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Boletim de Psicologia

versão impressa ISSN 0006-5943

Bol. psicol vol.64 no.141 São Paulo dez. 2014

 

IN MEMORIAM

 

 

Profa Geraldina Porto Witter1

 

 

José Fernando Bitencourt Lomonaco*

Academia Paulista de Psicologia Instituto de Psicologia da USP - SP - Brasil

 

 

Foi com enorme tristeza que recebi a notícia do falecimento, no dia de 29 de março de 2014, da Profa. Dra. Geraldina Porto Witter, na cidade de Mogi das Cruzes, onde nasceu e residia atualmente. Fui seu aluno, seu orientando no doutorado, mas, principalmente, seu amigo de muitos anos. Talvez por isto me tenha sido solicitado que comentasse sua presença e suas realizações em vida de modo a evocar lembranças e saudades naqueles que a conheceram e a transmitir informações sobre sua admirável figura a todos aqueles que não privaram de seu convívio.

Quando me dispus a executar tal tarefa, fiquei confuso quanto a como começar, o que falar, onde buscar informações e principalmente como organizá-las de maneira adequada. Mas eis que me deparo com dois textos que em muito facilitaram minha tarefa. Refiro-me ao "O Legado da Psicologia para o Desenvolvimento Humano", uma publicação da Academia Paulista de Psicologia (2006) destinada a recuperar e conservar memórias da Psicologia brasileira, na qual a Profa. Geraldina faz um relato de sua vida e de seus principais interesses acadêmicos. O outro texto é Educação e Psicologia (2004), uma publicação da Ateliê Editorial, na qual discorre sobre aspectos de sua vida e de suas atitudes perante à vida, expõe, de maneira extremamente didática, seu percurso acadêmico e arrola suas muitas atividades enquanto docente universitária: publicações, participações em bancas e eventos científicos, orientações de mestrados e doutorados, trabalhos de pesquisa e distinções recebidas. Sobre esta obra, assim se expressa Geraldina:

com este texto espero repassar um pouco de minha vida para meus filhos, netos, orientandos e amigos. Certamente, pelo meu próprio estilo de ser, aparecerão mais os dados, os fatos e os conceitos estabelecidos ao longo de percurso. Mas subjacente, embora não explícita, há muita emoção, principalmente muito amor partilhado e a ser partilhado com todos que caminharam por pouco ou muito tempo ao meu lado (p. 22).

Confesso que, mais uma vez, senti-me muito grato à minha orientadora por facilitar tanto a tarefa daqueles que se dispõem a conhecer sua vida e sua obra e, como agora, a relatar e comentar as múltiplas facetas de sua vida pessoal e do seu fazer profissional.

Geraldina nasceu no dia 31 de janeiro de 1934, na cidade de Mogi das Cruzes, Estado de São Paulo, primeira filha de Antonio Meinberg Porto e Custódia Nudi Porto, onde cursou a pré-escola, o ensino primário, o ginásio e a Escola Normal Estadual. Ao referir-se ao seu grupo familiar, faz questão de destacar ter nascido numa família de "assíduos leitores". Quando comenta seus primeiros anos e sua juventude, Geraldina deixa transparecer muita saudade e muito afeto:

Foi uma infância e adolescência com muita tranquilidade, alegrias, passeios, aconchego familiar. A família era grande, unida e com muitos encontros semanais e muitas festas. O lar de Antonio e Custódia recebia muitas visitas o dia todo, do café da manhã aos encontros à noite para jogar, tocar, ouvir e cantar, declamar, discutir literatura e política... O cinema ocupava um papel importante, o rádio também, mas nada era como a leitura (2006, p. 47).

No último ano do ginásio conheceu José Sebastião Witter, que namorou quatro anos antes de se casar e com quem viveu até o fim de sua longa vida. Relata-nos Geraldina que, em função deste namoro e da real possibilidade de casamento, houve uma pressão familiar no sentido de garantir uma formação profissional. A Escola Normal na época era a opção natural, uma vez que propiciava ao seu término a possibilidade imediata de trabalho como professor primário. Curiosamente, Geraldina nos conta que foi cursá-la contra sua vontade, uma vez que desejava frequentar o curso colegial. Porém, sua contrariedade não parece ter durado muito tempo. Ela nos conta: "Foi na Escola Normal que descobri o quanto ensinar podia ser uma forma de doar-se e que havia muita alegria nisso" (2004, p. 27).

Em 1o de agosto de 1953 assumiu o cargo de professora de uma escola mista, na cidade de Mogi das Cruzes. Sobre esta experiência, Geraldina nos diz:

Ao começar a trabalhar, percebi o quanto minha mãe e os que me incentivaram para o ensino estavam mais certos de que eu. Realmente, ensinar era a profissão que me satisfazia em muitos aspectos. Mas os sonhos continuavam em espiral crescente (2004, p. 29).

E estes sonhos começam a se concretizar com sua entrada no Curso de Pedagogia da USP, onde foi aluna de Carolina Martuscelli Bori, então recém-chegada dos EUA. Falando sobre sua motivação para cursar a universidade, Geraldina narra sua insatisfação com a lacuna entre a teoria e a prática pedagógica e insiste, já desde aquela época, com a necessidade de testar a teoria por meio de pesquisas e pela prática docente. Saber mais e aprender mais se impunham. Segundo ela: "Assim, ao entrar na USP, achei que iria aprender a resolver os problemas de leitura e redação de meus alunos. As outras disciplinas do então primário não pareciam ter complicação, mas leitura..." (2004, p. 30).

Terminada a graduação, optou por fazer o Curso de Especialização em Psicologia Educacional e, em seguida, iniciou seus estudos para o doutorado em Ciências (Psicologia), ao mesmo tempo em que complementava créditos para ser psicóloga. Não obstante todos esses títulos, Geraldina voltou a lecionar no ensino primário até que, a convite da Profa. Carolina Martuscelli Bori, responsável pela Cadeira de Psicologia da então recentemente criada Faculdade de Filosofia, Ciências e Letras de Rio Claro, foi lecionar nesta cidade. E foi assim que Geraldina iniciou sua profícua carreira acadêmica.

Em julho de 1964, durante a XVI Reunião Anual da Sociedade Brasileira para o Progresso da Ciência, em Ribeirão Preto, recebeu dois convites para ser professora na USP: da Dra Anita Castilho Marcondes Cabral, da Cadeira de Psicologia Experimental e do Dr. Arrigo Leonardo Angelini, da Cadeira de Psicologia Educacional. E ela que nos relata o acontecido: "Witter e eu conversamos muito sobre as duas possibilidades... Concordamos que estaria mais consoante com a minha motivação e minhas características pessoais ficar na área educacional" (2004, p. 35). Assim aceitou o convite do Dr. Arrigo. Segundo ela, havia encontrado a profissão que desejava e que lhe possibilitava uma atuação profissional associada ao ensino e à pesquisa.

E, assim, durante 20 anos, Geraldina permaneceu na USP, onde realizou seu mestrado, doutorado e livre-docência, e vivenciou as transformações e reformas da universidade. Com a eliminação das cátedras e a criação do Instituto de Psicologia, em 1970, Geraldina foi alocada no Departamento de Psicologia da Aprendizagem, do Desenvolvimento e da Personalidade, tendo se aposentado em 1983. No tempo em que pertencia aos quadros da USP, campus São Paulo, colaborou como docente e orientadora na F. F. C. L. de Ribeirão Preto, na Universidade Federal da Paraíba, que lhe outorgou o título de Professora Emérita e no Centro Universitário de João Pessoa (UNIPÊ).

Após sua aposentadoria, obteve o título de Professor Titular na Universidade Católica de Campinas, onde lecionou e orientou na Pós-Graduação em Psicologia. Posteriormente trabalhou também na Universidade de Mogi das Cruzes, como coordenadora do Curso de Psicologia, de 2000 a 2005, e professora da disciplina Psicologia Escolar. Atuou também na Universidade Castelo Branco (UNICASTELO), onde coordenava o Comitê de Ética e trabalhava nas áreas de avaliação da produção científica, leitura-escrita, aprendizagem de ciências e matemática. Cabe agora a pergunta: "Do que resultaram esses mais de 50 anos dedicados à docência e à pesquisa em Psicologia?".

Para responder a esta perguntava, vamos obedecer à ordem em que a própria professora estabeleceu no já citado texto Educação e Psicologia, no qual são arrolados os seguintes tópicos: disciplinas ministradas, orientação de trabalhos científicos, participação em bancas, trabalhos de pesquisas, publicações e distinções. Sendo tais informações originárias da própria Geraldina, seu grau de confiabilidade é muito alto. Cabe ressaltar, porém, que tais informações foram atualizadas até a data de publicação da obra, ou seja, 2004. Assim sendo, os números a serem citados, embora bastante expressivos, estão subestimados uma vez que, até a data de sua morte, em 2014, a incansável professora continuou a produzir.

Disciplinas ministradas. Os dados mostram que, até o ano de 2003, a Profa. Geraldina havia ministrado 52 disciplinas na graduação, 72 em cursos de especialização e 127 em Mestrado e Doutorado, totalizando 251 disciplinas. Se o número em si já impressiona, não menos impressionante é variedade de temas abrangidos por tais disciplinas. Como meu objetivo não é fazer um arrolamento exaustivo de todas estas áreas, procurei selecionar as que, no meu entendimento, mereceram mais consideração e dedicação por parte da Profa. Geraldina ao longo de sua vida acadêmica. Penso serem elas as seguintes: Aprendizagem, Psicologia Escolar, Análise Experimental do Comportamento, Comportamento Verbal, Psicolinguística, Tecnologia do Ensino e Produção Científica.

Orientação de trabalhos científicos. Geraldina sempre teve muito apreço pela orientação de trabalhos de alunos, quer sejam trabalhos de conclusão de curso, de iniciação científica, de cursos de especialização, de mestrado e doutorado. Em relação a este aspecto de sua vida acadêmica, Geraldina nos diz: "Envolver-se na atividade de orientação é, sem dúvida, uma forma muito agradável de se desenvolver. Não é sem crises e sem problemas, mas é efetivamente muito bom desenvolver-se junto com o orientando" (2004, p. 98).

Como um ex-orientando posso testemunhar a dedicação que Geraldina demonstrava no seu trabalho de orientação. Penso que todos aqueles que vivenciaram esta experiência lembrar-se-ão do misto de rigor e carinho bem dosados que ela imprimia à orientação: estimulando-nos, quando sentia que era disso que precisávamos no momento, mas exigindo de nós mais dedicação, esforço e seriedade sempre que necessário. E com esta atitude, a Profa. Geraldina computou, até 2004, a impressionante quantidade de 151 dissertações de mestrado e 79 teses de doutorado orientadas, num total de 230 trabalhos.

Como ocorreu com a variedade de disciplinas ministradas e, talvez, em decorrência de tal diversidade, os temas e as áreas de orientação assumidos por ela são heterogêneos, indicando a multiplicidade de interesses por parte da Profa. Geraldina, que orientou trabalhos nas áreas da Psicologia, Educação, Linguística, Biblioteconomia, Ciência da Informação, Distúrbios de Comunicação e Ensino de Ciências. Na verdade, seu primeiro trabalho de orientação foi uma tese de doutorado defendida na Faculdade de Enfermagem de Ribeirão Preto (USP), em 1973. Na área de Psicologia, no mesmo ano de 1973, tive a satisfação de ter sido seu primeiro orientando no Instituto de Psicologia da USP.

Participação em bancas. Em face de sua enorme disponibilidade e de seus múltiplos interesses, a Profa. Geraldina, ao longo de sua carreira acadêmica, participou de uma impressionante quantidade de bancas examinadoras - 1015 participações até o ano de 2004. Neste total estão computados todos os níveis de trabalhos, quais sejam: professor titular, adjunto/associado, livre docência, doutorado, mestrado, trabalhos de conclusão de curso e iniciação científica, qualificações de doutorado e mestrado. Sua primeira participação em banca de doutorado ocorreu em 8 de dezembro de 1972, na Escola de Enfermagem de Ribeirão Preto, USP, na defesa de sua primeira orientanda Maria Cecília Manzolli. Em relação a este aspecto de suas atividades acadêmicas, Geraldina se mostra muito humana e ponderada. Ela nos diz;

"Nas bancas, é papel do examinador evidenciar os erros, as falhas e as limitações, é um dever que, ao ser cumprido, deve recorrer à modelagem, à busca de mudança, sem que se use um discurso punitivo, agressivo, que diminui o examinando, prejudicando-o como pessoa, sem que mudanças substanciais possam ocorrer. Já presenciei exemplos lastimáveis, destrutivos. Felizmente foram poucos. É possível fazer a mais severa e grave das críticas, apontar erros graves sem destruir totalmente o trabalho e principalmente a própria pessoa que o apresentou. Sempre é possível achar algo de bom por onde começar ou recomeçar." (2004, p. 109).

Assim era a Profa. Geraldina, uma mistura de crítica rigorosa e respeito ao ser humano.

Trabalhos de pesquisa. Aqui chegamos a uma das maiores paixões intelectuais, senão a maior, da Profa. Geraldina. É ela mesmo que confessa: "são tantos os reforçadores positivos que ocorrem no processo de pesquisa, que não sei mais como viver sem eles" (2004, p. 118). Como ela mesma nos relata, sempre que possível procurou realizar suas pesquisas no contexto em que a questão a ser resolvida se encontrava, geralmente no contexto escolar, o que viabilizou muito seu trabalho de pesquisadora e, ao mesmo tempo, produziu pesquisas "ecologicamente" válidas, uma vez que seus dados foram obtidos em situações naturais e não em situações bastante controladas, mas um tanto artificiais, de laboratório.

É muito interessante constatar que a paixão pela pesquisa data do tempo em que ela lecionava no Curso Primário. Ela nos relata que seu primeiro trabalho de pesquisa teve como objetivo controlar os gastos com materiais (livros, cadernos, lápis, borrachas, etc.), que seus alunos recebiam gratuitamente do estado, evitando o desperdício. Sem ainda conhecer Skinner, sistema contratual de ensino, ensino do autocontrole e assuntos correlatos, Geraldina esboçou um plano de pesquisa no qual princípios da análise experimental do comportamento foram utilizados. Era o início de 1954 e o relatório da pesquisa e o seu resumo foram encaminhados a um evento na área da educação, a ser realizado na Bahia. O trabalho foi aceito, mas nunca apresentado, pois, infelizmente, ela não pôde comparecer ao evento.

Muitas foram as áreas do conhecimento psicológico e educacional objetos de pesquisa por parte da Profa. Geraldina. Todavia, ela parecia ter um especial apreço por duas delas que considera como particularmente enriquecedoras. Quais sejam, o longo e demorado trabalho de pesquisa sobre desenvolvimento verbal, com ênfase no vocabulário, do qual resultou posteriormente a cartilha Lendo e Escrevendo e o conjunto de várias pesquisas menores que deram base para a elaboração da Cartilha da Amazônia, em colaboração com Warwick Kerr, então diretor do Instituto Nacional de Pesquisas da Amazônia. Estes trabalhos, juntamente com muitos outros não citados, parecem corresponder muito intimamente às suas preocupações, há muito explicitadas, com o processo de alfabetização e, mais especificamente, com a leitura. Referindo-se à importância da leitura, ela comenta: "A leitura ... é o veículo básico para levar cultura às pessoas, tem impacto em todas as áreas de sua vida e as capacita para melhorar o mundo. Há muito por aprender, para tanto é preciso pesquisar, pesquisar, pesquisar" (2006, p. 51). E ela, certamente, não apenas recomendava a pesquisa na área, mas foi ela mesma uma incansável pesquisadora neste campo do conhecimento. No já citado texto O Legado da Psicologia para o Desenvolvimento Humano, publicado em 2006, a Profa. Geraldina arrola dez livros e 49 capítulos de livros e artigos sobre o tema, publicados sozinha ou em colaboração com outros pesquisadores. E, na conclusão do capítulo de seu livro Educação e Psicologia: Cinquenta Anos de Profissão, de 2004, Geraldina mais uma vez reafirma seu interesse pelo tema: "A leitura sempre esteve presente em meus envolvimentos com o ensino e a pesquisa, confirmando a própria motivação de ter buscado a universidade para dar continuidade à minha formação" (2004, p. 122).

Publicações. Como decorrência de seu intenso trabalho como pesquisadora, de suas preocupações de ordem teórica, juntamente com um enorme desejo de divulgar o conhecimento psicológico entre a comunidade científica, resultaram numerosas publicações. Como testemunha uma sua ex-orientanda, Geraldina

escrevia com facilidade porque lia muito. Silenciosa na expressão oral, pois mais ouvia do que falava, sua escrita transbordava demonstrando que seu diálogo, mediado por suas reflexões e ideias escritas, tinha sempre o objetivo de ir além daqueles com quem conversava, presencialmente (Guzzo, 2014).

Na relação de suas publicações até 2004 constam 800 trabalhos divididos em livros, capítulos de livros, artigos em periódicos científicos e de divulgação científica, trabalhos completos e resumos em anais, resenhas, prefácios, editoriais, traduções de livros e de capítulos de livros, textos para o 1o grau e divulgação científica para o grande público. Curiosamente, o maior número de publicações - 269 ou um terço do número total de seus trabalhos publicados - são resenhas de livros. A Profa. Geraldina parecia ter uma especial predileção por resenhar obras que lhe pareciam dignas de serem conhecidas por outras pessoas. É ela mesma que nos diz: "É uma atividade que enriquece e, ao mesmo tempo em que leio para as atividades de ensino e pesquisa, procuro alertar meus pares para textos de interesse comum a muitos" (2004, p. 151).

Distinções. Aqueles que, como eu, tiveram o privilégio de conviver com a Profa. Geraldina talvez sintam certa estranheza em ligar a figura da mesma às inúmeras distinções que recebeu da comunidade científica, da sociedade em geral e mesmo de seus pares. Digo isto porque a primeira impressão que ela nos causava era a de uma pessoa extremamente modesta, embora nós soubésse- mos de suas muitas qualidades. Na verdade, confesso que, somente agora, ao resenhar sua vida e sua obra, fiquei conhecendo o grande número e a grande importância das distinções recebidas. Não me lembro de, em nenhum momento, ter sido informado por ela das homenagens que lhe foram prestadas. De algumas soube por meio de colegas; de outras estou tomando conhecimento no momento desta resenha. No texto de 2004, Geraldina arrola 30 homenagens, algumas delas extremamente significativas e de âmbito internacional. Dentre estas, saliento: Foremost Women of the Twentieth Century, 1987, Universidade de Cambridge; 5000 Personalities of the World for Contributions to Psychology and Education, 1988; Professional of Year in Psychology, 1991 e Most Admired Woman of the Decade, 1992, estas três últimas conferidas pelo Board of International Research do American Biographical Institute, USA; Certificate of Distinguished Contribution, concedido pela International School Psychology Association, Eger, Ungary - ISPA, 1996. Em âmbito nacional, recebeu a Medalha "Centenário da Psicologia Científica" conferida pelo Conselho de Psicologia, 6a Região, em 27 de agosto de 1979; tornou-se membro titular da Academia Paulista de Psicologia, cadeira 23, tendo tomado posse em 22 de agosto de 1980; era Professor Honoris Causa pela Universidade Federal da Paraíba, 1992; recebeu o título de Cidadã Pessoense, em reconhecimento aos relevantes serviços prestado à cidade de João Pessoa, 2003. Numa esfera mais "pessoal" e afetiva, Geraldina recebeu homenagens, agradecimentos e reconhecimento por parte de muitos de seus colegas, orientandos, alunos e ex-alunos. Assim, recebeu uma homenagem especial no I Congresso Nacional de Psicologia Escolar, ABRAPEE, 1991 e no IV Congresso de Psicologia Escolar e Educacional, pelos 50 anos de profissão, em abril de 2003 e Gratidão pelos 50 anos dedicados à ciência psicológica, do Curso de Psicologia do Centro Universitário Salesiano de São Paulo, campus de Lorena, em 2003.

Finalmente, não poderia terminar este texto sem mencionar o que acredito ter sido uma das contribuições à Psicologia e à Educação brasileiras, das quais a Profa. Geraldina mais se orgulhava. Refiro-me à criação, em 1990, na cidade de Campinas, SP, da Associação Brasileira de Psicologia Escolar (ABRAPE), visando congregar psicólogos da área e lutar pelo reconhecimento da necessidade do psicólogo escolar nas instituições de ensino. Geraldina foi a associada no 1 e sua presidente de 1991 até 2001. À medida que a entidade se consolidava, Geraldina sentiu necessidade não só de ampliar os horizontes geográficos da associação para além do estado de São Paulo, mas também incluir os psicólogos educacionais na entidade. Assim sendo e tendo uma proposta neste sentido sido aprovada em um dos congressos da ABRAPE, a entidade mudou seu nome para Associação Brasileira de Psicologia Escolar e Educacional (ABRAPEE), sua denominação atual. Importante ressaltar também sua participação na criação da Revista de Psicologia Escolar e Educacional, a meu ver, a publicação científica mais representativa e respeitada dos psicólogos escolares e educacionais brasileiros.

Penso que, neste texto, muito foi dito sobre a Profa. Geraldina, mas muito ainda poderia ser lembrado. Quando falamos de sua figura, é difícil não sermos injustos para com ela, pois, em face de uma vida tão longa e produtiva dedicada à ciência psicológica e à Educação, sempre estaremos subestimando sua contribuição à Psicologia brasileira. Não procurei, todavia, arrolar todas as contribuições da Profa. Geraldina de modo a tornar esta homenagem um maçante relatório ou uma mera prestação de contas. Selecionei as que me pareceram mais significativas e entremeei com lembranças pessoais e depoimentos da própria homenageada a fim de dar, àqueles que não a conheceram, uma visão da pessoa e da profissional, realçando não apenas seu trabalho científico, mas também suas qualidades como o ser humano maravilhoso que foi. Qualidades estas admiravelmente retratadas nas reflexões finais do texto de 2004, quando a Profa. Geraldina, ao fazer um balanço de sua vida acadêmica e pessoal, nos confessa:

Não tenho habilidades políticas, nunca fiz qualquer esforço para adquiri-las, no sentido de alcançar cargos, posições. Nunca desejei ou mesmo assumi qualquer cargo, função ou atividade por questão de status ou poder, nem mesmo os procurei ou fiz qualquer gesto em busca deles. ... Vi as oportunidades, mas não senti sedução alguma, não me empenhei. Nenhum poder pode ser mais atraente do que o sorriso de uma criança que descobre que pode aprender, que a confiança de uma professora em sua possibilidade de ser o diferencial na vida de um aluno. Há tanta beleza e alegria nas atividades que não são consideradas como de prestígio e de poder. ... A satisfação vem da possibilidade de contribuir para o desenvolvimento de programas, de projetos e de outras atividades que promovam o ser humano e contribuam para a melhoria da qualidade de vida da comunidade, do Brasil (2004, p. 169).

Assim era a Profa. Geraldina, uma das construtoras da Psicologia brasileira. Saudades eternas!

Geraldina deixou os filhos Telma, Erick e Carla e os netos Fernanda, Nicole, Michele e Daniel. Seu esposo e companheiro de toda uma vida, José Sebastião Witter faleceu poucos meses após sua morte.

 

REFERÊNCIAS

Guzzo, R.S.L. (2014). Geraldina Porto Witter 1934/2014. Comunicado do Conselho Federal de Psicologia, 07/04/2014.         [ Links ]

Witter, G.P. (2004). Educação e Psicologia: Cinquenta Anos de Profissão. São Paulo: Ateliê Editorial.         [ Links ]

Witter, G.P. (2006). Leitura: Um caminho para a cultura. In Legado da Psicologia para o Desenvolvimento Humano. São Paulo: Academia Paulista de Psicologia.         [ Links ]

 

 

Recebido em 26/12/14
Aceito em 28/12/14

 

 

* Endereço para correspondência: Av. Prof. Mello Moraes, 1721, São PauloSP. CEP: 05508-030. E-mail: jfblusp@terra.com.br
1 Esta homenagem também foi publicada em 2014 no Boletim da Academia Paulista de Psicologia, 34 (87), 563-570.

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