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Boletim de Psicologia

Print version ISSN 0006-5943

Bol. psicol vol.58 no.128 São Paulo June 2008

 

ARTIGOS ORIGINAIS

 

Indicadores de agressividade nos Desenhos da Figura Humana realizados por homens que cometeram delitos

 

Agressiveness indicators in Draw-A-Person Test taken by male offenders

 

 

Cristiano Esteves* I II; Irai Cristina Boccato AlvesII; Paulo Francisco de CastroIII, IV

I Vetor Editora
II Universidade de São Paulo &– Instituto de Psicologia - LITEP
III Universidade de Taubaté
IV Universidade Guarulhos

 

 


RESUMO

Este artigo possui o objetivo de apresentar uma análise dos aspectos formais e dos indicadores de agressividade observados nos Desenhos da Figura Humana, realizados por indivíduos que cometeram diferentes delitos e fazer uma comparação entre primários e reincidentes. Foram analisados os Desenhos da Figura Humana produzidos por 100 reeducandos do sexo masculino, com idade entre 19 e 63 anos, que estavam detidos em um presídio do Estado de São Paulo por terem cometido diferentes delitos, sendo 66% primários e 34% reincidentes. Verificaram-se diferenças significativas no tamanho, sombreado, perfil; indicando que há maior comprometimento dos reincidentes nesses aspectos. Não foram encontradas diferenças quanto aos indicadores de agressividade. Observou-se que existiam pequenas diferenças de personalidade entre primários e reincidentes, elementos que podem ter influenciado na repetição dos delitos, entretanto a agressividade foi semelhante nos dois grupos.

Palavras-chave: Desenho da Figura Humana, Avaliação psicológica, Personalidade, Agressividade, Reeducandos.


ABSTRACT

This study aims to present an analysis of formal aspects and aggressiveness indicators observed in the Draw- A-Person Test (DAP) administered to subjects who have committed different crimes, as well as to compare first offenders and repeaters. The Draw-A-Person Test was applied to 100 male inmates aged 19 to 63 from a State of São Paulo prison, who have committed different crimes, being 66% first offenders and 34% repeaters. The analysis showed significant differences in size, shading and profile, indicating higher involvement of repeaters concerning these aspects. There were no differences between aggressiveness indicators. Small personality differences were observed between first offenders and repeaters, which might have influenced the repetition of crimes, although aggressiveness was similar in both groups.

Keywords: Draw&–A-Person, Psychological assessment, Personality, Aggressiveness, Prisoners.


 

 

INTRODUÇÃO

As técnicas projetivas ocupam um lugar de destaque nos processos psicodiagnósticos, pois são constituídas por materiais ambíguos que, apresentados ao paciente, possibilitam uma liberdade de respostas, oferecendo um rico material para análise e interpretação (Carneiro, Cunha, Minella e Werlang, 1993). Essa ambigüidade pode gerar uma infinidade de informações a serem interpretadas (respostas, histórias, desenhos, etc.), que são fruto muito mais dos conteúdos do paciente do que das características do material utilizado ou do tipo de técnica empregada. Dessa forma, nas técnicas projetivas, o material produzido serve como “ponte” para que os conteúdos internos sejam expressos. Segundo Anderson e Anderson (1951/1978) os testes projetivos não fornecem apenas aspectos de projeção, mas praticamente de todos os mecanismos mentais, tanto expressivos como os de defesa, proporcionando rico material de análise sobre o paciente.

Por suas propriedades, as técnicas projetivas podem ser empregadas em atendimentos com um direcionamento psicodinâmico e visam “um entendimento dinâmico da personalidade dos pacientes, como conflitos, mecanismos de defesa do ego, estados emocionais, fantasias, traços de caráter e aspectos sadios e patológicos dos sujeitos” (Carneiro et al., 1993, p.123). As propriedades das técnicas projetivas são importantes e se constituem por vários aspectos que são comuns a elas: o examinando não tem controle sobre o que está sendo avaliado, os estímulos são pouco ou nada estruturados, as respostas são totalmente livres, utilizam uma abordagem indireta de aplicação, possuem origem teórica, avaliação e interpretação fundamentadas na psicanálise ou na psicodinâmica, têm como objetivo a exploração da personalidade em plano mais profundo e abrangente do que as técnicas objetivas e permitem a exploração de dados globais e integrados da personalidade (Bell, 1948/1992; Van Kolck, 1981b).

Pode-se dizer, portanto, que os testes projetivos são instrumentos muito importantes para a coleta de informações psicodiagnósticas, pois servem como meio de comunicação entre os aspectos psicológicos do paciente e o psicólogo. Sua vantagem é a possibilidade de manifestação de conteúdos sem o controle consciente do paciente, que desconhece os aspectos técnicos do instrumento, possibilitando uma análise global das características inconscientes e suas conseqüências, funcionando como um interlocutor entre o mundo psíquico do paciente e o psicólogo (Grassano, 1977/1996).

O termo método projetivo, introduzido por Frank em 1939, logo se mostrou com ampla difusão e emprego. Designa um conjunto de procedimentos técnicos que visam o estudo da personalidade dos indivíduos por meio de estímulos pouco estruturados, por meio das quais o indivíduo pode expressar livremente um sentido particular e, assim, suas respostas serão sempre projetivas e passíveis de uma interpretação de seus processos internos (Van Kolck, 1981b).

Dentre as várias técnicas que utilizam a projeção para análise de elementos da personalidade, pode-se destacar os desenhos e, em especial, o Desenho da Figura Humana que se caracteriza como uma técnica projetiva gráfica amplamente utilizada pelos psicólogos. Segundo Souza (1989), isso se deve a sua facilidade e tempo relativamente curto de aplicação, a simplicidade do material necessário e a possibilidade de ser utilizada tanto individual quanto coletivamente.

Ao realizar um desenho ou qualquer outra produção artística, o indivíduo aciona um grande conjunto de elementos psicológicos, cognitivos e afetivos, que dirigem a forma de desenhar, desde o conjunto de fatores estruturais como pressão e tamanho, até os diversos elementos de conteúdo, como tipo de olhos, braços, mãos, dentre outros (Hammer, 1980/1991).

O Desenho da Figura Humana (DFH) possui dois enfoques. Primeiramente, a avaliação cognitiva, proposta por Goodenough (1926), que atribui pontos pelos detalhes apresentados nos desenhos e acompanha a evolução intelectual dos indivíduos. Embora importante, esse aspecto não será realçado no presente trabalho. O segundo enforque corresponde à avaliação de personalidade, em que a análise da representação simbólica dos elementos formais e de conteúdo permite identificar uma série de fatores que revelam a personalidade dos indivíduos.

Souza (1989, p.20) afirma que o Desenho da Figura Humana tem por objetivo a “exploração da personalidade através dos aspectos adaptativos, expressivos e projetivos” que surgem quando se desenha. O desenho é considerado como sendo uma “projeção da imagem corporal” e revela o conceito que o sujeito faz de si mesmo.

Segundo Machover (1949/1974) toda atividade criadora contém os conflitos e necessidades que exercem pressão sobre o indivíduo que está criando. Ao solicitar o desenho de uma pessoa, esta produção é uma criação que possui uma forte conexão com a personalidade de seu autor: “o sujeito deve desenhar conscientemente e sem dúvida, inconscientemente, sobre seu sistema total de valores psíquicos” (Machover, 1949/1974, p.5). É neste sentido que a autora afirma que o Desenho da Figura Humana seria a projeção da imagem corporal da pessoa, na qual estariam expressos seus conflitos e necessidades.

Apesar do uso do DFH ser amplamente difundido para a avaliação da personalidade, na literatura cientifica nacional não são encontrados trabalhos que tenham como objetivo a criação de normas para a avaliação desta técnica. Esta ausência foi inicialmente suprida pelo trabalho de Pasian, Okino e Saur (2004) que estabeleceram padrões normativos do DFH para adultos em uma amostra de 451 voluntários da cidade de Ribeirão Preto.

O DFH pode ser utilizado nos mais diferentes contextos de avaliação psicológica, auxiliando o psicólogo na organização de suas conclusões psicodiagnósticas. No presente estudo será dado enfoque à avaliação jurídica ou criminal.

O processo de avaliação ou de perícia na área forense ou criminal, embora possua características próprias da área, deve seguir um conjunto de procedimentos técnicos e cientificamente embasados para que o profissional possa apoiar suas decisões em critérios bem definidos e científicos (Levin, 2000; Rovinski e Elgues, 2000). As técnicas empregadas na perícia psicológica na área jurídica são de total responsabilidade do profissional envolvido (perito ou assistente técnico), que deve escolher o instrumento de acordo com seu conhecimento e familiaridade, considerando as implicações de sua inserção profissional nessa prática. A escolha das técnicas a serem empregadas e do referencial interpretativo a ser utilizado, depende da consciência dessas implicações. Diante disso, ressalta-se a importância dos testes projetivos, por constituírem uma importante base para análise dos casos e por possibilitarem a exteriorização de um importante material que o examinando não desejava comunicar (Castro, 2001).

Estudos envolvendo levantamento de técnicas de exame psicológico, além da importância e do emprego de instrumentos de avaliação utilizados no contexto jurídico, têm sido sistematicamente desenvolvidos por profissionais da área, no sentido de discutir a grande viabilidade do uso de estratégias de avaliação, permitindo melhor compreensão dos aspectos psíquicos dos avaliados e garantindo maior confiabilidade e segurança para a realização das perícias criminológicas (Lopes, 2000; Rovinski e Elgues, 2000; Silva, 2000; Castro e Rocha Jr., 2004).

Em se tratando especificamente da utilização de desenhos como estratégia de investigação psicológica, diversos estudos demonstram a importância e a grande utilização desse recurso em alguns estados brasileiros, conforme é possível verificar a seguir. Em um levantamento acerca dos instrumentos de avaliação psicológica utilizados na prática da avaliação jurídica, observou-se que os psicólogos que atuam em São Paulo utilizam predominantemente testes gráficos nas atividades de perícia psicológica, “os procedimentos gráficos mais simples e de menor exigência material (HTP, DFH e Desenho Livre) somam a totalidade dos profissionais entrevistados, ou seja, todos os psicólogos, que utilizam técnicas projetivas, lançam mão de alguma dessas técnicas” (Castro e Rocha Jr., 2004, p.403).

No sistema penitenciário gaúcho, conforme afirma Fernandes (2000), os psicólogos utilizavam técnicas projetivas para a complementação dos dados obtidos nas entrevistas, dentre eles, o Desenho da Figura Humana, Desenho da Árvore e o TAT, além de alguns testes psicométricos, quando necessário. Ressalta, ainda, que o emprego de testes psicológicos permite a avaliação do conteúdo psicológico dos reeducandos, permitindo uma análise fiel dos componentes que puderam levar esses indivíduos a cometerem atos delituosos. Azevedo e Fernandes (2000), ao descreverem uma experiência de implantação de um serviço psicológico no Rio Grande do Norte na área jurídica e pericial, citam que o processo de avaliação psicológica compreendia entrevistas e a aplicação de testes projetivos, enfatizando o uso do HTP, TAT e Rorschach nos relatórios dos psicólogos.

Dentre os vários componentes de estudo na área jurídica e criminal, destacamse os elementos de personalidade relacionados à agressividade, que constitui importante aspecto de investigação, quando se trata de indivíduos que cometeram delitos. De acordo com Souza (1989), entre os aspectos que o DFH se propõe a investigar encontra-se o comportamento agressivo. Para este autor, o construto agressividade tem sido usado amplamente sem que exista um “esclarecimento sob a conotação com que deverá ser entendido” (Souza, 1989, p.5). Continua, afirmando que a agressividade é uma “atividade hostil e vigorosa, consciente ou inconsciente, orientada no sentido de auto-afirmação” (p. 8). Ela integra a capacidade de agredir para satisfazer necessidades básicas, constituindo-se como elemento essencial da personalidade. A agressividade funcionaria “como força primitiva e recebe oposição de forças adquiridas (culturais), equilibrando-se e resultando em combatividade, que estimula a luta pela vida” (p.8). No entanto, ela pode se manifestar de forma desequilibrada visando a satisfação de necessidades a qualquer preço, manifestando-se por atitudes impulsivas e explosivas em relação às pessoas e ao ambiente. Neste sentido justifica-se a importância de se estudar melhor a agressividade e verificar a sensibilidade do DFH para detectá-la.

Hammer (1980/1991) destaca uma pesquisa sobre a projeção da agressividade no DFH realizada por Katz em 1951, em que foram comparados os desenhos de 52 homens adultos, condenados por assalto e/ou homicídio, com um grupo controle. Observou que os itens dos desenhos que apresentaram diferenças significativas foram: “olhos penetrantes e reforçados, pernas bem abertas, combinação de linhas firmes, leves e pesadas, braços grandes e reforçamento dos cabelos” (p. 18).

Outra pesquisa a ser destacada é a de Souza (1989), que realizou um levantamento na literatura dos indicadores de agressividade encontrados no DFH (Machover, 1949). Obteve 28 indicadores e investigou sua presença no DFH em três grupos distintos: um grupo de menores infratoras internas da Fundação para o Bem Estar do Menor, o segundo de freiras e o último de estudantes de Psicologia. Os grupos foram submetidos ao DFH, ao Psicodiagnóstico Miocinético &– PMK e ao Teste de Frustração de Rosenzweig. Os objetivos da pesquisa eram validar o construto agressividade no DFH e criar uma escala de avaliação do comportamento agressivo. Segundo o autor os objetivos não foram alcançados, pois não foi encontrada correlação entre os resultados dos testes, não sendo possível a elaboração da escala. No entanto, existem alguns questionamentos sobre o tipo de tratamento estatístico utilizado no estudo.

Uma pesquisa realizada por Lev-Wiesel e Hershkovitz (2000) estudou 60 homens, divididos igualmente em três grupos: grupo 1, composto por indivíduos que cometeram assassinato e assaltos violentos; grupo 2, composto por indivíduos que cometeram violência doméstica e grupo 3 de controle. Todos os sujeitos fizeram o DFH e os seguintes aspectos comuns foram considerados indicadores de agressividade no desenho: sombreado intenso ou omissão dos olhos; sobrancelhas grossas e sombreadas; bigode sombreado e grosso; pescoço desconectado do tronco; ombros largos; dedos grandes, detalhados ou pontudos e postura de raiva. Concluíram seu estudo, enfatizando que a utilização do DFH pode ser um importante instrumento para identificar conduta violenta entre homens que cumprem pena.

Nesse sentido, o objetivo do presente artigo é investigar se as características formais do DFH e os conteúdo relacionados à agressividade, em uma amostra de indivíduos que cometeram delitos e cumprem pena em regime fechado no sistema penitenciário de São Paulo, podem diferenciar os desenhos de reeducandos primários e reincidentes.

 

MÉTODO

Sujeitos

A amostra foi composta por 100 sujeitos do sexo masculino, que estavam cumprindo pena em regime fechado entre os anos de 1995 e 2003 em duas unidades prisionais da cidade de São Paulo e que foram submetidos à avaliação psicológica para a obtenção de benefícios para redução de pena ou progressão de cumprimento de regime. A avaliação foi constituída de uma entrevista semi-estruturada, acompanhada da aplicação de uma técnica gráfica para confirmação de dados levantados subjetivamente nas entrevistas. As idades dos sujeitos variaram entre 19 e 63 anos, com uma média de 27,7 anos e um desvio padrão de 7,5.

A escolaridade variou entre o Ensino Fundamental e Médio completo e incompleto, sendo que a maior parte da amostra (71,0%) possuía Ensino Fundamental. A distribuição de freqüência em função da escolaridade pode ser observada na Tabela 1.

Tabela 1. Distribuição de freqüência absoluta e percentual da escolaridade

 

 

Quanto ao perfil criminológico dos reeducandos que participaram dessa investigação, observou-se que no Sistema Penal de São Paulo, 66% dos sujeitos estavam cumprindo pena pela primeira vez (primários), contra 34% que já haviam cumprido pena em períodos anteriores (reincidentes), sendo que a maior parte deles havia cometido assalto (85%).

Procedimento

Os reeducandos foram submetidos individualmente à técnica do desenho livre como parte do processo de avaliação psicológica. Foram selecionados aqueles que desenharam a Figura Humana e que continham as informações passíveis de serem analisadas segundo as propostas de Van Kolck (1981a, 1984), Souza (1989) e Machover (1949/1974).

Os DFH foram submetidos a dois tipos de avaliação: os aspectos formais no desenho, propostos por Van Kolck (1981a, 1984), e os indicadores de agressividade, apresentados por Souza (1989) e obtidos da avaliação de personalidade segundo Machover (1949/1974). Embora a técnica empregada tenha sido a do desenho livre, as produções gráficas permitiram a análise do DFH por conterem todos os atributos identificados para essa finalidade. Além disso os aspectos formais analisados neste estudo são os mesmos propostos por Van Kolck (1984) para análise de desenhos livres e como os indicadores de agressividade são aplicáveis apenas à figura humana, a instrução usada provavelmente não alterou significativamente o desenho obtido.

Para garantir a qualidade e a precisão das avaliações dos desenhos, foi selecionado um grupo de 15 protocolos, parte integrante do total da amostra, que foram avaliados, às cegas, por dois dos autores deste trabalho. Após esta avaliação inicial foram discutidos os critérios a fim de obter uma análise mais fidedigna do material.

Foram então avaliados os 100 protocolos em relação aos aspectos formais e aos indicadores de agressividade. Os dados foram separados em dois grandes grupos: reeducandos primários (que estavam cumprindo pena pela primeira vez no sistema penitenciário de São Paulo) e reincidentes (que cumpriram pena anteriormente e voltaram a ser condenados). Os resultados dos dois grupos foram submetidos ao Teste de Qui-Quadrado para verificar se a freqüência de cada característica avaliada permitia ou não diferenciar entre os grupos de primários e de reincidentes. Foi utilizado o nível de significância de p < 0,05.

 

RESULTADOS E DISCUSSÃO

Para apresentar os resultados optou-se por dividi-los em duas partes: aspectos formais dos desenhos e indicadores de agressividade. Nas tabelas de resultados foram incluídas as freqüências absolutas (F) e percentuais (%) para os grupos de primários e de reincidentes e apenas uma coluna para o grupo total, uma vez que para uma amostra de 100 as freqüências absolutas e percentuais são idênticas.

 

ASPECTOS FORMAIS

Os elementos formais que constituíram os desenhos foram caracterizados a partir da proposta de Van Kolck (1981a, 1984). As bases interpretativas e simbólicas dos significados também foram apoiadas nas mesmas obras.

Como é possível observar na Tabela 2, a maior parte dos reeducandos (98% da amostra total, 98,5% dos primários e 97,1% dos reincidentes) fez seus desenhos na posição vertical, indicando uma conduta de obediência diante da tarefa, sem um comportamento mais ativo diante do ambiente. Apenas dois sujeitos (um primário e um reincidente) fizeram seus desenhos na posição horizontal, o que poderia indicar espírito de liberdade e curiosidade diante dos estímulos do ambiente. Os resultados obtidos mostram que a posição da folha não é uma característica que diferenciou os grupos.

Tabela 2. Comparação da posição da folha entre primários e reincidentes

 

 

As informações da Tabela 3 revelam que a maior parte dos indivíduos (45%) fez seus desenhos pequenos, indicando que esses reeducandos vivenciavam sentimentos de inferioridade e inibição, associados a certa constrição e depressão, reagindo às demandas do ambiente de forma emocionalmente dependente. Além disso, 14% dos sujeitos fizeram desenhos muito pequenos, caracterizando sentimentos de inadequação e rejeição pelo ambiente e tendências ao isolamento.

Tabela 3. Comparação do tamanho do DFH entre primários e reincidentes

 

 

Uma parte da amostra (37%) produziu desenhos de tamanho médio, revelando adequação à tarefa e sentimentos de suficiência e apenas quatro sujeitos, fizeram desenhos considerados grandes e muito grandes (3% e 1%, respectivamente), que indicam expansão e agressividade. Por fim, nenhum desenho foi considerado como exageradamente grande.

Quando se compara o tamanho dos desenhos, segundo a condição dos reeducandos, é possível verificar que os primários produzem mais desenhos classificados como pequenos. Já para o grupo de reincidentes as maiores freqüências ocorreram para os desenhos pequenos e médios. Em relação ao tamanho, o único em que houve diferença entre os dois grupos foi o muito pequeno ( = 10,163 e a=0,001), indicando que o grupo de reincidentes produz mais desenhos muito pequenos que o de primários, o que pode sugerir maior inibição e sentimentos de inadequação pessoal.

Os dados da Tabela 4, que apresentam a distribuição da localização dos desenhos indicam que, na amostra geral, 25% dos desenhos estão localizados na metade inferior da folha, revelando sentimentos de inadequação e insegurança, com orientação para o concreto e materialismo; seguidos por 20% na região central, que indica comportamento adaptativo e segurança; a seguir tem-se que 16% da amostra desenhou no quarto quadrante, o que está associado com passividade, inibição, reserva e atitude de expectativa diante do ambiente. A localização na metade esquerda ocorreu em 14% dos desenhos, o que significa introversão, egoísmo e comportamento impulsivo. A metade superior, presente em 12% dos reeducandos, revela que estes utilizam soluções baseadas na fantasia, uma vez que seus objetivos estão além de suas reais capacidades de realização. Somente 6% da amostra usou o primeiro quadrante, mostrando um contato mais ativo com a realidade, apesar de uma vivência de maior rebeldia; outros 6% optaram pelo terceiro quadrante e apenas 1% pelo segundo quadrante.

Tabela 4. Comparação da localização na folha entre primários e reincidentes

 

 

Quando os dados da localização do desenho de primários e reincidentes são comparados, apenas dois aspectos merecem destaque. Os reeducandos primários usaram mais a metade superior da folha do que os reincidentes, o que revela maior utilização da fantasia. Por outro lado, os reincidentes usaram mais a região central, revelando maior segurança. Ainda que tenham sido observadas algumas diferenças nas freqüências dos dois grupos em relação à localização, as diferenças entre os grupos não foram significantes.

Conforme é possível observar na Tabela 5, a maior parte dos desenhos (67% da amostra total, 69,7% dos primários e 61,7% dos reincidentes) foi produzida com linha média, indicando capacidade em equacionar energia e inibição, agindo e impondo-se diante das exigências do meio de forma adequada; seguida pela utilização do reforçamento de linhas, em 23% da amostra geral, 21,3% dos primários e 26,5% dos reincidentes, caracterizando insegurança e primitivismo. O emprego de linhas fracas e fortes teve incidência de 5% cada uma, sugerindo insegurança e vitalidade, respectivamente. O tipo de linha dos desenhos também não permitiu diferenciar os dois grupos, uma vez que todos os valores dos quiquadrados não foram significantes.

Tabela 5. Comparação da pressão das linhas entre primários e reincidentes

 

 

A Tabela 6, relativa ao tipo de traçado revela que o uso de traços contínuos foi predominante (61% da amostra geral, 59,1% dos primários e 64,7% dos reincidentes), indicando decisão e esforço dirigido à tarefa proposta; em segundo lugar, observa-se a incidência de 21% de traços de avanço recuo, revelando ansiedade, falta de confiança, insegurança e sensibilidade; depois o traço interrompido em 11% dos desenhos, que significa incerteza e angústia e, por fim, 7% dos desenhos possuíam o traço trêmulo, que está associado à vivência de medo e insegurança. Os resultados dos qui-quadrados indicam que o tipo de traçado usado no desenho não diferenciou os dois grupos

Tabela 6. Comparação do tipo de traço entre primários e reincidentes

 

 

No que se refere ao predomínio do tipo de linhas usadas, conforme indica a Tabela 7, na maioria dos desenhos (65% da amostra geral, 63,6% dos primários e 67,6% dos reincidentes) predominam linhas curvas, que estão associadas à subjetividade e emotividade, enquanto a utilização de linhas retas indica a prevalência de elementos objetivos e racionais. Esta característica também não diferenciou os grupos de primários e de reincidentes.

Tabela 7. Comparação do predomínio do tipo de linhas entre primários e reincidentes

 

 

Ao observar os dados da Tabela 8, é possível constatar que 43% da amostra geral, 43,9% dos primários e 41,2% dos reincidentes realizaram retoques nos desenhos em quantidade moderada, revelando desejo de adaptação e certa flexibilidade na execução de tarefas; 18% da amostra apresentou grande quantidade de retoques, indicando insegurança e tendência ao perfeccionismo. Além disso, 39% dos desenhos não apresentaram retoques, revelando certa segurança. Na comparação entre o grupo de primários e o de reincidentes não foram encontradas diferenças significantes.

Tabela 8. Comparação das correções e retoques entre primários e reincidentes

 

 

Quanto à presença de sombreado ou borradura, observa-se na Tabela 9 que em 50% da amostra geral o sombreado ocorreu em pequena área do desenho, expressando a vivência controlada de ansiedade; seguido por 44% de desenhos sem sombreado, revelando ausência de ansiedade nos sujeitos. A minoria apresentou o sombreado em área média (3%) ou grande (3%), indicando que a vivência de forte ansiedade e sinais de angústia e depressão, foram pouco freqüentes. Na comparação entre os grupos, o sombreamento ou a borradura não mostraram diferenças significantes. Apesar disso, é possível verificar que os primários tenderam a utilizar menos sombreado do que os reincidentes, revelando que estes últimos apresentaram maior ansiedade.

Tabela 9. Comparação de sombreado ou borradura entre primários e reincidentes

 

 

Conforme dados da Tabela 10, para a intensidade do sombreado na amostra total as freqüências foram iguais para as intensidades leve e média (26%) e foram encontrados apenas quatro casos de intensidade forte. De acordo com Machover (1949/1974) a presença de sombreado na figura pode ser uma expressão de ansiedade e dependendo da intensidade pode ser indicativa de agressividade. O significado específico do sombreado está vinculado à parte da figura humana em que ele apareceu. Comparando-se os grupos percebe-se que os reeducandos primários apresentaram maior freqüência de sombreado leve, enquanto os reincidentes tiveram mais intensidade média. O sombreado médio diferenciou significativamente os dois grupos, indicando que os reincidentes demonstram menos controle da ansiedade.

Tabela 10. Comparação da intensidade de sombreado ou borradura entre os grupos

 

 

Em relação ao esquema da figura humana, pode-se observar na Tabela 11 que na maior parte dos desenhos (67%) foi respeitado o esquema do DFH, indicando capacidade de entrar em contato com outros indivíduos. Porém 33% da amostra distorceram o esquema esperado, revelando possível dificuldade de interação interpessoal e desvalorização do componente humano nos contatos, o que de acordo com Van Kolck (1981a, 1984) pode ser um indicador de alguma patologia mais severa. A comparação entre os grupos quanto ao esquema implícito em seus DFH não apontou diferença significativa entre eles.

Tabela 11. Comparação do esquema da figura humana entre primários e reincidentes

 

 

A utilização ou não de detalhes no desenho pode caracterizar a adequação em reproduzir um determinado elemento e suas relações com o mesmo. Na figura humana, os detalhes exprimem de que forma os indivíduos estão lidando com os elementos humanos em seus contatos interpessoais rotineiros (Van Kolck, 1984).

Na Tabela 12 é possível verificar que 33% dos desenhos apresentaram poucos detalhes adequados e 31% não possuíam detalhes adequados, o que revela certa dificuldade nos relacionamentos humanos de forma geral, associando-se a comportamentos de evitar um contato real e mais consistente. Em contrapartida, 18% dos detalhes eram adequados e em boa quantidade, indicando que uma parcela desses indivíduos possui condições de se relacionar satisfatoriamente com outras pessoas. A tabela mostra ainda que 16% representaram poucos detalhes, mais essenciais, reafirmando a capacidade de contato. Em apenas 2% da amostra apareceram detalhes supérfluos, o que pode indicar riqueza e maior capacidade no contato interpessoal. Não foram verificadas diferenças significantes entre os dois grupos em relação ao uso de detalhes.

Tabela 12. Comparação dos detalhes entre primários e reincidentes

 

 

A Tabela 13 apresenta os dados acerca da simetria dos DFH, sendo possível verificar que a maioria (82%) possui simetria moderada, o que é esperado, uma vez que, segundo Machover (1949/1974, p. 93), “a estrutura da figura humana é essencialmente simétrica”, o que pode indicar uma pessoa mais convencional e formal (Van Kolck, 1984). Apenas 18% dos desenhos não possuíam simetria, revelando uma forma pessoal mais flexível, mas também mais imprevisível, no contato com os outros ou, segundo Hammer (1980/1991, p.49), “sentimentos de segurança inadequados”. Quando os dados de simetria entre os grupos são comparados, pode-se constatar que não ocorreram diferenças entre eles.

Tabela 13. Comparação da simetria entre primários e reincidentes

 

 

Van Kolck (1981a e 1984) se refere à incidência de estereotipia, movimento e inclinação como aspectos formais ou estruturais dos desenhos. Estas características, no entanto, não estiveram presentes nos DFH desta amostra.

A Tabela 14 mostra que 63% dos desenhos não apresentaram transparência, apontando adequação formal à realidade, característica esperada no DFH de adultos. No entanto, 34% dos desenhos evidenciou poucas transparências, enquanto apenas 3% dos DFH fizeram muitas transparências ou no desenho todo, revelando distúrbios psicológicos mais intensos.

Tabela 14. Comparação de transparência entre primários e reincidentes

 

 

Na comparação entre os dois grupos é possível verificar que, ainda que os reeducandos primários eempreguem menos transparências do que os reincidentes, a presença ou ausência desta característica não diferenciou os grupos. A presença de transparências em grande número foi capaz de diferenciar estatisticamente os dois grupos, no entanto, como esta característica apareceu somente em dois reincidentes, deve ser considerada com cautela.

Na Tabela 15, referente à perspectiva, observa-se que 93% dos desenhos encontram-se de frente, sugerindo adequação ao esperado em termos de comunicabilidade social. O desenho de meio perfil ocorreu em 5% e de perfil em 2%, caracterizando uma conduta evasiva. Embora tenha havido diferença entre os grupos nos desenhos de perfil, este tipo de perspectiva teve incidência muito baixa (dois reincidentes), e por este motivo este dado deve ser considerado com cuidado.

Tabela 15. Comparação da perspectiva entre primários e reincidentes

 

 

Em relação à presença de pormenores nos desenhos, constata-se, segundo a Tabela 16, que 77% das produções não continham pormenores, aspecto que é comum em desenhos de adultos, enquanto 22% possuíam pormenores moderadamente, indicando certa tendência à organização e ao perfeccionismo. Quando são comparados os reeducandos primários e reincidentes, constata-se que esta característica também não diferenciou estatisticamente os grupos.

Tabela 16. Comparação dos pormenores entre primários e reincidentes

 

 

Os protocolos foram avaliados pelos 28 indicadores de agressividade propostos por Souza (1989), decorrentes do sistema de avaliação do DFH de Machover (1949/1974), e as estatísticas do total de indicadores são mostradas na Tabela 17.

Tabela 17. Estatísticas descritivas do número de Indicadores de Agressividade para a amostra total e para os dois grupos

 

 

Pode-se observar que a média do número de indicadores foi 3,52 para a amostra total, 3,56 para o grupo de primários e 3,44 para o grupo de reincidentes. Os resultados obtidos desta pesquisa foram levemente inferiores aos de Souza (1989) ao estudar três grupos de sujeitos: menores infratoras (média = 4,43, DP = 1,52), freiras (média = 4,43, DP = 2,62) e estudantes de Psicologia (média = 4,67, DP = 2,04).

Para verificar a existência de eventuais diferenças estatisticamente significantes entre as médias do grupo de primários e reincidentes, foi calculado o teste t de Student. Os resultados indicaram que não houve diferença estatisticamente significante entre as médias dos dois grupos (t = - 0,347). Estes dados apontam que não há uma relação direta entre a reincidência criminal e a agressividade avaliada pelo DFH. No entanto, estes resultados devem ser tomados com certa cautela, pois a avaliação não foi global, mas apenas por itens isolados, ou seja, não foram considerados todos os dados fornecidos pelo DFH. Além disso, os tipos de delitos ou outros componentes que pudessem evidenciar algum tipo de comportamento agressivo ou até mesmo dados de outros instrumentos de avaliação psicológica, bem como a interferência da variável tempo de detenção, não foram investigados.

A Figura 1 mostra a distribuição de freqüência percentual do número de indicadores para os grupos de primários e de reincidentes.

 

 

Figura 1. Distribuição de freqüência percentual do número de indicadores de agressividade dos dois grupos

A Figura 1 mostra que para os grupos de reeducandos primários e de reincidentes foi mais freqüente a presença de três indicadores de agressividade. A segunda maior freqüência foi de quatro indicadores para os primários e cinco indicadores para os reincidentes. Ainda que a diferença entre as médias do total de indicadores de agressividade dos dois grupos não tenha sido estatisticamente significante e que não exista uma clara tendência de maior freqüência do número de indicadores para os primários e os reincidentes, pode-se perceber que, no geral, este último grupo apresentou maior número.

A Tabela 18 mostra a freqüência da presença de cada um dos indicadores de agressividade para a amostra total e para os dois grupos, sendo que dos 28 indicadores, cinco não apareceram em nenhum dos protocolos. São eles: mãos enluvadas com projeção de um único dedo; órgão sexual representado grosseiramente no corpo nu ou vestido, pés encerrados por uma linha e com os dedos demarcados, punhos ou mãos fechadas apertadas contra o corpo ou em braços que se estendem para fora.

Tabela 18. Distribuição da freqüência absoluta e percentual dos Indicadores de Agressividade no (DFH) da amostra total, de primários e de reincidentes

 

 

Os indicadores que foram mais freqüentes para a amostra total são: figuras com braços e pernas abertos (71%), boca representada por uma única linha, fechada (55%), dedos saindo direto dos braços sem as mãos (37%), boca com forte pressão do lápis (29%) e tronco de formato anguloso, com pontas agudas (28%). Os indicadores menos freqüentes foram: boca omitida (1%), mãos encerradas por linhas e com os dedos demarcados (1%), dedos com unhas e articulações destacadas (2%) e mãos sombreadas com vigor (2%).

A análise desta tabela mostra que nenhum dos indicadores examinados foi capaz de diferenciar significativamente entre os grupos de primários e reincidentes. Estes resultados parecem confirmar que os indicadores de agressividade indicados por Souza (1989) não estão relacionados ao número de vezes que o indivíduo cumpre pena ou não são sensíveis às possíveis alterações do comportamento agressivo.

Pela Tabela 18 pode-se observar ainda que os indicadores mais freqüentes para os primários e reincidentes foram os mesmos, no entanto em ordens diferentes. Para os primários os indicadores mais freqüentes foram: a figura com pernas e braços abertos (74,2%), boca representada por uma única linha (54,5%), dedos saindo direto dos braços sem as mãos (42,4%), tronco de formato anguloso, com pontas agudas (28,8%) e boca feita com forte pressão de lápis (22,7%). Para os reincidentes os indicadores mais freqüentes foram: a figura com pernas e braços abertos (64,7%), boca representada por uma única linha, fechada (55,9%), a boca feita com forte pressão de lápis (41,2%), os dedos saindo direto dos braços sem as mãos (26,5%) e tronco de formato anguloso, com pontas agudas (26,5%).

No trabalho de Souza (1989) os indicadores mais freqüentes foram: para o grupo de menores infratoras dedos sem mãos saindo direto dos braços, tronco de formato anguloso, com pontas agudas, narinas com ênfase e boca feita com forte pressão do lápis. No grupo de freiras o tronco com formato anguloso, figura no centro da página e de tamanho grande, pés feitos com ênfase, boca feita com forte pressão do lápis, linha quase sempre grossa e dedos sem as mãos, saindo direto dos braços. No grupo de estudantes os mais freqüentes foram: tronco em formato anguloso com pontas agudas, boca feita com forte pressão do lápis, a linha quase sempre grossa, boca com linha grossa entrecortada, ombros em formato anguloso e pés feitos com ênfase.

Observando-se os aspectos formais avaliados nos desenhos dos reeducandos, é possível destacar os elementos mais comuns que se apresentaram em suas produções. Em termos da amostra geral, pode-se constatar que a maioria dos reeducandos apresentou uma conduta de obediência diante da tarefa, sem um comportamento mais ativo diante do ambiente (98% dos desenhos realizados na posição vertical); sentimento de segurança em situações mais convencionais (82% dos desenhos com simetria moderada); certa ingenuidade, comunicabilidade social e dependência (93% das figuras de frente).

Comparando-se alguns dos resultados desta pesquisa com os de Pasian, Okino e Saur (2004), observa-se que a posição vertical da folha ocorreu em 86% na população geral, enquanto entre os reeducandos essa freqüência foi bem maior, o que pode estar indicando uma maior submissão ao ambiente, provavelmente relacionada à restrição de liberdade. Quanto ao tamanho, na pesquisa normativa ocorreram 31% de desenhos pequenos e muito pequenos, enquanto os desta pesquisa somaram 59%, o que se relaciona à inibição, inferioridade, rejeição pelo ambiente e tendências ao isolamento, que foram maiores entre os reincidentes. Em relação à simetria normal, os dados de Pasian, Okino e Saur atingiram 93,5%, e nesta pesquisa ocorreram apenas em 82%, o que pode estar indicando mais sentimentos de segurança inadequados. No que se refere aos desenhos de frente, eles foram mais freqüentes entre os reeducandos (93%) em relação ao grupo normativo (79%), confirmando a maior comunicabilidade social, ingenuidade e dependência nos reeducandos.

Quando os dados dos reeducandos primários são comparados com os reincidentes, observou-se que alguns aspectos dos nos desenhos dos reincidentes foram capazes de diferenciar estatisticamente os grupos. São eles: desenhos de tamanho muito pequeno (indicando maior sentimento de inadequação), sombreamento de intensidade média (maior vivência de ansiedade), maior presença de transparências (imaturidade e dificuldade em lidar com elementos da realidade) e desenhos de perfil (conduta evasiva).

Em relação aos indicadores de agressividade não foram observadas diferenças significativas em nenhum dos itens avaliados, da mesma forma que na pesquisa de Souza (1989). Desta forma pode-se pensar que a reincidência não é diferenciada pelos indicadores de agressividade examinados e o único aspecto que diferiu entre os dois grupos foi a ordem dos indicadores com maior ou menor freqüência.

Estas evidências remetem à hipótese de que a quantidade de vezes que o indivíduo cumpre pena não se relaciona com os indicadores de agressividade no DFH. Por outro lado, é importante ressaltar as conclusões de Swensen (1968) relativas a sua revisão de 10 anos de pesquisas com o DFH, em que ele afirma que as avaliações globais do DFH são mais precisas e mais válidas do que as obtidas com sinais individuais, confirmando parcialmente a pouca diferenciação entre os dois grupos verificada nesta pesquisa. Contudo seria necessária uma comparação mais ampla com os dados da população para se poder descartar a utilidade desses indicadores para discriminar pessoas agressivas.

É importante ressaltar que os resultados apresentados e discutidos são relacionados à amostra investigada. Para generalizações mais amplas e mais consistentes são necessárias outras pesquisas que tratem sobre o assunto. Pela relevância do tema, outros estudos são sugeridos que versem sobre a comparação dos indicadores com a população geral, comparação entre os indicadores diante de diferentes delitos cometidos, correlação dos resultados utilizando-se diferentes instrumentos para a avaliação da agressividade, entre outras propostas.

 

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Recebido em 04/06/07
Revisto em 08/05/08
Aceito em 11/05/08

 

 

* Endereço para correspondência: Universidade de Taubaté - Departamento de Psicologia. Av. Tiradentes, 500, Bom Conselho. Taubaté - SP. CEP: 12030-180; E-mail: castro.pf@uol.com.br; cristiano@vetoreditora.com.br; iraicba@usp.br.

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