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Estudos de Psicanálise

Print version ISSN 0100-3437

Estud. psicanal.  no.52 Belo Horizonte July/Dec. 2019

 

PAINÉIS E COMUNICAÇÕES SIMULTÂNEAS - TEXTOS COMPLETOS

 

Relações amorosas com psicopatas1

 

Love relations with psychopaths

 

 

Maria das Mercês Maia MuribecaI, II

I Sociedade Psicanalítica da Paraíba
II Centro Universitário de João Pessoa - UNIPÊ

Endereço para correspondência

 

 


RESUMO

Estudar a psicopatia é perceber que, embora sejamos todos seres humanos, não pensamos e sentimos da mesma maneira porque não funcionamos de acordo com os mesmos padrões de consciência moral, ética e honradez. A psicopatia vai além das categorias de gênero e de sexo. É, pois, uma condição individual, de causa multifatorial e pode ser alimentada mediante estruturas sociais, culturais e políticas. Neste artigo, elegemos analisar as relações amorosas entre homens psicopatas integrados ou ditos subclínicos (narcisistas, perversos e maquiavélicos) e suas parceiras mulheres (complementárias). Uma relação emocional, tecida e fiada, em linhas de sedução, encantamento, manipulação, humilhação, gaslighting, desprezo e aniquilação. É sob as consequências nefastas dessa montanha russa de sentimentos contraditórios que essas mulheres (vítimas ativas de um vampirismo psicológico violento) chegam ao consultório, no intuito de lograr romper com a sina inexorável desse encontro amoroso mortífero.

Palavras-chave: Relações amorosas tóxicas, Psicopatia, Psicologia criminal, Psicanálise.


ABSTRACT

To study psychopathy is to realize that, although we are all human beings, we do not think and feel the same way because we do not function according to the same standards of moral conscience, ethics and honor. Psychopathy goes beyond the categories of gender and sex. It is, therefore, an individual condition, of multifactorial cause and can be fed through social, cultural and political structures. In this article, we chose to analyze the love relationships between integrated psychopathic men or so-called sub clinics (narcissists, wicked and Machiavellian) and their female partners (complementary). An emotional relationship, woven and spun, along lines of seduction, enchantment, manipulation, humiliation, gaslighting, contempt and annihilation. It is under the nefarious consequences of this roller coaster of contradictory feelings that these women (active victims of violent psychological vampirism) arrive at the office, in order to break away from the inexorable fate of this deadly love encounter.

Keywords: Toxic love relationships, Psychopathy, Criminal psychology, Psychoanalysis.


 

Prolegômenos

Acabamos sempre por nos tornar
personagens da nossa própria história [...]
A verdade é sempre difícil de suportar [...]
Quanto mais nos aproximamos
da verdade da nossa história,
mais temos vontade de lhe dar as costas.

Jacques Lacan

 

Desde tempos imemoriais, o ser humano busca saber, cada vez mais, acerca de sua própria espécie. Questões inquietantes sobre suas origens e sua finitude, seus pensamentos e suas emoções estão sempre à espreita de respostas. Afinal, quem somos nós? Da Pré-História à atualidade, o ser humano metamorfoseia-se constantemente . Portanto, entre lapidações e burilamentos, construímos a nossa história.

Somos um ser biopsicossocial ainda em estudo, um animal racional e emocional de categoria incerta. Um ser de pulsões sexuais de vida e de morte, cuja própria sexualidade é um enigma ainda indecifrável. Isso porque a sexualidade humana não é um fenômeno puramente natural e sim suscetível às influências sociais e culturais. Ser de inter-relações afetivas, cujos laços que o unem, também os entrelaçamentos o desunem, permeados por forças contraditórias de amor e ódio, em que inúmeras personalidades se encontram na incrível arte de amar e ser amado, e se desencontram nas alamedas da rejeição e do abandono.

Mas o que é o amor? E o que são as personalidades? Pois bem, essas são perguntas complexas. E certamente suas respostas ainda são elucubrativas. Contudo, vamos tentar manusear os pensamentos, a fim de elaborar uma narrativa histórica de nossos conhecimentos.

As personalidades humanas constituem um desconcertante emaranhado de estados de ânimos, cognições e intenções diversificadas. Nesse sentido, a personalidade é o conjunto de nossos pensamentos, nossas emoções e nossas condutas, ou seja, uma espécie de u nidade integrativa, cujas características essenciais a ser observadas são: inteligência, caráter, temperamento e constituição.

E quanto ao amor? São múltiplas as suas faces e diversas as suas interpretações ao longo da história: platônico, cortês, ágape, mania, ludus, pragma, storge , Eros, romântico, confluente, líquido, livre, etc.

No entanto, somos verdadeiramente herdeiros do amor romântico, que data da Idade Contemporânea (1789) até os dias atuais. Esse modelo de amor alcançou seu ápice no século XIX e propagava o amor apaixonado como alicerce na construção da família, pilar da sociedade, em que o sexo era inseparável do amor e do laço conjugal. O ideal de amor romântico visava um amor recíproco e indissolúvel, cuja finalidade última era a felicidade. E esses ingredientes tornaram-se os principais elementos motivadores do casamento e das relações afetivas (LINS, 2017).

No transcurso dos tempos, Eros proliferou-se em prosa e verso propagando a utopia do encontro complementar e do adágio “ foram felizes para sempre”. No entanto, a fatualidade dos desencontros e a efemeridade da paixão forçou a trocar o axioma para “que seja infinito enquanto dure”. Porém, nada relacionado ao campo do enamoramento é de simples entendimento.

Então, podemos deduzir que será algo ainda mais desafiador se enveredarmos no universo das relações amorosas abusivas, de alto teor de toxicidade, e afunilarmos ainda mais essa complexidade analisando as relações heterossexuais entre homens psicopatas integrados e suas parceiras mulheres, ao mesmo tempo, vítimas e complementárias de uma emboscada amorosa predatória.

 

E quando o príncipe encantado dos contos de fadas é um psicopata?

A única certeza que se tem da paixão
é que ela não pode durar muito,
embora a proposta da paixão
seja a de tornar-se eterna.

Marli Monteiro

Segundo Robert Hare (2013), o s psicopatas vivem entre nós, no entanto a sociedade não os enxerga ou não deseja enxergá-los. Queremos acreditar que todos pensamos e sentimos da mesma maneira. Que somos bons e sociáveis. Que nos importamos uns com os outros. E que funcionamos conforme padrões similares de consciência moral, ética e honradez.

A verdade? É que somos da mesma espécie, porém muito diferentes. E o psicopata, através de sua surpreendente insensibilidade e total ausência de empatia, tem inúmeras formas de provocar danos irreversíveis nas pessoas para além dos delitos, que porventura possam cometer.

De acordo com os estudos de Vicente Garrido (2001; 2005), os psicopatas s e sentem superiores a todo mundo. Sua personalidade é marcadamente caracterizada pela megalomania, pelo hedonismo e pelo egocentrismo. E m seu convívio social, são verdadeiros camaleões, apresentam uma imagem sedutora, cativante e confiante. Mas são pessoas perversas, maquiavélicas e narcisistas. São especialmente famosos pelo seu narcisismo maligno, caracterizado por uma excessiva necessidade de atenção e adoração, uma espécie extrema de culto ao ego. Destacam-se ainda pela escassez de emoções morais como o amor, a compaixão a culpa e o arrependimento. São frios, calculistas, mentirosos, parasitas, inescrupulosos, irresponsáveis e transgressores de regras morais e sociais.

Além disso, vale assinalar que os psicopatas possuem um déficit emocional, como se possuíssem uma afasia semântica, ou seja, eles conhecem a letra do texto, mas desconhecem a melodia que o envolve. Apresentam uma anomalia na capacidade de vivenciar e reconhecer a experiência emocional e, assim, se conectar a outras pessoas, estabelecendo relacionamentos reais e duradouros. Isso quer dizer que a deficiência deles está no campo das emoções, naquilo que nos vincula afetivamente com o outro ou com todas as coisas do universo. Em suma, são conscientes, mas não possuem consciência moral, portanto a dificuldade reside em compreender conceitos básicos, como bondade, comprometimento e lealdade. No entanto, não apresentam problema algum de ordem cognitiva ou deficiência de raciocínio; são cônscios do que é certo e errado e do que envolve o bem e o mal (GARRIDO, 2005).

 

Relação afetiva amorosa entre o psicopata e a sua complementária

Em um nível muito pessoal,
eu só queria saber
que força é essa
que toma uma pessoa
e a leva à beira do abismo.

Robert Ressler

Conforme a teoria triangular do amor de Sternberg (1989), para que as relações amorosas sejam consideradas saudáveis, faz-se mister que haja três ingredientes básicos. O primeiro deles é composto pela paixão que irá conduzir ao romance, à atração física e ao ato sexual, promovendo, assim, o surgimento do segundo ingrediente, que é a intimidade, rubricada na seara da empatia, do carinho e do entendimento mútuo, para só então desembocar no terceiro ingrediente, a decisão de continuidade, que é selada na forma de compromisso.

Portanto, para que se concretize a construção do amor, faz-se necessário que as três partes do triângulo se fechem. Nesse sentido, torna-se impossível para um parceiro psicopata lograr esse sentimento amoroso, pois é incapaz de completar essa equação afetiva.

No entendimento de Hugo Marietán (2000; 2005; 2008), o psicopata possui três formas de se relacionar com o outro:

• O modo associativo: quando dois p sicopatas se necessitam por possuírem talentos distintos e indispensáveis para lograr um determinado fim.
• O modo tangencial: quando o p sicopata interage com uma vítima ocasional, existindo coerção e prática de ações delitivas sem a participação da outra pessoa;
• O modo complementário: quando um p sicopata se une a alguém que o complementa.

Nesse modelo de interação, ambos participam ativamente para manter o vínculo, ou seja, além de a pessoa envolvida ser vítima da sedução, da manipulação, da persuasão e dos encantos superficiais do psicopata, ela se tornará partícipe na manutenção dessa relação.

O amante psicopata vê na pessoa da complementária alguém que vem para preencher seus buracos negros, porque ela ilumina sua escuridão com emoções morais que ele não possui. Nesse aspecto, ela passa a ser um acessório que serve para aperfeiçoá-lo, e ele, através de sua habilidade em exercer violência psicológica, irá explorá-la emocional, sexual, social e financeiramente durante o tempo que for do seu interesse. Ele ainda ativará certas zonas escuras que sua companheira desconhecia possuir e, com isso, logrará desinibir certas repressões, eliminando tabus e rompendo com as barreiras do proibido (MARIETÁN, 2000; 2005).

Nesse sentido, ele consegue que sua companheira realize o inimaginável, aprisionando-a nesse novo universo existencial que a faz oscilar entre o êxtase das estrelas e as profundezas do inferno. Destarte , nada irá justificar o preço das humilhações, das desqualificações, ou seja, da deterioração de sua pessoa.

Ele vai escolhê-la, vai desarmá-la com palavras, vai controlá-la com sua presença. Ele vai encantá-la com sua inteligência e planos. Vai lhe mostrar o que realmente significa se divertir, mas é você quem vai pagar a conta (HARE, 2013, p. 37).

A complementária se torna uma espécie de codependente do psicopata e, assim, ela acredita que sua felicidade depende do bem-estar do seu amante e algoz e termina priorizando as necessidades dele em detrimento das suas. É excessivamente permissiva, tolerante e compreensiva com os abusos sofridos. Nessa relação tóxica, ela tenta resgatar, cuidar e corrigir os erros do psicopata. No entanto, ao desejar salvá-lo das trevas, termina por precipitar a sua própria vida no caos do abismo em que se encontra (MARIETÁN, 2008; 2011)

Mas quem são essas mulheres que amam psicopatas?

Sandra Brown (2018), afirma em seus estudos que elas são extrovertidas, cooperativas, competitivas e impulsivas, buscam emoções, detestam a monotonia, investem nos relacionamentos, possuem autodirecionamento e um alto nível de sociabilidade.

Segundo as pesquisas de Iñaki Piñuel (2016), as mulheres que se tornam alvo dos psicopatas integrados são de alta categoria humana, intelectual e moral, em geral, bem-sucedidas no campo pessoal, social e profissional.

Já Patrícia Faur (2012) ressalta o lado metódico, previsível, organizado e sistemático dessas mulheres, assinalando que elas ficarão fascinadas ao conhecer um homem surpreendentemente caótico e desestruturado. Em suma, podemos extrair a conclusão de que a luz da bondade busca iluminar a escuridão da maldade.

 

Etapas da relação e indicadores do psicopata integrado nas relações de casal

Eu semeei os meus sonhos
onde você está pisando agora;
pise suavemente
porque você está pisando
nos meus sonhos.

W. B. Yeats

Segundo Brown (2018), no início do relacionamento, o s psicopatas são muito envolventes, simpáticos, expansivos, persistentes e excepcionalmente charmosos. Nesse sentido, as mulheres que tiveram ou têm uma relação amorosa com psicopatas descrevem a união inicial como eletrizante, uma conexão instantânea, almas gêmeas, sexo extraordinário, fascinação e intensa vinculação. Para melhor compreender esse processo de enamoramento, iremos discorrer as etapas da relação calcados nos estudos de dois pesquisadores.

• Iñaki Piñuel (2016), que aponta: encantamento/adrenalina, isolamento/cativeiro emocional, vampirismo, destruição/anemia psíquica, afastamento/contato zero.
• Vicente Garrido (2001), que indica: t entativas de controle e isolamento, agressividade manifesta e velada, desprezo e humilhação, manipulação, negação dos erros e culpabilização externa, fachada externa de boa aparência.

Inicialmente imperam a paixão, o romance e a atração sexual , ou seja, é nessa fase de bombardeio amoroso que reina o encantamento. A intoxicação química da paixão (feniletilamina, anfetamina, oxitocina, dopamina) evoca um magnetismo emocional e sexual arrebatador, em que o sexo é utilizado como instrumento de poder e controle.

Nessa fase, a mulher confunde a perseguição intensa do psicopata com intimidade, passando rapidamente da atração para o apego e do apego para o vínculo afetivo, mas desconhece que o seu amante psicopata não forma vínculo porque isso exigiria o espectro completo de emoções. Infelizmente ele apenas consegue se apegar como nós nos apegamos aos objetos que possuímos enquanto eles nos interessam.

Posteriormente surgem as t entativas de controle e isolamento em relação aos amigos, à família e ao trabalho. Dessa forma, o psicopata cria e estabelece os laços de dependência e necessidade, que favorecem o controle das decisões e ações de sua parceira. As agressividades se mesclam em formas manifestas e sutis. Mentem, enganam e manipulam com avidez. Devido à carência de sentimento de culpa ou pesar, jamais se desculpam por nada, inclusive sempre que são descobertos em suas tramoias, invertem o jogo se vitimizando, estimulando a piedade e culpabilizando a companheira. Jogam com a teatralidade e a simulação, e sugerem a existência de uma triangulação, ou seja, uma infidelidade anunciada e negada para desestabilizar emocionalmente sua parceira. Ela deve saber que ele é cobiçado por outras mulheres e que a qualquer momento poderá ir embora (PIÑUEL, 2016).

Ao lado de um psicopata as mulheres percebem que as ameaças ao vínculo amoroso são constantes – como cada vez que desconfiam que estão sendo traídas, quando ele ameaça abandonar o relacionamento ou quando ele se desconecta e fica distante ou indiferente. (BROWN, 2018, p.189).

No entanto, a essas alturas do relacionamento, a mulher já está completamente adicta ao psicopata e fará de tudo para não ser descartada, mesmo que isso implique perder a própria dignidade. Está exausta emocionalmente e desenergizada fisicamente, pois existem dois relacionamentos acontecendo ao mesmo tempo (o ser encantador de outrora e o ogro assustador do presente). Sua adaptação aos dois lados do psicopata cria uma dissonância cognitiva, que consiste em sensações de desconforto resulta ntes de duas crenças contraditórias.

Atrelada à dissonância cognitiva, existe claramente a perda da autonomia traduzida na capacidade de autodeterminação para pensar, querer, sentir e agir. Além disso, o psicopata é um exímio gaslighter , ou seja, um experto na manipulação de informações com a intenção de fazer a vítima duvidar de sua própria memória, percepção e sanidade mental. Portanto, através do fenômeno gaslighting , ele estará no controle da realidade de sua companheira (SARKIS, 2019).

 

Saindo de cena e se reconstruindo

Enganar os outros.
É isso que o mundo
chama de romance.

Oscar Wilde

Faz-se mister ressaltar que, geralmente, q uando o vínculo afetivo se rompe, é porque o psicopata deixou de ter interesse em sua companheira, ou seja, a pós longo tempo de exploração parasitária envolvendo sedução, subjugação e controle, ele irá descartá-la para ingressar em outra relação com zero de culpa, remorso ou amor.

Dito isso, queremos assinalar que, mesmo quando a mulher descobre que tudo que o psicopata contou sobre si mesmo e suas crenças eram mentiras, que ele não a amou, mas satisfez suas necessidades pervertidas dominando-a psicologicamente, ela ainda tentará entender onde errou e averiguará o que pode fazer para tê-lo de volta. Quando a relação acaba, ela não perde só a relação: perde parte de sua identidade, ela já não lembra mais a mulher que era antes ( Piñuel, 2016).

No final do relacionamento, como pontua Lins (2017), brotam intensos e variados sentimentos que se revezam entre incredulidade, negação, impotência, tristeza e raiva. Além disso, ressalta que

[...] cada experiência de perda não é única; somam-se a ela outras de mesma natureza em fases anteriores da vida e que são reeditadas de forma inconsciente (LINS, 2017, p. 124).

Nesse aspecto, o apoio dos familiares, dos amigos e de profissionais é de suma importância para o desenlace. Isso porque a mulher apresentará danos inevitáveis como sentimento de autoculpabilidade, baixa autoestima, sentimentos antagônicos e possíveis sintomas dos transtornos de estresse pós-traumático, depressão, toxicomania, distúrbios do sono e da alimentação, entre outros.

Na saída de cena, é de vital relevância que a mulher se agarre às memórias de traição e abuso para possibilitar sua recuperação, porque o transe hipnótico ao qual esteve submetida durante tanto tempo, a faz conservar as lembranças de quando estiveram intensamente conectados. Isso fatalmente a fará voltar a acreditar em suas promessas de mudanças de hábitos. Mas a verdade é que o psicopata jamais reconhecerá seus erros e, se por acaso pedir desculpas e fizer juras de amor, é unicamente porque sente falta de dominá-la e controlá-la novamente.

De acordo com Trindade (2009), a ausência de sensibilidade e a indiferença aos sentimentos alheios são características presentes no psicopata. Ele sempre irá mascarar a realidade e inverter a verdade dos fatos em prejuízo alheio e benefício próprio. O parceiro psicopata desconhece o sentimento de solidariedade e empatia, tampouco incorpora o significado emocional de uma experiência vivenciada. Por isso, à guisa de prevenção, é bom ter em mente que o passado do psicopata é seu futuro.

Nesse sentido, como eles não apreendem com a experiência, a recomendação é afastamento e contato zero . Isso porque uma pessoa que não sente culpa, nem vergonha, nem contrição por suas ações está livre dos cabrestos morais que a fariam se desculpar e não voltar mais a cometer as mesmas condutas errôneas. Por isso, mesmo que o sofrimento seja intenso e se assemelhe a uma síndrome de abstinência, deve-se evitar qualquer contato, pois a mínima aproximação fará o metrônomo voltar a iniciar tudo outra vez (PIÑUEL, 2016).

 

Tecendo os últimos comentários sobre a psicopatia

Acredito que só uma pessoa
que nada aprendeu,
não modifica suas opiniões.

Emil Zatopek

Lamentavelmente, não podemos compreender com empatia a mente de um psicopata nem perscrutar suas expressões emocionais com nosso coração, tampouco estamos imunes aos encantos da paixão e às ciladas da conquista, portanto ainda somos presas fáceis de um predador voraz de almas afetuosas.

A bem da verdade, a ciência ainda se inquieta e se debruça nos estudos sobre a existência de seres humanos que por razões diversas não completam o processo de inserção na civilização, ou seja, são humanos mais não humanizáveis. Os psicopatas sofrem um déficit na integração do mundo emocional com a razão e a conduta. Portanto, tratar de um psicopata é uma luta inglória, pois não há como mudar sua maneira de ser, ver e sentir o mundo.

Por mais bizarro que possa parecer, os psicopatas parecem estar inteiramente satisfeitos consigo mesmos. Infelizmente, a destruição que eles deixam atrás de si é algo inenarrável e indescritível, pois de todos os homines sapiens o psicopata sabe ser a espécie mais mortífera nos anais da humanidade.

 

Referências

BROWN, S. Mulheres que amam psicopatas: como identificar homens com distúrbios de personalidade e se livrar de um relacionamento abusivo. São Paulo: Cultrix, 2018.         [ Links ]

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STERNBERG, R. J. El triángulo del amor: intimidad, pasión y compromiso. Barcelona: Paidós, 1989.         [ Links ]

TRINDADE, J. (Org.). Psicopatia - a máscara da justiça. Porto Alegre: Livraria do Advogado, 2009.         [ Links ]

 

 

Endereço para correspondência
E-mail: m.muribeca@gmail.com

Recebido em: 12/11/2019
Aprovado em: 28/12/2019

 

 

SOBRE A AUTORA

Maria das Mercês Maia Muribeca
Psicóloga clínica.
Psicanalista pela Sociedade Psicanalítica da Paraíba.
Doutora em Psicologia (Fundamentos y Desarrollos Psicoanalíticos) pela Universidad Autónoma de Madrid/España, título reconhecido pela UFRJ.
Professora titular, Professora de Psicopatologia do Centro Universitário de João Pessoa - UNIPÊ (2009-2019).
Supervisora do Estágio Clínico em Psicanálise da UNIPÊ.
Coordenadora dos cursos de especialização em Criminologia e Psicologia Investigativa Criminal e em Psicanálise, do Centro Universitário de João Pessoa (UNIPÊ).

 

 

1 Trabalho apresentado no XXIII CONGRESSO DO CÍRCULO BRASILEIRO DE PSICANÁLISE e da III JORNADA DO CÍRCULO PSICANALÍTICO DO PARÁ, Psicanálise e diversidades: inconsciente, cultura e caminhos pulsionais. Belém (PA), 7-11 nov. 2019.

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