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Ide

versão impressa ISSN 0101-3106

Ide (São Paulo) vol.33 no.50 São Paulo jul. 2010

 

EM PAUTA - CARTAS

 

De Freud para Joan Riviere e “os ingleses”, com raiva

 

From Freud to Joan Riviere and “the English”, with anger

 

 

Teresa Rocha Leite Haudenschild*

Sociedade Brasileira de Psicanálise de São Paulo
Membro de ligação do Comitê Mulheres e Psicanálise (COWAP) da International psychoanalytical Association (IPA) junto à Federação Brasileira de Psicanálise (FEBRAPSI)

Endereço para correspondência

 

 


RESUMO

A autora comenta uma carta de Freud escrita em alemão a Joan Riviere, sua tradutora preferida e uma das fundadoras da Sociedade Britânica de Psicanálise junto a Jones em 1919. Esta carta é escrita logo após o Congresso de Innsbruck, em 1927, no qual Klein contestara as ideias de Anna Freud, e sete meses depois do “Simpósio sobre análise de crianças”, realizado em maio, em Londres, no qual os “ingleses”, entre eles Riviere e Jones, ao lado de Melanie Klein, apresentaram artigos respondendo às críticas feitas a eles por Anna no livro lançado por ela naquele mesmo ano de 1927: Introdução à técnica da análise de crianças. Ao lê-la, podemos rastrear a raiva de Freud pelo fato de os “ingleses” não apoiarem Anna e suas concepções. O Simpósio londrino de maio é o estopim, no entender da autora, para o que irá redundar na obra As controvérsias Freud-Klein 1941-1945, com organização de King e Steiner, em 1991. Mas Freud, ao escrever, ainda tem a esperança de uma psicanálise unificada...

Palavras-chave: Análise de crianças, Técnica, Freudianos, Kleinianos, Complexo de Édipo, Transferência, Educação.


ABSTRACT

The author comments on a letter by Freud written in German to Joan Rivière, his preferred translator and who was one of the founders of the British Psycho-Analytical Society along with Jones in 1919. This letter was written just after the Innsbruck Congress of 1927, where Klein contests Anna Freud’s ideas. Seven months later, in May, “the English” organized the “Symposium on child analysis”, in London. Among those present were Riviere and Jones together with Melanie Klein, who each presented papers responding to the criticisms leveled at them by Anna in her book, which had just been launched in 1927, entitled Introduction to the technique of child analysis. Reading this letter, we can trace Freud’s anger at the lack of support from “the English” for Anna’s conceptions. On the author’s understanding, the English Symposium of May was the fuse that lit and continued to burn until the 1940s, resulting in the work The Freud-Klein controversies 1941-1945, (organized by King. and Steiner in 1991). Even as Freud wrote this letter, he still maintained a hope of a unified psychoanalysis...

Keywords: Child analysis, Technique, Freudians, Kleinians, Oedipus complex, Transference, Education.


 

 

Melanie Klein chegou a Londres em 1926 e obteve desde o início o apoio de Joan Riviere, uma das seis mulheres que participaram da fundação da British Psycho-Analytical Society com Jones em 1919, juntamente com Alix Strachey, Susan Isaacs, Ella Freeman Sharpe, Sylvia Payne e Bárbara Low – seis mulheres entre 24 homens. Nesse mesmo ano a lei de igualdade de direitos de trabalho para homens e mulheres na Inglaterra passou a vigorar.

Grosskurth (1986) diz que Riviere e Melanie Klein se conheceram em 1924, quando esta apresentou seu artigo sobre “Os princípios psicológicos da análise infantil” (1927b) no Congresso de Salzburgo em 1924. Quando Klein chegou a Londres, Riviere providenciou-lhe alojamento e acompanhou acuradamente suas descobertas, tornando-se tradutora e propagadora preciosa de suas ideias nos anos 1930 e 1940, assim como publicou seus próprios artigos. Segal nos diz sobre Riviere: “Todos os seus artigos contêm observações e ideias originais” (Segal, 1991, p. xiv).

Riviere fora analisada por Jones e Freud, e considerada por este a melhor tradutora de seus trabalhos para o inglês. Fez parte, desde 1921, do Comitê do Glossário de termos psicanalíticos, ao lado de Freud, Anna Freud, Ernest Jones, Alix e James Strachey, e foi editora de tradução do International Journal de 1922 a 1937. Joan Riviere tem contribuições importantes à psicanálise e à formação de alguns de seus relevantes contribuidores. Foram seus analisandos Susan Isaacs, John Bowlby, Donald Winnicott e Ernest Trist. Hanna Segal, Herbert Rosenfeld e Henry Rey foram seus supervisionandos.

Joan dedicava atenção profunda a tudo o que fazia, reconhecendo sempre um trabalho cuidadoso e nunca deixando de criticar as falhas encontradas. Alguns a admiravam, como atestam os depoimentos de Isaacs, Segal e Rosenfeld (Hughes, 1991), e outros a temiam, pois ela não era de meias palavras.

Em carta de 23 de fevereiro de 1923, Freud diz a ela que não quer que ninguém, a não ser ela, cuide dos seus trabalhos (Hughes, 1992, p. 266). É a ela então que ele escreve, em alemão, após as repercussões da publicação por Anna Freud de Introdução à técnica da análise infantil (1927), onde ela enfatiza as diferenças entre a sua abordagem e a dos “ingleses”. Estes, em 4 e 18 de maio desse mesmo ano, organizaram um “Simpósio sobre análise de crianças” na British Society, do qual participaram, juntamente com Klein1, Joan Riviere, Jones, Glover e Searl, para responder às críticas feitas a eles por Anna Freud em seu livro.

No artigo escrito por Joan para essa ocasião, “Simpósio sobre análise de crianças” (Riviere, 1927/1985), ela sustenta a teoria kleiniana do desenvolvimento precoce do superego, acrescentando que a severidade do superego pode estar ligada à privação. E mostra como ansiedade, culpa e frustração contribuem como fatores para a rigidez do superego. Esta pode ser modificada pela análise da ansiedade e da culpa relacionadas às figuras primárias, através de tornar conscientes as fantasias inconscientes primitivas e onipotentes relacionadas a essas figuras. A desidealização dessas figuras, assim como a aceitação da realidade de que, como crianças, terão de postergar a satisfação de seus desejos sexuais, fazem com que a dor da frustração possa ser mais bem tolerada.

Nesse artigo Riviere ainda rebate o argumento de Anna Freud de que o adulto tem um desejo consciente de se tratar e a criança não, dizendo que o que interessa são as motivações inconscientes, tanto no adulto como na criança. E finaliza seu artigo afirmando que a transferência para o analista é similar à da análise de adultos, sendo que a transferência negativa precisa ser do mesmo modo analisada.

A carta apresentada neste artigo foi escrita por Freud cinco meses após o Simpósio dos “ingleses” sobre análise infantil, em maio, e um mês depois do X Congresso Internacional de Psicanálise, realizado em Innsbruck, no início de setembro de 1927, no qual Klein apresentara “Estágios iniciais do conflito edípico” (1928) e Anna Freud, “Sobre a teoria da análise de crianças” (1929). Infelizmente não contamos com a carta de Riviere que antecedeu a esta, nem com a resposta que a seguiu.

Esta carta faz parte da correspondência de Freud e Riviere entre 1921 e 1939, e foi doada por ela aos Arquivos de Freud que se encontram na Biblioteca do Congresso em Washington. Hughes a publicou no International Journal2 (1992, pp. 279-280), e através dela podemos acompanhar as batidas do coração de Freud: seus rancores e seus amores.

Vamos portanto lê-la, e segui-la ponto a ponto, ao ritmo das emoções que fluem.

Prof. Dr. Freud
Wien IX, Berggasse 19
9.X.1927

Cara Sra. Riviere
Estou contente que tenha escrito franca e inteiramente, e estou feliz em lhe responder do mesmo modo, assim poderemos considerar o episódio encerrado.

Freud parece confiar na capacidade de Riviere de receber inteiramente o que ele vai lhe falar, pois relata que é assim também que ela a ele se dirigira.

Espero que não conteste meu direito de estar irritado ou com raiva3, e não atribua minha conduta ao fato de eu não ter sido suficientemente analisado.

Em carta a Jones (4 de junho de 1922), após Joan ter estado em análise com ele por oito meses, Freud diz: “Eu fiz disso uma regra: nunca ficar com raiva dela... Confesso ter um sentimento de ternura em relação a ela, parcialmente baseado em sua capacidade intelectual e eficiência prática Se ela não possuísse essas altas e valiosas qualidades, eu não lhe daria a mínima chance ...” (Paskauskas, 1993, pp. 484-485).

Freud, como analista, podia obedecer à regra de não ficar com raiva de sua analisanda, mas agora, como colega e pessoalmente, diz que tem o direito de estar irritado e com raiva, apesar de já ter sido analisado (assim como Anna e Joan, por ele próprio). E pede a Joan que não o conteste quanto a esse direito, e faça a ele a mesma crítica que Jones fizera a Anna, por suas posições quanto à análise de criança expostas em seu livro, de que a análise dela tinha sido insuficiente.

Em carta a Freud (16 de maio de 1927), Jones dissera: “É doloroso para mim não poder concordar com algumas das tendências do livro de Anna, e não ajuda pensar que elas se devam a algumas resistências não perfeitamente analisadas: de fato é possível provar isso em detalhes” e acrescenta: “É pena que ela tenha publicado seu livro tão cedo – suas primeiras exposições −, mas espero que ela prove ser tão aberta quanto seu pai para futuras experiências4” (Paskauskas, 1993, pp. 617-618).

Freud, além de contestar a possível crítica de que ele (assim como Anna) não teria tido uma análise suficiente, explicitamente diz que uma pessoa inteira mantém emoções “boas” (como a ternura mencionada na carta dele a Jones) e “más” (como a raiva demonstrada naquele momento), podendo dirigir-se a seus objetos com amor e com ódio. Aliás, ele já iniciara a carta dizendo que seria inteiro e franco, como Joan tinha sido.

Você me deu um bom motivo de estar com raiva de você, exatamente pela razão de que tive sempre uma alta opinião de sua compreensão do que é psicanálise, e de sua inteligência: submeter-se a uma análise não pode tornar uma pessoa indiferente ou sem emoções.

Jones, em carta a Freud (21 de janeiro de 1921), dissera que “ela pode ser uma tradutora valiosa, pois penso que ela compreende psicanálise melhor que qualquer membro, exceto talvez Flügel” (Hughes, 1991).

Freud responde a Jones (23 de março de 1921) que “Sem dúvida ela é muito inteligente e tem clareza mental” (Paskauskas, 1993, p. 464).

E falando de Joan como tradutora e comparando-a com Hiller e Rank, Freud escreve a Jones (11 de maio de 1922) que “a personalidade mais forte dos três é obviamente a mulher” e pede a Jones que lhe dê apoio (Paskauskas, 1993, p. 475). Freud ainda acrescenta em carta posterior (4 de junho de 1922) que “ela é uma combinação incomum de inteligência masculina com o amor feminino por trabalho detalhado” (Paskauskas, 1993, p. 486).

Freud justifica sua raiva, pois parece pensar que, justamente por compreender tão bem psicanálise, Riviere não poderia estar ao lado de quem ele tinha como opositor de suas ideias. Vinte dias antes, em carta a Jones (30 de setembro de 1927). Freud, referindo-se ao artigo de Riviere para o Simpósio (Riviere, 1927/1985), questiona: “como uma pessoa tão inteligente como a Sra. Riviere permite-se fazer asserções teóricas que conflitam com todos os nossos conhecimentos e crenças e que abrem o caminho para tirar a análise da esfera da realidade” (Paskauskas, 1993, p. 624). Entretanto, Riviere é uma exímia articuladora das ideias de Freud às de Klein. Como “a mais eloquente colega de Klein, era capaz de mostrar com notável lucidez as ligações entre as teorias de Freud e as descobertas de Klein” (Hughes, 1991, p. 24).

Freud termina a frase reforçando o fato de que uma pessoa analisada se apropria e faz uso de todas as suas emoções, “boas” e “más”.

Logo considerei o fato de que sua atitude com relação à análise de crianças foi formada muito tempo antes de Anna terminar seu livro, e que seus sentimentos para com ela são amigáveis.

Freud parece respeitar a atitude de Joan com relação à análise de crianças, reconhecendo-a como algo que foi se constituindo ao longo de um bom tempo. Embora não fosse analista de crianças, em 1920, no primeiro número do International Journal, ela publicara “Três anotações” (Riviere, 1920), no qual mostra seu contato e entendimento da criança no adulto, através de material de três pacientes adultos. Em 1924, publica “O complexo de castração em uma criança”, “Um símbolo de castração” e “Simbolismo fálico”. Nos dois primeiros ela mostra seu interesse no entendimento do mundo interno das crianças. No último, mostra novamente como essa criança fala através das associações de uma paciente adulta.

Como vemos, os títulos são eminentemente freudianos, e é em 1924 que se dará o encontro dela com Klein, no Congresso de Salzburgo. Mas o encontro com as ideias de Klein talvez tenha se dado antes, pois Joan estivera no Congresso de Berlim em setembro de 1922 e certamente assistira à apresentação de “Infant analysis” (Klein, 1923/192aa)5. Klein já publicara seus trabalhos anteriores em alemão, e, como editora de redação do International Journal e dominando o alemão, Riviere deveria ter fácil acesso a eles6. Além disso, Klein, até a data desta carta, apresentara já dois trabalhos na Sociedade de Britânica de Psicanálise7, tornando-se assim membro desta (King & Steiner, 1998, p. 47).

Mas, desde 1926, quando Klein se transfere para Londres, Joan, como sua tradutora, tem um contato muito próximo com suas descobertas. Seu trabalho “Simpósio sobre análise de crianças” (Riviere, 1927), como já mencionado, além de articular as ideias kleinianas às de Freud, traz ideias próprias e originais.

Freud então, reconhecendo o valor de Riviere como psicanalista sensível e sincera, distingue a posição dela quanto às ideias psicanalíticas da amizade que ela dedica a Anna: de fato, em muitas cartas de Freud a Riviere (Hughes, 1992) vemo-lo referenciar respostas de Anna aos cumprimentos que Joan lhe enviara.

É como se ele dissesse: “amigos, amigos, posições à parte”.

“Então a coisa toda pode ficar como mais uma querela doméstica8, uma discussão familiar.”

Imediatamente após ter feito uma distinção entre posição científica e amizade, ele paradoxalmente propõe levar a “coisa toda” como uma “querela doméstica”... Ele propõe a Riviere, no meu entender, que privilegie ter um lugar na família freudiana e deixe em segundo plano a discussão científica. Ele quase a chama de “minha filha”, em uma atitude patriarcal, convidando-a a deixar as contestações para lá. Como se acreditasse que, através de uma carta, pudesse “por a casa em ordem “, convidando Joan a “não se afastar” das ideias freudianas, o que, no entender dele, Jones não o fizera, como podemos ler na carta, referida mais adiante, que ele escrevera a Jones no mesmo dia, 9 de outubro de 1927 (Paskauskas, 1993, pp. 633-634).

“Por outro lado, você não deveria presumir que estou pedindo para deixar livre de censura os pontos de vista de Anna porque ela é minha filha.”

Freud então fala a Riviere, e pressupostamente também para “os ingleses”, que não quer que deixem de “censurar” os pontos de vista de Anna. Mas as contraposições feitas no Simpósio, em vez de censuras, não seriam exposições sinceras de pontos de vista teóricos abstraídos da clínica? Freud certamente conhecia os trabalhos apresentados em maio no Simpósio pelos “ingleses”. E tanto Riviere como Klein e Jones são claríssimos em suas exposições.

Você já tinha escrito de Kitzbühel9 para mim dizendo firmemente que rejeitava os pontos de vista de Anna em seu livro, e eu, de maneira alguma ofendido, respondi que deveríamos seguramente deixar a resolução dessa contradição para futuras experiências.

Freud aqui repete algo que sempre diz em seus artigos: vamos deixar para o futuro a resolução das contradições. Dois meses antes (19 de julho de 1927), ele escrevera a Joan: “É muito curioso que os pontos de vista de Anna sobre a análise de crianças tenha encontrado tantos opositores em Londres e aplausos unânimes em Berlim. Penso que devemos deixar a resolução para a experiência futura. A análise de crianças é ainda muito nova” (Hughes, 1992, p. 279).

Somente fiquei com raiva quando Jones, em uma carta particular10 e publicamente em um simpósio11, atribuiu os pontos de vista de Anna ao fato de ter sido insuficientemente analisada. Isto é simplesmente indecente12, isto não deveria ter ocorrido.

Freud encoleriza-se em imaginar que Jones possa fazer críticas à análise de Anna (feita por ele, apesar de ser sua filha), tanto em particular − como na carta já citada anteriormente13 − como em público, ainda mais em um Simpósio (acredito que ele se referia ao “Simpósio sobre análise de crianças”, em maio, na British Society).

Ele escrevera a Jones semanas antes (23 de setembro de 1927):

Em Londres vocês estão organizando uma campanha regular contra a análise de crianças de Anna, acusando-a de não ter sido analisada profundamente o suficiente, uma crítica que você repetiu em uma carta a mim [16 de maio de 1927]. Gostaria de enfatizar que tal criticismo não deveria ser permitido e é perigoso. Alguém realmente é analisado o suficiente? Posso assegurar-lhe que Anna foi analisada mais tempo e mais que você, por exemplo14. O criticismo todo é baseado em uma pressuposição irresponsável que, com alguma boa vontade, poderia ter sido evitada. (Paskauskas 1993, p. 624).

Imagine a situação, se tais polêmicas pudessem ser aceitas entre nós e cada um de nós respondesse aos seus opositores científicos com esse tipo de crítica. (O fato é que, na minha opinião, isto não se aplica ao caso de Anna, e sobretudo quando ela parece estar certa quanto a esse assunto; isto não afeta o significado fundamental da questão.)

Ele próprio, Freud, anteriormente criticara Jones por ter analisado insuficientemente Joan Riviere (carta a Jones de 11 de maio de 1922), pois considerava que Jones “levou muito a sério sua resistência e não pôde conter seu sadismo quando ele aparecia, como deveria ter sido feito” (Paskauskas, 1993, p. 475).

Mas agora não podia suportar as críticas de Jones ao trabalho de análise que realizara com Anna, dizendo que elas não podiam se aplicar ao seu caso. Ainda mais que, referindo-se a questão à teoria e à técnica psicanalíticas, na opinião de Freud esse assunto não diria respeito à discussão.

Quanto à opinião de Joan sobre um pai analisar um filho, ela a expressara muito bem anos antes (Riviere, 1921-1922/1991), ao dizer que “Aqueles que têm um conhecimento real da verdade da psicanálise – acima de tudo conhecimento adquirido por experiência e não pela leitura – são todos cônscios de que a análise de crianças15 por um pai é impraticável e impossível” (p. 73). Mas sabemos que essa “impossibilidade” foi praticada tanto por Freud como por Klein...

A observação da Sra. Klein no Congresso16 lança um segundo raio de luz sobre o tratamento que Anna sofreu pelos ingleses: penso que vocês se esquivaram completamente do complexo de Édipo.

Em carta a Jones, vinte dias após o Congresso de Innsbruck (23 de setembro de 1927), Freud dissera:

Klein, de uma observação de Anna a uma criança, conclui que Anna está se esquivando do complexo de Édipo em suas análises, e ela conclui isso sem conhecer nada acerca dessa análise. O ataque todo é feito sobre essa convicção. No Congresso a Sra. Klein fez essa crítica a Anna e à sua contraquestão: “O que mais poderia eu analisar em uma criança senão o complexo de Édipo?” (Paskauskas, 1993, p. 624).

Klein dissera que o desenvolvimento edípico deveria ser desnudado analiticamente o mais completamente possível, e os sentimentos de ódio e culpa que dele resultam deveriam ser investigados até suas origens mais antigas: “É justamente a análise dos períodos iniciais que ilumina as tendências de ódio e sentimentos de culpa originados na privação oral inicial, no treinamento esfincteriano e na privação ligada à situação edípica” (Klein, 1927/1985, p. 165). Sua opinião era a de que “os exemplos fornecidos por Anna Freud, de fato, não apresentam qualquer análise do complexo de Édipo” (p. 141).

O que Klein dissera sobre o trabalho de Anna, Freud agora devolve aos “ingleses”, dizendo que eles se esquivaram completamente do complexo de Édipo.

Será que, para ele, ao falar em Édipo pré-genital e superego precoce, Klein, em vez de fazer um acréscimo à teoria freudiana do complexo de Édipo, estaria se esquivando completamente dela? Em “Estágios iniciais do conflito edípico” (1928) apresentado em Innsbruck em 3 de setembro, Klein diz que suas observações não contradizem as de Freud. “Penso que o ponto essencial das considerações que tenho feito está em que coloco esses processos em épocas muito mais recuadas” (Klein, 1927/1985, p. 197).

Conheço todos os casos de Anna, sou de certa maneira seu supervisor, e preciso dizer que ela está certa em responder: “O que mais eu poderia analisar em uma criança?”.

“O que mais eu poderia analisar em uma criança senão o complexo de Édipo?”, respondera Anna Freud a Melanie Klein. Acontece que sua análise não vai até épocas mais iniciais do conflito edípico, como propõe Klein, o que pode ser visto claramente na análise que faz do menino de nove anos, um dos casos apresentados em seu trabalho no Congresso de Innsbruck (Freud, A., 1929).

Freud afirma que, além de ter sido seu analista, ainda é supervisor de Anna, sua filha, e afirma também que ela analisa suficientemente seus analisandos crianças, pois ele continua firme em não aceitar os desenvolvimentos feitos por Klein à teoria dele do complexo de Édipo.

“Se presumo que você se deixou levar por seus companheiros em sua contribuição ao Simpósio, então posso encontrar uma desculpa para você.” Aqui fica claro que Freud conhece muito bem as contribuições ao Simpósio, e critica particularmente a de Riviere. Para ele, ela “se deixou levar” pelos companheiros “ingleses”, e assim deixara a “família” freudiana, ou as ideias familiares a Freud, afastando-se delas.

“Sei que seu ponto fraco é uma tendência à agressão, e o de Anna é a reserva.” Como ex-analista de Joan Riviere e de Anna, Freud conhece o que chama de suas “tendências”. E já que Anna é reservada, ele será agressivo por ela, do mesmo modo que Joan e os ingleses o foram, insinua ele.

Em carta de 13 de março de 1923, Freud diz a Joan que ela tem o que os gregos chamam de uma disposição agonística, “percebendo conflito e oposição onde outros não os veem” (Hughes, 1992, p. 273).

Infelizmente não contamos com a carta de Joan que motivou esta resposta de Freud, mas suponho que ela, além de ter usado de franqueza, sendo inteira, como ele refere, deve ter mostrado os conflitos e as oposições entre os pontos de vista de Anna e dos “ingleses” com uma visão muito aguda, colocando-se do lado das ideias de Klein, que conhece muito bem, e isso pode ter sido sentido por Freud como uma agressão às suas ideias e às de Anna.

Strachey diz de Riviere que ela era “abertamente crítica, mantinha fortemente suas opiniões e, quando zangada, era ‘chocante’” (Bergmann & Hartman Eds., 1990, p. 78).

Interessante que os colegas de Joan, embora a vissem como cortante em suas críticas, o que intimidava alguns deles, também observavam nela uma reserva peculiar, chegando mesmo à timidez (Hughes, 1991).

Dez anos mais tarde, Riviere escreverá sobre “Ódio, voracidade e reparação” (1937/1970), as forças destrutivas da mente, ilustrando-as na vida de cada dia e sublinhando a necessidade de compreendê-las: somente sendo aceitas e avaliadas em seu valor potencial é que o medo delas pode diminuir e ser contido.

Para mim não é fácil acreditar que você professe pontos de vista que contradizem em muito tudo que acreditamos em psicanálise. Penso que você não considerou apropriadamente o significado de suas proposições. Eu repreendi Jones por não ter chamado a sua atenção para isto e refreá-la.

Freud gostaria de refrear Joan em seu entusiasmo pelas ideias kleinianas, e diz ter ralhado com Jones por não tê-la detido! Efetivamente, nesse mesmo dia, antes de escrever a Joan, Freud escrevera a Jones (9 de outubro de 1927):

Mais desconcertante para mim que essas tempestades em um copo d’água17 são as afirmações de Riviere, especialmente porque eu sempre tive a mais alta opinião quanto ao seu entendimento [de psicanálise]. Preciso reprová-lo por ser tolerante demais. Se um membro de algum de nossos grupos expressa mau entendimento e distorção dos pontos básicos, é uma boa razão para o líder do grupo instruir essa pessoa em particular; mas de nenhum modo deve se dirigir a um público maior e ainda sem nenhum comentário crítico. Os editores em Berlim talvez também pensem assim. Estou escrevendo à Sra. Riviere sobre isto, para que ela possa apreciar seus erros por si mesma. (Paskauskas, 1993, pp. 633-634).

Jones responde a ele (18 de outubro de 1927):

Há um ponto a que gostaria de responder ... é a sua reprimenda de que negligenciei minha parte como líder a respeito da Sra. Riviere. Penso que verá que não é assim, pelas considerações seguintes ... A Sra. Riviere não nega a influência dos reais atributos dos pais nessa composição [do superego] e eu disse a ela que ela está cometendo um erro em se situar somente no que poderíamos chamar de metade fantástica do quadro, [mas] estou curioso de saber o que exatamente o senhor encontrou de tão herético na contribuição dela, ou se o senhor poderia ter entendido mal seu modo de apresentar seus pontos de vista (Paskauskas, 1993, pp. 634-635).

E Freud (22 de outubro de 1927) lhe responde:

Naturalmente eu a critico por negar metade dos fatos, enquanto somente a outra, que o senhor chama de a “metade fantástica”18 é proclamada, e ainda de um modo excelente. Isto torna o ponto de vista dela “herético”, contendo uma enorme similaridade com o de Jung, e, como ele, é um importante passo em direção a tornar a análise irreal e impessoal. A clareza de seu estilo exclui qualquer mal-entendido quanto ao sentido. Leia o último parágrafo de seu artigo outra vez19. Se a experiência de um caso provou a ela a importância da imago filogenética, para mim somente um grande número de casos pode ser útil para afirmar a influência de fatores reais, pessoais, além de toda e qualquer dúvida. É notável que as pessoas tenham a maior dificuldade em reconhecer a sobredeterminação e a multiplicidade de fatores etiológicos. Todos nossos apóstatas sempre arranharam parte da verdade e quiseram declará-la como toda a verdade. Note que a lógica e a perspicácia da Sra. Riviere se revelam mesmo em seus erros: ela muito adequadamente expõe a teoria que somente serve à técnica da Sra. Klein. Sentimentos de culpa são um assunto diferente; aqui não se pode falar de “heresia”, pois ainda não concordamos com a gênese de sentimento de culpa. A frustração certamente tem um importante papel, mas não pode ser a única fonte. Acredito – como você – que a Sra. Riviere não está certa aqui.

E Freud termina a carta dizendo a Jones:

Não está na hora de terminar este episódio desagradável a todos? Eu lamentaria se a Sra. Riviere continuasse a não ser desencorajada [por você] ou se distanciasse [dos princípios básicos] (Paskauskas, 1993, pp. 635-636).

Isto soa como intolerância, parece uma censura, uma tutela, mas o que mais posso fazer: em uma sociedade como a de vocês, cada um ao menos deve concordar com os princípios básicos.

Se Jones não a repreendera, Freud, como o líder dos líderes, o faz. Os motivos, creio que podemos depreender no diálogo entre ele e Jones nas cartas subsequentes a esta, já citadas acima.

Fico feliz em deixar de lado esse tópico e gostaria de informá-la por que não estou ao lado da Sra. Klein quanto à análise de crianças. Parece-me que a aplicação da análise sem hesitação, nesta e em outras esferas, não tem nada a ver com firmeza de caráter ou coragem, mas é questão de oportunismo terapêutico. Se se menospreza esse ponto de vista, então facilmente isto pode se tornar expressão de fanatismo analítico, o qual, a propósito, conflita com os princípios básicos da análise.

Freud explicita sua posição: análise de crianças nos moldes da análise de adultos, sem a decisão consciente destas, fazendo uso de transferência, e ainda mais a partir de teorias que postulam a existência de um Édipo precoce, é oportunismo terapêutico. E, se encontrar seguidores, poderá tornar-se fanatismo. O que conflita com a busca da verdade, um dos princípios básicos da psicanálise.

Assumimos que a criança é uma criatura de seus drives, com um ego fraco e um superego que está ainda em processo de formação. Com adultos trabalhamos com a ajuda de um ego forte, então não é uma traição à análise, se nossa técnica toma em consideração as diferentes condições em crianças e suporta o ego [delas] durante a análise, contra o superpoderoso drive do id [Trieb-es]. Ferenczi observou com humor que, se a Sra. Klein está certa, então crianças não existem mais. Entretanto, é a experiência que dará a última palavra.

A criança, para Freud, está à mercê de seus drives, como um cavalo que é conduzido por um cavaleiro ainda inábil, principiante (Freud, S., 1923/1976), um ego frágil, ainda incapaz de conduzir os drives ou frear o id. Como seu superego ainda está em formação, é o ego e o superego do analista que devem apoiar a criança em análise (cf. Freud, A. 1927, 1929).

Acredito que se mudássemos o vértice dessas asserções de Freud, da educação e da influência do educador externo, para o da compreensão, por exemplo, a partir dos conceitos de rêverie do analista, e deste como objeto compreensivo (Bion, 1962/1991), o analista estaria dispondo de seus recursos psíquicos para dar suporte ao vai e vem das comunicações analisando-analista para que a criança possa expandir sua capacidade de continência. Mas não é isso também que acontece na análise de adultos?

O que acontece na análise de crianças com falhas de continência materna inicial é que elas precisam atingir uma capacidade de autocontinência mínima, um nível mínimo de representação simbólica, para atingir o nível de comunicação de uma análise clássica, como a concebida nos tempos de Freud. Ele termina o período com a frase “entretanto é a experiência que dará a última palavra”, deixando portanto o assunto aberto a investigação, a sua posição e a dos “ingleses”...

Até agora só observei que, com crianças, a análise sem o auxílio da educação piora suas condições, e tem um mau efeito particular nas crianças negligenciadas ou associais.

A análise de crianças em Berlim começou junto à educação, tendo Anna Freud sido professora antes de ser psicanalista, continuando sempre a se dedicar a ela: com sua amiga Doroty Burlingham, abriu uma escola regular em Viena, depois um orfanato para crianças judias órfãs de guerra. Entretanto, a própria Joan anteriormente, depois de fazer uma resenha ao livro Psycho-Analysis, de R. H. Hingley, dissera que “Freud e aqueles mais autorizados, capazes de formar opiniões sobre esse assunto, têm exaustivamente se guardado de expressar seus pontos de vista sobre a aplicação da psicanálise na educação” (Riviere, 1921-1922/1991, p. 79).

Aqui Freud, embora não fale de aplicar psicanálise à educação, parece acreditar que seu auxílio é essencial para aliviar o trabalho psicanalítico de uma carga maior do que poderia suportar. Mas daí a propor, como o faz Anna Freud, que o analista exerça funções educativas na sala de análise, já é um passo muito grande...

Penso que Freud tem muita sensibilidade ao citar as crianças negligenciadas ou associais, como exigindo mais da psicanálise. Crianças com privação de cuidados e as que beiram o autismo, estudadas depois por Winnicott e os pós-kleinianos, podem requerer outro tipo de análise. E, além disso, apoio ambiental, tanto dos pais como dos educadores, paralelamente à análise, que deveria preservar sua especificidade.

Teremos em breve a oportunidade de descobrir mais, a partir de um caso de uma criança negligenciada, que foi analisada sem sucesso em Londres e está agora vindo para Aichhorn20, e um menino neurótico de Berlim, que está chegando para Anna21, após extenso tratamento com a Sra. Klein.

Freud parece querer cotejar a análise dos “ingleses” com a dos vienenses e berlinenses. E parece torcer para que as crianças que tiveram tratamento em Londres (ou em Berlim, com Klein), melhorem agora, com August Aichhorn e Anna, que têm pontos de vista diferentes dos “ingleses”.

Ao longo do tempo é impossível para nós conseguirmos resultados diferentes em Londres, Berlim e Viena. Freud deseja que a psicanálise ao longo do tempo possa ter resultados semelhantes, implicitamente a partir de pontos de vista semelhantes, no mundo todo.

Entretanto, entre outros autores, artigos como os de Wallerstein − “Uma psicanálise ou muitas?” (1992), “A trajetória da psicanálise: onde estamos hoje?” (2003) e “Será o pluralismo psicanalítico um estado duradouro de nossa disciplina?” (2008), mostram que as aspirações de Freud quanto à concordância de pontos de vista psicanalíticos eram quase uma utopia.

Enquanto isso, por que não querermos ter atitudes de consideração em relação a nossos colegas? Uma delas é a boa vontade, que senti faltar da parte dos ingleses em relação a Anna.

Penso que é aqui que Freud mostra o motivo de ter escrito esta carta: solicitar a Joan que seja sua embaixadora junto aos “ingleses”, pedindo que recebam bem a sua Anna, independentemente das ideias dela e das divergências que tenham com elas.

Este apelo de Freud, no meu entender, chegou aos ouvidos dos ingleses, pois Jones organizou um programa em que analistas de língua alemã expuseram suas ideias na British Society e alguns de seus membros foram a Berlim e Viena. Em 5 de maio de 1936, quando Freud fez oitenta anos, Joan foi a Viena representando a British Society, como parte de um programa instituído por Jones para discutir as diferenças teóricas entre a psicanálise vigente em Viena e em Londres. Com este propósito, Riviere apresentou então um extenso artigo, “Sobre a gênese do conflito psíquico na infância inicial” (1936), no qual expressou com muita clareza a teoria kleiniana da época, as dores e lutas da criança entre seus amores e ódios aos objetos, principalmente a mãe, a qual sente inicialmente como sua extensão. Mostra como a projeção e a introjeção vão constituindo o ego, e que é através desses mecanismos que a criança interpreta ou distorce a realidade.

“Posso presumir que agora você está mais bem informada sobre os motivos, a intensidade e a extensão da minha raiva!”

Com esta frase, falando com uma pessoa amiga que pode ouvi-lo inteiramente, Freud parece ter esperança de que sua raiva seja acolhida por Joan em toda a sua intensidade e extensão, e assim dar por encerrado o episódio entre eles, como propõe no início da carta.

Penso que o livro de Anna foi um estímulo para que essas diferenças pudessem ser delineadas, levando-os a novos progressos. No meu entender, não contradizendo, mas alargando as descobertas freudianas. As controvérsias na British Society entre freudianos ortodoxos e kleinianos, de 1941 a 1945 (King & Steiner, 1991/1998), nos dão um exemplo vivo de que, nesse momento, as discussões estavam apenas começando.

 

Cumprimento-a calorosamente

Freud, que confia em Joan, e lhe confidencia dores íntimas profundas22, só pode terminar com este cumprimento caloroso, que é como um abraço paternal.

“Seu
Freud.”

Esta carta de Freud a Joan, que, como procuramos contextualizar, faz parte de uma tessitura em rede junto a muitas outras, exprime no meu entender, o início da erupção do vulcão de contestações às ideias de Klein, não reconhecidas como continuidade das ideias de Freud, apesar da clareza dos textos de Klein, e dos de Joan Riviere (a articuladora mais expressiva dessas idéias).

Como sabemos, as discordâncias estavam apenas começando, redundando nas discussões científicas das controvérsias entre Freud e Klein que duraram de 1941 a 1945 (King & Steiner, 1991/1998).

Espero que tenha passado aos leitores o vivo interesse despertado em mim ao ler esta carta, curiosa por acompanhar o diálogo entre o fundador da psicanálise e sua privilegiada divulgadora no mundo de língua inglesa. Se temos acesso somente ao que Freud diz, resta-nos conjeturar sobre a resposta de Joan a ele...

 

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Endereço para correspondência
Teresa Rocha Leite Haudenschild
Av. Dr. Cardoso de Mello, 1450 / 209
04548-005 – São Paulo – SP
tel.: 11 3834-9428
E-mail: haudenschild@sti.com.br

Recebido: 12/04/2010
Aceito: 24/04/2010

 

 

* Analista didata e analista de crianças e adolescentes da SBPSP. Membro de ligação do Comitê Mulheres e Psicanálise (COWAP) da IPA junto à FEBRAPSI.
1 Melanie Klein apresentou “Symposium on child analysis” (1927), em que contesta a asserção de Anna Freud de que a situação analítica (com uso da transferência e elaboração dos conflitos edípicos) não pode ser estabelecida com crianças, assim como se opõe à função do analista como educador, proposta por Anna, expondo claramente seus pontos de vista e descobertas, baseados na clínica. Explica também pormenorizadamente a sua técnica do brincar e a importância que atribui ao simbolismo, ambas contestadas por Anna. Esta, em 1946, republica seu livro, dizendo não ser mais necessário ao analista ter função educativa, pois os pais, agora mais esclarecidos, podiam exercê-la, e incluindo também a técnica do brincar na análise de crianças.
2 Michael Molnar, historiador da psicanálise, as traduziu para o inglês (Hughes, 1992, p. 283).
3 to be angry, em inglês no original.
4 Esta carta foi escrita por Jones a Freud em 16 de maio, no intervalo entre os dias do “Simpósio sobre análise de crianças”, realizado em 4 e 18 de maio, portanto, durante sua efervescência. Em sua contribuição ao Simpósio, ele diz: “Onde quer que a neurose exista, o conflito é essencialmente interno, e o temor da autoridade externa é uma racionalização dos temores do superego, isto é, das demandas de uma consciência interna [...] É um erro sério identificar o superego inconsciente e fantástico infantil com a influência educativa dos pais [externos]” (Jones, 1927, p. 391), como o faz Anna Freud, que sugere, além disso, que o analista assuma essa influência educativa na análise.
5 Early analysis (Die Entwicklung und Hemmung von Fähigkeiten), VII Congresso Internacional de Psicanálise em Berlim, setembro de 1922). London: Imago Publishing Company.
6 “The development of a child”, publicado em alemão pela Imago em 1921 e em inglês no International Journal of Psychoanalysis em 1923; “The role of the school in the libidinal development of the child”, publicado em alemão em 1923 e no IJP em 1924; “Early analysis”, apresentado no VII Congresso Internacional em Berlim em 1922 e publicado em alemão pela Imago em 1923; “The psychological principles of early analysis”, apresentando no Congresso de Salzburgo em 1924 e publicado no IJP em 1926; “A contribution to the psychogenesis of tics”, publicado em 1925 no Internationale Zeitschrift für Psychoanalyse.
7 “Notes of the psychoanalysis of a child aged five years”, apresentado na Sociedade Britânica de Psicanálise em 1926 e não publicado, e “The importance of words in early analysis”, apresentado na Sociedade Britânica de Psicanálise em 1927 e não publicado.
8 domestic quarrel, em inglês no original.
9 Cidade medieval no Tirol austríaco.
10 Carta de Jones de 16 de maio de 1927, já citada no comentário do segundo parágrafo (Paskauskas, 1993, pp. 617-618). Ver nota 7.
11 “Simpósio sobre análise de crianças”, em maio de 1927, na British Society.
12 indecent, em inglês no original.
13 Carta de Jones de 16 de maio de 1927, citada no comentário do segundo parágrafo (Paskauskas, 1993, pp. 617-618). Ver nota 7.
14 Jones fora analisado por Ferenczi, que fora analisado por Freud.
15 E, implicitamente, de adultos.
16 X Congresso Internacional de Psicanálise, em Innsbruck, de 1º a 3 de setembro de 1927, no qual Anna Freud apresentou “Sobre a teoria da análise de crianças” e Melanie Klein, “Estágios iniciais do conflito edípico”.
17 “Tempestades em uma xícara de chá”, no texto em alemão.
18 the phantastic half, em inglês no original.
19 Joan Riviere, em seu artigo “Simpósio sobre análise de crianças” (1927, p. 377) escreve que psicanálise “não diz respeito ao mundo real, nem a doença ou saúde, nem a virtude ou vício. Diz respeito só e simplesmente ao que é imaginado pela mente infantil, aos prazeres fantasiados e às retribuições temidas. A estes deve ser dada sua verdadeira importância; pois moralidade não é nada mais que frustração sob uma outra forma – se pudermos ensinar nossos pacientes a tolerar a frustração, consequentemente a moralidade aparecerá”. Neste parágrafo final de seu artigo, Riviere refuta uma vez mais a proposta de Anna Freud de que o analista deveria ter também a função de um educador.
20 Educador que, após análise com Paul Feder, torna-se psicanalista em 1922 e, em 1923, funda em todos os catorze distritos vienenses centros educativos com foco psicanalítico. Em 1945, como presidente da Sociedade Psicanalítica de Viena, continua a divulgar a psicanálise entre os educadores.
21 Reinhard Simmel, filho de Ernst Simmel, esteve em análise com Melanie Klein depois que Simmel e sua esposa se divorciaram; ele melhorou, mas Simmel achou que ele tivera uma recaída e pediu a Anna Freud que o analisasse em 1927 (Young-Bruehl, 1988, p. 9).
22 Em carta de 10 de setembro de 1922, ele lhe conta sobre o suicídio de sua neta Caecilie (Mausi), aos 23 anos, que, ao saber que estava grávida, tomara Veronal em alta dose (Hughes, 1992, p. 271). E em carta de 2 de julho de 1923 ele lhe relata a morte do neto Heinz, por tuberculose, com quatro anos e meio: “A criança mais interessante e promissora que conheci [...] sua morte tirou-nos uma porção da alegria de viver. Você talvez se lembre dele, ele entrou correndo na sala uma vez durante seu tratamento. Eu o apresentei a você e depois ele perguntou muitas vezes pela ‘titia alta’” (Hughes, 1992, p. 274). E Joan deve ter-lhe respondido com alguma nítida lembrança, pois, na carta seguinte (14 de julho de 1923), Freud lhe responde: “O que você disse sobre a querida criancinha é tão apropriado que nós nos surpreendemos de não termos notado isso antes. Mas, certamente, o amor nos torna cegos... É difícil ultrapassar sua perda” (Hughes, 1992, p. 274). Ele lhe conta também, em carta de 8 de maio de 1923, sobre suas operações no maxilar, desde a primeira delas: “Um neoplasma em minha boca, supostamente como punição pelo prazer de fumar, ainda benigno, mas ninguém sabe quando pode tornar-se cancerígeno” (Hughes, 1992, p. 273), e se preocupa com a saúde dela em carta de 22 de janeiro de 1939, portanto até o fim da vida: “Lamento saber que você esteve seriamente doente e acamada por tanto tempo, e por ter tido muitas experiências novas por estar doente nestes três meses, posso sentir uma simpatia especial por você” (Hughes, 1992, p. 283). Lembremos que Freud faleceu oito meses depois, em 23 de setembro de 1939.

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