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Boletim de Psicologia

versão impressa ISSN 0006-5943

Bol. psicol v.57 n.126 São Paulo jun. 2007

 

ARTIGOS ORIGINAIS

 

O baú dos sonhos adormecidos: a dimensão simbólica da rinite alérgica em um estudo de caso

 

The trunk of sleeping dreams: the symbolic dimension of allergic rhinitis in a case study

 

 

Pericles Pinheiro Machado Júnior* 1

Pontifícia Universidade Católica de São Paulo - Faculdade de Psicologia, Núcleo de Estudos Junguianos
International Association for Jungian Studies
Instituto Sedes Sapientiae

 

 


RESUMO

A respiração é um fenômeno humano rico em imagens arquetípicas, as quais desempenham uma função simbólica no processo de individuação. Estudos psicossomáticos realizados pelo referencial da Psicologia analítica possibilitam compreender as doenças como processos simbólicos ao considerar psique e corpo como uma realidade única e complexa que se manifesta como totalidade arquetípica. No presente estudo a rinite alérgica foi investigada como expressão simbólica no processo de individuação de uma mulher de 47 anos diagnosticada com essa doença. Concluiu-se que a análise da dimensão simbólica da rinite alérgica possibilita refletir sobre sua ocorrência e seu significado ontológico neste caso particular. Esta reflexão aponta aspectos arquetípicos da rinite alérgica e oferece subsídios para sua compreensão no contexto da clínica junguiana e para o aprofundamento de estudos sobre a fenomenologia psique-corpo.

Palavras-Chave: Rinite alérgica, Psicossomática, Psicologia analítica, Símbolo, Arquétipo.


ABSTRACT

Breathing is a phenomenon rich in archetypal images, that plays a symbolic function in the process of individuation. Psychosomatic studies in the context of Analytical Psychology, allow for the understanding of diseases in a symbolic perspective as it considers psyche and body as a single and complex reality within an archetypal totality. The present study investigates diagnosed allergic rhinitis of a 47-year-old woman as a symbolic expression within the individuation process. We conclude that the analysis of symbolic aspects of allergic rhinitis helps us to reflect upon its occurrence and ontological meaning in this particular case. This reflection reveals archetypal aspects of allergic rhinitis and offers a basis for understanding this disease in the context of Jungian clinical practice and provides some elements for further developments on body-mind phenomena researches.

Keywords: Allergic rhinitis, Psychosomatics, Analytical Psychology, Symbol, Archetypes.


 

 

INTRODUÇÃO

A rinite alérgica é uma das alergias respiratórias que atualmente apresenta maior prevalência na população de modo geral segundo informações da Associação Brasileira de Alergia e Imunopatologia &– ASBAI.

Considerada uma desordem clínica heterogênea, a rinite alérgica é caracterizada por um processo agudo de inflamação da mucosa nasal que, pelo caráter alérgico, tem sua etiologia na interação de fatores genéticos e ambientais. Costuma ser acompanhada de outros sintomas que envolvem os olhos, a garganta e mesmo inflamações nos ouvidos (otites), sinusites e ronco (Skoner, 2001). É uma patologia muito freqüente entre pessoas com antecedentes familiares de alergia e muito comum nos grandes centros urbanos, onde a poluição do ar é mais intensa. Apesar de ser muito comum entre adolescentes e crianças, a rinite alérgica pode se manifestar em qualquer momento da vida, assim como ocorre em outras patologias alérgicas (ASBAI, 2005).

Embora não existam dados estatísticos sobre a prevalência da rinite alérgica no Brasil, a ASBAI (2005) estima que cerca de 10 a 25% da população apresente o quadro clínico desta patologia que compromete especialmente a qualidade de vida dos indivíduos afetados.

A relação entre a manifestação da rinite alérgica e a qualidade de vida dos pacientes constitui um dos atuais campos de pesquisa dedicados à compreensão dos fatores psicossociais relacionados às patologias orgânicas. Considera-se que os pacientes diagnosticados com rinite alérgica experimentam diversas limitações no desempenho de suas atividades cotidianas, seja pelo desconforto causado pelos sintomas nasais específicos, seja por seus sintomas associados, tais como sensações de mal estar, dores de cabeça, redução da capacidade de concentração e alterações de sono (Silva, 2005).

A proposta desta análise de um caso de rinite alérgica é agregar ao corpo científico alguns elementos que possibilitem compreender essa disfunção respiratória do ponto de vista das experiências subjetivas e das dinâmicas arquetípicas. O método de investigação proposto pela Psicologia analítica de Jung permite estudar os modos como uma patologia orgânica se inscreve na singularidade do indivíduo, ao mesmo tempo em que revela a rede de sentidos coletivos atribuídos à doença. Até o momento em que foi realizado o presente estudo não foram encontrados trabalhos científicos sobre a rinite alérgica nesse mesmo contexto metodológico.

 

COMPREENSÃO SIMBÓLICA DAS DOENÇAS ORGÂNICAS

A compreensão das patologias orgânicas como expressões simbólicas é abordada por Ramos em pesquisas realizadas junto ao Programa de Estudos Pós Graduados da PUC-SP, nos núcleos de Psicossomática e de Estudos Junguianos. Seus trabalhos versam sobre a aplicação da Psicologia analítica não apenas como método de investigação de fenômenos humanos, mas também como terapêutica adequada ao tratamento coadjuvante de disfunções orgânicas. Ramos (1994) propõe que as manifestações patológicas do corpo são os representantes mais tangíveis de um sofrimento que é simultaneamente experimentado psiquicamente.

Segundo o paradigma junguiano, psique e corpo não são abordados como duas dimensões desconexas. Elas compõem o humano em sua totalidade. A racionalização do mundo em categorias que separam a alma do corpo, o subjetivo do objetivo, impede-nos de tratar o homem como a unidade complexa que é. Facilita a exploração das categorias objetivas, mas exclui importantes elementos do fenômeno humano (Ramos, 1994).

Na busca de reconhecer o paciente como um indivíduo, cuja ontologia não exclui o corpo da identidade pessoal, o modelo analítico apresenta-se como uma possibilidade de investigação científica bastante apropriada: “Os sintomas físicos e psíquicos não são mais do que manifestações simbólicas de complexos patogênicos” (Jung, 1997, par. 727).

Nessa citação, Jung estabelece uma perspectiva de unidade em que as marcas do corpo e da alma são tratadas como manifestações de um mesmo núcleo que são os complexos. Esta abordagem implica compreender a condição humana, na saúde ou na doença, como uma experiência simbólica que expressa aspectos de uma totalidade somatopsíquica. A respiração, por exemplo, tem significados que muito freqüentemente são inconscientes tanto para indivíduos sadios como para aqueles afetados por um distúrbio orgânico. Quem já experimentou crises de rinite alérgica sabe que uma “respiração ardida” é uma experiência de profunda irritação e constrangimento.

Em se tratando de um trabalho orientado pelo referencial da Psicologia analítica, esta análise terá por objeto os símbolos que emergem da relação entre o sujeito e suas produções expressivas (desenhos e relato autobiográfico). No contexto deste artigo, a identificação dos elementos simbólicos é tornada possível por meio do diálogo entre o pesquisador e a participante de pesquisa a respeito de suas produções expressivas.

Na Psicologia analítica, considera-se que o símbolo se forma a partir de um movimento intencional da consciência em cooperação com o inconsciente (Penna, 2003). Quando há esta atitude favorável da consciência, o símbolo emerge como carreador de conteúdos inconscientes que podem então ser integrados pelo ego. Esses elementos inconscientes, por sua vez, ao estabelecerem contato com uma imagem reconhecida pela consciência, levam o sujeito a experimentar “uma sensação vivencial de inquietação; um certo fascínio … que simultaneamente atrai e ameaça a estabilidade da consciência” (p. 278).

Para fins desta análise, a compreensão da rinite alérgica como fenômeno, cujas dimensões incluem o simbólico, torna-se possível por meio de uma leitura do material coletado com a intenção de elaborar o símbolo de modo compreensível à consciência. A capacidade de interpretação e elaboração dos elementos simbólicos observados tem por finalidade “traduzir os fatos em termos psicológicos e compreendê-los de tal forma que o material desconhecido (inconsciente) possa ser integrado à consciência” (Penna, 2003, p. 183).

Com base nos princípios da Psicologia analítica, Ramos (1994) desenvolve sua hipótese de que o símbolo constitui um elemento fundamental na compreensão das patologias orgânicas. A constelação de um símbolo resulta da função transcendente, um mecanismo de auto-regulação da energia psíquica que visa à homeostase do organismo em sua totalidade e atua mediante a formação de uma interface que permite a emergência de elementos inconscientes à superfície da consciência (Penna, 2003). No contexto do fenômeno psique-corpo, Ramos (1994) compreende as doenças como símbolos que ao mesmo tempo revelam uma cisão e apontam para uma possibilidade de integração consciente de elementos do Self. Ao estender os conceitos da perspectiva junguiana para a esfera das patologias do corpo, entendemos que toda doença orgânica

“é uma expressão simbólica que visa compensar uma atitude unilateral da consciência. A doença seria uma reação do organismo, uma compensação, com a finalidade de levar o indivíduo a integrar o reprimido, religando o ego ao seu eixo com o Self ” (p. 54).

Esta disfunção no eixo ego-Self é compreendida como resultante da ação de um complexo, que funciona de modo autônomo e tem por efeito uma redução da energia disponível ao ego para integrar elementos novos ao campo da consciência. A hipótese de Ramos sugere que a doença seja decorrência de uma impossibilidade de elaboração psíquica por parte do indivíduo adoecido,

“que tenha cindido a vida fantasiosa das impressões sinestésicas, expressando-se através de um funcionamento simbólico pré-verbal. Outra hipótese é que a consciência tenha dificuldade de integrar o símbolo emergente devido à complexidade nele envolvida. Podemos observar que situações existenciais profundas ou traumáticas podem trazer questionamentos, os quais o ego, ao não conseguir integrá-los no plano abstrato, é induzido a somatizar” (Ramos, 1994, p. 59).

A autora afirma que a compreensão do sintoma como símbolo implica o reconhecimento de uma finalidade da doença no contexto da totalidade psíquica. Se o sintoma orgânico é considerado indicativo de uma cisão na representação de um complexo, de tal forma que a polaridade abstrata permanece reprimida, o trabalho de integração dessas duas dimensões (orgânica e psíquica) no contexto do símbolo é o que possibilitará sua reintegração na consciência. Resulta dessa hipótese que o trabalho de elaboração simbólica pode também proporcionar um alívio ao corpo, na medida em que imagens arquetípicas podem ser reconhecidas, compreendidas, elaboradas e assimiladas pelo ego, restaurando, desta maneira, a homeostase energética da totalidade somatopsíquica. Um dos recursos de que dispõe a Psicologia analítica para tratar da compreensão e elaboração dos símbolos consiste em um trabalho denominado amplificação simbólica.

“O processo de amplificação simbólica proposto por Jung consiste em ampliar e enriquecer os elementos do símbolo através de associações e analogias que fluem numa cadeia contínua de similaridades, visando a traduzir e interpretar o material desconhecido do símbolo. O ato de ampliar e enriquecer o símbolo, por meio de analogias diversas, favorece a compreensão de seu significado arquetípico pela diversidade de possibilidades oferecidas ao ego para captar o aspecto oculto do símbolo e encontrar o significado que mais faça sentido para a consciência atual” (Penna, 2003, p. 195).

Neste sentido, o trabalho com o simbolismo relacionado ao ar e à respiração abre caminhos para a compreensão da rinite alérgica como distúrbio que se inscreve no contexto de uma totalidade ontológica. Lembramos que o método da amplificação simbólica possibilita a ampliação da consciência e uma maior integração de elementos psíquicos anteriormente cindidos ou reprimidos. Nesse contexto, Ramos (1994) considera que o trabalho com o símbolo pode dar ensejo a um novo equilíbrio entre as polaridades orgânica e psíquica.

 

MÉTODO

A análise ora relatada é parte integrante de uma pesquisa realizada pelo autor na Faculdade de Psicologia da PUC-SP e apresentada em 2005. A pesquisa teve como colaboradores três participantes do sexo feminino, diagnosticadas com rinite alérgica, e residentes na cidade de São Paulo. No presente artigo, apresentaremos os resultados e a discussão do caso de uma das participantes, a quem chamaremos pelo pseudônimo de Clarice. Os dados foram coletados em um único encontro, tendo sido utilizados dois instrumentos de investigação, descritos a seguir, para fins de análise de conteúdos projetivos.

 

RELATO AUTOBIOGRÁFICO

Por ocasião do agendamento do encontro para coleta de dados, Clarice foi solicitada a redigir um texto autobiográfico de forma livre. Seu relato foi entregue por email, tendo sido lido e analisado pelo pesquisador somente após o término de toda a coleta de dados, de maneira a evitar a contaminação do campo associativo da participante com observações apontadas pelo pesquisador.

O uso deste tipo de material permite observar o movimento narrativo do indivíduo no que concerne à descrição de sua vida pessoal. A imaginação, neste contexto, desempenha um papel importante na rememoração biográfica e revela o modo particular como cada pessoa interage com aspectos culturais da linguagem. Este tipo de narrativa de fatos passados está intrinsecamente relacionado ao senso de identidade pessoal, pois em seu caráter auto-reflexivo revela-se o sentido da história de vida tal como é experimentada pelo indivíduo (Kerby, 1991).

 

PRODUÇÕES PICTÓRICAS

No momento do encontro com Clarice, foi solicitada a realização de três desenhos utilizando-se lápis de cor, aquarela ou giz de cera e papel branco tamanho A4. Os temas dos desenhos foram anunciados seqüencialmente: a) desenho livre; b) desenho da figura humana; e c) representação da rinite alérgica.

Ao término dos desenhos, Clarice foi solicitada a falar sobre cada uma de suas produções. Os relatos sobre o modo como ela experimenta a rinite alérgica e a relação dessas experiências com as imagens expressas nos desenhos foram investigadas e registradas durante o encontro.

O uso de desenhos na avaliação psicológica, seja em um processo psicodiagnóstico, seja na coleta de dados de pesquisa, é difundido na Psicologia psicodinâmica como instrumento de verificação das projeções dos indivíduos em relação a um determinado tema. Os desenhos, no contexto desta pesquisa, são interpretados como elementos projetivos em si, dado que “as produções pictóricas colocam sobre o papel as preocupações, desejos, anseios, angústias, problemas e satisfações fundamentais ou momentâneas, assim como denunciam a estrutura básica da personalidade” (Van Kolck, 1966, p. 16).

Os desenhos produzidos foram analisados segundo a perspectiva simbólica da Psicologia analítica. Neste sentido, priorizamos a compreensão de projeção como um modo inconsciente de atribuir características subjetivas ao mundo externo ou de uma dinâmica psíquica cujo cerne não é reconhecido pelo sujeito como algo de origem pessoal (Van Kolck).

Segundo o método da Psicologia analítica, podemos interpretar qualquer conteúdo simbólico pela sua observação descritiva (Augras, 1980). Deste modo, destacamos da produção expressiva das participantes aquilo que no contexto da rinite alérgica emerge como elemento simbólico e interpretamos esses mesmos elementos a partir de um exercício de amplificação dos sentidos subjetivos com os elementos arquetípicos relacionados ao ar, à respiração e à dinâmica dos elementos simbólicos pessoais, apresentados e explicitados pelas próprias participantes.

Os aspectos simbólicos da rinite alérgica foram identificados com base no conjunto de desenhos produzidos e nas referências simbólicas apontadas por Clarice durante a coleta de dados. Adicionalmente seu relato autobiográfico foi estudado com a intenção de ampliar a compreensão da vivência da rinite alérgica no contexto de sua história de vida.

 

RESULTADOS

Ao realizarmos uma leitura simbólica da rinite alérgica em busca de aspectos próprios de seu simbolismo, podemos também circunscrever uma série de imagens que apontam para o significado arquetípico da doença. Nesse sentido é possível reconhecer alguns elementos simbólicos da rinite alérgica no contexto do imaginário coletivo. Entretanto, convém salientar que o reconhecimento dessas imagens não implica a existência de uma relação causal e direta entre a doença e a psique, como se fosse possível considerarmos a rinite alérgica ou qualquer outra patologia orgânica como indicador somático de um conjunto específico de características subjetivas. Tal atitude estaria em desacordo com o paradigma junguiano que orienta este trabalho.

A ênfase desta discussão recairá sobre os modos como a rinite alérgica é expressa simbolicamente no contexto ontológico de Clarice. Também serão analisados aspectos psicodinâmicos que marcam sua singularidade e que permitem compreender um pouco sobre seu momento atual de individuação.

A individuação é um conceito da Psicologia analítica que descreve “o processo psicológico no qual o ego torna-se progressivamente consciente de sua própria natureza,” ou o modo ontológico como o indivíduo “experimenta uma diferenciação de suas identidades coletivas” (Edinger, 2000, p. 31). Desta forma, buscaremos entender como os símbolos associados à rinite alérgica se articulam com as características psicodinâmicas do indivíduo, o que nos permite reconhecer a importância do símbolo como carreador de elementos do Self que se expressam em sua polaridade somática.

 

OBSERVAÇÕES SOBRE O RELATO AUTOBIOGRÁFICO

biografia de Clarice é contada a partir do nascimento. A inscrição na ordem genealógica parece representar algo muito significativo em sua vida, o que também fica evidente, quando menciona que seu nome foi escolhido para homenagear a bisavó paterna: “Dizem que ela era uma mulher enérgica, decidida e amorosa, não a conheci.”

A partir daí, Clarice relata sua vida de forma muito apurada, buscando evidenciar o modo singular como ela se percebe em meio a tantas referências familiares. Com riqueza de detalhes e tonalidades sentimentais ela descreve as casas em que morou, a vizinhança, os amigos e parentes. Clarice residia apenas com os pais e duas irmãs mais velhas, mas sua casa era constantemente freqüentada por parentes maternos e paternos, incluindo avós, tios e primos de diferentes faixas etárias. Temos a impressão de que as memórias de Clarice compõem com sua narrativa um quadro bastante amplo e extrovertido. Ao mesmo tempo, a expressão de suas características pessoais atenua-se, por vezes, em meio a tantas informações.

Sua afeição pelos avós é mencionada como algo muito marcante em seu percurso de vida. A avó materna é considerada uma pessoa bastante corajosa e potente, pois era a representante do mundo adulto que mais lhe possibilitava brincar com o que quisesse. Ela menciona que a família da avó, originalmente muito rica, perdeu dinheiro na crise de 1929. E acrescenta: “a mudança de status não a abalou desse lugar de alegria. Mesmo tendo que se adaptar a um novo modo de vida, [a avó] continuava moleca e brincalhona.”

Clarice parece se identificar com essa figura materna adulta e com a linhagem matriarcal da família. Ela admira o bom humor da avó, que mesmo em situações bastante difíceis encontra um sentido construtivo para os altos e baixos da vida. Avó e bisavó são reconhecidas como mulheres que enfrentaram os descaminhos da vida com muita energia e disposição.

Por outro lado, as figuras masculinas são raramente citadas ou apresentadas com características psicológicas individuais. No contexto das associações simbólicas de Clarice, podemos compreender essa atitude como indício de uma postura unilateral da consciência, que revela uma baixa familiaridade com o universo das imagens arquetípicas do animus. Anima e animus são figuras arquetípicas que representam respectivamente as atitudes internas do homem e da mulher, projetadas freqüentemente em pessoas do sexo oposto. Segundo os pressupostos da teoria junguiana, nesses arquétipos encontram-se as potencialidades e qualidades ausentes na consciência (Ramos, 1994).

Após relatar a sua relação com figuras femininas fortes, Clarice conta que aos quatro anos de idade teve uma crise de asma na casa de sua madrinha. Ela menciona que estava brincando com um primo e, que ao ver a mãe chegar ao portão para buscá-la, teve início sua primeira crise de asma. Nessa ocasião, ela começou um tratamento médico. Clarice relata que a asma tornou-se uma forma de exercer poder no confronto com suas duas irmãs mais velhas: “Neste período meus pais falavam que elas não podiam me contrariar, senão eu podia ter um ataque de asma.”

Ela conta sobre seu ingresso no mundo escolar e seus receios quanto à vida em grupo. Em casa, conseguia se reconhecer como uma figura forte (e lembramos aqui que seu nome foi dado em homenagem à grande matriarca da família). No entanto, o modo de exercer sua força revelava igualmente sua própria vulnerabilidade. Se antes a asma era um modo de exercer o poder em casa, após a fase de crises agudas Clarice teve de se adaptar como pôde para se precaver contra as possíveis retaliações das irmãs:

Desenvolvi outra tática: quando elas me batiam, nem que não tivesse doído muito, gritava como se estivessem arrancando minhas tripas, assim, ou elas ficavam satisfeitas, ou algum adulto intervinha.”

As expectativas com relação ao ingresso na vida escolar são igualmente contadas em detalhes. Clarice preparava-se para o primeiro dia de aula, mas, no momento de entrar na escola, ela se apavora, sente-se insegura demais para permanecer em “uma sala com pessoas totalmente estranhas.” Ela é levada de volta para a casa e conversa com a mãe. Por um lado, o ambiente estranho é sentido como ameaçador; por outro, seu sentimento de força e capacidade de enfrentamento está associado ao convívio com pessoas familiares: “Quando estava perto dela [a mãe] ou de qualquer outra pessoa bem conhecida, eu achava que enfrentaria qualquer desafio, mas, quando estava sozinha, essa valentia acabava.”

O sentimento de vulnerabilidade parece ter diminuído à medida que Clarice cresceu e passou a se relacionar com as pessoas de modo mais independente e espontâneo. Mas, em certo momento, morreu sua avó, nasceu um novo bebê em casa e Clarice se sentiu mais uma vez desamparada. Temos a impressão de que a potência originalmente atribuída à figura da avó constituía uma expectativa de Clarice quanto a tornar-se uma pessoa igualmente capaz de lidar com as oscilações do mundo adulto que a rodeava. Com a morte da avó, Clarice perdeu a referência do poder simbólico que ainda não havia sido suficientemente assimilado e apropriado pelo ego. Para lidar com a angústia em um ambiente repleto de personagens tão significativos, o que é sugerido pelo número de pessoas que são trazidas à narração, Clarice parece contar apenas com a expressão corporal: “Sempre tive muita dificuldade em lidar com situações onde não consigo me defender, nessas ocasiões é comum que eu chore, mas choro de raiva.”

Durante nossa conversa, Clarice falou do momento em que teve a primeira crise de rinite alérgica aos 42 anos, quando tomou a decisão de fazer um curso universitário. Ela havia se casado em 1979, aos 21 anos de idade. Nessa ocasião, cursava o primeiro ano da faculdade, mas após seis meses de casamento soube que estava grávida. Ela então decidiu suspender o curso por um momento para cuidar da gestação: “Na época eu achava que faria a faculdade logo mais, não estava preocupada. Aí veio a segunda [gestação], outra grandessíssima alegria e nem pensava mais em estudar. A correria pra cuidar dos filhos era grande.”

Com a decisão de cuidar dos filhos, uma atitude que parece adequada à tradição familiar matriarcal que marca sua história, a possibilidade de fazer um curso universitário foi deixado em segundo plano.

Em 2000, com os filhos crescidos e a vida familiar bem estruturada, Clarice tomou a importante decisão de resgatar seu projeto universitário: “O sonho de cursar uma faculdade era uma coisa que estava guardada no sótão, dentro de um baú que estava muito empoeirado.” Nesse ano, Clarice iniciou o cursinho e passou a ter crises de rinite alérgica pela primeira vez na vida:

Lembro que nessa fase, recomecei a ter ataques de tosse cada vez mais severos e, na época, achava que era por causa do ar condicionado do cursinho, mas, observando melhor, acho que tem mais a ver com a demanda do meu processo de análise do que com o ar condicionado &– por mais ácaros que tivesse.”

Em seu tratamento psicanalítico, Clarice relata ter lidado com seu desejo de ingressar em uma profissão. O que consideramos mais importante neste aspecto de sua biografia é a maneira como se desenvolvem as associações simbólicas relacionadas à temática da realização pessoal e, nesse mesmo contexto, ao surgimento da rinite alérgica.

 

OBSERVAÇÕES SOBRE OS DESENHOS PRODUZIDOS

a) Desenho livre

 

 

Figura 1. Desenho livre

Clarice desenha uma praia onde há um guarda-sol e uma pessoa de asa delta. Ela associa a praia à sensação de liberdade e relaxamento, marcada por um mistério (o mar) e pela proteção associada ao guarda-sol.

A asa delta é associada à possibilidade de perceber as coisas de uma perspectiva distanciada: “Enxergar as coisas do alto. Maior expansão de horizonte.” Nota-se que não há nenhuma pessoa na praia: “O desenho parece representar a situação arquetípica da solidão. A única figura humana representada é o homem na asa delta que flutua no ar e permanece distante da praia, o lugar onde as relações de contato com os outros se torna possível. Em termos teleológicos, é interessante relacionarmos essa figura masculina aérea com a perspectiva de um movimento empático da consciência em relação a elementos do animus.”

O desenho parece representar a situação arquetípica da solidão. A única figura humana representada é o homem na asa delta que flutua no ar e permanece distante da praia, o lugar onde as relações de contato com os outros se torna possível. Em termos teleológicos, é interessante relacionarmos essa figura masculina aérea com a perspectiva de um movimento empático da consciência em relação a elementos do animus.

b) Desenho da figura humana

 

 

Figura 2. Desenho da figura humana

Clarice pinta uma figura feminina a partir de um rascunho feito a lápis. Notamos que os olhos e a boca são grosseiramente delineados, o pescoço denota rigidez, as mãos encontram-se ocultadas e as marcas dos seios, borradas. Temos a impressão de que, ao realizar a tarefa proposta, Clarice expressa uma atitude de racionalização que inibe a espontaneidade do movimento criativo iniciado no desenho anterior.

A racionalização e o sentimento de solidão sugerem a manifestação do animus negativo, no sentido de uma atitude desfavorável do ego com relação ao universo anímico, o que dificulta a emergência e a integração de elementos do Self no campo da consciência sob a forma de símbolos.

A figura é representada em pé e de perfil sobre um solo verde escuro que se mistura ao verde claro das calças da personagem, o que sugere uma indiscriminação entre o feminino pessoal e a natureza arquetípica matriarcal (a terra, Deméter). Clarice se identifica com essa figura feminina e a descreve como “uma mulher confortavelmente vestida, caminhando no campo, revendo as coisas da infância e conhecendo coisas novas.” Seu desenho é associado aos movimentos de recordar suas origens e experimentar um sentimento de quietude e crescimento. O olhar da personagem mira a algo que não é representado no desenho, algo que Clarice talvez perceba intuitivamente.

Suas associações indicam uma tendência prospectiva relacionada ao momento da solitude: “Ela não vai ficar sozinha por muito tempo. Ela aprecia ficar só nesses momentos, mas ela gosta de gente.” É importante notarmos que seu desejo, manifesto no plano verbal, revela inversamente a situação do momento presente em que ela se percebe sozinha. Ao mesmo tempo, entendido como imagem simbólica, indica a iminência de uma nova atitude da consciência em relação ao Self.

c) Representação da rinite alérgica

 

 

Figura 3. Representação da rinite alérgica

A rinite alérgica é representada em um desenho cor-de-rosa, em que manchas e respingos se espalham pela folha como espirros. Ela o descreve como uma irritação que representa a perda de equilíbrio e de tranqüilidade interna. Seu desenho cria um movimento circular em expansão, que é associado à sensação de explosão.

Neste desenho percebemos a labilidade do controle racional egóico. Ao transitar da concretude da figura humana para a representação abstrata do sintoma orgânico, Clarice deixa vir à tona sentimentos de irritação, que nos desenhos anteriores estavam contidos. Ela menciona uma hipersensibilidade dos brônquios (lembramos de suas crises de asma na infância e da relação entre poder e vulnerabilidade), que por sua vez estão associados a: “Saúde e cansaço. Paradoxal. Aflição, perda de controle.”

Ao concluir seu desenho da rinite alérgica, Clarice indica que sua produção revela um momento de crise: “Depois da crise, nem sempre as coisas voltam à homeostase. Mas todas as coisas voltam. O processo de recuperação da homeostase é que é lento.”

 

DISCUSSÃO

O baú empoeirado, os sonhos adormecidos

O significado simbólico da rinite alérgica no contexto ontológico de Clarice pode ser compreendido a partir de seu relato autobiográfico como resultante de uma curiosa relação entre os aspectos etiológicos da doença (polaridade somática) e a imagem que expressa o contexto subjetivo em que ela surge (a polaridade psíquica).

A imagem do baú empoeirado, empregada por Clarice em seu relato, contém os desejos adormecidos do início de sua vida adulta. Resgatá-los significa entrar em contato não apenas com o sonho de cursar uma universidade aos 21 anos, mas com todas as outras coisas que com ele ficaram aprisionadas.

Nas histórias de piratas, o tesouro é freqüentemente guardado em um baú e enterrado em algum ponto secreto de uma ilha deserta. Temos aqui uma representação do baú como recipiente que guarda em segurança os objetos de grande valor. Vale lembrar que toda história sobre baús de tesouros se justifica exatamente pelo motivo arquetípico da sua busca, isto é, pelo resgate dos objetos neles contidos. A história relatada por Clarice descreve seu percurso rumo à realização pessoal de um sonho que ficou por muito tempo mantido em resguardo.

Durante nossa conversa, Clarice afirma que organizar armários é uma atividade que ela não pode realizar devido às limitações próprias do quadro de rinite alérgica. A poeira e o cheio de mofo lhe provocam irritação na garganta, coceira nasal e espirros. Apesar de compreendermos que essas respostas somáticas são próprias da condição alérgica, é muito importante notar que também a imagem psíquica da poeira que cobre o baú, guardado no sótão de suas memórias, evoca em fantasia a mesma situação de arrumar armários. Podemos supor que a concretude da poeira dos armários e a imagem abstrata do pó que recobre o baú de sonhos de Clarice tenham no inconsciente a mesma valência em termos de significado.

Se o símbolo aponta para a união de duas atitudes em oposição, qual então é o sentido do baú empoeirado e da rinite alérgica nesse contexto?

Observamos anteriormente que a identificação com o universo feminino tem um papel proeminente no relato de Clarice. Na presença de tantas mulheres de personalidade forte &– a bisavó, as avós, a mãe, as irmãs &– parece restar pouco espaço para as sutilezas do mundo masculino.

Talvez neste ponto possamos compreender uma oposição que confere uma atitude unilateral à consciência. Não se trata de uma oposição de gêneros masculino e feminino, mas de dinamismos arquetípicos &– conseqüentemente, profundos &– que se referem ao modo de estruturação das experiências de alteridade, especialmente aquela que diz respeito à estranha relação entre o ego e o Self.

Observamos que o movimento espontâneo iniciado por Clarice na realização do desenho livre perde sua força, quando ela é solicitada a representar uma figura humana. Apontamos uma atitude de racionalização que pode ser identificada em aspectos formais desse desenho. Observamos também elementos que sugerem uma indiscriminação do ego com aspectos do arquétipo materno.

A perspectiva do desenho dá a impressão de que as pernas da mulher estão imersas no solo verde, isto é, no território da mãe natureza.

Relata o mito que Perséfone era a bela e jovem filha de Deméter, a grande deusa da agricultura. Certo dia ela passeava pelos campos floridos de sua mãe, quando avistou uma flor e parou para apreciá-la. Nesse momento o chão se abriu e das profundezas da terra emergiu Hades, o deus do mundo inferior. Perséfone é raptada e a partir de então ela se torna a consorte do temido deus.

Esse fragmento do mito dá uma imagem bastante clara da dinâmica do animus. O ego feminino identifica-se fortemente com as figuras do mundo materno e este se torna a dimensão do conhecido. O animus representa uma imagem do inconsciente que possibilita à mulher integrar qualidades do Self que, de outro modo, permaneceriam longamente desconhecidas ao ego. Quando Clarice se apega ao familiar universo feminino &– o lugar seguro a que ela recorre desde sua infância nos momentos de vulnerabilidade &–, sua relação com o território anímico torna-se prejudicada.

Na polaridade negativa, o arquétipo do animus se manifesta como possessão, tal como a imagem do rapto de Perséfone pelo terrível Hades. A atitude do animus inferior, isto é, a inconsciência do ego em relação à via de alteridade para o Self, reflete-se em Clarice na atitude racional que notamos no desenho da figura humana e também pode ser reconhecida na história do baú dos sonhos guardados.

Ao abdicar do desejo de cursar uma faculdade para cuidar dos filhos, Clarice faz uma escolha notadamente pautada pelo arquétipo materno. Neste ponto fica clara a indiferenciação do ego com o imaginário feminino de sua família. A potência dessa dinâmica matriarcal dificulta a flexibilização de papéis. Neste contexto, a escolha que parece mais natural é também inevitável e muito compatível, do ponto de vista ontológico, com a valorização do materno, conforme pudemos reconhecer em seu relato autobiográfico.

Por sua vez, toda escolha implica também uma perda e, neste caso, o que ficou guardado no baú empoeirado foi o que poderíamos chamar de uma escolha do animus. Os sonhos universitários puderam ser resgatados oportunamente e, então, podemos levantar a hipótese de que Clarice entrou em contato mais próximo com o universo no animus a partir do momento em que refaz suas escolhas aos 40 anos de idade. Segundo Whitmont (2000), o desenvolvimento de uma atitude consciente em relação ao mundo inferior de Hades implica o aprendizado da justa medida, da aceitação da reparação, da independência e da racionalidade de maneira construtiva.

Neste caso, a rinite alérgica pode ser compreendida como um sinalizador da baixa adaptação do ego à dinâmica do animus. Ao ter de lidar com a dimensão dos desejos guardados, Clarice se depara com elementos psíquicos que permaneciam inconscientes desde o início de sua vida adulta.

Consolidada sua relação com o universo feminino, isto é, tendo conhecido e compreendido as responsabilidades inerentes à experiência da maternidade, ela pôde reafirmar seu desejo de cursar uma faculdade agora em idade adulta. Esse evento marca claramente o ingresso em um novo momento de seu processo de individuação, aquilo que a Psicologia analítica denomina metanóia, uma mudança da atitude consciente em que o indivíduo volta sua atenção para os sentidos existenciais mais profundos.

 

CONCLUSÃO

O universo simbólico da rinite alérgica

A investigação da dimensão simbólica da rinite alérgica no contexto ontológico de Clarice permite reconhecer a importância de entendermos a doença como uma expressão da totalidade. Uma vez que o conceito de símbolo na Psicologia analítica implica a união do universo arquetípico com conteúdos ontológicos, podemos reconhecer nas imagens associadas à rinite alérgica expressões simbólicas muito particulares e significativas.

Quando compreendemos que os modos de convívio em um determinado ambiente podem ser assimilados e significados pela consciência em imagens simbolicamente relacionadas à dinâmica da respiração, abrimos um importante campo de observação para o estudo das patologias das vias aéreas. Em termos clínicos, a análise simbólica possibilita uma compreensão das doenças respiratórias a partir de um referencial teórico que trata cientificamente de uma dimensão do humano que é inapreensível pela Biologia. Reiteramos aqui a importância do desenvolvimento de estudos neste campo de transicionalidade que caracteriza os fenômenos psique-corpo, especialmente em relação à rinite alérgica, cujas referências no contexto junguiano eram inexistentes até o presente momento.

No caso de Clarice, percebemos também a força do ambiente familiar na composição do imaginário associado às dinâmicas interpessoais. Mas, ao contrário de uma relação excessivamente negativa com o ambiente, encontramos na biografia de Clarice uma intensa adaptação do ego às formas arquetípicas oferecidas pelo universo materno. Por sua vez, o desajuste ao mundo interno do animus representa o campo aéreo de onde a rinite alérgica emerge como símbolo. A relação do Logos e do pneuma com o arquétipo do animus (Jung, 1988) se expressa nesse símbolo e aponta para a necessidade de integração de elementos do Self incompatíveis com a postura egóica rigidamente estabelecida no feminino. A análise permite apontar uma relação simbólica entre a rinite alérgica e a capacidade de escolha e sustentação da autonomia, que no contexto ontológico de Clarice constitui uma atitude orientada pela dinâmica arquetípica do animus.

Embora nossa intenção não seja a de estabelecer relações generalizadas entre experiências subjetivas e sintomas orgânicos, este exercício de compreensão da dimensão simbólica da rinite alérgica agrega ao referencial analítico elementos empíricos bastante significativos que podem ser úteis na condução de casos clínicos. Se o exercício da análise tem por meta proporcionar a ampliação da consciência, a integração de elementos subjetivos dissociados e favorecer o amadurecimento de aspectos potenciais do Self, que se encontram aprisionados no sofrimento psíquico, o trabalho com a dimensão simbólica das doenças constitui um importante recurso para a prática clínica.

Ao verificarmos a estreita relação entre as dimensões orgânica e simbólica da rinite alérgica, é válido considerarmos que os pacientes diagnosticados com essa patologia possam ser tratados clinicamente também com o objetivo de aliviar as manifestações mórbidas dessa disfunção respiratória. A hipótese psicossomática, que orienta o presente estudo, sustenta que é possível alcançar uma diminuição da expressividade patológica da polaridade orgânica dos sintomas mediante o trabalho analítico com o símbolo (Ramos, 1994).

Concluímos que o estudo da dimensão simbólica da rinite alérgica nos possibilitou refletir sobre sua ocorrência e significado no contexto ontológico da participante da pesquisa. Esta reflexão aponta aspectos arquetípicos da rinite alérgica e oferece subsídios para a compreensão desta disfunção respiratória no âmbito da clínica junguiana e dos estudos da fenomenologia psique-corpo.

 

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Recebido em 22/05/06
Revisto em 26/09/06
Aceito em 30/09/06

 

 

1 O autor agradece a colaboração e as orientações de Dra. Liliana Wahba e Dra. Denise Ramos do Núcleo de Estudos Junguianos do Programa de Pós-Graduação em Psicologia Clínica da PUC-SP.
* Endereço para correspondência: Av. São Gabriel, 626, ap. 52, Jardim Paulista. São Paulo, SP. CEP: 01435-000. Telefones: (11) 3068 0005; E-mail: periclespmachado@yahoo.com.br.

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