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Jornal de Psicanálise

versão impressa ISSN 0103-5835

Resumo

MARCONDES, Durval. Identidade de sexo e estruturação do ego. J. psicanal. [online]. 2021, vol.54, n.100, pp. 313-320. ISSN 0103-5835.

Constitui situação cheia de perigos a necessidade de definir uma representação mental de si mesmo em concordância com o sexo a que o indivíduo pertence. A bissexualidade psíquica original acarreta obstáculos ao perfeito acabamento da identidade de sexo, podendo trazer prejuízos para a síntese da personalidade. A tendência à clivagem desta e a correspondente ameaça à estruturação de um ego são, assim, condições inerentes à própria essência da primitiva disposição bissexual. A identidade de sexo tem seus primórdios nas relações do indivíduo com a cena primária. Para compreender os problemas que isso acarreta, é interessante estudar as várias configurações psíquicas a que dão lugar, no múltiplo jogo de fusões e cisões aí presentes, as três partes constitutivas da cena primária (mãe, pai e criança). De acordo com o material psicanalítico de psicóticos e perversos sexuais, pode-se considerar a presença de três elementos separados entre si e, ao mesmo tempo, fundidos num só conglomerado de três. Os processos opostos de identificação e diferenciação podem aí coexistir, graças a uma condição peculiar ao início do desenvolvimento psíquico, que é a ambiguidade. Esse núcleo básico da cena primária sofre desdobramentos e redistribuições que são esquematicamente descritos. O progresso no sentido do princípio da realidade conduz à formação de uma identidade de sexo e obriga ao sacrifício da bissexualidade primitiva que estava contida na concepção original da cena primária. A relativa preservação, através de certas perversões sexuais, daquilo que o autor denominou "núcleo hermafrodita primário", é uma forma de manter a unidade do ego, embora com prejuízo de um perfeito estabelecimento da identidade de sexo. Em alguns casos de homossexualidade masculina, pode se observar que, basicamente, se trata de um esforço para a conservação de uma dupla identidade, com o fim de manter um ego que, de outro modo, viria a desagregar-se. Na experiência do autor, a forma de perversão sexual em que a síntese interna dos dois sexos se acha representada mais tipicamente é o transvestismo masculino. Na esquizofrenia, a natureza mais arcaica do quadro clínico deixa transparecer mais claramente o papel defensivo da bissexualidade. Aquilo que foi exposto acentua a necessidade de estudo mais completo da maneira pela qual a perversão ou a reação psicótica restitutiva procuram, através da defesa ou da reconstituição do núcleo hermafrodita original, assegurar ou restabelecer a integridade do ego. A melhor compreensão desse assunto será de grande valor para nosso aperfeiçoamento teórico e técnico.

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