SciELO - Scientific Electronic Library Online

 
vol.8 issue2The onto-phenomenology of the world in Merleau-Ponty or the “(un)thinking” of Husserl: reading the philosopher and his shadowLévinas, Husserl and Damásio: from otherness as experience to experience as otherness author indexsubject indexarticles search
Home Pagealphabetic serial listing  

Estudos e Pesquisas em Psicologia

On-line version ISSN 1808-4281

Abstract

MATTAR, Cristine Monteiro  and  SA, Roberto Novaes de. Os sentidos de “análise” e “analítica” no pensamento de Heidegger e suas implicações para a psicoterapia. Estud. pesqui. psicol. [online]. 2008, vol.8, n.2, pp. 0-0. ISSN 1808-4281.

Este trabalho trata de alguns dos principais conceitos da psicoterapia daseinsanalítica, inspirada no pensamento do filósofo alemão Martin Heidegger. Para isto, inicia pela explicitação da escolha do termo “analítica” (Analytik) feita por Heidegger em sua obra “Ser e Tempo” (1927) em lugar de “análise” (Analyse). Aponta-se para a diferença de sentido entre ambos, destacando o afastamento moderno do significado originário de “análise”, que o reduz a uma decomposição em elementos, em analogia com a química. No entanto, análise vem do grego analisein, que significa o destecer de uma trama, ou libertar, soltar alguém ou alguma coisa das amarras. O termo analítica, utilizado por Kant e retomado por Heidegger, não conduz a uma desintegração do fenômeno, mas sim ao seu caráter originário, ao seu sentido, sua condição de possibilidade. A analítica tece e destece, para libertar o sentido que possibilita o tecido, para vislumbrar o próprio tecer e re-tecer. Esta é a via pela qual Heidegger irá compreender a analítica. A Daseinsanalyse, análise da existência, é definida por ele em “Seminários de Zollikon” como o exercício ôntico da analítica ontológica empreendida em “Ser e Tempo”. Pode-se, então, pensar a Daseinsanalyse também como o exercício da analítica na clínica, que elabora tematicamente a existência factual do cliente, remetendo-a às suas estruturas existencial-ontológicas constitutivas. Esse destecer, conduzido pela análise, libera o existir para tudo aquilo que o interpela como abertura de sentido, ajudando-o a tornar-se presente para todos os entes, inclusive para si mesmo, através da reflexão. Após apresentar as idéias de dois psiquiatras suíços que estabeleceram relações entre a filosofia de Heidegger e a clínica - Ludwig Binswanger e Medard Boss - o artigo propõe ainda alguns modos pelos quais pode pautar-se a atitude do psicoterapeuta na Daseinsanalyse. Uma vez que as demandas de sofrimento existencial, endereçadas à clínica psicoterápica, cada vez mais estão relacionadas ao nivelamento histórico de sentido que pode ser computado no cálculo global de exploração e consumo, é imprescindível, para que a psicoterapia possa se constituir em um espaço de reflexão propiciador de outros modos de existir, que ela própria não permaneça acriticamente subordinada a esse mesmo horizonte histórico de redução de sentido.

Keywords : Analítica; Análise; Clínica Psicoterápica; Daseinsanalyse.

        · abstract in English     · text in Portuguese     · Portuguese ( pdf )

 

Creative Commons License