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Estudos de Psicanálise

versão impressa ISSN 0100-3437versão On-line ISSN 2175-3482

Estud. psicanal.  n.30 Belo Horizonte ago. 2007

 

 

Uma análise epistemológica da teoria da sedução generalizada: contribuições atuais para a cientificidade da psicanálise*

 

An epistemological analysis of the theory of the generalized seduction: current contributions for the scientificity of the psychoanalysis

 

 

Fernando de AndradeI,**; Luís MaiaII,***

IUniversidade Federal da Paraíba
IISociedade Psicanalítica da Paraíba

Endereço para correspondência

 

 


RESUMO

As últimas “Jornadas Internacionais Jean Laplanche”, oitavas de uma série bianual, aconteceram de 20 a 22 de julho, em Lanzarote, nas Canárias, tendo por tema “Teoria da sedução generalizada: validação – refutação”. Basicamente, discutiram-se as condições de possibilidade da validação dessa teoria, o que, indiretamente, acabou por colocar a questão da oportunidade e da conveniência de uma validação científica das teorias psicanalíticas. Nesse esforço de análise epistemológica da psicanálise, em cinco reuniões, foram discutidos argumentos de diferentes autores cujo referencial teórico apóia-se na teoria laplancheana, acompanhados pela crítica e pelas contribuições do próprio Jean Laplanche. O presente trabalho consiste num resumido relatório crítico desse evento, ao qual compareceram os autores. Após uma introdução que oferece ao leitor uma breve história das Jornadas,o texto passa ao relato dos debates ocorridos, apresentando um resumo dos argumentos que motivaram cada reunião. Em seguida, é feita uma avaliação crítica das Jornadas 2006, considerando-se seu lugar no conjunto das Jornadas, sua contribuição para a obra psicanalítica em geral e a obra laplancheana. Ao final, destaca-se a constituição de um modelo epistemológico para o desenvolvimento da metapsicologia, articulado ao modelo antropológico estabelecido por Laplanche (a Situação Antropológica Fundamental). Esse modelo atesta a cientificidade da psicanálise, precisando seu lugar entre as ciências humanas.

Palavras-chave: Metapsicologia, Teoria da Sedução Generalizada, Epistemologia da Psicanálise, Jornadas Internacionais Jean Laplanche.


RESUMÉ

Les dernières “Journées Internationales Jean Laplanche”, huitième d’une série bi-annuelle, ont eu lieu du 20 au 22 juillet, à Lanzarote, aux Îles Canaries et ont eu pour thème “Théorie de la séduction généralisée: validation – réfutation”. D’une manière générale, nous avons débattu des conditions rendant possible la validation de cette théorie ce qui, indirectement, a terminé par poser la question de l’opportunité et de la convenance d’une validation scientifique des théories psychanalytiques. Dans cet effort d’analyse épistémiologique de la psychanalyse, les travaux de différents auteurs dont le référentiel théorique s’appuie sur la théorie laplanchienne ont été discutés, tout au long de cinq réunions, et accompagnés de la critique et de la contribution du propre Jean Laplanche. Le présent travail consiste en un rapport critique résumé de cet évènement où ont comparu les auteurs. Après une introduction qui offre au lecteur une brève histoire des Journées, le texte fait une rapide référence aux débats qui se sont tenus, en les illustrant par quelques exemples. Par la suite, un résumé du discours de clôture de Laplanche est présenté dans lequel il insiste sur la scientificité de sa théorie et oú il présente quelques possibilités de falsification. À la fin, le texte souligne la constitution d’un modèle épistémologique pour le développement de la métapsychologie, articulé au modèle anthropologique établi par Laplanche (la situation anthropologique fondamentale). Ce modèle atteste de la scientificité de la psychanalyse en précisant sa place entre les sciences humaines.

Mots-clés: Métapsychologie, Théorie de la Séduction Généralisée, Epistémologie de la psychanalyse, Journées Internationales Jean Laplanche.


 

 

Introdução: as Jornadas Jean Laplanche

Em julho de 1992, realizou-se em Montreal um Colóquio Internacional sobre o pensamento de Jean Laplanche. Naquela oportunidade, ele apresentou o que viria a ser a “Pontuação” da abertura de sua coletânea intitulada A revolução copernicana inacabada (1992). O segundo Colóquio realizou-se dois anos depois, em Canterbury, na Inglaterra, o terceiro, em 1996, em Madrid, o quarto, em 1998, em Gramado.

Seis anos depois de Montreal, os Colóquios tinham crescido em número de participantes e tendia a perder-se o espírito que os inspirara: o de um debate livre, voltado para uma intensa produção teórica, sem as obrigações implicadas na realização dos grandes eventos. Laplanche, então, convocou um grupo que viria a organizar, no ano seguinte, as primeiras “Jornadas Internacionais Jean Laplanche”, em Lanzarote, nas Canárias.

Durante três dias, manhã e tarde, reunidos em volta de uma grande mesa, num hotel à beira mar, não mais de trinta analistas, vindos de diversos países, discutem um tema, a partir de argumentos, geralmente curtos, que os participantes produziram e distribuíram, via Internet, alguns meses antes.

Nenhuma concessão ao formalismo, as bermudas são usuais. Não há conferências ou palestras, nenhum tipo de cerimônia, só troca de idéias e debates, muitos debates. As críticas são tão freqüentes quanto os elogios. Laplanche, participando ativamente, critica e é criticado.

Depois da primeira, em Lanzarote, experimentou-se uma segunda, dois anos depois, em Sorrento, na Itália. A terceira, em 2003, e a quarta, no ano passado, marcaram a volta a Lanzarote e a um certo clima que lhe é característico.

 

1. Lanzarote 2006: o debate em torno da validação da TSG

Em julho de 2006 éramos 29 em torno da mesa. Viemos de Madrid, Nantes, Paris, Dijon, Besançon, Bruxelas, Berlim, Zurique, Berna, Viena, Roma, Otawa, Nova Iorque, Buenos Ayres, Belo Horizonte e João Pessoa.

O tema foi eminentemente epistemológico: “validação – refutação da Teoria da Sedução Generalizada”. Ele nos pareceu a culminância de uma tendência que, de Jornada para Jornada, evoluiu na perspectiva de um desenvolvimento da teoria e de seus desdobramentos. Num movimento que vai da teoria nuclear aos seus desdobramentos e, por retroação, dos desdobramentos à teoria nuclear. Sempre no sentido do aprofundamento do caráter científico da teoria, na trilha do trabalho epistemológico presente, claramente, desde Novos fundamentos para a psicanálise1.

Um trabalho que tem a marca da epistemologia de Popper. Uma epistemologia que, partindo do conceito de verdade, faz a crítica ao modelo tradicional de ciência e propõe um novo modelo. Enquanto tradicionalmente considera-se verdadeiro o conhecimento fundado sobre a observação e a experiência e construído pela lógica da indução (assim o fazem os empiristas clássicos), Popper defende que o verdadeiro conhecimento é construído por dedução, num movimento que, ao invés de partir dos dados empíricos, parte das teorias que concebemos para explicar a realidade.

Ele mesmo denominou-a de “teoria do método dedutivo de prova”, baseando-a na “concepção segundo a qual uma hipótese só admite prova empírica - e tão-somente - após haver sido formulada”2.

Para ele, toda ciência é feita por um movimento de criação de hipóteses explicativas para os fenômenos da realidade e submissão das mesmas a um permanente teste de validade, através do princípio da falseabilidade.

A “teoria do método dedutivo de prova” consiste, pois, na possibilidade de uma teoria ser refutada, tanto pela experiência quanto pela coerência interna de suas hipóteses. “Apresentar uma teoria que seja depois refutada não é um defeito, mas uma virtude”, lembra Blackburn3.

Uma teoria científica, então, não é, no plano das idéias, uma cópia pura e simplesmente abstraída da realidade, mas, antes, uma rede de idéias que, bem articuladas e refutáveis, ajudam a compreender essa realidade, permitindo a constituição de um conhecimento verdadeiro, fundamentado na universalidade, na coerência e na aplicabilidade de seus axiomas.

Essa epistemologia, que serviu de referência para os argumentos discutidos em Lanzarote, inspirou a apresentação dos mesmos neste trabalho. Em função dos princípios da verificação e da falseabilidade, pensamos em quatro categorias para articulá-los com o tema proposto para a jornada: desenvolvimentos, comentários, aplicações e contestações da teoria.

Esta classificação, organizada a partir da proximidade do núcleo duro da teoria, dá uma idéia da dinâmica do evento. Ela ilustra o quanto o debate aí desenvolvido se caracteriza como interlocução e produção científicas, já que admite tanto a confirmação quanto a negação da validade da teoria em questão. E, cabe lembrar, em quaisquer dessas duas direções, se considerado o modelo epistemológico popperiano, a cientificidade da teoria está atestada.

 

1.1. Desenvolvimentos da teoria

Dentre os argumentos no sentido do desenvolvimento da teoria laplancheana, podem ser identificadas as contribuições de Dejours e de Luchetti. Partindo da afirmação de Laplanche, segundo a qual seu modelo refere-se a um certo número de pressupostos fatuais que, em princípio, seriam passíveis de falsificação, em seu argumento, Dejours, de Paris, interrogou, basicamente, a natureza dos fatos sobre os quais uma tal falsificação poderia operar.

Ele lembrou que a Situação Antropológica Fundamental4 (SAF) é incompatível, por exemplo, com a teoria da simbiose primitiva de Mahler. E que os trabalhos de Godelier, questionando tanto a universalidade do interdito do incesto, quanto seu papel como condição sine qua non de acesso ao simbólico, constituem uma prova de falsificação não só para a teoria de Lévi-Strauss mas também para a teoria estrutural da ordem simbólica proposta por Lacan. Perguntou, então, se esses trabalhos de etnologia comparada constituiriam uma prova de validação para a Teoria da Sedução Generalizada (TSG).

Mas foi o seu conceito de inconsciente amencial5, postulado como existente ao lado do inconsciente recalcado, que foi considerado por Laplanche como uma contribuição à teoria tradutiva do recalque.

O texto de Luchetti, de Roma, por sua vez, consistiu numa reflexão que correspondeu clara e diretamente ao tema proposto para 2006. Após invocar e articular os princípios fundamentais das teorias desenvolvidas por Hempel e Popper, lembrou que, validada, a TSG torna-se uma referência de cientificidade para toda a psicanálise.

Para assim ser reconhecida, porém, haveria que responder a algumas questões importantes. Uma delas versa sobre a coerência entre os pressupostos epistemológicos popperianos e a idéia segundo a qual a teoria acompanha os movimentos de seu objeto (o inconsciente): em que medida poder-se-ia aceitar a asserção, cara a Laplanche, de que esta teoria sofre os efeitos dos movimentos do inconsciente?

Nessa mesma direção, outra pergunta recaiu, de um lado, sobre a possibilidade (e o modo) de articulação entre a observação e o tratamento clínico; e, de outro, sobre o desenvolvimento teórico da metapsicologia, mais particularmente, no que esta teoria explica sobre o inconsciente.

 

1.2. Comentários à teoria

Nos comentários à teoria, podem ser lembrados os argumentos de Martens e de Sauvent. Martens, de Bruxelas, em seu argumento, começou por constatar que o resgate da teoria de Freud por Laplanche permite o confronto entre um modelo psicanalítico estável, as ciências humanas e as ciências da natureza. De um lado, a noção de tradução parece uma interface possível entre as abordagens neurocientífica e metapsicológica; do outro, a insistência sobre a situação antropológica fundamental permite situar as questões cruciais a um nível mais fundamental que o do Édipo.

Isto posto, a cientificidade da psicanálise parece assegurada por sua aptidão em dar sentido a uma miríade de fenômenos que, sem ela, estariam destinados à incoerência. A teoria psicanalítica é virtualmente, e só nesse plano, refutável: pode-se apenas imaginar a existência de uma sociedade capaz de sobreviver sem pôr um freio à expressão do sexual pré-genital. Se essa virtualidade fosse passível de realização, o modelo psicanalítico desmoronaria.

Por seu turno, Sauvant, de Berna, em vez de tentar responder às questões colocadas pelo tema das Jornadas, limitou-se a trazer o modo como elas ecoaram nele. Inicialmente, parecia-lhe importante que se chegasse a um acordo sobre o que, em psicanálise, se entende por “ciência”, para tentar aplicá-lo à Teoria da Sedução Generalizada e a seus futuros desenvolvimentos.

Depois, tratar-se-ia de situar, de um ponto de vista epistemológico, o pensamento de Laplanche em relação às outras abordagens pós-freudianas, para ressaltar o rigor de sua construção metapsicológica e, talvez, delimitar as fronteiras da psicanálise. Afinal, perguntou, se há método por trás do rigor desse pensamento.

 

1.3. Aplicações da teoria

Na terceira categoria, das aplicações da teoria, podem ser encontrados argumentos como o de Tessier e de Hock. Tendo afirmado a validade da teoria laplancheana, Tessier, de Otawa, utilizou-a em uma vigorosa crítica à psicanálise norte-americana.

Após retomar os principais postulados laplancheanos, apresentados em torno dos critérios de laicidade teórico-metodológica e de descentramento típico da Situação Antropológica Fundamental, a autora, entendendo ser a metapsicologia o objeto de validação da psicanálise, passou a descrever minuciosamente o atual cenário da psicanálise nos Estados Unidos.

Constata que a teoria psicanalítica norte-americana, em seu estado atual, categorizada em três grupos ? orientação relacional-intersubjetiva, abordagem neuro-científica e teorias do apego ? atende ao critério do descentramento ao reconhecer o papel primordial do outro na formação da subjetividade, mas desconhece a sexualidade infantil e o inconsciente recalcado.

Daí a conclusão: há uma incompatibilidade entre a teoria laplancheana e os modelos norte-americanos, os quais deixam de ser validados como científicos na perspectiva do paradigma defendido por Laplanche para a cientificidade da psicanálise.

A fim de ilustrar o caso em que a dificuldade de tradução da criança, na situação antropológica fundamental, parece estar relacionada à dificuldade adulta de lidar com a sexualidade da própria criança, Hock, de Berlim, apresentou a seguinte cena: uma jornalista, a caminho da piscina com seus dois meninos, passa por uma mulher que, despida, está sendo massageada. É então que um de seus filhos, visivelmente excitado, pergunta à massagista: “Quando eu crescer e for homem, você faz a mesma coisa comigo?”. Constrangida, a mãe manda os filhos para a piscina.

Partindo da constatação de que se verifica, aqui, uma relação entre a incapacidade infantil de traduzir as mensagens enigmáticas sexuais vindas do adulto e a incapacidade adulta de lidar com a excitação sexual da criança, o autor relacionou a não-tradução infantil à angústia adulta. E concluiu: “o adulto não é apenas o emissor de mensagens enigmáticas, mas também lhes dá um peso maior, já que não sabe como ajudar a criança a traduzir”.

 

1.4. Contestações à teoria

Na última categoria, das contestações, estão as intervenções de Gutierrez-Terrazas e de Ribeiro. Em seu comentário, Gutierrez-Terrazas, de Madrid, afastou-se da discussão epistemológica para sublinhar a necessidade de que a teoria laplancheana considere não somente a inexistência, de partida, de um inconsciente sexual em todo o infans, mas também a inexistência de um sujeito capaz de traduzir a mensagem do outro. Pareceu-lhe importante questionar o que se passa no tempo de implantação da mensagem, enquanto esse tempo não é ainda de tradução, mas pré-subjetivo.

Ribeiro, de Belo Horizonte, deu continuidade ao questionamento teórico de Gutierrez-Terrazas, articulando sua reflexão em torno de três pontos da teoria: o papel da identificação passiva na sedução originária, sua relação com a feminilidade e o efeito de recalque que o sexo e o gênero produzem sobre o sexual infantil. Para ele, a identificação passiva é a que vem do outro e não do próprio sujeito, identificação “por” em vez de identificação “a”.

Tratar-se-ia, a seu ver, da solução copernicana para uma das principais aporias da Teoria da Sedução Generalizada – a concepção tradutiva do recalque, fundada sobre o pressuposto de uma capacidade tradutiva do bebê, o que se lhe afigura impossível antes da formação do eu.

Em vez dessa capacidade de tradução, propôs um mecanismo de imitação precoce, anterior à capacidade de se representar. E lembrou a tese de Jacques André, sobre o caráter feminino das origens da psicossexualidade. Mais do que a polaridade fálico-castrado, as crianças tendem a exprimir a intrusão pelo outro sob a forma das polaridades penetrante-penetrado, dominador-dominado, agressor-agredido.

Para ele, a atribuição consciente do gênero pela família é um processo identificatório secundário, que se instala e se desenvolve sobre o solo completamente colonizado pela imitação precoce e a primitiva experiência de subjetivação em que ela implica.

 

2. O argumento de Jean Laplanche

Por sua importância, clareza e pelo lugar que ocupa no desenvolvimento da teoria, vale a pena nos determos no argumento apresentado pelo próprio Laplanche. Em sua comunicação, na tarde do último dia das Jornadas, o criador da Teoria da Sedução Generalizada (TSG) fez uma análise do atual estado do debate teórico em psicanálise, criticando-lhe duas de suas derivas: o relativismo e a normatividade.

No primeiro caso, o relativismo revela-se pela ausência de interlocução e de crítica entre os diferentes autores, num vazio que ele caracterizou como de “horror ao teoricamente correto”. Citou como exemplo os congressos, em que cada autor apresenta seu trabalho sem que seu pensamento ou o de seus interlocutores se enriqueça graças ao debate. Não há debate porque não há nem mesmo um corpo teórico comum que o fundamente.

Quanto à segunda deriva, a normatividade, Laplanche chama a atenção para o fato de psicanalistas - sobretudo de filiação lacaniana, arrogada como a leitura psicanalítica por excelência - serem convocados para tomar posição sobre todos os fenômenos sociais, contribuindo para a constituição de normas pretensamente universais e “tornando, assim, a psicanálise uma espécie de lei do social”.

Este cenário serviu de contraponto para que Laplanche insistisse na sua posição acerca da verdade: mesmo que não esteja sempre acessível imediata e diretamente à razão, isso não implica em dizer que ela não exista. Ao contrário, é possível fazer coincidir verdade e razão, assim como certa coerência do discurso.

Sendo assim, não apenas as ciências ditas “duras”, mas também as humanas encontram critérios confiáveis para guiar a produção de seus saberes. Um desses critérios é a incerteza. Longe de significar imprecisão, tal critério permite o avanço do conhecimento, mesmo quando o objeto não seja diretamente apreensível ou a sua percepção ainda esteja marcada por dúvidas.

Para Laplanche, portanto, a psicanálise é, antes de mais nada, um método científico que produz teoria e se desenvolve ao longo de uma prática terapêutica. Contudo, ao insistir, com Freud, no caráter primordialmente científico da psicanálise, Laplanche constata que essa dimensão costuma ser relegada ao último lugar na contemporaneidade da psicanálise.

Ora, nas suas próprias palavras, “se a psicanálise quiser permanecer entre as ciências, onde creio ser seu lugar, é necessário que ela desenvolva um corpo teórico sem qualquer afirmação de caráter prático”, ou seja, fundamentada sobre axiomas e categorias universais e generalizáveis.

Há, entre Freud e Popper, uma convergência de posições a esse respeito. Mesmo que Freud não tenha indicado conhecer Popper e que Popper não tenha compreendido Freud, Laplanche demonstrou essa convergência, retomando textos como “Pulsão e destino das pulsões” e “Comunicação de um caso de paranóia contradizendo a teoria psicanalítica”. Para ele, “Freud tem um pensamento popperiano” ao construir hipóteses sobre as pulsões e empreender exercícios de refutação de suas próprias teorias sobre a paranóia e sobre a sedução como fator etiológico das neuroses.

Há, no entanto, que se considerar os níveis dos enunciados e a coerência interna da teoria psicanalítica. Para Laplanche, há dois extremos: de um lado, a metapsicologia, verdadeira teoria científica da Psicanálise; de outro, o mítico-simbólico, puramente ideológico e não-científico. Entre eles, há níveis intermediários, claramente ligados à prática terapêutica, de natureza particular, cuja refutação não implicaria em refutação da metapsicologia: a teoria do conflito, a psicopatologia, quiçá mesmo a teoria dos sonhos.

Uma psicanálise científica requereria, portanto, um nível denso, simples e bem articulado de enunciados. Seria o núcleo duro em torno (e a partir) do qual se poderiam extrair enunciados secundários, mais particulares e, portanto, menos significativos para a teoria. Para Laplanche, o núcleo de uma teoria psicanalítica verdadeiramente digna de ser considerada científica é constituído pelo “inconsciente recalcado e suas vias de acesso, bem como pelo lugar e a gênese da sexualidade infantil”.

Qualquer outra tentativa de garantir para a psicanálise um lugar entre as ciências - como aquela que distingue “ciências da observação” de “ciências da interpretação” - é infrutífera. O modelo científico é um só para toda e qualquer ciência, fundado no exercício dedutivo e refutável de elaboração de teorias que, em última instância, são sempre conjecturas falseáveis.

As vicissitudes que a noção de sexualidade infantil recalcada - o sexual pré-sexual - experimentou na teoria psicanalítica são, irônica e paradoxalmente, as mesmas que Freud indicou em “Os três ensaios sobre a sexualidade”: o esquecimento, a negligência ou a edulcoração em função de outros conceitos, como o de apego.

Enquanto a sexualidade infantil é tratada, inclusive pelo próprio Freud, numa seqüência linear que anteciparia e prepararia a sexualidade adulta, Laplanche insiste na simultaneidade entre adulto e criança: “adulto e criança devem ser concebidos, pela psicanálise, numa simultaneidade, num diálogo, numa troca de mensagens”.

A TSG propõe precisamente esta dupla assimétrica: entre bebê e adulto, no que tange ao inconsciente, não há interação, mas assimetria de comunicação. Enfatiza que sempre é preciso considerar o inconsciente do adulto em face da criança, a fim de não restringir as origens da sexualidade infantil (e do próprio inconsciente) à criança isoladamente.

A dificuldade da observação da SAF reside na dificuldade de observar a simultaneidade e o diálogo estabelecidos na defrontação assimétrica entre adulto e criança, e, no adulto, o ressurgimento do sexual infantil, provocado pela confrontação com a criança. Assim, a construção de uma metodologia para observação desse encontro, remeteria novamente à questão do recalque da sexualidade infantil.

Outra dificuldade apontada é a confusão, já difundida, entre teoria psicanalítica e teoria infantil, entre a teoria tradutiva6 e a teoria científica (metapsicologia). Face à proposta de se fazer psicanálise científica, cabe distingui-las, evitando que ela se torne mítico-simbólica e, em decorrência disso, ideológica e recalcadora do seu próprio objeto.

Desse modo, “a força da TSG reside em dar conta da função não-científica dos mitos psicanalíticos” e de sua força recalcadora. Tomar esses mitos como explicações acabadas e científicas é recalcar, novamente, o inconsciente. É atribuir a uma teoria um valor definitivo, acabado.

Interrogando-se, então, sobre como falsificar a TSG, tecida em torno de mensagens (muitas delas não-verbais) e de suas recepções, traduções e eventuais fracassos, Laplanche afirmou ser possível fazê-lo através de conjecturas sobre o fracasso das traduções, manifesto nos enigmas, apresentados, de modo esquemático, no quadro a seguir:

 

SITUAÇÃO ANTROPOLÓGICA FUNDAMENTAL E TEORIA DA SEDUÇÃO GENERALIZADA: TESES

 

 

Como destacou o próprio Laplanche, “vários desses pontos remetem à exploração analítica”. Por um lado, este destaque ressalta a centralidade dessa experiência como recriação da situação antropológica fundamental7; e, por outro, como esforço analítico (logo, des-tradutor) das construções que o indivíduo fez, desde sua infância, a partir dos enigmas gerados naquela situação.

Vê-se, então que os enunciados da TSG, amparados no pressuposto factual da SAF, consistem numa hipótese tradutora (mensagem ® tradução ® fracasso parcial ou total da tradução ® constituição do inconsciente), conjectura fundada em Freud e em Jakobson. Segundo Laplanche, esse modelo não só está mais próximo da experiência propriamente humana, mas também é mais manejável que o modelo energético.

Ora, para demonstrar a fidedignidade de seu modelo, Laplanche propôs três possibilidades de teste que demonstram a verificabilidade da TSG. A primeira delas é relativa à primeira das teses enunciadas8 e diz respeito ao disfarce do tempo tradutor e à recodificação na recepção de toda mensagem, reconhecidos por Freud como o “esquecimento” da sexualidade infantil.

A segunda possibilidade de teste, relativa à segunda das teses enunciadas9 e diz respeito à distinção entre o tempo de implantação e o tempo de tradução no tratamento das mensagens enigmáticas, que aparece na teorização clínica através do só-depois e dos efeitos do tempo no psiquismo.

Se as duas primeiras possibilidades concernem a cada um dos atores da situação antropológica fundamental, a terceira considera, naturalmente, o que a própria situação permite que surja, a partir da diferença inicial entre adulto e infans: a diferença entre fracasso parcial e fracasso radical da tradução da mensagem (que, no caso do fracasso total, resta por ser traduzida). É essa diferença que determina, por exemplo, a possibilidade de tratar-se de níveis de inconsciente, como o faz Freud, por exemplo, em seu artigo de 1915, sobre o inconsciente.

Vale recordar que Laplanche acompanha Popper na concepção da testabilidade. Testável não é sinônimo de sujeito a testes empíricos e à observação direta e objetiva, mas, sim, falseável, ou seja, sujeito à contraprova eventual de outra teoria que, levando em conta o mesmo fenômeno, explique-o de forma mais simples, coerente e aplicável.

Laplanche concluiu que suas hipóteses, ainda que não testáveis empiricamente, fornecem elementos importantes para apreender-se melhor o processo de tratamento, entendido como movimento incessante de tradução e re-tradução.

É no nível do processo clínico e do tratamento, então, que se constata a falseabilidade da teoria. A TSG e, com ela, a teoria da tradução são eminentemente suscetíveis de verificação e falsificação, se considerados o modelo popperiano e a metodologia psicanalítica definida pelo próprio Freud.

 

3. A obra de Jean Laplanche: um (válido) fundamento para a cientificidade da psicanálise

A escolha, em 2006, do tema da validação da TSG permite reconhecer a influência que a epistemologia de Karl Popper exerce sobre a obra de Laplanche, em seu esforço de delimitação de fundamentos científicos para a psicanálise.

Ora, Laplanche não adotou a epistemologia popperiana por acaso. Apesar de o próprio Popper considerar a psicanálise como não científica10, seu modelo permite o reconhecimento de uma ciência que não tenha acesso objetiva e diretamente a seu objeto. Não obstante, faz-se necessário que tal ciência se mantenha crítica e auto-crítica, através da constituição de teorias que sejam refutáveis e falseáveis. Desta forma evita-se o dogmatismo e a ideologia. Tal é o projeto laplancheano para a psicanálise. O esforço de validar a TSG corresponde à busca de uma psicanálise científica.

Antes de terminar, gostaríamos de mostrar duas implicações do projeto laplancheano para a psicanálise contemporânea. Uma primeira refere-se à questão do método e tem evidentes repercussões na prática analítica. Freud, como se sabe, recusou a sugestão de Jung para que, depois da psico-análise, se fizesse a psico-síntese. Para ele, a síntese seria feita pelo paciente. O eu, enquanto instância especializada, se encarregaria disso.

Em sua teoria tradutiva do recalque, Laplanche afirma que a criança tenta traduzir as mensagens adultas, nomeadamente as enigmáticas, com seu reduzido estoque semântico. Os restos não traduzidos correspondem ao recalcado originário e constituem-se na origem do inconsciente.

Nesta perspectiva, a função do analista não é de fazer uma nova tradução mas de ajudar à des-tradução do que a criança anteriormente traduziu. Assim, abre-se espaço para que uma nova e mais fidedigna tradução possa ser feita pelo analisando.

Quando Laplanche caracteriza Édipo e castração como da ordem do mítico-simbólico ele inscreve-os nesse movimento da criança (e da cultura) de traduzir o enigmático. A criança (e a cultura) não esperaram pela psicanálise para fazer tais traduções. À psicanálise compete, portanto, ajudar a des-traduzir. Permitindo que venha à luz o que a tradução, em termos de castração, por exemplo, deixara recalcado. É por isso que interpretar em termos de Édipo ou de castração é traduzir, não des-traduzir. Uma tradução que tende a situar-se do lado do recalque.

A outra implicação do projeto laplancheano para a psicanálise contemporânea refere-se à formação de psicanalistas. Portanto, tende a repercutir junto às respectivas instituições. Podemos introduzi-la pelo aforismo lacaniano: “a psicanálise não se ensina, se transmite”. Mas de onde vem este termo “transmissão”? Trata-se de uma das traduções possíveis para Übertragung. No idioma alemão de Freud, este termo tem, no entanto, um sentido bem preciso, de “transferência”. Qual é, então, o sentido lacaniano de tal aforismo? Aparentemente Lacan nos lembra que, para a formação, não basta um conhecimento puramente livresco da psicanálise, é preciso passar pela análise, viver a transferência. E, portanto, isso não pode acontecer na Universidade.

Mas o que sugere o fato de que ambos os termos, “transferência” e “transmissão”, sejam, na verdade, traduções de um mesmo termo na língua de origem? Que a transmissão da psicanálise se faz por transferência, por transferência ao mestre. Não por acaso, Lacan designava seus pacientes como seus “alunos” e pretendia que o destino de toda a análise era formar um analista. O modelo é antigo, remonta à tina de Mesmer e aos milagrosos poderes de sua água magnetizada. Pretender que a psicanálise se transmita por transferência é, evidentemente, remontar à pré-história da psicanálise, é apelar para a sugestão; mesmo que a tina possa ter sido a biblioteca onde se encontravam os que esperavam a consulta, as mesas dos cafés onde, depois, discutiam as intervenções do mestre, ou a “École” que ele fundou.

Lacan não foi o primeiro, nem certamente o último, a transformar um método que se pretende libertador dos determinismos inconscientes, em estratégia de poder, de doutrinação, de recrutamento, de assujeitamento O processo, lembra Laplanche, é co-extensivo a uma anomalia denominada “análise didática” - se “didática”, não pode ser “análise”; se “análise”, não pode ser “didática”.

Pretendemos ressaltar que, no sentido da cientificidade da psicanálise, o movimento laplancheano tem-se constituído como um movimento de desalienação que, ao caracterizar toda a teoria como passível de falsificação, diminui o brilho e a sedução dos grandes mestres, de suas doutrinas e de seus dogmas, apontando para o devir de um processo científico em constante progresso.

É possível constatar, ainda, que os argumentos de Lanzarote, na esteira da obra laplancheana, permitem reconhecer um movimento circular. Tal movimento parte de uma teoria desenvolvida segundo os princípios da simplicidade conceitual e da elegância da construção, que garantem maior probabilidade de se alcançar a cientificidade. E a cientificidade a que se chega, por sua vez, reclama a preservação dessas características da teoria.

 

Referências

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Endereço para correspondência:
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Recebido em 18/04/2007

 

 

* Uma síntese deste trabalho foi apresentada no XVI Congresso do Círculo Brasileiro de Psicanálise – “Fronteiras da Psicanálise”, 31 de agosto a 2 de setembro de 2006, Natal.
** Psicólogo; Professor Assistente do Departamento de Fundamentação da Educação da UFPB.
*** Professor Titular (aposentado) da UFPb, antigo membro da École Belge de Psychanalyse e do CPP, sócio fundador da SPP.
1Jean Laplanche, Nouveaux fondements pour la psychanalyse, Paris, PUF, 1987 (tradução brasileira: Novos fundamentos para a psicanálise,. São Paulo, Martins Fontes, 1992).
2Karl Popper, A lógica da pesquisa científica, 14ª ed., São Paulo, Cultrix, 2002 (1ª edição em alemão: 1935), p.30.
3S. Blackburn, Dicionário Oxford de Filosofia, Rio de Janeiro: Jorge Zahar, 1997, p.302.
4Há duas grafias para esta expressão neste trabalho: aquela com as iniciais de cada nome em maiúsculas, indica a teoria acerca dessa situação, e aquela grafada em minúsculas indica a própria situação.
5Cf. Dejours, Christophe, Le corps, d’abord, Paris, Payot, 2003.
6A castração, por exemplo, é uma teoria sexual infantil e o Édipo, um mito grego.
7Laplanche desenvolveu aprofundadamente essa idéia em Problemáticas V: A Tina ? a transcendência da transferência. São Paulo: Martins Fontes, 1993.
8A primeira tese refere-se à existência disfarçada e manifestação eventual de um inconsciente infantil recalcado em todo adulto.
9A segunda tese diz respeito à inexistência, no início, de inconsciente sexual em qualquer criança.
10Para Popper, a psicanálise seria sustentada por uma teoria que ele pretendia não-falseável.

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