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Ide

versão impressa ISSN 0101-3106

Ide (São Paulo) v.32 n.48 São Paulo jun. 2009

 

EM PAUTA - O CORPO DA PALAVRA

 

Navegar é preciso

 

Navigating is a need

 

 

Suely Gevertz*

Instituto de Psicanálise da Sociedade Brasileira de Psicanálise de São Paulo
Instituto Sedes Sapientiae de São Paulo
Setor de Psicoterapia do Departamento de Psiquiatria da Universidade Federal de São Paulo, UNIFESP

Endereço para correspondência

 

 


RESUMO

Neste artigo, a autora reflete sobre as mudanças ocorridas na escrita devidas à intensa presença atual dos meios eletrônicos no cotidiano das pessoas. Para tanto, descreve como a escrita é utilizada nas diferentes formas de texto eletrônico e aponta para uma aproximação entre a comunicação escrita e a falada.

Palavras-chave: Escrita, Texto eletrônico, Comunicação.


ABSTRACT

In this article the author reflects on the changes occurred in writing due to the current intense presence of electronic media in people’s everyday lives. For that, he describes how writing is used in the different formats of electronic text and points to a narrowing between written and spoken communication.

Keywords: Writing, Electronic text, Communication.


 

 

A oralidade e a escrita têm sido, histórica e sucessivamente, a maneira de produzir e compartilhar conhecimento. Com o advento da tecnologia surgida no final do século passado, particularmente a informática, novas formas de pensar e de conviver estão sendo elaboradas no mundo do ciberespaço. Diferentes aspectos da sociabilidade humana estão ocorrendo através dos recursos das tecnologias da informação e da comunicação, como interação entre pessoas, acesso e troca de informações, reconhecimento e troca de interesses e valores diferentes, criando uma cultura digital. Apesar do ineditismo presente, é importante lembrar que o saber oral e o conhecimento alicerçado na escrita ainda existem e sempre vão existir. Neste artigo, pretendo refletir a respeito das novas possibilidades da escrita advindas da presença cotidiana da tecnologia, particularmente a Internet.

Como já escrevi em outro artigo, a tecnologia da informática trouxe uma mudança na utilização e apresentação da imagem. Baseada na lógica do simulacro, a imagem virtual deixa de ser uma representação do real, preexistindo a ele e, principalmente, simulando-o.

Essa é a realidade virtual. Liberada do real, introduz a lógica da simulação no lugar da lógica da figurabilidade. Na lógica do simulacro, o homem, a imagem e o objeto se interpenetram, se misturam e se desalinham na representação. A imagem torna-se imagem – objeto, imagem – linguagem e, também, imagem – sujeito. A imagem reage interativamente com o sujeito: ela também o olha. O homem pode entrar no próprio interior da imagem. (Gevertz, 2002, p. 267)

Na realidade virtual figura-se aquilo que é modelável.

Alguns estudiosos deste novo mundo, paralelo ao real, como Pierre Lévy, consideram a simulação do mundo virtual como sendo semelhante à imaginação do ser humano. Do meu ponto de vista, considero importante não confundir o virtual tecnológico com o imaginário.

Refiro-me aqui não ao virtual como possibilidade suscetível de se realizar, mas, sim, como preenchido de imagens construídas através de procedimentos lógicos matemáticos. O virtual não é o imaginário. No imaginário, o real é colorido pelas experiências emocionais. Já no virtual, o real é abstraído, segundo cálculos matemáticos, e apresentado, através da lógica da simulação, como o seu ideal. No mundo virtual, os afetos, emoções e pensamentos são transformados pela lógica de simulação, utilizando-se de procedimentos lógico–formais, e apresentados como ideais ficcionais em imagens virtuais. Já no imaginário, os afetos, emoções e pensamentos são transformados segundo os mecanismos de relações entre consciente e inconsciente, conforme estudados por Freud, Melanie Klein, Bion, Winnicott e outros, seguindo uma lógica própria. Tornam-se, assim, objetos psíquicos e contém um significado emocional. (Gevertz, 2002, p.268)

A imagem virtual não pretende representar o mundo real apreendido pela alma humana e, sim, o ideal ficcional da realidade. Virtualidade é um conceito-chave para entender a cultura contemporânea. Os seres humanos possuem uma sensibilidade à virtualidade, já que são capazes de ser transportados simbolicamente para outros lugares, podendo imaginar o que não está presente e criar abstrações. A virtualidade da cibercultura, porém, é fruto de simulacros, no sentido definido por Jean Baudrillard.

Fiz este preâmbulo a respeito da nova forma de representação das imagens pois as palavras escritas nos meios eletrônicos podem ser também consideradas como estímulos visuais, penetrando e interagindo no leitor que as lê, levando-o a uma ação, incluindo sua apropriação, modificação etc. Nesses casos, deixam de ser utilizadas como maneiras de expressão de pensamento para promover também ação, a mente funcionando como um músculo. Essas palavras virtuais são imaginadas como dirigidas a um leitor desprovido de corpo, “wireless body” como definem os estudiosos. A mente, na realidade virtual, perde a função de operar sobre as experiências emocionais, fornecendo- lhes uma representação simbólica, passando a reagir pronta e rapidamente aos estímulos, utilizando-se da assim chamada inteligência artificial.

A sociedade humana formou-se primeiramente através do discurso oral. Nas culturas orais, os costumes, valores e conhecimentos eram transmitidos por narradores. As comunicações eram recebidas no momento e no lugar em que eram emitidas. O saber era subjetivo, morava no interior de cada sujeito. Era um conhecimento encarnado. A morte de uma pessoa significava a perda de uma parte da memória da sociedade.

O surgimento da escrita trouxe uma modificação na relação com o conhecimento. A possibilidade de registrar fatos e acontecimentos históricos em documentos, através de datas, períodos e descrições, permite a criação de um tempo anterior e posterior como referência. O saber pode ser transmitido independentemente de pessoas, passível de ser acessado em diferentes contextos, épocas e outras culturas através de manuscritos. As mensagens foram oficializadas através de registros em pergaminhos e, posteriormente, em papel, no lugar de serem enviadas oralmente por meio de pessoas. A obra tornou-se independente do autor, libertando o texto da pessoa. Com o surgimento da prensa de Gutenberg, na época uma invenção revolucionária, o conhecimento pôde ser organizado em páginas e livros, dicionários e enciclopédias, até o aparecimento de bibliotecas, que abrigam concretamente, e até hoje, todo o cabedal do conhecimento humano.

Estudiosos da aprendizagem veem na Internet a possibilidade de uma reunião da transmissão do conhecimento por meio oral e escrito. O hipertexto é o instrumento para a apresentação de informações em ambiente digital. Como define Pierre Lévy, é um conjunto de nós conectados por ligações – hiperlinks – com a função de hierarquizar e selecionar área de informações, tecer ligações entre elas, conectar um texto a outro, arrumá-las de maneira a fornecer uma base sobre a qual o texto se destaca e ao qual remete. É uma escrita não-sequencial, um texto dividido, que permite ao leitor escolher a parte que lhe interessa. Compreende a noção de hipermídia, que inclui elementos visuais, sonoros e de animação, além de outras formas de organização de dados. O hipertexto torna imprecisa a fronteira entre ler e escrever. O hipertexto é um sistema de texto que permite ao escritor e ao leitor rever, desfazer e comparar de maneira ágil e dinâmica qualquer parte de sua obra. Faz uma interface com as diferentes partes do conteúdo de uma página e de outras páginas na web. Segundo Chartier, três aspectos básicos diferenciam o texto eletrônico. Um deles é que se pode escrever no corpo do texto, diferentemente do texto impresso, no qual só é possível escrever nos espaços em branco e o texto inicial permanece inalterado. Para Chartier, “... com a representação eletrônica do texto, existe a possibilidade de submeter o texto recebido às decisões próprias do leitor para cortar, deslocar, mudar a ordem, introduzir sua própria escrita, etc. Pode-se escrever no texto ou reescrevê-lo” (p. 145). Outras diferenças do texto digital seriam a eliminação do intermediário para a produção, publicação e difusão de uma obra e a possibilidade de se ter uma biblioteca universal, à qual vou me referir mais adiante no texto.

A comunicação pela Internet ocorre através de várias formas: e-mail, salas de bate-papo, chats, listas de discussão, fóruns, sites, home pages, blogs etc. O correio eletrônico permite compartilhar mensagens com um número incontável de leitores, possibilitando sua disseminação exponencialmente. Podemos supor que, talvez, esse fosse o sonho do narrador na época das culturas orais. Ele é uma forma de comunicação escrita que ocorre, em geral, entre pessoas que se conhecem e existe certa defasagem de tempo entre o envio da mensagem e a resposta, que pode ser mínima, se os indivíduos estiverem on-line, ou demorar dias e semanas. Com exceção dos e-mails que veiculam propaganda, spams, geralmente os e-mails são pessoais, o que é diferente das listas de grupos ou fóruns de discussão. As mensagens trocadas através do correio eletrônico não têm limite de tamanho e podem agregar (attachment) arquivos de texto, imagens e som. Segundo Jonsson, “as mensagens eletrônicas podem partilhar as propriedades da carta tradicional, mas podem partilhar as propriedades do telefonema ou a comunicação face a face. Consequentemente, os e-mails transgridem os limites entre as noções tradicionais de comunicação oral e escrita” (p. 9).

 

 

Em um e-mail, a escrita utilizada é, geralmente, semelhante à linguagem falada no cotidiano. Em razão da velocidade exigida por este meio, porém, o internauta costuma, muitas vezes, criar abreviações, símbolos e sinais, comete erros de pontuação, gramática e ortografia para tornar mais rápida a comunicação. Foram criados emoticons, smiles ou “carinhas” para transmitir expressões e sentimentos normalmente vistos na comunicação oral. Por exemplo, o emprego de palavras escritas todas em maiúsculas significa que o escritor está gritando, uma palavra escrita em maiúsculas representa ênfase dada a ela. Outros exemplos são mostrados abaixo (é necessário virar a cabeça para visualizar o desenho). Atualmente, a utilização de emoticons é maior nos bate-papos virtuais.

No discurso eletrônico se fala, se escreve, se chora, se canta, se grita etc. Enfim, há uma manifestação discursiva que se transforma em marcadores escritos.

Acredita-se que parte do sucesso da nova tecnologia ocorra por reunir em um só lugar várias formas de expressão, como texto, som e imagem, permitindo flexibilidade para a incorporação simultânea de múltiplos significados. A mídia virtual depende totalmente da escrita. Não é uma escrita caracterizada pela defasagem de tempo entre sua produção e sua recepção e, sim, acontece na realidade, ao mesmo tempo e essencialmente através de palavras. O telefone permitiu que a oralidade fosse exercida sem a presença física dos interlocutores, mas ainda era necessário um espaço temporal entre eles para que se ouvissem. Atualmente, a produção e a recepção do diálogo, mensagens, informações etc. ocorrem no mesmo espaço físico e temporal.

A Internet liga as diferentes pessoas em uma velocidade espantosa, em uma sincronicidade espaciotemporal, reunindo-as em uma rede de interesses, o que fez surgir as assim chamadas comunidades virtuais. Nos bate-papos virtuais, listas de discussões on-line e/ou por intermédio de trocas de mensagens, chats etc., os integrantes interagem de forma rápida e eficaz, criando uma nova forma na utilização da linguagem enquanto prática de interação. As comunidades virtuais são redes de relações virtuais, diferindo um pouco daquilo que conhecemos como comunidade. Tome-se como exemplo os bate-papos on-line: eles podem ocorrer de maneira anônima, em uma relação efêmera e superficial. De outra forma, existem comunidades virtuais específicas que unem seus membros aprofundando interesses comuns de maneira duradoura, mesmo que anonimamente. São novas maneiras de interação entre pessoas reais, apesar de suas relações aconteceram, geralmente, no mundo virtual. Em uma comunidade virtual, os participantes encontram-se diante de uma tela, com um teclado para se exprimir, um mouse e caixas de som, eventualmente uma câmera de vídeo, livres de muitas das pressões que se apresentam em uma conversa presencial física. Caracterizam-se pela excessiva utilização da escrita e a interação entre os membros é mediada pela tecnologia da informática, em sincronicidade espaciotemporal.

Os bate-papos virtuais abertos iniciam-se com a escolha da sala pelo internauta, que ocorre sob diferentes critérios: idade, regiões, temas, encontros etc. Diferentemente das conversas virtuais através de programas do tipo ICQ, Messenger, Skype etc., ele deve escolher um apelido (nickname ou nick) atrás do qual se esconde. As conversas em salas virtuais abertas acontecem no anonimato. Esses nicknames assumem diversos formatos e costumam ser variados e imaginativos, com forte apelo sexual em alguns casos. Cito alguns exemplos desses apelidos: gato100gata; 5tao; kdvc etc. Com certeza, a escolha do nickname não é gratuita e revela muito do autor, podendo descrever sua identidade e seus desejos anonimamente. As produções escritas nos bate-papos virtuais abertos são no formato de um diálogo, utilizando-se frases curtas e sincrônicas, sendo mostradas na tela do computador de forma desordenada e em grande quantidade. Um participante da sala pode se dirigir a outro, em geral levado pelo nick do outro membro, e não existe obrigatoriedade de resposta. Pode-se dizer que, neste tipo de comunicação, existe uma relação hiperpessoal. A ocorrência de relação interpessoal pode existir no bate-papo virtual em salas privativas, que existem no mesmo ambiente virtual das salas abertas, onde as pessoas interagem em particular. Nas salas reservadas, os diálogos acontecem de maneira mais ordenada, um participante aguarda a escrita do outro e o uso de elementos paralinguísticos na escrita costuma ser menor.

Os programas do tipo ICQ, Messenger e outros permitem a criação de uma lista de conhecidos e amigos que permanecem em contato sempre que estiverem conectados à rede. Geralmente os participantes se conhecem e entram em contato através de seus nomes e a interação é em dupla. Uma de suas características é que os participantes podem se observar simultaneamente nas digitações, uma vez que o texto vai aparecendo on-line, não havendo necessidade de remessa do texto após sua conclusão. Isso possibilita uma conversação simultânea, havendo uma interação muito mais rápida. Como esses programas permitem o envio de arquivos e de documentos que estão sendo utilizados naquele instante no momento do diálogo, os participantes podem sentir que partilham espaços físicos.

A inserção de imagens, fotos e sons no texto eletrônico permitiu o aparecimento de novas expressões na linguagem escrita, que estão sendo direcionadas à falada. O discurso eletrônico está interferindo na linguagem oral. Crystal aponta que, do ponto de vista do uso da linguagem, temos uma pontuação concisa e simples, minimalista, uma ortografia bizarra, abuso de siglas e abreviaturas não convencionais e frases pouco ortodoxas. Isso pode ser observado principalmente em conversas com adolescentes que abreviam as palavras (profi significando professor, refri, refrigerante, por exemplo) e na velocidade rápida de suas falas, algumas vezes incompreensíveis pela compressão das palavras, ou palavras espaçadas, entremeadas por silêncios de razoável duração. Devido à natureza do meio eletrônico virtual, surgiram novos signos e significados que puderam ser integrados e comprimidos entre si e com os anteriores, permitindo certa descontração e informalidade à escrita e à fala.

Segundo os estudiosos, o uso da escrita de forma sincrônica poderá alterar a própria forma de escrever. A linguagem oral sofre modificações pelo fato de ser utilizada frequentemente. O mesmo pode ocorrer na escrita, pela frequência cada vez maior da utilização do texto eletrônico. A linguagem eletrônica é uma linguagem escrita não monitorada, não submetida a revisões ou correções, sendo semelhante a uma linguagem em seu estado natural de produção. Halliday sugere que “sob o impacto das novas formas de tecnologia” observamos uma nova situação que “está desconstruindo toda a oposição entre fala e escrita” (p. 354). Segundo ela, com o passar do tempo, “a distância entre a fala e a escrita terá sido largamente eliminada” (p. 355). Tudo indica que as novas gerações iniciadas na escrita eletrônica alcançarão essa união. “Crianças que aprendem a escrever usando o processador de palavras tendem a compor seu discurso escrito numa maneira que é mais parecida com a fala do que com os tradicionais exercícios da escrita” (p. 355). Contudo, como nos alerta Halliday, o que está ocorrendo não é uma “neutralização das diferenças entre fala e escrita” e, sim, que a tecnologia está criando condições materiais que permitirão uma “maior interação entre ambas, de onde emergirão algumas novas formas de discurso” (p. 356). As novas tecnologias eletrônicas trouxeram uma nova relação com os processos da escrita. Daí surgem estudos sobre letramento digital. O hipertexto permite uma nova produção textual, mudando a noção de autor, leitor e dos processos de construção de sentido. O hipertexto leva a uma revisão nas noções de linearidade, estrutura, coesão e coerência do texto.

A Internet também pode ser compreendida como possibilidade atual de memória de todo o conhecimento gerado pela humanidade, guardando através de sites, home pages, blogs, digitalização de livros etc. tudo que foi e tem sido produzido pelas pessoas. Dessa forma, o esquecimento está geralmente relacionado com a quebra dos hiperlinks. O aparecimento da frase “The page cannot be displayed” na tela do computador, ao se tentar acessar um site, significa que certa porção de informação, isto é, uma parte da memória, não está disponível porque o servidor do usuário está desativado no momento ou o servidor que hospeda o site está desativado, ou ainda que a página na Internet mudou de lugar ou foi retirada do meio eletrônico. Na realidade, quando um objeto ou pessoa desaparece do olhar de alguém, eles podem ser retidos em sua memória. A memória humana sadia, assim como na Internet, também pode perder informação, mas o perdido sempre mantém um elo com os objetos e emoções retidos anteriormente em sua memória. Diferentemente da Internet que, quando algo é perdido, desaparece sem deixar rastros.

A memória nas culturas orais dependia de seus narradores, indivíduos que possuíam determinado dom e eram guardiões da memória social do grupo. Com o desenvolvimento da tecnologia da escrita, a memória pode ficar independente do corpo do homem, porém ainda dependente dele para organização, catalogação e arquivamento do saber. Uma pesquisa exigia a presença física do pesquisador no lugar do armazenamento das informações e o processo era moroso. Com o nascimento da Internet, a catalogação é efetuada por um programa, que utiliza palavras-chave para a organização do que nela está contido e a pesquisa não exige deslocamento corporal do pesquisador. Só exige o movimento de ligar o computador, plugar a rede, escolher um site de busca, como o Google, e, em instantes, todas as informações solicitas estarão disponíveis. Essa memória social tecnológica, que aumenta exponencialmente, mexe-se e modifica-se em instantes, pode ser acessada global e rapidamente, estando disponível para milhões de pessoas em milhares de páginas web. Ela é múltipla, instantânea e acumulativa, infinitamente.

Esse manancial de informações organizadas de maneira dinâmica e navegável leva-nos a refletir sobre o sentido da palavra comunicação. Por um lado, comunicação remete à ideia de comunhão e partilha. Neste sentido, os meios eletrônicos aumentaram significativamente a possibilidade de difundir, partilhar informações. No entanto, acesso à informação não significa, necessariamente, compreensão do que nela pode estar contido, o compartilhar. A Internet ajudou exponencialmente a troca de informação e tem um caráter arquivista que resulta no acúmulo de informações na web. O compartilhamento das informações, o entendimento e a compreensão delas não é uma preocupação dos meios eletrônicos. O conhecimento é uma informação processada, articulada e integrada à rede de saberes prévios de uma pessoa, o que é difícil no mundo digital devido à sua velocidade e à grande estimulação que o acúmulo de dados produz. Ao contrário dos livros, o conteúdo do mundo virtual foi construído para a interatividade, utilizando-se de hipertextos que podem ser alterados, modificados, corrigidos e apagados pelo autor e pelo leitor.

Os fenômenos inéditos trazidos pela tecnologia ainda não são bem compreendidos e nos causam estranheza. Muito do que escrevi neste artigo pode estar desatualizado quando de sua publicação. As mudanças observadas trouxeram novos desafios e ampliaram o âmbito de atuação de quase todas as ciências e também criaram novos campos de estudos. Essas novidades mostram o potencial criativo da humanidade que traz um desafio permanente.

 

Referências

Chartier, R. (2001). Cultura, escrita, literatura e história. Porto Alegre: Artmed.        [ Links ]

Crystal, D. (2001). Language and the Internet. Cambridge: Cambridge University Press.        [ Links ]

Gevertz, S. (2002). Um olhar psicanalítico à sociedade contemporânea. Revista Brasileira de Psicanálise, 36(2), 251-268.        [ Links ]

Halliday, M. A. K. (1978). Language as social semiotic. The social interpretation of language and meaning. London: Edward Arnold.        [ Links ]

Jonsson, E. (1997). Electronic discourse. On speech and writing on the Internet. Luleå University of Technology. Department of Communication and Languages.        [ Links ]

Lévy, P. (1996). O que é virtual? São Paulo: Editora 34.        [ Links ]

Ramal, A. C. (2001). Educação na cibercultura. São Paulo: Artmed.        [ Links ]

Walton, D. (2000). E depois da Internet? São Paulo: Difel.        [ Links ]

 

 

Endereço para correspondência
Suely Gevertz
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E-mail: gevertz@uol.com.br

Recebido: 30/03/2009
Aceito: 20/04/2009

 

 

* Membro filiado do Instituto de Psicanálise da Sociedade Brasileira de Psicanálise de São Paulo. Professora no Instituto Sedes Sapientiae de São Paulo e do setor de Psicoterapia do Departamento de Psiquiatria da UNIFESP.