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Jornal de Psicanálise

Print version ISSN 0103-5835

Abstract

BLIKSTEIN, Izidoro. O inferno na obra de Graciliano Ramos: uma obsessão semiótica. J. psicanal. [online]. 2011, vol.44, n.81, pp. 233-244. ISSN 0103-5835.

O objetivo deste artigo é demonstrar como a busca do significado do termo inferno é uma obsessão semiótica que perpassa pela obra inteira de Graciliano Ramos. Tudo começa na dúvida que assalta o menino mais velho, personagem de Vidas Secas, quando este, ao ouvir uma “palavra esquisita” - inferno -, procura saber o significado; pergunta à mãe (sinhá Vitória), ao pai (Fabiano) e até à cachorra Baleia, mas não consegue descobrir o que é inferno. Ao fazer a pergunta “O que é inferno?”, o menino instaura de pronto um problema semiótico, na medida em que, conforme a clássica lição de Ferdinand de Saussure, ele detém o significante, mas não conhece o significado. Ao pedir explicações à mãe, o menino fica sabendo que o inferno é “um lugar ruim”. Para compreender esse significado, ele indaga de sinhá Vitória se ela já tinha ido ao inferno para saber se era um lugar ruim. Tal indagação lhe vale uma repreensão e uma pancada na cabeça. Mas a pergunta do menino era da mais legítima prática semiótica, pois como sinhá Vitória poderia saber que o inferno é um lugar ruim, se nunca tinha ido lá? Estamos diante de uma ampla questão semiótica que envolve a relação entre os signos, o conhecimento e a realidade. Para explicar o conhecimento de sinhá Vitória a respeito do inferno, temos de recorrer às teorias de Mikhail Bakhtin e, mais especificamente, a seus conceitos de intertextualidade e polifonia. No artigo, demonstraremos como inferno é uma “realidade” construída por toda uma rede de discursos intertextuais e polifônicos, produzidos em diferentes épocas e culturas. É justamente contra essa construção semiótica realizada pelo discurso do mundo adulto que se insurge Graciliano, em Infância, na medida em que questiona “as certezas” das instituições (família, escola, religião). E não é por acaso que uma dessas “certezas” questionadas é a existência do inferno. Em Infância, ao negar o inferno, desafiando a própria mãe e a Igreja, Graciliano é, na verdade, o menino mais velho de Vidas Secas na busca obstinada pela significação do mundo.

Keywords : Semiótica; Signo; Referente; Intertextualidade; Polifonia.

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