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Ide

versão impressa ISSN 0101-3106

Ide (São Paulo) vol.36 no.57 São Paulo jun. 2014

 

EM PAUTA - MASSA E PODER

 

Massa e poder: das maltas à paranoia

 

Crowds and power: from packs to paranoia

 

 

Eunice Nishikawa*

Sociedade Brasileira de Psicanálise de São Paulo

Endereço para correspondência

 

 


RESUMO

A autora destaca do livro Massa e poder, de Elias Canetti, aspectos referentes às maltas, os mais primitivos agrupamentos humanos, o seu conceito de poder e a relação das massas com as ordens. Canetti faz um paralelo entre estes aspectos de massa com o caso Schreber. Essa abordagem permitiu uma maior evidência do papel das massas na psicologia do indivíduo e uma expansão do campo de investigação psicanalítica. O filme 2001 – Uma odisseia no espaço, de Stanley Kubrick, serviu de moldura para este artigo.

Palavras-chave: Massa, Poder, Paranoia, Hipnose, Alucinação.


ABSTRACT

The author highlights in the book Crowds and Power by Elias Canetti, some aspects related to the packs as the most primitive human groupings, the concept of power and the relationship between the masses to orders. Canetti draws a parallel between these aspects of masses with Schreber's case study. This approach has allowed better understanding of role of the mass on the psychology of individuals and an expansion of the psychoanalytical investigation field. The Stanley Kubrick's film, 2001 – A Space Odyssey, was used as a frame for this article.

Keywords: Crowd, Power, Paranoia, Hypnosis, Hallucination.


 

 

"O homem é um animal político"
significa que ele tem a contraparte mental
das características físicas de um animal da horda.
(Bion, 2007, p. 76)

O presente trabalho é uma resposta à carta-convite feita pelos editores da ide, propondo como tema para este número, "Massa e poder". Creio que esse tema surgiu em função do título do livro Massa e poder de Elias Canetti, publicado no Brasil em 1983, livro este que, pela envergadura do autor e do assunto tratado, sempre me propusera a ler. Junto com ele, tinha guardado na minha estante, o livro escrito pelo Dr. Daniel Paul Schreber, Memórias de um doente dos nervos, publicado no Brasil em 1984, com uma primorosa tradução de Marilene Carone. Ambos estavam associados em minha mente como um possível projeto de estudo. Essa proposição da ide impulsionou-me a retomar esse antigo projeto.

No entanto, Massa e poder e Memórias são dois livros de possibilidades imensas de análise e investigação. Lendo o livro de Canetti, quando este autor fornece dados sobre as maltas, que seriam os primeiros agrupamentos humanos, lembrei-me da cena inicial do filme de Stanley Kubrick, 2001 – Uma odisseia no espaço. Assim, para este artigo, tomo o filme como linha de corte, para falar primeiro sobre as maltas, destacando os aspectos mais primitivos da massa, em seguida sobre o salto para uma humanidade mais sofisticada que aparece no filme nas estações espaciais, com os homens em avançado processo civilizatório, mas que também produzem um robô tão humano, que se torna paranoico, correlaciono com a análise de Canetti sobre o caso Schreber, em relação ao tema massa e poder. Por fim, teço uma breve consideração sobre a chegada do único tripulante a Júpiter e as transformações sofridas por ele.

 

A aurora do homem

No filme 2001 – Uma odisseia no espaço, imortalizado nas telas por Stanley Kubrick, com roteiro coassinado por Arthur C. Clarke1, assistimos a uma das imagens mais impressionantes de uma ficção sobre o alvorecer da humanidade. Em uma paisagem árida, com o sol brilhando em meio à estepe, vemos restos de esqueletos de animais e hominídeos. Nesse cenário um grupo de homens-macacos convivem lado a lado com os tapires (parecidos com as nossas antas), com os quais brigam também pelo pouco alimento, pois ambos são herbívoros. Os homens-macacos vivem em cavernas e têm o hábito adquirido dos macacos de "catar piolho" uns dos outros, assim como beber água com as mãos em cuia, estabelecendo uma primitiva comunicação entre si.

Na cena seguinte, os homens-macacos estão em torno de um pequeno riacho, ou lagoa, e assistimos ao que seria uma briga pela posse da pouca água, quando os "Outros" (Clarke, 2013, p. 34) – denominação dada pelo autor para se referir ao outro agrupamento de homens-macacos – se aproximam e, com gestos e urros, afastam o primeiro grupo. É uma vida dura para todos os homens-macacos, com risco de serem presas dos leopardos e outros animais carnívoros, além da constante disputa pelo território e pela comida. À noite, nas cavernas, a ameaça continua, quando vemos os homens-macacos atentos aos pequenos ruídos, enquanto o leopardo fizera mais uma vítima.

Em um novo alvorecer, ouve-se um som estranho, e os homens-macacos ao saírem das cavernas se defrontam com um monólito que parece emitir aquele som, e que se torna alvo inicialmente de medo e em seguida de curiosidade. De qualquer maneira, parece que é esse monólito que irá gerar uma grande mudança no grupo. Nessa perspectiva, podemos entender o surgimento misterioso do monólito como o próprio mistério do surgimento da mente humana. Do ponto de vista psicanalítico, podemos considerar, junto com Pistiner de Cortiñas (2007, p. 189) que tomou este mesmo filme para análise, como sendo o prenúncio de uma mudança catastrófica, um conceito formulado por Bion para um tipo de configuração que marca um salto brusco, uma descontinuidade na evolução, trazendo consigo uma subversão da ordem anterior.

A música que acompanha o aparecimento do monólito, um Requiem de György Ligeti, compositor contemporâneo, parece ser também um elemento de agregação importante do grupo, sendo ao mesmo tempo estranha e bela. Segundo Clarke, "Uma vibração simples repetitiva e enlouquecedora pulsava do cristal e hipnotizava todos que chegavam perto do seu feitiço" (2013, p. 39). Para Pistiner de Cortiñas, "a música escolhida por Kubrick é uma música religiosa e sublinha que com a humanização surge a religiosidade" (2007, p. 189). Religião e hipnose marcariam o que seria o próprio surgimento da mente?

Há um novo corte de cena, e retornamos ao mesmo cenário do episódio do dia anterior: a seca, os ossos, fome e morte pairam no ar. Um homem-macaco em meio aos ossos, sem achar nada para comer, tem uma expressão desolada. Olha então para o monólito. O poema sinfônico de Richard Strauss, Assim falava Zaratustra, inspirado no tratado filosófico de mesmo título de Friedrich Nietzsche, se faz ouvir, marcando o que seria um novo gesto. Em uma tomada de cena das mais impressionantes do cinema, que dura menos de dois minutos, o tempo exato do primeiro movimento do poema sinfônico, o homem-macaco pega um fêmur da ossada à sua frente, transformando-o no que seria um primeiro instrumento. A mão ganha uma nova força, e o osso torna-se também um instrumento para matar. O homem-macaco cresce na cena, ganha poder e faz do tapir a sua primeira vítima, passando no filme de um ser herbívoro para carnívoro.

No livro que serviu de roteiro para o filme, Clarke descreve o trabalho do monólito como um hipnotizador do grupo, pois como afirma é desta forma que "trabalha suas mentes":

Agora profundamente hipnotizados, os homens-macacos só podiam olhar boquiabertos para aquela impressionante exibição pirotécnica... Formas geométricas fantásticas e fugidias apareciam e desapareciam, enquanto grades reluzentes se entrelaçavam; e os homens-macacos observavam cativos mesmerizados do cristal reluzente. (Clarke, 2013, p. 40)

No livro é descrito também que toda essa "experiência alucinatória" (esta é uma expressão minha) tem como consequência uma mudança importante no comportamento do grupo. Como que sendo guiados por um hipnotizador, experimentam, após acordarem do transe, novos gestos, que culminam não só com o uso do que seria não apenas um porrete para matar, mas também com a descoberta de novos instrumentos incluindo pedras, dentes, chifres, que lhes permitem um maior domínio sobre o seu ambiente.

Na última cena desta horda primitiva, novamente temos o encontro das duas tribos de homens-macacos na pequena lagoa e a luta pela água. Mas desta vez o bando "treinado" pelo monólito possui uma nova arma. De osso em punho, o grupo acaba matando o líder do outro grupo, os "Outros". Dominam a situação, detêm o poder e o líder do primeiro grupo lança o osso para o ar, em um gesto de vitória. Novamente ao som da introdução da música Assim falava Zaratustra, prenunciamos um novo salto evolutivo, e, no ar, o osso se transforma em uma nave espacial. É a conquista do espaço pelo homem, configurando uma situação certamente mais sofisticada em relação ao agrupamento primitivo.

 

Sobre as maltas

Elias Canetti no seu livro Massa e poder faz, em um primeiro momento, uma análise muito original do fenômeno da massa. É uma preciosa compilação de textos das mais diversas origens, permitindo uma visão dos fenômenos de massa a mais isenta possível de qualquer valoração moral, o que é uma grande virtude considerando o tema tratado. Podemos considerar, tomando a grade de Bion2, que o autor se mantém na fileira C, correspondendo aos "pensamentos oníricos, sonhos, mitos" (Bion, 2004, p. 38). Considero que o permanecer na fileira C tem como mérito a possibilidade de operar continuamente no momento original da formação de um mito, uma narrativa, sonho, sem se precipitar em criar uma teoria, ou gerar uma interpretação ao que está sendo narrado.

Com isso Canetti nos permite encontrar manifestações dos fenômenos de massa em sua expressão mais pura, original, mantendo o frescor do fenômeno observado. Em um segundo momento ele estabelece também esse mesmo método para pensar a questão do poder, tomando como ponto de partida os fenômenos de massa e de como o poder permeia as relações entre os homens. Somos levados por Canetti a uma narrativa fidedigna de autores, relatos compilados, permitindo uma visualização do que seriam as massas e os contornos do poder nos mais diferentes recônditos terrestres e em diversos momentos históricos. Devo me ater a alguns aspectos que me chamaram a atenção, que se referem às maltas, no que elas evidenciam quanto ao surgimento da linguagem, no capítulo "A mão", e o capítulo sobre "A ordem: fuga e aguilhão", no qual o autor estabelece a relação das massas com as ordens, mas recomendando vivamente a leitura do livro.

Canetti dedica vários capítulos ao que ele denominou malta e maltas. A malta seria uma unidade mais antiga, um primeiro agrupamento humano do qual se originou a massa e os cristais de massa. Os cristais de massa teriam como característica serem duradouros, formarem como grupo uma unidade, e servirem para desencadear massas. Os exemplos seriam os soldados e os monges. As massas poderiam se formar espontaneamente, adquirindo diversas configurações como, por exemplo, uma massa aberta, que se abandona livremente ao seu impulso natural de crescimento, mas facilmente se desintegra; a fechada, que se protege das influências externas; a negativa, como no caso da greve; a massa de fuga, que pode se transformar em massa de pânico; massa dupla, como é o caso das duas massas inimigas formadas na guerra ou uma massa de caráter religioso como ocorre na procissão, cujo símbolo, segundo Canetti, seria o rio que tendo as duas margens procura se esticar e se exibir para um maior número de pessoas.

Para Canetti, "a escolha do termo 'malta' para uma forma mais antiga e limitada de massa serve também para lembrar que sua aparição entre os homens se deve a um modelo animal: a manada de animais que caçam em conjunto" (1983, p. 104). A descrição e os documentos que revelam o modo como estes primeiros agrupamentos humanos se deram permitem-nos pensar nestes cenários primitivos. Por exemplo, citando Canetti:

Os primeiros homens, que se movimentam em número reduzido por amplas e frequentemente desertas paragens, enfrentam um número muito superior de animais. É possível que nem todos sejam hostis; a maioria deles não é perigosa para o homem, mas muitos aparecem em quantidades incríveis. Um rebanho de búfalos ou de antílopes, cardumes de peixes ou de lagostas, enxames de abelhas ou de formigas – comparando-se o seu número com os homens, este se torna insignificante. (Canetti, 1983, p. 117)

Como mencionei anteriormente, foi pensando no cenário das maltas que surgiram em mim as imagens iniciais do filme 2001 – Uma odisseia no espaço. Neste mundo primitivo no qual o homem está em desvantagem, segundo Canetti, o que a malta quer com mais veemência é ser mais, não apenas em quantidade. Um dos recursos utilizados pela malta foi incorporar em si, por metamorfose, todos os animais que ela conhecia. Neste processo de metamorfose, ganha importância a capacidade imitativa dos homens que imitavam os movimentos das várias espécies animais que apareciam em grande número. Apesar de serem poucos, conseguiam através da dança criar um efeito que pareciam ser muitos. Canetti (1983, p. 121) cita a dança dos búfalos dos mandans, tribo indígena da América do Norte, sendo a dança uma estratégia para atrair os búfalos, que vagueiam em grandes manadas. São apenas dez ou quinze mandans que participam dela, mas a vestimenta, a pele do búfalo, a máscara, o ritmo constante, a continuidade, pois a dança pode durar duas ou três semanas, dão a impressão de serem muitos. Conseguem com isso atrair uma manada de búfalos e garantem a sobrevivência do grupo.

É essa capacidade de "incorporação" e metamorfose do homem que dará origem ao animal totem entre as maltas australianas. Ele podia se transformar no animal, dando origem ao totemismo, criando todo o mito em torno do ancestral animal. Ao final do processo consolida a metamorfose ao se tornar meio homem e meio canguru, na configuração totêmica. Canetti conclui: "Neste mesmo exercício da metamorfose é que ele realmente acabou se transformando em homem; ela era o seu talento e o seu prazer mais característicos" (Canetti, 1983, p. 118).

Em relação ao tema poder – lembramos que o título do livro no original é Masse und macht –, Canetti faz uma distinção da palavra "macht, poder, deriva de uma antiga raiz gótica, magan, que significa 'poder, ser capaz' e não está de maneira alguma relacionada com a raiz machen que significa 'fazer'" (1983, p. 313). Na distinção que este autor faz entre força e poder, considera que a força tem um caráter mais imediato e coercitivo, enquanto o poder é algo mais complicado e demanda também uma certa paciência.

O exemplo para precisar o significado dos dois termos é dado pela relação entre o gato e o rato. O gato assim que caça o rato demonstra que o mesmo está sob o seu regime de força e seu objetivo é matá-lo. Mas algo acontece a mais, quando o gato se põe a brincar com o rato. Ele não o mata imediatamente. Também solta e permite que o rato corra, concedendo-lhe um momento de esperança, mas mantendo-o sob a sua área de domínio. Canetti conclui: "O espaço que o gato controla, os momentos de esperança que ele concede ao rato vigiando-o atentamente sem perder o interesse por ele e por sua destruição, tudo isto reunido – espaço, esperança, vigilância e interesse destrutivo – poderia ser designado como o corpo propriamente dito do poder ou, simplesmente, como o próprio poder" (1983, p. 313, grifos da autora).

Quanto ao capítulo denominado "As entranhas do poder", do livro Massa e Poder, dedico especial atenção à análise que Canetti faz da mão, articulando sua análise com o filme 2001. Nas cenas iniciais do filme, vemos os homens-macacos utilizando as mãos para catar piolho, para tomar água. A separação do polegar já existia desde os macacos que viviam nas árvores e usavam as mãos para se deslocar de galho em galho entre elas. É esse duplo movimento de pegar e soltar com cada uma das mãos que caracteriza o movimento dos macacos diferenciando-os dos outros animais. Canetti vê neste movimento das mãos, na alternância de pegar e soltar, o nascimento de uma das atividades humanas mais difundidas, qual seja, o comércio.

Da mesma maneira que o macaco pode manejar os galhos com as mãos, o homem-macaco pode utilizar um pedaço de galho como porrete. O porrete tanto podia manter o inimigo à distância quanto matá-lo, como também vimos no filme. Em relação ao poder, "o prestígio máximo, no entanto, sempre é obtido pelo que se orienta em direção ao ato de matar. O que pode chegar a matar é temido; o que não serve imediatamente para matar é meramente útil" (Canetti, 1983, p. 242). No entanto, o porrete também adquire o sentido simbólico de poder sendo o cetro, a varinha mágica, e eu acrescentaria a batuta do maestro. O porrete mantém a massa à distância e sob o domínio de um único indivíduo, mas podemos incluir também interesses não apenas destrutivos.

Podemos acompanhar Canetti que expande a importância das mãos, considerando outros caminhos no qual as mãos renunciaram à violência e à presa. "A verdadeira grandeza das mãos está na sua paciência." (Canetti, 1983, p. 235) Considera que "o catar pulga, o examinar o pelo, exige movimentos finos e coordenados das mãos, associado a uma exata convergência dos olhos" (Canetti, 1983, p. 236), além de permitir com isso um intercâmbio social aumentando a coesão grupal entre os primatas e certamente entre os primeiros hominídeos. Mesmo o filhote, ao nascer, segura firmemente os pelos da mãe, o que permanece até hoje no reflexo de preensão palmar do bebê: assim que oferecemos a ele um dos dedos, ao tocarmos a palma da sua mão, o bebê agarra os nossos dedos firmemente.

Foi ao observar as figuras feitas pelas mãos, neste catar insetos, alisar os pelos, agarrar, soltar, apreender entre os dedos, que a mão ganha vida própria. Também a possibilidade de dar forma aos objetos, com os dedos formando uma concavidade para pegar água, permitindo a descoberta do recipiente: uma casca de coco, por exemplo. Canetti conclui:

Sem a observação das figuras que os dedos formam durante este trabalho e que deviam pouco a pouco ir ficando estampadas na mente do animal, provavelmente jamais teríamos chegado a conseguir nem mesmo sinais para indicar as coisas e consequentemente nunca chegaríamos a desenvolver uma linguagem. (Canetti, 1983, p. 239)

Outro capítulo que destaco é "Ordem: fuga e aguilhão". Segundo o autor, a ordem seria mais antiga do que a fala, e é isso que possibilita que os animais possam ser adestrados. Os cães seguem uma ordem que lhes é dada, mesmo sem conhecer a fala. Considerei surpreendente a afirmação de Canetti de que a ordem mais antiga é a da fuga. A ordem é ditada ao animal por uma criatura fora dele, na forma mais primitiva, a ordem de fuga é dada aos animais quando surge o perigo, sob a forma de uma ameaça de morte. Mesmo para o homem, Canetti lembra que "a sentença de morte e o seu terror desapiedado transparecem por trás de toda ordem" (1983, p. 338). Além do mais, a ordem provoca uma ação, sendo que Canetti considera que: "A ação que é executada em virtude de uma ordem é distinta de todas as demais ações. É considerada como algo estranho [...]. Ela pertence aos elementos da vida que são impostos" (1983, p. 339).

Canetti nos lembra de que toda a ordem é composta de um impulso, que força a uma ação de acordo com o conteúdo da ordem, além de um aguilhão, algo da ordem que penetra fundo no homem que cumpriu a ordem e permanece nele inalterável. O interessante é observar também a diferença entre uma ordem que é dada a um indivíduo ou simultaneamente a muitos. O mais familiar seria a ordem dada a muitos simultaneamente, pois, segundo o autor, "a massa em estado de medo, quer permanecer junta" (Canetti, 1983, p. 345). A ordem se expande entre os membros, como por contágio, e em seu medo o indivíduo se aproxima das demais pessoas. Em um fenômeno assim de massa uma ordem não deixa o seu aguilhão ou espinho, pois não há tempo para que ele se forme. O aguilhão ou espinho se forma no indivíduo isolado que teve que cumprir uma ordem, permanecendo esta como um "duro cristal de rancor" (Canetti, 1983, p. 346).

Uma análise especial realizada pelo autor se refere ao que seria uma "palavra de ordem" de um orador que busca dar uma direção à massa fazendo-a superar o medo. Segundo Canetti,

A arte do orador consiste em conseguir resumir e expressar vigorosamente tudo o que deseja em palavras de ordem que ajudam a constituição e a manutenção da massa. Ele gera a massa e a mantém viva através de uma ordem superior. Depois de ter conseguido isso, não tem muita importância o que ele realmente irá exigir dela. O orador pode insultar e ameaçar um aglomerado de indivíduos isolados da maneira mais terrível; mesmo assim eles o amarão, se dessa maneira ele conseguir formá-los como massa. (Canetti, 1983, p. 346)

Podemos considerar aqui que este orador seria o líder da massa e teria a função do hipnotizador como preconizado por Freud no seu livro Psicologia das massas e análise do eu, como sendo o único a receber a atenção pelo indivíduo ou grupo, em uma espécie de entrega apaixonada (Freud, 2011, p. 74). Parece também corresponder ao que Freud sintetiza na sua fórmula quanto à constituição libidinal de uma massa: "Uma massa primária desse tipo é uma quantidade de indivíduos que puseram um único objeto no lugar de seu ideal do Eu e, em consequência, identificaram-se uns com os outros em seu Eu" (Freud, 2011, p. 76).

Podemos considerar esse aspecto de um hipnotizador externo incitando o grupo a uma nova ação, como assistimos no filme 2001, no momento em que o homem-macaco passa de vítima a predador e de herbívoro a carnívoro. Kubrick e Clarke concebem a presença do monólito que hipnotiza o grupo de homens-macacos induzindo em suas mentes formas geométricas. Somos também hipnotizados pelo show pirotécnico associado à musica de Ligeti em que Kubrick nos mergulha, nas cenas que levam o personagem sobrevivente, Dave, para Júpiter. Há no desenvolvimento da mente humana esse espaço, essa brecha, para o alucinatório. Os homens-macacos são induzidos a uma ação por uma ordem que lhes é exterior, mas que se opera dentro de uma mente. Talvez seja essa capacidade alucinatória que nos diferencie dos animais.

Afinal, como Canetti nos permite alcançar no seu nível mais primitivo, as maltas querem ser mais (há uma insatisfação que permeia o nascimento do humano) e os homens são "especialistas" em se metamorfosearem nos mais diversos animais. Enquanto um leão é um leão, o homem pode ser um leão, um canguru, uma planta etc.... Outro aspecto a ser destacado refere-se ao mito da horda primitiva postulado por Freud no seu livro Totem e tabu (2012). A existência de um líder ainda dentro do reino animal, que detém o poder sobre o grupo e sobre as fêmeas, torna-o diferenciado dos demais. No estágio primitivo da sociedade humana, Freud concebe a existência de "um pai violento e ciumento, que reserva todas as fêmeas para si e expulsava os filhos quando crescem" (2012, p. 216). O assassinato do pai da horda primitiva pelo grupo de irmãos, que é estraçalhado e devorado, pode ser entendido como decorrente de um processo mental exclusivamente humano que permite alucinatoriamente a metamorfose: um indivíduo se torna o outro, sendo que o próprio pai é substituído pelo animal totem. De qualquer modo, seria esse mito de origem proposto por Freud que daria origem à culpa, à moral e a toda a organização da sociedade.

O que Canetti descreve para as maltas pode então ocorrer com o indivíduo: o de querer ser mais, e também ser um outro, considerando ainda a prerrogativa que surge posteriormente de ser "si mesmo". Podemos então citar novamente Freud: "Temos de concluir que a psicologia da massa é a mais velha psicologia humana" (Freud, 2011, p. 85).

 

O homem civilizado: caso Schreber

Como no filme 2001 – Uma odisseia no espaço, vamos nos permitir um salto em relação ao tempo que se produziu a civilização humana, para alcançarmos o presidente Schreber em outro contexto bastante diferente da situação da horda dos homens-macacos.

Dificilmente encontraríamos uma pessoa mais bem preparada dentro do nosso universo cultural quanto Daniel Paul Schreber (1842-1911), ex-presidente da Corte de Apelação da Saxônia, descendendo de "uma família de burgueses protestantes, abastados e cultos, que já no século XVIII buscavam a celebridade através do trabalho intelectual" (Carone, 1984, p. 9).

Schreber, com a idade de 51 anos, acabou sendo internado por sete anos devido a um quadro de Dementia paranoides, escrevendo as suas Memórias de dentro do hospital. Pela sua cultura e profissão, deixou um documento valiosíssimo, que Freud (1911/2010) utilizou para escrever o seu ensaio psicanalítico sobre um caso de paranoia, "O caso Schreber", abrindo um novo campo de exploração no arcabouço do mundo mental que vinha construindo; mas, além disso, contribuiu para que as Memórias de Schreber ganhassem notoriedade e se tornassem fonte de outras publicações. Jacques Lacan dedicou os anos de 1955-56 aos seminários sobre a análise do caso Schreber, que serviram de base para o ensaio "De uma questão preliminar a todo tratamento possível da psicose" (Lacan, 1998). Elias Canetti dedica dois capítulos do seu livro Massa e poder ao caso Schreber, o que foi, segundo Carone, "a primeira tentativa de interpretação das Memórias fora do âmbito da Psicanálise e Psiquiatria" (1984, p. 19).

Canetti busca nas Memórias uma compreensão da natureza da paranoia. Mas é na relação que ele faz entre massa (maltas) e poder para analisar a paranoia em Schreber que considero a contribuição seminal deste autor. Em um primeiro momento me parecem importantes as considerações que Canetti faz quanto ao tempo e espaço em que Schreber se movimenta, pois, segundo o autor,

O pensamento da eternidade permeia todo o seu livro... Ele se move em gigantescos espaços de tempo: suas experiências se estendem por séculos, de maneira que dentro deste espaço de tempo poderiam ter ocorrido as mais profundas modificações da humanidade da própria Terra, e de todo o sistema solar. (Canetti, 1983, p. 484)

Da mesma forma, Schreber nos informa de notícias que chegam do sistema solar:

De todas as direções chegavam notícias dramáticas, de que a partir de então este ou aquele astro, esta ou aquela constelação teria precisado ser "abandonada"; ora se dizia que também Vênus fora "inundada", ora que partir de agora todo o sistema solar devia ser "desatrelado", ora que Cassiopeia (toda sua constelação) devia ser condensada em um único Sol, ora que as Plêiades talvez ainda pudessem ser salvas. (Schreber, 1984, p. 88)

Observamos que Schreber transita em tempo e espaço que podemos considerar infinitos e eternos. É dentro dessa configuração que toda análise do caso pode ser feita, considerando que todo o sistema de pensamento de Schreber mostra-se bastante sofisticado. Também por este fato percebo uma correlação com o filme 2001.

Canetti analisa o significado que as conspirações ou conjurações têm para o paranoico, o que é para este o centro do seu delírio. Para Canetti,

O paranóico se sente cercado. Seu inimigo principal jamais se contentará com atacá-lo sozinho. Sempre procurará atiçar contra ele uma malta odiosa, soltando-a no momento exato. Os membros da malta a princípio se mantêm ocultos, podem estar por toda parte. Fingem ser inofensivos e inocentes, como se não soubessem o que estão espreitando. Mas a penetrante força mental do paranóico consegue desmascará-los. (Canetti, 1983, p. 487)

É essa relação do indivíduo e o grupo que nos chama a atenção, em um embate de forças que ocorrem no campo mental. No caso de Schreber, como Canetti analisa esse embate de forças?

Canetti inicia por um dos temas trazidos por Schreber, no qual um dos objetivos dos conjurados – não o único – seria a destruição do seu intelecto. Eles queriam transformá-lo em um imbecil. Um dos seus primeiros sintomas foi uma insônia. Assim desenvolve Canetti sua apreensão deste sintoma:

Desde o começo, acredita Schreber, existiu a intenção de impedir que ele dormisse e de causar, mediante insônia, seu colapso espiritual. Para isso foram descarregados sobre ele inúmeros raios. A princípio eles se originaram no Prof. Flechsig; mas depois as almas dos defuntos que ainda não tinham finalizado seu processo de purificação, "almas provadas", como são chamadas por Schreber, em medida crescente começaram a interessar-se também e penetraram nele como raios. O próprio Deus participava deste influxo. Todos esses raios passaram então a falar com ele, mas de maneira imperceptível aos demais. (Canetti, 1983, p. 488)

Canetti também destaca o caráter de massa que aflige Schreber nos seguintes fragmentos das Memórias:

Como conseqüência do meu nervosismo cada vez maior, um número cada vez maior de almas mortas se sentia atraído por mim, para logo em seguida dissipar-se sobre minha cabeça ou dentro do meu corpo. Em numerosas ocasiões o processo terminava com as almas, como os chamados "homenzinhos" – minúsculas figuras de forma humana mas medindo apenas alguns milímetros –, tendo uma breve existência sobre minha cabeça, e logo em seguida desaparecendo completamente... De fato, desde que o mundo é mundo, não deve ter existido um caso como o meu, em que um homem tenha entrado em relação constante não apenas com almas singulares de mortos, mas com a totalidade das almas e com a onipotência do próprio Deus. (Canetti, 1983, p. 489)

Nestes fragmentos fica evidente o caráter de massa que aflige Schreber, mas também, por outro lado, Canetti coloca em evidência que, devido à própria enfermidade, Schreber torna-se o ponto central para o qual convergem todas as maltas. Canetti considera que não se trata apenas de uma relação, por exemplo, de um führer em torno do qual se comprimem as massas, mas de uma operação mais radical, pois as massas, assim que o atingem, tornam-se cada vez menores. E mais ainda. Nas palavras deste autor:

Mas isto também não lhe basta: o grande homem as devora. Literalmente elas se incorporam a ele, para logo em seguida desaparecerem completamente. Seu efeito sobre elas é demolidor... inicialmente elas tinham sido enviadas para transtornar sua razão e para causar sua perdição. Mas foi justamente diante deste perigo que ele cresceu. Agora que ele sabe como domá-las, sente muito orgulho em relação ao seu grande poder de atração. (Canetti, 1983, p. 490)

Na análise que Canetti faz destes elementos, ele destaca que no delírio, disfarçado em uma concepção antiquada do mundo, em função da existência das almas, encontramos na realidade um modelo do poder político, que se nutre da massa e é composto por ela. Canetti vê no delírio de Schreber uma verdadeira análise conceitual do poder:

Todos os elementos das circunstâncias reais estão nela: a intensa e contínua atração sobre os indivíduos que irão se reunir numa massa, sua intenção duvidosa, sua domesticação, sua miniaturização, o fato de se amalgamarem no poderoso que representa o poder político em sua pessoa, em seu corpo, sua grandeza que desta maneira deve renovar-se interminavelmente, e, finalmente, um último e muito importante aspecto que até agora não foi mencionado, o sentimento do catastrófico, que está vinculado a tudo isso, uma ameaça à ordem universal que deriva justamente desta inesperada atração em rápido aumento. (Canetti, 1983, p. 490)

Este sentimento do catastrófico aparece em inúmeros momentos das Memórias e acompanha as vivências de destruição e morte (toda a humanidade tinha sucumbido, o único que continuava vivo era ele, que um dia vê no jornal a notícia de sua morte, em outro encontra o túmulo da sua própria esposa etc.), juntamente com a vivência de ser o único sobrevivente, sobrevivendo inclusive às ordens divinas (da luta entre um homem fraco e o próprio Deus, saio vencedor). Certamente, como diz Canetti, "as visões de fim de mundo de Schreber têm algo de grandioso" (Canetti, 1983, p. 491).

Outra linha de análise de Canetti importante é em relação ao Deus que permeia todo o livro Memórias. Para Canetti, as diversas referências a Deus, resultam numa imagem extremamente clara: "ele nada mais é do que o detentor do poder" (Canetti, 1983, p. 494). Canetti lembra que "Schreber foi educado na velha tradição política da Saxônia e que via com desconfiança todos os esforços proselitistas católicos" (Canetti, 1983, p. 494). Vamos encontrar nas Memórias a presença de verdadeiras massas de monges, freiras, de milhares de nomes particularmente católicos, que precisavam ser combatidos, para evitar a catolicização da Saxônia e de Leipzig. De Schreber, destacamos a seguinte citação:

entre eles estavam o pároco St., de Leipzig, "quatorze católicos de Leipzig", o padre jusuíta S., de Dresden, o arcebispo de Praga, o pároco Monfang, os cardeais Rampolla, Galimberti e Casati, o próprio papa chefiando um estranho "raio chamuscado" e finalmente numerosos monges e freiras: certa ocasião entraram em minha cabeça, na qualidade de almas, para nelas encontrarem o seu fim, duzentos e quarenta beneditinos de uma só vez. (Schreber, 1984, p. 70)

Na interpretação de Canetti:


O grupo fechado de monges representa, como cristal de massa, a totalidade dos católicos. A imagem da procissão incita nos espectadores a fé latente, e eles sentem repentinamente o desejo de agregar-se a ela. Assim, o cortejo aumenta pela adesão de todos aqueles na frente dos quais a procissão passa; na realidade este cortejo deveria tornar-se infinito. Engolindo toda esta procissão, Schreber simbolicamente dá o golpe de misericórdia no Catolicismo. (Canetti, 1983, p. 495)

Destaco estes elementos para dar o embasamento para uma conclusão que considero o ponto central do estudo de Canetti sobre Schreber: "o religioso se interpenetra aqui com o político; são inseparáveis: redentores do mundo, são uma única pessoa. A ambição do poder é o núcleo de tudo. A paranoia é, no sentido literal da palavra, uma enfermidade do poder" (Canetti, 1983, p. 498). É claro que Canetti considera que no caso Schreber, o doente não chegou a realizar a ambição que o consome, mas lembra que outros o conseguiram.

Esta afirmação que a paranoia é uma enfermidade do poder pode servir também para o supercomputador Hal, do filme 2001. Hal tinha sido concebido como infalível, detinha todo o poder da nave, inclusive o segredo da missão nesta viagem a Júpiter que teria como objetivo investigar o aparecimento de outro monólito. Mas são estes mesmos elementos do poder que irão corroer a sua mente: esta se torna uma mente assassina, sem qualquer consideração pela vida.

 

Algumas considerações para finalizar

São muitas as possibilidades de análise e reflexão que tanto o livro de Canetti como o de Schreber permitem. Este recorte foi trabalhoso, mas espero que permita uma visão nova sobre tantas questões importantes trazidas por Canetti no seu grande tratado sobre massa e poder, inclusive sobre o caso Schreber.

Mas para finalizar retorno ao filme 2001, na cena em que Dave, agora sozinho, com todos os companheiros mortos e o computador Hal desligado, depara-se com um mundo nunca visto, quando se aproxima de Júpiter, local para onde a nave tinha sido enviada para desvendar o mistério do monólito. Kubrick é capaz de nos manter presos em imagens que dão uma dimensão do que seria este mundo desconhecido. O segundo monólito é encontrado, mas ao tentar pousar nele, a nave o atravessa, levando Dave a esse mundo desconhecido. Ao som das músicas de Ligeti, assistimos a uma explosão de imagens.

Na cena seguinte, Dave encontra-se em uma habitação mobiliada, bastante familiar, que, segundo Clarke, "aquele lugar parecia um quarto de hotel em algum lugar dos Estados Unidos" (Clar ke, 2013, p. 283). Em pouco tempo, Dave parece envelhecer, e, do seu leito, moribundo, se defronta novamente com o monólito. Novamente no espaço, surge o que seria um superfeto, envolto em sua membrana amniótica, que circula ao redor da Terra.

Pensando nesta imagem final estranhamente familiar, lembrei-me de uma passagem nas Memórias de Schreber, onde ele conta como foi também submetido à "ligação às terras", segundo a qual o seu corpo situado na Terra seria ligado a outros corpos cósmicos, por meio de nervos esticados (Schreber, 1984, p. 134). Esta "ligação às terras" se tornou uma instituição permanente e que teve como consequência a criação do "sistema de transcrição".

Na leitura do livro de Schreber, já tinha me chamado a atenção essa "ligação às terras", e encontrei em Lacan (1998, p. 580) uma menção a esse delírio, como sendo uma volta ao mesmo lugar, criando uma ilhota na qual a realidade é restabelecida para o sujeito. Pensei nesta estranha ligação, que não só permitiu no caso Schreber uma aterragem, mas também produziu o "sistema de transcrição", possibilitando registro e memória de um lado, como também o que seria uma transcrição do código genético de outro.

Por fim, em relação ao aparecimento do superfeto, fiz uma analogia com estas duas grandes obras: a de Schreber e a de Canetti, que circulam no espaço, contendo em si as possibilidades futuras de se investigar os mistérios do mundo e em particular, os mistérios do mundo mental.

 

Referências

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Bion, W. R. (2007). O místico e o grupo [Attention and interpretation]. In W. R. Bion. Atenção e interpretação (pp. 73-81). Rio de Janeiro: Imago. (Trabalho original publicado em 1970).         [ Links ]

Canetti, E. (1983). Massa e poder [Masse und macht]. São Paulo: Melhoramentos. (Trabalho original publicado em 1960).         [ Links ]

Carone, M. (1984). Da loucura de prestígio ao prestígio da loucura. In D. P. Schreber. Memórias de um doente dos nervos (pp. 7-23). Rio de Janeiro: Graal.         [ Links ]

Clarke, A. C. (2013). 2001 – Uma odisseia no espaço. São Paulo: Aleph.

Freud, S. (2010). Observações psicanalíticas sobre um caso de paranóia (dementia paranoides) relatado em autobiografia ("O caso Schreber", 1911). In S. Freud. Obras completas (vol. 10, pp. 13-107). São Paulo: Companhia das Letras.         [ Links ]

Freud, S. (2011). Psicologia das massas e análise do eu. In S. Freud. Obras completas (vol. 15, pp. 13-113). São Paulo: Companhia das Letras.         [ Links ]

Freud, S. (2012). Totem e tabu. In S. Freud. Obras completas (vol. 11, pp. 13-244). São Paulo: Companhia das Letras.         [ Links ]

Lacan, J. (1998). De uma questão preliminar a todo tratamento possível da psicose. In J. Lacan. Escritos (pp. 537-590). Rio de Janeiro: Zahar.         [ Links ]

Pistiner de Cortiñas, L. (2007). 2001 Odisea del espacio. In L. Pistiner de Cortiñas. La dimensión estética de la mente, variaciones sobre un tema de Bion (pp. 183-204). Buenos Aires: Ediciones del signo.         [ Links ]

Schreber, D. P. (1984). Memórias de um doente dos nervos (M. Carone, trad.). Rio de Janeiro: Graal. (Trabalho original publicado em 1903).         [ Links ]

 

 

Endereço para correspondência
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Recebido: 28/11/2013
Aceito: 06/12/2013

 

 

* Psicanalista. Membro efetivo da Sociedade Brasileira de Psicanálise de São Paulo.
1 Arthur C. Clarke ao mesmo tempo que trabalhou com Kubrick no roteiro do filme escreveu em paralelo uma versão mais extensa da história, posteriormente publicada.
2 A grade é um instrumento criado por Bion para uso do analista permitindo categorizar os enunciados, pensamentos, segundo dois eixos: um horizontal, que se refere aos usos de um determinado enunciado: 1) hipótese definitora; 2) ψ; 3) notação; 4) atenção; 5) investigação; 6) ação...n; e outro vertical, que categoriza os pensamentos em graus crescentes de abstração: A) dos elementos β, que seriam os elementos sensoriais; B) os elementos α, produtos de uma capacidade onírica; C) que correspondem aos pensamentos oníricos, sonhos, mitos; D) preconcepção; E) concepção; F) conceito; G) sistema dedutivo científico; H) cálculo algébrico.