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Estudos de Psicanálise

versão impressa ISSN 0100-3437

Estud. psicanal.  no.52 Belo Horizonte jul./dez. 2019

 

PAINÉIS E COMUNICAÇÕES SIMULTÂNEAS - TEXTOS COMPLETOS

 

As diversidades da clínica psicanalítica1

 

The diversities of the psychoanalytic clinic

 

 

Anna Lucia Leão LópezI, II

I Círculo Brasileiro de Psicanálise - Seção Rio de Janeiro
II Núcleo de Estudos Psicanalíticos da Infância e da Adolescência (NEPsI)

Endereço para correspondência

 

 


RESUMO

Este trabalho pretende refletir sobre o lugar do analista diante das diversidades da clínica psicanalítica. Como os analistas lidam com a diversidade? Como os analistas lidam com as diversidades dos analisandos? Essas questões serão sustentadas teoricamente em Freud e Lacan. A autora traz uma contribuição, em processo de construção, a partir da sua prática clínica e acadêmica, que denomina, nesse momento, de “código de barra do sujeito”.

Palavras-chave: Desejo do analista, Traço mnêmico, Neutralidade, Sexualidade infantil, Código de barra do sujeito.


ABSTRACT

This paper aims to reflect on the analyst's place in the face of the diversity of psychoanalytic clinic. How do analysts deal with diversity? How do analysts deal with the analysands' diversity? Issues that will be theoretically supported in Freud and Lacan. The author brings a contribution, in the process of being built based on her clinical and academic practice, which she calls, at this moment, the subject's barcode.

Keywords: Analyst's desire, Mnemic trait, Neutrality, Infantile sexuality, Subject bar code.


 

É de meus analisandos que aprendo tudo,
que aprendo o que é a psicanálise.

Jacques Lacan

 

O presente trabalho tem início com a apresentação do caminho trilhado até o momento pela autora para compreender o seu lugar de fala, que é importante para clarificar a perspectiva de sua fala.

Musicista formada em musicoterapia, a partir do momento em que entra para a clínica musicoterápica é conduzida para a análise pessoal, justamente para poder suportar essa clínica. E a análise pessoal, por sua vez, a leva à formação em psicanálise, capturada pela psicanálise.

Cursou uma especialização em educação psicomotora para buscar ferramentas que lhe permitissem lidar com as questões que se apresentavam na clínica musicoterápica, na Associação Brasileira Beneficente de Reabilitação (ABBR), onde permaneceu por uma década, e em uma escola com o propósito de inclusão de crianças ditas “normais” com outras que eram consideradas “excepcionais”.

A ABBR é considerada uma instituição de reabilitação física, todavia tem como proposta a reintegração social daqueles que passam por lá. E a partir dessa vivência clínica, surge a compreensão de que as questões psíquicas transbordavam, uma vez que estavam para além das questões físicas.

Instigada pela clínica com crianças autistas em ambas as instituições, busca a especialização em psicanálise e saúde mental na UERJ e, em seguida, o mestrado também em psicanálise e saúde mental, ambos com tema autismo infantil, sob a orientação de Luciano Elia.

No Círculo Brasileiro de Psicanálise - Seção RJ (CBP-RJ), desde os anos 2000, como membro efetivo e psicanalista, tem ministrado aulas no curso de formação, em cursos livres, cursos de férias, supervisão. Por causa dessa trajetória e como fruto do mestrado, fundou o primeiro Núcleo de Estudos da Instituição, que veio ocupar a ausência de um espaço de reflexão dedicado à clínica psicanalítica com crianças e adolescentes. Então, em 2011, com sua bagagem clínica e acadêmica, cria o Núcleo de Estudos Psicanalíticos da Infância e da Adolescência, o NEPsI, reconhecido e instituído em assembleia do CBP-RJ.

A contribuição apresentada neste artigo é o resultado das reflexões sobre essa construção, esse trilho percorrido. O lugar construído pela autora na instituição CBP-RJ é o efeito dessa travessia teórico-clínica.

Por isso, esta fala tem uma relação direta com a troca de conhecimentos em sala de aula e a vivência como coordenadora do NEPsI, onde ocorrem supervisões, estudos e discussões de casos clínicos, uma vez que o objetivo do NEPsI é justamente realizar a costura entre teoria e clínica psicanalítica com crianças e adolescentes.

Desde 2016, anualmente a coordenação do NEPsI, junto com os candidatos, membros efetivos da instituição e convidados de outras instituições, organiza jornadas internas que propõem pensar e discutir uma clínica tão fundamental para o analista, não somente para aqueles que trabalham diretamente com criança. É oferecida a participação a todos do CBP-RJ, uma vez que nós, analistas, devemos pensar, mesmo na clínica com adulto, na ‘criança' que nos fala. Pois na clínica trabalhamos supostamente com adultos, cronologicamente com adultos, mas quem se senta na nossa frente como analisando é a ‘sua' criança.

Essa contextualização é importante, pois acreditamos que aquilo que construímos na teoria é costurado com o nosso trilho, ou seja, o nosso lugar de fala. A história pessoal de cada autor da psicanálise (só da psicanálise?) tem uma costura com o caminho teórico escolhido pelo sujeito.

O XXIII Congresso do Círculo Brasileiro de Psicanálise e III Jornada do Círculo Psicanalítico do Pará, cujo tema foi Psicanálise e diversidades: inconsciente, cultura e caminhos pulsionais, abordando a questão da diversidade com ousadia e coerência com os dias atuais, oportunizou uma reflexão apresentada no presente trabalho, que propõe pensar a diversidade, tantas vezes calada ou rejeitada, e o lugar do analista frente à diversidade na clínica psicanalítica.

Nesse sentido, a contribuição proposta neste artigo é refletir sobre o lugar do analista diante das diversidades na clínica psicanalítica propondo algumas questões constantes para o ofício do analista:

• Que lugar é este que nós ocupamos como analistas?

Um lugar a ser ocupado e como ocupá-lo.

Assim, desdobramos a questão anterior em outras questões:

• Como nós, analistas, lidamos com as diversidades dos analisandos?

• Como nós, analistas, lidamos com a diversidade?

• Como nós, analistas, lidamos com as nossas diversidades e especificidades?

Para isso, buscamos sustentação teórica tanto em Freud quanto em Lacan, no sentido de contribuir para o ofício do analista, que surge a partir da clínica em consultório e dos seminários ministrados no CBP-RJ, que a autora denomina como “código de barras” do sujeito. Consideramos, portanto que cada sujeito possui um “código de barras”, construído na sua constituição de sujeito.

Sustentada em Freud, toda a construção teórica apresentada neste trabalho é efeito da clínica, uma vez que Freud traz a sua teoria a partir da clínica. O efeito da clínica não apenas na perspectiva de nós, analistas, mas também a clínica em nosso lugar de analisando.

Portanto, nós, analistas, não deixamos de ser analisandos. Porém, no momento em que estou ocupando o lugar de analista não posso deixar minhas questões de analisando virem à tona. Tenho que calá-las.

Candidatos que estão na formação do CBP-RJ, durante as aulas ministradas, mas ainda não autorizados para atender na clínica, dizem: “Mas eu não estou na clínica!”. Daí pergunta-se: “Você está em análise pessoal? Se está, você já está na clínica. “Só que você está em outro lugar da clínica. Você está no lugar do analisando”.

Então, está na clínica ou, mais do que isso, está sendo atravessado pela psicanálise. Pois, tanto a teoria quanto a prática têm que nos atravessar. A teoria não pode ficar no livro. Ela tem que estar entranhada em nosso corpo. Ela tem que fazer parte de nós.

E esse atravessamento, algumas vezes, nos dá uma trombada, que nos faz cair , levantar e seguir em frente, ficando mais atentos ao que nos afetou. Isso para sustentar a importância do lugar da análise pessoal na constituição do analista. Freud nos fala que o analista se faz em seu próprio divã. E é ali que fazemos a passagem do vir a ser analista.

Portanto, este trabalho é efeito de uma trajetória clínica e acadêmica de mais de duas décadas, que leva a uma constante reflexão sobre o lugar do analista no processo analítico. É fundamental para o analista pensar constantemente sobre o lugar que ocupamos.

Neste ponto, ressaltamos a contribuição do curso livre de Conceitos psicanalíticos , realizado no CBP-RJ, de autoria de dois psicanalistas que não estão mais na instituição (Leonardo Ferreira de Azevedo e Silva e Maria Victória Marçolla Torchetti), que consideramos porta de entrada para a formação na instituição. Afinal, esse é o caso da autora e de muitos outros profissionais que hoje estão na instituição.

Originalmente, o curso livre Conceitos psicanalíticos era composto por cinco blocos de conceitos, um dos quais é oferecido a cada semestre. Chamamos de bloco, um grande conceito psicanalítico a ser trabalhado ao longo do semestre com aqueles conceitos que sustentam esse conceito-chave.

Atualmente, o curso foi revisado, reformulado e ampliado pela autora para nove blocos de conceitos. O curso tem como objetivo “apoiar teoricamente e clinicamente a formação dos candidatos e membros efetivos da instituição” e tem como função aproximar e agregar novos parceiros. Esse curso vem ao encontro daquilo que Lacan propõe como formação permanente do analista.

Qual a proposta desse curso? A condução do curso tem o propósito de colocar uma lupa sobre os conceitos psicanalíticos para depois ser ampliados e contextualizados na obra freudiana. É utilizado como bibliografia o Vocabulário da psicanálise de Laplanche e Pontalis (1992), além de textos freudianos.

Dentro desse curso, no bloco Psicanálise como um todo, aparece um conceito que fisga/captura a autora, e que é utilizado para sustentar o que vai chamar de “código de barra do sujeito”: o traço mnêmico. Aqueles traços que vão sendo inscritos na nossa constituição de sujeito.

É ao longo desses seminários ministrados no curso Conceitos psicanalíticos que a autora vem construindo o que chama de “código de barra do sujeito”, construção oriunda de um caminho anterior que foi o encontro com o conceito do “desejo de analista” de Lacan, fundamental para se pensar o lugar ocupado e a função a ser exercida pelo analista.

Outros conceitos freudianos que consideramos importantes para refletir sobre o que chamamos, neste momento, código de barra do sujeito.

Tais conceitos são:

• Neutralidade: Isso não está na nossa vestimenta, não é esse o lugar da neutralidade que Freud nos apresenta. Quando Freud nos fala na neutralidade, entendemos como “neutralidade da escuta”. Não se trata de não ter foto nenhuma no consultório, de se vestir o mais neutro possível. O que importa é que eu estou ali na função de analista e não como sujeito. Portanto, a neutralidade da escuta é o que deve estar no setting e, por isso, eu tenho que me calar enquanto sujeito.

• Sexualidade infantil: Lidamos constantemente com a presentificação da sexualidade infantil, que é constitutiva do sujeito. Na análise, o analista escuta a sexualidade infantil do analisando, que é atualizada nas relações, ou seja, atualizações do passado nas situações presentes. E para conseguir escutar a sexualidade infantil do analisando, o analista tem que ter escutado a sua sexualidade infantil e continuar escutando seus efeitos. Isso é condição para o analista escutar o analisando e se calar. Caso o sujeito do analista compareça no setting, este se cala para permanecer na escuta do analisando, cabendo ao analista trabalhar na sua análise pessoal. Pois, o analista, por sua própria resistência, pode calar a sexualidade do analisando. Para Lacan, “quem resiste é o analista”.

No texto Recomendações aos médicos que exercem a psicanálise, Freud ([1912] 1969) observa com precisão que há necessidade de uma autoanálise permanente, nos colocando para pensar o lugar do analista. De pensar constantemente o que aconteceu no setting,com o analisando e com nós mesmos, analistas. O que nos afetou? O qu e nos calou? O que nos fez calar o analisando? Essas reflexões são necessárias fazermos após a análise de cada sujeito.

No mesmo texto, Freud traz à luz dois conceitos que consideramos importantes para a reflexão do presente trabalho: a “atenção flutuante” e a “opacidade do analista”. Em relação à atenção flutuante, o analista precisa desse calar para se manter nela. Sobre a opacidade, destacamos que cabe ao analista no setting devolver para o analisando a sua própria fala. E devolver com delicadeza, pois devemos perceber se o analisando suportará a devolução, qual é o momento em que ele tem condições de se escutar. A delicadeza é uma ferramenta necessária para nós, analistas.

Para Freud, o analista

[...] deve ser opaco aos seus pacientes e, como um espelho, não mostrar-lhes nada, exceto o que lhe é mostrado (FREUD, [1912], 1969, p. 157).

Também vale ressaltar que a poltrona do analista não tem nada de confortável. Essa poltrona é desconfortável, é espinhosa. Não é à toa que nos mexemos, muitas vezes incomodados com que o analisando nos fala e outras vezes desejando escutar mais. Podemos dizer que a movimentação do corpo do analista no setting tem um sentido.

Segundo Freud ([1912] 1969, p. 157), o analista tem que ter uma ausência de ambição educativa e/ou terapêutica, ou seja, o analista deve

[...] guiar-se pela capacidade do paciente, ao invés dos seus próprios desejos.

Quem nos guia é o próprio analisando. Quem nos leva, não sei para onde, é o analisando. De acordo com Lacan, a análise é uma aventura psicanalítica. E nós, na função de analistas, se aceitamos ser analista daqueles sujeitos precisamos nos aventurar.

Nessa direção, para pensar o desejo do analista, o Lacan parte do conceito de contratransferência. Logo na abertura do Seminário 1, Lacan já apresenta uma preocupação em relação ao conceito da contratransferência e diz

[...] Freud sabe que só fará progresso na análise das neuroses se se analisar (LACAN, [ 1953-1954] 1986, p. 10).

E continua:

[...] O ideal da análise não é o domínio completo de si, a ausência da paixão. É tornar o sujeito capaz de sustentar o diálogo analítico, de não falar nem muito cedo, nem muito tarde (LACAN, [ 1953-1954] 1986, p. 11).

Refletir sobre o desejo do analista nos coloca algumas questões. O que acontece nessa mão dupla da transferência? Do analisando para o analista e do analista para o analisando. Escolhemos nossos analisandos, e eles nos escolhem. Sempre há uma escolha em jogo.

Mayerhoffer (2019. p. 85) diz que

[...] o desejo do analista é o desejo que advém de uma experiência de análise.

Portanto, só posso assumir esse desejo do analista se realmente eu passo por uma experiência de análise suficiente para que esse desejo possa comparecer e possa ser sustentado no setting, “é o desejar uma função e fazer desejar”. A nossa função é fazer o outro desejar. Não é o nosso desejo que está em jogo. É o desejo do outro.

Segundo Mayerhoffer (2019, p. 87):

[...] não é o analista que proporciona a análise por si; ele é quem pode, ou não, possibilitar que o sujeito trabalhe uma construção de uma posição frente ao desejo que ele próprio desconhece, cabendo ao sujeito psicanalisar, e ao analista, o ofício de sustentar tal trabalho.

Tal trabalho vai acontecer, só se houver analista e analisando. O desejo do analista não é um desejo de cura nem é pedagógico: ele se fabrica no próprio processo analítico. E está sustentado pelo ato da escuta e pelo acolhimento da palavra ou do ato do sujeito.

Lacan ([1960-1961] 1992, p. 184) admite que

[...] não existe em ninguém qualquer elucidação exaustiva do inconsciente, por mais longe que seja levada uma análise.

A nossa análise pessoal nos possibilita ficar advertidos de que nos resta uma reserva de inconsciente e que sempre poderá nos colocar frente a uma armadilha.

Mayerhoffer (2019) aposta que, como o analista tem a possibilidade de lidar com a sua subjetividade, com a sua especificidade de sujeito, com a sua diversidade, ele tem a possibilidade de lidar com a subjetividade, a especificidade e a diversidade do outro. O aparelho psíquico está para todos. Mas como cada um constrói e se constitui como sujeito, é único e específico.

Maria Rita Kehl (2002, p. 148) nos diz que

[...] o analista, ao mesmo tempo que precisa criar um estilo próprio de intervenção que lhe dê liberdade suficiente para trabalhar, nunca deve se esquecer da sua subordinação à psicanálise.

Ou seja, essa constituição do analista tem a ver com a nossa própria constituição. Tem a ver com a criação de um estilo próprio e do reconhecimento da diversidade de sujeitos únicos que somos.

Cada um é um enquanto analista. Cada processo psicanalítico, no qual estão implicados analista e analisando é único. A psicanálise é a prática da dúvida – e não da certeza. Um método investigativo. Frente ao analisando nós, analistas, não sabemos nada sobre o sujeito.

Na análise, se o analisando chega à sessão e o analista tem a ilusão ou a arrogância de que “sabe do outro”, ele já saiu do lugar de analista. Lacan contribui com o conceito da “ignorância douta”, que é saber não saber. Nós, analistas, precisamos escutar nossos analisandos sabendo que não sabemos desse sujeito.

É angustiante entrar no setting sem saber para onde vai ser conduzido, não saber nada daquele sujeito que está a sua frente e não saber o que será convocado de nós, analistas, o que irá nos fisgar, o que pode nos capturar naquela fala do outro.

Por isso, os espaços dentro das nossas instituições são considerados fundamentais para a nossa sanidade. Ali podemos encontrar troca e diálogo, tão preciosos para o analista. Os eventos – os congressos, as jornadas, os cursos – são espaços que permitem essa troca e nos sustentam, uma vez que a prática psicanalítica é muito angustiante.

Todavia, enquanto analistas, suportar essa angústia cabe a nós. Pois só veremos o efeito da clínica a posteriori. Então, temos que nos inquietar na clínica e utilizar esses espaços proporcionados para a troca de experiências e conhecimentos no sentido de apaziguar essa angústia e ocupar o nosso lugar de analista. Afinal, só a posteriori faz algum sentido, assim como na nossa constituição.

Para concluir o ‘inconcluível', ao investigarmos as especificidades do sujeito, ou seja, o que é específico de cada sujeito, nossa aposta é que o sujeito tem um “código de barras”, fabricado no processo de constituição do sujeito.

Como Freud nos diz, são “indestrutíveis esses traços mnêmicos”. Estão lá, marcados e registrados. Não há escapatória.

Laplanche e Pontalis (1992, p. 512) definem os traços mnêmicos como

[...] expressão utilizada por Freud, ao longo de toda a sua obra, para designar a forma como os acontecimentos se inscrevem na memória.

De acordo com esses autores,

[...] os traços mnêmicos, segundo Freud, são depositados em diversos sistemas; subsistem de forma permanente, mas só serão reativados depois de investidos (LAPLANCHE, PONTALIS, 1992, p. 512).

Essas lembranças estarão inscritas no sujeito, mas sua evocação vai depender de como serão investidas, desinvestidas, contrainvestidas.

A partir de Freud, entendemos que nosso aparelho psíquico é também um aparelho de memória. Os textos pré-psicanalíticos são importantes (os quais considero psicanalíticos), nos trazem a construção do aparelho psíquico.

Em 1891, no texto das Afasias, Freud afirma que nosso aparelho psíquico é visto como um aparelho de linguagem; em 1895, com O projeto, um aparelho neuronal; em 1896, na Carta 52, um aparelho de memória. Essa é a construção para se chegar ao aparelho psíquico proposto por Freud em 1900. Ou seja, nosso aparelho psíquico é um aparelho de linguagem, de memória e neuronal.

O “código de barras” estaria ligado a esse aparelho de memória e está no campo do traço. Esses traços inscritos no nosso psiquismo formariam esse código – específico e único de cada sujeito.

A contribuição deste trabalho é pensar na constituição desse código de barras e a importância de o analista reconhecer que o analisando possui seu código de barras e a sua especificidade.

Diríamos para os analisandos como na música do grupo Paralamas do Sucesso: Seja você! Seja só você!

 

Referências

FREUD, S. Recomendações aos médicos que exercem a psicanálise (1912). In: _____. O caso Schreber, artigos sobre técnica e outros trabalhos (1912). Direção geral da tradução de Jayme Salomão. Rio de Janeiro: Imago, 1969. (Edição standard brasileira das obras psicológicas de Sigmund Freud, 12).         [ Links ]

KEHL, M. C. Sobre ética e psicanálise. São Paulo: Companhia das Letras, 2002.         [ Links ]

LACAN, J. O seminário, livro 1: os escritos técnicos de Freud (1953-1954). 3. ed. Texto estabelecido por Jacques-Alain Miller. Tradução de Betty Milan. Rio de Janeiro: Zahar, 1986. (Campo Freudiano no Brasil).         [ Links ]

LACAN, J. O seminário, livro 8: a transferência (1960-1961). Texto estabelecido por Jacques-Alain Miller. Tradução de Dulce Duque Estrada. Revisão de Romildo do Rêgo Barros. Rio de Janeiro: Zahar, 1992. (Campo Freudiano no Brasil).         [ Links ]

LAPLANCHE, J.; PONTALIS, J-B. Vocabulário de Psicanálise. Direção de Daniel Lagache, Tradução de Pedro Tamem. São Paulo: Martins Fontes, 1992.         [ Links ]

MAYERHOFFER, M. O que o desejo do analista articula na sustentação política de não regulamentação da psicanálise como profissão? In: SIGAL, A. M.; CONTE, B.; ASSAD, S. (Orgs.). Ofício do psicanalista II: por que não regulamentar a psicanálise. São Paulo: Escuta, 2019. p. 85-102.         [ Links ]

SIGAL, A. M.; COMTE, B.; ASSAD, S. (Org.). Ofício do psicanalista II: por que não regulamentar a psicanálise. São Paulo: Escuta, 2019.         [ Links ]

 

 

Endereço para correspondência
E-mail: anna_lopez@globo.com.br

Recebido em: 12/11/2019
Aprovado em: 08/12/2019

 

 

SOBRE A AUTORA

Anna Lucia Leão López
Pós-graduada em Psicanálise pelo Instituto de Psicologia da UERJ.
Pós-graduada em Educação Psicomotora pelo Centro Universidade Instituto Brasileiro de Medicina de Reabilitação (IBMR).
Mestre em Pesquisa e Clínica em Psicanálise pelo Instituto de Psicologia da UERJ.
Musicista pela Escola de Música da UFRJ.
Musicoterapeuta pelo Conservatório Brasileiro de Música - Centro Universitário.
Psicanalista e Membro do Círculo Brasileiro de Psicanálise - Seção Rio de Janeiro (CBP-RJ).
Professora do curso de formação psicanalítica do Centro de Estudos Antônio Franco Ribeiro da Silva do CBP-RJ.
Presidente do CBP-RJ nos períodos: 2004-2006, 2006-2008, 2018-2020,(2020-2022.
Fundadora, Coordenadora e Supervisora Clínica do Núcleo de Estudos Psicanalíticos da Infância e da Adolescência (NEPsI) desde 2011.
Coeditora da revista Estudos de Psicanálise do Círculo Brasileiro de Psicanálise (2010-2014)

 

 

1 Trabalho apresentado no Painel 2 – Psicanálise, clínica e cultura  do XXIII CONGRESSO DO CÍRCULO BRASILEIRO DE PSICANÁLISE e da III JORNADA DO CÍRCULO PSICANALÍTICO DO PARÁ, Psicanálise e diversidades: inconsciente, cultura e caminhos pulsionais. Belém (PA), 7-11 nov. 2019.

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