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Boletim de Psicologia

versão impressa ISSN 0006-5943

Bol. psicol v.57 n.126 São Paulo jun. 2007

 

TRABALHOS DO ENCONTRO DE PSICOLOGIA JUNGUIANA

 

Abertura do Encontro de Psicologia Junguiana. Saudação

 

Opening of the Jungian Psychology Meeting

 

 

Maria Helena Souza Patto*

Instituto de Psicologia da Universidade de São Paulo

 

 

Antes de mais nada, quero cumprimentar os organizadores deste evento e os que aderiram a ele, levados pelo desejo de pensar. Cumprimento especialmente a Laura, minha colega de Instituto, que conheço desde que ambas éramos muito jovens. Eu, uma jovem professora; ela, uma jovem aluna.

Universidade é docência, pesquisa e prestação de serviços. Universidade é lugar de reflexão teórica, de criação de teorias e de conceitos que interpretam a realidade. No caso das Ciências Humanas, lugar de reflexão e de interpretação da condição humana: dos homens e das sociedades que eles criam a cada momento da história.

Como interpretações que são, as teorias não são neutras. Contêm concepções sobre o que são os homens e como se relacionam. O que são os grupos, as instituições e as sociedades humanas, a cada momento da história. Concepções datadas, que só podem ser entendidas se remetidas ao tempo histórico em que foram concebidas. Concepções, que contêm, mesmo que os que as criaram e as adotam não o saibam, uma dimensão política, ou seja, que carregam entendimentos sobre as relações de poder que podem somar com elas ou opor-se a elas. E, ao conter estas concepções, contribuem para a adesão sem crítica das pessoas ao que existe &– induzindo-as ao conformismo &– ou para a formação de uma postura crítica dos homens frente ao mundo que eles próprios constróem.

Se a Universidade é lugar de reflexão, ela não pode ser lugar de conhecimentos cristalizados e tidos como definitivos. Ela deve ser lugar de produção de saberes. Quando se mineraliza, o conhecimento é tomado como verdade definitiva e acima de qualquer suspeita.

O pensamento, assim constituído, não pensa a si mesmo, não é reflexivo, perde a capacidade de ser crítico. A teoria, assim entendida, torna-se mero instrumento para a realização de fins práticos ou pragmáticos. Nesse âmbito, o objetivo de quem se dispõe a aprendê-la é meramente um pragmático saber fazer.

O saber, ao contrário, é o conhecimento que não se cristaliza, que não vira fôrma ou fórmula, que é avesso aos automatismos, à eterna repetição. Permanentemente aberto, ele convida à reflexão e faz saber.

Jung sabia disso. Seu grande mérito talvez esteja na coragem de refletir, discordar e inovar, de dizer não ao Mestre. Ou seja, ele teve a coragem de pensar o pensamento psicanalítico. São exatamente esta capacidade e esta coragem que constituem uma instituição merecedora do nome de Universidade. Por isso, desejo a todos um dia pleno de reflexão e crítica, como propôs o Mestre que preside este evento.

 

 

Recebido em 30/05/06
Aceito em 10/06/06

 

 

* Endereço para correspondência: Instituto de Psicologia da USP. Av. Prof. Mello Moraes, 1721. São Paulo - SP. CEP: 05508-900.

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