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Ide

versão impressa ISSN 0101-3106

Ide (São Paulo) v.30 n.44 São Paulo jun. 2007

 

EM PAUTA - LINGUAGEM I

 

Linguagem em psicanálise: gênese e significação*

 

Language in psychoanalysis: Generation and meaning

 

 

Marisa Pelella Mélega*

Endereço para correspondência

 

 


RESUMO

A autora vale-se do ensaio de D.Meltzer (1984) para se aproximar de questões como a função e a gênese da linguagem e também para delimitar o que a psicanálise entende por linguagem. Traz à tona um debate entre dois espectros metodológicos da lingüística, a saber a questão mente- corpo vista por Skinner, Chomsky e Katz e a questão da “mística cósmica” de Whorf e Sapir. Discorre acerca do desenvolvimento da linguagem nas crianças e enfatiza a relação da linguagem com a imagem, exemplificando-a por um meio de um poema.

Palavras-chave: Gênese. Imagem. Linguagem. Significação.


ABSTRACT

The author basis the essay of D. Meltzer (1984) to address issues such as language function and the genesis of language and also to outline what psychoanalysis understands as language. It brings to life a debate between two methodological spectres of linguistics, namely the bodymind issue by Skinner, Chomsky, Katz and the matter of the “cosmic mystic” of Whorf and Sapir. The author describes about language development in children and emphasizes the relation between language and image, illustrating with a poem.

Keywords: Generation. Image. Language. Meaning.


 

 

Tomando-se como estabelecido que a fala e a linguagem são formações simbólicas, surgem-nos algumas questões que merecem consideração se olharmos para o processo simbólico no indivíduo: 1) Que funções a linguagem tem para o ser humano?; 2) O que é linguagem para a psicanálise?; 3) Qual a gênese da linguagem?

A temática é extensa e abrange várias disciplinas. No entanto, vamos nos ater a alguns aspectos interdisciplinares que são limite com o que nós entendemos por linguagem em psicanálise, valendo-nos principalmente do ensaio The interaction of visual and verbal language in dreams, de Donald Meltzer (1984).

Como a psicanálise contemporânea vê a formação da linguagem e dos símbolos no domínio do verbal? Meltzer inicia por lembrar-nos que a linguagem está estruturada em dois níveis: um atuando a partir das profundezas do inconsciente, responsável por transmitir estados de espírito através da identificação projetiva, e outro, mais consciente, que sobrepõe palavras à música profunda inicial (laleios etc.), com o propósito de comunicar informações sobre o mundo exterior.

À maneira pela qual se entretecem a música inicial, os significados verbais e as imagens visuais que estes evocam, compondo “uma espécie de fuga” com os aspectos visuais manifestos do sonho, Ella Sharpe (1971) chamará de dicção poética do sonho.

No mencionado ensaio, o autor propõe uma espécie de debate com a lingüística, focalizando duas questões polares, situadas nos dois extremos opostos do “espectro metodológico” da lingüística. Num desses extremos está a questão “mente-corpo”, tal como é vista pelo psicólogo behaviorista Skinner e por lingüistas matemáticos como Chomsky e Katz; no outro extremo está a questão da “mística cósmica” (de Jung ou de Uspiênski), tal como é tratada por Whorf e Sapir, dentro da linha da relatividade da linguagem.

Mesmo que haja controvérsia quanto a se aceitar como unidade primária da língua o fonema (unidade de som) ou o morfema (unidade de significado), o que importa é que, para a lingüística, parece descontado o fato de que é necessário haver uma unidade. Isso porque a generalidade dos lingüistas parece assumir que a função primeira da linguagem é a de comunicar.

Para tanto, eles partem do pressuposto de que a língua falada se compõe de unidades básicas que estariam ordenadas dentro da cabeça e emitidas pelo aparato fonador. Isso, porém, não está correto do ponto de vista da psicanálise, que atribui aos lingüistas (entre outros) a confusão entre mente e cérebro ou, mutatis mutandis, entre homem e máquina.

Embora seja indiscutível que o homem, à diferença da máquina, vive lingüisticamente, e, apesar de Susanne Langer, ao estudar a peculiar concatenação dos impulsos sociais (laleio e a simbolização particularmente) que levam a criança a converter-se em um ser “falante”, tenha chegado próximo da teoria psicanalítica, faltou-lhe o conceito de identificação, conceito-chave para a psicanálise.

Noam Chomsky, melhor do que outros lingüistas, brilhantemente tentou estabelecer uma ponte entre mente e cérebro, seguindo a direção filosófica traçada por Russell,Wittgenstein e Carnap, para aplicá-la à investigação da sintaxe, e procurou fazê-lo separando suas qualidades formais de seus aspectos semânticos. A oração, em sua idealizada “Gramática universal”, é estranha ao sentimento. E a criança, na aprendizagem de sua língua, tem, segundo ele, que inventar uma gramática antes de poder compreender o que lhe é dito.

Ora, diz Meltzer, já se provou experimentalmente que seria difícil para uma criança “inventar” um instrumento tão simples como dois paus unidos para derrubar uma fruta da árvore, sem que alguém lhe tenha “ensinado”. O problema fundamental está na natureza do “ensino”, que em seguida esse autor tentará vincular estritamente com a “aprendizagem”, para definir o contexto em que ocorre o desenvolvimento da fala da criança.

Antes disso, entretanto,Meltzer chama à baila a outra polaridade da teoria lingüística em que a intuição não apenas não é posta de lado, como é adotada como uma mística cósmica (cf. a psicologia de Jung e o misticismo de Uspiênski, a que já nos referimos) que deve ser diferenciada do elemento místico que existe na psicanálise. Enquanto em todas as espécies de teologias a divindade é situada “fora do indivíduo”, a psicanálise a situa em seu interior.

A forma que a mística cósmica assume na lingüística provém de antropólogos.Meltzer cita Korzybsky, cuja idéia central é de que a cultura, através de sua língua, impõe limitações à maneira de o indivíduo pensar,

(...) atribuindo com isso à linguagem e à cultura uma realidade e uma continuidade mais primárias que secundárias, no que diz respeito ao indivíduo. A relação que se estabelece assim entre indivíduo e cultura é semelhante à que existe entre a espécie e o membro individual, segundo as teorias de Mendel e Darwin.

Ao contrário,Meltzer afirma:

Tudo parece indicar que no campo da mente a herança é rigorosamente de tipo lamarckiano, é derivada de características adquiridas que se transmitem de geração em geração, tanto no que diz respeito à forma como ao conteúdo ou, no caso específico da linguagem, tanto em sua sintaxe como em sua semântica (Meltzer, 1984, p. 100).

Mas não é na maneira de o indivíduo pensar que reside, na psicanálise contemporânea, o elemento místico. Ele reside nos “feitos” da vida mental que a psicanálise acha ter descoberto. Ao mesmo tempo, a psicanálise dá ao termo “criativo” (na linguagem) um sentido mais amplo do que o que Chomsky lhe atribui (“fazer um uso infinito de meios finitos”) e que Meltzer define como “alcançar um novo nível de ordenamento capaz de perpetuar-se” (Meltzer, 1984, p. 112).

Epistemologicamente, um pensamento como o de Uspiênski confere certa concretude às palavras, ao considerálas continentes de um significado próprio capaz de ser explorado. Daí que dizer que o conhecimento existe e está à espera de ser descoberto é o mesmo que dizer que o espírito divino se manifesta através da palavra.

Na psicanálise contemporânea há também um elemento místico que se relaciona com a Teoria do Conhecimento, porém o lugar onde se realizam as transações é outro e a relação com a linguagem é vista, como já foi dito, de modo criativamente mais amplo.

O cenário em que se realizam as transações, segundo a psicanálise, é o da relação bebê-peito (mãe), autêntica fonte de conhecimento: o peito (mãe) contém todo o conhecimento como categoria da realidade psíquica – e não da realidade externa.

O peito (mãe) em sua relação com o bebê enche de significado as palavras, continentes vazios da realidade, e esse é um processo que dura a vida inteira, mediante o qual podem se assimilar as vivências para dotar de significado as categorias verbais, em níveis de abstração sempre crescente. De acordo com essa visão, a atribuição de novos significados às palavras não destrói nem desloca os já existentes.

A observação do desenvolvimento da linguagem na criança é algo extremamente complexo, já que o impulso que ela tem para a formação da linguagem e para seu uso faz com que se aproprie de seus elementos formais, tanto mediante processos de identificação como pelo ensino denotativo dos pais. Contudo, a relação da criança com o mundo de objetos externos é claramente secundária à sua preocupação com as relações emocionais, sobretudo com os pais, objeto de significação emocional.

Sem dúvida a criança emite alguns sons que são sintomáticos do seu estado de ânimo, e estes podem ser entendidos pelos pais, mas se trata de um processo que é alheio à sua necessidade de comunicação. É um fenômeno inequívoco que a criança comece a criar a música da fala discursiva muito antes de ser capaz de pronunciar alguma palavra, a não ser suas escassas tentativas de denominação, tais como “mama”, “papa”. O processo de laleio ou o jogo com elementos vocais tem notável relação com outros processos lúdicos, os quais, por sua vez, têm a ver com suas relações emocionais e suas tentativas de pensar acerca delas.

De forma análoga, suas primeiras comunicações de tipo discursivo são evidentemente tentativas de comunicação de estados de ânimo complexos, de modo que a função denotativa pode reservar-se para os gestos, mesmo após ter alcançado considerável destreza na linguagem. Não seria aventureiro inferir da gênese da fala nas crianças, diz Meltzer, algo da lógica interna do desenvolvimento, isto é, que a linguagem se desenvolveu originariamente como um processo de canto e dança para a comunicação dos estados emocionais, o que com o passar do tempo chegou a abarcar a descrição do entorno não humano, na medida em que aquele mundo de formas perceptíveis chegou a imbuir-se do significado emocional das relações humanas.

 

Relação da linguagem com a imagem

Em psicanálise é hoje aceita a tese que sustenta que as crianças chegam a compreender e “falar a língua” antes de serem capazes de utilizar as “palavras” (Isaacs, 1952). Isso indica que o aprendizado da linguagem é um processo fundamentalmente inconsciente, que não acontece entre o nível consciente e o pré-consciente como um procedimento para atrelar o pensamento à consciência, tal como achava Freud.

O uso da linguagem é visto como um modo de funcionamento da identificação projetiva para comunicar estados de ânimo. O uso das palavras serviria para transmitir a informação de uma mente a outra.

Meltzer sugere, então, uma teoria do desenvolvimento da linguagem em duas etapas.Na primeira, a criança percebe ter uma capacidade instintiva para a linguagem interior e efetua a publicação interna e externa de seus estados de ânimo; a segunda consiste na adaptação da linguagem interior à descrição da realidade externa por meio da verbalização e da delineação de morfemas (conteúdos) por entre as “séries” de fonemas (sons). Segundo essa teoria,

1) A gramática é considerada uma função da linguagem interior e instintiva que manteria uma relação muito estreita com a linguagem da fantasia inconsciente, semelhante àquela de uma escala tonal com um instrumento musical.

2) A gramática gera a linguagem (não porque existe um conjunto de regras independentes do significado, como Chomsky pensa) porque há um conjunto de significados básicos relativos ao tempo, ao espaço, à pessoa e às operações lógicas, que determinam a transformação da linguagem interior em fala interior, por meio da verbalização.

Se a linguagem, em seu verdadeiro significado, é um processo que emerge da fantasia inconsciente, e se representações formais de diversos tipos organizam tais fantasias em formas “publicáveis”, como modos de comunicação de estados mentais,Meltzer sugere que se considere a “vocalização” como forma simbólica e a “verbalização” como seu sistema de notação correspondente.

Ele exemplifica sua teoria através dos sonhos de um poeta em análise. Na análise lingüística dos sonhos do poeta, a matriz é que “algo que antes divertia a mãe deixou de fazê-lo, e o paciente começou a compreender que não é o engraçado do tipo divertido, mas sim do tipo triunfante” (Meltzer, 1984, p. 111).

Concluindo: a fala, para Meltzer, consiste em um sistema de vocalização que constitui a forma simbólica publicável de uma corrente da fantasia inconsciente (processo onírico) e, portanto, do pensamento, e essa vocalização se presta como verbalização para a comunicação de informação acerca do mundo exterior.

A gramática também teria dois níveis, a gramática “profunda” e a gramática “de superfície”. A primeira, inconsciente, compreende os elementos morfemas e fonemas da vocalização em todos os seus aspectos musicais, incluindo a postura e a mímica relacionadas com a dança e com a dramatização, assim como as operações lógicas de sintaxe implícitas nas justaposições contidas na seqüência da fantasia inconsciente. A segunda inclui todas as modificações da vocalização que exigem a comunicação de informação a respeito do mundo externo, com o fim de minimizar as várias formas de ambigüidade e, portanto, de confusão. A habilidade técnica do poeta seria conciliar a gramática profunda com a superficial.

Vale destacar que a fala coloquial é pouco dotada para a gramática superficial, e a fala gramaticalmente correta é pobre em comunicar estados de ânimo.

Meltzer contrapõe-se a Freud, argumentando que a linguagem nos sonhos não procede unicamente dos restos diurnos, mas que há pensamento no processo onírico. E que a linguagem, nos sonhos, é feita de vocalização – “uma forma simbólica lingüística que compõe uma espécie de fuga com a imagem visual do sonho, como sua forma simbólica plástica”. A palavra “fuga” expressa a relação entre ambas, por haver uma interação criativa por meio da qual as duas formas simbólicas se potenciam entre si, na apreensão do significado. E contribui para a compreensão do que Ella Sharpe (1971) chamou de “dicção poética” do processo onírico, estabelecendo uma ponte com a estética e abrindo caminho à investigação da “composição” do sonho como um objeto estético.

Para exemplificar como se estabeleceria a ponte entre elementos do objeto estético (poema) e elementos do processo onírico, vamos nos valer do poema “Cigola la carrucola del pozzo” (Rilha a roldana do poço, Mélega, 2001, p. 127), de Eugenio Montale (1997).

Cigola la carrucola del pozzo

Cigola la carrucola del pozzo
l’acqua sale alla luce e vi si fonde.
Trema un ricordo nel ricolmo secchio,
nel puro cerchio un’immagine ride.

Accosto il volto a evanescenti labbri:
si deforma il passato, si fa vecchio,
appartiene ad un altro...
Ah, che giá stride
la ruota, ti ridona all’atro fondo,
visione, una distanza ci divide.

Rilha a roldana do poço

Rilha a roldana do poço
a água sobe à luz e aí se funde.
Treme um recordo no repleto balde,
no puro círculo uma imagem ri.

Encosto o rosto a evanescentes lábios:
deforma-se o passado, faz-se velho,
pertence a um outro...
Ah, o chiado da roda
te devolve ao atro fundo,
visão, uma distância nos separa.

Ocorrem, neste poema, elementos comuns à composição do sonho, tais como:

1) associações sonoras: cigola / la carrucola [rilha / a roldana] (aproximação de uma palavra com outra – linguagem da fantasia inconsciente que se associa a imagens que serão verbalizadas);

2) criação de uma máscara (fachada) de significados, em que as palavras (reunidas, escolhidas, sugeridas por seus sons) passam a se aconchegar num significado aparentemente lógico: del pozzo [do poço];

3) ocasiões reais: “Cigola la carrucola del pozzo” é situada numa circunstância da vida pregressa do sujeito, a roldana do poço do jardim da casa de veraneio em Monterosso, berço da coletânea Ossi di seppia (experiência pessoal, estados emocionais, sensações corporais);

4) forma simbólica plástica: un’immagine ride [uma imagem ri] (alucinação), compondo-se com a forma simbólica lingüística (vocalização), na seqüência (área sonora) de certos sons dominantes (altro / Ah / atro [outro / Ah / atro]), ligados ao significado da pena pela perda que inevitavelmente ocorre (o passado que é absorvido pelo fundo atro e se torna de um altro).

Para finalizar, Meltzer (1975, p. 172) ainda destaca cinco fatores na formação da linguagem cuja perturbação conduz ao mutismo:

1) É necessário que o funcionamento mental seja suficientemente ordenado para que ocorra a formação de pensamentos oníricos adequados para a comunicação e não meramente para a expulsão (Bion).

2) Deve existir um aparato capaz de transformar os pensamentos oníricos em linguagem, com os quais se possa aprender a gramática musical profunda, para representar estados mentais.

3) Nos primeiros anos de vida, quando ainda é forte o impulso ao laleio, a criança deve edificar um vocabulário para descrever um mundo externo, de modo a poder desenvolver a habilidade para sobreimpor essa linguagem superficial e lexicográfica sobre a linguagem musical mais profunda, e ser assim capaz de comunicar-se acerca do mundo externo.

4) Essas transformações internas (fala interna) devem encontrar, no mundo exterior, um objeto com suficiente realidade psíquica e adequadamente diferenciado do selfpara que se torne necessária a vocalização desse processo interno, a fim de que tenha lugar a comunicação.

5) O desejo de comunicação com outros seres humanos deve ser suficiente para sustentar o processo contínuo da formação dos pensamentos oníricos.

 

Referências

Isaacs, S. (1952). A natureza e a função da fantasia. In J. Riviere (Org.), Os progressos da psicanálise (3a. ed., pp. 79-135). Rio de Janeiro: Guanabara Koogan.        [ Links ]

Mélega,M. P. (2001). Rilha a roldana do poço. In M. P. Mélega, Eugenio Montale: Criatividade poética e psicanálise (p. 127). São Paulo: L’Atelier.        [ Links ]

Meltzer, D. (1979). Exploración del autismo. Buenos Aires: Paidos.        [ Links ]

Meltzer, D. (1984). The interaction of visual and verbal language in dreams. In D. Meltzer, Dream life (pp. 96-113). Oxford: Roland Press. [Vida onírica. Madrid: Tecnopublicaciones, 1984].        [ Links ]

Montale, E. (1997). Cigola la carrucola del pozzo. In E. Montale. Ossi di seppia (p. 47). Milano: Arnaldo Mondadori.        [ Links ]

Sharpe, E. (1971). Análise dos sonhos. Rio de Janeiro, Imago.        [ Links ]

 

 

Endereço para correspondência
Marisa Pelella Mélega
Alameda dos Jurupis, 72 – Indianópolis
04088-001 – São Paulo – SP
Tel. 11 5574-6940
E-mail: pmelega@uol.com.br

 

 

* Texto derivado de tese de doutorado em Literatura na Universidade de São Paulo, 2004.
** Psicanalista pela Sociedade Brasileira de Psicanálise de São Paulo.