SciELO - Scientific Electronic Library Online

 
vol.42 número3Trazos para un panorama de los postgrados y la investigación en psicología en Colombia índice de autoresíndice de assuntospesquisa de artigos
Home Pagelista alfabética de periódicos  

Interamerican Journal of Psychology

versão impressa ISSN 0034-9690

Interam. j. psychol. v.42 n.3 Porto Alegre dez. 2008

 

 

A psicologia na América Latina: um recorte da investigação e da pós-graduação

 

La psicología en América Latina: una corte en la investigación y en el posgrado

 

 

Sílvia Helena KollerI,1,2; Jorge Castellá SarrieraI; Norberto Abreu e Silva NetoII

IUniversidade Federal do Rio Grande do Sul, Porto Alegre, Brasil
IIUniversidade de Brasília, Brasil

 

 


RESUMO

Este breve ensaio descreve a integração da Psicologia na América Latina proposta por um grupo de pesquisadores, em maio de 2008, do II Encontro Latino-Americano de Intercâmbio de Psicologia, com o apoio da Sociedade Interamericana de Psicologia e do Conselho Nacional Científico e Tecnológico (CNPQ) do Brasil. Realizou-se em Natal, Brasil, concomitante ao XII Simpósio Brasileiro de Pesquisa e Intercâmbio Científico de Psicologia, promovido pela Associação Nacional de Pesquisa e Pós-graduação em Psicologia (ANPEPP). A busca pela integração e colaboração entre os países foi a tônica deste evento.

Palavras-chave: Pós-graduação; Investigação científica; Latino América.


RESUMEN

Este breve ensayo describe la integración de la Psicología en la América Latina propuesta por un grupo de investigadores científicos, en mayo de 2008, do II Encuentro Latino-Americano de Intercambio de Psicología, con el apoyo de la Sociedad Interamericana de Psicología e del Conselho Nacional Científico e Tecnológico (CNPQ) de Brasil. Realizo se en Natal, Brasil, concomitante al XII Simposio Brasileiro de Pesquisa e Intercambio Científico de Psicología, promovido por la Asociación Nacional de Pesquisa e Pós-graduação en Psicología (ANPEPP). La búsqueda por la integración y colaboración entre los países fue la tónica de este evento.

Palabras clave: Posgrado; Investigación científica; Latinoamérica.


 

 

Em maio de 2008, ocorreu o II Encontro Latino-Americano de Intercâmbio de Psicologia com o apoio da Sociedade Interamericana de Psicologia e do Conselho Nacional Científico e Tecnológico (CNPQ) do Brasil. Realizou-se em Natal, Brasil, concomitante ao XII Simpósio Brasileiro de Pesquisa e Intercâmbio Científico de Psicologia, promovido pela Associação Nacional de Pesquisa e Pós-graduação em Psicologia (ANPEPP). Este II Encontro deu continuidade a intercâmbios já iniciados durante o I Encontro, ocorrido em Florianópolis (Brasil), em maio de 2006, no XI Simpósio da ANPEPP. O II Encontro fortaleceu a cooperação internacional entre os países envolvidos (Argentina, Brasil, Chile, Colômbia, Paraguai, Peru, Uruguai) e o desenvolvimento científico e tecnológico, mediante a geração e apropriação de conhecimento, disseminação de tecnologias sociais e a elevação de tais capacidades, tendo como fim a melhoria da qualidade de vida dos seus cidadãos. Os objetivos específicos do II Encontro foram cumpridos ao reunirem pesquisadores latino-americanos, visando a fortalecer redes de trabalho já existentes e estabelecer novas redes. Estratégias de implementação do intercâmbio entre pesquisadores e estudantes da pós-graduação e graduação foram elaboradas e iniciaram seu desenvolvimento, atraindo com estas a estudantes e pesquisadores latino-americanos para a realização de estudos e pós-graduação nos diversos países. Foram analisadas excelências e carências teórico-metodológicas e técnicas das grandes áreas de pesquisa da Psicologia Latino-americana, tendo em consideração a realidade sócio-cultural dos diversos países. Cada um dos participantes deu a conhecer e divulgou políticas e estruturas de Pesquisa e Pós-graduação em Psicologia em seus países e os diversos estudos apresentados na seqüência neste número da Revista Interamericana de Psicologia podem ilustrar os avanços nesta temática. O conhecimento científico e as tecnologias sociais produzidas em cada um dos países foram compartilhados durante o período do II Encontro, assim como informações sobre fomento e auxílios. Um dos aspectos mais importantes foi o início do levantamento e da organização de informações sobre Programas de Pós-graduação, associações científicas e profissionais, periódicos, eventos, fontes de referências, grupos de pesquisa, nos diversos países e a abertura de possibilidades de apoio e auxílio mútuo. Tais propósitos serviram de base para a criação de uma Rede Latino-Americana de Intercâmbio Científico em Psicologia, que promoverá contatos futuros e fortalecerá aqueles já existentes dentro da região geográfica.

Pesquisadores, professores da pós-graduação e graduação, doutorandos, mestrandos e estudantes de graduação envolvidos em pesquisas que colaborem ou visem a colaborar com investigadores latino-americanos e com interesse em intercâmbio de estudantes na América Latina poderão ser beneficiados com a leitura dos trabalhos elaborados sobre a realidade da Pesquisa em cada país. A associação deste II Encontro com o XII Simpósio da ANPEPP favoreceu a divulgação e o contato entre pesquisadores e despertou o interesse sobre as temáticas correntes na América Latina e a necessidade de integrar esforços com investigadores do hemisfério sul americano. O Simpósio da ANPEPP foi escolhido como associado porque tem reunido a maioria dos pesquisadores, professores da pós-graduação e ensino superior e gestores nesse âmbito no contexto brasileiro. O último evento em Florianópolis e este de Natal contaram, cada um deles, com a participação de aproximadamente oitenta por cento da comunidade docente da pós-graduação em Psicologia do Brasil. A presença de estudantes também foi importante, assim como a de colegas estrangeiros de países europeus, norte-americanos e latino-americanos. Portanto a realização dos dois eventos associados permitiu ampliar a visibilidade do II Encontro, além de reduzir custos. Desde o I Encontro novos contatos foram estabelecidos e páginas na web e materiais em espanhol foram divulgados, ampliando as fronteiras e atingindo públicos novos <www.anpepp.org,br>.

Os Encontros Latino-Americanos de Intercâmbio em Psicologia surgiram da necessidade de integrar esforços entre pesquisadores da região para a produção de conhecimento contextualizado e de desenvolvimento de tecnologias sociais e de intervenção que tivessem sentido político e cultural para as regiões. A proximidade geográfica dos diversos países, o intercâmbio e compartilhamento cultural e social, as tênues e pacíficas fronteiras físicas e proximidade lingüística, bem como a permeabilidade de interesses geraram a busca por diálogo e organização entre pesquisadores latino-americanos. Estes temas foram trazidos ao I Encontro em 2006, no qual se estabeleceu a necessidade de dar continuidade ao evento no âmbito da pós-graduação. Neste II Encontro de maio de 2008, além dos países do sul do continente, já participantes (Argentina, Brasil, Bolívia, Chile, Peru, e Uruguai), outros colegas latino-americanos (Colômbia e Venezuela) também manifestaram interesse e confirmaram sua presença. Colegas residentes norte-americanos (Canadá, Estados Unidos e México) também demonstraram interesse em atender ao evento, especialmente por serem pesquisadores transculturais, integrarem associações científicas e profissionais interamericanas ou por terem dupla cidadania.

O II Encontro possibilitou o incentivo, ainda, a processos de organização e ação conjunta de pesquisadores para contribuírem na formulação, planejamento, e execução de políticas públicas nos campos da saúde, educação, e trabalho, voltadas para liberdade, justiça social, democracia e respeito à dignidade humana. Como recordou o colega Prof. Norberto Abreu e Silva Neto (2006) no I Encontro, o filósofo Gilles-Gaston Granger (1994) propunha em sua Filosofia da Latinidade a construção de tal identidade como tarefa, pela assimilação que cientistas contemporâneos poderiam fazer a fim de encontrar soluções humanas para o uso da ciência e da tecnologia. Impedimentos a uma boa integração latino-americana, segundo continuou Abreu e Silva Neto, podem ser de ordem psicológica pelo preconceito à própria latinidade e aos irmãos latino-americanos. Outro debate durante o II Encontro referiu-se aos usos da ciência e da tecnologia, que podem funcionar como obstáculos, mas que também servem como instrumentos de integração. A economia, a política, a pesquisa científica e a inovação tecnológica são largamente dependentes da informação digital na vida cotidiana. A tecnologia da informação tem recebido o foco dos governos para seu desenvolvimento e promoção. À Psicologia cabe analisá-la como instrumento de integração, ou seja, atividade de dar sentido às informações recebidas em busca de novos conhecimentos. A rede digital pode ser considerada como um dispositivo que molda subjetividades e que enquanto, por um lado, servirá também para oprimir e escravizar, por outro, fomentará a reciprocidade e a obrigação mútuas.

Há várias associações no espaço científico, geográfico e político da América Latina que têm objetivos variados para o desenvolvimento da Psicologia. No II Encontro, abrangeu-se associações que tem objetivos específicos e que foram incluídas nas discussões e na promoção do intercâmbio universitário na América Latina. Algumas associações ativamente participantes ou convidadas para esta integração foram: SIP - Sociedade Interamericana de Psicologia; ULAPSI União Latino-Americana de Psicologia; UDUAL União de Universidades de América Latina; AFEIPAL Asociación de Facultades, Escuelas e Institutos de Psicologia de América Latina; Asociación de Universidades Grupo Montevideo; RED PUISAL Red de Programas Universitários de Investigación en Salud de América Latina; Asociación Latinoamericana de Investigadores de la Comunicación; Programas de Pós-graduação credenciados pela CAPES no Brasil e pelos órgãos competentes nos demais países da Região Sul-Americana; representantes do CNPq (especialmente ligados ao Programa Ibero-Americano Ciência e Tecnologia para el Desarrollo CYTED); e Ministério das Relações Exteriores dos diversos países, entre outras.

A importância do intercâmbio em termos da construção e fortalecimento da identidade latino-americana, como apontou o colega Prof. Jorge Sarriera (citado em Quintal de Freitas & Vieira Silva, 2006) no I Encontro, pode ter como modelo a construção da identidade européia, que tem sido baseada em políticas de integração, no intercâmbio de universitários e de projetos conjuntos de pesquisa e extensão entre países daquela comunidade. Destacou, ainda, a necessidade da construção de conhecimento conjunto, a partir das características dos povos latino-americanos, lembrando a Martín Baró e sua Psicologia da Libertação para América Latina (1998). Os intercâmbios universitários e, em especial os relacionados à Pós-graduação, costumam acontecer pelo "olhar para o outro lado do Atlântico ou para os países ricos do norte", porém pouco conhecimento tem sido dado sobre centros de excelência latino-americanos e pouco se valorizam estudos feitos em países latinos. O II Encontro trabalhou no sentido de desenvolver subsídios para mudança desta mentalidade, valorizando recursos próprios e desenvolvendo potencialidades entre países latinos. Portanto, como bem sugeriu o Prof. Sarriera (2006), estratégias de ação para a criação e o fortalecimento de redes latino-americanas devem ser prioridade na Psicologia e se expressaram nos objetivos do II Encontro.

Afinidades temáticas, projetos conjuntos, intercâmbio de estudantes e professores, criação de serviços de extensão nas universidades foram tarefas primordiais a abranger. Foi lembrado que além da investigação pura, cuidado e atendimento especial devem ser dados, também, a imigrantes econômicos e refugiados através dos serviços de apoio psicológico, de saúde, de documentação e de inserção no trabalho. Tarefa que poderá ser conquistada como resultado destas trocas e como resultado da aplicação dos achados de pesquisa compartilhados entre os países. A participação na elaboração de políticas públicas abertas aos cidadãos dos países latinos só será possível com base em amplo conhecimento científico compartilhado. Como salientou o Prof. Sarriera (2006) "construir pontes de integração dos aspectos culturais, educacionais, de saúde ou de trabalho fortalecerá a América Latina" e certamente à Psicologia como ciência.

O II Encontro foi organizado por uma equipe multinacional. No Brasil, a Comissão Organizadora foi composta pelos Programas de Pós-graduação em Psicologia da Universidade Federal do Rio Grande do Sul, da Universidade de Brasília, da Universidade Federal do Rio Grande do Norte, em co-participação com a Associação Nacional de Pesquisa e Pós-graduação em Psicologia ANPEPP. A Universidad de Buenos Aires participou como representante pela Argentina. A Universidad Nacional Federico Villareal e a Universidad Nacional Mayor De San Marcos representaram o Peru e a Universidad Católica del Uruguay também compuseram o quadro. A Universidad Del Valle representou a Colômbia. O Chile está representado pela Universidad Del Norte.

O II Encontro teve potencial para agregar e sistematizar novos conhecimentos e disseminar resultados para o desenvolvimento científico e tecnológico da região sulamericana. A comunidade nacional e internacional tem revelado interesse na participação e na continuidade do Encontro, bem como na implementação de redes e comissões de apoio ao Intercâmbio Científico e Tecnológico da Psicologia na região. Além disto, a divulgação das ações tem sido dada a conhecer às associações científicas e profissionais da área, tanto na América Latina como em outras partes do mundo. A articulação na América Latina tem sido baseada na semelhança cultural, econômica e política de seus países. A política educacional que vem sendo incrementada a partir de modelos hegemônicos também aponta para similaridades.

Trocas de experiências e possibilidades de intercâmbio estão amadurecendo, assim como novas pautas carecem de definição para a realização de convênios de intercâmbio de programas de pós-graduação, de pesquisas e fomento. A organização científica e política da Psicologia brasileira pôde, mais uma vez, oferecer condições institucionais, organizativas e de fomento para um empreendimento latino-americano de porte como esse. Atualmente a Pós-graduação em Psicologia compõem-se de 61 programas, sendo 60 de Mestrado e 38 de Doutorado <www.capes.gov.br>. Há, ainda, 770 professores permanentes em Programas de Pós-graduação sendo menos de 30% deles bolsistas pelo Conselho de Desenvolvimento Científico e Tecnológico <www.cnpq.br>, o que representam uma parcela ainda muito pequena de apoio Há pesquisadores que fazem investigações de alta qualidade no país e não estão ligados ao sistema de Pós-graduação.

A partir do II Encontro estão sendo criadas novas redes digitais de intercâmbio; ampliada a abertura e visibilidade dos programas de pós-graduação para colaboração recíproca com países latino-americanos; e promovida a mobilidade de pesquisadores e estudantes. A criação de uma Comissão Permanente para Promoção de Programas de Intercâmbio Universitário em Psicologia na América Latina foi implementada durante o II Encontro, e tem como objetivo: servir como centro de informação, consulta e assessoria sobre intercâmbios na área; mediar e oferecer informações sobre a Pós-graduação e a pesquisa na região; estimular o desenvolvimento de pesquisas e a criação de serviços de atendimento voltado para aspectos psicológicos (para estudantes estrangeiros nos diversos países, assim como para outros imigrantes e refugiados); debater questões relativas a um possível código de ética profissional comum para a América Latina; fomentar ou mesmo criar programas de mobilidade estudantil assegurando o reconhecimento de créditos; ampliar as redes de disseminação do conhecimento entre os países.

A expectativa de parte deste número da Revista Interamericana de Psicologia é dar visibilidade a alguns dos temas tratados no II Encontro e fomentar a continuidade da sua organização. Novos encontros serão realizados no futuro e o apoio da ANPEPP, da SIP e do CNPq foram fundamentais para este feito. A ANPEPP reverbera a sua parceria com a possibilidade de agregar no futuro Programas de Pós-graduação em Psicologia de outros países latino-americanos e planeja ampliar seu foco em direção à internacionalização, com a criação de uma comissão sobre o tema e a revisão de seu estatuto. Os textos dos autores Andrea Ferrero e Enrique Saforcada (Argentina), Alfonso Urzúa M. (Chile), Rebeca Puche-Navarro e Mariela Orozco Hormaza (Colômbia), Marta Raquel Martínez Cáceres (Paraguai), (Uruguai) podem expressar-se por si mesmos e dar a dimensão da importância deste II Encontro Latino-Americano de Intercâmbio de Psicologia.

 

Referências

Abreu e Silva Neto, N. (2006, Maio). Relatório sobre o I Encontro Latinoamericano de Intercâmbio Universitário em Psicologia. XI Simpósio de Pesquisa e Intercâmbio Científico da Anpepp: Ensino e Pesquisa na Pós-graduação em Psicologia. Florianópolis, ANPEPP.        [ Links ]

Granger, G.-G.(1994). A ciência e as ciências. São Paulo, UNESP.        [ Links ]

Quintal de Freitas, M. de F. & Vieira Silva, M. (2006). Psicologia comunitária. Relatório do GT-40. XI Simpósio de Pesquisa e Intercâmbio Científico da Anpepp: Ensino e Pesquisa na Pós-graduação em Psicologia. Florianópolis, ANPEPP.        [ Links ]

Martin-Baró, I. (1998). Psicología de la Liberación (Edición, introducción y notas de Amalio Blanco). Madrid: Editorial Trotta.         [ Links ]

Sarriera, J. C. (2006, Maio). Relatório sobre o I Encontro Latino-americano de Intercâmbio Universitário em Psicologia. XI Simpósio de Pesquisa e Intercâmbio Científico da Anpepp: Ensino e Pesquisa na Pós-graduação em Psicologia. Florianópolis, ANPEPP.        [ Links ]

 

 

Sílvia Helena Koller. Professora do PPG Psicologia da Universidade Federal do Rio Grande do Sul, Porto Alegre, Brasil.
Jorge Castellá Sarriera. Professor do PPG Psicologia da Universidade Federal do Rio Grande do Sul, Porto Alegre, Brasil.
Norberto Abreu e Silva Neto. Professor do PPG Psicologia da Universidade de Brasília, Brasil.
1 Endereço: PPG Psicologia/UFRGS, Rua Ramiro Barcelos, 2600/104, Porto Alegre, RS, Brasil, CEP 90035. E-mail: silvia.koller@pq.cnpq.br
2 Apoio CNPq/Edital PROSUL 2008.