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Boletim de Psicologia

versão impressa ISSN 0006-5943

Bol. psicol vol.66 no.144 São Paulo jan. 2016

 

ARTIGOS ORIGINAIS

 

 

Diferenças de gênero em criatividade: análise das pesquisas brasileiras1

 

Gender differences in creativity: an analysis of brazilian studies

 

 

Renata Muniz Prado*; Eunice M. L. Soriano de Alencar; Denise de Souza Fleith

Instituto de Psicologia da Universidade de Brasília

 

 


RESUMO

Este estudo teve como objetivo realizar o levantamento da produção científica brasileira sobre criatividade em interface com a variável gênero. Para tal fim, foi realizada uma busca de artigos publicados até o ano de 2016 nas bases de dados SciELO e PEPSIC. Foram analisados 30 artigos, resultantes da combinação dos descritores "criatividade" e "gênero". Analisaram-se as diferenças de gênero nas dimensões individuais e ambientais que interferem no processo criativo. Em número expressivo de estudos, não foram encontradas diferenças entre os gêneros. Contudo, observou-se distinção em relação aos fatores específicos, como fluência, originalidade, criatividade verbal e sensibilidade. O desempenho masculino tendeu a superar o feminino em habilidades cognitivas, ao passo que as médias femininas foram superiores em fatores não cognitivos. Entre as hipóteses para explicar tais diferenças, aponta-se o impacto de fatores socioculturais. Espera-se que este estudo contribua para ampliar a compreensão do papel do gênero no desenvolvimento e expressão da criatividade e para sinalizar a carência de pesquisas focalizando essa variável em investigações com amostras de indivíduos com produções criativas de destaque em campos diversos.

Palavras-chave: Criatividade, gênero, pesquisa bibliográfica, Psicologia, Educação.


ABSTRACT

This study examined the Brazilian scientific production on creativity associated to gender. Therefore, it was conducted a search on SciELO and PEPSIC databases directed to articles published until 2016. Thirty articles resultant from the combination of the descriptors "creativity" and "gender" were analyzed. The research gender differences in individual and environmental dimensions that affect the creative process. A significant number of studies indicated no differences between males and females. However, a difference was observed when specific factors such as fluency, originality, verbal creativity and sensitivity were considered. The male performance exhibited a tendency to overcome the feminine in cognitive abilities, while the female means results were superior in non-cognitive factors. The impact of sociocultural factors was emphasized among other hypotheses to explain the observed differences. It is expected that this study contributes to the understanding of the role of gender in the development and expression of creativity and to call attention to the lack of research focusing on this variable in samples of individuals with highly creative productions in diverse fields.

Key words: Creativity, gender, bibliographical research, Psychology, education.


 

 

INTRODUÇÃO

Há uma proliferação de estudos sobre criatividade, a par de um crescente reconhecimento de sua relevância para o indivíduo e a sociedade (Alencar & Fleith, 2009; Kaufman & Sternberg, 2010; Nakano & Wechsler, 2006a; Runco, 2004; Sawyer, 2012). De acordo com Alencar (2007), a importância de se cultivar a criatividade se dá por vários motivos. Um deles é por ser a atividade criativa considerada elemento fundamental ao desenvolvimento sadio do indivíduo, capaz de favorecer o bem-estar emocional e saúde mental. Uma segunda razão se refere ao contexto socioeconômico atual, caracterizado por incertezas e mudanças, que imprimem desafios e problemas imprevisíveis, e por sua vez requerem soluções criativas. Alencar sublinha ainda que sufocar o potencial criador limita as possibilidades da expressão de talentos diversos.

Pesquisadores brasileiros, reconhecidos por suas investigações sobre distintas facetas da criatividade, sinalizam que os estudos sobre esse fenômeno devem ser ampliados, bem como as oportunidades favoráveis ao cultivo de habilidades criativas (Alencar & Fleith, 2016; Barreto & Martínez, 2007; Bruno-Faria, Vargas & Martínez, 2013; Gontijo, 2007; Nakano & Wechsler, 2013; Novaes, 1999; Wechsler, 2006a; Zanella, 2004). No cenário internacional, percebe-se uma mudança na ênfase dos estudos, antes mais voltados para a dimensão individual da criatividade e formas de estimulá-la, como programas e técnicas para este fim, e mais recentemente, amparados nas abordagens sistêmicas, para a influência de variáveis externas tanto no desenvolvimento quanto na expressão criativa do indivíduo.

Csikszentmihalyi (1996) apresenta o modelo sistêmico de criatividade e aponta o impacto das condições sociais e culturais no processo criativo. Propõe que esse processo ocorre pela interação de três fatores, o indivíduo (traços genéticos e personológicos), o campo (sistema social) e o domínio (cultura). Esse autor, além de vários outros, entre eles Sawyer (2012) e Esquivel e Hodes (2003), defende que contribuições criativas são resultados de ambientes apropriados.

Nessa perspectiva, os sistemas socioculturais são de fundamental importância na promoção ou inibição da criatividade. Seria este, por exemplo, um fator para explicar as diferenças de gênero no que diz respeito à produção criativa de excelência apontada em numerosas pesquisas. Entre elas, poder-se-ia citar o estudo comparativo entre homens e mulheres agraciados com o Prêmio Nobel em Física, Química e Medicina entre 1901 e 2006, realizado por Charyton, Elliott, Rahman, Woodard e Dedios (2011). Os autores analisaram ordem de nascimento, estado civil, número de filhos, presença de mentores, premiações e nível educacional. Os resultados apontaram que as mulheres, nesse grupo, além de serem em número muito reduzido, vivenciavam mais obstáculos, apresentavam menor número de publicações e estavam sub-representadas em suas áreas de atuação. De forma similar, estudos com amostras de inventores apontam uma alta predominância de homens comparativamente a mulheres (Henderson, 2004; Mieg, Bedenk, Braun, & Neyer, 2012).

Uma pesquisa brasileira realizada com 111 mulheres de destaque na área acadêmica e científica investigou o perfil, os fatores promotores e inibidores ao longo de sua trajetória profissional, bem como as características familiares. O estudo revelou que a participação feminina tende a reduzir à medida que o grupo é mais qualificado. Os achados indicaram, ainda, que fatores inibidores, como os estereótipos de gênero, se sobrepõem aos fatores promotores a uma maior expressão criativa, nas suas trajetórias profissionais. A presença de modelos no início da carreira, uma formação educacional de excelência e o apoio familiar constituíram os principais fatores externos facilitadores do seu alto desempenho profissional. Outro dado interessante se refere às áreas e região nos quais atuam, as Ciências Humanas e a região sudeste do Brasil concentram a maioria dessas mulheres (Prado, 2010).

Oliveira e Nakano (2014) analisaram a biografia de Nise da Silveira, eminente psiquiatra brasileira, nascida em 1905, buscando indicadores de criatividade e resiliência ao longo de sua trajetória pessoal e profissional. Para além da presença de características associadas à criatividade como independência, autonomia, motivação pelo trabalho, persistência, autoestima elevada, capacidade de dar sentido à própria vida, coragem para correr riscos e senso de humor, Nise da Silveira cresceu em um ambiente familiar cercada de carinho, apoio e livre de preconceitos. "Minha mãe era uma mulher que destoava completamente das mulheres da época. E o meu pai aceitava bem o jeito dela, porque esse também era o jeito dele" (Horta, 2008, citado em Oliveira & Nakano, 2014, p. 508). Segundo as autoras do estudo, era comum a família da psiquiatra acolher pessoas criativas. Entre os principais mentores de Nise estavam seu pai, marido e professores. Não era raro o pai levá-la ao jornal no qual trabalhava. A escolha de uma profissão considerada masculina à época, a opção por não legalizar seu casamento e não ter filhos, o trabalho em um hospital psiquiátrico, a recusa em utilizar métodos agressivos no tratamento dos doentes mentais, ao contrário, a busca de formas inovadoras de atendimento a esse grupo e a criação do Museu de Imagens do Inconsciente evidenciam a interconexão da criatividade e resiliência no curso de vida da Psiquiatra.

Entende-se que o papel social desempenhado pela mulher e os padrões de desenvolvimento e expressão de suas habilidades e talentos são promovidos ou inibidos essencialmente por fatores relacionados ao contexto em que vivem. Elementos da cultura, como valores e crenças, mantêm ou reforçam os estereótipos sexuais, constituindo barreiras externas e internas às mulheres, tais como menor encorajamento à manifestação de ideias em sala de aula, menos oportunidades de ascender em um cargo, medo do sucesso, perfeccionismo ou a crença limitada no próprio potencial (Alencar & Fleith, 2009; Alencar & Galvão, 2007; Cheung & Halpern, 2010; Mundim & Wechsler, 2015; Prado & Fleith, 2012; Reis, 2005; Sawyer, 2012).

Corroborando esse entendimento, Lubart (2007, 2010), em estudos de revisão de literatura sobre criatividade em distintas culturas, observou que as oportunidades oferecidas a homens e mulheres para expressar a sua criatividade variam de domínio para domínio. Por outro lado, quando a análise é feita em relação à distinção entre indivíduos do sexo masculino e feminino nos testes de criatividade, as controvérsias persistem.

Sayed e Mohamed (2013) analisaram diferenças de gênero em relação ao pensamento divergente por meio do instrumento Test of Creative Thinking-Drawing Production. Participaram 901 estudantes entre 5 e 12 anos, sendo 367 do gênero masculino e 534 do feminino. Não foram encontradas diferenças significativas entre os dois grupos. Os autores também revisaram outras pesquisas que investigaram essa diferença e constataram, com base em análise de cerca de 100 estudos sobre diferenças de gênero em testes de criatividade, que, em número expressivo desses estudos, não foram identificadas diferenças entre homens e mulheres nas medidas avaliadas. Contudo, notaram, em algumas dessas investigações, uma superioridade feminina especialmente nos escores de flexibilidade verbal e figural.

Por outro lado, as pesquisas que envolvem características da personalidade criativa elencam uma vastidão de traços e ressaltam que não há um padrão específico do indivíduo criativo. Todo ser humano apresenta um grau de habilidades criativas que podem ser aprimoradas, diferenciando-se também na extensão em que apresentam atributos de personalidade que favorecem o melhor aproveitamento do potencial para criar. Sem desconsiderar a criatividade como um processo sociocultural, há uma tendência a sublinhar a importância de traços não cognitivos do indivíduo, como motivação e autoconfiança, para a expressão criativa, além do papel das emoções em tal expressão (Alencar, 2007; De Dreu, Baas, & Nijstad, 2012; Lubart, 2007; Nakano & Castro, 2013).

A satisfação e o prazer decorrentes da total imersão na atividade criativa é o que Csikszentmihalyi (1996) denomina flow. Esse estado paradoxal de entropia, concentração, senso de desafio, envolvimento intenso com a tarefa realizada, aliado a uma profunda sensação de bem-estar, é uma das características presente em todas as pessoas eminentemente criativas investigadas por esse autor, independente de serem do sexo masculino ou feminino.

Não há consistência ou clareza acerca de diferenças de gênero, quando as pesquisas investigam a dimensão individual da criatividade, mas é notável a diferença significativa entre homens e mulheres, a favor dos primeiros, em produções criativas reconhecidamente de valor. A falta de consenso sobre a existência ou não dessa distinção em avaliações de criatividade pode ser justificada pela diversidade de instrumentos de medida utilizados nos estudos em que a variável gênero foi objeto de análise (Sayed & Mohamed, 2013) e ainda pela complexidade do construto (Baer & Kaufman, 2008). Criatividade é um fenômeno multifacetado, pluridimensional e vários aspectos interagem no seu processo e expressão. Dentre eles, destacam-se os elementos intrapessoais, como habilidades cognitivas, afetivas e traços de personalidade, e os externos ao indivíduo, como as características do ambiente, da cultura e do tempo histórico em que se está inserido. A interação de fatores intra e interpessoais irá possibilitar, ou não, a emergência e reconhecimento de ideias novas, e o fortalecimento de atributos personológicos associados à criatividade.

Tendo em vista o crescente interesse por temas que abordam o desvelamento das potencialidades do indivíduo e sua relação com a promoção de uma sociedade calcada em princípios éticos e que ofereça melhores condições ao desenvolvimento mais pleno do potencial de todos os indivíduos, independentemente de classe social ou gênero; o destaque dado nessa direção à urgente necessidade de se promover a criatividade; e, da mesma forma, a recente evidência no que diz respeito à sub-representação da produção criativa feminina em distintas áreas; bem como às divergências encontradas em estudos que abordam diferenças de gênero em criatividade, desenvolveu-se o presente trabalho. Este teve por objetivo realizar um levantamento da produção científica brasileira sobre criatividade em que houve uma interface deste construto com a variável gênero.

 

MÉTODO

O presente estudo, de caráter exploratório e ancorado nos pressupostos de pesquisa bibliográfica, investigou possíveis diferenças de gênero identificadas em estudos empíricos publicados no Brasil. Para tal fim, foi realizada uma busca de artigos publicados até 2016 em duas bases de dados eletrônicas de publicações periódicas nacionais (Scientific Electronic Library Online - SciELO e Periódicos Eletrônicos em Psicologia - PEPSIC).

Para obter um panorama geral dos estudos da área e contextualizar a pesquisa realizada, inicialmente utilizou-se como descritor o termo criatividade. A primeira busca foi junto à SciELO e resultou em 143 artigos; a segunda, na PEPSIC, resultou em 137 artigos. Após a identificação das investigações sobre o tema em questão e a leitura dos resumos, foram selecionados apenas os estudos empíricos nacionais. Os estudos teóricos, de revisão, ensaios ou resenhas foram descartados. Para identificar trabalhos que abordassem a relação entre a temática pesquisada, utilizaram-se a seguir os descritores "criatividade" e "gênero" combinados. Nessa triagem final, foram aproveitados, para esse estudo, 30 artigos.

Posteriormente à leitura do método, resultados e discussão, os dados encontrados foram classificados por ano, revista de publicação, vinculação institucional dos autores, método, faixa etária dos participantes (crianças, adolescentes e adultos), instrumentos utilizados e resultados relacionados às diferenças de gênero. Os dados foram categorizados de acordo com duas dimensões, (a) diferenças de gênero e aspectos individuais da criatividade como traços de personalidade, motivação e habilidades cognitivas, (b) diferenças de gênero e aspectos externos ao indivíduo, por exemplo, fatores ambientais, sociais e culturais.

 

RESULTADOS E DISCUSSÃO

Constatou-se uma prevalência de artigos publicados nos últimos 10 anos e todos eles, com exceção de um, em revistas do campo da Psicologia. Percebeu-se uma predominância das regiões centro-oeste e sudeste do Brasil na produção científica sobre criatividade, em que a variável gênero tenha sido objeto de análise. A Universidade de Brasília (UnB) e a Pontifícia Universidade Católica de Campinas (PUC-Campinas) concentraram a quase totalidade das pesquisas e nessas duas instituições foram elaborados os instrumentos brasileiros mais utilizados para investigar a criatividade.

Os estudos da região sudeste, realizados por pesquisadores da PUC-Campinas ou desses com de outras instituições de ensino superior tendem a focalizar as habilidades cognitivas da criatividade, utilizando instrumentos para este fim, desenvolvidos no Laboratório de Avaliação e Medidas Psicológicas daquela instituição, como a Escala Estilo de Pensar e Criar (Wechsler, 2006b), o Teste de Criatividade Figural Infantil (Nakano & Wechsler, 2006b) e o Teste Torrance Pensando Criativamente com Figuras, versão brasileira (Wechsler, 2006a). Os da região centro-oeste, todos eles de autoria de pesquisadores da UnB e Universidade Católica de Brasília, realçam elementos do ambiente favorável, ou não, ao processo criativo e, com exceção do Inventário de Barreiras à Criatividade Pessoal (Alencar, 1999), os demais instrumentos foram construídos nessa direção. A Escala sobre Clima para a Criatividade em Sala de Aula (Fleith & Alencar, 2005), a Checklist de Barreiras à Promoção de Condições Favoráveis à Criatividade em Sala de Aula (Alencar & Fleith, 2010) e o Inventário de Práticas Docentes (Alencar & Fleith, 2004) são alguns exemplos. O contexto educacional foi o mais investigado por este grupo.

Dos 30 estudos analisados, 15 (50%) foram realizados somente com adultos e 12 apenas com crianças. Três estudos foram conduzidos com adolescentes, entre esses, um com adultos e adolescentes, outro com crianças e adolescentes e um apenas com adolescentes. Todos os artigos analisados foram resultantes de estudos empíricos quantitativos, com uso de instrumentos psicométricos. O Teste Torrance de Pensamento Criativo foi o mais utilizado. No que diz respeito aos aspectos individuais, como habilidades ou estilos cognitivos, motivação e traços de personalidade associados à criatividade, 13 estudos (50%) focalizaram essa dimensão, ao passo que cinco (19%) pesquisaram apenas fatores socioambientais e oito (31%) analisaram essas duas dimensões.

Quanto às diferenças de gênero, objeto central de interesse da presente investigação, no que diz respeito aos aspectos individuais, especificamente acerca das habilidades cognitivas ou estilos cognitivos associados à criatividade, não foram encontradas diferenças significativas em oito das 22 pesquisas nas quais essa dimensão foi investigada. Entretanto, nos estudos nos quais as médias foram analisadas separadamente, observou-se uma oscilação nos resultados. Os indivíduos do gênero feminino obtiveram escores superiores comparativamente aos do gênero masculino em criatividade verbal, sensibilidade ou fator emocional da criatividade, enriquecimento de ideias e motivação intrínseca. Por outro lado, diferenças a favor dos participantes do gênero masculino nos estudos analisados foram constatadas em habilidades cognitivas que se associam à criatividade (fluência, flexibilidade, originalidade e pensamento divergente), senso de humor e autoconceito positivo.

Não há consenso sobre a questão das diferenças de gênero em criatividade. De acordo com Nakano e Brito (2013), este é ainda um tema polêmico que merece cautela ao ser analisado. No presente estudo, um número expressivo das pesquisas examinadas referentes à relação entre as variáveis gênero e criatividade, não apontou diferenças significativas. Contudo, observou-se uma distinção, quando foram analisados fatores específicos, como fluência, originalidade, criatividade verbal e sensibilidade. Tais resultados estão em consonância com pesquisas internacionais que, ao medir características ou habilidades gerais associadas à criatividade, indicaram pouca ou nenhuma variação entre os gêneros, o que não ocorre ao medir dimensões específicas da criatividade (Baer, 1997; Baer & Kaufman, 2008; Csikszentmihalyi, 1996; Else-Quest, Hyde, Goldsmith, & Van Hulle, 2006; Lubart, 2007; Peng, O'Neil & Wu, 2013).

Nas pesquisas que investigaram aspectos externos ao indivíduo, como fatores ambientais, sociais e culturais, constatou-se que barreiras de ordem social, como falta de tempo e oportunidade, foram mais apontadas por indivíduos do gênero feminino. Apenas um estudo, entre os 14 que analisaram a influência dessa dimensão na criatividade, apresentou diferenças favoráveis ao gênero masculino e, também, somente um do gênero feminino. Neste caso, as participantes apresentaram uma percepção mais positiva que o grupo masculino no fator suporte à expressão de ideias. Já o grupo masculino, no estudo citado, avaliou seus professores e, a si mesmo, como significativamente mais criativos do que as mulheres. Vale destacar que não foram encontrados estudos brasileiros nas bases pesquisadas em que diferenças de gênero tenham sido analisadas no que diz respeito a nível e impacto da produção de indivíduos altamente criativos.

É interessante notar que, nos estudos revisados, o desempenho masculino tende a superar o feminino em habilidades cognitivas (fluência, flexibilidade, originalidade), ao passo que as médias femininas excederam as masculinas nos fatores não cognitivos e ainda no índice de criatividade verbal. De acordo com Nakano e Wechsler (2006a) a existência de diferenças na criatividade de acordo com o gênero pode variar em função da amostra e da expressão da criatividade medida. As autoras sugerem que essa alteração pode ser influenciada pelo ambiente. Nessa direção, pesquisadores reforçam que a cultura, expressa nos estereótipos de gênero, exerce influência nas demandas e expectativas sociais, podendo afetar o desenvolvimento e expressão da criatividade em diversas áreas e ambientes (Alencar & Fleith, 2009; Alencar & Galvão, 2007; Prado & Fleith, 2012). As pesquisas brasileiras analisadas confirmam que este é um fenômeno presente nesta sociedade, interferindo desde a identificação e promoção de habilidades criativas como na produção criativa, especialmente de mulheres.

Mesmo diante da tendência da área em considerar o impacto do ambiente ou contexto no desenvolvimento da criatividade, houve uma ênfase nos artigos encontrados na investigação dos fatores intraindividuais associados ao comportamento criativo. Nesses estudos, constatou-se uma predominância de crianças como participantes. Por outro lado, nas pesquisas que investigaram fatores ambientais, prevaleceram amostras de adultos. Nota-se que os fatores que podem promover ou inibir a criatividade variam ao longo do ciclo de vida. Em crianças, o ambiente escolar ou familiar exerce maior influência que em adultos.

Por ausência de dados, não foi possível verificar a diferença de gênero na produção criativa de crianças, adolescentes ou adultos, para além de testes e escalas/inventários de criatividade, ou mesmo de estudantes e profissionais de excelência. Esse seria um dado interessante e representa uma lacuna na área, já que há uma recente discussão sobre a sub-representação feminina em áreas de destaque social, como postos profissionais que envolvem alta liderança ou poder, e entre indivíduos reconhecidos por contribuições criativas de alto nível em campos diversos (Cheung & Halpern, 2010; Prado & Fleith, 2012; Reis, 2005).

 

CONCLUSÕES

Os estudos sobre criatividade não apontam, de modo geral, influências significativas da variável gênero nas habilidades criativas gerais do indivíduo. Por outro lado, o desempenho dos homens supera o de mulheres em habilidades cognitivas, enquanto a dimensão emocional e motivacional da criatividade é expressiva nas mulheres. Algumas hipóteses podem ser levantadas para explicar esse fenômeno, com destaque para o impacto da influência sociocultural.

Diante disso, evidencia-se a importância de ampliar esta reflexão por meio de novas pesquisas que incluam entre suas variáveis o fator gênero, além de promover a identificação em distintos contextos de barreiras pessoais ou do ambiente, que podem estar impedindo a expressão criativa dos indivíduos. Em especial, recomenda-se a realização de estudos longitudinais, que possam mapear a trajetória feminina no que diz respeito ao desenvolvimento da criatividade, incluindo fatores facilitadores e inibidores, bem como de pesquisas que façam uso de abordagens quantitativas e qualitativas, tendo como participantes mulheres altamente criativas. Os resultados de tais investigações poderiam ser compartilhados com pais, educadores e empregadores de forma a criar um ambiente de apoio, orientação e estímulo ao desenvolvimento de uma trajetória criativa e de sucesso de jovens mulheres.

Sugere-se, ainda, a implementação de estudos transculturais que analisem o impacto de crenças, valores, tradições e expectativas na produção criativa de homens e mulheres em distintos contextos socioculturais. Como assinala Alencar (2007, p. 48), "mesmo que a pessoa tenha todos os recursos internos necessários para pensar criativamente, sem algum apoio do ambiente dificilmente o potencial para criar que a pessoa traz dentro de si, se expressará". Como limitação deste estudo, pode ser apontada a consulta exclusiva a periódicos científicos nacionais.

 

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Recebido em 30/03/16
Revisto em 20/07/16
Aceito em 25/07/16

 

 

* Endereço para correspondência: Renata Muniz Prado. Rua Wanderley de Pinho, n. 796, apto 202, Itaigara. Salvador - BA. CEP: 41.815-270. Telefone: (71) 3358-4551. Email: pradobasto@gmail.com
1 Estudo desenvolvido com apoio da CAPES.
2 As referências marcadas com asterisco (*) indicam os estudos que foram incluídos no levantamento bibliográfico, ainda que nem todas tenham sido citadas.

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