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Estudos de Psicanálise

versão impressa ISSN 0100-3437versão On-line ISSN 2175-3482

Estud. psicanal.  no.55 Belo Horizonte jan./jun. 2021

 

PSICANÁLISE: CLÍNICA E TEORIA

 

Thomas Ogden, leitor de Winnicott: diálogos epistemológicos, teórico-clínicos e estéticos1

 

Thomas Ogden, reader of Winnicott: epistemological, clinical theoretical and aesthetic dialogues

 

 

Pedro Hikiji NevesI; Daniel KupermannI, II

I Universidade de São Paulo
II Grupo Brasileiro de Pesquisas Sándor Ferenczi

Endereço para correspondência

 

 


RESUMO

Thomas Ogden é um analista contemporâneo que articula pensamentos de diferentes autores em suas publicações. Nesse sentido, apresenta um equilíbrio entre tradição e inovação, propondo sínteses e diálogos com autores de base da psicanálise, como Freud, Klein, Bion e Winnicott. Neste artigo, exploramos especificamente a relação entre Ogden e Winnicott, contextualizando a maneira como o primeiro transforma a obra do segundo, em um processo de criar/encontrar. Tomando a noção de sujeito como fundamento e apoiando-se em termos exteriores ao texto original, como dialética, intersubjetividade, rêverie e terceiro analítico, Ogden sugere outro vértice de leitura dos textos winnicottianos. Este artigo propõe compreender os diálogos de Ogden e Winnicott em três eixos: (1) epistemológico, relativo ao entendimento de que o sujeito é intersubjetivamente constituído; (2) teórico-clínico, relativo à descrição conceitual do que acontece entre analisando e analista no setting psicanalítico; (3) estético, cuja ênfase é a descrição fenomenológica de como o analista é afetado pelo encontro clínico. Esses três eixos têm relação direta uns com os outros, pois a noção de sujeito intersubjetivo (eixo epistemológico) engendra uma compreensão de teoria da clínica (eixo teórico-clínico) que, por sua vez, é utilizada para interpretar as vivências específicas do analista na sessão (eixo estético).

Palavras-chave: Ogden, Thomas H., Winnicott, Donald Woods, Brincar (Winnicott), Terceiro analítico, Regressão.


ABSTRACT

Thomas Ogden is a contemporary analyst who articulates the thoughts of different authors in his publications. In this sense, he presents a balance between tradition and innovation, proposing synthesis and dialogues with fundamental psychoanalytic authors, such as Freud, Klein, Bion and Winnicott. In this article, we explore the relationship between Ogden and Winnicott in particular, contextualizing the way in which the first transforms the work of the second, as a process of creating/finding. Taking the notion of subject as a foundation and relying on terms outside the original text, such as dialectics, intersubjectivity, reverie, and analytic third, Ogden suggests another reading of Winnicott's texts. This article proposes to understand the dialogues of Ogden and Winnicott along three axes: first, an epistemological one, related to the understanding that the subject is intersubjectively constituted; secondly, a theoretical-clinical one, related to the conceptual description of what happens between analysand and analyst in the psychoanalytic setting; and finally, an aesthetic one, whose emphasis is the phenomenological description of how the analyst is affected by the clinical encounter. These three axes are directly related to each other, because the concept of the intersubjective subject (epistemological axis) engenders an understanding of the theory of the clinic (theoretical-clinical axis) that, in turn, is used to interpret the analyst's specific experiences in session (aesthetic axis).

Keywords: Ogden, Thomas H., Winnicott, Donald Woods, Playing (Winnicott), Analytic Third, Regression.


 

Introdução

Thomas Ogden é um teórico contemporâneo que aborda a psicanálise a partir de diversas matrizes, articulando contribuições freudianas, kleinianas, bionianas e winnicottianas de forma coesa. Situa-se, portanto, em um campo transmatricial (FIGUEIREDO; JUNIOR, 2018), ou seja, articula diferentes matrizes de pensamento do substrato psicanalítico.

Neste artigo propomos a compreensão em três eixos da obra ogdeniana e apresentamos a influência de Winnicott em cada um deles. Para tanto, caracterizamos alguns conceitos fundamentais de Ogden, como o terceiro analítico (1996) e seu uso da noção de trindade entre símbolo, simbolizado e self intérprete.

Ogden tece uma leitura própria de diversos temas psicanalíticos. Assim, dialoga criativamente com diversos autores e seus conceitos, como a identificação projetiva (KLEIN, 1946), a regressão à dependência (WINNICOTT, 1982) e o brincar no espaço potencial (WINNICOTT, 2020), e a rêverie (BION, 1959, 1962).

Nosso foco, no entanto, será o uso que se faz do pensamento de Donald W. Winnicott. Num primeiro momento, tentaremos responder à pergunta "Quem é o Winnicott de Ogden?" Ou seja, como Ogden se apropria da compreensão winnicottiana da clínica e se relaciona com ela? Depois, propomos compreender em três eixos os pontos de convergência, divergência e inovação de Ogden em relação a Winnicott. Nossa leitura, portanto, está interessada em considerar qual o espaço deixado pela teoria winnicottiana, no qual Ogden pôde "brincar".

Reconhecemos as contribuições da leitura de Ogden em três eixos:

• epistemológico: relativo ao entendimento do que é o sujeito intersubjetivamente constituído;

• teórico-clínico: relativo à descrição conceitual do que acontece entre analisando e analista no setting psicanalítico;

• estético: sua ênfase é a descrição fenomenológica de como o analista é afetado pelo encontro clínico.

Esses três eixos têm relação direta entre si, pois a noção de sujeito intersubjetivo (eixo epistemológico) engendra uma compreensão de teoria da clínica (eixo teórico-clínico) que, por sua vez, é utilizada para interpretar as vivências específicas do analista na sessão (eixo estético). Essa distinção também é útil porque Ogden parte da linguagem de Winnicott e a interpreta com base nos seus referenciais, principalmente a dialética e a trindade entre símbolo, simbolizado e self intérprete.

Do ponto de vista epistemológico, Ogden apresenta Winnicott como fundador de uma teoria do psiquismo que comporta o sujeito intersubjetivamente constituído, formado na dialética entre mãe e bebê. Há um terceiro termo na relação: o "mãe-bebê", que existe antes mesmo que mãe e bebê possam ser considerados sujeitos separados. O mesmo acontece na análise, em que existe um analista, um analisando e um terceiro analítico, produto da dialética estabelecida pelos dois.

Considerar a existência do terceiro analítico implica a formulação de uma teoria da clínica condizente com essa epistemologia. No eixo teórico-clínico, Ogden conceitua transferência e contratransferência a partir do terceiro analítico. O espaço potencial winnicottiano, que surge entre analisando e analista, é atravessado pelas tensões dialéticas do encontro. Na brincadeira, as fronteiras rígidas entre eu e outro se tornam maleáveis, e há um movimento de cocriação intersubjetiva. Para descrever essa área de criação e caracterizar o que está "no meio" da interação, Ogden investiga a matriz dos movimentos transferenciais-contratransferenciais e defende que existem modos específicos da dupla analítica de gerar experiência.

Por fim, há o eixo estético, que considera a experiência sensível, especificamente sofrida pelo psicanalista. Durante a sessão, a partir do contato com o analisando, o analista experimenta sensações corporais, imagens, pensamentos, alucinações somáticas e devaneios. A epistemologia e a teoria da clínica empregadas apontam para a importância dessas afetações: elas não são vividas pelo clínico de forma isolada, mas apontam para algo vivido na interação, no terceiro analítico.

Logo, a articulação dos dois últimos eixos é relevante para o pensamento clínico: a análise teórica do par transferência-contratransferência contextualiza as vivências particulares do analista e influi em seu manejo clínico, pois caracteriza a relação dialética que ele estabelece com o paciente.

 

1. Quem é o Winnicott de Ogden?

Donald Winnicott foi um autor fundamental para o pensamento psicanalítico. Em O brincar e a realidade ([1971] 2020), usa metáforas e paradoxos para descrever a singular experiência de tornar-se sujeito num espaço compartilhado. A criança que brinca com seus primeiros objetos pode entrelaçar as informações e os estímulos do seu ambiente externo (seus primeiros objetos favoritos e brinquedos que ocupam essa área transicional) com as fantasias de seu mundo interno (dando vida e apreço àquele objeto), criando uma área de jogo, de brincadeira em que esses dois mundos podem se sobrepor e se interrelacionar.

O sujeito surge, então, a partir do contato com o outro exatamente no espaço potencial entre a criança e o cuidador. Desde cedo, em sua obra, Winnicott afirma que o bebê não existe alheio aos cuidados maternos (1990), pois o recém-nascido não pode existir afastado de um cuidador, uma vez que ainda não é autônomo ou independente.

Logo, ao nascer, a criança está intimamente ligada à mãe (ou substituto), que, com seu cuidado, fornece uma matriz psicológica sobre a qual a criança pode sobreviver. Essa é uma relação de dependência absoluta, cujo vínculo é forte o bastante para permitir o uso da expressão unitária "mãe-bebê" para descrever esse momento.

Essa matriz, lugar para a inicial maturação biológica e psicológica do bebê, faz parte da base da constituição subjetiva. Em Sujeitos da psicanálise, Ogden (1996) discute que, quando Winnicott defende a inexistência "disso que chamamos de bebê", está elaborando uma teoria cujo sujeito é constituído numa matriz intersubjetiva.

Portanto, os filhos, no primeiro período de vida, são indissociáveis de suas mães (ou substitutos), que lhes fornecem sustentação física e psicológica. Consequentemente, a primeira "entidade" psicológica que pode ser nomeada no desenvolvimento do recém-nascido não é o bebê, mas o bebê com sua mãe: sinteticamente, o mãe-bebê. Nesse primeiro momento, não há um bebê como sujeito; ele não tem capacidade psicológica de se diferenciar da mãe. Tal conquista é mais tardia e nunca total.

A diferenciação é sempre incompleta, e o campo intersubjetivo está sempre presente. Assim como na relação de maternagem há a necessidade de perceber a entidade mãe-bebê, na relação analista e analisando há um terceiro sujeito que emerge do/no encontro.

O nome dado por Ogden (1996, p. 60) a esse sujeito é "terceiro analítico", que é o

[...] produto de uma dialética única produzida por entre as subjetividades separadas do analista e do analisando dentro do setting analítico.

Para sustentar essa concepção, Ogden aborda o texto winnicottiano a partir de outros referenciais. Portanto, usa a dialética para substituir a noção de paradoxo em Winnicott; e lê o espaço potencial através da trindade símbolo, simbolizado e self intérprete. Uma divisão rígida entre esses conceitos é artificial, visto que a obra de Ogden constrói os dois de forma articulada.

A dialética hegeliana relida por Kojève é referida no trabalho de Ogden como

[...] um processo no qual cada um de dois conceitos opostos criam, informam, preservam e negam o outro, num relacionamento dinâmico (sempre em mudança) com o outro. (OGDEN, 2015, p. 212).

A escrita winnicottiana, principalmente no capítulo Objetos e fenômenos transicionais, de O brincar e a realidade ([1971] 2020), implica alguns paradoxos formulados pelo bebê em sua relação inicial com o mundo. O objeto transicional, por exemplo, simultaneamente criado e encontrado pelo infante, pode ser considerado simultaneamente parte do mundo externo e do interno. Esse paradoxo deve ser aceito e não questionado pela mãe e demais cuidadores.

Transformando o paradoxo numa dialética, os pares externo-interno, unicidade-dualidade e criação-descoberta (do objeto) são postos em tensão dinâmica, e pode-se compreender de outra forma as decorrências das inovações do autor inglês.

Seguindo a argumentação de Ogden (2015), a dialética é uma chave para entender a atividade psicológica de gerar espaço potencial. Tomemos duas definições de espaço potencial:

• de forma genérica, espaço potencial é a área conceituada por Winnicott (2020, p. 74) para "dar lugar ao brincar";

• de forma específica , Ogden (2015, p. 172) explica que o espaço potencial é uma

[...] área hipotética que existe (mas não pode existir) entre o bebê e o objeto (a mãe ou parte da mãe) durante a fase do repúdio do objeto como não eu, ou seja, ao final do estado de fusão com o objeto. (Grifo nosso).

Ogden (2015) aborda o paradoxo em jogo (a área hipotética que existe, mas não pode existir) descrevendo o espaço de modo triangular. Para ele, o espaço potencial se configura na dialética entre símbolo e simbolizado mediado pelo self intérprete.

Para esclarecer a relação entre esses termos, analisaremos o processo de desenvolvimento do bebê, particularmente o momento em que ele começa a perceber uma separação entre seu mundo interno e o externo e, a partir da brincadeira, começa a simbolizar.

O espaço potencial é, para Winnicott (2020), a área do brincar. Segundo Ogden (2015), o essencial para o brincar é a capacidade do bebê de gerar significados pessoais, ou seja, separar símbolo (pensamento), simbolizado (aquilo que está sendo pensado) e self intérprete (o pensador gerando seus próprios pensamentos e interpretando seus próprios símbolos).

A partir dessa separação, há a possibilidade de triangulação e, assim, surge o espaço potencial entre símbolo e simbolizado mediado por um self intérprete. Essa é a área de criação individual sobre o mundo, que Ogden denomina de dialética entre a realidade e a fantasia.

O modo de trabalho dialético presente no pensamento de Thomas Ogden ampara sua contribuição acerca do terceiro analítico. Assim como existem a mãe, o bebê e o mãe-bebê, no setting analítico há o analista, o analisando e o terceiro sujeito intersubjetivo, que aparece neles/através deles. A experiência de análise comporta um movimento dialético entre subjetividade e intersubjetividade que precisa ser considerado.

O terceiro analítico é um conceito que explora e avança as consequências clínicas de um sujeito intersubjetivo. Antes mesmo de constituir sua própria subjetividade, a criança, segundo Winnicott, nasceria a partir de uma matriz intersubjetiva, um mãe-bebê que vive uma "unicidade invisível". (OGGDEN, 2015, p. 178), sem separações claras entre sujeitos. Nesse sentido, assim como não existe o bebê alheio aos cuidados maternos, não existe o analisando se desconsiderarmos a presença do analista.

A existência de uma terceira subjetividade na relação de maternagem, o mãe-bebê, levanta a questão do reflexo dessa condição na clínica. Ogden encontra ou, de forma mais adequada, cria e encontra essa terceira subjetividade na forma do terceiro analítico. Portanto, o paralelo clínico dos três termos "mãe", "bebê" e "mãe-bebê" é "analista", "analisando" e "terceiro analítico".

Segundo Ogden (1996, p. 60), terceiro analítico é o

[...] produto de uma dialética única produzida por entre as subjetividades separadas do analista e do analisando dentro do setting analítico.

 

1.1 Eixo epistemológico: o sujeito intersubjetivo

Thomas Ogden tem uma visão epistemológica condizente com sua leitura do sujeito intersubjetivo winnicottiano. Esse eixo apresenta o objeto de estudo de Ogden, especificamente qual o sujeito de sua teoria. Essa perspectiva baseia suas releituras teórico-clínicas e estéticas.

Em Sujeitos da psicanálise, Ogden (1996) utiliza a dialética para explorar as contribuições de Winnicott sobre a concepção de sujeito em psicanálise. Ressalta que um fator central para sua definição de sujeito é a dialética entre os pares unicidade e dualidade2 [oneness/twoness].

A relação unicidade-dualidade se refere ao momento inicial da vida da criança, em que a identificação materna é extrema com o bebê.

Diz Ogden (1996, p. 46):

A mãe se engaja no processo psicológico de permitir que sua subjetividade ceda lugar à do bebê (ao vivenciar as necessidades dele como próprias) e, ao mesmo tempo, mantém um senso suficiente de sua própria subjetividade distinta para permitir-se servir de intérprete da experiência do bebê, fazendo com que sua alteridade seja sentida, mas não levada em conta. A intersubjetividade que subjaz à preocupação materna primária implica uma forma precoce da dialética da unicidade [oneness] e dualidade [twoness]: a mãe é uma presença invisível (invisível mas sentida).

Em Winnicott, a constituição de um (sujeito) pode acontecer somente a partir de dois: não existe o bebê alheio aos cuidados maternos. A "unidade básica" (WINNICOTT, 1958, p. 99), portanto, não está no indivíduo, mas no conjunto bebê-mãe ambiente: "O centro de gravidade do ser não surge no indivíduo, ele está na situação global". É essa indissociabilidade entre sujeito e ambiente que conduz Ogden (1996) a descrever esse processo de emergência do sujeito como intersubjetivo.

Então, o eixo epistemológico se ampara nessa compreensão de intersubjetividade. O sujeito emerge numa tensão, vivendo simultaneamente uma unicidade (estar-em-um) e uma dualidade (estar separado). Portanto, assim como não é possível falar do bebê sem dizer de sua mãe, não é possível falar do analisando sem dizer de seu analista.

Esse sujeito constituído pelo encontro é sempre afetado pelo outro, e uma grande contribuição desse conceito para a clínica é o reconhecimento de que é impossível distinguir uma barreira rígida entre o mundo interno (dentro) e o externo (fora).

Em Objetos e fenômenos transicionais, Winnicott (1975) aborda a questão do mundo interno e externo ressaltando que a característica do objeto transicional da criança é ser paradoxalmente criado e encontrado. Winnicott é notável por não resolver esses paradoxos e, assim, abre espaço para o leitor decodificar os sentidos desse enigma, como indica Ogden (2001).

O uso criativo da linguagem é um dos elementos que consagra Winnicott como um autor relevante e influente. O espaço deixado em aberto pela linguagem paradoxal é preenchido pelo leitor com sua bagagem, para que ele possa "brincar junto".

Para expandir a compreensão desse fenômeno, Ogden cria sua própria linguagem com outro sistema de conceitos, apoiado em referenciais distintos. Em vez de sustentar duas afirmações opostas simultaneamente ("o bebê criou o objeto" e "o bebê encontrou o objeto"), por exemplo, Ogden (2015) propõe que imaginemos esse problema como uma tensão entre dois polos – criar e encontrar – que se relacionam dialeticamente, ou seja, a partir de criação, negação e preservação entre dois termos opostos.

A leitura dos paradoxos sob a perspectiva da dialética e a importância conferida à intersubjetividade é a marca fundamental do eixo epistemológico da leitura de Ogden acerca do pensamento winnicottiano e tem decorrências diretas nos dois eixos seguintes.

 

1.2 Eixo teórico-clínico: a regressão à dependência e o brincar no terceiro analítico

A partir do fundamento epistemológico do pensamento ogdeniano, se consolida uma teoria da clínica condizente com sua perspectiva intersubjetiva.

Nesta seção, apresentamos o desenvolvimento de Ogden acerca da regressão à dependência e o brincar compartilhado sobre os quais se apoia, para desenvolver o conceito de terceiro analítico. Sua perspectiva epistemológica o defronta com o problema de conceituar a transferência e a contratransferência a partir do olhar intersubjetivo. E para isso, retoma também o pensamento de Melanie Klein (1935, 1946) sobre as posições esquizoparanoide e depressiva.

Desde Winnicott ([1971] 2020, p. 74) é clara a perspectiva de que a psicanálise nada mais é do que uma forma "altamente especializada do brincar". Assim, analista e analisando brincam juntos numa atividade compartilhada situada na terceira área da experiência (2020), ou seja, no entrelaçamento das possibilidades criativas dos dois.

É importante que o terapeuta possa constituir um ambiente seguro, em que os pacientes, especialmente os mais traumatizados e comprometidos em seus processos de subjetivação, possam regredir a um estado de dependência absoluta.

Seguindo o esquema da cisão básica da personalidade apresentado por Winnicott (2000), da adaptação ao ambiente impelida pela via da submissão decorre um persistente falso self por meio do qual o sujeito se apresenta ao mundo e por meio do qual se expressa na análise – protegendo um verdadeiro self oculto.

Se a conversa analítica ficasse restrita ao verbalizado pelo falso self do analisando, conforme o que vigorou por décadas durante as quais predominou o "estilo interpretativo" na psicanálise (cf. KUPERMANN, 2019), o processo se tornaria tanto interminável quanto inócuo. É preciso, portanto, que o analista encontre alguma via de acesso ao núcleo sensível do analisando, representado pelo seu verdadeiro self.

De acordo com Winnicott, a acessibilidade ao analisando tem como condição sine qua non a confiabilidade proporcionada pelo setting, que lhe permite a regressão à dependência na presença do analista. A regressão à dependência – uma competência preservada pelo analisando em seu processo de constituição subjetiva – recupera a experiência de "ilusão de onipotência" por meio da qual a relação com o meio e com o outro passa a se constituir de forma mais espontânea e criativa. Haveria, assim, uma espécie de "descongelamento" do processo de amadurecimento e o analisando passaria a dispor de modos de expressão mais autênticos (WINNICOTT, 1982).

Caberá ao analista, nessa nova situação, dispor de toda a sua sensibilidade empática de modo reverberar o gesto espontâneo manifestado pelo analisando – seja com palavras antes inauditas, seja por meio do silêncio significativo.

Ogden reconhece que as fronteiras eu-outro são sempre ilusórias e que o sujeito é necessariamente permeável ao outro, em algum grau. Ele se interessa, portanto, em estudar as propriedades e as qualidades do espaço potencial que se constitui entre os membros da dupla analítica.

Que tipo de interação acontece na terceira área da experiência? O que preenche o espaço entre dois sujeitos? O que a regressão à dependência do analisando provoca na mente do analista?

O produto do encontro de subjetividades não é uma síntese perfeita nem um campo harmonioso. A tensão se mantém, e toda síntese provisória altera os dois polos da experiência clínica – analisando e analista – e os reorganiza em novos arranjos. Esse campo de tensões foi descrito como o terceiro analítico: um terceiro sujeito que emerge da interação entre duas subjetividades.

A interação analítica, portanto, é dialética: envolve dois polos e uma tensão criativa entre eles. Assim, os dois participam dessa experiência de forma conjunta. Uma das funções do psicanalista é descrever as qualidades específicas dessa relação.

De acordo com Ogden (1996, p. 90):

[O analista] procura reconhecer, compreender e simbolizar verbalmente, para si mesmo e para o analisando, a natureza específica da inter-relação momento-a-momento da experiência subjetiva do analista, da experiência subjetiva do analisando e da experiência intersubjetivamente gerada do par analítico (a experiência do terceiro analítico).

O terceiro analítico é também um terceiro sujeito na relação. Isso implica reconhecer que a transferência e a contratransferência não somente acontecem no eixo terapeuta-paciente, mas também há a transferência para o terceiro. Essa distinção fica clara na situação de maternagem, pois poderíamos dizer que o bebê se relaciona com "duas mães", a mãe-como-objeto e a mãe-como-ambiente. No período após o nascimento, na fase de preocupação materna primária (WINNICOTT, 1956), os cuidados intensos da mãe geram no bebê a sensação de que a mãe é o próprio ambiente.

Ogden (1996, p. 131) sublinha, a partir disso, que o terceiro analítico também sofre influência do ambiente interno dos sujeitos. Segundo ele, a transferência implica "transferir nossa experiência do ambiente interno, dentro do qual vivemos, para a situação analítica".

A compreensão das dinâmicas específicas da transferência e da contratransferência fornece ao analista mais recursos para descrever o que acontece no espaço potencial. Contudo, todo jogo tem um cenário, e seria possível delimitar o "cenário emocional", pano de fundo do brincar analítico.

Para isso, Ogden retoma o conceito de posições subjetivas, de Melanie Klein (1935, 1946), a fim de ressaltar o modo subjacente como a dupla produz experiência e o denomina de matriz da transferência-contratransferência.

Conforme Ogden (1996, p. 132), a experiência da transferência e da contratransferência é

[...] o resultado da inter-relação de três modos de criar significado psicológico: o autista-contíguo, o esquizoparanoide e o depressivo. A inter-relação dinâmica desses modos de gerar experiência determina a natureza do estado básico de ser (ou matriz psicológica) dentro do qual cada um vive e constrói significados pessoais a cada momento. Assim sendo, uma compreensão desses modos de gerar experiência [...] é essencial para uma compreensão e interpretação da transferência-contratransferência.

A matriz da transferência-contratransferência é o modo particular da dupla analítica de criar experiência e constitui o produto de uma dialética das três posições: a esquizoparanoide e a depressiva, propostas classicamente por Klein, e a autista-contígua, desenvolvida em Ogden (1989).

Não desenvolvemos neste artigo as posições kleinianas, mas abordamos a autista-contígua, contribuição propriamente autoral de Thomas Ogden (1996, p. 133):

A posição autista-contígua está associada ao modo mais primitivo de atribuir significado à experiência. É uma organização psicológica na qual a experiência do self está baseada na ordenação da experiência sensorial, particularmente das sensações na superfície da pele.

As posições subjetivas kleinianas e ogdeniana são modos de criar experiência. Além disso, se referem à organização do sujeito com relação a seus signos, como indica Leiman (2000). A dupla analítica, da mesma forma, tem nessa dialética o pano de fundo de seu trabalho.

Escolhemos ressaltar a contribuição de Ogden para mostrar seu esforço de criar uma teoria da clínica condizente com sua epistemologia. Para lidar com o conceito de transferência e contratransferência, é preciso descrever sua matriz, a fim de comportar o olhar intersubjetivo proveniente do terceiro analítico.

Ao se debruçar sobre a matriz dos movimentos transferenciais e sobre as formas de experiência da dupla, Ogden cria um apoio teórico para contextualizar o que é vivido afetivamente por cada um, no campo que denominamos estético. A epistemologia oferece substrato à teorização, que por sua vez contextualiza a experiência de cada analista com cada paciente.

Esses três eixos da leitura de Thomas Ogden do pensamento winnicottiano estão evidentemente interrelacionados, em especial nas trocas entre o teórico-clínico e o estético: o fenômeno vivido é contextualizado pela teoria, que altera por sua vez a forma de viver a experiência sensível.

 

1.3 Eixo estético: a presença sensível do psicanalista

Para descrever a prática sensível do analista, recorremos ao campo da estética. Entre a multiplicidade de noções de estética presentes no campo psicológico, apresentamos, inicialmente, duas definições relevantes para nosso estudo.

A primeira é de Gilberto Safra (1999, p. 20, nota de rodapé), que usa o termo "estética"

[...] para abordar o fenômeno pelo qual o indivíduo cria uma forma imagética, sensorial, que veicula sensações de agrado, encanto, temor, horror etc. Essas imagens, quando atualizadas pela presença de um outro significativo, permitem que a pessoa constitua os fundamentos ou aspectos de seu self, podendo então existir no mundo humano.

Nesse trecho de A face estética do self: teoria e clínica (1999), Safra aproxima a tradição estética do campo clínico, dando ênfase ao encontro humano. Ressaltamos dessa leitura nosso interesse referente à dimensão do que é sentido, do campo de afetação intersubjetivo.

A segunda definição é de Elkaim e Stengers (1994, p. 48), que chamam nossa atenção para a mutualidade na experiência de afetação que temos no mundo. Os autores ressaltam:

[...] a maneira pela qual, antes que formulemos os significados exprimíveis em palavras, o mundo toma sentido para nós, de acordo com a maneira pela qual nos afeta e pela qual nós o afetamos.

Essas definições de estética nos auxiliam a sublinhar o impacto da situação clínica no analista. Portanto, compreendemos o campo estético como aquele que bem denomina os fenômenos da ordem afetiva, intersubjetivamente criada. É no terceiro analítico que os parceiros da dupla criam imagens atualizadas pela presença sensível do outro.

Em O brincar e a realidade, Winnicott ([1971] 2020) nos oferece dois conceitos que ilustram a sua concepção da clínica como encontro estético. Nos ensaios sobre a teoria do brincar, o autor indica a necessidade de haver, no setting, uma "reverberação" entre os gestos – e as criações psíquicas – do analisando e do analista para que o primeiro possa abandonar seu retraimento, enfrentar suas angústias impensáveis e descobrir o sentido de ser e de estar vivo. A concepção de "reverberação" é, por sua vez, inspirada no papel de "espelho" da mãe, que, ao refletir o gesto do seu bebê, favorece seus processos de integração e seu desenvolvimento emocional.

Da maneira análoga, no encontro clínico, o psicanalista deve poder exercer uma função de espelhamento dos gestos do analisando, que se revela por meio de uma série de manifestações que podemos nomear de estéticas, como ritmo, volume e timbre da voz, frequência das intervenções, escuta do silêncio e mesmo movimentos corporais durante a sessão. (KUPERMANN, 2008).

É esse espelhamento, sobretudo, que permite ao analisando se sentir reconhecido em sua singularidade e que o habilita a resgatar sua potência lúdica-criativa, bem como lhe permite dar curso aos penosos processos de elaboração dos núcleos traumáticos.

Ogden avança no campo de pesquisa winnicottiano acerca do modo como o impacto estético do outro é sentido pelo psicanalista, inclusive produzindo atos psíquicos no campo tradicionalmente chamado de contratransferencial.

Para isso, recorre à concepção bioniana de que, durante as sessões, o psicanalista experimenta rêveries, ilusões somáticas e experiências sensoriais (OGDEN, 1996), que guiam sua conduta clínica. Parte do trabalho do clínico é elaborar e metabolizar o impacto estético do encontro clínico, a fim de obter outras perspectivas em relação aos movimentos transferenciais-contratransferenciais do encontro. Logo, se o segundo eixo de descrição aborda uma teoria da clínica que leva em conta a intersubjetividade, o terceiro eixo privilegia a sensibilidade do analista.

Em This Art of Psychoanalysis, Ogden (2007, p. 61), defende que a prática psicanalítica envolve fundamentalmente um

[...] esforço do analista e analisando para dizer algo que seja simultaneamente verdadeiro em relação à experiência emocional de cada momento da sessão analítica e utilizável pelo par analítico para o trabalho psicológico. (Tradução nossa).

Essas verdades, no entanto, são paradoxalmente

[...] universais e primorosamente idiossincráticas para cada indivíduo, e são tanto atemporalmente verdadeiras quanto altamente específicas para um dado momento de vida. (OGDEN, 2007, p. 61, tradução nossa).

Esses paradoxos ilustram um problema teórico: como articular as dimensões geral e específica da clínica em uma teoria?

Nossa leitura de Ogden propõe que sua estratégia é dividir o fenômeno clínico nos três eixos que apresentamos e encontramos a relação entre universal e idiossincrático entre o eixo teórico-clínico e estético.

Ogden atenta para os devaneios mais sutis e pessoais do psicanalista. Tais pensamentos e sensações, que parecem a princípio sem significado, foram vividos através do terceiro analítico na relação. Assim, o intrassubjetivo é analisado em sua dimensão intersubjetiva.

Posto que analista e analisando se relacionam como polos em tensão, e essa tensão é tanto consciente quanto inconsciente, o plano estético ajuda o clínico a compreender como identificar a dialética na prática terapêutica. A tese é: parte da comunicação que ocorre na sessão é inconsciente, e reflexos dessa comunicação emergem nos pensamentos rotineiros e ruminações do analista, isto é, em suas rêveries.3

Logo, um devaneio pode ser útil quando traz a atenção do analista a um conflito vivido naquele momento pela dupla. Tal movimento é uma contextualização do devaneio (terceiro eixo) na transferência-contratransferência (segundo eixo).

Rêverie é um conceito originalmente concebido por Bion (1959, 1962), mas ganhou potência e predominância com autores contemporâneos. Ogden (1997, p. 63) descreve rêverie como "pensamentos, sentimentos e sensações quotidianos e não intrusivos". (Tradução nossa).

O nível de descrição desse fenômeno clínico é bastante específico, pois as ruminações dos analistas são muitas vezes deixadas de lado. Ao abrir lugar teórico aos pensamentos mais banais, o analista pode fazer uso desse conjunto de afetações para gerar significados "específicos, simbolizados verbalmente" (OGDEN, 1997, p. 63, tradução nossa), que podem ser usados no processo de interpretação.

O eixo estético de análise observa a afetação particular do analista. As vicissitudes de cada interação são levadas em conta, tomadas como material base e analisadas a partir da compreensão do campo intersubjetivo. A contextualização da rêverie é o passo que transforma o sentimento "individual" em um acontecimento pensado pelo terceiro analítico, ou seja, foi produzido pelas tensões criativas dialéticas que acontecem entre analista e analisando. Isso é possível porque o terceiro analítico é vivido (assimetricamente) pelos dois, em um campo compartilhado de interação (1996).

O segundo e o terceiro eixos são indissociáveis no fazer psicanalítico. A relação entre o âmbito teórico-clínico e estético é complementar: consiste no eterno jogo entre teorização sobre o vivido e a vivência em si.

Quando descreve sua forma de trabalhar com sonhos, por exemplo, Ogden (1997, p. 151) defende um "movimento gerativo entre sonho e rêverie, entre rêverie e interpretação, entre interpretação e experiência do (e no) terceiro analítico". (Tradução nossa).

Ficam claras a coexistência e a tensão entre o material dito pelo paciente (o sonho), os devaneios do analista e o entendimento teórico desses fenômenos. Cada elemento influencia e muda o entendimento do próximo.

 

Referências

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Endereço para correspondência
Pedro Hikiji Neves
E-mail: phneves@usp.br

Daniel Kupermann
E-mail: danielkupermann@gmail.com

Recebido em: 18/03/2021
Aprovado em: 20/05/2021

 

 

SOBRE OS AUTORES

Pedro Hikiji Neves
Bacharel em psicologia pelo Instituto de Psicologia da Universidade de São Paulo (IP-USP).

Daniel Kupermann
Psicólogo. Psicanalista.
Mestre em psicologia clínica pela Pontifícia Universidade Católica do Rio de Janeiro (PUC-Rio).
Doutor em teoria psicanalítica pela Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ).
Professor associado (livre-docente) do Departamento de Psicologia Clínica da Universidade de São Paulo (USP).
Vice-presidente da Comissão de Cooperação Internacional (CCINT) do IPUSP.
Coordenador do psiA – Laboratório de Pesquisas e Intervenções Psicanalíticas.
Bolsista de produtividade em pesquisa do CNPq.
Presidente do Grupo Brasileiro de Pesquisas Sándor Ferenczi.

 

 

1 Este artigo é produto da pesquisa de iniciação científica desenvolvida por Pedro Hikiji Neves com o título Thomas Ogden leitor de Winnicott: uma pesquisa bibliográfica, com financiamento USP-PIBIC-CNPq, orientada pelo Prof. Dr. Daniel Kupermann.
2 Além da unicidade/dualidade (referida como a dialética de estar-em-um separado na preocupação materna primária), Ogden (1996) descreve as dialéticas: criação descoberta do objeto (p. 49); eu-mim da relação especular (p. 48); e a destruição criativa do objeto (p. 51).
3 Ogden agrupa em sua compreensão de rêverie sensações somáticas, devaneios e contratransferências positivas ou negativas. Isso, para alguns (BIRKSTED-BREEN, 2016; BUSCH, 2019), diverge do sentido bioniano. É importante notar que contemporaneamente a rêverie pode ser considerada tanto um estado mental quanto um produto dessa posição devaneante. (BLUE; HARRANG, 2018).

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