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Ide

versão impressa ISSN 0101-3106

Ide (São Paulo) v.32 n.48 São Paulo jun. 2009

 

EM PAUTA - O CORPO DA PALAVRA

 

 

Instantâneos*: da Helvetica ao corpo da palavra**

 

Instantaneous: from Helvetica to the body of the word

 

 

Fonte/Forma

“Fontes expressam um ânimo, uma atmosfera. Elas dão certo colorido. Em todo lugar que você olha você vê fontes.”

“Acho que estou certo em chamar a Helvetica (fonte) de perfume da cidade. É algo que geralmente não vemos, mas que perderíamos muito se não estivesse lá. Acho incrível que uma fonte possa alcançar esse status em nossas vidas.”

“A ideia modernista clássica sobre como um leitor percebe a fonte, é que não se deve percebê-la de jeito algum. Ela deve ser como um cálice de cristal que está lá só para conter, mostrar e organizar a informação. Mas, não é tão simples assim. Acho que, mesmo que você não perceba a fonte do que lê, ainda assim, você será influenciado por ela...”

“Percebi que fontes tinham espírito e podiam mostrar sentimentos; que podiam ser nosso meio de comunicação; que era o nosso gosto, uma forma ampla para expressar muita coisa.”

“A fonte em um instante, numa única imagem, conta a história de como foi feita, conta sobre o processo, de forma elegante, de forma rápida.”

“Todos estamos prontos a agir de formas subliminares. Talvez a sensação que você tem ao ver fontes em um pacote seja: Eu gosto do jeito daquilo. Aquilo me agrada, é do que gosto. Mas isso é a fonte lançando seu encanto secreto.”

“As marcas influenciam. E as fontes são marcas. Ao dizer a uma plateia: Isto é para você. Você usa uma certa voz tipográfica.”

“A forma como algo é apresentado definirá a reação a ele... Para a mesma mensagem apresentada em três fontes a reação emocional imediata será diferente.”

 

Tipografia/Inscrição e Escrita: esculpindo a palavra vista, escutada e falada

“Design gráfico é a moldura da comunicação... O designer tem uma enorme responsabilidade. É ele que põe os fios em nossas cabeças.”

“Um bom tipógrafo sempre tem a sensibilidade sobre as distâncias das letras.”

“Há uma linha tênue entre simples, limpo e poderoso e simples, limpo e chato.”

“Nós pensamos que tipografia é sobre preto e branco. A tipografia é, de fato, sobre o branco, e não sobre o preto. É o espaço entre as áreas pretas que cria tudo. De certa forma é como a música. Não são as notas, mas a pausa que se põe entre elas, que faz a música.”

“Não é a letra que se adapta à forma. É uma letra que existe, dentro de uma matriz poderosa de espaço ao redor.”

“Sou uma pessoa das palavras. Então, tipografia para mim é uma extensão óbvia. Ela apenas torna minhas palavras visíveis. Uma boa fonte precisa de ritmo e contraste. Ela advém da letra cursiva. Por isso eu leio sua letra e você a minha... nós lemos pois há ritmo e contraste.”

“Não é só a espessura, o espaçamento ou as cores. Há algo nessa fonte (Helvetica) que convida a essa abertura de interpretações.”

“Uma das coisas que eu sempre quis desenhar... é uma identidade... É a ideia que algo é projetado para passar no teste do tempo.”

“Algumas pessoas usam fontes diferentes para diferentes emoções. Eu aprecio o desafio de fazer a Helvetica falar de várias formas.”

“De certa forma a Helvetica é um clube. É a marca dos membros. É o emblema que diz que fazemos parte da sociedade moderna e que compartilhamos os mesmos ideais. É arredondada, não fará mal nem será perigosa. Helvetica tem o equilíbrio quase perfeito entre as letras, e esse balanço perfeito está nos dizendo mais ou menos isso: Não se preocupe; qualquer problema que você tenha, ou problemas do mundo, de pegar o metrô, ou de achar um banheiro, tudo isso não vai se espalhar, será controlado...”

“... mas a Helvetica foi tão usada e abusada, associada a tantas coisas grandes e sem identidade que perdeu sua capacidade, a meu ver, de parecer bonita... (arriscando-se a se tornar) um manto tedioso da mesmice que esse tipo de design impôs ao mundo.”

 

 

* “Entrevista” realizada pelo Corpo Editorial com o documentário Helvetica dirigido por Gary Hustwit.
** Heloisa Helena Sitrângulo Ditolvo, Homero Vettorazzo, Marion Minerbo, Marta Úrsula Lambrecht, Ronis Magdalegno Júnior e Silvana Rea.