores, o mais importante na psicoterapia seria o processo, sendo as emoções ou sentimentos produtos desse processo. O conceito de senso sentido é desenvolvido e diferenciado do conceito de emoção. Os autores apresentam a concepção de Hendricks sobre os modos de experienciar e seus três principais grupos. Para os autores, a avaliação e intervenção seriam faces da mesma moeda, uma vez que é através da avaliação do nível de experienciação do cliente que o terapeuta pode ser mais empático e estar mais seguro em relação a sua atuação. A união dessas duas práticas favoreceria não apenas a compreensão do conteúdo do cliente, como também o entendimento do processo. O capítulo é encerrado com a análise de um caso fictício, levando-se em consideração os níveis de experienciação do cliente.

O décimo capítulo do livro, intitulado "Psicodrama, emoção e subjetividade como dispositivos" de Norma Silvia Trindade de Lima, desenvolveu o pensamento de Moreno a respeito da responsabilidade de cada indivíduo dentro dos contextos sociais. Um breve histórico sobre como Moreno desenvolveu seu pensamento é apresentado. A socionomia é apresentada, bem como seus três recortes metodológicos: a sociometria, a sociodinâmica e a sociatria, sendo essa última considerada o método adotado pelo psicodrama. A autora discorre sobre aspectos do psicodrama como, por exemplo, os momentos básicos de sua organização e os instrumentos necessários para que seja possível a realização desse.

O capítulo seguinte, nominado "O desenvolvimento infantil e a expressão emocional por meio do lúdico" e escrito por Juliana F. Cecato, Marjorie Cristina Rocha da Silva, Heitor Francisco P. Cozza e Fernando Pessotto, discute o lúdico como um mecanismo de desenvolvimento emocional infantil. Os autores afirmam que a atividade lúdica, além de contribuir para a interação da criança com seu ambiente, também é considerada um meio de expressão e aprendizado. O lúdico é considerado um regulador emocional, onde, através dele, pode-se expressar e testar diferentes formas de emoções. Ao longo do desenvolvimento infantil, desde o recém-nascido até idades posteriores, a criança desenvolve brincadeiras que, além de favorecer a maturação psicomotora, linguística e cognitiva, favorece o desenvolvimento emocional. Segundo os autores, em cada fase do desenvolvimento infantil existem tipos de manifestação emocional que estão relacionadas às necessidades e possibilidades de maturação. Os diferentes tipos de brincar, além de serem prazerosos, também auxiliam no processo de aprendizagem e no desenvolvimento da criatividade. Por fim, a ludoterapia e seus diferentes métodos de aplicação são apresentados. Os autores concluem chamando atenção para a conscientização de pais e escola sobre a importância do brincar para o desenvolvimento infantil.

O décimo segundo capítulo, desenvolvido pelo chileno Carlos Barría Román e intitulado "La angustia como emocíon para reconsiderar nuestra clínica" se inicia com a exposição do pensamento de alguns filósofos como Kierkegaard, Heidegger e Sartre sobre a questão da angústia no homem. Alguns conceitos de Sartre são apresentados a fim de esclarecer como essa questão é abordada ao longo de sua obra. Algumas vinhetas são apresentadas para ilustrar o trabalho clínico sobre a angústia a partir da vertente teórica apontada pelo autor. Conclui-se reiterando a importância do entendimento da angústia e tomada de consciência para prática clínica psicológica.

Os autores Renata Limongi França Coelho Silva, André Vasconselos-Silva, Wanessa Marques Tavares e Gleiber Couto desenvolveram o capítulo seguinte com o título "Baixa competência social e emoções: Um estudo de caso com base na terapia cognitivo-comportamental". Esse capítulo traz definições dos aspectos considerados importantes na terapia cognitivo-comportamental para o treino de habilidades sociais, além de expor alguns dados sobre estudos realizados com o tema em diversos contextos. Segundo os autores, as habilidades sociais são de grande importância ao longo das fases de desenvolvimento da vida e possibilitam maior conhecimento da relação emoção-pensamento-comportamento. Os conceitos de competência social, empatia e assertividade são expostos. Estudos sobre habilidades sociais são apresentados, bem como as principais técnicas comportamentais e cognitivas encontradas atualmente na literatura. Por fim, os autores apresentam um caso clínico de treino de habilidade sociais em um jovem.

O capítulo seguinte, intitulado "Avaliação e intervenção orientada para as emoções na anorexia nervosa" foi desenvolvido por Sandra Torres, Marina Guerra, Filipa Vieira, António Roma-Torres e Isabel Brandão. Esse capítulo apresenta as principais contribuições teóricas sobre o papel das emoções no desenvolvimento e manutenção da anorexia nervosa nos campos de investigação comportamental, cognitivo e psicofisiológico. Os principais métodos de avaliação e intervenção no âmbito do regulamento emocional são apresentados. Alguns estudos são expostos, sendo que, em um deles, são verificadas diferenças entre as respostas emocionais de pessoas com algum transtorno alimentar e pessoas sem esse tipo de transtorno. O conceito de alexitimia é apresentado e relacionado à presença de transtornos alimentares. Os autores apresentam instrumentos de avaliação da percepção emocional e por fim discutem estratégias de intervenção baseadas na terapia cognitivo-comportamental, sendo que em todas elas a questão do evitamento emocional, presente na anorexia nervosa, são relatados.

No capítulo "Aspectos emocionais em cuidadores de idosos: Os sentimentos de quem cuida de pacientes com doença terminal" os autores José Eduardo Martinelli, Juliana F. Cecato, Daniel Bartholomeu e José M. Montiel abordam o tema dos cuidados paliativos do ponto de vista dos familiares e/ou cuidadores, desde sua criação até os dias atuais. O principal objetivo do capítulo é a apresentação de uma pesquisa realizada pelos próprios autores com integrantes de um curso para cuidadores de pacientes terminais. Os participantes responderam a um questionário com perguntas sobre a forma como se percebiam frente ao paciente terminal. Foi verificado que muitas vezes os familiares e/ou cuidadores são negligenciados durante o tratamento do paciente. Dentre os relatos apresentados na pesquisa, os autores notaram a presença de sentimentos de culpa, incapacidade, depressão e angústia frente à condição do paciente terminal. Entre outras considerações, os pesquisadores apontam que existem recursos possíveis de serem utilizados que visam minimizar o impacto psicológico causado em familiares e/ou cuidadores, como é o caso da arteterapia, psicoterapia e preparo dos profissionais.

O capítulo 16, denominado "Emoções e autismo" e escrito por Ana Rita Bruni e Fernanda Speggiorin P. Alarcão levanta questões e revisa alguns aspectos sobre a natureza das dificuldades de compreensão e expressão emocional em indivíduos no espectro autista. Primeiramente o conceito de autismo é definido apresentando as principais dimensões comprometidas nessa doença. O estudo de Darwin sobre a expressão das emoções em diferentes culturas foi apresentado. A questão da dificuldade no reconhecimento de emoções é apresentada juntamente com estudos variados que procuram especificar as dificuldades nesse tipo de reconhecimento. Constatou-se, por exemplo, que parentes próximos a pessoas com espectro autista também apresentam algumas dificuldades no reconhecimento emocional. A Teoria da Mente, que está relacionada à atribuição de estados mentais aos outros a fim de inferir e explicar seus comportamentos, é exposta e relacionada ao tema. As autoras apresentam o conceito de funções executivas quentes e frias e fazem considerações sobre o possível comprometimento dessas funções no espectro autista. Por fim, estudos neurológicos de identificação de regiões cerebrais envolvidas na imitação e autismo são apresentados, chamando-se a atenção para importância do estudo do tema a fim de evitar mal-entendimentos e motivar políticas de assistência.

Os autores Miriam Tachibana, Mariana Padovan e Marcel Henrique Rodrigues desenvolveram o capítulo intitulado "Avaliação e tratamento em emoções: As especificidades da clínica psicanalítica". Nesse capítulo são discutidas as diferentes noções psicanalíticas de avaliação e tratamento. Para os autores, avaliação e tratamento são faces de uma mesma moeda. Segundo os autores, na terapia psicanalítica, a avaliação não necessitaria de instrumentos além do próprio terapeuta, uma vez que a avaliação é realizada a partir das próprias observações e de recursos dialógicos. Em seguida, os autores apresentam novas propostas de intervenção, sendo Winnicott um dos autores citados. Finalmente, o caso de uma menina de 10 anos é apresentado ilustrando a avaliação e intervenção clínica.

O capítulo seguinte, de Maria Rúbia de Camargo Alves Orsini, trata das "Considerações acerca das vivências afetivas presentes no discurso de pacientes distímicos". O texto apresenta a análise do relato de entrevistas de anamnese psicopatológica realizada com 24 pacientes diagnosticados com transtorno distímico. Incialmente, a autora define o transtorno seguindo os eixos do DSM-IV. A autora discute sobre as limitações de manuais de diagnóstico, apontando a entrevista clínica como uma das possibilidades de maior precisão no diagnóstico. Alguns relatos dos pacientes entrevistados são discutidos, levando-se em consideração as especificidades do transtorno. Por fim, a autora atenta para a necessidade de desenvolvimento de instrumentos que auxiliem no diagnóstico desse tipo de transtorno.

A terceira parte do livro traz questões sobre as emoções no contexto escolar e desportivo. O primeiro capítulo dessa parte trata sobre a questão da afetividade no contexto escolar. O capítulo é intitulado "A importância da afetividade na relação entre professor e aluno" e escrito por Patrícia Villela Calbella, Juliana F. Cecato e Heitor F. P. Cozza. O texto traz as considerações de Vygotsky e Piaget sobre a intersecção entre a vida emocional e o desenvolvimento cognitivo, sendo a união e regulação entre emoção e cognição essencial para um adequado desenvolvimento. Em seguida, os autores discorrem sobre a questão do desenvolvimento da afetividade no processo educacional, sendo esta dividida em três aspectos: cognitivo, comportamental e emocional. É ressaltada a importância da afetividade na relação professor-aluno como um recurso amplificador da zona de desenvolvimento proximal, conceito desenvolvido por Vygotsky. Segundo os autores, quando o professor é capaz de identificar e reconhecer as emoções em si e nos alunos, ele está mais apto a atender as necessidades de seus alunos. O capítulo é finalizado destacando o papel da escola no desenvolvimento da personalidade do aluno.

O vigésimo capítulo do livro, intitulado "A importância das emoções no processo de aprendizagem e no entendimento sobre as dificuldades de aprendizagem", desenvolvido por Marjorie Cristina Rocha da Silva, José Maria Montiel e Daniel Bartholomeu, trata sobre a importância da capacidade emocional para o desenvolvimento cognitivo saudável. O texto procura entender quais influências as emoções exercem na motivação para aprender e as dificuldades encontradas nesse percurso. Segundo os autores, a aprendizagem envolve aspectos afetivos, cognitivos e sociais. As emoções, no processo de ensino e aprendizagem, têm a função de proporcionar maior abertura de interações que possam permitir a descobertas dos interesses, necessidades e dificuldades reais das crianças, criando novos significados de sua maneira de ser. O conceito de inteligência emocional é discutido e, por fim, os autores argumentam sobre os diversos fatores que podem interferir no desempenho de crianças no processo de aprendizagem.

O capítulo seguinte, de Afonso Antonio Machado, é denominado "As emoções no esporte: A busca de equilíbrio". Esse capítulo se inicia apresentando a questão do ensino do esporte dentro da escola, sendo muitas vezes o esporte visto apenas no aspecto do desempenho durante a atividade esportiva e raramente é tratada a questão da cultura esportiva. Segundo o autor, diversos estudos mostram que atletas, de alto nível ou não, passam por situações muito estressantes por diversos motivos. Assim, muitas emoções, positivas e negativas, podem ser suscitadas nesses indivíduos. Algumas emoções como o medo, a ansiedade e a raiva são descritas e analisadas dentro do contexto esportivo. Por fim, o autor destaca a necessidade de competência dos profissionais que atuam na área, seja o educador físico ou psicólogo.

Antonio Rui Gomes é o autor do capítulo "Adaptação humana no desporto: Uma perspectiva transacional" que aborda a questão do estresse e desempenho esportivo. Segundo o autor, é necessário avaliar quais variáveis estão relacionadas à melhora ou piora no desempenho de atletas. A analise dessas variáveis é realizada a partir do Modelo Transacional Cognitivo, Motivacional e Relacional, sendo que situações estressoras são consideradas atuantes no desempenho dos atletas. O autor cita 8 propriedades de situação que podem ser consideradas estressantes, porém ressalta que uma situação só será considerada estressora após a avaliação cognitiva feita pelo próprio indivíduo. Segundo o autor, essa avaliação cognitiva pode ser dividida em duas: primária e secundária. Cada um delas é apresentada e exemplificada. Também são abordadas as estratégias de coping utilizadas, sendo divididas em 3 componentes. Alguns estudos sobre o processo de confronto de situação estressantes no contexto desportivo são apresentadas, porém, conclui-se que os dados não são congruentes, sendo necessário o desenvolvimento de mais estudos. As emoções também são apontadas como bastante presentes no contexto dos atletas. O autor apresenta oito emoções e o significado relacional de cada um delas para o atleta. Por fim, discute a possibilidade de ampliação dos componentes da avaliação cognitiva, para a avaliação terciária e quartenária.

O capítulo 23 é intitulado "Adaptação a situações de estresse no tae-know-do: Importância dos processos emocionais e de confronto" e foi desenvolvido por Antonio Rui Gomes, Jorge Abreu, Pedro Póvoa e Jair Vaz. O capítulo apresenta um estudo realizado pelos autores com o objetivo de analisar as emoções pré-competitivas denominadas "positivas" e "negativas" e as estratégias de coping dos atletas da modalidade tae-know-do. Discutem-se dois fatores considerados importantes facilitadores ou debilitadores no rendimento dos atletas: as emoções e as estratégias de coping. Finalmente, os autores apresentam um estudo que avaliava, por meio de três instrumentos, as dimensões emocionais e as estratégias de confronto utilizadas por atletas da modalidade tae-know-do em situações estressoras pré-determinada. Um dos resultados apontados diz respeito à diferença entre os sexos apenas em relação às emoções positivas e negativas, enquanto não foram encontradas tais diferenças em relação às estratégias de confronto.

O capítulo seguinte, de Mário Neves, Antonio Rui Gomes e Joaquín Dosil, é intitulado "Estresse, emoções e confronto no alpinismo: Importância de uma perspectiva transacional" e apresenta um estudo de caráter qualitativo que analisa e identifica as fontes de estresse e as respectivas estratégias de coping utilizadas por 10 alpinistas que participaram do estudo. Os resultados foram divididos em dois componentes: um analisa as emoções vivenciadas na ação e ou outro analisa as fontes de estresse e estratégias de coping. O estudo permitiu verificar como são analisadas as emoções positivas e negativas pelos alpinistas, corroborando, segundo os autores, outros estudos realizados.

"Alexitimia no esporte: Teriam os atletas déficits nos domínios cognitivo e experiencial dos sistemas de resposta das emoções?" é o título do capítulo seguinte, escrito por Marcos Alencar Abaide Balbinotti e Daniela Wiethaeuper. Nesse capítulo, o conceito de alexitimia é definido e algumas hipóteses sobre o tema são apresentadas, ressaltando-se que indivíduos alexitímicos tenderiam a descarregar suas tensões e maneira impulsiva e compulsiva. É discutida, em seguida, a relação entre o treino compulsivo de atletas e a regulação do afeto. Segundo os autores, existem estudos incongruentes em relação à presença ou ausência de alexitimia em atletas. Alguns estudos apontam para características de alexitimia nesses indivíduos enquanto outros não encontram diferenças significativas em relação à população não atleta.

O capítulo 26, de Marcos Alencar Abaide Balbinotti e Emmanuel Habimana, é intitulado "Inveja: Uma emoção inerente ao esporte e a competição esportiva". O capítulo se inicia apresentando a inveja moral e a inveja freudiana, além das quatro intensidades da inveja: emulação, ferida narcísica, luxúria e cólera. É feita um diferenciação entre a inveja e o ciúme, sendo que a primeira está relacionada ao desejo de possuir um objeto e o segundo está relacionado ao desejo de preservar um objeto, deixando-o fora do alcance o outro. Alguns exemplos de casos de inveja no contexto esportivo são apresentados. Por fim, os autores buscam discutir a origem da inveja, relacionando-a com o contexto de comparação social, sendo que algumas áreas, como o bem-estar material e a inteligência são apontados como os que mais suscitariam inveja.

O capítulo seguinte, "Regulação das emoções no esporte" de Daniela Wiethaeuper e Marcos Alencar Abaide Balbinotti, apresenta o assunto iniciando uma discussão sobre emoções e processos regulatórios em geral, e tratando sobre o tema na psicologia do esporte. São apresentadas quatro etapas que seriam anteriores à expressão de uma emoção (situação, atenção, avaliação e resposta) e as possibilidades de regulação das emoções (seleção situacional, direção da atenção, mudança cognitiva e modulação da resposta). Algumas técnicas de regulação emocional são apresentadas. Por fim, os autores apresentam algumas técnicas e táticas de aprimoramento da regulação emocional de atletas, encontradas em estudos atuais.

O último capítulo do livro, intitulado "Estresse, emoções e rendimento desportivo: Da conceitualização à investigação" e escrito por José Miguel Nogueira e Antonio Rui Gomes, discute o impacto do estresse e das emoções na análise do rendimento de atletas. Os autores apresentam estudos evidenciando divergências no conceito de estresse: alguns estudos o definem como um estímulo presente no ambiente enquanto outros o apontam como uma resposta presente no indivíduo. Os autores apontam para a questão da diferença de adaptação dos atletas a uma mesma situação estressora e expõem vários fatores, sendo a emoção um deles, que interferem nessa adaptação ao estresse. Segundo os autores, os recursos exigidos e os recursos percebidos como disponíveis são determinantes no processo de adaptação ao estresse. Por fim, é apresentada a Teoria das Zonas Ótimas de Funcionamento Individual, que objetiva avaliar as emoções consideradas facilitadoras e debilitadoras do rendimento de cada atleta, além de um estudo e possibilidades de investigações futuras sobre o tema.

O livro traz em seus capítulos diversos temas relacionados à avaliação e tratamento das emoções. Além disso, pesquisas atuais desenvolvidas sobre a temática são apresentadas, enriquecendo e contextualizando o campo teórico e prático. O livro destina-se a pesquisadores, profissionais e estudantes de psicologia, áreas do esporte e demais áreas interessadas na atuação prática e na atualização teórica sobre os temas abordados.

 

 

Endereço para correspondência
e-mail: anacarolina.zf@gmail.com

 

 

iGraduanda da Universidade Estadual de Londrina, bolsista de mestrado da Universidade São Paulo.