SciELO - Scientific Electronic Library Online

 
 número45Consequências traumáticas da violência em crianças e adolescentes de favelas do Rio de Janeiro: alguma diferença de atos terroristas em outras partes do mundo?A posição autista: contígua e a comunicação não verbal na clínica psicanalítica índice de autoresíndice de assuntospesquisa de artigos
Home Pagelista alfabética de periódicos  

Estudos de Psicanálise

versão impressa ISSN 0100-3437

Estud. psicanal.  no.45 Belo Horizonte jul. 2016

 

 

“Meu caro amigo”: considerações sobre correspondência e amizade em tempos virtuais1

 

“My dear friend”: considerations about correspondence and friendship in virtual times

 

 

Janaína da Mota Martins

I Círculo Brasileiro de Psicanálise - Seção Rio de Janeiro

Endereço para correspondência

 

 


RESUMO

Corresponder-se nos dias de hoje vai além do cartear-se, e as mensagens escritas continuam enredando relações afetivas fortes e duradouras. Entre as diversas possibilidades de falar sobre os elos entre pessoas, propomos neste trabalho pensar sobre correspondência e amizade partindo da ideia de que a escrita de si endereçada a outrem, seja de forma epistolar, seja mediada no ciberespaço, cria condições de vinculação com o outro e torna possíveis a construção e a transformação de si mesmo. Diante das críticas sobre as relações virtualizadas na contemporaneidade, que apontam para dificuldades de criar laços, refletimos sobre as possibilidades e os limites no exercício da amizade.

Palavras-chave: Escrita, Correspondência, Amizade, Vínculos e relações virtuais.


ABSTRACT

Nowadays, keeping in touch goes beyond the interchange of letters and, despite this, written messages still involve strong and lasting affective relationships. Among the different possibilities when talking about bonds, we propose in this paper to explore the concepts of correspondence and friendship, starting from the assumption that writing about oneself toward another person – no matter if by means of a letter or into cyberspace – creates conditions to bind with the other and makes possible self-construction and transformation of self-concept. Taking into account the current criticism about the potential of virtualized relations to disturb creation of bonds, we discuss the possibilities and limits of friendship development in virtual times.

Keywords: Writing, Correspondence, Friendship, Bonds and virtual relationships.


 

Este artigo nasceu de uma conversa informal sobre correspondência e amizade. Diante da urgência em escrever um trabalho sobre conexões virtuais, por ocasião de um congresso, a ideia de escrever sobre a escrita de si dirigida a outra pessoa e a relação dessa escrita com a amizade na contemporaneidade não se deu por acaso.

As motivações para este artigo contêm uma parcela de elementos subjetivos – como a lembrança das correspondências trocadas com amigos – e muitas intenções, entre elas, o projeto futuro de adentrar na pesquisa sobre o tema.

De certo modo, a leitura de um livro em especial fez surgir as reflexões que tentamos desenvolver aqui. As cores da amizade, de Marilda Ionta (2007), analisa as complexas relações entre a escrita epistolar, a amizade e a subjetivação, e aponta como a artista plástica Anita Malfati, a jovem musicóloga e folclorista Oneyda Alvarenga e a poetisa Henriqueta Lisboa se constituíram como sujeitos éticos mediante a amizade tecida com o escritor modernista Mário de Andrade, através das correspondências trocadas entre eles, durante as décadas de 1920 e 1940.

Ao examinar a correspondência particular de Mário de Andrade com essas três mulheres intelectualizadas, a historiadora recupera a discussão sobre o tema da amizade, que, segundo ela, não tem mais o prestígio de outrora. Para a autora, a amizade, virtude cardinal das sociedades antigas, é hoje desprezada em relação às promessas de felicidade do amor romântico e aos vínculos que reproduzem estados de dominação.

No tempo em que Mário, Anita, Oneyda e Henriqueta se correspondiam, a sociedade brasileira passava por um momento de modernização experimentando um intenso processo de disciplinarização e normatização da vida social, proveniente do desenvolvimento econômico.

As relações de amizade entre eles atravessaram a ordem normativa vigente, escapando à tendência de que as relações, entre homens e mulheres especialmente, eram regidas pelo amor, pela paixão e pela sedução (IONTA, 2007, p. 19).

Havia também uma tradição filosófica que postulava a incapacidade das mulheres para esse vínculo intersubjetivo, que parecia pertencer ao mundo masculino ou “mundo de cavaleiros”. A amizade era uma forma de intersubjetividade masculina, cheia de significações políticas, num ideal de virilidade e fraternidade guerreira na relação com o outro.

A amizade heterossexual, embora omitida do discurso filosófico – de Platão a Montaigne – era bem mais comum do que se imaginava e foi historiada não só nas correspondências de Mário com Anita, Oneyda e Henriqueta, mas também em cartas trocadas por Clarice Lispector com Fernando Sabino, por exemplo; e a correspondência de Cecília Meireles com Fernando Azevedo; a amizade de Lou Andreas-Salomé com Nietzsche e Freud; e Hannah Arendt com Martin Heidegger; unindo singularidades e associada à plasticidade e à generosidade.

Sem querer problematizar aqui a amizade a partir das relações de gênero e para além das peculiaridades das missivas e da relação do escritor com aquelas três mulheres, interessa para este trabalho o acento dado pela autora de As cores da amizade à correspondência como importante na construção de laços de afeto.

É possível perceber que a amizade entre Mário, Anita, Oneyda e Henriqueta se desenvolveu de forma singular, sempre atravessada por afetos intensos. E as cartas trocadas testemunham a sensibilidade das relações de amizade, que excede a convivialidade.

 

Correspondência e amizade

Escrever cartas, até certo tempo atrás e bem mais que na atualidade, era uma forma de pôr em ação as relações sociais, de cultivar a si mesmo e intensificar as relação com o outro. Era um hábito que levava as pessoas à pergunta diária ao entrar em casa “Chegou alguma carta para mim?”.

Aguardava-se ansiosamente o carteiro, coadjuvante das histórias de amigos, que habitava entre as saudades separadas pelas distâncias. As cartas entre amigos guardavam ternura, cumplicidade, confiança, ciúmes, diferenças, admiração e outros afetos próprios às relações amistosas.

Corresponder-se pode ser um gesto sublime de amizade. Nas correspondências os amigos se acariciam com palavras: “Quando estou ao seu lado ou quando ouço a tua voz ao telefone, sinto a imensa paz que permeia a tua alma e me mantém fortalecida para enfrentar seja qual for a dificuldade”, diz uma amiga à outra, numa carta.2 Os amigos falam do tempo e da vida, mandam notícias de algum lugar, falam de si mesmos.

Talvez a mágica das cartas estivesse na possibilidade da distância e na mise-en-scène, ou ‘arte da encenação’ – não como ‘criação fantasiosa’ – mas como criação particular, aquele enquadramento entre missivistas, ou tudo aquilo que caracteriza a correspondência entre duas pessoas.

É possível dizer que fazem parte dessa encenação as formas de se dirigir ao outro, ao iniciar ou finalizar a correspondência; o tom afetivo, familiar e íntimo que se destaca sobre a formalidade; os papéis de carta; os envelopes; os selos; a assinatura e a caligrafia. Esses aspectos constituem a identidade do escritor e vão influenciar o modo como o destinatário lê o remetente e o reconhece nas nuances da sua escrita, como Manuel Bandeira escreveu a Clarice:

[...] Sua carta de julho deu uma grande alegria. Você nunca é falante, barulhenta.
O que você escreve nunca dói nem fere os ouvidos. Você sabe escrever baixo.
E sua assinatura, Clarice, é você inteirinha:
Clara... Clarinha... Clarice...
Receba um grande abraço do velho amigo Manuel.
(MORAES; COUTINHO, 2009, p. 92).

Há uma gramática nas cartas de amigo, que Mário de Andrade denominou ‘cartas de pijama’, propondo uma escrita efusiva e transparente na arte epistolar, rompendo com o caráter formal, em ‘primores de estilo’, e ‘moderno’ de regras de bom-tom e civilidade. Uma gramática que permite dizeres carinhosos, derramamento de confissões e excesso de afetações, condenada outrora pela prática da etiqueta.

A distância aparece como uma possibilidade, contrapondo-se à determinação de sua ausência e está presente no exercício da amizade através das cartas. A amizade exige movimentos de aproximação e afastamento que a epistolografia favorece. Na correspondência a distância admite a espera e, mesmo quando imposta, a exemplo dos exílios, transforma-se na boa distância capaz de causar contemplação da vida, do outro, de si, ou mesmo uma avaliação do cotidiano.

Já para o filósofo Aristóteles o convívio na amizade é fundamental, e nada é mais característico do que o desejo dos amigos de viver juntos, pois o amigo é um outro eu. Além disso, a construção da identidade pessoal, a consciência de si se dá na contemplação do amigo através do outro. Aristóteles considera também que o homem não é autossuficiente e precisa de amigos tanto para desenvolver as virtudes quanto para alcançar a felicidade (OLIVEIRA, 2012).

A amizade, porém, pode ser iniciada, concretizada e mantida no espaço intersubjetivo das cartas, que pressupõe a distância. Um exemplo de amizade iniciada e construída a distância está documentada nas epístolas da Mário e Henriqueta, que se conheceram em 1939, num “encontro de papel”.

Somente depois de algum tempo e de algumas cartas trocadas, Mário e Henriqueta finalmente se encontraram. O curto tempo da relação que durou seis anos, findado com a morte do escritor, contrapôs-se à intensidade daquele laço.

Outro exemplo, e já citado aqui, é a amizade entre Clarice e Fernando Sabino, registrada em epístolas de quase três décadas, numa amizade literária, segundo apontam alguns autores como Nolasco e Rojas (2011), e Moraes e Coutinho (2009).

Clarice em suas correspondências com Sabino e outros correspondentes, especialmente com suas irmãs Tânia e Elisa, sentia-se uma ‘exilada em terras estrangeiras’. Esse exílio sentimental, muito mais que geográfico e provocado por anos de permanência ‘no estrangeiro’, permitiu que ela se mantivesse ligada aos amigos e à família, sobretudo com o próprio ‘eu’. As suas cartas representam uma ‘escrita do eu’ e revelam uma Clarice ora sombria, ora alegre, oscilando entre as alegrias e o enclausuramento de se sentir exilada (MORAES; COUTINHO, 2009).

Toda carta tem um pouco de nós mesmos. Através dela nos apreciamos, nos transformamos. Ao endereçá-la a outrem, endereçamos a nós mesmos. A carta é uma forma de escrita de si.

Criamos o que Foucault (apud IONTA, 2007, p. 138) chamou de literatura de si, que se modela no espaço do ‘entre’, dialogicamente. O espaço dialógico das correspondências entre amigos é lugar de confidências, de exame de consciência e de reflexão sobre as ações do cotidiano. A escrita de si, que emerge nas correspondências entre amigos, dá visibilidade aos medos, às frustrações, às ansiedades e aos desejos (RAGO, 2007, p. 15).

A amizade através da correspondência epistolar é pessoal e privada, está sob a égide da inviolabilidade. Violar uma correspondência é mais que um crime, uma transgressão. É a violação do outro e da sua história. As correspondências são produções materiais e escritas que estão no âmbito da vida privada e podem ser consideradas “obras íntimas” (VIANNA, 2003 apud IONTA, 2007, p. 33) de criação de laços entre os correspondentes.

 

Amizade em tempos virtuais

A troca epistolar composta por cartas, bilhetes, postais, etc., que quase sempre nos convida a escrever de próprio punho, foi em tempos não muito distantes instrumento de aproximação entre as pessoas e protagonista de muitas relações entre amigos.

Atualmente, num cenário de novas formas de informação e comunicação, e diante das novas tecnologias, coloca-se em questão a possibilidade da existência da amizade entre as pessoas.

Em textos de estudiosos e pensadores das relações humanas encontramos afirmações de que os relacionamentos contemporâneos andam efêmeros, marcados pela virtualização relacional, pela velocidade e satisfação urgente.

Acreditam que o mundo vive um empobrecimento das relações de afeto, como aponta Passos (2011), ao observar que os relacionamentos do século XXI estão marcados pela desafetação, pela ausência do outro e pelo excesso de si mesmo.

A revolução digital que vivenciamos hoje influencia aspectos da vida individual e coletiva, favorece as redes sociais digitais e o acesso à internet, que indiscutivelmente mudou as formas de estar com o outro. Ao permitir a comunicação direta entre as pessoas, a internet é capaz de suprimir a distância. Os encontros entre as pessoas podem se dar de forma virtual e, sem dúvida, no campo do imediatismo e da instantaneidade.

Entretanto, os encontros virtuais acontecem em meio às críticas dos cultores da amizade em sua expressão mais tradicional. Reticentes às formas que as pessoas têm encontrado para se relacionar na contemporaneidade, os estudiosos percebem as amizades construídas virtualmente como uma expressão do distanciamento entre indivíduos.

Em seu artigo Sujeitos. Tão sós, mas sempre acompanhados, Maria Consuêlo Passos (2011) observa que as pessoas vivem cada vez mais sozinhas e que, embora busquem diferentes espaços de convivência, continuam “[...] insatisfeitas, carentes, a solicitar a presença de um outro” (PASSOS, 2011, p. 86).

A autora comenta que as mudanças ocorridas no Ocidente nas últimas décadas se apresentam hoje em diferentes aspectos. Um deles é a prevalência da presença fria do outro em relações efêmeras, virtuais e precárias caracterizadas pela fragilidade do ‘encontro’ e inexistência de conflitos próprios aos laços de afeto. Em tais relações, afirma, “[...] podemos travestir o outro, e, como num passe de mágica, deletá-lo” (PASSOS, 2011, p. 87).

Para Passos (2011) é a presença firme e integral do outro que nos humaniza, delimita os espaços e aponta as fronteiras e os limites de cada um. Pode-se falar da falta desse outro que, segundo ela, despareceu e nos deixou órfãos e sem referência. A amizade, então, (re)surge como uma experiência de resistência em meio ao deserto relacional em que vivemos.

A falta de tempo decorrente da rotina que compõe uma agenda de compromissos, típica do cotidiano de ocidentais pós-modernos, era o pivô do distanciamento entre as pessoas. Com o avanço tecnológico, pode-se imaginar que é possível fazer o caminho inverso através do ciberespaço, nas correspondências por e-mails, nas conversas em salas de bate-papo, Skype, pelas redes sociais ou WhatsApp, nos modernos smartphones, tablets, iphones.

Dessa forma, não seria coerente pensar que as amizades virtuais expressam o distanciamento nas relações. Essa constatação nos permite dizer que realmente estamos sempre insatisfeitos, e a internet, que ora elimina a distância, pode ser vista como um risco à vinculação entre as pessoas.

Shopenhauer conta a parábola de um grupo de porcos-espinhos que no frio se aproximavam uns dos outros para não congelar, mas no momento em que ficavam muito próximos para se aquecer, se espetavam com seus espinhos. A dor causada pelos espinhos fazia com que se dispersassem e perdessem o benefício do convívio próximo e, assim, voltavam a sentir frio. Isso os levava a buscar novamente o convívio uns dos outros, e o ciclo se repetia em sua luta para encontrar uma distância confortável entre o emaranhado e o enregelamento (PASSOS, 2011; IONTA, 2007).

Essa ‘distância confortável’ parece não ser reconhecida quando se pensa a amizade nos moldes aristotélicos: sem a constância do convívio não é possível estabelecer uma relação amistosa. Entendemos a distância como possível e necessária na convivência entre os amigos.

 

Considerações finais

Absolutamente propomos um retorno ao passado. Compreendemos a amizade como um potencial criador de possibilidades de encontros e comunicação, seja através das cartas, seja através dos e-mails e das mensagens instantâneas. É legítimo pensar que amizade construída e regada com correspondências virtuais pode se fragilizar diante da imediatez e da instantaneidade, mas a materialidade das epístolas não garante que vínculos não se fragilizem.

Percebemos que o que liga os amigos não são as correspondências em si, senão a própria amizade. No entanto, reconhecemos a importância de corresponder-se no enredamento afetivo. O próprio vínculo entre duas pessoas é o que vai caracterizar, por exemplo, a mise-en-scène de suas correspondências e a linguagem de sua gramática.

Ficamos com Ionta (2007) quando nota que a amizade pode inventar lugares de encontros e de convivência, dando sentido à criação de novas formas de estar criativamente com o outro.

 

Referências

IONTA, M. As cores da amizade: cartas de Anita Malfatti, Oneyda Alvarenga, Henriqueta Lisboa e Mário de Andrade. São Paulo: Annablume; Fapesp, 2007.         [ Links ]

MORAES, V. L. A.; COUTINHO, F. M. A. Miscelânea de afetos e notícias: o discurso das cartas em Clarice Lispector. Revista Alceu, Rio de Janeiro, v. 10, n. 19, p. 87-100, jul./dez. 2009.         [ Links ]

OLIVEIRA, L. R. P. O sentido da amizade em Ferenczi: uma contribuição à clínica psicanalítica. Rio de Janeiro: Uapê, 2012.         [ Links ]

PASSOS, M. C. Sujeitos. Tão sós, mas sempre acompanhados. Revista Continente. Recife, Companhia Editora de Pernambuco (CEPE), n. 121, p. 84-90, jan. 2011.         [ Links ]

RAGO, M. Podemos ser amigas? In: IONTA, M. As cores da amizade: cartas de Anita Malfatti, Oneyda Alvarenga, Henriqueta Lisboa e Mário de Andrade. São Paulo: Annablume; Fapesp, p. 13 -16, 2007.         [ Links ]

ROJAS, F.; NOLASCO, E. C. Entre cartas: a amizade (literária) entre Fernando Sabino e Clarice Lispector. Revista Rascunhos Culturais, Coxim (MS), v. 2, n. 4, p. 213-223, jul./dez. 2011.         [ Links ]

 

 

Endereço para correspondência
E-mail: janammartins@gmail.com

Recebido em: 02/05/2016
Aprovado em: 03/05/2016

 

 

SOBRE A AUTORA

Janaína da Mota Martins
Psicóloga.
Especialista em Psicologia Clínica (CPPL – Centro de Pesquisa em Psicanálise e Linguagem/UNICAMP).
Mestre em Psicologia Clínica pela Universidade Católica de Pernambuco (UNICAP).
Membro do Círculo Psicanalítico de Pernambuco (CPP).

 

 

1 Trabalho apresentado no XXI Congresso do Círculo Brasileiro de Psicanálise e I Congresso Internacional de Psicanálise – Conexões Virtuais: Diálogos com a Psicanálise, realizado pelo Círculo Psicanalítico do Rio Grande do Sul em Porto Alegre, nos dias 23, 24 e 25 jul. 2015.
2 Carta de G. T. Cavalcanti para mim, 2003; 1 folha, não referenciada.

Creative Commons License