SciELO - Scientific Electronic Library Online

 
 número36O traumático e o trabalho psicanalítico: uma reflexão sobre o lugar do analistaA metapsicologia do masoquismo em Freud e Laplanche índice de autoresíndice de assuntospesquisa de artigos
Home Pagelista alfabética de periódicos  

Estudos de Psicanálise

versão impressa ISSN 0100-3437

Estud. psicanal.  no.36 Belo Horizonte dez. 2011

 

 

Terapêutica e desejo de saber: o jovem Freud e sua formação médica

 

Therapeutics and the desire to know: the young Freud and his medical training

 

 

Cristina Moreira MarcosI; Ednei Soares de Oliveira JuniorII

I Universidade Paris 7
II Pontifícia Universidade Católica - PUC-MG

Endereço para correspondência

 

 


RESUMO

O posicionamento particular de Freud frente a sua formação médico-universitária evidencia uma tensão entre os elementos da pesquisa e de tratamento. Tais elementos são fundamentais para o nascimento da psicanálise. Se, por um lado, desde a universidade, o desejo de saber freudiano assume consequências cada vez mais primordiais no desenvolvimento da teoria e prática psicanalíticas, ultrapassando sua mera finalidade terapêutica, por outro lado, Freud jamais ignorou o fato de que a psicanálise é um método de tratamento e deve a isso seu desenvolvimento. Entre a formação universitária, a pesquisa científica e o método de tratamento, o desejo de Freud confirma uma tensão que marca a singularidade da psicanálise enquanto uma práxis.

Palavras-chave: Freud, Terapêutica, Medicina, Desejo de saber, Psicanálise, Tratamento psicanalítico, Universidade, Ciência.


ABSTRACT

Freud´s particular positioning in his medical university background highlights a tension between research and therapeutical elements’. These elements are fundamental when coming to the birth of psychoanalysis. Since Freud´s university education, his desire to know products great consequences to the development of psychoanalytic theory and practice that goes beyond its therapeutic purposes. On the other hand, Freud never ignored the fact that psychoanalysis is a method of treatment and owed its development to the contact with patients. Among university education, scientific research and treatment method, Freud´s desire confirms a tension that marks the uniqueness of psychoanalysis as a practice.

Keywords: Freud, Therapeutics, Medicine, Desire to know, Psychoanalysis, Psychoanalytic treatment, University, Science.


 

 

O jovem doutor Freud, ao começar seu exercício médico, daria início ao mesmo nutrido dos ideais da eficácia terapêutica, esforçando-se, naquele primeiro momento, em colocar em prática os meios mais adequados para aliviar e curar seus doentes.

Ao localizar a formação médica freudiana, vemos que a dedicação pessoal do então jovem médico em organizar seu fazer clínico, seus achados teóricos e suas inovações técnicas está sempre arraigada a um profundo desejo de saber mas, também, às expectativas dos resultados de sua clínica, ou seja, seus efeitos terapêuticos. Embora suas pesquisas e inovações viessem adquirir consequências cada vez maiores no sentido de distingui-las de uma terapêutica, foi partindo do intuito de tratar as perturbações da saúde e o desconforto de seus pacientes que a invenção deste singular médico de Viena, nascida aos fins do século XIX, constituiu-se.

Renato Mezan (1996), ao contextualizar “Viena e as origens da psicanálise”, aponta-nos “um extraordinário desenvolvimento cultural (…) no período compreendido entre, digamos, 1870 e 1914 – período que coincide com a juventude e com a maturidade de Freud”. (MEZAN, 1996, p.77-78). O ambiente cultural em questão, engajado pela “revolta contra o positivismo”, envolvia uma geração – a geração de 1890 - que se constituiu, segundo Mezan (1996, p.93), não só pelo pensamento filosófico, como também se materializou na literatura, nas artes e na música. Para ele, tal desenvolvimento cultural era animado, tanto por uma atenção ao “mundo interior” humano quanto por “uma interrogação sobre o que escapa à razão e à medida, além de uma crítica ao positivismo como Weltanschauung”. (MEZAN, 1996, p.83-84). Mezan (1996) acentua que “a base cultural sobre a qual Freud edificou a psicanálise não é, de modo algum, restrita à atmosfera criativa” (MEZAN, 1996, p. 90), sendo, sim, o horizonte da formação de Freud, o de um “alemão cultivado, em termos de cultura geral”, ou seja, de uma vertente científica constituída pelo “evolucionismo de Darwin e o positivismo de origem francesa, incorporados ao credo comum ao qual também Freud aderiu” (MEZAN, 1996, p.90).

Segundo Peter Gay (1989), “o positivismo havia prosperado no século XIX, com as vitórias espetaculares da física, da química, da astronomia – e da medicina. (…) Quando Freud estudou em Viena, os positivistas tinham o comando” (GAY, 1989, p.48). Naquele momento, os expoentes do positivismo, entre outros mais célebres, eram os professores de Freud em Viena. (MEZAN, 1996, p.92). Segundo Mezan, “vinha da Alemanha (…) a maioria dos professores que abrilhantavam o corpo docente da universidade de Viena naquela época”. (MEZAN, 1996, p.89).

Foi por esse espírito positivista da ciência europeia presente na Viena do jovem Freud, que este estudante cultivaria tanto sua inspiração e sua formação, como também sua desconfiança. Vivendo dentro daquela atmosfera de busca de compreensão, conhecimento e sentido da natureza, logo na segunda metade do século XIX, o ainda jovem estudante do liceu em Viena, Sigmund Freud, alia-se a esse espírito científico.

Se a medicina moderna havia se constituído neste saber em que o homem se fez, ele próprio, objeto (natural) do discurso científico, Freud, desde cedo, seria movido por essa grandiosa aspiração, mas seu desejo aponta para um “conhecer-se a si mesmo”. Foi, assim, que escreveu ao amigo Emil Fluss em setembro de 1872: “Agrada-me apreender a espessa tessitura de fios encadeados que o acaso e o destino teceram em torno de todos nós” (FREUD apud GAY, 1989, p.41). Verificamos, aqui, a existência de algo que sempre exigirá de Freud uma inquietação do ponto de vista investigativo, que ultrapassa meros objetivos médicos ou curativos.

Freud reconhecia que a “natureza” que mais avidamente queria entender era a humana. Mais de cinquenta anos depois, em 1924, no seu Estudo Autobiográfico, constata-se que a ânsia de conhecimento deste adolescente estava, segundo ele mesmo, “mais dirigida para os assuntos humanos do que para os objetos naturais” (FREUD, 1976, p.18). Mais do que conhecer “os objetos naturais” colocados como tarefa à medicina, o adolescente vienense almejava para si uma tarefa ousada: alcançar, a partir de um conhecimento humano, o entendimento do denso mecanismo de que se constituem os homens.

Dos ideais de progresso científico que compunham a atmosfera de Viena, emergia toda uma abundância de disciplinas científicas e suas prósperas chances de conhecer os fenômenos do homem e da natureza. Freud respirava este ar promissor, embora não reconhecesse nele uma garantia segura ao que queria conhecer. É com esse caráter que Freud (1976) explicitou seu desejo pela carreira médica:

meu pai insistiu que, na minha escolha de uma profissão, devia seguir somente minhas próprias inclinações. Nem naquela época, nem mesmo depois, senti qualquer predileção particular pela carreira de médico. Fui, antes, levado por uma espécie de curiosidade. (FREUD, 1976, p.18).

Ora, essa curiosidade, signo do desejo de Freud, exercerá função fundamental para o desenvolvimento da psicanálise. Conforme afirmou Cottet (1990), “A curiosidade de Freud, sua avidez, sua insaciável demanda, que lhe asseguram sempre a manutenção de sua insatisfação”. (COTTET, 1990, p.29).

Em 1873, mesmo tímido quanto às condições para formalizar as questões que lhe surgiam, ele já parece sugerir um impasse epistemológico sobre a insuficiência dos saberes existentes para sua ambicionada tarefa. O jovem Freud afirma: “A grandeza do mundo reside na multiplicidade das possibilidades, mas, infelizmente, não é uma base sólida para o nosso autoconhecimento”. (FREUD apud GAY, 1989, p.41).

A suspeita deste jovem do século XIX em relação ao conhecimento que receberia na universidade anteciparia sua comprovação no século XX: “Quando, em 1873, ingressei na universidade, experimentei desapontamentos consideráveis”. (FREUD, 1976, p.19).

Foi em busca de sua compreensão do mundo que grandes nomes como Darwin, Goethe, assim como o futuro professor de Freud, Carl Brühl, importante especialista em anatomia comparada, que lecionava zootomia na Universidade de Viena, marcariam aquele adolescente de maneira fascinante, ocasionando sua escolha pela medicina. Segundo Assoun, este curso “ministrado pelo Dr. Carl Brühl, provocou em Freud, segundo seus próprios termos, uma espécie de intuição totalizadora, que exprimia sua busca de uma ‘compreensão do universo’ (Weltverständnis)”. (ASSOUN, 1978, p.11). Assim, decidido a se tornar médico, aos 17 anos, Freud ingressou na Universidade de Viena no curso de Medicina, que só terminaria em 1885, aos 25 anos de idade. Sobre a escolha pela medicina, dirá Freud, em 1924, no seu Estudo autobiográfico:

as teorias de Darwin, que eram então de interesse atual, atraíram-me fortemente, pois ofereciam esperanças de extraordinário progresso em nossa compreensão do mundo; e foi ouvindo o belo ensaio de Goethe sobre a Natureza, lido em voz alta numa conferência popular pelo professor Carl Brühl, pouco antes de eu ter deixado a escola, que resolvi tornar-me estudante de medicina. (FREUD, 1924/1976, p.19).

O desejo de saber que se sobrepõe à decisão por essa carreira determina que “Freud, conforme ele mesmo confessa, tenha sentido necessidade de um estimulante especulativo para abraçar a ciência médica”. (ASSOUN, 1978, p.12). Ao se programar para o percurso universitário, ele já anunciava ao amigo Eduard Silberstein: “Quanto ao primeiro ano na universidade, vou dedicá-lo inteiramente ao estudo de temas humanísticos, que não têm absolutamente nada a ver com minha futura profissão, mas que não serão inúteis para mim”. (FREUD apud GAY, 1989, p.43).

Um exemplo pode ser dado quanto às reuniões de Filosofia1 na Universidade de Viena. Assoun afirma que Freud “foi particularmente assíduo a essas reuniões, institucionalmente facultativas, que se acrescentavam a um ensino científico já pesado”. (ASSOUN, 1978, p.13). Esta aposta do jovem estudante nos “temas humanísticos” se dá como se

Freud procurasse nelas, se não um substitutivo para o espírito estritamente positivo, pelo menos uma expatriação (dépaysement), como já se revelassem, aqui, uma necessidade e uma busca fundamentais. (ASSOUN, 1978, p.13).

Essa atitude nos leva ao testemunho do próprio Freud: “Eu era realmente negligente em meus estudos médicos”. (FREUD, 1976, p.20). Ao mesmo tempo em que o jovem Freud investiria em sua “expatriação” do espírito científico estritamente positivo, em seus estudos de Medicina na Universidade de Viena, ele também seguiria firmemente uma orientação científico-natural. Ao situar esse modelo de ciência (Naturwissenschaft) na formação de Freud, Assoun afirma: “Freud, na aparência, não conhece outra forma de ciência”. (ASSOUN, 1983, p.48).

É importante sublinhar que as disciplinas não médicas a que Freud se direcionaria “continuam a desempenhar sua função necessária, como uma espécie de denominador comum dos esforços variados que o impulsionam nas diversas direções científicas”. (ASSOUN, 1978, p.13). Por isso, a formação facultativa do jovem estudante por temas humanísticos se dava “paralelamente a um ensino científico cada vez mais especializado, e na medida em que se afirma seu gosto pela física e pela biologia”. (ASSOUN, 1978, p.13). Sobre isso, Lacan assevera:

Dizemos, ao contrário do que se inventa sobre um pretenso rompimento de Freud com o cientificismo, que foi esse mesmo cientificismo (…) que conduziu Freud, como nos demonstram seus escritos, a abrir a via que para sempre levará seu nome. (LACAN, 1998, p.871).

Sem correr o risco de uma excessiva contextualização frente a dados biográficos sobre Freud, o que tenderia a uma hermenêutica de textos ou a um relativismo demasiado sobre o “cientificismo de Freud” (MILNER, 1995, p.35) e seu peculiar “assentimento conferido ao ideal da ciência” (MILNER, 1995, p.35), existem, todavia, razões mais fundamentais na ambição freudiana de uma vocação científica da psicanálise. Ao comentar sobre as vias que levaram Freud à descoberta do inconsciente, Jacques Lacan diz: “Dizemos que essa via nunca se desvinculou dos ideais desse cientificismo, já que ele é assim chamado, e que a marca que traz deste não é contingente, mas lhe é essencial”. (LACAN, 1998, p.871).

A partir da análise de Milner (1995), “é verdade que se adiciona, reconstituível nos fios dos textos freudianos, uma teoria transversal da ciência” (MILNER, 1995, p.36), mais especificamente, vinculada à conquista do universo moderno da ciência. (MILNER, 1995, p.17).

Na Faculdade de Medicina, Freud recebeu uma grande influência de seu professor de fisiologia, Ernst Wilhelm Von Brücke, com quem Freud trabalharia em experiências laboratoriais. Foi Brücke, o representante mais eminente do positivismo em Viena, quem “colocou um microscópio diante de Freud”. (ASSOUN, 1983, p.120-121). Com a orientação de Brucke, Freud estava incumbido da “observação microscópica da estrutura histológica da célula nervosa”. É nesse momento que ele entra em contato com a anatomia, ou seja, o objeto privilegiado pela ciência médica daquela época.

Em meio ao discurso da pesquisa neurofisiológica da Faculdade de Medicina, o espaço do laboratório deu a Freud a oportunidade de satisfazer seu desejo de saber, via pesquisa de laboratório. Confessaria Freud décadas mais tarde: “no laboratório de fisiologia de Ernst Brücke, encontrei tranquilidade e satisfação plena”. (FREUD, 1976, p.20). Bastante devotado a este seu mestre de juventude, que encarnava a atitude positivista (MEZAN, 1989), foi somente a conselho do próprio Brücke que Freud, finalmente, deixou o ambiente do laboratório para assumir o posto de subalterno no Hospital Geral de Viena. (GAY, 1989, p.50). Segundo Foucault, na clínica médica moderna, “o hospital, antes percebido somente como propiciador da doença, vai se tornar o lugar ideal para vê-la”. (FOUCAULT, 1963, p.25).

Dentro do Hospital Geral de Viena, Freud trabalhou durante três anos e experimentou as mais diversas especialidades médicas. Fora as doenças nervosas e a psiquiatria, ele também trabalhou nesse hospital desde a cirurgia até a dermatologia, passando pela oftalmologia e pelas doenças internas. Foi neste hospital de Viena que, da categoria de Aspirant (assistente clínico), Freud tornou-se Sekundararzt2 na clínica de psiquiatria, em 1883 e, por volta de 1885, conseguiu o cobiçado nível de Privatdozent (conferencista). (GAY, 1989, p.54). Assim, foi nos primeiros anos de 1880, no Hospital Geral de Viena, que a prática e a carreira de Freud na clínica médica se iniciaram. Sobre esse início, comenta Assoun (1983):

Essa passagem à prática, efetuada em 1882, aparece-lhe como um desenraizamento doloroso, até mesmo como um “abandono da ciência”. É assim que tem início o aprendizado no universo novo do hospital. (ASSOUN, 1983, p.125).

Embora Assoun se refira ao início da prática propriamente médica de Freud como um “doloroso” desprendimento da ciência, ao seguirmos a elaboração foucaultiana sobre a prática médica no hospital, veremos que o desejo de saber do jovem Freud pôde ser assegurado “no universo novo do hospital”, pois, no futuro, ele atribuirá grande valor ao desvendamento sintomático do doente que clama por uma decifração (FOUCAULT, 1963).

 

O mais um ideal de Freud e a clínica médica moderna

Freud fora formado no envoltório do projeto moderno explicitado por Foucault (1963), projeto esse do desaparecimento das doenças e da restauração da saúde. Embora avançado nos atributos puramente médicos de sua formação, já cedo vê-se delinear para Freud a adição de mais um desejo dentro de seus planos com a medicina. Em setembro de 1875, quando cursava seu segundo ano na faculdade de medicina, Freud fez outra declaração ao amigo Eduard Silberstein:

(…) agora tenho mais um ideal. Ao ideal teórico dos meus anos anteriores, agora se acrescentou um prático. No ano passado, se perguntassem qual era meu maior desejo, eu teria respondido: um laboratório e tempo livre, ou um navio no oceano com todos os instrumentos de que precisa um pesquisador. Agora, hesito se não deveria dizer com mais precisão: um grande hospital e muito dinheiro para diminuir alguns dos males que acometem nossos corpos ou para removê-los do mundo. (FREUD apoud GAY, 1989, p.41).

Ao longo das próximas décadas que estariam por vir, este é mais um desejo a partir do qual o que Freud idealiza para sua prática o desafiará constantemente frente a suas próprias descobertas – o Inconsciente, as resistências e as pulsões – e lhe provocará grandes impasses diante de sua invenção, a psicanálise.

Segundo Gay (1989), esse novo desejo do jovem Freud pelo trabalho de combater os males que atormentavam o ser humano e de lutar contra as doenças tinha grande valor e manifestava-se frequentemente. Quando iniciado seu trabalho dentro do Hospital Geral de Viena, trabalho já digno de um terapeuta com suas convicções de cura, em 1883, Freud confessaria em uma carta a sua noiva, a então Fraulein Martha Bernays, a futura Frau Freud:

(…) hoje cheguei à casa do meu paciente totalmente sem saber como conseguiria reunir a simpatia e a atenção necessárias para com ele, eu estava muito cansado e apático. Mas quando ele começou a se queixar (…) percebi que eu tinha uma tarefa e uma importância. (FREUD apoud GAY, 1989, p.41).

A mais uma valorosa tarefa deste Freud em formação, a terapêutica, ganharia importância crescente no trabalho desenvolvido pelo jovem médico na década que estaria por vir. O espírito da ciência médica europeia no qual Freud se inseria já era ordenado, desde a chegada da era moderna, por uma reivindicação de normalidade em torno da vida e da doença. Foi neste panorama que a psiquiatria formou-se como especialidade da medicina. (FOUCAULT, 1963).

Diante deste posicionamento, pontos de vista alternativos se originaram com o intuito de tornar as neuroses compreensíveis. Segundo Olivier Faure (2009), na história da medicina, sua designação como “moderna” dizia respeito, inicialmente, aos profissionais que se debruçavam sobre as “doenças malditas, dificilmente curáveis ou pouco prestigiosas, como a loucura”. (FAURE, 2009, p.25-26).

Frente a esse desafio e enigma, William Cullen, médico escocês, cunhara o termo “neurose” para categorizar essas inexplicáveis síndromes, na segunda metade do século XVIII:

Cullen interpretava a própria vida como uma função potencial dos nervos, e sublinhou a importância do sistema nervoso na etiologia das doenças, inventando a palavra “neurose” para descrever um grupo de doenças nervosas. (VIGARELLO; PORTER, 2009, p.469).

Não contando com a possibilidade de terem uma explicação anatômica, essas misteriosas síndromes, as então chamadas neuroses, destacaram-se. Vemos como as neuroses eram precisamente caracterizadas no ponto em que a “soberania do olhar” sobre o corpo anatômico mencionada por Foucault, encontra-se imprecisa. Cullen as definiria como aquelas “que não dependem de uma afecção tópica dos órgãos, mas de uma afecção mais geral do sistema nervoso”. (MACHADO apud CULLEN, p.7).

Ainda que o contexto no qual Cullen empregou o termo neurose levasse os pesquisadores a considerar a histeria como uma doença do sistema nervoso (CORBIN, 2009, p.220), foi com o surgimento de uma oposição mais expressiva frente ao método anatomopatológico que o conceito de neurose ganhou uma maior consideração no quadro nosográfico da psiquiatria. Diz Elisabeth Roudinesco:

A esse enigma nenhuma clínica pôde responder, pois sabemos perfeitamente que o exame anatomopatológico não fornece de modo algum a chave da histeria. E, no entanto, era preciso prová-lo: Charcot esgotou-se nisso. (ROUDINESCO, 1989, p.37).

Foi este psiquiatra, Jean-Martin Charcot, que foi considerado o maior responsável pelo desenvolvimento dos estudos das neuroses como entidades inexplicáveis pela pesquisa anatômica.

Ao final de seus estudos, ainda trabalhando no Hospital Geral de Viena, Freud já planejava sua carreira clínica, assim como já começara a se dedicar à psiquiatria, apesar de ainda manter a continuidade das suas pesquisas anatômicas. Para o jovem médico que almejava o cargo de Privatdozent no Hospital Geral de Viena, a pesquisa anatômica não significava nenhum avanço e, assim, ele se dedica cada vez mais ao estudo de doenças nervosas. (GAY, 1989, p.58-59). Neste momento, “os mistérios da mente humana vinham absorvendo cada vez mais a sua atenção”. (GAY, 1989, p.58). Guiado por estes mistérios e por sua curiosidade característica, Freud se interessou pelas neuroses, essas incompreensíveis doenças que o discurso científico e a clínica médica não estavam conseguindo decifrar.

Foi deste modo que ele, em 1885, conseguiu sua bolsa de estudos para fazer um estágio no hospital parisiense Salpêtrière, com Charcot. Obviamente, Freud estava norteado por Charcot, este nome que já brilhava no tratamento das neuroses.

E se, segundo Assoun (1983), “É em Paris, no hospital Salpêtrière, que se opera uma mudança decisiva” (ASSOUN, 1983, p.132), é porque, para Freud, “o banho clínico tomado no Salpêtrière torna bruscamente abstrato o modelo neuropatológico” (ASSOUN, 1983, p.133) e faz com que ele vá “abandonar quase totalmente seus estudos microscópicos para tornar-se um puro clínico”. (ASSOUN, 1983, p.132).

A possibilidade de cura da histeria apresentada por Charcot no Salpêtrière, por meio da sugestão hipnótica direta, dá o impulso necessário ao interesse do jovem Freud pela clínica. Daí seguir-se a afirmação de Assoun: “Eis a aquisição essencial de sua viagem parisiense: a descoberta da clínica”. (ASSOUN, 1983, p.132). Verifica-se que, fortemente induzido pelo entusiasmo colhido deste estágio com Charcot, Freud se relacionará com a terapêutica e com a clínica. Naquele momento, a clínica ofereceria a Freud grandes chances de realização de seu mais caro ideal, o da eficácia terapêutica.

De fato, dentre os textos que foram produzidos por Freud no período posterior ao seu regresso de Paris, veremos seu interesse pela terapêutica claramente manifestado. Nos chamados textos “Pré-psicanalíticos”3 de Freud, constam resenhas para periódicos médicos, prefácios de livros de autores que se interessavam pelo campo do tratamento das neuroses e escritos com suas primeiras elaborações e críticas. Dentre tais críticas, fica evidente o julgamento de Freud sobre a formação médica da época e sobre sua forma de abordar as neuroses (histeria e neurastenia).

É importante que se faça uma ponderação sobre a definição de psicoterapia no período, aqui, considerado. Nos textos freudianos, essa definição não diz respeito ao que se reconhece, atualmente, como psicoterapia. No momento em questão, as diferentes psicoterapias situam-se numa denominação mais comum, que compreende um largo campo composto por várias técnicas e práticas curativas e que, nos textos de Freud, estendem-se desde “tratamentos revigorantes” (FREUD, 1976), e passam por diversas técnicas, dentre as quais se situam práticas de repouso, massagem, magnetismo, hidroterapia e eletroterapia. (FREUD, 1976). Enfim, neste momento, a psicoterapia refere-se, portanto, ao domínio das técnicas, meios ou processos práticos que visam à eficácia em relação à eliminação do sintoma.

Aliás, ao tomarmos um dos primeiros artigos de Freud sobre tratamento, Psychische Behandlung (Seelebehandlung), publicado, em 1890, no manual de medicina em Die Gesundheit, vê-se a defesa e a formalização do “tratamento psíquico’’, aquele que busca tratar “seja de perturbações anímicas ou físicas - por meios que atuam, em primeiro lugar e de maneira direta, sobre o que é anímico4 no ser humano”. (FREUD, 1976, p.297). Mais do que se firmar como um método terapêutico como os demais, segundo Christian Dunker, Psychische Behandlung, de Freud, “é certamente um dos textos fundadores da psicoterapia tal como a conhecemos hoje”. (DUNKER, 2008, p.223).

No entanto, outras descobertas farão contraponto ao entusiasmo terapêutico de Freud. Questões como a etiologia sexual das neuroses, libido e resistência começariam a se esboçar, concomitantemente ao interesse freudiano pela terapêutica. Tratam-se de questões decisivas que permitiram a Freud uma nova visão a respeito das finalidades do tratamento psicanalítico e que o distanciaram daquela jovem sedução e fascínio pelos efeitos terapêuticos.

A escuta das histéricas como signo do constante desejo de Freud em “(…) descobrir um segredo, obter uma confissão” (COTTET, 1990, p.27), atualiza-o, pois revela um saber que a histérica detinha, o sexual. Mesmo que a descoberta da etiologia sexual da histeria trouxesse a Freud implicações severas5 em vista de seu desejo, ele não recuou, mas fez desse acontecimento desagradável seu ponto de partida.

Diante isso, ao percorrermos estes textos pré-psicanalíticos, percebemos também que o entusiasmo freudiano pela terapêutica foi, pouco a pouco, apagando-se e, ainda cedo, Freud reconhece alguns limites de sua abordagem, tais como, por exemplo,

o subjugamento do inconsciente não pode ser completo e a oposição entre ego e conteúdos sexuais infantis é perene. (…) o ego aqui já apresenta alguns sinais de que não é completamente aliado do tratamento. (DUNKER; PERON, 2002, p.86).

Aquele romantismo freudiano anterior o havia feito criar para si mesmo o ideal fixo de afastar dos pacientes suas dores. Não se afastando de sua intenção, Freud procurou extrair das técnicas que poderiam lhe garantir cumprir com sua meta, o alívio daquelas ainda indeterminadas entidades nosológicas, as neuroses. Todavia, tudo aquilo que vai sendo depositando sobre o fundo da experiência clínica de Freud com as histéricas assumirá, para ele, um estatuto importante a respeito dos limites da curabilidade.

Contrariamente aos emaranhados de seus jovens devaneios com “um grande hospital e muito dinheiro para diminuir alguns dos males que acometem nossos corpos ou para removê-los do mundo”, Freud encontrará, precisamente, no corpo – das histéricas – o índice de algo impossível de se remover.

A aquisição de uma verdade sobre o entendimento das forças constitutivas do sofrimento neurótico custaria a Freud, desde o começo, um preço considerável: a impossibilidade de cura. Ao seu confidente amigo Fliess, Freud não ocultou a inquietação de um possível desamparo diante da incurabilidade da histeria. Desiludido, relatou ao amigo um sonho que desdobra no receio de se ver fracassado diante da incurabilidade histérica. Aflito frente a este “sonho impossível”que insiste em enfrentar, Freud exprime a Fliess, no relato em questão, seu julgamento: “Todo o sonho estava repleto das mais mortificantes alusões a minha atual impotência como terapeuta. Talvez seja disso que deriva a tendência a acreditar que a histeria é curável”. (FREUD, 1976, p.283).

A partir da leitura dos textos freudianos que passariam a ser produzidos posteriormente à pré-psicanálise, pode-se verificar como Freud problematizou o componente terapêutico e como localizou, durante o desenvolvimento da teoria psicanalítica, algo que resiste à cura.

Lembramos que a investigação freudiana depara-se - de forma longitudinal na obra - com a gênese dos sintomas, que traz uma trama de elementos delineadores de um núcleo que se opõe à cura durante o tratamento. No decorrer da teorização de Freud, este núcleo se constitui através de descobertas e torções teóricas que rearranjam a conceitualização desses elementos, entre os quais figuram resistência, compulsão à repetição e pulsão de morte.

Entretanto, em sua última década de vida, Freud continuaria a afirmar as relações entre o nascimento da psicanálise e a psicoterapia e, quanto ao seu pioneirismo, pouparia modéstia:

Como método de tratamento, é um método entre muitos, embora seja, para dizer a verdade, primus inter pares. Se não tivesse valor terapêutico, não teria sido descoberto, como o foi, em relação a pessoas doentes, e não teria continuado desenvolvendo-se por mais de trinta anos. (FREUD, 1976, p.191).

Ainda que o inventor da psicanálise afirme o alto grau de sua eficiência terapêutica, tem-se, na mesma medida, um Freud comedido em torno dos êxitos desta aplicação: “seus sucessos terapêuticos não constituem motivo nem de orgulho, nem de vergonha”. (FREUD, 1976, p.185). Dada a heterogeneidade deste tipo de resultado, orientou Freud: “É mais correto examinar as próprias experiências do indivíduo”. (FREUD, 1976, p.185). Tornar a originalidade da prática analítica legítima não se faz verificável através do sucesso terapêutico, mas, sim, na prova única do próprio sujeito na experiência analítica. Freud nos lembra que essa experiência se dá a partir de um tratamento:

Como sabem, a psicanálise originou-se como método de tratamento; ela o desenvolveu muito, mas não abandonou seu chão de origem e ainda está vinculada ao seu contato com os pacientes para aumentar sua profundidade e se desenvolver mais. As informações acumuladas, de que derivamos nossas teorias, não poderiam ser obtidas de outra maneira. (FREUD, 1976, p.185).

 

Referências

ASSOUN, P.-L. Freud a filosofia e os filósofos. Rio de Janeiro: Francisco Alves, 1978.         [ Links ]

ASSOUN, P.-L. Introdução à epistemologia freudiana. Rio de Janeiro: Imago, 1983.         [ Links ]

ASSOUN, P.-L. O freudismo. Rio de Janeiro: Jorge Zahar, 1991.         [ Links ]

BERCHERIE, P. Os fundamentos da clínica história e estrutura do saber psiquiátrico. São Paulo: Jorge Zahar, 1989.         [ Links ]

BREGER, L. Freud o lado oculto do visionário. São Paulo: Manole, 2002.         [ Links ]

CLAVREUL, J. Ordem médica: poder e impotência do discurso médico. São Paulo: Brasiliense, 1983.         [ Links ]

CORBIN, A. O encontro dos corpos. In: CORBIN, A.; COURTINE, J.-J.; VIGARELLO, G. (Orgs.). História do corpo: da Revolução à Grande Guerra. Petrópolis: Vozes, 2009. v.2. p.181-266.         [ Links ]

COTTET, S. Freud e o desejo do psicanalista. Rio de Janeiro: Jorge Zahar, 1990.         [ Links ]

DUNKER, C.; PERON, P. Usos e sentidos da cura na psicanálise de Freud. Percurso, São Paulo, v.15, n.28, p.83-98, 2002.         [ Links ]

DUNKER, C. Arqueologia da Psicanálise: o problema da cura. In: SAFATLE, Vladimir; MANZI, Ronaldo (Org.). A Filosofia após Freud. São Paulo: Humanitas, 2008, v.1, p.223-234.         [ Links ]

FAURE, Olivier. O olhar dos médicos. In: CORBIN, A.; COURTINE, J.-J.; VIGARELLO, G. (Orgs.). História do corpo: da Revolução à Grande Guerra. Petrópolis: Vozes, 2009. v.2. p.13-55.         [ Links ]

FERREIRA, A. B. de H. Novo Aurélio Século XXI: o dicionário da língua portuguesa. Rio de Janeiro: Nova Fronteira, 1999.         [ Links ]

FOUCAULT, M. O nascimento da clínica. Rio de Janeiro: Forense Universitária, 1998.         [ Links ]

FREUD, S. (1900). A interpretação dos sonhos. In: FREUD, S. Edição Standard Brasileira das obras psicológicas completas de Sigmund Freud. Rio de Janeiro: Imago, 1976, v.4-5.         [ Links ]

FREUD, S. (1920). Além do princípio do prazer. In: FREUD, S. Edição Standard Brasileira das obras psicológicas completas de Sigmund Freud. Rio de Janeiro: Imago, 1976, v.18, p.13-88.         [ Links ]

FREUD, S. (1925). Algumas notas adicionais sobre a interpretação de sonhos como um todo. In: FREUD, S. Edição Standard Brasileira das obras psicológicas completas de Sigmund Freud. Rio de Janeiro: Imago, 1976, v.19, p.155-173.         [ Links ]

FREUD, S. (1937). Análise terminável e interminável. In: FREUD, S. Edição Standard Brasileira das obras psicológicas completas de Sigmund Freud. Rio de Janeiro: Imago, 1976, v.23, p.239-287.         [ Links ]

FREUD, S. (1926). A questão da análise leiga. In: FREUD, S. Edição Standard Brasileira das obras psicológicas completas de Sigmund Freud. Rio de Janeiro: Imago, 1976, v.20, p.205-285.         [ Links ]

FREUD, S. (1932). Conferência 34. In: FREUD, S. Edição Standard Brasileira das obras psicológicas completas de Sigmund Freud. Rio de Janeiro: Imago, 1976, v.22, p.167-191.         [ Links ]

FREUD, S. (1887). Duas breves resenhas. In: FREUD, S. Edição Standard Brasileira das obras psicológicas completas de Sigmund Freud. Rio de Janeiro: Imago, 1976, v.1, p.61-62.         [ Links ]

FREUD, S. (1892). Esboço para Comunicação Preliminar de 1893. In: FREUD, S. Edição Standard Brasileira das obras psicológicas completas de Sigmund Freud. Rio de Janeiro: Imago, 1976, v.1, p.166-174.         [ Links ]

FREUD, S. (1895). Estudos sobre histeria. In: FREUD, S. Edição Standard Brasileira das obras completas de Sigmund Freud. Rio de Janeiro: Imago, 1976, v.2, p.13-59.         [ Links ]

FREUD, S. (1892-1899). Extratos de documentos dirigidos a Fliess: Carta 70. In: FREUD, S. Edição Standard Brasileira das obras psicológicas completas de Sigmund Freud. Rio de Janeiro: Imago, 1976, v.1, p.281-283.         [ Links ]

FREUD, S. (1905). Fragmentos da análise de um caso de histeria. In: FREUD, S. Edição Standard Brasileira das obras psicológicas completas de Sigmund Freud. Rio de Janeiro: Imago, 1976, v.7, p.5-119.         [ Links ]

FREUD, S. (1891). Hipnose. In: FREUD, S. Edição Standard Brasileira das obras psicológicas completas de Sigmund Freud. Rio de Janeiro: Imago, 1976, v.1, p.125-133.         [ Links ]

FREUD, Sigmund. (1888). Histeria. In: FREUD, Sigmund. Edição Standard Brasileira das obras psicológicas completas de Sigmund Freud. Rio de Janeiro: Imago, 1976, v.1, p.65-83.         [ Links ]

FREUD, S. (1918). Linhas de progresso na terapia analítica. In: FREUD, S. Edição Standard Brasileira das obras psicológicas completas de Sigmund Freud. Rio de Janeiro: Imago, 1976, v.17, p.199-211.         [ Links ]

FREUD, S. (1923). Observações sobre a teoria e a prática da interpretação de sonhos. In: FREUD, S. Edição Standard Brasileira das obras psicológicas completas de Sigmund Freud. Rio de Janeiro: Imago, 1976, v.19, p.137-152.         [ Links ]

FREUD, S. (1915). Observações sobre o amor transferencial. In: FREUD, S. Edição Standard Brasileira das obras psicológicas completas de Sigmund Freud. Rio de Janeiro: Imago, 1976, v.12, p.205-223.         [ Links ]

FREUD, S. (1923). O Ego e o Id. In: FREUD, S. Edição Standard Brasileira das obras psicológicas completas de Sigmund Freud. Rio de Janeiro: Imago, 1976, v.19, p.55-56.         [ Links ]

FREUD, S. (1929). O mal-estar na civilização. In: FREUD, S. Edição Standard Brasileira das obras psicológicas completas de Sigmund Freud. Rio de Janeiro: Imago, 1976, v.21, p.81-171.         [ Links ]

FREUD, S. (1905). Os chistes e a sua relação com o inconsciente. In: FREUD, S. Edição Standard Brasileira das obras psicológicas completas de Sigmund Freud. Rio de Janeiro: Imago, 1976, v.8, p.136.         [ Links ]

FREUD, S. (1889). Prefácio de La suggestion de Bernheim. In: FREUD, S. Edição Standard Brasileira das obras psicológicas completas de Sigmund Freud. Rio de Janeiro: Imago, 1976, v.1, p.95-108.         [ Links ]

FREUD, S. (1912). Recomendações aos médicos que exercem a psicanálise. In: FREUD, S. Edição Standard Brasileira das obras psicológicas completas de Sigmund Freud. Rio de Janeiro: Imago, 1976, v.12, p.145-159.         [ Links ]

FREUD, S. (1914). Recordar, repetir e elaborar. In: FREUD, S. Edição Standard Brasileira das obras psicológicas completas de Sigmund Freud. Rio de Janeiro: Imago, 1976, v.12, p.161-171.         [ Links ]

FREUD, S. (1889). Resenha de Hipnotismo, de August Forel. In: FREUD, S. Edição Standard Brasileira das obras psicológicas completas de Sigmund Freud. Rio de Janeiro: Imago, 1976, v.1, p.110-121.         [ Links ]

FREUD, S. (1904) Sobre a psicoterapia. In: FREUD, S. Edição Standard Brasileira das obras psicológicas completas de Sigmund Freud. Rio de Janeiro: Imago Editora, 1976, v.7, p.263-278.         [ Links ]

FREUD, S. (1905). Sobre a psicoterapia. In: FREUD, S. Edição Standard Brasileira das obras psicológicas completas de Sigmund Freud. Rio de Janeiro: Imago, 1976, v.7, p.263-278.         [ Links ]

FREUD, S. (1913). Sobre o início do tratamento. In: FREUD, Sigmund. Edição Standard Brasileira das obras psicológicas completas de Sigmund Freud. Rio de Janeiro: Imago, 1976, v.12, p.145-159.         [ Links ]

FREUD, S. (1893). Sobre o mecanismo psíquico dos fenômenos histéricos: Comunicação Preliminar. In: FREUD, S. Edição Standard Brasileira das obras psicológicas completas de Sigmund Freud. Rio de Janeiro: Imago, 1976, v.2, p.136-147.         [ Links ]

FREUD, S. (1890). Tratamento psíquico (ou anímico). In: FREUD, Sigmund. Edição Standard Brasileira das obras psicológicas completas de Sigmund Freud. Rio de Janeiro: Imago, 1976, v.7, p.259-279.         [ Links ]

FREUD, S. (1909). Troisième leçon. In: FREUD, S. Cinq leçons sur la psychanalyse Paris: Payot, 1977. p.44-45.         [ Links ]

FREUD, S. (1923). Uma neurose demoníaca do século XVII. In: FREUD, S. Edição Standard Brasileira das obras psicológicas completas de Sigmund Freud. Rio de Janeiro: Imago, 1976, v.19, p.91-138.         [ Links ]

FREUD, S. (1892-1893). Um caso de cura pelo hipnotismo. In: FREUD, S. Edição Standard Brasileira das obras psicológicas completas de Sigmund Freud. Rio de Janeiro: Imago, 1976, v.1, p.175-191.         [ Links ]

FREUD, S. (1925). Um estudo autobiográfico. In: FREUD, Sigmund. Edição Standard Brasileira das obras psicológicas completas de Sigmund Freud. Rio de Janeiro: Imago, 1976, v.20, p.13-92.         [ Links ]

GUNTRIP, H. A cura da mente enferma. Rio de Janeiro: Zahar, 1967.         [ Links ]

KUPERMANN, D. Dor e cura na constituição da clínica freudiana: um ensaio sobre o primeiro Freud. Percurso. São Paulo, n.18, p.97-103, 1° semestre/1997.         [ Links ]

MEZAN, R. Viena e as origens da psicanálise. In: PERESTRELLO, M. A formação cultural de Freud. Rio de Janeiro: Imago, 1996. p.73-105.         [ Links ]

LACAN, J. A ciência e a verdade. In: Escritos. Rio de Janeiro: Jorge Zahar, 1998, p.869-892.         [ Links ]

MILNER, J.-C. L'oeuvre Claire. Paris: Éditions du Seuil, 1995.         [ Links ]

PERON, P. R. Da sugestão à análise da transferência: a noção de cura psicanalítica no início da obra freudiana. Mental, Barbacena, n.2, p.35-53, Jun./2004.         [ Links ]

ROUDINESCO, E. História da Psicanálise na França: A Batalha dos Cem Anos, v.1: 1885-1939. Rio de Janeiro: Jorge Zahar, 1989.         [ Links ]

SCHORSKE, C. Viena Fin-de-Siécle: política e cultura. São Paulo: Companhia das Letras; Campinas: Unicamp, 1991.         [ Links ]

TRILLAT, É. História da histeria. São Paulo: Escuta, 1991.         [ Links ]

 

 

Endereço para correspondência
Cristina Moreira Marcos
Rua Pachoal Carlos Magno, 68 – Ouro Preto
31310-510 – Belo Horizonte/MG
Tel.: (31)3498-4182
E-mail: cristinammarcos@gmail.com.br

Ednei Soares de Oliveira Junior
Rua Equador, 190/201 – São Pedro
30330-390– Belo Horizonte/MG
Tel.: (31)3047-3665
E-mail: soares.ednei@yahoo.com.br

Recebido: 01/08/2011
Aprovado: 28/09/2011

 

 

Sobre os Autores

Cristina Moreira Marcos
Psicanalista. Docente do Programa de Pós-Graduação em Psicologia da PUC-Minas. Doutora em Psicopatologia Fundamental e Psicanálise pela Universidade de Paris 7.

Ednei Soares de Oliveira Junior
Psicanalista. Mestre em Psicologia pela PUC-Minas.

 

 

1Seguindo este exemplo, Paul-Laurent Assoun (1978) examina o contato de Freud, em seus primeiros anos de formação, com a Filosofia: “é de modo inesperado, no interior da Faculdade de Medicina, bastião da ciência natural, que Freud se põe em contato com a metafísica”. (ASSOUN, 1978, p.12). Assoun (1978) se debruça principalmente sobre a frequência de Freud nas aulas do filósofo Franz Bretano: “Ninguém duvida de que, no espírito de Freud, através desse ensino paralelo e facultativo, surja uma necessidade. Os fatos falam por si mesmos: durante o quarto trimestre, enquanto abandona os cursos de zoologia veterinária, “continua a frequentar os seminários de Bretano”. (…) Assim, paralelamente a um ensino científico (…), os seminários de Bretano continuam a desempenhar sua função necessária, como uma espécie de denominador comum dos esforços variados que o impulsionam nas diversas direções científicas”. (ASSOUN, 1978, p.13).
2Algo como um médico iniciante ou médico secundário.
3 A denominação aqui mencionada é referente à edição das Obras Completas de Freud, reunidas pela Editora Imago.
4Apoiado no “Dicionário Comentado do Alemão de Freud”, de Luis Hanns (1996), Christian Dunker (2008) afirma que “A ideia de tratamento da alma não possui em alemão a conotação mágico-religiosa que o termo evoca para nós”. (DUNKER, 2008, p.225).
5 Tal fato situa-se na falta de credibilidade e de pudor pela qual Freud fora acusado no meio médico frente à hipótese da etiologia sexual da histeria. Ver: GAY, 1989, p.98-99. A figura de Breuer, apesar do período de parceria com Freud, é índice dessa ruína. Breuer revelará mais adiante, após o abandono dessa parceria: “Confesso que o mergulho na sexualidade, na teoria e na prática, não é para o meu gosto”. (BREUER apud GAY, 1989, p.77). Segundo Cottet (1990), “É então no rastro de um certo fracasso que Freud avança na cena analítica, bem onde Breuer, em suma, venceu, pois abandonou a psicanálise no momento em que as coisas começavam a se deteriorar”. (COTTET, 1990, p.19).