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Boletim de Psicologia

versão impressa ISSN 0006-5943

Bol. psicol vol.61 no.135 São Paulo jul. 2011

 

RESENHA

 

Revigorando a leitura silenciosa

 

Reinvigorating silent reading

 

 

Resenhado por Geraldina Porto Witter*

UNICASTELO - SP - Brasil

 

 

Hiebert, E. H. & Reutzel, D. R. (Eds.). (2010). Revisiting silent reading: New directions for teachers and researchers. Newark, DE: IRA, xiii + 322p.

A maior parte do tempo que as pessoas consomem com a leitura é dedicado a fazer a atividade silenciosamente. Hoje há muitas estratégias para melhorar a competência do ensino-aprendizagem na área. Neste sentido, a leitura do livro aqui resenhado oferece um amplo leque de opções para os professores e leitores que estejam sequiosos de melhoria no seu desempenho, quer como docentes, quer como consumidores de textos. Além disso, as muitas evidências de pesquisas e questões por solucionar na área, também são forte inspiração para o desenvolvimento de pesquisas.

Os editores são autores notáveis na área. A Dra. Elfrida H. Hiebert atua na University of California em Berkeley, tem uma vasta experiência e produção na área, integrando o Reading Hall of Fame. O Dr. Ray Reutzel atua na Utah State University, com ampla experiência de ensino em todos os níveis, com produção muito rica de trabalhos na área. Contaram com a contribuição de professores de várias universidades americanas.

O livro é composto por três partes precedidas de um Prefácio, compreende 16 capítulos e uma Conclusão. Além disso, o leitor conta com índice de conteúdo e de autores. No Prefácio os organizadores justificam a necessidade e importância da matéria - leitura silenciosa. Também enfocam a estrutura dada ao livro e a perspectiva do mesmo para ampliar as fronteiras da disciplina atraindo pesquisados interessados em buscar soluções para os problemas, bem como contribuir para o desenvolvimento do ensino da leitura.

A primeira parte apresenta modelos e estruturas sobre a leitura silenciosa, sendo composta por cinco capítulos. O primeiro deles apresenta uma perspectiva histórica do ensino da leitura silenciosa. O texto foi redigido por Pearson e Goodin. Destacam a leitura no período medieval focando as influências da igreja, as práticas de ensino e a pedagogia utilizada de associação de sons e símbolos, de repetição de letras e de palavras e uso de músicas. A seguir a atenção do leitor é dirigida para as práticas educacionais, envolvendo a leitura silenciosa no período colonial dos Estados Unidos da América (USA), que inicialmente estavam voltadas apenas para as necessidades religiosas. Apresentam a dificuldade de acesso aos livros, lembrando que só em 1638 ocorreu a criação de bibliotecas públicas: a Biblioteca do Congresso (1800), que começou com 740 livros. São apresentados os avanços obtidos nos séculos XIX e XX, com destaque para os períodos de guerra, aparecimento de novas pedagogias e da pesquisa. Fecham com o presente século e as mudanças que já ocorreram. Samuels, Hiebert e Rasinski fazem, no capítulo seguinte, uma boa revisão dos movimentos dos olhos que viabilizam a leitura, considerando os aspectos fisiológicos, a atenção seletiva, a questão da unidade de reconhecimento, as pausas, releitura e regressão, sacadas ou saltos. Em seguida, no capítulo 3, Allington e McGill-Franzen discutem as razões do uso exagerado da leitura oral, especialmente na escola primária (no Brasil corresponde ao primeiro segmento do ensino fundamental). Apontam os problemas, as situações adversas para os alunos e os problemas emocionais decorrentes. No final apresenta evidências sobre as novas práticas e perspectivas futuras.

No capítulo 4, Wright, Sherman e Jones tecem considerações sobre a transferência das habilidades em leitura oral para a leitura silenciosa. Para tanto, tratam das manifestações durante o ler em silêncio como fala sub-vocal, fala vocal, movimentação de lábios e outros problemas. Apresentam uma ficha de avaliação útil para o ensino e a pesquisa. Fazem sugestões de pesquisas. O último capítulo é da autoria de White e Kim que analisam se programas de leitura, ministrados nas férias de verão, são suficientes para superar as diferenças entre níveis sociais distintos. Apresentam as dificuldades decorrentes de compatibilizar os textos com os interesses dos alunos, da relação professor-família, condições e duração de treinamento. Relata uma ampla pesquisa em que há evidência de que tende a ser positivo o efeito. Fazem sugestões diversas.

A segunda parte da obra enfoca o instruir e dar oportunidade para a leitura silenciosa, sendo a parte mais extensa do livro (7 capítulos). O capítulo 6 foi escrito por Swan, Coddington e Guthrie e focam o envolvimento na leitura silenciosa, o que requer motivação intrínseca para a leitura. Apresentaram resultados de pesquisa que mostram fatores relevantes no referido envolvimento, tais como dedicação do leitor, grupos étnicos, práticas instrucionais, estabelecimento de metas e conteúdo. Os resultados de pesquisa sobre a manutenção da leitura silenciosa é o tema do capítulo 7 (Manning, Lewis & Lewis). Os programas de leitura silenciosa sustentável surgiram em 1966 e, desde então, continuam se desenvolvendo e objetivam melhorar as atitudes face à leitura, dar tempo para o aluno ler o que o interessa, modelar bons hábitos de leitura e ensinar os professores como trabalhar esta competência. Os autores fazem uma síntese de pesquisas realizadas na área que mostram a tendência de se obter resultados positivos, mas há necessidade de dar continuidade às pesquisas. Dando prosseguimento ao tema, o capítulo 8 trata de como criar condições em sala de aula para ter bom desenvolvimento em leitura silenciosa. Foi escrito por Reutzel, Jones e Newman, que começam lembrando que consistentemente as pesquisas mostram correlações altas entre tempo consumido com leitura e realização na mesma, o que é válido para todas as atividades acadêmicas. Aprimorar a leitura silenciosa garante melhor leitura independente, capacidade de seleção de texto pelo próprio aluno, maior tempo e envolvimento com a tarefa. Todavia, há necessidade de interação entre professores e alunos envolvendo o texto, bem como arranjo apropriado do ambiente. Apresentam também sugestões de como avaliar a leitura silenciosa.

O capítulo 9 é escrito por Hiebert, Wilson e Trainin, que fazem um exame do ritmo e da compreensão dos alunos durante a leitura silenciosa e também a comparam com a oral nos vários níveis de escolaridade. Relatam uma ampla pesquisa realizada na área com dados mais favoráveis ao ler em silêncio em vários aspectos. Já Kelley e Glaucen-Grace, dando continuidade à eficiência da leitura silenciosa, apresentam um conjunto de estratégias (capítulo 10) de grande valia, que carecem de pesquisas na realidade brasileira. Começam por lembrar que é preciso considerar os diferentes tipos de leitores, descrevem sucintamente o comportamento de oito tipos que requerem tratamento diferenciado por parte dos professores. O método proposto (R5) satisfaz as características dos vários tipos de leitores, cuidando da motivação, recorrendo a estratégias de monitoramento e avaliação, assegurando resposta e interação social, entre outras possibilidades. Enfocam a importância da interação pais-escola e como fazer isto no método focado. No capítulo 11, Schwanenflugel, Kuhn e Ash enfocam como usar a leitura oral e silenciosa para desenvolver a proficiência em leitura nos anos iniciais da escolarização, nos quais se espera que a leitura seja o eixo principal. Lembram que, na fase inicial, a leitura oral pode ter benefícios mais evidentes do que a silenciosa, mas esta já deve ir sendo cuidada, ou seja, é preciso trabalhar com uma perspectiva mais abrangente de orientação para a fluência durante o ensino de leitura. Isto implica em usar técnicas de envolvimento e crescimento constante da exposição a textos variados. Pode-se assim assegurar o reconhecimento de palavras, a fluência e a compreensão. Várias técnicas e sugestões de planejamento são oferecidas. No último capítulo da segunda parte, Brenner e Hiebert fazem uma análise do impacto do desenvolvimento profissional dos docentes na leitura feita por seus alunos. Usam por base pesquisas, vivências e a literatura sobre a matéria. Os resultados encaminham para a necessidade de se ficar atento ao desenvolvimento dos professores e domínios de vários procedimentos. Apresentam dados de pesquisa que realizaram na área e que mostram o benefício de se trabalhar e dar atenção à formação permanente do professor.

A terceira parte do livro é constituída por quatro capítulos que aprofundam temas referidos anteriormente ou mostram outras possibilidades quando a leitura silenciosa ocorre em diferentes contextos, sendo realizada por leitores diferentes. O capítulo 15 é assinado por Malloy, Costek e Leu, que começam lembrando que "a compreensão estratégica e eficiente é incontestavelmente o objetivo de toda leitura, quer ela ocorra silenciosa ou oralmente e quer o material sendo lido seja convencional ou não" (p. 221). Também enfatizam a relevância da leitura silenciosa ao longo da vida. A leitura vem mudando expressivamente após a Internet e isto pede pesquisar e conhecer a compreensão, a criticidade e as estratégias a serem usadas nas novas modalidades de leitura. Fazem uma síntese dos resultados de pesquisas sobre compreensão nos novos suportes de textos e recomendações de pesquisas que precisam ser feitas. O capítulo 14 trata da leitura produtiva em classes bilíngues que requerem competências e habilidades específicas dos professores quanto a oportunidades de leitura, orientação, interação social, motivação, biblioteca de classe, entre outros aspectos. No capítulo seguinte, Ockey e Reutzel tratam do problema da avaliação da capacidade de leitura silenciosa entre os alunos, o que é bastante complexo. Apresentam várias alternativas, suas limitações, vantagens e perigos, além do como agir diante de tão complexa avaliação. O capítulo 16 leva a assinatura de Hairsell, Edmonds, Vaughn e Simmons. Seu alvo são os alunos relutantes, que podem se beneficiar muito com a leitura silenciosa, tornando-se mais produtivos e perdendo esta característica de saber ler, mas não fazê-lo. Descrevem os passos de um procedimento útil para trabalhar com esta clientela.

Como fecho do livro, aparece um capítulo em que Hiebert e Reutzel, à guisa de conclusão, tecem perspectivas para a leitura silenciosa nos anos que começam em 2020 e mais além. Muito investimento em pesquisa, tanto da leitura oral como da silenciosa, precisará ser feito. O mesmo pode se dizer das tecnologias e práticas de ensino e dos suportes oferecidos aos professores. Descortinam um amplo campo de produção para os pesquisadores da área, que requer mais evidências e recuperação do exagero de teorização sem lastro em dados confiáveis e generalizáveis.

Todos os capítulos apresentam questões para se pensar, relacionadas com os temas, mas não há dúvida quanto aos papéis essenciais da leitura oral e silenciosa no desenvolvimento da proficiência em leitura. A bibliografia dos capítulos tende a ser atual, pertinente, composta por artigos de pesquisa publicados em periódicos. São textos de grande utilidade, enriquecedores e sugestivos para todos os que trabalham com a leitura.

 

 

Recebido em 15/08/11
Aceito em 12/10/11

 

 

* Endereço para correspondência: Av. Pedroso de Morais, 144, apto 302. Pinheiros. São Paulo - SP. CEP: 05420-000. Tel: 3032-1968. Email: gwitter@uol.com.br