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Interamerican Journal of Psychology

versão impressa ISSN 0034-9690

Interam. j. psychol. v.41 n.3 Porto Alegre dez. 2007

 

 

Adaptação brasileira dos testes verbais da bateria Woodcock-Johnson III

 

Brazilian adaptation of the verbal tests from the Woodcock-Johnson III battery

 

 

Solange Muglia WechslerI,1,2; Claudette Maria Medeiros VendraminiII; Patrícia Waltz ScheliniIII

I Pontifícia Universidade Católica de Campinas, Brasil
II Universidade São Francisco, Itatiba, Brasil
III Universidade Federal de São Carlos, Brasil

 

 


RESUMO

Considerando a importância da Bateria Woodcock-Johnson III (WJ-III) para avaliação das habilidades cognitivas, o objetivo do estudo foi realizar uma adaptação brasileira dos seus testes verbais (Vocabulário, Sinônimos, Antônimos, Analogias Verbais). A amostra foi composta por 448 indivíduos (232 sexo feminino, 216 sexo masculino ), idades entre 7 a 18 anos, estudantes de escolas de 4 cidades do estado de São Paulo/(Brasil). A versão brasileira foi composta por itens retirados da WJ-III, da Bateria-R e de livros escolares. A investigação da precisão e validade do total de itens foi feita utilizando-se o coeficiente Kuder-Richardson e a Teoria de Resposta ao Item. Os resultados revelam que cada um dos subtestes possui um único fator principal, explicando mais de 40% da variância total dos escores, com confiabilidade acima de 0,89. Portanto, foi verificada a importância dos itens brasileiros e a necessidade de adaptação dos testes verbais da WJ-III para o Brasil.

Palavras-chave: Inteligência, Adaptação, Testes verbais, Validação, Woodcok-Johnson III.


ABSTRACT

Considering the important contribution the Woodcock-Johnson III Battery has to assess cognitive abilities, this study aimed to adapt its verbal tests (Vocabulary, Synonyms, Antonyms and Verbal Analogies) to the Brazilian culture. The participants were 448 children and youth (232 girls, 216 boys), ages ranging from 7 through 18, who were enrolled in schools located in 4 cities in Sao Paulo State, Brazil. The Brazilian version was composed by items from the WJ-III, its previous Spanish version (Bateria-R) and school books. The reliability and validity of these items were analyzed using the Kuder_Richardson coefficient and the Item Response Theory. Results indicated that each verbal subtest had one main factor, explaining more than 40% of variance. Reliability coefficients obtained were above 0.89. In conclusion, the importance of adding new items to the verbal tests was verified indicating the need to adapt the WJ-III for use in Brazil.

Keywords: Intelligence, Validation, Adaptation, Verbal tests, Woodock-Johnson III.


 

 

O número de testes traduzidos e adaptados para outras culturas têm crescido substancialmente nas últimas décadas (Muniz, Hambleton, & Xing, 2001). Entretanto, deve ser considerado que a adaptação de testes envolve um grande desafio. Uma série de dificuldades deve ser enfrentada a fim de garantir que os instrumentos psicológicos atendam aos padrões científicos, necessários para diferentes ambientes culturais.

Falhas na adaptação de instrumentos provenientes de outras culturas podem ocorrer para todos os testes não-verbais ou verbais. Certamente, as dificuldades se tornam maiores quando os testes envolvem itens verbais, pois certos itens podem conter vieses para um determinado contexto, não podendo, portanto, serem considerados como equivalentes aos construtos dos testes originais (Vjiver & Leung, 2000). Por outro lado, fatores sócio-culturais e educacionais possuem um grande impacto no nível de desempenho dos examinandos em testes que utilizam material verbal, enfatizando as diferenças na escolarização e nos currículos acadêmicos (Hambleton, 2005). Tais considerações demonstram os desafios nas adaptações de testes. Por exemplo, no Brasil, prevalecia o costume de apenas traduzir os testes importados, até que houve uma decisão do Conselho Federal de Psicologia (2003), proibindo o uso de instrumentos psicológicos que não possuíssem pesquisas apresentando sua validade, precisão e normatização para este país. Esta decisão foi apoiada nos parâmetros internacionais definidos pela International Testing Commission (2004)

Como afirmaram Cattell (1971), Horn (1985) e Carroll (1993), a utilização de itens verbais para avaliação da inteligência se torna importante, na medida em que o desenvolvimento da linguagem e a utilização do léxico são partes essenciais do funcionamento cognitivo. Os conteúdos verbais são considerados parte da inteligência cristalizada, enquanto os itens não verbais avaliam outras áreas do funcionamento intelectual, tais como inteligência fluida, pensamento viso-espacial ou rapidez de processamento, segundo estes autores. Desta maneira, itens de natureza verbal devem ser incluídos na avaliação cognitiva, pois refletem o conhecimento e a utilização da linguagem, e, principalmente, porque estão diretamente relacionados às dificuldades de aprendizagem durante a infância e adolescência (Hambleton & Jong, 2003; Oakland & Lane, 2003).

No panorama internacional, dentre os testes mais utilizados na avaliação da inteligência, como Flanagan e Harrison (2005) referem, destacam-se: Wechsler Intelligence Scale for Children-WISC-IV (Wechsler, 1949/2003), Wechsler Adult Intelligence Scale-WAIS-III (Wechsler, 1955/1997) e a Bateria de Habilidades Cognitivas Woodcock-Johnson III (Woodcock, McGrew, & Matter, 2001). No Brasil, está disponível até o momento, o WISC-III (Wechsler, 1949/2002) e o WAIS-III (1955/2004), validados por Nascimento e Figueiredo (2003). A inadequação do conteúdo de vários itens dos testes verbais do WISC-III para a realidade brasileira foi apontada por Schelini e Wechsler (2002), após terem submetido os mesmos à avaliação de professores do Ensino Médio e Fundamental. No entanto, a versão brasileira deste instrumento ficou similar à original, por ter sido considerada como representando os mesmos fatores (Figueiredo, Pinheiro, & Nascimento, 1998).

Várias críticas têm sido feitas ao vasto uso internacional dos testes WISC e WAIS por não atenderem ao modelo considerado como o mais amplo e empiricamente fundamentado para a compreensão da inteligência: a Teoria das Capacidades Cognitivas de Cattell-Horn-Carroll, ou CHC (Flanagan, McGrew, & Ortiz, 2000) . Este modelo foi derivado das propostas de Cattell (1971), Horn (1985) e Carroll (1993) e sintetizado posteriormente por McGrew (1997). Propõe uma visão multidimensional para a compreensão da inteligência com dez habilidades amplas e aproximadamente 70 específicas. As habilidades amplas seriam: 1) Inteligência fluida; 2) Inteligência cristalizada; 3) Memória a curto prazo; 4) Processamento visual; 5) Processamento auditivo; 6) Recuperação da informação; 7) Velocidade de Processamento; 8) Rapidez de decisão; 9) Conhecimento quantitativo; e, 10) Leitura e Escrita. As habilidades específicas seriam especializações das habilidades amplas, decorrentes das diferentes possibilidades de avaliá-las (Alfonso, Flanagan, & Radwan, 2005).

Atualmente, a Bateria WJ-III é considerada a que melhor atende ao modelo CHC, sendo, portanto, a mais completa para explicar o funcionamento intelectual. A Bateria WJ-III possui duas formas, sendo a primeira direcionada à avaliação das habilidades cognitivas (forma padrão) e a segunda à avaliação do rendimento acadêmico (Mather & Gregg, 2002; Muñoz-Sandoval & Woodcock, 2005). Pesquisas realizadas com as duas formas da WJ-III atestaram sua validade de construto, de acordo com o modelo CHC (Floyd, Shaver, & McGrew, 2003; Rizza, McIntosh, & McCunn, 2001). Do mesmo modo, evidências de sua validade preditiva foram encontradas quando se observou a relação entre seus resultados e o rendimento em leitura e escrita (Evans, Floyd, McGrew, & Leforgee, 2002) e na matemática (Floyd, Evans, & McGrew, 2003). Tais estudos confirmam a importância da Bateria WJ-III para o conhecimento do funcionamento cognitivo. No entanto, até o momento as pesquisas foram realizadas, principalmente, com a população dos Estados Unidos, como relatam Schrank e Flanagan (2003).

Considerando a necessidade de serem desenvolvidos instrumentos psicológicos para a realidade brasileira, baseados nos padrões psicométricos de validade e precisão, este estudo visou investigar a adequação dos testes verbais da Bateria Woodcock-Johnson para este país. Com este propósito, foi decidido priorizar o estudo da validade dos quatro testes verbais que compreendem a bateria cognitiva, que seriam mais suscetíveis às influências culturais do que as outras medidas contidas nesta bateria.

 

Método

Participantes

A amostra foi composta por 448 participantes (232 do sexo feminino e 216 do sexo masculino) residentes nas cidades de Campinas/SP, Itatiba/SP, Salto/SP e Mogi Mirim/SP (Brasil), com idades variando de 7 a 18 anos (M=12; SD=3). Deste total, 71,9% eram estudantes do Ensino Fundamental (35,0% estudantes de 1ª a 4ª série e 36,9% de 5ª a 8ª série), e 28,1% eram estudantes do Ensino Médio (de 1ª a 3ª série). Os estudantes eram provenientes tanto de escolas públicas (70,8%) como de particulares (29,2%) nas cidades envolvidas.

Instrumentos

Com o objetivo de ampliar o número de itens verbais desta bateria para a versão brasileira, foram estudadas duas formas da Bateria Woodcock-Johnson:

1) Bateria de Habilidades Cognitivas de Woodcock-Johnson III-Versão padrão (Woodcock, McGrew, & Mather, 2001). Esta versão é composta de sete testes originais e três suplementares. O conjunto verbal desta bateria é encontrado no Teste 1 (Compreensão Verbal), que avalia o desenvolvimento da linguagem e o conhecimento léxico do indivíduo, sendo, portanto, uma medida da inteligência cristalizada (Gc). O Teste 1 é composto de quatro subtestes: 1A (Vocabulário), 1B (Sinônimos), 1C (Antônimos) e 1D (Analogias Verbais). No primeiro existem 23 figuras que devem ser nomeadas pelo sujeito, no segundo são pedidos os sinônimos para 15 palavras, no terceiro são solicitados os antônimos para 18 palavras e no quarto são apresentados 15 analogias verbais para serem completadas.

2) Pruebas de habilidades cognitivas-Revisada: Bateria-R (Woodcok & Muñoz-Sandoval, 1996). Representa a versão em espanhol da Bateria Woodcock-Johnson Revised (1989), anterior à versão atual da WJ-III. Devido ao fato de não existir, até o momento do estudo, uma versão em espanhol da WJ-III, esta versão foi utilizada a fim de se aproveitar itens adicionais da parte verbal que pudessem complementar o estudo brasileiro. A forma padrão da Bateria-R apresenta 7 testes e a forma suplementar mais outros 13, totalizando 21 testes. A parte verbal desta bateria encontra-se no Teste 6 (Vocabulário sobre dibujos), teste 13A (Vocabulário oral- Sinónimos), 13B (Vocabulário oral- Antónimos) e teste 21 (Analogias Verbales). No primeiro existem 58 figuras a serem nomeadas, no segundo há 20 palavras para as quais devem ser dados sinônimos, no terceiro são solicitados os antônimos de 24 palavras e no quarto são oferecidas 35 analogias verbais para serem completadas.

3) Livros didáticos. O vocabulário existente em livros didáticos brasileiros para o ensino da língua portuguesa, utilizados em escolas de Ensino Fundamental e Médio, foi examinado para complementar os itens para a parte verbal brasileira deste estudo (Lopes, Soares, Ferreira, & Carvalho, 1994; Pellegrini & Ferreira, 1996).

Procedimento

Após aprovação da pesquisa pelo Comitê de Ética institucional, todos os itens verbais da WJ-III foram traduzidos do inglês para o português, pelo sistema de "tradução invertida" (back-translation), com o objetivo de buscar fidelidade aos itens originais. Do mesmo modo, foram traduzidos os itens da Batería-R, do espanhol para o português. Considerando que vários itens da Bateria-R eram semelhantes à versão mais atual (WJ-III), foram retiradas as seguintes quantidades de itens da mesma: 14 itens de Vocabulário sobre dibujos, 12 itens de Vocabulário oral - Sinônimos e 16 itens de Analogías verbales. Não foi retirado qualquer item do teste de Antónimos, pois este era similar à versão em inglês utilizada. Novos itens também foram compostos a partir do exame dos livros didáticos, com o objetivo de aumentar o número de itens dos subtestes de Compreensão Verbal a serem testados.

A versão brasileira para os testes de Compreensão verbal da WJ III ficou assim definida: 1A) Vocabulário: 70 itens, sendo 23 da WJ-III, 14 da Bateria-R e 33 dos livros escolares; 1B) Sinônimos: 42 itens, 15 da WJ-III, 12 da Bateria-R e 15 dos livros escolares; 1C) Antônimos: 40 itens, existindo 18 da WJ-III e 22 dos livros escolares; 1D) Analogias Verbais: 40 itens, compostos de 15 da WJ-III, 1 da Bateria-R e 24 dos livros escolares.

Foram sorteadas, aleatoriamente, uma escola particular e uma pública em cada uma das cidades envolvidas. Seus diretores foram contatados a fim de solicitar permissão para realização da pesquisa em seus estabelecimentos. Os grupos de alunos que podiam participar do projeto, devido a uma maior flexibilidade do horário escolar, eram visitados pelos colaboradores, que convidavam todos alunos presentes a participar na pesquisa. Para tanto, era ressaltada a necessidade da assinatura do termo de consentimento por seus pais. Houve maior aceitação por parte dos pais de crianças de escolas públicas, que permitiram que a criança participasse da pesquisa durante o horário escolar. Nas escolas particulares, não houve concessão de horários durante o período escolar para esta atividade e a pouca disponibilidade por parte dos pais dos alunos para trazer seus filhos, fora deste período, limitou o número de participantes neste tipo de estabelecimento.

Quatro estudantes de Psicologia receberam treinamento e colaboraram na administração da WJ-III. A versão brasileira da parte verbal da WJ-III foi aplicada nas crianças em uma sessão individual, com duração aproximada de 1 hora. Todos os itens foram apresentados aos participantes e suas respostas eram anotadas para posterior correção.

Para cada um dos testes foram analisados os seguintes parâmetros: índice de facilidade, índice de dificuldade padronizado com base na Teoria de Resposta ao Item (TRI), correlação ponto bisserial, comunalidade de cada item e suas cargas fatoriais, utilizando a análise fatorial com informação completa. Essa análise é assim denominada porque nenhuma das respostas dada aos itens é perdida (Bock, Gibbons, & Muraki, 1988). Com base na TRI, a análise fatorial foi feita sobre o vetor de respostas dadas aos itens, levando em consideração o padrão de respostas dos respondentes e não apenas a o resultado total. Um item de dificuldade padronizada igual a zero foi avaliado como um item de dificuldade média, enquanto itens com dificuldade padronizada acima de zero foram classificados como mais difíceis. Itens com dificuldade menor que zero foram avaliados como fáceis. Considerando que novos itens foram incluídos no teste original, optou-se por explorar a estrutura fatorial a partir das intercorrelações entre os mesmos utilizando a análise fatorial exploratória, ao invés da confirmatória.

 

Resultados

A seguir são apresentadas as estatísticas descritivas dos testes que compõem o conjunto de Compreensão Verbal da WJ.

Teste Vocabulário

Os 10 primeiros itens do teste Vocabulário, traduzidos da WJ-III, foram respondidos corretamente por todos os participantes, devendo portanto, serem excluídos da análise posterior (bebê, cavalo, cachorro, sapato, banana, chave, tesoura, cenoura, helicóptero, cadeado). Também foi excluído o item 14 (torneira) que, além de ser considerado fácil (facilidade = 0,97), possui uma associação baixa entre o desempenho neste item e o desempenho total no teste (rpbis<0,11).

Do mesmo modo, os itens de 18 a 23 (torniquete, torno, toga, jugo, pagode e pináculo), traduzidos do inglês, mostraram-se difíceis (facilidade < 0,04), sendo também excluídos do teste Vocabulário. Além disso, apresentam correlações item-total baixas (rpbis<0,22). Dos itens traduzidos do espanhol, os de número 24 a 26 (bicicleta, colher, peixe) foram também avaliados como fáceis para a faixa de idade em questão (facilidade > 0,98), apresentando correlações item-total também baixas (rpbis<0,10).

Considerando o índice de facilidade e a carga fatorial dos itens pela análise fatorial com informação completa, baseada na TRI, tem-se a composição final do teste de Vocabulário da maneira como apresentada na Tabela 1. Nesta Tabela, os itens foram dispostos em ordem crescente de dificuldade, indicando, assim, que o item 12 (navio) foi o mais fácil e o 69 (brasão) o mais difícil. A correlação tetracórica média entre os 48 itens do teste de Vocabulário, considerando os 1102 pares válidos de correlações (todas positivas), foi igual a 0,4735 (SD = 0,1295), indicando uma boa correlação entre os pares de itens.

 

 

Como pode ser observado na Tabela 1, são considerados 48 itens para o teste Vocabulário, sendo que 5 foram oriundos da versão em inglês da WJ-III, 9 do espanhol da Bateria-R e 34 foram criados a partir dos livros didáticos brasileiros. Também se verifica que a porcentagem da variância total explicada pelo modelo de um único fator é de 47,1%.

Teste Sinônimos

No teste de Sinônimos, os itens 2 e 4 (pequeno, grama), traduzidos do inglês da WJJ-III, apresentaram correlação ponto bisserial baixa (rpbis=0,14, rpbis=0,037), embora com índices de facilidade 0,403 e 0,307 , respectivamente, o que indica que devem ser excluídos da análise. A correlação tetracórica média entre os 40 itens do teste de Sinônimos, dos 775 pares válidos de correlações, foi igual a 0,4328 (SD=0,1628), indicando uma boa correlação entre os pares de itens. Os resultados apresentados na Tabela 2 para o teste de Sinônimos apresentam itens ordenados de acordo com o índice de facilidade, comunalidade e carga fatorial.

 

 

Conforme apresentados na Tabela 2, 40 itens podem ser utilizados para o teste de Sinônimos. Deste total, 13 itens foram traduzidos do inglês da WJ-III, 12 do espanhol da Bateria-R e 15 retirados dos livros didáticos. Deve também ser ressaltado que a porcentagem da variância total explicada pelo modelo de um único fator foi de 48,2%.

Teste Antônimos

Neste teste nenhum dos itens apresentou carga fatorial inferior a 0,30 e correlação ponto bisserial inferior a 0,10. A correlação tetracórica média entre os 40 itens do teste de Antônimos foi igual a 0,4397 (SD=0,2001), considerando os 623 pares válidos de correlações, o que indica uma boa correlação entre os pares de itens. A organização destes itens por ordem de dificuldade, assim como a sua carga de comunalidade, é apresentada na Tabela 3.

 

 

Uma composição de 40 itens para o teste de Antônimos pode ser proposta, tal como observado na Tabela 3. Dentre estes itens, 18 são oriundos da versão em inglês da WJ-III e 22 são oriundos dos livros brasileiros. A composição fatorial desse teste indicou uma porcentagem de variância total explicada pelo modelo de um fator igual a 53,6%.

Analogias Verbais

Para os 658 pares válidos de correlações entre os 37 itens do teste de Analogias Verbais foi encontrada uma correlação tetracórica média igual a 0,4301 (SD=0,1823), indicando uma boa correlação entre os pares de itens. Os itens 20 ("Armário está para guardar assim como vassoura está para..."), 27 ("Diamante está para jóia assim como pneu está para...") e 34 ("Galho está para raiz assim como semear está para ....") foram eliminados por apresentarem comunalidade próxima a zero. Na Tabela 4 são apresentados os itens que devem compor o teste de Analogias Verbais, segundo a ordem de facilidade, correlação ponto bisserial, comunalidade e carga fatorial dos itens.

 

 

Como pode ser visto na Tabela 4, o teste Analogias Verbais pode ser composto de 37 itens. Dentre esta lista de itens, 15 são traduzidos do inglês da WJ-III, 1 do espanhol da Bateria-R e 21 dos livros didáticos brasileiros. A composição fatorial deste teste apresentou uma porcentagem da variância total explicada pelo modelo de um fator igual a 43,7%. Eliminando os 3 itens com baixa carga fatorial, a porcentagem de explicação do modelo de um único fator passou para 46,7%.

Os coeficientes de consistência interna dos itens, utilizando a fórmula de Kuder-Richardson 20 (KR-20), foram analisados novamente para cada subteste, excluindo-se os itens já mencionados. A partir desta análise, observou-se que todos os subtestes apresentaram alta consistência interna (KR-20 > 0,895). Tais resultados indicaram a alta confiabilidade da versão brasileira dos testes verbais adaptados para a bateria WJ-III.

 

Conclusões

Considerando a importância da Bateria WJ-III para avaliar as diferentes habilidades cognitivas, este estudo visou investigar a adaptação dos testes verbais desta bateria para a realidade brasileira. Os resultados obtidos indicaram que dos 72 itens do subteste Vocabulário, 48 demonstraram ter precisão e contribuir para a interpretação de um único fator. Este fator explicou 47,1% da variância total ,como pode ser observado pela análise fatorial baseada na Teoria de Resposta ao Item (TRI). Dentre estes itens, 70,8 % foram retirados dos livros brasileiros, 10,4% da versão em inglês da WJ-III e 18,8 % dos itens em espanhol da Bateria-R. Já no subteste Sinônimos, composto por 42 itens para análise, foram encontrados 40 itens com precisão e carga fatorial satisfatória (>0,30). Tais itens explicaram um único fator com 48,2% de variância total pela TRI. Neste total de itens, 32,5% foram provenientes da versão em inglês da WJ-III, 30,0% da Bateria-R em espanhol e 37,5 % dos livros escolares. Quanto ao subteste Antônimos, todos os 40 itens puderam ser aproveitados nos critérios estabelecidos, vindos 18 (45%) da WJ-III e 22 (55%) dos livros brasileiros. Tais itens compuseram um único fator que explicou 53,6% da variância total pela TRI. Nenhum item em espanhol foi inserido neste subteste, pois na Bateria - R eram similares à versão atual da WJ-III. Por último, no subteste de Analogias Verbais, 37 itens foram avaliados como atendendo aos critérios, dentre os 40 analisados. Dentre estes, 40,5% eram advindos da WJ-III, 2,7% da Bateria-R e 56,8% dos livros escolares. Estes itens, explicaram 43,7% da variância total do modelo de um único fator.

Em suma, pôde ser observada a contribuição dos itens brasileiros à composição dos fatores nos quatros subtestes, o que demonstrou a necessidade de ser investigado o nível de compreensão do léxico de cada país ao se tentar avaliar a inteligência cristalizada. Por outro lado, o total de variância explicada por cada fator, quando composto da forma utilizada neste estudo, atestou a validade do conjunto de subtestes que avaliam a Compreensão Verbal na Bateria WJ-III.

O desafio na adaptação de testes verbais não se refere à tradução de itens advindos de outras culturas, mas à equivalência de construtos, como apontado por vários autores (Hambleton, 2005; Ribeiro & Almeida, 2005; Vijver & Leung, 2000). Os resultados desta pesquisa confirmaram os estudos destes pesquisadores, pois mesmo quando os itens estudados provinham ou tinham sido adaptados de outra cultura latina, no caso a Espanha, estes não contribuíram significativamente para o estudo dos fatores compostos por cada teste, o que ocorreu, em primeiro lugar, aos itens gerados a partir dos livros didáticos brasileiros e, em segundo lugar, aos itens originais da WJ-III.

É importante ressaltar que devem ser considerados dados de amostras maiores para conclusões mais precisas quanto à inclusão ou exclusão final dos itens nos quatro subtestes. Neste sentido, deve ser incluída uma maior quantidade de jovens do Ensino Médio e de escolas particulares, como também amostras advindas de outras regiões bra sileiras. Com isso pode se possibilitar um panorama mais amplo da inteligência cristalizada de crianças e jovens oriundos de outras realidades educacionais. Além disso, vários itens excluídos neste estudo, por serem considerados demasiadamente fáceis, referem-se a amostras menores que 7 anos de idade, pois a versão norte-americana da WJ-III foi validada com idades entre 2 e 80 anos (Mather & Gregg, 2002; McGrew & Woodcock, 2001).

Deve também ser considerado que a versão padrão da WJ-III é composta por dez testes. Este estudo apenas investigou os quatros subtestes que compõem o conjunto verbal do Teste 1. Assim sendo, são necessárias futuras pesquisas que analisem o desempenho de brasileiros nos outros testes para que possa ser composta a versão brasileira completa da WJ-III. Tal estudo possibilitaria investigar se na realidade brasileira esta bateria atende ao modelo teórico de inteligência CHC, tal como definido por McGrew (1997).

Certamente, a validação brasileira da bateria completa WJ-III poderia ser de grande ajuda para a compreensão do funcionamento intelectual de suas crianças e jovens. Além disto, as dificuldades de aprendizagem quanto à leitura e a escrita poderiam receber um diagnóstico mais confiável, tal como observado com crianças estadunidenses (Floyd, Evans, & McGrew, 2003; Jeffrey, Floyd, McGrew, & Leforgee, 2002). Portanto, a padronização e posterior normatização da WJ- III para o Brasil poderá contribuir para a melhoria da atuação dos psicólogos que trabalham na área da avaliação psicológica, possibilitando-lhes realizar diagnósticos amparados em instrumentos cientificamente comprovados.

 

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Received 25/05/2006
Accepted 09/05/2007

 

 

Solange Muglia Wechsler é psicóloga e professora da pós-graduação na PUC-Campinas (São Paulo), onde coordena o Laboratório de Avaliação e Medidas Psicológicas. É presidente da Associação Brasileira de Criatividade e Inovação. Suas linhas de pesquisa envolvem: avaliação da inteligência, identificação da criatividade e dos estilos de pensar.
Claudette Maria Vedreiro Vendramini é estatística e leciona na pós-graduação da Universidade São Francisco (Itatiba/São Paulo). Tem interesse na pesquisa em: Educação Matemática, ensino da Estatística e avaliação educacional.
Patrícia Waltz Schelini é psicóloga, professora e coordenadora do curso de Psicologia da Universidade Federal de São Carlos (estado de São Paulo). Seus interesses de pesquisa são: avaliação da inteligência infantil e construção de instrumentos psicológicos.
1 Os autores agradecem aos seguintes estudantes na coleta e análise de dados: Adriana Trevisan, Elizangela Furtado, Miriã Carolina Magalhães Teixera e Bianca Coraini. Partes desta pesquisa foram financiadas com recursos distintos do Conselho Nacional de Desenvolvimento Técnico e Científico (CNPQ), da Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo (FAPESP) e da Fundação de Amparo à Pesquisa Científica (FAPIC) da PUC-Campinas.
2 Endereço: Psicologia, Campus II, Pontifícia Universidade Católica de Campinas, Av. John Boyde Dunlop, s/n, Jardim Ipaussurama, Campinas, São Paulo, 13060-904, Brasil. E-mail: wechsler@lexxa.com.br