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Boletim de Psicologia

versão impressa ISSN 0006-5943

Bol. psicol vol.67 no.146 São Paulo jan. 2017

 

ARTIGOS ORIGINAIS

 

 

Estudo de ampliação da faixa etária para o teste palográfico

 

Age group extension study for the palográfico test

 

 

Felipe Fernandes de lima; Cristiano Esteves; Anna Carolina Neves Lance; Emanuelle dos Santos Arsuffi; Juliana Siracuza Reis; Gabriela Paula Dias de Arruda

 

 


RESUMO

O estudo da personalidade suscita grande interesse para a Psicologia. Sua investigação permite entender o que distingue as pessoas entre si. Considerando a importância da utilização de normas apropriadas para a população em que os testes são empregados e o iminente aumento na expectativa de vida dos brasileiros, este trabalho teve o objetivo de investigar a necessidade de normas específicas do Teste Palográfico para pessoas maiores de 60 anos. Participaram do estudo 227 pessoas, com idades entre 18 e 80 anos, sendo a maioria do sexo masculino (90,7%). As comparações de médias entre o grupo estudado e os dados normativos indicaram diferenças significativas em 11 das 20 características do teste investigadas no estudo. Posteriormente, as correlações encontradas entre a idade e as medidas reforçaram a hipótese da influência da idade no teste. Assim este artigo mostra a importância de se considerar a necessidade de normas específicas para avaliação da população idosa, neste e em outros testes psicológicos.

Palavras-chave: Palográfico; Avaliação psicológica; Normatização; Idosos.


ABSTRACT

The study of personality arouses great interest in Psychology. This kind of investigation allows us to understand what differenciates people from each other. Considering the importance of using appropriate norms for the population in which the tests are used and the imminent increase in the life expectancy of the Brazilians, this work had the objective of investigating the need for specific norms of the Palográfico test for people older than 60 years. A total of 227 people, aged between 18 and 80 years, participated in the study, the majority being male (90.7%). Comparisons of means between the study group and the normative data indicated significant differences in 11 of the 20 characteristics of the test investigated in the study. Subsequently, the correlations found between age and measures reinforced the hypothesis concerning the influence of age on the test. Therefore, this article shows the importance of considering the need for specific norms for evaluation of the elderly population, in this and other psychological tests.

Key words: Palográfico; psychological assessment; standardization; elderly.


 

 

INTRODUÇÃO

Ao longo do tempo, o estudo da personalidade tem sido abordado de diferentes formas por diversas teorias. Sua investigação permite entender o que distingue as pessoas entre si, estabelece e descreve suas atitudes e sentimentos. Independentemente do modelo teórico concebido, as pesquisas em torno da personalidade objetivam entender o funcionamento psicológico e as diversas facetas do comportamento humano (Alchieri, Cervo & Núñez, 2005).

A personalidade representa um tema de grande interesse para a Psicologia como ciência e, embora não haja consenso a respeito de uma definição única para o seu conceito em razão de suas diversas controvérsias teóricas e metodológicas, o fato desse assunto ser recorrente em estudos e debates indica a sua importância para esta área (Trentini et al., 2009). Nesse sentido, Hall, Lindzey e Campbell (2000) reforçam que nenhuma definição de personalidade deve ser generalizada, mas deve ser definida pelos conceitos empíricos específicos que constituem a teoria empregada pelo observador, ou seja, o conceito de personalidade dependerá essencialmente do referencial teórico adotado.

As teorias sobre a personalidade se originaram de variadas formas. Dentre elas, a partir de observações meticulosas e profunda introspecção de pensadores criteriosos. Sigmund Freud, por exemplo, desenvolveu a sua teoria a respeito da psique humana a partir de observações minuciosas sobre seus próprios sonhos e, posteriormente, observando seus pacientes (Friedman, 2004).

Friedman (2004) retrata que outra possibilidade acerca do surgimento de teorias da personalidade se dá por meio de investigações empíricas sistemáticas, como por exemplo um pesquisador interessado em entender quais dimensões ou traços básicos (como a extroversão) são fundamentais para o entendimento acerca da personalidade. A partir de várias observações relevantes sobre os traços, em diferentes pessoas, é possível verificar quais deles são mais ou menos importantes. Pode-se coletar inúmeros dados sistemáticos de muitas pessoas e, à medida em que novos dados são coletados, as conclusões podem ser revistas. Trata-se de uma abordagem indutiva a respeito da personalidade, uma vez que os conceitos são elaborados a partir do que é revelado nas observações.

Ainda em relação às fontes de teorias da personalidade, encontra-se também a que compreende analogias e conceitos emprestados de disciplinas afins. Como exemplo, destaca-se o conhecimento a respeito da estrutura e do funcionamento cerebral, que tem progredido de modo considerável com o uso de equipamentos que possibilitam a digitalização de imagens do cérebro (Friedman, 2004).

Dessa maneira, inúmeras foram as teorias desenvolvidas para explicar o funcionamento da personalidade e, a partir delas, foram elaborados testes psicológicos, que têm como objetivo avaliar características psicológicas, que é uma atividade privativa dos psicólogos (CFP, 2012). Por essa razão, cada teste construído para avaliação da personalidade está pautado em uma teoria da personalidade como a psicanalítica, a teoria do traço, ou outras.

Um dos instrumentos disponíveis atualmente para os psicólogos para a avaliação da personalidade é o Teste Palográfico, que é um teste expressivo de personalidade. Sua tarefa consiste na reprodução de traçados simples. Cada indivíduo executa esta tarefa, de maneira característica. Dessa forma, ao realizar o teste, o examinando irá imprimir (ou expressar) seu estilo individual de resposta, o que possibilita estabelecer uma relação entre os traçados e as suas características de personalidade (Alves & Esteves, 2009).

O Teste Palográfico foi criado por Salvador Escala Milá, do Instituto Psicotécnico de Barcelona, na Espanha, e desenvolvido e divulgado no Brasil por Agostinho Minicucci. O teste consiste em realizar traços verticais de acordo com o modelo impresso na folha de aplicação original (padronizada). A aplicação é dividida em duas etapas. A primeira não é avaliada e tem o objetivo de diminuir as inibições naturais decorrentes do momento da avaliação que qualquer teste produz. A segunda etapa representa a parte do teste propriamente dito, que é avaliada e utilizada para obter informações sobre a personalidade. Cada uma das etapas é dividida em cinco intervalos de tempo (Alves & Esteves, 2009).

Sua aplicação permite, por meio da integração dos resultados quantitativos com os dados qualitativos, investigar algumas características da personalidade tais como produtividade e ritmo de trabalho, relacionamento interpessoal, autoconceito, agressividade, impulsividade, energia, introversão, extroversão, iniciativa, organização, emotividade, entre outras (Alves & Esteves, 2009).

Segundo Allport (1974, apud Alves & Esteves, 2009), testes que avaliam o comportamento expressivo apresentam um formato de resposta não intencional, transmitido espontaneamente, abaixo do limiar da consciência e que refletem a estrutura mais profunda da personalidade. Os autores informam que na fase de treino do Palográfico são avaliados mais aspectos adaptativos, pois, no início da atividade, o examinando vai trabalhar tentando se adequar às instruções recebidas. Entretanto, à medida que o teste continua, vai se tornando uma tarefa mais espontânea, menos controlada e revelando mais aspectos expressivos (Alves & Esteves, 2009).

Em uma investigação sobre o ensino dos instrumentos de avaliação psicológica nos cursos de graduação de Psicologia, Alves, Alchieri e Marques (2002) apontaram o Teste Palográfico como um dos mais ensinados no Brasil na área da personalidade. Pereira, Primi e Cobêro (2003), com o objetivo de listar os testes e métodos utilizados na seleção de pessoal, em 34 empresas multinacionais e nacionais, constataram que a utilização do Palográfico é significativa, constituindo um dos instrumentos de avaliação da personalidade que figuram entre os mais conhecidos e utilizados a nível nacional.

Uma ação conjunta de fiscalização nas clínicas realizada pelo Conselho Federal de Psicologia e os DETRANs, com a finalidade de traçar um panorama da situação do segmento da avaliação psicológica no trânsito, também verificou que o Palográfico é um dos testes de avaliação da personalidade mais utilizados (CFP, 2006). Uma das possíveis explicações para os resultados obtidos nessas pesquisas decorre de outro dado encontrado por Pereira et al. (2003), que aponta uma tendência de utilização de alguns testes, dentre eles o Palográfico, em função da sua facilidade de aplicação e de correção.

Usualmente a avaliação da personalidade é feita por meio de testes psicológicos, que auxiliam a prática do psicólogo. Eles facilitam o processo de avaliação psicológica, uma vez que fornecem informações importantes sobre a pessoa que está sendo avaliada, prática esta adotada em diferentes contextos, sejam eles clínicos, de seleção de pessoal, orientação profissional, porte de arma, avaliação de motoristas entre outros.

A utilidade e a eficiência dos testes psicológicos exigem que eles passem por estudos que comprovem suas qualidades psicométricas, bem como atendam determinadas especificações com intuito de garantir reconhecimento e credibilidade tanto para a comunidade científica, quanto para os leigos (Noronha & Vendramini, 2003). Pasquali (2003) postula que um dos tipos de estudos que visam garantir a qualidade dos testes e das avaliações é o de normatização.

A normatização de um teste diz respeito aos padrões pelos quais os escores que cada indivíduo recebeu devem ser interpretados, ou seja, são "os padrões de como se deve interpretar um escore que o sujeito recebeu em um teste. Isso, porque um escore bruto produzido por um teste necessita ser contextualizado para poder ser interpretado" (Pasquali, 2003, p. 238).

Para Anastasi e Urbina (2000), as normas dos testes psicológicos não são absolutas, universais ou permanentes. Elas expressam o desempenho no teste das pessoas que constituem a amostra normativa. Essa amostra deve ser representativa da população para a qual o teste está sendo desenvolvido. Neste contexto, fica clara a importância da utilização de normas apropriadas para a população em que os testes serão empregados, a fim de que se obtenha resultados mais confiáveis. Essa também é uma das exigências da Resolução 02 de 2003 do Conselho Federal de Psicologia que regulamenta o uso dos testes psicológicos no Brasil.

A importância de obter as normas para pessoas com mais de 60 anos se deve ao fato de que de acordo com os dados divulgados pelo IBGE em 2015 (Portal Brasil, 2016), a expectativa de vida dos brasileiros atualmente é de 75,5 anos. Essa idade representa um aumento de 30 anos na longevidade no período entre 1940 e 2015.

Outro dado relevante é indicado por pesquisa publicada por Félix (2016), na qual foi constatado que o nível de participação do idoso brasileiro no mercado de trabalho entre 1992 e 2012 é considerado alto, principalmente se comparado ao de outros países. Dentre os motivos, destacam-se a redução de mão de obra disponível, a necessidade de complemento de renda, a aposentadoria precoce, a boa condição de saúde e a preferência pela manutenção da sociabilidade no ambiente laboral.

Em relação aos estudos sobre as mudanças da personalidade na velhice, as primeiras pesquisas disponíveis indicaram que, com o passar do tempo, a personalidade se desenvolveria pouco e tornar-se-ia mais rígida (Olds & Papalia, 2000; Tavares, 2005). Segundo Moore e Lowe (1965 apud Irigaray & Schneider, 2009), as pessoas tenderiam a se tornar mais introvertidas com o envelhecimento.

Maiden, Peterson e Caya (2003) verificaram que os traços de personalidade podem se modificar na velhice. Sobretudo, porque nessa etapa de vida, os indivíduos possuem maiores chances de se depararem com situações que demandam adaptação. Ainda que muitas pessoas consigam manter a personalidade estável, perante condições normais de vida, acredita-se que, diante de circunstâncias adversas, a personalidade poderia se alterar para se adaptar às necessidades. Segundo Irigaray e Schneider (2007), as teorias atuais da personalidade compreendem o desenvolvimento humano como um processo multidimensional e multidirecional, constituído pela ocorrência conjunta de ganhos, perdas e estabilidades.

Dessa forma, torna-se evidente a importância de elaboração de normas para pessoas com idade mais avançada, uma vez que tem sido observado, que, além do aumento da expectativa de vida, as pessoas continuam em plena atividade, muitas vezes trabalhando, exercendo a função de motorista (pessoal ou profissionalmente) ou mesmo, passando por avaliações psicológicas para diversas finalidades (clínicas, para a obtenção de porte de arma, entre outras). Ainda, há que se considerar o fato de o desenvolvimento da personalidade nessa faixa etária apresentar singularidades, que interferem diretamente no relacionamento das pessoas (Olds & Papalia, 2000; Tavares, 2005; Moore e Lowe, 1965 apud Irigaray & Schneider, 2009; Maiden et al., 2003).

Tendo em vista que o Teste Palográfico é um dos testes mais utilizados em todo o território nacional, deve ser considerada a necessidade imediata de mais estudos sobre variáveis que possam ser significativas para a sua avaliação. Também, levando em conta o iminente aumento na expectativa de vida dos brasileiros e suas respectivas participações no contexto profissional, este trabalho teve o objetivo de investigar a necessidade de normas específicas para pessoas maiores de 60 anos, uma vez que nas amostras normativas estudadas no manual deste teste (Alves & Esteves, 2009) as idades variaram entre 16 e 60 anos.

 

MÉTODO

Participantes

A amostra foi composta por 227 pessoas, sendo a maioria pertencente ao sexo masculino (90,7%). As idades variaram de 18 a 80 anos (M=42,47 anos; DP=17,71). Com relação à escolaridade, 67% dos participantes tinham ensino fundamental, 19,8%, médio e 13,2%, superior. A Tabela 1 apresenta a distribuição de frequência dos participantes em função do sexo e da escolaridade.

 

 

Pode-se verificar uma predominância de participantes com ensino fundamental tanto quando se considera a amostra total (67%), quanto nos grupos em função do sexo (57,1% para as mulheres e 68% para os homens). Entre as mulheres o segundo grupo mais frequente foi o do ensino superior (28,6%) e para os homens, foi o médio (20,4%).

A distribuição da amostra em função do sexo e da faixa etária, assim como da escolaridade e da faixa etária são apresentadas nas Tabelas 2 e 3 respectivamente. Pela Tabela 2 é possível observar que a amostra foi inicialmente dividida em três faixas etárias, de modo a equilibrar a quantidade de participantes entre os diferentes níveis escolares. Na amostra não estavam presentes participantes entre 46 e 59 anos. Quanto à distribuição em relação ao sexo entre as faixas etárias, nota-se que a amostra também ficou balanceada.

 

 

No que se refere à distribuição de frequência da amostra em função da escolaridade e da faixa etária, conforme os dados apresentados na Tabela 3, verifica-se que, com exceção dos participantes de 18 a 30 anos com Ensino Fundamental (n = 48) cujo valor está um pouco menor, os demais níveis de escolaridade e faixas etárias estão igualmente distribuídos.

Instrumento

Foi utilizado o Teste Palográfico (Alves & Esteves, 2009) para investigar a necessidade de normas específicas para pessoas maiores de 60 anos. O teste foi administrado de forma coletiva de acordo com as instruções de seu manual, utilizando a folha de aplicação pequena.

Procedimento

Por se tratar de uma pesquisa retrospectiva, após análise e aprovação do Comitê de Ética em Pesquisa, mediante Parecer Consubstanciado (CAAE 60756516.8.0000.5390), foram utilizados protocolos já aplicados de um banco de dados provenientes de avaliações psicológicas para obtenção de permissão para dirigir veículos automotores e para portar armas. Este estudo foi realizado com as medidas da avaliação quantitativa do Palográfico, descritos no manual do teste atualmente aprovado pelo Conselho Federal de Psicologia (Alves & Esteves, 2009). Os protocolos foram mensurados por meio do Sistema de Correção Informatizada do Palográfico (SKIP) (Vetor Editora, 2015), que é um sistema que, a partir da digitalização das folhas aplicadas, conforme instruções do manual, permite a mensuração das características quantitativas avaliadas no teste.

As características analisadas foram: Produtividade, NOR, Distância entre Palos, Inclinação, Tamanho, Distância entre Linhas, Margens (superior, esquerda e direita) e Direção das Linhas e Impulsividade. Foram calculadas as estatísticas descritivas (média, desvio padrão, frequência absoluta e percentual) para a amostra total e para cada faixa etária.

As médias dos grupos, considerando a idade dos participantes, foram comparadas por meio da análise de variância (ANOVA) e as diferenças entre os subgrupos analisadas por meio da prova de Tukey. Ainda para verificar a relação entre as variáveis estudadas, foram calculadas as correlações entre a idade dos participantes e as características do Teste Palográfico utilizando o coeficiente de correlação de Pearson (r). Todas as análises foram processadas por meio do software estatístico SPSS (Versão 22).

Optou-se por controlar as variáveis sexo e escolaridade por meio do balanceamento entre as amostras para que somente a variável idade fosse a eventual responsável por possíveis alterações nas análises estatísticas. Dessa forma, conforme foi descrito anteriormente os participantes foram divididos em três grupos em função das idades, a fim de comparar os mais velhos com os mais novos e investigar possíveis diferenças significativas.

 

RESULTADOS E DISCUSSÃO

Para verificar a necessidade de elaboração de normas específicas em função da idade para os participantes com mais de 60 anos, foram comparadas as médias dos grupos em função destas variáveis. A Tabela 4 apresenta as médias e desvios padrão das características quantitativas avaliadas pelo Teste Palográfico, assim como os valores da significância da diferença entre as médias nas diferentes faixas etárias que foram estudadas na presente pesquisa. E a Tabela 5 mostra os resultados do teste post hoc de Tukey, para determinar em que grupos foram encontradas diferenças significantes.

Os resultados das Tabelas 4 e 5 evidenciaram que, apesar da maioria das diferenças não serem significativas, no que diz respeito à produtividade, há uma clara tendência de queda das médias das medidas com o aumento da idade. Na Tabela 5 pôde-se constatar que as diferenças estatísticas encontradas para o 5º tempo da Produtividade ocorreu entre as faixas etárias de 18 a 30 anos e 60 anos ou mais, sendo que esta última obteve uma média menor. O fato de a Produtividade no 5º tempo do teste ter diferenciado o grupo maior de 60 anos pode ser explicado em decorrência das alterações que o processo de envelhecimento carrega e que afetam diretamente a capacidade de realizar tarefas no dia a dia que envolvam resistência, força muscular e potência (Lacourt & Marini, 2006).

Com relação às diferenças encontradas para as características Inclinação dos Palos - Média e Maior inclinação dos Palos, as faixas etárias de 18 a 30 e de 31 a 45 anos diferiram estatisticamente dos participantes de 60 anos ou mais. Em ambas as características, foi possível concluir que as médias tenderam a aumentar com o avanço da idade. Ao verificar o resultado do teste do post hoc de Tukey para a diferença estatística referente à Menor inclinação dos Palos, percebe-se que faixas etárias de 18 a 30 anos e de 60 anos ou mais foram as que se diferenciaram estatisticamente. Os resultados mostraram que o grupo com idade maior obteve médias superiores.

Quanto às medidas referentes à Inclinação dos Palos, também é possível observar diferenças significativas, sendo que na faixa etária de 60 anos ou mais as médias são maiores que as dos outros dois grupos. A interpretação da Inclinação no Teste Palográfico (Alves & Esteves, 2009) pode ser feita com base no simbolismo do espaço. Dessa forma, os autores pontuam que o aumento no grau da inclinação para diante (para a direita no sentido da escrita) tende a refletir no comportamento como uma maior sociabilidade e estabelecimento de relações sociais afetivas. Todavia, há de se considerar que, apesar de todas as médias referentes à Inclinação dos Palos terem sido maiores e as diferenças significativas, ao realizar a comparação de tais medidas com a faixa de classificação do manual atual, todas permaneceram dentro da média.

Já em relação às Margens, foram encontradas diferenças estatísticas para a Margem Direita e Superior. O teste de Tukey mostrou que a faixa etária de 60 anos ou mais diferiu estatisticamente do grupo de 18 a 30 anos na Margem Direita, sendo que as pessoas mais velhas alcançaram médias superiores. No que se refere às diferenças significativas identificadas nas Margens, constatou-se que as médias obtidas para a Margem Direita aumentaram com o decorrer da idade, enquanto que essa tendência não foi observada para a Margem Esquerda. De acordo com as interpretações propostas no Teste Palográfico (Alves & Esteves, 2009), as médias de todos os grupos para a Margem Direita expressam uma tendência à boa adaptação ao meio social e para lidar com situações e desafios sem muitos receios ou atitudes agressivas. Além disso, também podem denotar autocontrole adequado e boa canalização dos impulsos.

Os resultados para a Margem Superior mostraram que os participantes com idade maior (60 anos ou mais) foram estatisticamente diferentes das outras duas faixas, ou seja, pessoas de 18 a 30 anos e 31 a 45 anos. O grupo mais velho obteve médias inferiores nesta característica.

Consultando as médias referentes à Margem Superior para todas as faixas etárias, conclui-se que todos os grupos permaneceram dentro da faixa de classificação normal, indicando propensão a comportamento de respeito, consideração e deferência para com os outros e com autoridade, boa adaptação social e hábitos de distinção (Alves & Esteves, 2009). No entanto, é importante salientar que a população mais velha apresentou diminuição desta medida ao ser comparada com os grupos mais jovens de forma estatisticamente significante. Desse modo, é possível inferir que o processo de envelhecimento pode influenciar a forma com que as pessoas se relacionam.

A Tabela 5 mostra os resultados do teste post hoc de Tukey, para determinar em que grupos foram encontradas diferenças significantes, pôde-se constatar que as diferenças estatísticas encontradas para o 5º tempo da Produtividade ocorreu entre as faixas etárias de 18 a 30 anos e 60 anos ou mais, sendo que esta última obteve uma média menor. Com relação às diferenças encontradas para as características Inclinação dos Palos - média e Maior inclinação dos Palos, as faixas etárias de 18 a 30 e de 31 a 45 anos diferiram estatisticamente dos participantes de 60 anos ou mais. Em ambas as características, foi possível concluir que as médias tenderam a aumentar com o avanço da idade.

Ao verificar o resultado do teste do post hoc de Tukey para a diferença estatística referente à Menor inclinação dos Palos, percebe-se que faixas etárias de 18 a 30 anos e de 60 anos ou mais foram as que se diferenciaram estatisticamente. Os resultados mostraram que o grupo com idade maior obteve médias superiores.

Já em relação às Margens, foram encontradas diferenças estatísticas para a Margem Direita e Superior. O teste de Tukey mostrou que a faixa etária de 60 anos ou mais diferiu estatisticamente do grupo de 18 a 30 anos na Margem Direita, sendo que as pessoas mais velhas alcançaram médias superiores. Os resultados para a Margem Superior mostraram que os participantes com idade maior (60 anos ou mais) foram estatisticamente diferentes das outras duas faixas, ou seja, pessoas de 18 a 30 anos e 31 a 45 anos. O grupo mais velho obteve médias inferiores nesta característica.

Tendo em vista que as análises realizadas entre os três grupos etários evidenciaram apenas diferenças entre os mais velhos (60 anos ou mais) e os outros dois grupos (18 a 30 anos e 31 a 45 anos), foi estabelecida uma nova distribuição das idades da seguinte forma: 18 a 45 anos e 60 anos ou mais com o propósito de confirmar a tendência de queda observada na média de produtividade entre as faixas etárias adotadas para o estudo. A distribuição da amostra em função do sexo e da faixa etária, bem como da escolaridade e da faixa etária estão respectivamente dispostas nas Tabelas 6 e 7, e as médias, desvios padrão e valores da significância (p) para as características avaliadas podem ser observadas na Tabela 8.

 

 

A análise dos resultados, a partir da distribuição da amostra em duas faixas etárias, mostrada na Tabela 8, permite verificar que as diferenças no tocante à produtividade se tornaram mais evidentes. Com os participantes divididos por este critério, foram identificadas diferenças significantes estatisticamente com relação à Produtividade Total, 1º, 4º e 5º Tempos. As diferenças encontradas nas medidas para Inclinação, Margens Direita e Superior se mantiveram ao reorganizar as faixas etárias em dois grupos.

Observa-se que os resultados da Tabela 8 corroboram a hipótese de que, com o passar da idade, há uma tendência de queda na média da produtividade. Em todos os casos que se diferenciaram estatisticamente, as médias obtidas para o grupo mais velho foram inferiores às do mais jovem. As análises referentes às diferenças dos dados relativos à inclinação dos Palos corroboraram os resultados referentes à Tabela 4, já que a faixa etária mais velha (60 anos ou mais) mostrou diferença significante em relação ao grupo mais novo (18 a 45 anos) nas três medidas de Inclinação dos Palos e, em todos os casos, as médias dos mais jovens foram inferiores às dos mais velhos. Como citado anteriormente, estes resultados são esperados em razão do processo de envelhecimento, cujas transformações influem diretamente na capacidade de desempenhar tarefas que exijam resistência, potência e força muscular (Lacourt & Marini, 2006).

Finalmente, os resultados para as Margens indicaram que, para a Margem Direita, as médias das pessoas de 60 anos ou mais foram significativamente superiores às médias da faixa de 18 a 45 anos. Com relação à Margem Superior, as diferenças estatísticas evidenciaram que o grupo mais velho, com idades a partir de 60 anos obteve média significativamente menor que o mais jovem. No entanto, mesmo que as diferenças entre as médias dos grupos tenham sido estatisticamente significativas, a comparação com os dados normativos permite identificar que ambos os grupos se encontram dentro da mesma faixa de interpretação.

Para confirmar a tendência de alteração das médias em função da idade dos participantes foram calculadas as correlações entre a idade e as características do Teste Palográfico pelo coeficiente de correlação de Pearson (r). Os resultados podem ser observados na Tabela 9.

 

 

Os resultados da Tabela 9 reforçam as análises apresentadas anteriormente. De acordo com Dancey e Reidy (2006) as interpretações dos coeficientes de correlação de Pearson podem seguir as seguintes classificações: r = 0,10 até 0,30 (fraco); r = 0,40 até 0,60 (moderado) e r = 0,70 até 1 (forte). Partindo deste pressuposto, pode-se constatar que as correlações encontradas devem ser interpretadas como fracas. No entanto tais resultados sugerem indícios de influência da idade em 11 características avaliadas pelo Teste Palográfico. Contudo, por se tratar de um trabalho com número reduzido de participantes, recomenda-se a realização de novos estudos com amostra maior.

 

CONSIDERAÇÕES FINAIS

O presente estudo teve o objetivo de investigar a necessidade de normas específicas para pessoas maiores de 60 anos. De fato, as análises realizadas mostraram que a idade pode interferir nos resultados do teste em determinadas variáveis no que diz respeito às características quantitativas do teste. Assim, é possível considerar que podem haver diferenças no que diz respeito ao modo como a personalidade se modifica com o aumento da idade (Olds & Papalia, 2000; Tavares, 2005; Moore e Lowe, 1965 apud Irigaray & Schneider, 2009; Maiden, Peterson e Caya, 2003).

As análises de variância para comparação das médias entre três faixas etárias apontaram que, com o aumento da idade a produtividade tende a diminuir. Ao dividir a amostra em duas faixas etárias, esta tendência ficou ainda mais clara. Além disso, as correlações negativas verificadas entre a idade dos participantes e as características do teste, também apontam para este sentido, indicando uma diminuição da produtividade com o aumento da idade. Tendo em vista que a tarefa realizada demanda resistência por parte do indivíduo, estes dados corroboram as afirmações de Lacourt e Marini (2006), de que o processo de envelhecimentos traz consigo modificações que impactam diretamente na capacidade de executar atividades que envolvam potência, força muscular e resistência.

Em relação às diferenças significativas encontradas na Inclinação, Margem Direita e Superior é importante destacar que, as médias que se diferenciaram estatisticamente neste estudo, se comparadas aos valores do manual, foram classificadas dentro da faixa média, mas de qualquer forma podem indicar uma tendência que deve ser mais investigada.

Como conclusão, pode-se dizer que este artigo alcançou seu objetivo de obter dados relevantes sobre a influência da idade na execução do Teste Palográfico em pessoas idosas. Todavia, é necessária a ampliação da amostra, de modo a contemplar de forma equilibrada a idade dos participantes, com o propósito de subsidiar conclusões mais sólidas e possibilitar a elaboração de tabelas normativas.

 

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Recebido em 26/06/17
Revisto em 12/07/17
Aceito em 15/07/17

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