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Estudos de Psicanálise

versão impressa ISSN 0100-3437

Estud. psicanal.  no.35 Belo Horizonte jul. 2011

 

 

As vicissitudes do encontro mãe/bebê: um caso de depressão

 

The vicissitudes of the engagement mother/baby: a depression case

 

 

Leda Mariza Fischer BernardinoI, II; Marie Christine LaznikII, III; Gabriela Xavier de AraújoIV

I Associação Psicanalítica de Curitiba
II Association Lacanienne Internationale
III Centre Alfred Binet
IV Universidade de São Paulo

Endereço para correspondência

 

 


RESUMO

Para que um pequeno infans que acaba de nascer se torne um sujeito – tal como a psicanálise o concebe – ele precisa estabelecer um laço pulsional com um outro, representado, no primeiro momento, pelo agente materno, que deverá referenciá-lo ao campo do Outro, lugar simbólico. O estabelecimento de tal laço não é inato e nem sempre se dá de uma forma muito simples. O presente trabalho pretende discutir o que se convenciona chamar de “amor materno” e suas vicissitudes; analisar as dificuldades do encontro mãe/bebê; apresentar um caso clínico em que a depressão materna incidia em um bebê de poucas semanas, e no qual a intervenção psicanalítica teve um importante papel.  Para abordar a questão do apaixonar-se necessário entre a mãe e o bebê, recorre-se ao mito de Eros e Psiquê e às noções de pulsão e gozo da psicanálise lacaniana.

Palavras-chave: Amor materno, Depressão materna, Intervenção psicanalítica, Pulsão, Gozo.


ABSTRACT

A just born little infans, in order to become a subject – such as psychoanalysis conceives it – must establish an drive bond to another, represented at first by the maternal agent, who should refer him to the Other´s(A) field, symbolical place. Establishing such bond is not innate and not always simple to occur. The present study aims discussing what is conventionally called “maternal love” and its vicissitudes; the difficulties of the encounter mother/baby; presenting a clinical case on which maternal depression focused on a few weeks baby, and on whom psychoanalytic intervention played an important role. To approach the issue concerning the passion needed between the mother and the baby, it is often utilized the myth of Eros and Psyche as well as the concepts of drive and joy from lacanian psychoanalysis.

Keywords: Maternal love, Maternal depression, Psycho-analytic intervention, Drive, Joy.


 

 

Partindo do popular dito “ser mãe é padecer no paraíso” verificamos, de saída, o sofrimento e o gozo implicados no exercício da maternidade. Se não podemos mais acreditar no instinto materno – desbancado com rigor por Elisabeth Badinter (1980) e suas pesquisas – segundo Michele Benhaim (2007) tampouco podemos crer no mito do amor materno “verdadeiro” e livre de ambivalências.

Pensar, então, no “amor materno” do ponto de vista psicanalítico levanta a questão de saber por quais caminhos se constrói uma mãe e como podemos entender o amor de uma mãe por seu filho e seus desdobramentos.

Charles Melman (1991) diz que uma mãe só será possível se tomarmos como referência uma “estrutura que a autoriza, que a faz e que a torna possível enquanto mãe” (p.64), remetendo à função paterna. É o que Lacan (2003) aponta em sua Nota sobre a Criança, ao observar que os cuidados maternos trazem a marca de um interesse particularizado, fundado a partir das próprias faltas da mãe. Ressalta: se não passar pela mediação da função paterna, a criança ficará exposta a capturas fantasmáticas das mais diversas (Lacan, 2003). Para Lacan, a mãe é, primordialmente, o Grande Outro para a criança.  Ela encarna esta função. Melman (1991) a identifica, numa primeira apreensão pelo bebê, como “um corpo organizado por orifícios” (p.64). A mãe comparece com o real de seu corpo, sendo imaginariamente tomada em uma organização da qual participa, e é encarregada de inserir a criança no mundo simbólico.

Temos vários ângulos para pensar a mãe: a mãe real da gestação, do parto e do corpo-a-corpo com o bebê; a mãe imaginária, todo-poderosa, ainda não castrada, da criança pré-edípica; e a mãe enquanto significante, sempre irredutível, presença na ausência.  Como afirma Bastien (1997), “quando uma mulher encontra A Mãe, a saída é para sempre imprevisível, sentimentos de completude e desilusão disputam o palco, assim como devotamento e dívida, bem como gozo e angústia” (p.111).

Falando do amor materno, Julia Kristeva (1986) ressalta a força e a complexidade nele envolvidas: “o laço da mãe com seu filho compreende uma retomada de seu próprio narcisismo, ao mesmo tempo em que a necessidade de se extrair dele” (p.51).Ela complementa: trata-se de um “dom de si”.

Sabemos que falar de amor remete ao narcisismo, conforme Freud (1972) nos ajudou a entender: para uma mulher ocupar o lugar da mãe dedicada comum – para usar uma expressão de Winnicott (1957) – ela deve ter um narcisismo suficientemente sólido para obter prazer ao se dedicar à criança. Evidentemente, este “sacrifício” é temperado pelo fato de que o filho enriquece o narcisismo dos pais (Boukobza, 1997).

Lacan, por sua vez, dá um passo a mais e liga o amor ao gozo, por intermédio do desejo. Fez escândalo ao revelar a mulher presente na mãe, já desde os primórdios da relação com o filho. Em Mais, Ainda (1982) ele afirma que o desejo é “a mola do amor” (p.69). Veremos na sequência como este passo é fundamental para a compreensão da montagem do laço mãe/bebê e para a intervenção psicanalítica, quando há falha nesta montagem.

Este passeio teórico nos permite, agora, propor quais poderiam ser as principais vicissitudes do amor materno, que hipotetizamos em diferentes formas de amar por parte da mãe, e seus desdobramentos para o filho.

Assim, uma mãe pode:

1) Amar doando a falta – seria a MÃE DEVOTADA COMUM (Winnicott, 1957), que pratica a definição lacaniana de amor: “amar é dar o que não se tem a alguém que não o quer” (Lacan, 2006), a mãe da criança neurótica, que a insere na dialética do dom e da dívida, em uma lógica psíquica que funciona nos dois sentidos. Aqui, a mãe cumpre seu papel de Outro: instala palavras entre seu filho e ela, “mergulha-o num banho de linguagem, como para tentar descrever, sem jamais conseguir completamente, a fusão perdida” (Lacan, 2006, p.110). É a mãe do bebê comum.

2) Amar em excesso, sem limites – seria a MÃE QUE AMA DESMESURADAMENTE, sem a barragem da função paterna, a mãe da criança psicótica, que não renuncia ao gozo trazido pelo filho localizado no lugar de objeto que satura a falta (Lacan, 2003).

3) Amar sem correspondência – seria a MÃE QUE FICA DESNORTEADA EM SEU AMOR, a mãe da criança autista que não se vê reconhecida nem amada por seu filho e se perde, fica sem rumo, desconcerta-se no exercício de sua maternidade (Laznik, 2010).

4) Desamar, não conseguir amar – seria a MÃE DESABITADA DE AMOR da depressão materna, a mãe cuja vinda do filho não basta para lhe dar vontade de viver ou para quem a presença do filho, por determinações inconscientes de sua história arcaica, desencadeia uma reação depressiva. A relação com uma mãe com esta dificuldade pode instalar o bebê em um quadro depressivo, chegando até a desencadear nele reações sintomáticas de evitamento ao contato que podem ser confundidas com uma sintomatologia autística.

Neste trabalho, analisaremos um caso clínico que se refere a esta última situação – a depressão materna e seus efeitos no bebê. Discutiremos ainda a direção de um tratamento possível, inspiradas no mito de Eros e Psiquê e nos conceitos psicanalíticos de pulsão, gozo e prazer.

 

O desencontro entre Eduardo e sua mãe

A mãe de Eduardo procura atendimento para ela e seu filho, visto que estava se sentindo sem forças para cuidar dele que, na época, contava sete semanas.  Com a sugestão da puericultora que a ajudava, ela chega ao serviço em que Marie-Christine Laznik trabalha: é deste atendimento psicanalítico pais/bebês que falaremos.

Desde o primeiro atendimento, a mãe relata o “desencontro” entre ela e seu filho, sua dificuldade de fazer contato com ele e de decifrar seus pedidos. Eduardo é fruto de uma fertilização in vitro e sua mãe diz que se preparou muito mais para engravidar do que para ser mãe. O atendimento mãe-bebê começa, visando a construção de um enamoramento, um enlace entre a mãe e seu bebê.

Logo de início, a mãe relata uma dificuldade de suporte da parte de seu entorno, que acaba por se manifestar através de um grande problema na coluna que a impede de carregar seu filho no colo e que fala também do pouco apoio que ela tem da sua própria família. Escutando-a e significando as palavras da mãe, a psicanalista diz que é preciso que ela se sinta bem aconchegada, apoiada, para que possa então dar uma continência prazerosa para o seu bebê.

Ao longo do trabalho, a psicanalista vai tentando se ocupar do bebê Eduardo e do bebê que a mãe foi outrora. Escutando fragmentos da sua história, que se misturam à história do bebê, a psicanalista assinala que gostaria muito que se ocupassem deste outro bebê que a mãe foi, para que se pudesse dar lugar ao bebê que acabara de chegar.

A mãe conta que tem a impressão de que Eduardo fica melhor com o pai, que sorri e olha bem mais para o pai. Acha que isso se deve ao fato de que é ela quem passa o dia todo com ele, e que isso acaba deixando os dois – ela e o bebê – como que cansados um do outro. De fato, ao longo das sessões, Eduardo recusa muito ativamente olhar para a mãe, embora olhe facilmente para a psicanalista. Com esta, Eduardo brinca, sorri e conversa. Percebendo e remarcando o desconforto que esta atitude de Eduardo provoca na mãe, a psicanalista vai trabalhando no sentido de que a mãe se sinta autorizada a se ocupar de Eduardo. Mais do que isso, que ela sinta prazer  em fazê-lo.

 

A falha na montagem pulsional

O caso de Eduardo nos apresenta uma fragilidade no laço mãe/bebê, pelo pouco investimento libidinal da mãe, em processo depressivo, na relação com seu bebê. Sua depressão pós-parto marcou profundamente a tônica do laço entre eles, provocando um evitamento ativo do olhar por parte do bebê em direção ao rosto materno, comportamento que – ao incidir sobre a mãe – desconcerta-a e deprime-a ainda mais,  criando um círculo vicioso sintomático. Após os primeiros atendimentos, com a função de holding proporcionada pela escuta, palavras e postura da psicanalista, a mãe já pode se mostrar carinhosa e afetiva com seu bebê. Entretanto, ela ainda não consegue capturar nem o olhar nem o interesse do bebê por muito tempo. Verificamos que não há o elemento erógeno necessário para a instauração completa do circuito pulsional, o que pode ser extremamente grave para o processo de constituição subjetiva deste bebê. Entretanto, na cena terapêutica, Eduardo mostra-se disponível para entrar em relação e reage sorrindo, vocalizando e ficando atento ao rosto e às palavras da psicanalista. É o que permite formular a hipótese de um quadro de depressão no bebê, reativo à depressão materna. Ao mesmo tempo, trata-se de um bebê aberto às intervenções de um terceiro, fora da cena familiar.

A falha na montagem pulsional, descrita por Laznik (1991), ocorre quando o bebê não se identifica ao novo sujeito do terceiro tempo do circuito pulsional, condição para sua alienação ao lugar de sujeito de desejo que inaugura sua posição subjetiva. Para que este tempo ocorra, é necessário que haja uma alienação não somente simbólica, mas também real, ou seja, que o bebê se proponha como objeto para o gozo do Outro primordial. Isto ocorre quando o bebê se interessa vivamente pelo efeito que provoca neste Outro, por sua posição ativa de se colocar no lugar passivo de objeto e fisgar o gozo do Outro, para gozar desta posição objetal identificado ao sujeito que aí goza, o agente materno. Neste caso, ocorre a identificação com o desejo deste outro que cumpre a função materna e que se localiza no lugar de Outro, fazendo-o desejar o desejo do Outro e, portanto, fazendo-o entrar no campo desejante. Desta operação decorre a erogenização do corpo do bebê e a possibilidade de que ele  dê significação ao mesmo. Passagem que articula corpo e linguagem. Nasce desta operação um sujeito de desejo e um sujeito inserido na linguagem.

A depressão pós-parto vem produzir um curto-circuito neste processo, impedindo justamente que o “eros” – ausente pela condição depressiva materna – entre em ação na constituição do psiquismo do bebê.

 

O encontro entre Eros e Psiquê

O Livro “L’Âne d’or”, Apulée (séc.II d.c.) narra o mito de Psiquê, mito este que nos ensina o longo percurso necessário para que se dê o enlaçamento amoroso.

A história começa assim: era uma vez um rei e uma rainha que tinham três filhas. Psiquê, a mais nova, era de uma beleza tão extraordinária que não havia como descrevê-la. O rei e a rainha estavam muito preocupados com ela, pois, mesmo que todos contemplassem e admirassem sua beleza, ninguém avançava para pedir sua mão em casamento. O rei foi, então, consultar o oráculo sobre o destino de sua filha e lá ficou sabendo que Psiquê se casaria com um monstro. Este destino havia sido traçado por Vênus que, por ciúmes da beleza de Psiquê, resolvera  enviar seu filho Eros, o deus do amor, para fazer com que Psiquê se apaixonasse pelo mais monstruoso dos homens. Este seria o castigo por sua beleza. Eros, que com suas flechas conseguia fazer com que qualquer um se apaixonasse pela primeira pessoa que passasse em sua frente, acabou por se enfeitiçar e por se apaixonar pela bela Psiquê.

Psiquê, sabendo que devia cumprir a profecia, vai sozinha à beira de um abismo para esperar pelo monstro desconhecido. Este monstro a aborda no escuro e com uma voz maravilhosa a acalma. A esse amante misterioso, ela se entrega. Seu marido sempre vinha quando já estava escuro e antes de amanhecer ele partia. Entre eles só havia uma combinação que devia ser rigorosamente seguida: Psiquê não poderia nunca vê-lo.

Certa noite, descumprindo o combinado, Psiquê o vê e se deslumbra: a fera que o oráculo previra nada mais era que o mais lindo dos deuses – era o deus do amor! Eros, ao se dar conta de que a princesa havia descumprido o trato, lança-lhe um castigo: eles nunca mais poderiam se ver.

A princesa fica completamente desesperada e sua vida toda ruiu. Ela sai vagando pelo mundo em busca de seu amado. Um dia Psiquê encontra a deusa Vênus e lhe implora pela volta de Eros. A deusa, sem nenhuma vontade de ajudar, lhe impõe tarefas impossíveis, mas Psiquê consegue cumpri-las, após uma série de peripécias.

Por fim, Eros pressente que sua princesa corre riscos e foge ao seu encontro. Com a ajuda de Zeus, o pedido de casamento acaba por ser aceito por Vênus e  Psiquê se casa com Eros, se tornando também uma deusa. Deste casamento nasce uma linda filha chamada Prazer.

 

O prazer nasce do encontro entre Eros e Psiquê

O mito nos mostra que, para que Eros encontre Psiquê, uma odisséia precisa ser vencida. O amor não se dá espontaneamente, no sentido de que o enamoramento é um processo que envolve a voz, o olhar, a paixão e as determinações do oráculo.

A partir da intervenção clínica, foi possível que o amor nascesse também na relação entre Eduardo e sua mãe. Ao dar sentido para os movimentos de Eduardo, a psicanalista cria as condições de sustentação para que esta relação pulsional, amorosa, entre a mãe e o bebê possa ser estabelecida.

Em um determinado momento, a mãe de Eduardo conta que ela e seu marido decidiram retornar para a sua cidade de origem – local onde moram seus pais. Esta decisão, que fará com que o tratamento termine, possibilitará, entretanto, que eles se reaproximem de um entorno que agora lhes parece necessário.

Chega então a última sessão. Eduardo, que já está com sete meses, vem acompanhado do pai e da mãe. De uma forma muito bonita, ao longo da sessão o pai vai segurando o bebê de forma que ele fique cada vez mais voltado para sua mamãe. Apoiada pelo marido, a mãe consegue propor brincadeiras e Eduardo se diverte muito, solicitando que a mãe as repita diversas vezes. Um jogo se instala entre eles pela primeira vez. Então, como que para se despedir e agradecer à psicanalista pelo trabalho que ela desenvolvera, Eduardo sentado no colo do pai, estende os braços e segura o rosto da mãe na frente do dele. Faz-lhe um carinho e coloca a mão na sua boca. A mãe o pega no colo e eles seguem a brincadeira, em um grande júbilo.

Assim, enfrentando os diversos desafios e desencontros próprios da relação humana, o enlace pode ser feito. E aqui, também parece que o prazer nasceu.

 

A relação entre gozo e prazer

Laznik (2010) apontou o papel do gozo na constituição do sujeito, desde os primeiros momentos da vida, no laço que vai se construir entre o bebê e o Outro, apoiando-se na teoria lacaniana. No Seminário 17, Lacan (1969-1970, 1992) já ressaltara um outro lado do gozo que, em pequenas doses, é necessário. Ali, ele fazia uma báscula da mãe à mulher: “a mãe ensina seu pequeno a se exibir. Ela conduz ao mais-de-gozar porque ela mergulha suas raízes, ela, a mulher, como a flor, no gozo mesmo” (p.74). Sem mergulhar nesta dimensão do gozo do Outro, não há entrada na sexualidade infantil, não há acesso às pulsões parciais, não há entrada no campo do desejo.

O que move todo este processo é o investimento libidinal materno, isto é, que a mãe se envolva também corporalmente neste processo, do ponto de vista das suas próprias pulsões, de “eros”. É do desejo desta mãe enquanto mulher que se trata, e não apenas de sua presença amorosa de mãe encantada com o falo, que seu filho pode ser como complemento imaginário de sua história edípica. Lacan (1979) já distinguira o campo das pulsões do campo narcísico do amor, permitindo entender, respectivamente, o surgimento do desejo e do narcisismo.

Assim, no que se refere à depressão materna, o risco que se apresenta para o bebê no seu laço com uma mãe depressiva está tanto no plano da falta de amor por si só, quanto na falta de investimento erógeno. Por outro lado, como não se trata de um bebê que apresente um fechamento próprio do encaminhamento autista, o bebê quer enganchar-se neste campo de gozo, disponível para o Outro. É a falta de um parceiro que vai embrenhá-lo também em um fechamento, desta vez decorrente de uma depressão, o que pode ter sérias consequências para sua constituição psíquica.

É neste sentido que uma intervenção a tempo pode descortinar para o par mãe/bebê um outro caminho que não o do desencontro, como pudemos demonstrar com o caso de Eduardo. A analista deu sustentação para que a mãe pudesse entrar em relação com seu bebê, autorizando-a como mãe e apontando – a partir de seu próprio envolvimento transferencial e de suas intervenções no sentido das trocas prazerosas – o interesse do bebê pela dimensão pulsional das trocas erógenas.

Para concluir, cabe ressaltar o marco do amor materno na vida de um bebê: trata-se da pedra angular da trajetória sexual e amorosa. É nos meandros desta relação, que passa de real a pulsional e narcísica, pela obra das palavras e do desejo, que aprendemos a amar, em todos os sentidos do termo. E é isso que faz a vida valer à pena!

 

Referências

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WINNICOTT, D.W. (1949). The children and the family. Londres: Tavistock Publications, 1957.         [ Links ]

 

 

Endereço para correspondência
45, Rue de Richelieu
75001 - Paris/França
Tel:00(xx)331-42615972
E-mail: mclaznik@club-internet.fr

Recebido: 14/03/2011
Aprovado: 04/04/2011

 

 

Sobre as Autoras

Leda Mariza Fischer Bernardino
Psicanalista, analista membro da Associação Psicanalítica de Curitiba e da Association Lacanienne Internationale, professora titular da PUC-PR, autora dos livros “As psicoses não decididas na infância – um estudo psicanalítico” (Casa do Psicólogo, 2004) e “O que a psicanálise pode dizer sobre a criança, sujeito em constituição” (Escuta, 2006). End.: Av. do Batel, 1920/210 – 80420-090 Curitiba – PR. Email: ledber@terra.com.br. Telefone: (41)3242-2993.

Marie Christine Laznik
Psicanalista, doutora em psicanálise, analista membro da Association Lacanienne Internationale, co-coordenadora da pesquisa Pré-Aut na França, psicanalista do Centre Alfred Binet, professora convidada de Paris 13. Autora, entre outros, dos livros “O que a psicanálise pode dizer sobre o autismo” (Ágalma, 1991) e “Rumo à palavra – três crianças autistas em psicanálise” (Escuta, 1997), “A voz da Sereia. O autismo e os impasses da constituição do sujeito”. (Ágalma, 2004). End: 45, Rue de Richelieu. 75001, Paris. França. Tel:00(xx)33142615972. E-mail: mclaznik@club-internet.fr.

Gabriela Xavier de Araújo
Psicóloga, doutoranda do Programa de Pós-graduação em Psicologia Escolar e do Desenvolvimento Humano do IPUSP em cotutela com a Université Paris 7, bolsista FAPESP. End: Al. Casa Branca, 799/53 – 01408-001 São Paulo/SP email: gabrieladearaujo@usp.br. Tel: (11) 75008862