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Estudos de Psicanálise

Print version ISSN 0100-3437

Estud. psicanal.  no.52 Belo Horizonte July/Dec. 2019

 

PAINÉIS E COMUNICAÇÕES SIMULTÂNEAS - TEXTOS COMPLETOS

 

Concepção de contratransferência em Pierre Fédida1

 

The countertransference conception in Pierre Fédida

 

 

Helena Maria Melo DiasI, II, III

I Universidade do Estado do Pará
II Associação Universitária de Pesquisa em Psicopatologia Fundamental
III Círculo Psicanalítico do Pará

Endereço para correspondência

 

 


RESUMO

A problematização do fenômeno da contratransferência emerge no campo psicanalítico a partir da década de 1910 e promove um aprofundamento na especificação da técnica analítica a fim de evitar os ‘desvios' à regra fundamental. Mas é a partir da década de 1940 que emerge uma vasta literatura que enfatiza os efeitos do processo contratransferencial no trabalho analítico, principalmente dos casos considerados difíceis à regra técnica freudiana. O objetivo deste trabalho é destacar a elaboração da contratransferência em Pierre Fédida.

Palavras-chave: Regra fundamental da técnica psicanalítica, Metapsicologia, Transferência, Contratransferência.


ABSTRACT

The countertransference phenomenon problematization emerges in the psychoanalytical field in the 1910s and promotes a deepen on the specification of the analytical technique in order to avoid “deviations” to the fundamental rule. But it is from the 1940s that emerges a vast literature which emphasizes the countertransferential process effects in the analytical work, mainly for cases considered as difficult for Freudian technical rule. This paper's objective is to highlight Pierre 's Fédida elaboration about countertransference.

Keywords: Fundamental rule of the psychoanalytical technique, Metapsychology, Transference, Countertransference.


 

Introdução

O presente texto trata da concepção de contratransferência de Pierre Fédida. Considero que esse autor amplia o estudo desse fenômeno clínico ao retomar a proposta ferencziana d a elaboração da metapsicologia da técnica psicanalítica, a qual envolve os processos psíquicos do paciente e do analista, ou seja, o encontro analítico numa situação singular movida pela transferência, que traz em seu bojo uma memória regressiva do paciente, bem como um potencial de resistência à revelação dessa memória e o resto não resolvido do analista na sua própria análise.

Defendo a tese que ressalta a relevância da contratransferência como um dispositivo clínico analítico (DIAS, 2007). Nesse sentido, entendo a contratransferência como a capacidade do analista de observar e de compreender suas próprias reações íntimas àquilo que o paciente lhe comunica na sua interlocução com o objeto alucinatório da transferência, e aos poucos vai se configurando a singularidade dessa organização e dinâmica psíquica. Além disso, compreendo o fenômeno como as imagens que se formam no analista com sua escuta ao paciente, o desenho interno da fala, o que isso lhe informa dessa clínica.

Para maior compreensão do complexo e fecundo pensamento do autor, apresento em seguida um breve esboço da formação de Fédida.

 

Sobre Pierre Fédida

Pierre Fédida (1934-2002), psicanalista francês de formação freudiana, foi membro da Association Psychanalytique de France (APF). Como professor da Université Paris VII - Denis Diderot, dirigiu a Formation Doctorale de Psychopathologie Fondamentale-Psychanalyse-Biologie e fundou, em 1979, o Laboratoire de Psychopathologie Fondamentale et Psychanalyse; depois, em 1993, o Centre du Vivant. Formou centenas de psicanalistas, dirigindo notadamente as teses de Maud Mannoni https://fr.wikipedia.org/wiki/Maud_Mannoni, Patrick Guyomard  e Monique David-Ménard, Mário Eduardo Costa Pereira, Denise Fontes, entre outros. No Brasil, em fevereiro de 1995, fundou, junto com Manoel Tosta Berlinck, o Laboratório de Psicopatologia Fundamental do Núcleo de Psicanálise do Programa de Pós-Graduados em Psicologia Clínica da Pontifícia Universidade Católica de São Paulo.

Neste trecho de sua biografia publicada pela Federação Brasileira de Psicanálise, destacam-se aspectos de sua concepção sobre a formação e a transmissão da psicanálise:

Em necrológio para o jornal Le Monde de 6 de novembro de 2002, publicado por ocasião da morte de Fédida, a psicanalista Elisabeth Roudinesco relembra que, percorrendo a trilha de Daniel Lagache, Didier Anzieu e Jean Laplanche, Fédida considerava que o ensino da disciplina freudiana não deveria ser uma exclusividade das associações psicanalíticas. Precisaria, sim, confrontar-se com outros domínios do saber. Sua posição levou-o a inovar o ensino nos departamentos de psicologia clínica após tornar-se professor da Universidade de Paris VII, em 1979. Ali, estabeleceu um “verdadeiro diálogo, de um lado, com os freudianos de obediência lacaniana, e, de outro, com os outros universitários, permitindo, assim, que a universidade se tornasse um lugar de confrontação entre as diversas correntes freudianas e entre elas e as outras disciplinas (CARNEIRO, s.d, p. 1).

No entanto, Fédida não formou escola, e essa posição – de não se deixar apreender pelo formato de escola – é sustentada na sua formação com diferentes autores de diversas escolas e, principalmente, por sua experiência clínica.

Sua marcante preocupação com a atividade clínica e com as manifestações psicopatológicas conduziu-o à investigação da metapsicologia da técnica e à transmissão da psicanálise. Ministrou vários seminários com psiquiatras em formação e pesquisadores no Hospital da Salpêtrière e no contexto do Centro de Pesquisas em Psicanálise e Psicopatologia da Universidade de Paris VII, com temas como este: Modelos teóricos da clínica e da técnica na prática psicoterápica.

Fédida reverencia o rigor do pensamento metapsicológico freudiano ao precisar a interpretação dos sonhos como paradigma do trabalho analítico. A especificidade desse modelo determina a regra fundamental da técnica que visa ao estabelecimento das condições de engendramento da linguagem. Ele especifica que o discurso da metapsicologia é um discurso heurístico, de descoberta, de desvelamento e é desse modo que, na clínica psicanalítica, a escuta tem um sentido metaforizante tanto para o analista quanto para o paciente, ao escutar sua própria história. Então, no trabalho analítico, o pensamento metapsicológico opera no desvendamento do inconsciente, que encontra sua polissemia na linguagem poética.

 

Contratransferência

Fédida sustenta sua concepção de contratransferência com base em Freud, Ferenczi, Melanie Klein, Bion, Winnicott, Harold Searls e nos seus estudos sobre a psiquiatria fenomenológica, na sua formação como filósofo, psicólogo e psicanalista e em sua interlocução com arte, mas, principalmente, em sua experiência clínica, nas suas supervisões e nos seminários clínicos que fundamentam sua leitura da técnica psicanalítica.

Defendo a tese de que essa vasta e consistente formação lhe permitiu uma compreensão mais ampla e fecunda da contratransferência. Essa concepção refere-se à metapsicologia dos processos psíquicos do analista e não à pessoa do analista. No entanto, esclareço como próprio do seu estilo, que ele não propõe uma teoria acabada, mas sim que as investigações sobre essa noção se ampliem, já que considera que por esse meio se pode compreender melhor a metapsicologia da técnica.

Em termos do pensamento freudiano, a contratransferência deve ser controlada pelo analista por meio da autoanálise e da análise pessoal. Todavia, à medida que Freud foi se apropriando da disciplina e da clínica psicanalítica, foi se dando conta da complexidade do psiquismo e do fenômeno da transferência. Então, até ao final de suas obras, como Análise terminável e interminável ([1937] 1989), Construções em análise ([1937] 1989) e Esboço de psicanálise ([1940/1938] 1989), revela sua inquietação com a estranheza da transferência.

Fédida examina com cuidado a famosa analogia entre o inconsciente e o receptor do telefone que Freud emprega metaforicamente em Conselhos ao médico no decorrer do tratamento ([1912] 1989), em que observa que o analista deve ser seu próprio inconsciente como órgão receptor ao inconsciente emissor do doente,

[...] comportando-se em relação ao analisado como receptor do telefone com respeito à platina (FÉDIDA, 1991, p. 206).

Assinala que, em nome da análise das resistências que são sempre reforçadas por uma personalização afetiva do papel do analista no tratamento, ao qual recomenda a frieza dos sentimentos, essa fórmula

[...] segue-se às considerações sobre a mobilidade exigida do analista, a necessária evitação de qualquer especulação ou ruminação e o cuidado de deixar de lado os afetos e a compaixão humana (FÉDIDA, 1991, p. 206)

Para Fédida (1991, p. 206),

[...] tal disposição garante certas condições de continuidade da análise e permite ao analista ‘poupar sua vida afetiva'.

Dessa forma, ele considera que é promovido um ideal técnico de regulação baseado na exigência de um inconsciente do analista, cuja receptividade é função de sua análise pessoal. Acerca desse ideal ligado à axiologia técnica como condição de linguagem, Fédida observa que a situação analítica comporta em relação à linguagem um conjunto de disposições formais a priori, sem as quais ela não pode ser instaurada. Quer dizer, a condição de instauração da situação analítica está referida à condição de linguagem, e disso resulta que, na técnica analítica,

[...] o analista deve, portanto, permanecer impenetrável (undurchsichtig) e, ‘como superfície de espelho, não mostrar nada além do que lhe foi mostrado' (FÉDIDA, 1991, p. 207).

A referência a esse axioma freudiano torna possível a especificação de que

[...] o que nos faz terapeutas é a existência da regra fundamental em nosso pensamento, assim como de tudo o que se passa entre nós e o paciente como desvios em relação a essa regra ideal (FÉDIDA, 1988, p. 31).

Desse modo, o enquadre está referido ao estabelecimento da regra fundamental da psicanálise, segundo a qual o paciente deve falar tudo o que lhe vier à cabeça, sem censura, orientado por um pensamento livre associativo, e o analista deve manter uma escuta movida por uma atenção flutuante à fala do paciente. Essa regra estabelece um compromisso do analista e do analisando com o enquadre no processo analítico.

Como diz Berlinck (2000, p. 260),

[...] a regra é fundamental porque funda, constitui, dá início ao tratamento e, por isso, precisa ser explicitamente declinada pelo psicanalista e formalmente aceita pelo analisando.

A regra fundamental não só funda como mantém a especificidade da situação psicanalítica.

Fédida realiza um rigoroso estudo da obra de Sándor Ferenczi, em especial sobre a concepção de contratransferência. Assim, no artigo Modalidades da comunicação na transferência e momentos críticos da contratransferência (1989), esse pesquisador retoma a conferência Elasticidade da técnica psicanalítica, pronunciada por Ferenczi em 1927, na Sociedade Húngara de Psicanálise. Ao examinar o referido artigo, chama-nos a atenção a expressão “metapsicologia da técnica”, a qual consideramos inovadora, pois

[...] incita o psicanalista a não deixar sua técnica tornar-se uma técnica psicológica da suposta comunicação interpessoal e impede a fácil satisfação com resultados favoráveis conseguidos no tratamento, desprezando a liquidação das formações do supereu que geralmente sustenta e mantém a transferência (FÉDIDA, 1989, p. 93).

Observa-se a sagacidade ferencziana ao correlacionar a metapsicologia da técnica à metapsicologia dos processos psíquicos do analista no tratamento, que exclui a possibilidade de conceber a metapsicologia como pura e simples pesquisa intelectual (de natureza filosófica ou psicológica) e impõe, em contrapartida, que os modelos provenientes da prática clínica sejam sempre virtualmente transformáveis no decorrer dos processos psíquicos do analista.

Com isso, Ferenczi mantém os pressupostos básicos do pensamento freudiano na acepção da metapsicologia que envolve a análise dos processos psíquicos sob os pontos de vista tópico, dinâmico e econômico. É dessa perspectiva que esse autor concebe a elasticidade da técnica psicanalítica. A elasticidade é um assunto de tato , isto é, de sensibilidade constante e de vigilância quanto à situação analítica e de sua dinâmica.

A análise da dinâmica de cada sessão, de cada caso, a revisão das experiências vividas durante o próprio tratamento analítico fazem Ferenczi reconhecer o complicado trabalho do psicanalista, que exige a elaboração de uma higiene particular do analista

Quer dizer, o

[...] próprio da contribuição deste autor é chamar a atenção para o aspecto da presença, do peso ontológico, se assim podemos dizer, da realidade ‘situacional', da realidade da sessão (MEZAN, 1993, p. 26).

Ferenczi foi o primeiro a se engajar no projeto de formular uma teoria da contratransferência ao insistir na necessidade de voltar uma atenção clínica e crítica a tais processos, pois, no pensamento desse autor, há lugar para a dimensão psicopatológica do funcionamento do analista, no sentido de uma experiência que se constitui como conhecimento subjetivo pelo contato com as paixões humanas. É justamente ao lidar com as paixões que a normalidade se torna ideal fictício, e o psicopatológico é o ‘acontecimento crítico' que irrompe na continuidade do curso dos processos psíquicos.

Indubitavelmente, é o psicopatológico que rege o que nos é analiticamente conhecível de nós mesmos e dos outros analistas. Nessas condições, é o que nos permite pensar metapsicologicamente a respeito dos processos psíquicos da atividade de analista, na medida em que caracteriza esses processos. Isso é ainda mais provável, já que cada paciente, no seu tratamento, faz vir à tona e reativa nossa psicopatologia pessoal.

No dizer de Fédida (1989, p. 119, grifo do autor),

[...] certamente não seria falso ousar pretender que os analistas são analistas e continuam sendo porque continuam a engajar com seus pacientes – transferencialmente – este ‘resto não resolvido' de sua própria análise.

Joyce McDougall trata desse resto não resolvido na sua escrita sobre A mulher analista e a mulher analisanda , na qual estuda a dimensão da homossexualidade inconsciente na situação analítica. Apresenta um caso clínico que parece bem pertinente para ilustrar a relevância de se tomar em consideração os efeitos da contratransferência como dispositivo clínico. Na evolução do processo terapêutico de sua paciente Marie-Josée, a analista tem um sonho contratransferencial que foi precioso no desvendamento dos aspectos psicopatológicos. Diz ela:

[...] minha surdez contratransferencial, juntamente com minhas fantasias recalcadas tinham funcionado como uma tela opaca, impedindo que a ‘luz' analítica iluminasse não somente a vida sexual adulta insatisfatória de Marie-Josée, mas também um elemento fantasístico predominante de sua frigidez parcial: a saber seus desejos homossexuais não reconhecidos (MCDOUGALL, 1997, p. 32).

Após a análise desse sonho, a analista se deu conta do quanto sua paciente – resto diurno – mobilizava esse resto não resolvido dos seus próprios desejos homossexuais, o qual emergiu livremente no sonho e possibilitou o desenrolar da análise de sua paciente.

É esse o lugar de ressonância em que consiste o dispositivo da contratransferência para a instauração e o engendramento da situação analítica, pois permite que o analista recupere sua condição como estranho/estrangeiro, cujo silêncio, em sua negatividade, favorece a escuta e oferece à fala uma recepção em sua máxima potência de constituir a linguagem como portadora do tempo e da memória do infantil.

O modelo do sonho, tão caro a Freud, orienta essa formulação teórica da técnica, cujo valor Fédida nunca deixa de sublinhar. O sonho, em sua estranheza e intimidade, é o guardião da memória adormecida. E McDougall nos traz essa memória que, adormecida, se deixa mobilizar pelos restos diurnos oriundos da análise de sua paciente.

Nesse sentido, a contratransferência, em sua função de recepção e transformação das transferências, permite ao analista ser o guardião do sítio em que se torna possível a construção da linguagem na análise.

É dessa perspectiva que o autor problematiza essa natureza da técnica, ao observar que ela não seria uma regra psicanalítica se não comportasse a capacidade de avaliação interna do resto não resolvido. Desse modo, ele faz uma leitura singular do resto não resolvido: em vez de considerar esse resto como “insuficientemente analisado” ou ainda de conceber esse resto “insuficientemente analisado” como marca de uma análise incompleta, esse resto não resolvido torna o inacabamento da análise constitutivo de uma prática técnica (FÉDIDA, 1991).

Nessa prática técnica, sublinha a relevância da posição do terceiro, o analista-supervisor, que representa a condição constitutiva de uma comunidade profissional dos analistas entre si sustentada na clínica psicopatológica.

No seu entender,

[...] não seria abusivo pretender que é dela que conviria esperar uma metapsicologia da técnica e uma metapsicologia dos processos psíquicos do analista na análise (FÉDIDA, 1989, p. 121).

Com base nesses estudos da situação analítica constitutiva do sítio do estrangeiro, Fédida critica os processos de intelectualização teórica do analista, bem como o movimento do empirismo da espontaneidade,

[...] que inevitavelmente leva o analista a fazer depender a eficácia de suas intervenções de investimento narcisista de sua própria pessoa (FÉDIDA, 1989, p. 100).

A pertinência dessa crítica advém desde a célebre obra A interpretação de sonhos , na qual Freud ([1900] 1989) especifica o rigor da técnica para desvendamento dos processos inconscientes que implica da parte do analista o abandono das representações conscientes do paciente, para que emerja o conteúdo oculto, não familiar.

Por isso, Fédida adverte quanto à familiarização da fala, pois isso aumenta as representações conscientes do pensamento, reforça o império e o domínio do representável em detrimento do figurável e, por fim, diminui, na mesma medida, a esperança da linguagem em suposto benefício do imaginário eu, numa relação interpessoal.

Concebe que a responsabilidade do analista, com respeito à fala do paciente, concerne, portanto, à instauração pelo analista da ‘ situação analítica' em psicoterapia. É dessa responsabilidade que procede a uma resposta, que é dada pelo engajamento de responsabilidade implicado na instauração da situação analítica (FÉDIDA, 1989).

 

Considerações finais

Fédida parte da teoria do sonho como paradigma da técnica analítica, especificada por Freud na regra fundamental como referência à máxima liberdade de expressão do paciente, sem nenhuma censura a tudo que lhe vem ao pensamento, de modo livre associativo. E ao analista cabe manter uma escuta flutuante, que exige certa mobilidade no seu modo de funcionamento psíquico promovida por sua análise pessoal. Com o estabelecimento dessa regra, delimita-se o enquadre analítico e torna-se possível a identificação do processo de transferência como operador da análise.

Além disso, o autor destaca a importância de retomar a proposta de Ferenczi na elaboração da ‘metapsicologia da técnica', que envolve tanto os processos psíquicos do paciente quanto os do analista na clínica psicanalítica. É dessa perspectiva que a concepção de contratransferência de Fédida comporta ‘ as transferências' , e sua investigação implica uma atividade metapsicológica que difere da pesquisa intelectual, pois seus modelos são transformáveis, regidos pelos modos de formação do sonho e da transferência. Disso ressalta a importância da posição do analista-supervisor para maior elucidação da evolução do processo analítico.

Essa concepção teórica de contratransferência acentua a especificidade de uma técnica que, em lugar de se desenvolver pela aplicação de um saber teórico, transmite-se pela análise do analista, pela investigação e descoberta dos seus próprios processos psíquicos.

 

Referências

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Endereço para correspondência
E-mail: hmelodias@uol.com.br

Recebido em: 12/11/2019
Aprovado em: 28/11/2019

 

 

SOBRE A AUTORA

Helena Maria Melo Dias
Professora Adjunta IV da Universidade do Estado do Pará (UEPA).
Mestre (2001) e doutora (2007) pela Pontifícia Universidade Católica de São Paulo (PUC-SP).
Pós-doutora (2014) pela Universidade Federal do Pará (UFPA).
Membro da Associação Universitária de Pesquisa em Psicopatologia Fundamental (AUPPF).
Sócia fundadora do Círculo Psicanalítico do Pará (CPPA).

 

 

1 Trabalho apresentado no Painel 2 – Psicanálise, clínica e cultura do XXIII CONGRESSO DO CÍRCULO BRASILEIRO DE PSICANÁLISE e da III JORNADA DO CÍRCULO PSICANALÍTICO DO PARÁ, Psicanálise e diversidades: inconsciente, cultura e caminhos pulsionais. Belém (PA), 7-11 nov. 2019.

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