SciELO - Scientific Electronic Library Online

 
vol.57 número127Relação entre o consumo de álcool e hábitos paternos de ingestão alcoólicaIdentificação dos adolescentes de hoje com a personagem de cinderela índice de autoresíndice de assuntospesquisa de artigos
Home Pagelista alfabética de periódicos  

Boletim de Psicologia

versão impressa ISSN 0006-5943

Bol. psicol v.57 n.127 São Paulo dez. 2007

 

ARTIGOS ORIGINAIS

 

 

Velhice: qualidade de vida intrínseca e extrínseca

 

Old age: intrinsic and extrinsic life’s quality

 

 

Norma Aparecida Silveira de Moraes1; Geraldina Porto Witter*

Unicastelo

 

 


RESUMO

O objetivo foi pesquisar vários aspectos da qualidade de vida (intrínseca e extrínseca) na opinião de idosos fazendo comparações de gênero. Participaram da pesquisa 50 idosos (65-86 anos), metade de cada gênero. Eles responderam a dois questionários (WHO/QOL &– abreviado e outro elaborado para a pesquisa). Os resultados mostraram que tendem a considerar boa a qualidade de vida que desfrutam e em algumas variáveis há correlação entre as posições masculinas e femininas, em outros há divergências. Tendem a atribuir à religião um papel importante em suas vidas.

Palavras-Chave: Gênero, Religiosidade, Atitude.


ABSTRACT

The aim was to investigate various aspects of life’s quality (intrinsic and extrinsic) according to elderly people opinions, compared by gender. Fifty older adults (65-86 years old), half of each gender, participated of the study. They answered two questionnaires (WHO/QOL &– short form and another one elaborated for the research). The results showed the tendency to evaluate positively their life’s quality. It was found some correlations among genders, concerning some variables, as well divergences in others. They tended to assign an important role to religion into theirs lives.

Keywords: Gender, Religiosity, Attitude.


 

 

INTRODUÇÃO

Características de personalidade, competências e habilidades adquiridas ao longo da vida, estilo de vida, apoio social, entre outras, são variáveis que estão presentes no envelhecimento bem sucedido e na qualidade de vida que se pode desfrutar na velhice (Neri, 2001). O envelhecimento é um processo natural que desperta muito medo e fantasias. É importante ressaltar que o envelhecer com qualidade de vida está presente no desejo de todos, quer intrínseca quer extrinsecamente, entretanto nem todos conseguem isto.

Segundo Santos (2003), a questão do idoso no Brasil deve merecer cada vez mais o interesse dos órgãos públicos, dos formuladores de políticas sociais e da sociedade em geral, dado o volume crescente desse segmento populacional de suas características demográficas, econômicas e sociais requerendo cuidados e atenção ao idoso.

Existem vários conceitos de velhice que variam de acordo com as áreas de estudo (Neri, 2001). Desta maneira a Geriatria, a Psicologia, o Serviço Social, a Terapia Ocupacional, a Fisioterapia, o Jornalismo, o Direito etc, terão respostas diferentes para a mesma questão. A seguir são apresentadas algumas proposições a respeito. Segundo uma teoria da personalidade (Huffman, Vernoy e Vernoy, 2003), retomando o enfoque psicanalítico social, o estágio que ocorre por volta dos 65 anos, é o estágio da integridade versus desespero. As pessoas entram em um período de reflexão, tornando-se seguras de que suas vidas foram significativas e tornando-se prontas para enfrentar a morte com aceitação e dignidade, caso contrário, desesperam-se por terem a sensação que seus objetivos não foram alcançados, que são fracassos de vidas pouco aproveitadas.

Alguns autores (Neri, 2001, 2003; Huffman, Vernoy e Vernoy, 2003) consideram que ao longo de seu amadurecimento, o ser humano vai se transformando qualitativamente, vencendo sucessivos conflitos evolutivos e ganhando mais qualidade. A emergência destas qualidades cumpre objetivos na vida do indivíduo e da espécie. Existem formas bastante variadas de enfrentar o envelhecimento, que mudam de acordo com época, cultura e nível socioeconômico. Muitos não percebem o envelhecimento que está chegando, vivendo naturalmente os longos anos sem ter uma visão da velhice. O tipo de envelhecimento é que determina o estilo de comportamento, principalmente no grupo familiar.

Neste contexto, Freire (2003) afirma que o envelhecimento bem-sucedido também é visto como competência adaptativa do indivíduo, ou seja, a capacidade generalizada para responder com flexibilidade aos desafios resultantes do corpo, da mente e do ambiente. De acordo com estudiosos, essa competência adaptativa é multidimensional: (a) emocional, no sentido das estratégias e habilidades do indivíduo para lidar com fatores estressores; (b) cognitiva, em relação à capacidade para resolução de problemas e (c) no sentido do desempenho e competência social.

A chegada da velhice, segundo Skinner e Valghan (1983), inclui as limitações do corpo muito vivido sem a mesma vitalidade, a mesma rapidez de raciocínio, sem a mesma percepção sensorial e motora, ou mesmo cognitiva. Muitas vezes o idoso é acometido por doenças crônicas específicas da velhice, porém a qualidade de vida pode ser mantida com criatividade e lazer, sem dispensar os cuidados com a saúde.

Os mesmos autores se referem à idéia de aprender a programar sua vida como um conjunto de maneiras de agir, de forma a possibilitar o viver bem a velhice. Existem velhos de todos os tipos e a maneira como lidam com a velhice depende em parte do nível socioeconômico, de sua educação, da religião, da identidade étnica ou nacionalidade e de sua família, de suas ocupações passadas ou presentes, de seus campos de interesse entre outras coisas. Cada caso é específico, é preciso fazer uma avaliação precisa de cada idoso para verificar o que é melhor para o seu estilo e qualidade de vida, quando a situação é de orientação ou de terapia individual.

Toda vida é um constante processo de transformação e desenvolvimento. Santana e Sena (2002) citam em seu trabalho os estigmas que representam a velhice na sociedade. Quanto aos estigmas, há os que contribuem para que o idoso entre em crise de identidade e auto-imagem negativa. Dentre os vários tipos de estigmas identificados por Goffman, (1982, apud Witter, 2004), destacam-se aqueles relacionados às deformidades físicas, por se aplicarem bem aos idosos. Para ele o processo de envelhecimento físico acarreta, conseqüentemente, transformações corporais, levando à estigmatização do velho a partir da sua aparência física e alquebrada, sem levar em conta a sua qualidade de vida. Aliás, as perdas físicas são as socialmente mais visíveis e que, por esta razão, possivelmente mais contribuem para a estigmatização.

Qualidade de vida na velhice implica em organizar a vida dentro dos parâmetros definidos pelas limitações físicas e psicológicas e, segundo o Estatuto do Idoso e a OMS (2003), implica em garantir assistência à saúde, liberdade de escolha, amigos, moradia, lazer entre outros. Lipp (1996), ao se referir à qualidade de vida, deixa claro que o conceito se refere à percepção do indivíduo quanto à satisfação em quatro áreas: social, afetiva, profissional e saúde. O objetivo é enfatizar a qualidade de vida do idoso dentro dos parâmetros da velhice saudável, entendendo assim que é intrínseca, porém também, deve-se considerar o contexto e as preferências do idoso.

Freqüentemente o idoso volta-se para o passado, muitas vezes questionando o tipo de pessoa que ele representou para a sociedade, para a sua vida, acarretando assim um isolamento social. Para Papalia e Olds (2000), esta pragmática fundamental consiste em conhecimentos e habilidades que têm a ver com a conduta, interpretação e significado de vida. Sendo assim, o idoso pode mudar seu desempenho cognitivo e comportamental com treinamento e prática dentro de sua sabedoria e experiência. O envelhecimento é o resultado do sujeito no processo da mudança biológica e comportamental, sua história no contexto social, seu lazer, religiosidade, vivências e adaptação a um novo estilo de vida, compreendendo sua motivação intrínseca e extrínseca, como relembra Néri (2001).

Witter (2003, 2006), ao tratar das tarefas de desenvolvimento dos idosos, afirma que a falta de educação para a prática de lazer faz com que a maioria dos idosos pense que o lazer demanda grandes períodos de tempo e que não pode ocorrer no dia a dia, ou seja, o valor do lazer é subvertido de forma a induzir a pessoa a sentir-se inútil e culpada, quando não ocupada com o trabalho. As pessoas idosas via de regra estão aposentadas e lhes sobra tempo livre para usufruir o lazer e, segundo a autora, é importante verificar os aspectos do lazer do prisma das pessoas idosas.

Sob o mesmo ponto de vista, Witter (2003), em síntese, enfatiza que os idosos têm tarefas que diferem das demais idades por seu caráter funcional, isto é, por serem mais defensivas e preventivas, visando também a qualidade de vida dos idosos. Segundo o modelo havighurstiano, lembra que as tarefas dos idosos são: 1) Ajustar-se ao decréscimo da força física e saúde; 2) Ajustar-se à aposentadoria e à redução de renda; 3) Ajustar-se à morte do esposo (a); 4) Estabelecer filiação a um grupo de pessoas idosas; 5) Manter as obrigações sociais e cívicas e 6) Estabelecer arranjos físicos satisfatórios para viver bem a velhice.

Witter (2006) mostra que algumas destas tarefas estão bem cobertas pela literatura, enquanto outras carecem de pesquisas. O adequado cumprimento das tarefas é condição básica para garantir a qualidade de vida. O bem estar psicológico e a qualidade de vida estão amplamente interligados e são subjetivos (Freire, 2003) e todas as tarefas podem contribuir para isto. Um modelo teórico do funcionamento positivo foi proposto para explicar estas dimensões, que são: auto-aceitação, relações interpessoais positivas com os outros, autonomia, domínio sobre o ambiente, propósito de vida e crescimento pessoal. Dentro destas dimensões, supõe-se que o estilo de vida, que será propício a qualquer indivíduo, está intimamente ligado ao seu modo de vida e ao seu ambiente.

A visão de que é possível envelhecer com saúde e cercado de contato social positivo tem motivado a realização de estudos em diversas áreas para a identificação dos meios pelos quais se pode chegar a uma velhice com qualidade. Freire (2003) sugere o aperfeiçoamento das habilidades sociais como uma das estratégias para atingir a velhice bem sucedida. Ainda acrescenta, que nem sempre qualidade de vida está no poder aquisitivo, estando muito além deste fator. Está ligado intrinsecamente aos valores morais e cognitivos ou à auto-estima e ao estilo de vida também escolhidos pelo idoso, pois a heterogeneidade e cultura envolvidas influenciam todo o processo.

Além da controvérsia, conforme Capitanini e Neri (2004), embora se considere que a velhice seja sinônimo de solidão e baixa auto-estima, em pesquisa feita recentemente com idosos, principalmente com mulheres que moram sozinhas, os dados indicam índices de satisfação muito elevados, dados estes compatíveis com outros de pesquisas internacionais e nacionais. Eles contrariam estereótipos de que os idosos são infelizes, sós, abandonados e doentes. Nem todos sofrem deste processo. Há muitos idosos dinâmicos e auto-suficientes que adotam uma postura independente.

Vale salientar que a importância das habilidades sociais para a saúde e a qualidade de vida não está restrita a uma parte da população. A capacidade de interagir socialmente é fundamental para o idoso, a fim de que ele possa conquistar e manter as redes de apoio social e garantir maior qualidade de vida. Neri (2001) aponta que as redes de apoio social são muito importantes na velhice, principalmente quando os idosos têm que se adaptar às perdas físicas e sociais.

Neri (2003), em uma de suas pesquisas com idosos, aponta que qualidade de vida e envelhecimento são temas que requerem um tratamento cuidadoso devido a sua complexidade e abrangência. A compreensão de ambos necessita de empenho de diversas áreas do conhecimento. No Brasil, nas considerações sobre os aspectos sociais da velhice, ainda é corrente a noção de que os idosos são um ônus para a sociedade. A mídia costuma apresentar os idosos como economicamente dependentes, o que é errôneo.

Cada pessoa tem seu próprio conceito de qualidade de vida, de suas necessidades e preferências e do que é importante para ela, nem sempre o nível socioeconômico é sinônimo de qualidade de vida, sendo o tema muito subjetivo e individual. Neste contexto, foram definidos os objetivos para a pesquisa aqui proposta.

 

OBJETIVOS

O objetivo geral da pesquisa foi analisar a rotina, estilos e qualidade de vida dos idosos, intrínseca e extrinsecamente. Verificar se os idosos manifestam uma velhice bem sucedida com qualidade de vida, por meio dos seguintes objetivos específicos:

a) analisar o desempenho dos sujeitos na categoria saúde, como se cuidam e a necessidade de cuidados, se estão saudáveis;
b) verificar a qualidade de vida extrínseca, como estão se ajustando ao modo de viver, principalmente depois da aposentadoria, como está seu ambiente físico; moradia, transporte etc;
c) detectar a qualidade de vida intrínseca dos idosos entrevistados, como se sentem consigo mesmos, suas relações com o mundo, o seu existir no mundo;
d) investigar quais as formas de lazer e /ou atividades físicas mais praticadas pelos idosos e
e) indagar sobre a importância e a prática da religião entre os membros do grupo pesquisado.

 

MÉTODO

Participantes

A amostra sistemática foi composta por 50 sujeitos com idade que variou de 65 a 86 anos, sendo 25 do gênero masculino e 25 do feminino, todos alfabetizados, moradores da Grande São Paulo (Zona Leste), pertencentes à classe social baixa e média. Definida a área geográfica, procurou-se constituir a amostra indo de casa em casa dos possíveis participantes até se contar com 25 de cada gênero, portanto, foi feita uma amostragem sistemática.

Foi constatado que, 29 participantes eram casados, sendo 21 do gênero masculino e oito do feminino, totalizando 58% da amostra. Foi verificado também que 12% dos participantes eram viúvos e 56% viúvas. Integraram a amostra apenas um homem e três mulheres divorciados.

Dos participantes, 54% moram com o cônjuge, 24% com os filhos ou são na maioria, os filhos que descasam e voltam para casa, e 20% preferem morar sozinhos, sendo 28% do sexo feminino contra 12% do masculino. Entre os sujeitos há mais mulheres viúvas e a maioria vive só (3 homens, 7 mulheres). Mas, há também na maioria dos idosos participantes, alguém morando com eles, seja por questão financeira ou separação dos filhos que voltaram a residir com os pais.

 

MATERIAL

O material utilizado, na pesquisa foi constituído por:

1. Questionário WHO/QOL &– ABREVIADO. De coordenação do GRUPO WHO/QOL (1998) no Brasil, pelo programa de saúde mental da Organização Mundial da Saúde de Genebra, (OMS) tendo sido usada a forma abreviada.
2. Questionário com perguntas abertas sobre o lazer mais praticado, importância da religião e a religião praticada.
3. Termo de Consentimento Livre e Esclarecido &– instrumento que informou o participante sobre os objetivos da pesquisa, seus direitos e no qual foi colhida a sua autorização para uso anônimo e científico de seus dados.

 

PROCEDIMENTO

Obtido o parecer favorável do Comitê de Ética, Processo CEP: 141/2005, CAAE: 0053.0.237.000-05, em pesquisas com seres humanos da UMC, foram feitos os seguintes procedimentos.

Após contato nas suas residências, os idosos que decidiram participar, assinaram termo de consentimento livre e esclarecido, no qual lhes foi garantido absoluto sigilo sobre a sua participação e sobre os dados apresentados de forma a garantir o anonimato. A coleta foi realizada de acordo com a disposição de horário dos participantes em suas residências.

 

RESULTADOS E DISCUSSÃO

Qualidade de vida (QV) é a percepção que a pessoa tem de sua situação na vida, no contexto cultural e no sistema de valores em que vive, tendo em vista suas metas, expectativas, padrões e conceitos pessoais (Khoury e Günther, 2006). Portanto, ainda que se tenha usado uma escala que viabiliza uma quantificação esta é uma variável qualitativa subjetiva.

A apresentação dos resultados da pesquisa, feita a seguir, foi estruturada em função de seis categorias básicas de indagações, enfocadas no instrumento de coleta. A Tabela 1 apresenta a avaliação dos idosos quanto à qualidade de vida que desfrutam de um modo geral.

Tabela 1. Qualidade de Vida Geral dos participantes

 

 

De acordo com a Tabela 1, quanto à qualidade de vida em geral, 20%dos participantes masculinos afirmaram que ela está muito boa, 36% consideraram boa e 44% responderam que não está nem ruim, nem boa. A resposta ruim, não foi citada pelo grupo masculino. Já 56% das mulheres responderam nem ruim, nem boa, 20% como boa ou muito boa e 4% ruim. No total, 46% dos participantes responderam que a qualidade de vida está boa, 32% opinaram que não está nem ruim, nem boa, 20% muito boa e 2% ruim.

Naturalmente, outras pesquisas precisam ser feitas, enfocando outros grupos de idosos antes de se poder afirmar que esta é uma tendência geral ou que comunga com a tendência de feminilização do envelhecimento e suas conseqüências como discute Quaresma (2006).

Para determinar se ocorreu homogeneidade da distribuição das respostas nas categorias, foi calculado o teste de , no qual foi excluída a categoria ruim por ser muito baixa a ocorrência sendo gl = 2 e foi mantido o nível de significância. O resultado foi = 5,23, portanto inferior a = 5,99, ou seja, todas as três categorias têm ocorrência equivalente estatisticamente. Contudo, no todo, tenderam a considerar que tiveram um desenvolvimento bem sucedido (Khoury e Günther, 2006).

Para verificar se a qualidade de vida era vista de forma similar pelos dois gêneros recorreu-se ao teste de correlação (Siegel, 1956), tendo uma margem de erro aceitável de p<0,05, usado em todas as análises. Nestas circunstâncias, obteve-se 0,52 e rc= 0,81. Pode-se concluir que não há concordância entre os gêneros, sendo as mulheres mais otimistas, o que indica a correlação não significante, vale dizer que não há similaridade entre os gêneros quanto a como avaliam sua qualidade de vida.

O resultado sugere que, apesar dos problemas socioeconômicos e psico-sociais, os idosos procuram ajustar-se. Outro aspecto considerado importante é que não houve nenhuma resposta de QV muito ruim, por parte dos participantes e só uma como ruim. As mulheres foram mais positivas que os homens.

A Tabela 2 mostra o quão satisfeitos os participantes estão com a condição de saúde, que desfrutam, segue a descrição percentual por categoria para os dois gêneros, por nível de satisfação.

Tabela 2. Qualidade de Vida (Saúde) dos participantes (%)

 

 

Extremamente satisfeito = A; Satisfeito = B; Nem satisfeito e nem insatisfeito = C;
Insatisfeito = D; Extremamente insatisfeito = E

1. Na categoria, satisfação com a saúde, ao avaliarem o quão satisfeitos estão com a saúde, verificou-se que 16% dos homens estão extremamente satisfeitos, 36% satisfeitos, 32% nem insatisfeitos, nem satisfeitos, e somente 16% insatisfeitos. Entre as mulheres, 16% também estão extremamente satisfeitas, 44% satisfeitas, 28% nem insatisfeitas, nem satisfeitas e apenas 12% estão insatisfeitas. Este resultado demonstra que apesar das limitações, os idosos que participaram desta pesquisa de modo geral estão satisfeitos com a saúde e o acesso aos serviços de saúde. Poucos precisam de uma intervenção maior, como algum tipo de internação. Os que têm planos de saúde estão satisfeitos e os que são atendidos em unidades de saúde perto de suas residências estão mais ou menos satisfeitos.

2. Quanto à capacidade física para executar as atividades diárias, 24% afirmaram que estão extremamente satisfeitos com a capacidade física, 4% satisfeitos, 52% grau médio de satisfação e relataram que sentem alguma incapacidade pelas limitações físicas, e 20% se sentem bastante incapacitados. Das mulheres, 24% estão extremamente satisfeitas, 32% satisfeitas, 16% mais ou menos satisfeitas e 24% se queixaram de incapacidade para executar as atividades diárias e de dores e fadiga.

3. Em relação à concentração e memória, 4% dos homens responderam que estão extremamente satisfeitos, 48% satisfeitos, 32% nem satisfeitos e nem insatisfeitos, e 16% se sentem prejudicados pela falta de concentração e memória. Entre as mulheres, 12% estão muito satisfeitas, 44% satisfeitas, 28% têm um grau médio de satisfação, e 16% estão insatisfeitas. Eles se queixam de esquecer coisas importantes como algumas datas, nomes e coisas que necessitam de maior concentração e memorização.

4. Quanto à capacidade de locomoção, 28% dos participantes estão em plena forma, 32% estão satisfeitos, 20% têm um nível médio, e 20% insatisfeitos, considerando ruim a sua capacidade de locomoção. Alguns se queixaram de dores, nas pernas e coluna. As mulheres mostram capacidade de locomoção mais favorável, sendo que 32% estão plenamente satisfeitas, 40% satisfeitas, 20% mais ou menos e apenas 4% insatisfeitas e muito insatisfeitas. As condições de locomoção são explicadas pelo fato da maioria das mulheres ter atividade ativa no lar, fazendo todo ou quase todo serviço doméstico.

5. No que se refere à dor física e o quanto esta impede de fazer o que precisa, 24% dos homens relataram que não atrapalha nada, 4% atrapalha muito pouco, 52% mais ou menos, 20% bastante. Já entre as mulheres, 24% disseram que não atrapalha quase nada, 32% atrapalha muito pouco, 16% mais ou menos, 24% bastante e 4% extremamente. No caso das mulheres, é justificável esta maior queixa, já que elas continuam com suas obrigações de executar serviços domésticos, enquanto os homens estão mais propensos a aproveitar a vida, pois dispõem de mais tempo, segundo relato dos mesmos.

6. Quanto à energia vital para o dia-a-dia, 20% dos sujeitos masculinos estão plenamente satisfeitos, 36% satisfeitos, 24% têm um nível médio de energia e disposição, 20% estão insatisfeitos. Enquanto as mulheres, 12% estão completamente satisfeitas, 48% satisfeitas, 36% têm um grau médio de satisfação, e 4% não muito insatisfeitas, queixam-se de falta de ânimo e preferem ficar sem fazer nada.

7. Em relação à necessidade de tratamento médico, muitos participantes afirmaram que têm boa saúde e só necessitam cuidar da sua manutenção, pois muitos têm algumas doenças próprias da idade, tais como: diabetes, hipertensão e alguma dor crônica. Dos participantes, 20% estão satisfeitos com o tratamento médico que recebem periodicamente, 40% necessitam de um grau médio de tratamento médico, pois recebem algum tipo de medicamento diário, 32% necessitam muito de tratamento e apenas 8% precisam extremamente de cuidados médicos. Das participantes, 4% estão extremamente satisfeitas com a saúde e recebem pouco tratamento médico, 24% estão satisfeitas, 52% recebem grau médio de tratamento médico por terem a saúde regular, 8% necessitam de bastante tratamento médico e 12% de cuidados plenos.

8. Quanto ao acesso aos serviços de saúde, 12% dos homens estão plenamente satisfeitos, 20% bastante satisfeitos, 24% nem insatisfeitos e nem satisfeitos e dependem da saúde publica, principalmente do posto de saúde. Destes 20% não estão satisfeitos com os serviços de saúde e 24% estão extremamente insatisfeitos e criticam o descaso com a saúde pública. Os que responderam positivamente desfrutam de um bom plano privado de saúde. Já as mulheres, 4% também estão plenamente satisfeitas e têm planos de saúde, 40% estão satisfeitas, 32% mais ou menos, 12% mostraram-se insatisfeitas e 12% extremamente insatisfeitas e também se queixaram do descaso do governo.

9. Em relação ao sono satisfatório, 24% dos participantes do gênero masculino estão completamente satisfeitos com a qualidade do sono, 40% satisfeitos, 20% não estão nem insatisfeitos e nem satisfeitos, 8% insatisfeitos e 8% muito insatisfeitos, pois não conseguem ter um sono reparador. No gênero feminino, 28% estão extremamente satisfeitas, 36% satisfeitas, 24% satisfeitas em grau médio, 8% têm sono ruim e 4% têm péssimo sono e amanhecem fatigadas e irritadas, revelando grande necessidade de cuidados médicos.

Para fins de comparação entre os gêneros, a correlação de Spearman, foi igual a 0,91 (rc = 0,60, p = 0,05, N = 9), que permite afirmar que existe correlação significante entre os gêneros no que concerne à opinião sobre sua saúde.

Para analisar a força do valor atribuído pelos participantes às variáveis relevantes na qualidade de vida desfrutada recorreu-se ao teste de homogeneidade ( = 15,51, gl =8, p < 0,05). Obteve-se o valor de 76,15, podendo-se concluir que os idosos não valorizam da mesma forma todas as categorias, sendo mais valorizadas: sono satisfatório e capacidade de locomoção. A análise por gênero resultou para os homens em = 43,03 e para as mulheres em =48,02, ambos significantes. Vale dizer que os dois gêneros atribuem relevância diferente para as variáveis avaliadas. Os homens não valorizaram como muito relevante a necessidade de tratamento médico e a falta de concentração. Estas baixas freqüências foram responsáveis pelas diferenças. No caso das idosas ocorreu maior valorização da capacidade de locomoção e menor valorização da contribuição dos serviços públicos e da necessidade de tratamento médico.

A Tabela 3 apresenta a opinião dos participantes quanto à Qualidade de Vida Extrínseca em relação aos seguintes aspectos:

Tabela 3. Qualidade de Vida Extrínseca dos participantes (%)

 

 

Extremamente satisfeito = A; Satisfeito = B; Nível Médio = C; Insatisfeito = D; Extremamente insatisfeito = E

1. Avaliação do ambiente físico em seus locais de moradia, em que foram considerados, de maneira geral, aspectos tais como: qualidade do ar, poluição, clima, atrativos, infra-estrutura. Entre os homens, 16% se mostraram extremamente satisfeitos, 32% satisfeitos, 36% nem insatisfeitos e nem satisfeitos, 12% insatisfeitos e 4% muito insatisfeitos. Quanto ao gênero feminino, 28% responderam que estão extremamente satisfeitas, 44% satisfeitas, 16% nem insatisfeitas e nem satisfeitas e 12% muito insatisfeitas.

2. No quesito dinheiro suficiente para satisfazer as necessidade, 8% dos homens estão plenamente satisfeitos, 4% satisfeitos, 48% mais ou menos e argumentaram que o dinheiro que ganham só é suficiente para satisfazer as necessidade básicas e que não sobra para viagens e lazer, 28% estão insatisfeitos e 12% muito insatisfeitos. Enquanto isso, 16% das mulheres estão muito satisfeitas, e conseguem administrar bem a falta do dinheiro, 8% satisfeitas, 40% nem insatisfeitas e nem satisfeitas e 36% insatisfeitas com o poder aquisitivo. Os dados indicam o conformismo dos idosos diante da falta de dinheiro e da sua atuação diante do problema, procurando soluções. Vale lembrar que na amostra predominam sujeitos de classe mais baixa.

3. No acesso à informação para o dia a dia, verificou-se que 12% dos homens estão muito satisfeitos e buscam informações em todos os meios possíveis, como telefone, televisão, revistas e outros, 24% estão satisfeitos, 40% classificam a sua satisfação em nível médio; 20% insatisfatório e 4% muito insatisfatório. Em relação às mulheres, 16% estão completamente satisfeitas, 52% satisfeitas, 20% nivel médio e 12% muito insatisfeitas.

4. Na questão de moradia constatou-se que 24% dos participantes masculinos estão plenamente satisfeitos, 52% satisfeitos, 12% mais ou menos, 8% insatisfeitos e 4% muito insatisfeitos, destes, a maioria mora com parentes. Enquanto 52% das mulheres estão completamente satisfeitas com sua moradia, alegando que o maior bem é ter saúde e onde morar, 36% satisfeitos e deste contingente, apenas 12% não estão satisfeitas.

5. Quanto aos meios de transporte acessíveis, entre os homens, 12% estão plenamente satisfeitos, 40% satisfeitos, 32% mais ou menos, 4% insatisfeitos e 12% muito insatisfeitos. Os insatisfeitos, não possuem carro e, mesmo tendo acesso ao passe livre, relataram que o ponto do ônibus é longe e que não há muito respeito com o idoso. Andam sempre a pé e, quando adoecem, é difícil tomar a condução para ir ao médico. Para o gênero feminino 44% estão satisfeitas, 20% medianamente satisfeitas, 16% muito satisfeitas e igual percentual insatisfeitas e 4% extremamente insatisfeitas.

6. Segurança em geral. Segundo 52% dos participantes masculinos, o bairro onde moram é seguro, sendo registradas poucas ocorrências de violência em pontos isolados, 24% consideram ter um nível médio de segurança, 20% relatam insatisfação, dizendo ter medo de sair às ruas e mesmo em casa não se sentem seguros e 4% estão muito insatisfeitos. Por outro lado, 20% da mulheres se sentem bem seguras, 44% consideram satisfatório o nível de segurança, 24% mais ou menos, 8% estão insatisfeitas e 4% muito insatisfeitas. De acordo, com a maioria dos participantes, eles se sentem relativamente seguros dentro de casa, adotando certos cuidados, mas quando saem na rua têm medo de assaltos e seqüestros relâmpagos. Todos criticaram as leis brasileiras e a política de segurança pública.

Para fins de comparação, foi realizada a correlação de Spearman, o ro= 0,51 (rc = 0,70, p<0,50 e N= 6), sendo assim possível afirmar que não existe correlação significante entre os gêneros quanto aos vários aspectos mensurados.

O teste de homogeneidade nas avaliações feitas pelos homens resultou em = 26,66, para as mulheres em =40,76 e no total = 72,50. Como = 11,07 para p < 0,05, gl = 5 pode concluir pela rejeição de Ho nos três casos. O baixo valor atribuído pelo gênero masculino à segurança geral e o valor alto que deram para moradia explicam a significância encontrada. Para o gênero feminino a alta concentração em moradia respondeu pelo valor significante encontrado. No total o valor extrínseco que consideram mais importante para sua qualidade de vida é a moradia.

Os reforçadores extrínsecos são extremamente importantes para se ter uma vida com qualidade e conforto e todo ser humano busca ao longo da vida estes reforçadores.

A Tabela 4 mostra o percentual das categorias de Qualidade de Vida Intrínseca, por gênero.

Tabela 4. Qualidade de Vida Intrínseca dos participantes (%)

 

 

Extremamente satisfeito = A; Satisfeito = B; Nem insatisfeito, nem satisfeito = C;
Insatisfeito = D; Extremamente insatisfeito = E

1. Na avaliação aproveitamento da vida, 8% dos participantes do gênero masculino estão extremamente satisfeitos, 32% aproveitam bastante a vida, 32% grau de satisfação médio, 28% bem pouco. Quanto às mulheres, 12% dizem aproveitar o máximo, 44% bastante, 20% mais ou menos, 16% muito pouco e se queixam que têm muito trabalho para executar em casa, faltando tempo para fazer alguma coisa de que gostem e 8% não aproveitam nem um pouco e preferem ficar dentro de casa. Também enfatizam a falta de tempo ou dinheiro para fazer alguma coisa diferente.

2. Quanto ao apoio recebido dos amigos, 12% dos homens estão completamente satisfeitos, 68% satisfeitos, 4% mais ou menos satisfeitos, 16% insatisfeitos e relatam que hoje em dia cada família está cuidando de si e que muitos não contam com tempo para uma amizade mais íntima. Das mulheres, 12% estão muito insatisfeitas e alegam que já estão velhas, sem disposição, relatando que a amizade ficou difícil e que as idéias são diferentes, vivendo cada um por si.

3. Na categoria capacidade para o trabalho, 8% dos homens se sentem muito capacitados para o trabalho, tanto física quanto cognitiva e psicologicamente, 48% bastante capazes, 28% mais ou menos e 8% como incapacitados. Por sua vez, entre as mulheres, 8% se sentem plenamente capacitadas em todos os sentidos, desde que seja um trabalho compatível com as limitações físicas, 40% estão satisfatoriamente capacitadas, 24% mais ou menos, 20% muito pouco e 12% totalmente incapacitadas física, psicologicamente e com pouca concentração.

4. Quanto à freqüência de sentimentos negativos, 40% dos homens negam ter sentimentos negativos, 32% afirmaram dominar qualquer tipo de sentimento negativo, embora sejam comuns a todos os seres humanos, eles alegam que um “nervoso” de vez em quando não interfere e que passa logo, 16% dizem que de vez em quando têm sentimentos negativos, tais como; mau humor, tristeza, angústia e melancolia e 12% têm freqüentes crises de depressão, isolamento e procuram tratamento, que logo passam, mas cuja volta é freqüente. No gênero feminino, 32% relatam não ter este tipo de crises, mas apenas alguns conflitos normais do cotidiano, 48% estão satisfeitas com o bom humor com que procuram levar a vida e 20% de vez em quando têm sentimentos negativos e procuram controlar. No geral,foi observado que as mulheres são mais otimistas e têm mais força para superar conflitos diários, que, em geral, amam a vida e procuram desfrutar dela da melhor forma possível. Os homens, em média, também relatam bom humor.

5. Em relação à oportunidade de lazer dos participantes, 32% desfrutam de plena oportunidade de lazer, 24% consideram as oportunidades satisfatórias, 16% mais ou menos, 16% poucas e 12% nenhuma oportunidade. Já as mulheres, 40% relataram que têm muitas oportunidades de lazer em diversas modalidades, 24% estão satisfeitas, 20% têm mais ou menos e 16% muito pouco lazer, alegando também falta de tempo.

6. Nas relações familiares e interpessoais, 20% dos homens estão muito satisfeitos, 64% satisfeitos, 12% mais ou menos, 4% insatisfeitos e não se relacionam bem. Quanto às mulheres, 40% estão muito satisfeitas, 36% bastante satisfeitas, 16% mais ou menos e 8% insatisfeitas, relatando conflitos de gerações.

7. Satisfação quanto à aparência física, 48% dos homens estão completamente satisfeitos, 32% satisfeitos e 20% em grau médio. Por sua vez, 48% das participantes estão extremamente satisfeitas, 40% satisfeitas, e 12% insatisfeitas.

8. Vida sexual dos participantes, dos homens pesquisados 16% estão muito satisfeitos, considerando o padrão de normalidade da sua idade cronológica, 32% satisfeitos, 36% em grau médio, 4% insatisfeitos e 12% extremamente insatisfeitos, relatando que redirecionam sua vidas para outra áreas de prazer. Entre as mulheres, 12% estão extremamentes satisfeitas, 20% satisfeitas, 20% mais ou menos, 12% insatisfeitas e 36% muito insatisfeitas, muitas explicaram que ficaram viúvas e nunca mais quiseram ter um parceiro, alegando que preferiam ficar sozinhas para aproveitar a vida de outras maneiras.

9. Satisfação consigo mesmo, 20% dos homens entrevistados estão plenamente satisfeitos consigo mesmo, 60% satisfeitos, 12% mais ou menos, não chegando a ter baixa auto-estima, e 8% não estão satisfeitos. Entre as mulheres, 48% estão muito satisfeitas consigo mesmo, 24% satisfeitas, 24% mais ou menos e 4% insatisfeitas, relatando que nunca fizeram o que pretendiam e sempre viveram em função dos outros.

10. Sentido de vida, 24%dos homens afirmaram que a vida tem pleno sentido, 48% um sentido muito grande, pois a vida é um bem muito precioso e que vale a pena aproveitar, 24% em grau médio, e 4% relataram que suas vidas não tem sentido. Enquanto que 48% das mulheres avaliam suas vidas com grande sentido, 32% estão satisfeitas, 12% não estão nem insatisfeitas e nem satisfeitas e 8% não dão sentido à vida. Neste contexto, há idosos que estão muito felizes, procurando viver e aproveitar o resto de vida que lhes resta, enquanto que alguns não conseguem encontrar sentido na vida e se sentem desamparados e abandonados.

Os reforçadores intrínsecos são em muitos casos, respostas aos estímulos extrínsecos. O bem estar consigo mesmo pode estar na relação com o outro, na afetividade, na auto-realização como ser humano e nem sempre os reforçadores extrínsecos conseguem suprir esta necessidade. O ser humano é muito mais complexo. Como os sujeitos desfrutam de controle sobre suas próprias vidas e ações, isto tendeu a influir em sua satisfação com vários aspectos de suas vidas (Khoury e Günther, 2006).

Foi realizada a correlação de Spearman, tendo como resultado ro = 0,74 (rc = 0,57, p < 0,05 e N= 10), sendo assim é possível afirmar que existe correlação significante entre os gêneros, ou seja, é similar a atribuição de posição de cada elemento tanto pelos homens como pelas mulheres.

O teste de homogeneidade em relação aos valores intrínsecos resultou para o gênero masculino em = 71,65 ( = 16,92, gl = 9, p < 0,05), para o feminino em = 43,78 e para o total dos participantes em = 68,23. Em todos os casos Ho foi rejeitada. Para os homens a concentração em satisfação com sua aparência física é o valor intrínseco principal, para as mulheres foi o aproveitar a vida e capacidade de trabalho que, por sua baixa ocorrência, se destacaram das demais opções. No total dos participantes destacaram-se Freqüência de Sentimentos Negativos, Oportunidades de Lazer e Sentido da Vida como as variáveis intrínsecas mais relevantes para a qualidade de vida.

Os dados da Tabela 5 demonstram a preferência do lazer praticado pelos idosos. Foi verificado, que 16,15% da amostra consideram a prática de atividades religiosas seu lazer preferido em primeiro lugar. Alguns explicaram que a prática de religiosidade é o maior prazer que eles encontram e que dá um sentido único a suas vidas. A leitura aparece em segundo lugar como uma das preferências dos participantes, com 13,85 %. Em terceiro lugar aparecem as atividades em grupos da Terceira Idade (11,54%), destacando a importância que tem para os idosos ajustar-se a grupos afins, pois nestes praticam, além do lazer em questão, várias atividades físicas visando a saúde dos integrantes. Em quarto lugar, aparece assistir televisão, indicada por 9,23%, dos participantes, que é uma das modalidades preferidas por todos.

Tabela 5. Prática de Lazer e/ou Atividades Físicas

 

 

Em quinto lugar foi colocado o bate-papo e igualmente as viagens, ambas com 8,46%. A prática de caminhada como lazer e atividades física aparece em sexto lugar com 7,69%. Alguns relataram que levantam cedo para caminhar, que, além dos benefícios à saúde que a caminhada traz, também é uma forma de lazer, pois encontram sempre as mesmas pessoas, estabelecendo amizade e interação social. Na sétima categoria aparecem os clubes em geral, com 6,15%, e logo a seguir, na oitava posição, os jogos. Alguns destacaram o bingo como lazer.

A ausência de lazer ou atividades físicas aparece nas respostas de 4,62% dos participantes, que não gostam de sair ou preferem descansar nas horas que sobram, mesmo em casa, o que também se caracteriza como uma forma de lazer, segundo os mesmos. Eles relataram que gostam de ficar em casa, dormir à tarde, após o almoço. A prática de outros tipos de lazer recebeu 3,08% de escolha, sendo que, algumas senhoras disseram que gostam de praticar artesanatos, como bordados, pinturas e outros. O restante da amostra fez menção a academias com 2,31%, meditação /relaxamento 2,31% e ouvir música com 1,54%.

Para verificar se existia diferença significante entre as variáveis quantitativas, aplicou-se o teste de associação do qui-quadrado, apenas entre as mais citadas, obteve-se = 7,84 (= 12,59, p < 0,05 e gl = 6), portanto entre as atividades mais freqüentes não houve diferença estatística no nível de significância.

Muitas pessoas não praticam atividades físicas e adotaram a leitura como forma de lazer, até mesmo pela dificuldade de sair de casa para outras atividades. Os que preferem a leitura mostraram enorme prazer nesta prática, enfatizando que aprendem muito sem sair de suas residências. Segundo Witter (2003) e Oliveira (1999, apud Silva, 2004), a leitura propicia conhecimento e prazer, impelindo o homem ao equilíbrio psicológico, à aprendizagem e a uma busca incessante de desenvolvimento. Estes autores salientam ainda, que a leitura é um processo cada vez mais presente no dia-a-dia do homem, pois possibilita melhor inserção social, é fonte de informação, formação, lazer e de realização pessoal.

Uma atividade bastante escolhida pelos idosos foi a inserção em um grupo da Terceira Idade, muito difundida na última década. Nestes grupos está disponível uma diversidade de lazer e atividades físicas, tais como: música, pintura, jogos, viagens, artesanatos e até campanhas para ajuda comunitária. Há a boa convivência, a identificação cronológica e psicológica, resultando em auto-estima para os idosos.

A Tabela 6 mostra a relação interpessoal dos idosos, sua forma de viver e sua relação social com o mundo circundante. No grupo masculino, 40% freqüentam igrejas, 24% não estão afiliados a nenhum grupo, 20% freqüentam grupos de Terceira Idade, 12% filiados à comunidade prestando algum tipo de serviço e 8% a algum clube. No grupo feminino, 40% das mulheres também praticam a religião, afiliando-se a alguma igreja, 32% freqüentam a Terceira Idade, 20% nenhum e 8% alguma comunidade ou outros grupos. Quando inqueridos sobre a categoria nenhum, referiam não ter tempo. Muitas senhoras exercem atividades domésticas e no tempo que lhes resta preferem ler, assistir TV ou mesmo fazer algum tipo de artesanato. No total, 40% dos participantes, freqüentam igrejas, 26% os grupos de Terceira Idade, 22% nenhum grupo, 10% a alguma comunidade e 4% clubes ou outros grupos.

Tabela 6. Afiliação a grupos

 

 

Segundo Baum (1999), para que um episódio entre duas pessoas ou entre uma pessoa e um grupo possa ser chamado de interação social, cada parte deve reforçar o comportamento da outra, ou seja, o reforço deve ser mútuo. Diz-se que duas pessoas têm uma relação, quando ocorrem interações sociais entre elas freqüentemente. Como afiliar-se a grupos pode fortalecer a resiliência, especialmente mediante a possibilidade de contar com uma rede de apoio social (Couto, Koller e Novo, 2006), seria conveniente estimular as atividades deste tipo para os que não as exercem.

Foi efetuado o cálculo da correlação para fins de comparação de gênero sobre a forma pela qual se relacionavam com os outros, sendo obtida ro = 0,87 (rc = 0,75, p< 0,05 e N= 5), sendo assim possível afirmar que a correlação foi significante.

O teste de homogeneidade resultou no = 16,85 (aglutinou-se as duas últimas categorias), sendo = 9,49 (p < 0,05, gl = 4), em decorrência da força da variável Igreja.

A Tabela 7 mostra a importância da religião na vida dos participantes. Os mesmos a consideram muito importante, em 42%, 28% acreditam que é importante, 18% extremamente importante, 10% pouco importante e 2% sem importância.

Tabela 7. Importância da Religião

 

 

Para fins de comparação, foi realizado o teste de qui-quadrado, aglutinando-se pouco importante com sem importância, = 23,30 ( = 7,82, p < 0,05 e gl = 3), assim é possível afirmar que existe diferença significante entre as categorias, prevalecendo a muito importante.

Segundo a maioria dos participantes, a religião é uma prática imprescindível na vida de todo ser humano. É nela que eles buscam alívio de suas dores e extravasam suas emoções. Em busca do êxtase eles se completam e nesta vivência encontram força. A religião estimula a presença do sagrado, que está na subjetividade. Os idosos parecem buscar no misticismo a solução e o fortalecimento para muitos de seus problemas, tornando-se com isto mais conformados com os problemas socioeconômicos e psicológicos em geral, procurando encontrar o lado mais positivo da vida. Parece que é na religião que encontram forças para superar problemas, perdas e lutos.

A Tabela 8 mostra algumas das práticas religiosas que parecem ser as mais comuns no Brasil. A religião que prevalece nesta amostra com 44% das menções é a Católica. Em segundo, com 34% destacam-se as Evangélicas Cristãs. O Espiritismo, aparece com 10%, já o Budismo, Seicho-No-Ie e Outros foram citados por 4% dos participantes.

Tabela 8. Quantos aos tipos das práticas religiosa ou espiritualidade

 

 

Para fins de comparação, foi realizada a correlação de Spearman, sendo obtida ro = 0,70 (rc = 0,70, p < 0,05 e N = 6), sendo assim é possível afirmar que há relação significante entre as opções dos dois gêneros. Quanto ao teste de qui-quadrado, aplicado no total, resultou em = 8,93 (= 5,99, p < 0,05 e gl = 2). O resultado indica que há diferenças estatisticamente significantes, pois não foi rejeitada a Hipótese nula, havendo predomínio da opção pelo catolicismo.

Na categoria outros, alguns dizem não ter religião certa e que são espiritualistas, buscando o que acham de melhor nesta área, sem se fixar numa exclusivamente. Acreditam na Energia Cósmica e num Poder Superior. Consideram que a religião opera mudanças positivas comportamentais, que é um reforçador muito importante na vida e no desenvolvimento do adulto idoso, ajudando na superação de perdas e lutos. Segundo relatos de vários idosos, a religião ou a prática de algum tipo de fé implica em receber benefícios intrínsecos e extrínsecos.

 

CONCLUSÕES E SUGESTÕES

A proposta deste trabalho foi investigar a qualidade de vida de um grupo de idosos, visando analisar se estes possuem uma velhice bem sucedida, extrínseca e intrinsecamente.

Na qualidade de vida geral os participantes, tenderam a considerá-la como boa, há indícios de que, os idosos tentam se adaptar à realidade, extraindo o que há de melhor nela. Pela diversidade da amostra, parece que a qualidade de vida não depende essencialmente de dinheiro ou coisas materiais.

Nas questões de QV na saúde, os idosos demonstram cuidar do corpo, fazer a manutenção indispensável, buscando o serviço de saúde. Dentro das limitações, consideram positiva sua atuação como um ser no mundo. Afirmaram ter capacidade de concentração boa, o que corresponde à grande maioria da amostra. A locomoção também ficou dentro da normalidade. Em todas as categorias o nível de satisfação foi mais para positivo do que negativo. A reclamação que ficou mais evidente foi relativa ao acesso ao serviço de saúde e à capacidade para o trabalho.

Quanto à QV extrínseca, tenderam a estar satisfeitos quanto à moradia e ao ambiente em geral. Quanto à segurança, estão mais inseguros. Tentam se adaptar ao que ganham com a aposentadoria, dando sempre prioridade às necessidades básicas. Percebe-se algum conformismo, o que não precisa ser assim, entretanto os idosos parecem ter mais consciência dos problemas gerais universais, gerando assim menos ambição e mais criatividade.

Quanto à QV intrínseca, o idoso tenta ajustar-se em todos os setores da vidapara ter um equilíbrio, garantindo assim um relativa auto-estima. Para a maioria deles é muito importante estar bem consigo mesmo. Gostam da aparência física, procuram nas relações interpessoais o apoio e a amizade necessários para sanar a solidão e a angústia do medo da finitude. Quanto à vida sexual, eles se sentem dentro da normalidade. O idoso preserva ao máximo a satisfação consigo mesmo, isto pode ser devido à experiência de vida, à sabedoria adquirida ao longo dos anos e à serenidade para enfrentar os problemas. Afinal são tantas as perdas, que os ganhos se tornam mais compensatórios e exaltados. Eles procuram ajustar-se às perdas, aparência física, limitações, vida sexual, relações e aproveitam mais as oportunidades de sentir prazer, encontrando saídas criativas para aproveitar o lado positivo da vida. Aparentemente o que importa é viver e esta valorização da vida se deve ao medo da finitude e doença. Verificou-se um saber e experiência para resolução de problemas na maioria dos idosos, com atitudes criativas.

Para lazer e oportunidade de lazer os idosos gostam da convivência em grupos afins e de procurar alguma coisa que os mantenham ativos, com diversificação nas opções.

Em relação a integrar algum grupo, a maioria busca esta atividade em igrejas e em grupos de Terceira Idade, em que interagem e praticam muitos tipos de atividades.

No que diz respeito à religião, os idosos acham muito importante serem membros de uma religião, alguns sugerem ser fundamentalmente importante este contato com o Divino, pois lhes proporciona segurança e conforto espiritual. O sagrado tem grande destaque em suas vidas.

E por fim, é fundamentalmente importante que o idoso tenha uma velhice bem sucedida com qualidade de vida extrínseca e intrínseca. Foi constatado neste grupo, que há mais pontos positivos do que pontos negativos. E a qualidade de vida não quer dizer necessariamente só o poder aquisitivo, ‘o ter coisas’. Para viver bem o ser humano, precisa ter satisfação consigo mesmo, sabedoria e muito bom humor para encontrar o equilíbrio necessário para a autovalorização, ajustar-se de tal forma que estas relações se completem. Um ser humano, que esteja bem intrinsecamente, consegue valorizar mais o extrínseco, pois ele sabe dar sentido à vida, tem mais capacidade de resolução de problemas. Os idosos com atividades são beneficiados com mais saúde, amenizando também depressão e solidão. No geral os idosos estão satisfeitos coma a qualidade de vida e procuram mudanças de comportamentos e atitudes para que isto ocorra. Há algumas diferenças de gênero, mas as perspectivas deles tende a ser positiva.

 

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

Baum, W.M. (1999). Compreender o Behaviorismo: Ciência, comportamento e cultura. (M. T. A. Silva, M. A. Matos e G. Y. Tomanari, trad.). Porto Alegre: ARTMED.        [ Links ]

Capitanini, M.E.S. & Neri, A.L. (2004). Sentimentos de solidão, bem-estar subjetivo e relações sociais em mulheres idosas vivendo sozinhas. In: A. L. Neri; M. S. Yassuda & M. C. Cachioni (Orgs.), Velhice bem sucedida: aspectos afetivos e cognitivos. Campinas: Papirus.        [ Links ]

Couto, M.C.P.P; Koller, S.H. & Novo, R.F. (2006). Resiliência no envelhecimento: Risco e proteção. In: D. V. Falcão & C. M. S.B. Dias (Orgs.), Maturidade e velhice: Pesquisas e intervenções psicológicas (Vol. II; pp. 315-338). São Paulo: Casa do Psicólogo.        [ Links ]

Estatuto do Idoso. (2003). AFUSE, Dignidade no avançar da idade. Lei Nº 10.741, de outubro de 2003.        [ Links ]

Freire, S.A.(2003). Envelhecimento bem-sucedido e bem-estar psicológico. In: A. L. Neri & S. A. Freire. (Orgs.), E por falar em boa velhice. (pp.-21-31). Campinas: Papirus.        [ Links ]

Huffman, K.; Vernoy, M. & Vernoy, J. (2003). Psicologia. São Paulo: Atlas.        [ Links ]

Khoury, H.T.T. & Günther, I.A. (2006). Percepção de controle, qualidade de vida e velhice bem-sucedida. In: D.V. S. Falcão e C. M. S. B. Dias (Orgs.), Maturidade e velhice: pesquisas e intervenções psicológicas. (Vol. II; pp. 297-214). São Paulo: Casa do Psicólogo.        [ Links ]

Lipp, M.E.N. (1996). Stress: conceitos básicos. In: M. E. N. Lipp, Pesquisa sobre stress no Brasil. (pp.17-34) Campinas; Papirus.        [ Links ]

Neri, A.L. (2001). Maturidade e velhice. Campinas: Papirus.        [ Links ]

Neri, A.L. (2003). Atitudes e crenças sobre velhice: Análise de conteúdo de textos do jornal O Estado de São Paulo publicados entre 1995 e 2002. In: O. R.M.V. Simson; A. L Neri & M. Cachioni. (Orgs.), As múltiplas faces da velhice no Brasil. (pp. 13-54). Campinas: Papirus.        [ Links ]

Neri, A.L. (2004). Velhice bem sucedida: Aspectos afetivos e cognitivos. Campinas: Papirus.        [ Links ]

Papalia, E.D. & Olds, W.S. (2000). Desenvolvimento humano. Porto Alegre: ARTMED.        [ Links ]

Quaresma, M.L.B. (2006). Envelhecimento: Questões de gênero. In: B. Corte, E.F. Mercadante, T.G. Arcun, Envelhecimento e velhice: um guia para a vida. (Vol. II; pp. 49-76). São Paulo: Vetor.        [ Links ]

Santos, A.M.S. (2003). Idosos, família e cultura. Campinas: Alínea.        [ Links ]

Santana, H.B. & Sena, K.L. (2002). Repensando a terceira idade: Um novo olhar sobre o envelhecer: Recife: UFPE.        [ Links ]

Siegel, S. (1956). Nonparametric statistics for the Behavioral Sciences. New York: McGraw-Hill.        [ Links ]

Silva, E.M.T. (2004). Leitura e escrita na universidade. In: G. P. Witter (Org). Leitura e Psicologia. (pp.7-24). Campinas: Alínea.        [ Links ]

Skinner, B. & Valghan, M.E. (1983). Enjoy old age: a program of self - management. New York: Norton: Summus.        [ Links ]

Witter, G.P. (2003). Pesquisa com idosos em Mogi das Cruzes. Projeto de pesquisa apresentado e aprovado pela FAPESP, não publicado.        [ Links ]

Witter, G.P. (2006). Tarefas de desenvolvimento do adulto idoso. Estudos de Psicologia, 23 (1), 13-18.        [ Links ]

WHOQOL Group (1998). The World Health Organization quality of life assessment (WHOQOL): development and general psychometric properties. Social Science and Medicine, 46.        [ Links ]

 

 

Recebido em 28/11/06
Revisto em 29/09/07
Aceito em 05/10/07

 

 

1 Parte do trabalho de conclusão de curso da 1ª autora, orientado por G. P. Witter.
* Endereço para correspondência: Av. Pedroso de Morais, 144, Apto 302, Pinheiros. São Paulo &– SP. CEP: 05420-000; Fone: (11) 3032-1968; E-mail: gwitter@uol.com.br.

Creative Commons License