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Boletim de Psicologia

versão impressa ISSN 0006-5943

Bol. psicol vol.64 no.141 São Paulo dez. 2014

 

IN MEMORIAM

 

 

Geraldina Porto Witter (31.01.1934 - 29.03.2014)1

 

 

Carla Witter*

Universidade São Judas Tadeu - SP - Brasil

 

 

QUANTO MAIOR É O ESPAÇO OCUPADO POR UMA PESSOA, MAIOR É O VAZIO QUE SENTIMOS QUANDO ELA SE VAI.

Falar da professora doutora Geraldina Porto Witter, é falar de sua grandeza na contribuição à ciência da Psicologia, como incansável pesquisadora, obstinada professora e orientadora, generosíssima em todas as suas contribuições.

Abria sua mente com tanta facilidade para quem quisesse aprender ou compartilhar conhecimentos, como abria as portas da nossa casa para legiões de estudantes, orientandos, colegas daqui ou de outros estados, países, com a mesma dedicação de quem recebe um amigo, um filho.

Não raro, a casa estava cheia, animada, sempre com alguém estudando na sala, na cozinha, mais um para o jantar, mais outro para pousar, por um mês, ou pelo semestre do curso, o que fosse. Assim era a nossa casa.

Nos natais, lembro-me de ver a minha mãe reservar um tempo, às vezes grande, para abrir, um por um, os presentinhos que recebia de todos os seus queridos orientandos, alunos, colegas e amigos que se sentiam tão queridos e agradecidos, que gostariam de estar ali presentes, e, de certa forma, estavam na dedicação e no apreço que minha mãe lhes reservava.

Acho que não preciso falar do número de publicações, congressos, livros, enfim, da vida acadêmica vastíssima e admirável da Profa. Geraldina. Contribuidora aferrada à qualidade da produção científica, com o seu sentido ético e moral inabaláveis sempre perseguiu, com pulso firme, o melhor método, o mais correto procedimento e o mais inquestionável valor da ciência. Apesar da sua extensa e importante produção, não se deixava levar por vaidades, pelo contrário, sempre foi simples e discreta na sua forma de ser e na sua conduta profissional. Admirável exemplo para todos nós, que tanto me orgulho como filha, respeito e tenho a responsabilidade de me espelhar, como profissional de Psicologia, tarefa nada fácil, porque pouquíssimas são as pessoas que conseguem ter o fôlego e determinação que ela teve.

Nesse sentido, tenho certeza que seu legado mais precioso foram as pessoas que ela pode tocar, ensinar e ajudar a conseguir os seus melhores resultados em seus mais diversos campos de atuação.

E foram muitas pessoas, muitos mestrandos, doutorandos, multiplicadores desta nossa ciência tão carente de produção, além de muitas outras pessoas, não da área acadêmica de pós-graduação, mas alunos de graduação, de iniciação científica, de ensino médio, além de colaboradores, amigos, qualquer um que, na verdade, precisasse de seu apoio, conselho, incentivo e, às vezes, até mais do que isso.

Sempre foi uma pessoa generosa, isso lhe ocorria de uma forma natural, ajudar fazia parte de seu modo de vida, de sua prática. Sempre ajudou quem quisesse aprender não importava a idade, de criança a idosos, sempre incentivou a aprendizagem e o conhecimento, pois aprendeu com a sua vó Anita que dia produtivo era aquele em que aprendíamos alguma coisa nova, não importava o que fosse: uma nova receita, uma brincadeira, um conceito matemático ou da área da Psicologia, uma estratégia de ensino, uma música... Enfim, um novo conhecimento a ser compartilhado com os outros.

Sendo assim, gostaria de compartilhar o grande exemplo como pessoa e como mãe que trago dentro de mim e que vai continuar como lembrança e saudade pelo resto da minha vida.

O seu melhor prato era o inigualável peru de natal, vários dias no tempero, tudo bem cuidado, tudo caprichado, ou o igualmente bom, lombo de panela com batatas, panela grande para muitas pessoas, éramos muitos e sempre vinham mais alguns, sempre podia vir mais alguém para comer, para tomar um vinho, para uma boa conversa e várias horas à mesa.

O que ela mais gostava era do seu trabalho. Ela teve o privilégio de amar o que fazia, trabalhou muito e amou muito o seu trabalho.

Uma das suas últimas preocupações era não dar tempo de fazer tudo o que ela achava que ainda tinha que fazer. Incansável, muitos pensavam que ela se impunha uma rotina de trabalho desproporcional. Não era verdade. Para quem a conhecia de perto, sabia que seus olhos brilhavam, ela se iluminava e se realizava em tudo aquilo. Pura paixão, engajamento e um senso profundo de responsabilidade.

Muito obrigada por tudo!

Carla Witter

Para quem quiser saber mais da trajetória de vida e profissão da Profa. Dra. Geraldina Porto Witter pode consultar:

Witter, Geraldina Porto (2004). Educação e Psicologia: Cinquenta anos de profissão. São Paulo, Ateliê Editora

 

 

 

Recebido em 2/12/14
Aceito em 5/12/14

 

 

* Endereço para correspondência: Av. Pedroso de Moraes, 144, apto. 302 - Pinheiros. São PauloSP. CEP: 05420-000. E-mail: cwitter@uol.com.br
1 Texto proferido na homenagem realizada para a Profa Dra. Geraldina Porto Witter na 44a Reunião Anual da Sociedade Brasileira de Psicologia (SBP), ocorrida de 21 a 24 de outubro de 2014.

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