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Ide

versão impressa ISSN 0101-3106

Ide (São Paulo) v.31 n.47 São Paulo dez. 2008

 

EM PAUTA - ESTRANGEIRO

 

Sexualidade e pós-modernidade*

 

Sexuality and postmodernity

 

 

Luís Carlos Menezes**

Sociedade Brasileira de Psicanálise de São Paulo

Endereço para correspondência

 

 


RESUMO

O autor enfatiza na concepção freudiana do sexual a descoberta de uma indeterminação, de uma imprevisibilidade a priori em seu âmago, e que a torna irredutível, na singularidade que assume em cada um, a qualquer projeto que busque ordem e previsibilidade na condição humana, em sua inserção social. O sexual freudiano encontrado pela psicanálise é, portanto, de saída, refratário a todo projeto racionalista, tanto científico como político, característicos dos ideais da modernidade. Nas sociedades ocidentais atuais, a liberalidade e uma certa liberdade em relação aos comportamentos sexuais parecem levar, paradoxalmente, apesar dos ganhos que representam, a uma sexualidade “domesticada”, conformista, a um simulacro do sexual como forma contemporânea de sua repressão.

Palavras-chave: Modernidade/pós-modernidade, O sexual, Totalitarismo.


ABSTRACT

The author emphasizes the unveilling of an indetermination, an a priori unforeseeability in the core of Freud’s notion of sexuality, which makes it, in the singularity it takes on in each one, irreducible to any design that seeks to forge order and foreseeability of the human condition in its social insertion. The Freudian sexual revealed by Psychoanalysis is therefore, from the very beginning, refractory to any rationalistic project, be it scientific or political, characteristic of the ideals of modernity. In today’s Western societies, liberality and a certain freedom in relation to sexual behavior, in spite of the gains they represent, seem to paradoxically lead to a “subdued (domesticated)”, conformistic sexuality, to a sham copy (pretense, simulacrum) of the sexual as the contemporary form of its repression.

Keywords: Modernity/post-modernity, The sexual, Totalitarianism.


 

 

A terrível face negra do último século pôs em crise o sonho iluminista de um mundo de homens livres convivendo em harmonia em democracias políticas, sem medo do poder discricionário de um monarca absoluto e de sua réplica celeste, mas também progressivamente libertados do autoritarismo familiar, organizado em torno do poder tirânico atribuído ao pai.

Os movimentos libertários nos trouxeram muito, ganhamos com eles, dos direitos civis da mulher, conquistados nas primeiras décadas do século passado, até alguma liberdade para dispor da fruição sexual.

W. Reich, crítico militante do opressivo controle social pré-modernos1 sobre a sexualidade como causa da miséria sexual das massas &– e não tanto da miséria neurótica, dos estudos da histeria, calcados num processo intrapsíquico &–, teria ficado entusiasmado se tivesse presenciado a revolução de valores e de costumes em nossas sociedades ocidentais do fim dos anos 1960, marcada pelo slogan “É proibido proibir”. Naquela época, a detecção e a denúncia das formas insidiosas de controle social remanescentes sobre a vida e sobre a sexualidade das pessoas se tornaram uma tarefa de todos os dias. O nome e a obra de Michel Foucault são um marco daquele período histórico generoso, animado pela vontade de que houvesse respeito a cada um em suas particularidades e pelo rechaço de velhas e mesquinhas imposições sociais.

A exigência da virgindade da mulher &– tabu social tenebroso ainda na década de 1950 &– simplesmente deixou de existir. Os vínculos do casal não tinham mais que ser vitalícios e o desejo de cada um de permanecer no vínculo passou a ser respeitado. A mulher separada deixou de ser uma mulher suspeita &– uma “devassa” em potencial, como queriam as fantasias socialmente compartilhadas sobre o desejo da mulher. As prostitutas faziam manifestações em Paris, encabeçadas por Sartre e Simone de Beauvoir, reivindicando o reconhecimento pelo Estado de sua profissão, o direito ao seguro social como qualquer trabalhador e o fim da arbitrariedade e da exploração pela polícia.

O movimento dos homossexuais por direitos sociais vai se estender pelas décadas seguintes e é atual: esses movimentos reivindicam, antes de mais nada, o respeito social como homens e mulheres cuja orientação sexual os vinha transformando em párias aos olhos dos demais. Como tal, poderiam e podem ser objeto de zombaria, pois, ao se sentirem humilhados, devem saber que essa humilhação é natural de sua condição. Durante muito tempo foram mesmo criminalizados, e, em estados teocráticos, comunistas ou nazistas, presos e assassinados. Vagas de assassinatos de homossexuais ocorreram também entre nós, com sua orientação sexual os destituindo, aqui e ali, da condição de seres humanos aos olhos dos outros.

Por aí vão surgindo as fissuras do projeto modernista em sua expectativa de que as coisas sejam mais simples do que são &– a ciência, a física em primeiro lugar, já nas primeiras décadas do século XX, soa o alarme: “As coisas são mais complicadas do que pensávamos, bem menos controláveis e previsíveis, bem menos homogêneas e bem-comportadas”. Por outro lado, o projeto modernista precisa também ter do homem uma visão simplificada, e o que escapa a essa expectativa é considerado anomalia, aberração, a serem eliminadas. O diferente, o estranho deve, pois, ser eliminado ou corrigido, e nós sabemos em que escala e de que forma isso foi de fato executado pelos Estados, nos mais avançados países de nossa... civilização. É o que chamei antes de a terrível face negra...

Ora, enquanto a física, ao avançar nos estudos sobre a estrutura íntima da matéria, nas primeiras décadas do século XX, conclui que “as coisas são mais complicadas, aleatórias, incertas do que se esperava”, um médico vienense, um homem imbuído das melhores intenções do projeto moderno do iluminismo e das ciências da natureza, ao pôr em prática o instrumento de exploração por ele inventado &– a psicanálise &–, vai encontrando, mais ou menos na mesma época, em sucessivas e vertiginosas descobertas, que o homem é todo anomalia e, estranhamente, é todo anomalia por ser um ser sexual. Pois este sexual apresenta-se a ele como estranhamente fugidio e aleatório em sua natureza, inesperado e imprevisível nas formas que assume. Ali onde se pensa que está, ele está e não está.

Escrevi, há algum tempo, no contexto de um pequeno grupo de intercâmbio entre colegas, alguma coisa sobre essa descoberta freudiana, inspirado no filme Lavoura arcaica, de Luiz Fernando Carvalho, que eu acabara de ver, e que se baseia no livro com o mesmo título (Nassar, 2001/1975). Mas, é, sobretudo, a partir das impressões produzidas pelo filme que falo ali. Retomo esses comentários, pois vêm muito a propósito de nosso tema de hoje.

Nos primeiros minutos um corpo ocupa toda a tela. Há uma trepidação (confundida com o movimento de um trem, avançando veloz, pesado, barulhento), um corpo que se tensiona, se contorce aqui e lá, um braço empenhado numa estranha e frenética agitação rítmica, um rosto transfigurado pelo estado de transe, a boca fortemente aberta emite alguns sons, grunhidos, e... continuamos percorrendo aquela carne atravessada por uma estranha, absurda... o quê... corrente elétrica? Não; possessão? Não, não é algo tão razoável quanto uma possessão, não parece que aquilo seja ação de um espírito identificável e exterior ao corpo daquele homem... que se masturba. A menos que fosse um espírito fragmentado, pulverizado, atravessando, indo para lá e para cá naquele corpo, um espírito sem nome possível, não localizável, e que parece fazer parte dele. Aquela “força”, aquela “coisa”, desafia qualquer padrão do compreensível, é de um nonsense total, de uma gratuitade lógica e, no entanto, mostra-se ali com chocante vigor, antes que, de repente, cesse.

Não é obsceno ou grotesco. O cineasta deu a ver outra coisa: ali estava o tão falado “sexual” do Colombo vienense: em sua “aparição” é um quase nada, é algo insensato, gratuito, que “não teria nenhuma razão para estar ali” e que em sua estranheza insignificante dá à carne, introduz na carne, como que “a loucura em sua essência (uma lógica do nonsense)”.

O filme todo me fez acompanhar o dramático, paradoxal e escorregadio encontro-sempre desencontro entre “aquilo” e as falas. Impossível separá-los, é o que vamos vendo: a fala vai dizendo e transpondo em cenas de lembranças passadas, outras atuais, aquele sexual que a irriga, ela que em seu potencial de “loucura” parece ser o que enlouquece o corpo.

Achei admirável a tentativa (fracassada) de conversa entre pai e filho, à mesa das refeições da família e dos ensinamentos do pai, quase no final do filme, em que amorosamente ele pede ao filho que fale. O filho diz ser impossível dizer e ser ouvido, a loucura que o habita. O pai insiste, confiante de que não há o que não possa ser dito, em seu profundo desejo de ajudar o filho e de restaurar a harmonia familiar. O filho então tenta dizer, e em sua fala reconhecemos que está tentando dizer aquilo que fora visto como “aparição” (o sexual); e mais sua fala o diz, mais ela soa absurda, incompreensível, não situável em nenhum dos códigos do pai. Ela é portadora de um potencial intrínseco desestabilizador que impossibilita qualquer harmonia na família e na linguagem &– o expectador o percebe, o sente fortemente.

O pai se exaspera e acaba por proibi-lo de continuar falando “aquilo”. O filho obedece e afirma obediência ao pai em seu desejo de ser acolhido nos braços e nos sentimentos dele e na harmonia familiar. O pai chora comovido. Mas a cena final não tarda: a família, que é de origem árabe, dança, quando a filha se põe no meio da roda a dançar uma dança maravilhosamente sensual. Exasperação. A mãe tenta cobrila, protegendo-a contra o pai que acabara de saber de sua relação incestuosa com o irmão, e que, com uma foice, a mata. Acaba caído, derrotado, num canto... Não se trata de um pai ruim, nem de um pai paranóico; pelo contrário: é um pai à antiga, mas, muito amoroso com sua mulher e com os filhos, a quem ensina coisas sábias, o amor e a tolerância, e as pratica. Mas há o sexual, que escorrega, que escapa, que se mostra intrinsecamente resistente a qualquer lógica do razoável.

Nessa estranha articulação entre o sexual e a linguagem &– dicotomia que não parece se sustentar, pois ora a fala está no sexual, ora o sexual só parece existir pelo feitiço das palavras e dos gestos &–, pensei no princípio da indeterminação de Heisenberg, até onde pude entendê-lo, ou seja, de que no nível das partículas subatômicas, de um elétron não é possível determinar simultaneamente a “sua” posição e a “sua” velocidade. “Sua” entre aspas porque daí decorre que fica em aberto, indeterminado, se “aquilo” a que se refere um (a velocidade, por exemplo) é o mesmo a que se refere o outro (a posição). É possível que haja reparos importantes a serem feitos por um físico a esta compreensão minha das coisas.

De toda maneira, porém, ela me deu uma referência para pensar o que esse filme mostra, isto é, a superposição, o tempo todo escorregadia, descompassada, mas necessária, entre o que a psicanálise, desde os “Três ensaios” (Freud, 1905/1987), chamou de “sexual” e a linguagem. Essa relação parece regida também por um princípio de indeterminação, em que, quando pensamos pegar o sexual, a linguagem está ali, e, quando estamos na fala, o sexual de repente parece imantá-la. O complexo de Édipo aparece no filme como o grande ringue em que o embate entre linguagem e sexual tende a encontrar alguma forma, mais ou menos precária, sustentável, vivível, quem sabe um pouco“razoável” ou harmoniosa.

Estranho mesmo esse incerto humano carne-palavra, esse humano da trieb (pulsão), que o austero médico vienense descobriu, e que encontrei de forma tão tangível do começo ao fim deste filme. Que sentido poderia ter a palavra “transferência” fora desse terreno? Não terá havido aí uma descoberta vertiginosa da qual só aos poucos alcançamos a real extensão? E se trata de algo que encontramos em nós e em nosso trabalho, o tempo todo, em infinitas configurações e problemáticas. Nós somos isso.

A sexualidade, como foi encontrada por Freud, aparece como fio condutor que permeia, que leva ao cerne da condição humana, da “natureza” humana &– para usar o título de um livro de Winnicott (1988/1993) &–, e que, explorada mais adiante, leva aos limites do que podemos entender como psíquico. Penso no artigo de 1919, “Bate-se (ou espanca-se) uma criança” ou “Uma criança é espancada”, em que Freud chega a postular esse limite na fantasia, ali onde o desejo não é um sujeito desejando um objeto, mas onde o sujeito coincide com o objeto (Freud, 1919/1974).

E o desdobramento no texto escrito logo em seguida, Além do princípio do prazer (Freud, 1920/1996), em que parece que somos levados a um ponto-limite, mas de grande importância clínica, onde o que é suposto agir, o mais elementar, no limite do sexual, não pode ser pensado em termos de uma figuração, de uma representação, nem de um afeto, sendo algo sem rosto e sem desejo, pura queda neste silêncio sem fim que é o silêncio das coisas inanimadas às quais ainda não demos a vida de que precisam para nos fazer companhia. Fazer isso seria o que em linguagem energética Freud aponta como a tarefa de ligar, atividade prioritária, urgente, vital para o aparelho psíquico, antes mesmo de poder se movimentar como desejo.

Sinto-me devedor por não ter falado naquilo que estamos constatando, perplexos, e que alguns pensadores sagazes vêm tematizando há algumas décadas, ou seja, que a liberdade está se tornando refém de um modo pragmático e mercantil de ser livre. Algo que Reich, nosso companheiro imaginário de hoje, não compreenderia de maneira alguma: as pessoas podem tudo, nenhuma repressão social ao sexual, imagens de corpos insinuantes e sensuais por toda parte, o sexo livre como consenso social, fazendo parte das boas referências da saúde e do bem-estar, assim como o livre falar do sexo. Pode-se viver sexo à vontade. Em lugar de miséria sexual, ele encontraria as condições, por assim dizer, de abastança sexual. Há sexo à vontade, por toda parte. Tudo pode ser vivido. É ruim que seja assim? Ora, não vamos cair num neomoralismo, num moralismo de barriga cheia, num moralismo pós-moderno.

Mas, há um problema. No nazismo, de outra forma no comunismo, ou na Igreja Católica, tinha-se, ou ainda se tem, um entendimento pré-freudiano, racionalista, essencialmente biológico e, portanto, simples da sexualidade e da sexuação dos corpos. Macho e fêmea, bem constituídos, bons reprodutores, e que para isso têm, como dizia Jung, um prêmio de prazer (Jung, 1912/1953, p. 174), com acasalamentos de onde sairão alemães de pura raça, ou, então, futuros camaradas fortes e saudáveis, para trabalharem para o bem geral &– tudo se encaixa dentro de uma racionalidade higienista. Ora, nas nossas sociedades ocidentais liberais parece que tende a se generalizar no imaginário coletivo, na mídia, na publicidade, este sexual sem complexos por toda parte, em que belos corpos desejam belos corpos, e/ou se empenham tenazmente a manter os corpos saudáveis, “bem em forma” e atraentes. Por vezes, parece até que o afã da forma e da saúde está em primeiro plano e as vantagens que daí decorrem, para as conquistas sexuais, se tornam um detalhe secundário.

Paradoxalmente, nesta perspectiva, vemos que o sexual se torna operativo, da mesma maneira que nas concepções biológicas dos regimes totalitários mencionados. Temos de novo a raça pura de corpos bem tratados, bem saudáveis e felizes. Felicidade rimando então, de algum modo, com imbecilidade, porque simulacro coletivista.

Por uma triste ironia da história, continuo com um Reich desolado ao meu lado e vemos que, num ambiente social sem nenhuma repressão sexual &– ao contrário com uma oferta ampla e irrestrita de sexo &–, o sexual sucumbe, sob uma representação homogênea e totalitária do que sejam o desejo e a sexualidade, e que é perfeitamente adaptada para o funcionamento de uma economia de frenética circulação de mercadorias. De novo o sexual foi exorcizado, transmutado num simulacro bem-comportado, para que possa funcionar bem o projeto social total. Somos humanos por um sexual que nos torna irredutíveis a qualquer forma padronizada de ser e, no entanto, parece que, vira e mexe, nos encontramos transformados em ovelhas dóceis de um rebanho. Mas o que sabemos da psicanálise é que é nessa tensão que a história transcorre e é nela que reside o mal-estar nas culturas.

Deixarei mais claro o que estou dizendo com esta passagem de Octavio Paz (1993/1999) sobre o sexual:

O corpo alheio é um obstáculo ou uma ponte; é preciso ultrapassá-los. O desejo &– a imaginação erótica, a visão erótica &– atravessa os corpos, torna-os transparentes. Ou os aniquila. Mais além de você, de mim, pelo corpo, no corpo, mais além do corpo, queremos ver algo. Esse algo é a fascinação erótica, o que me tira de mim e me leva a você: o que me faz ir mais além de você. Não sabemos com certeza o que é, só que é algo mais. Mais que a história, mais que o sexo, mais que a vida, mais que a morte.

 

Referências

Bauman, Z. (1999). Modernidade e ambivalência. Rio de Janeiro: Jorge Zahar. (Trabalho original publicado em 1991).        [ Links ]

Freud, S. (1987). Trois essais sur la théorie sexuelle. Paris: Gallimard. (Trabalho original publicado em 1905).        [ Links ]

Freud, S. (1974). Un enfant est battu. In S. Freud, Névrose, psychose et perversion (pp. 219-243). Paris: PUF. (Trabalho original publicado em 1919).        [ Links ]

Freud, S. (1996). Au-delà du principe de plaisir. In S. Freud, Oeuvres complètes psychanalyse, 1916-1910 (Vol.15, pp. 273-338). Paris: PUF. (Trabalho original publicado em 1920).        [ Links ]

Jung, C. G.(1953). Transformaciones y símbolos de la libido. Buenos Aires: Paidos. (Trabalho original publicado em 1912).        [ Links ]

Nassar, R. (2001). Lavoura arcaica. São Paulo: Companhia das Letras. (Trabalho original publicado em 1975).        [ Links ]

Paz, O. (1999). Um mais além do erótico: Sade. São Paulo: Mandarim. (Trabalho original publicado em 1993).        [ Links ]

Winnicott, D.W. (1993). La nature humaine. Paris: Gallimard. (Trabalho original publicado em 1988).        [ Links ]

 

 

Endereço para correspondência
Luís Carlos Menezes
Rua Deputado Lacerda Franco, 300/134 &– Pinheiros
05418-000 &– São Paulo &– SP
Tel.: 11 3030-9382
E-mail: menezes@sbpsp.org.br

Recebido: 28/05/2008
Aceito: 15/06/2008

 

 

* Texto publicado na Revista de Psicanálise da SPPA, Vol. XI, n° 1, abril 2004.
** Psicanalista e atual presidente da Sociedade Brasileira de Psicanálise de São Paulo.
1 Estou tomando como referência para a modernidade as mudanças históricas relacionadas com a Revolução Francesa e com o Iluminismo. Trata-se de mudar a concepção sobre o poder do Estado, considerado como emanando da vontade da maioria dos cidadãos, todos agentes políticos numa condição de igualdade de direitos. A racionalidade da organização política da sociedade vai de par com a aposta a fundo na capacidade de explorar os fenômenos da natureza pelo uso metódico da razão, tirando-os da condição de forças obscuras a cujos caprichos estavam submetidos os homens e pondo-as a serviço do bem-estar destes. Encontrei no livro Modernidade e ambivalência (1991), do sociólogo Zygmunt Bauman, essa aproximação entre o projeto científico ocidental e as políticas motivadas por projetos de um ordenamento racional do convívio social, ambos caracterizando a modernidade.