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Estudos de Psicanálise

versão impressa ISSN 0100-3437versão On-line ISSN 2175-3482

Estud. psicanal.  no.55 Belo Horizonte jan./jun. 2021

 

PSICANÁLISE: CLÍNICA E TEORIA

 

Das fantasias à fantasia fundamental: caso clínico

 

From fantasies to fundamental fantasy: clinical case

 

 

José Mauricio da Silva

I Círculo Psicanalítico de Minas Gerais

Endereço para correspondência

 

 


RESUMO

O presente artigo discute a desconstrução das fantasias em análise e a construção da fantasia fundamental. A fantasia fundamental é da ordem do recalque primário. É o resquício da infância. A conservação de algo das primeiras experiências de satisfação movidas pelo princípio de prazer e posteriormente submetidas ao princípio de realidade. Como uma atividade mental, é uma invenção, pois carece de materialidade. Porém, é real na experiência do sujeito e, como função mental, determina a vida interna e externamente. Ela traça um caminho por onde o sujeito possa gozar. E para ilustrar a discussão, apresento um fragmento de caso clínico de um sujeito ainda em análise, pontuando a desconstrução das fantasias em direção à fantasia fundamental, que só efetuará no final da análise.

Palavras-chave: Fantasia fundamental, Recalque primário, Desconstrução, Construção, Análise.


ABSTRACT

This article discusses the deconstruction of the fantasies in analysis and the construction of the fundamental fantasy. The fundamental fantasy is of the order of the primary repression; it is the remnant of childhood, conservation of something of the first experiences of satisfaction moved by the principle of pleasure and later submitted to the principle of reality. As a mental activity, it is an invention, because it lacks materiality, but it is real in the subject's experience and how mental function determines life internally and externally. It traces a path through which the subject can jouissance. And to illustrate the discussion I present a fragment of a clinical case of a subject still under analysis, punctuating the deconstruction of fantasies towards the fundamental fantasy which will only be carried out at the end of the analysis.

Keywords: Fundamental fantasy, Primary repression, Deconstruction, Construction, Analyze.


 

Faz parte do meu respeito pelas pessoas
expor-me ao perigo de dizer-lhes a verdade
.
Wilhelm Reich

 

Quando falamos em fantasia, há que distinguir fantasia fundamental de fantasia inconsciente e fantasia (devaneio) consciente. Ambas podem ser inconscientes ou conscientes.

Segundo Marco Antonio Coutinho Jorge (2010), as fantasias inconscientes, como indica o nome, podem ter sido sempre inconscientes e lá permanecer, ou formadas a partir do inconsciente; podem também ter sido conscientes e, devido ao recalque, tornaram-se inconscientes.

Segundo Klein et al. (1952), a tradução inglesa da obra de Freud adotou a redação do vocábulo fantasia com "ph" [phantasy] com a ideia de diferenciar fantasia inteiramente inconsciente do termo popular no sentido de devaneio, ficção ou divagações inconscientes. Para a autora, quando Freud usa a palavra "fantasia" seu objetivo é estabelecer uma conotação essencialmente inconsciente.

Clinicamente falando, a fantasia que nos interessa é aquela que foi recalcada para o inconsciente ou lá nasceu ou permaneceu, resultando em manifestações patogênicas e formadoras de sintomas.

Como se forma a fantasia inconsciente? Antes de entrar nesta questão, recordemos que, no desenvolvimento da fala, há um aspecto que nos interessa muito, que é o fato de que a compreensão da(s) palavra(s) antecede em muito o seu emprego.

Compreender o que se diz e fazer uso da própria palavra é um acontecimento que varia muito de criança para criança. Há um tempo para a criança entender a palavra e fazer uso dela. A criança usa de outros recursos para se fazer entender, ou seja, há outros processos intelectuais expressos em ação utilizados muito antes de se expressarem em palavras.

Levando em consideração esse aspecto, podemos perguntar: As fantasias surgem antes ou depois da experiência da fala? As fantasias são concomitantes aos impulsos relevantes que dominam o agir e a experiência da criança? O neto de Freud, com o jogo do For Da, ilustra bem esse momento antes da fala.

Segundo Klein et al. (1952), a fantasia está ativa na mente muito antes do uso da linguagem. E na vida do adulto continua operando independentemente do uso de palavras. Os significados, os sentimentos precedem o uso da linguagem. Vivemos e sentimos, fantasiamos e atuamos para além dos significados verbais.

Na vida social, por exemplo, graças à nossa reação intuitiva diante da expressão facial, do timbre de voz e dos gestos de outras pessoas,

[...] sabemos até que ponto somos capazes de avaliar diretamente, sem palavras, que montante de significado está implícito no que percebemos por vezes sem uma única palavra proferida até a despeito das palavras que se digam. (KLEIN et al., 1952, p. 103).

As fantasias são o conteúdo primário dos processos mentais inconscientes, ou seja, a fantasia é o representante psíquico da pulsão. Uma fantasia representa conteúdos próprios das pulsões ou sentimentos em um dado momento, como desejos, medos, ansiedade, amor, mágoas, conquistas. Nos primeiros anos de vida, podemos supor o quanto são ricas as fantasias inconscientes que assumem um jeito específico de ser e somadas aos investimentos das zonas erógenas. Quando falo em jeito específico, estou me referindo, por exemplo, ao desejo de mamar. A criança vivencia essa fantasia específica: eu quero mamar.

Em nossa cultura, fomos educados para separar mente e corpo, como se fossem duas instâncias desconectadas. A criança não vivencia essa dicotomia: o mamar, por exemplo, é uma experiência de sugar e fantasiar. Chupar, sentir e fantasiar, uma vivência totalizante, que aos poucos vai se diferenciando a partir dos movimentos corporais, das sensações, das imagens.

Em O ego e o id, Freud ([1923] 1996) afirma que o Ego é corporal. Penso que precisamos pensar o corpo e sua conexão com a fantasia inconsciente. O esquema corporal ou a fantasia do corpo tem muito a nos dizer acerca das neuroses, até porque sua fonte está não no mundo externo e sim no interno, nos impulsos pulsionais.

As fantasias mais remotas, por exemplo, provenientes da experiência sensorial e entendidas como sensações corporais, podem ser caracterizadas a partir do que Freud nomeou de processos primários, ou seja, falta de coordenação do impulso, inexistência do tempo, de contradição, negação. É tudo ou nada.

Na Carta 52, Freud ([1896] 1996) fala desse primeiro momento em W (Wahrnehmungen) [percepções] em que não se conserva nenhum traço do que aconteceu. E Em Wz (Wahrnehmungszeichen) [indicação de percepção], onde há o primeiro registro das percepções, que são incapazes de se assomar à consciência.

Como qualquer atividade mental, a fantasia é uma invenção, pois carece de materialidade. Não pode ser tocada, não pode ser vista; porém, é real na experiência do sujeito. E como função mental, tem efeitos reais não apenas no mundo interno mas também no mundo externo, no jeito de se comportar.

Podemos falar das características corporais – estilo e tom de voz, postura corporal, modo de andar, de apertar a mão, expressões faciais, modo de escrever, maneirismos, trejeitos – como são determinadas direta ou indiretamente por fantasias específicas.

A análise é o espaço para trabalhar esses pormenores variados vinculados aos grupos de fantasias que atuam na vida psíquica do sujeito, sobre seu próprio corpo. O sujeito se escuta nas expressões sociais de caráter – maneira de se trabalhar com o tempo, posse de bens, pontual ou impontual, dar e receber, liderar, ser adepto, estar no centro. Podemos dizer que a fantasia é a linguagem dos impulsos pulsionais primários, pois participa do desenvolvimento inicial do ego em sua relação com a realidade.

Para Jorge (2010), ela está intimamente relacionada com a vida sexual do sujeito e é idêntica à fantasia de que o sujeito se serviu para a obtenção de prazer durante a fase da masturbação. O ato de se masturbar, composto pela fantasia evocada e pela ação para obtenção do prazer, era na sua origem, um ato autoerótico que extraia prazer de uma parte do corpo.

Posteriormente,

[...] o ato se fundiu a uma ideia plena de desejo pertencente à esfera do amor objetal e serviu como realização parcial da situação em que culminou a fantasia. (JORGE, 2010, p. 49).

O Édipo e a castração impõem um corte na relação do sujeito com a sexualidade, com a primeira satisfação de cunho autoerótico, em que todos os objetos servem ao prazer, ou seja, o ser de gozo da infância.

A entrada do Nome-do-Pai, que sinaliza para a criança a possibilidade de amar alguém fora do núcleo familiar, ocupa um lugar privilegiado na economia libidinal da figura da mãe. Essa identificação primeira, de nível simbólico, é o momento do recalque primário, que fixa um representante para a pulsão. E como já dito acima, é o momento de constituição da fantasia fundamental. Assim, a fantasia é o resquício da infância, a conservação de algo dessas primeiras experiências de satisfação movidas pelo princípio de prazer e posteriormente submetidas ao princípio de realidade.

A esse respeito, Quinet (2012, p. 29) explica:

A introdução do Nome-do-Pai no lugar do Outro – Outro do Gozo (A) – barra o acesso do sujeito ao gozo e ele não mais poderá ocupar o lugar de objeto do gozo do Outro, a não ser na fantasia. Assim, o Outro, como lugar dos significantes, se torna o Outro como lugar da Lei. Essa operação tem como resultado a instauração de uma falta, que Freud chamou de castração, que terá como consequência tornar o Outro inconsciente.

Ao término do complexo de Édipo, as figuras parentais serão internalizadas, ou seja, a lei do pai e o recalque do desejo. Pelo recalque funda-se o inconsciente, o Outro e o sujeito. Se houve recalque, então ocorreu a identificação simbólica no Édipo e os ditos das figuras parentais foram introjetadas, originando o supereu. O supereu é a lei, lei que barra o gozo, gozo do sujeito de se colocar como objeto de amor da mãe. Porém, após a castração, podemos dizer que ele volta via fantasia.

A operação de separação se efetiva no momento da entrada no Nome-do-Pai que se inscreve com uma barra, o que efetua um corte no sujeito. Nesse corte, parte da experiência é simbolizada e inscrita no aparelho psíquico originando os sistemas consciente e inconsciente, porém algo permanece sem ser simbolizado.

Esse resto da operação, que não foi simbolizado, é algo que "cai", que se desvela no momento da divisão. É o objeto a. O objeto a é da ordem do real, do não representável, como diz Sirelli (2017, p. 38):

Em sua vertente real, designa das Ding, resto, resíduo produzido a partir da relação do ser vivente com o Outro, rebotalho que não é representado no aparelho psíquico, configurando um furo, um vazio contornado por representações, em torno do qual o inconsciente, estruturado como uma linguagem, se funda.

O desejo advém desse resto, desse vazio. Assim, o objeto a é causa do desejo. Causa do desejo porque traz em si a impossibilidade de tamponar o vazio. Essa impossibilidade é a que põe o aparelho psíquico em movimento, na busca do que supostamente foi perdido e que na verdade nunca esteve lá. Encontrá-lo lá significaria deparar-se com a completude, a morte. A falta é constitutiva do ser humano, é estrutural. Viver é dar conta dessa falta.

Freud nos lembra dos mecanismos que usamos para dar conta desse objeto faltoso, que faz a vida árdua demais, quando diz em O mal-estar da civilização ([1930] 1996, p. 83):

A fim de suportá-la [a vida], não podemos dispensar as medidas paliativas. [...] Existem talvez três medidas deste tipo: derivativos poderosos que nos fazem extrair luz de nossa desgraça [atividade cientifica]; satisfações substitutivas, que a diminuem [artes, fantasias]; e substâncias tóxicas, que nos tornam insensíveis a ela.

É uma busca incessante assim como incessante é a pulsão. E nesse movimento sempre acionado pela pulsão, busca-se algum objeto que possa engambelar o sujeito. Podemos dizer que há uma aposta nos objetos parciais, aposta no sentido de encontrar neles algo poderoso que dê conta da falta, ou seja, da completude.

Num jogo constante, a vida vai se fazendo nessa dinâmica de oferecer objetos parciais às exigências pulsionais, e estas, como numa brincadeira, aceitam por um momento e depois nos diz não querer mais. Como diz Jorge (2010, p. 134): "o que a pulsão quer é Das Ding, mas o que ela recebe é o objeto a".

Diríamos que isso é da ordem do trágico no sentido grego. É assim. Não há outro jeito de ser. Todas as manhãs se oferece à pulsão algum substituto da Coisa para satisfazê-la parcialmente, mas no dia seguinte ela quer tudo de novo. E ainda mais.

Nessas idas e vindas, está a ‘re-petição', uma demanda que se renova com teimosia, porém jamais é atendida. E na repetição deparamos com a pulsão de morte.

Jorge (2010, p. 137) nos diz:

A pulsão, a pulsão de morte, pede a Coisa, o objeto da pulsão de morte é das Ding. Gozo.

Diante do imperativo da pulsão de morte, do excesso pulsional e do gozo, entendidos como morte do sujeito, a fantasia fundamental entra em cena dando um contorno para que a vida seja possível. A fantasia fundamental como realidade psíquica, portanto, inconsciente, diz respeito à ação do recalque primário. Frente ao inacessível e à inconsistência do Outro, a fantasia é uma resposta que faz borda ao vazio deixado pela extração do objeto causado pela castração.

Se antes o sujeito era gozo puro, agora a fantasia é um filtro por onde o sujeito pode gozar como possibilidade de reencontro com o objeto perdido. Via castração, há um afunilamento do gozo ilimitado reduzindo seus efeitos mortíferos, se restringindo agora a algumas partes privilegiadas do corpo, os orifícios corporais.

O que antes era gozo incontornável agora tem um limite, o que Lacan (2010) chamou de gozo fálico, ou seja, trata-se de um gozo articulado. Isto é, a fantasia, na sua condição de filtro, sinaliza para aquilo que falta , sujeito barrado porque é atravessado pela falta, numa relação de desejo com o objeto a, objeto faltoso, como diz Israel (1994, p. 66):

[...] a fantasia não transporta consigo um mais de excitação, um mais de prazer, um mais de gozo, um mais de desejo. Ela constitui o passo fundador do sujeito, pois, na fantasia, esse sujeito, de uma maneira ou de outra, se encontra ligado não mais à Coisa, mas ao objeto.

A fantasia, como filtro ou como freio, imporá um limite ao gozo imperioso e mortífero da pulsão de morte. Como dito acima, a fantasia sexualiza a pulsão de morte e, via sexualização, oferece os orifícios corporais erogeneizados como regiões privilegiadas de encontro com o Outro e local de incidência de demanda do Outro, ou seja, busca de satisfação.

A função da fantasia no aparelho psíquico, como nos diz Freud ([1920] 1996), é a obtenção de prazer, algo restringido pela realidade, mas que continua como exigência da pulsão. Assim, a fantasia funciona como conciliadora entre duas forças imperiosas, ou seja, a pulsão, que demanda satisfação a qualquer preço, e a renúncia da realidade, que apresenta obstáculos para que não ocorra a satisfação da demanda pulsional.

A fantasia é a reguladora das forças conflituosas que visam diminuir a pressão interna e preservar o equilíbrio do aparelho psíquico. A fantasia "é uma das formas privilegiadas de satisfação da pulsão", diz Jorge (2010, p. 68).

Freud, a partir de 1920, nos fala da pulsão de morte como uma vertente que rege nosso psiquismo. Dada a sua condição mortífera, há um arranjo para dar conta dessa força pulsante, que é a fantasia. A fantasia surge a partir de uma operação psíquica chamada recalque originário, graças ao significante Nome-do-Pai.

O recalque originário, segundo Jorge (2010, p. 78),

resulta para o psiquismo da criança na instauração dessa matriz psíquica: a fantasia.

A fantasia vai funcionar como freio ao gozo puro ou pulsão de morte, possibilitando a criação de um espaço em que a pulsão de morte seja sexualizada, ou seja, nesse espaço, a fantasia controla parte da pulsão de morte. É o que Freud ([1920] 1996) chama de pulsão de vida, isto é, a pulsão sexual.

Assim, temos, de um lado, a pulsão sexual regida pelo princípio de prazer, contornado pela fantasia e, de outro lado, a pulsão de morte, que aponta para mais além do princípio de prazer.

Graças à operação Nome-do-Pai, há o recalque originário e, consequentemente, a instauração no inconsciente da matriz psíquica chamada fantasia fundamental, que nada mais é do que um jeito fixo de o sujeito de relacionar com a causa desejo. Como sabemos, o desejo não possui um objeto específico.

E Jorge (2010, p. 78) afirma que a fantasia

[...] é o suporte do desejo na medida em que ela o fixa numa certa relação estável com determinado objeto.

A fantasia fundamental é como um grande rio com vários afluentes, ou seja, ela funciona como o denominador comum de todas as fantasias que jazem aos sintomas que são falados em análise.

Dessa maneira, a fantasia não pode ser recuperada pela análise como acontece com as fantasias conectadas aos sintomas e somente o resultado de uma construção pelo analista e pelo analisando ao término do processo analítico. Já a fantasia fundamental como axioma é uma frase para além da qual nada mais há. Esse axioma, como diz Jorge (2010), não é da ordem da interpretação; ao contrário, todas as interpretações convergem para ela.

Lacan (2010, p. 194) entende a fantasia fundamental como "o que instaura o lugar onde o sujeito pode se fixar como desejo"; como se fosse uma prisão domiciliar do sujeito e ali estivesse a seu dispor os objetos investidos por sua libido e outros que lhe são familiares.

Porém, o sujeito não pode sair, está aprisionado e vive, portanto, o prazer de forma limitada, sem se dar conta dessa experiencia. Talvez pudéssemos evocar o mito da caverna de Platão como metáfora dessa vivência. Em análise, o sujeito constrói possibilidades de saídas da caverna, alcançando a liberdade.

Como diz Jorge (2010, p. 80):

[...] com a travessia da fantasia, o sujeito passa a ter um domicílio que não é mais uma prisão domiciliar: isso significa que a estrutura da fantasia inconsciente permanece um lugar de referência privilegiado para o sujeito no qual ele pode, doravante, entrar e sair quando quiser, já que não se acha mais encerrado em seu interior.

No final da análise espera-se que se efetue a travessia da fantasia. Atravessar a fantasia "é deparar-se com o impossível em jogo na relação sexual". (JORGE, 2010, p. 85).

Assim, efetuada esta operação, o neurótico terá acesso ao polo do gozo, algo de que tanto se defende. Com o perverso também não é diferente. Mais do que acessar o que antes não vivenciara, é agora poder fazer a partir do que Lacan propõe no matema da fantasia: , ou seja, a dimensão do desejo, entendido como falta. Aquela falta que nos remete à perda do gozo da origem quando o sujeito entrou na cultura, no mundo simbólico. Tanto o neurótico quanto o perverso terão acesso ao desejo.

Como sabemos, o objeto a como falta pura é algo inacessível, a não ser pela palavra ou pela imagem, isto é, pelo simbólico e imaginário. Aqui entra a função primordial da fantasia, ou seja, o simbólico e o imaginário, que são as faces do objeto a serem traduzidos pela articulação de palavras e imagens pelo sujeito. Como isso se dá?

Jorge (2010, p. 142) nos diz que:

[...] quando o sujeito tem seu desejo acionado, na fantasia, em relação ao objeto a, ele se liga a esse objeto através de palavras e de imagens. Mas aquilo que está na base dessas palavras e dessas imagens é a falta de palavra, assim como a falta de imagem, que é das Ding. Não há palavra ou imagem que possa representar das Ding.

Há inicialmente um gozo absoluto (A), querido pela estrutura psíquica dirigida pela pulsão de morte. É um gozo mortífero, diríamos, é a própria morte. Em contrapartida, há também um gozo fálico (), administrado pela fantasia, ligado às zonas erógenas, um gozo parcial e sexual, que nada mais é do que uma parcialização ou limitação da pulsão de morte via linguagem. O que era mortífero agora é servido em doses homeopáticas.

Ou como diz Jorge (2010, p. 147):

[...] o gozo fálico é aquele em que o real é filtrado pelo simbólico e pelo imaginário constituído pela fantasia.

O gozo fálico como o nome diz, media o falo. O falo é um objeto valioso que traz sem si esse pensamento imaginário. Atribui-se a ele o caráter de perfeição, completude, da fixação de uma imagem insubstituível. Ou seja, falo é aquilo que é visado e investido pelo sujeito como algo que lhe falta para ser pleno.

 

Fragmentos de um caso clínico

Em análise há dois anos, Quirino deixa cair de seu discurso algo que é sua marca registrada, ou seja, sua fantasia fundamental. A significante rejeição tornou-se o bordão por onde se pode escutá-lo nas suas tramas pessoais, familiares e profissionais. Ante suas narrativas, como uma grande colcha de retalhos, a rejeição se tornou o fio que tece retalho por retalho de sua história, como uma sombra que o persegue em tudo que faz.

Ao sentir-se rejeitado pela mãe na gestação, não afirma ter escutado isso, mas concluiu escutando os romances familiares. Como exemplo, diz que a mãe tinha vergonha de ir a uma festa, pois eram cinco filhos. "É muita gente," diz. Embora não duvide do amor da mãe, tem a sensação de não ter sido desejado. Ele tem uma identificação profunda com a figura materna, afirmando ser "a mãe cuspida e escarrada". A relação estabelecida com a figura materna é marcada pela ambivalência amor-ódio. Pelas manhãs, ao acordar, tem ânsia de vômito e diarreia. Esses sintomas são tentativas de expulsão do seio mau da mãe não suficientemente boa introjetada?

Ao narrar um evento doméstico, fala da quebra de um vaso de cristal da mãe. Vaso de valor afetivo no âmbito familiar. O tempo vivido entre a quebra do vaso e a chegada da mãe foi descrito assim:

[...] uma espera de angústia, vontade de morrer... pensei em morrer... pedi a Deus para me tirar a vida. Fiquei esperando minha mãe chegar e me bater.

A mãe chega, fica chateada e não lhe bate. Essa "angústia de espera", como ele chamou, tornou-se seu cartão de visitas. Quebrar o vaso da mãe é uma tentativa de destruí-la? Quebrar o vaso – "útero" – pode ser entendido como destruir o espaço que o rejeitou?

Associadas a esses eventos anteriores, a sensação de não desejado e a quebra do vaso vão se somando muitos outros. Por motivo de saúde, não pôde fazer o curso tão almejado dentro da instituição à qual pertencia, e foi obrigado a abandonar esse sonho, algo que não digeriu. E como bom obsessivo, se pergunta sempre o que poderia ter feito para ter dado certo. Esteve como diretor de uma fábrica de construção de armas. Um sucesso de gestão, pelo relato. Dobrou a produção em menos de dois anos. Tornou-se workaholic, iniciou terapia comportamental e pediu para sair da gerência do trabalho por medo de não dar conta. Transferido para outro lugar, assume a gestão administrativa de controle de munição de armas. Não sustenta esse lugar e pede para sair. O curioso é que nessas funções ele trabalha com armas e munição, "significantes" que sinalizam morte e destruição. Poderíamos aventar possibilidades de um desvio de sua pulsão de morte canalizada para um fazer sublimado?

Foi transferido para outra área e em seguida se aposentou aos 46 anos. Assume um cargo como funcionário público com muita responsabilidade, atuando em uma grande área. A dinâmica que o movimentara anteriormente se repete atualmente. Diante de qualquer empecilho no trabalho, inicia uma masturbação mental ensaiando o pedido de demissão. Movido pela pulsão de morte, em que o masoquismo feminino, representado pela passividade e pela submissão, nosso cliente oferece o próprio corpo como lugar para experienciar a dor. O sujeito fantasia situações em que se oferece como objeto para ser batido ou humilhado pelo outro.

Na trama familiar, a esposa, por ser mais propositiva, acaba resolvendo as questões do cotidiano, inclusive a educação dos filhos. Quando em conflitos ou por questões morais em relação aos filhos, a esposa o convoca a se posicionar.

E ele diz:

[...] a minha esposa fala bem, é muito precisa nas falas, às vezes acabo concordando. Não preciso dizer, eu a apoio.

Na festa dos 50 anos de casamento dos sogros, no ritual de entrada, a esposa e os filhos entraram e ele não foi convidado. Ficou sentado no banco. Na sua formação profissional, algo parecido acontece.

Assim ele relata:

[...] nas premiações, por exemplo, os dez melhores eram premiados anualmente, e no ano que correspondia à minha turma, eu fui o oitavo e premiaram até o sexto; no ano seguinte, os três primeiros, e eu fui o sexto e no ano seguinte fui o terceiro e só premiaram o primeiro, e acrescenta: estou sempre sobrando. O senhor viu?

Profissionalmente falando, entrou em uma instituição, embora a profissão escolhida fosse um sonho do pai. Seu sonho desde criança era outro. Ele se aposenta antes de ser promovido ao cume da pirâmide hierárquica.

Em uma sessão relata este sonho: "Estava em viagem para a instituição. E o que mais queria era voltar para casa."

Indagado a respeito diz: "isto só fala de mim".

"Só?" pergunta o analista.

Ele diz: "Na verdade, meu sonho de criança era outro. Meu pai tinha um sonho e pelo jeito, alto escalão, e não foi".

Não?

"Me vi realizando o sonho do meu pai".

Emociona-se e se diz entristecido por perceber que abrira mão de seu sonho. Mas em seguida diz:

Fiz um acordo comigo mesmo: tinha começado a namorar e a única condição para eu me casar era continuar na instituição e me formar. E pensava: quando for oportuno, farei o curso que quero, meu sonho de criança. E foi o que fiz.

O analista solicita que repita o que acabara de dizer. Repetiu ipsis litteris.

E o analista acrescenta:

Aí há uma ruptura, não? Você separa o sonho do pai do seu próprio sonho. Vai continuar realizando o sonho do pai, mas não renuncia ao seu sonho.

Quirino se emociona e depois foi tomado de uma grande alegria. Ele sai da instituição pouco antes de galgar o ponto alto da hierarquia. Não realiza o sonho do pai. Curioso é que todos os sonhos que traz para a análise se passam na instituição. E ele diz: "Eu saí de lá, mas a instituição não saiu de mim".

O pai, mesmo morto, ainda o persegue, pensa o analista. O analista percebe uma culpa velada por desistir do sonho do pai. E ao mesmo tempo está na instituição e não está, num movimento de se incluir e se excluir. Não está lá na instituição, mas a instituição está dentro. Quero estar por meu pai e não quero estar por mim.

Quirino está dividido entre seu desejo e o desejo do pai. Formou-se na profissão que queria, mas não sabe o que fazer com o desejo do pai. E nessa dissociação vai se constituindo como sujeito de seu desejo.

Recentemente falou de sua condição de sentir-se entubado e ao mesmo tempo falou do pai entubado no CTI de um hospital. O analista entende como possibilidade de morte e sepultamento desse pai perseguidor.

A dualidade dentro/fora, fora/dentro constitui para o analisando seu grande dilema. Ao se sentir não incluído no desejo da mãe, entende seu lugar como fora e, ao mesmo tempo, como se a mãe pudesse lhe dar algo que não tem, ou seja, o falo.

Em sonhos recentes fala dessa condição quando diz:

Estava num Chevette e o motor esquentou. Fui a uma oficina e uma mulher consertou.

Ou em outro sonho:

E fomos chamados para substituir um aparelho de ar condicionado. Vou com uma mulher – tinha um instrumento melhor que o meu. Além de medir a velocidade do ar e a temperatura, media a saturação do sangue. O senhor viu.... ela era melhor que eu. Não precisava trocar o aparelho. Ela decidiu. Sabia mais que eu.

A análise do sonho conduziu-o ao seu desejo de ser uma pessoa forte e decidida, portadora do falo. Como no sonho ele enfatizasse demais a mulher que consertava o carro e que decidia se trocava ou não o ar condicionado, pergunto-lhe o que elas têm e ele não.

Ante sua negativa, acrescenta o analista: "Elas batem a pica na mesa e resolvem, né?

Ele se assusta ao ouvir a frase e solta um "Nooosssa".

Aproveitando seu desconserto o analista pergunta: "Cadê sua pica?"

Ele olha para o analista com um olhar de "criança abandonada" e diz: "Não tenho, não tenho poder. Gostaria de ter".

Em umas das sessões, conta ao analista esta parábola:

O diabo procura Deus e lhe diz que há muitas pessoas no inferno que não deveriam estar lá e acredita que no céu não deve ser diferente. Propõe a construção de uma ponte para facilitar a passagem das pessoas de um lado para o outro. Feitos os combinados, cada um construiria metade da ponte. Dois dias depois, o diabo já tinha terminado sua parte e ficou aguardando a parte do céu para fazer a junção. Um mês, dois, três e nada da parte de Deus. O diabo resolve ir até o céu para tirar satisfações. Ao que Deus lhe responde: aqui no céu não temos empreiteiras.

A parábola traduz bem um de seus sonhos relatados, sobretudo sua condição de um ser dissociado: dividido entre ele e o pai, entre Deus e o diabo, ou seja, o simbólico e o diabólico, pulsão de vida, pulsão de morte. A ponte do diabo, o desejo do pai se construiu rapidamente, porém a sua, ainda está em construção.

É curioso que essa parábola nos remete ao mito de Édipo, em que pai e filho se encontram numa ponte e, por disputarem passagem de suas carruagens, a tragédia se efetua: o filho mata o pai.

Em Freud sabemos que o sujeito não se excita de uma maneira natural. A excitação sexual é mediada pela fantasia. E a fantasia não se escreve no plural, mas se reduz à fantasia no singular.

A fantasia organiza a maneira como o sujeito pode gozar. ela tem uma estrutura própria, como já descrito minuciosamente em O Homem dos lobos. Tem uma estrutura três, ou seja, dois corpos em relação numa cena que é violenta mas erótica, como se vê em Bate-se numa criança (FREUD, [1919] 2020) em que o pai, batendo no bumbum daquela criança provoca excitação no sujeito na posição do olhar, de observador.

Nessa cena básica, quando se consolida, a fantasia cristaliza, e a criança pode se ver numa dessas posições fundamentais. Ela Pode se identificar ou com a criança espancada, ou com o pai espancador, ou com aquele que olha a cena. Sempre haverá uma posição privilegiada em que se identifica e é a partir dessa posição que o sujeito vai se excitar eroticamente.

Podemos perceber, então, que não há excitação erótica natural em Freud. Ela é mediada pela fantasia que já está cristalizada, na posição de gozo do sujeito numa certa cena que propicia a excitação. Um certo tipo de satisfação erótica singular. É como se houvesse uma estrutura básica de fantasia, uma fantasia fundamental, que vai produzir as demais fantasias.

E nosso cliente, onde se instala? Ao falar de sua vida sexual, ele o faz sublinhando o quanto é saudável. Porém, fala de sua masturbação movida por vídeos eróticos, das mulheres com grandes seios que o atraem e, ao mesmo tempo, o medo de que sua esposa descubra isso. Quirino se sente traidor de sua mulher. A pulsão escópica sobressai dividindo-o mais uma vez entre o real da sexualidade e a fantasia que sustenta suas masturbações. Grandes seios, objeto de seu olhar, como compensação ante o seio materno mal oferecido, porém não desejado, querido.

 

Conclusão

Como sabemos, ao chegar à análise, o sujeito, queixa de sintomas, de mal-estar, de um desprazer. Mal sabe que está movido por outra força que o leva sempre ao mesmo lugar e que é responsável pelo seu gozo.

Nessa perspectiva, a fantasia funciona como uma máquina que transforma o gozo em prazer, algo exemplificado por Freud quando fala de seu neto no jogo do Fort-da . Ou seja, ao dominar a situação vivenciada, a criança consegue obter prazer proveniente da engenharia do seu brincar.

Em nosso caso, o cliente goza com a possiblidade de se ver excluído de vários eventos na vida. Ao não se sentir desejado pela mãe, faz do não incluído uma meta a ser alcançada. Não recebe o falo da mãe e desempoderado. Não se sustenta como ser de desejo e se refugia em ideais fálicos.

Essa ficção corresponde ao recalque primário. E por ser dessa ordem, foge à interpretação, portanto, resta ser objeto de construção na análise.

Por um lado, a fantasia, é manifestação do desejo do Outro; por outro lado, relaciona-se à falta no campo do significante, daí seu caráter de construção. Assim, a construção da fantasia está vinculada à direção da cura, trabalho próprio do analista, pois sua função é revelar a fantasia fundamental.

Revelar é tirar o véu de algo que na experiência analítica não foi tocado ou alcançado pelo significante. Por sua dimensão imaginária, o analisando fala das suas produções como imagens, sejam pertencentes ao seu mundo, sejam pertencentes ao seu redor.

Pela dimensão simbólica, percebe-se que as histórias contadas pelos analisandos obedecem, como diz Miller (1984) a regras ou normas de construção próprias de cada língua. Ou seja, a fantasia fundamental aparecerá somente após a desconstrução das fantasias subjacentes que surfaram na onda da fundamental. E se apresentará em uma frase, como um axioma, princípio que rege a vida do sujeito ou, se preferir, como uma linha férrea por onde o trem faz seu percurso.

O matema lacaniano da fantasia () fala dessa fixação do sujeito em algum lugar peculiar, escondido. Embora haja essa construção, não significa pôr um ponto final e dizer "Chegamos".

A dimensão do real, do não modificável, do impossível retrata um resíduo no fim da análise não alcançável, pois estamos operando com o recalque primário.

Ao término da análise, a fantasia fundamental, que funcionou como matriz eficaz dentro de uma coerência neurótica marcada pela inércia e fixação do sujeito, precisa ser rompida. Aliás, o atravessamento da fantasia é sua análise. A estrutura neurótica permanece à semelhança da moldura de um quadro, porém os sintomas desaparecem. A análise faz o percurso partindo dos sintomas visíveis, palpáveis, à fantasia fundamental escondida.

 

Referências

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Endereço para correspondência
E-mail: mauricio@agostinianos.org.br

Recebido em: 20/05/2021
Aprovado em: 16/06/2021

 

 

SOBRE O AUTOR

José Mauricio da Silva
Graduado em Filosofia pela PUC-MG e em Teologia pelas Faculdades Associadas Ipiranga, São Paulo.
Graduado e licenciado em Psicologia pela Universidade Gama Filho (UGF).
Especialista em Teoria e Clínica Psicanalítica Universidade Gama Filho (UGF).
Especialista em Psicoterapia Reichiana.
Aperfeiçoamento em Gestão na Fundação Dom Cabral.
Mestre em Psicologia pela Pontifícia Universidade Católica de Minas Gerais (PUC MINAS).
Doutor em Psicologia pela Pontifícia Universidade Católica de Minas Gerais (PUC MINAS).
Membro em formação psicanalítica no segundo tempo no Círculo Psicanalítico de Minas Gerais.

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