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Ide

versión impresa ISSN 0101-3106

Ide (São Paulo) vol.37 no.58 São Paulo jul. 2014

 

EDITORIAL

 

 

Caro leitor

Gostaria de convidá-lo para mergulhar na complexidade do tema abordado nesse novo número da ide. O dinheiro nos pareceu ser um tema espinhoso: recebemos um número muito pequeno de artigos escritos por psicanalistas para a avaliação do Corpo Editorial. No entanto, reunimos aqui artigos de grande profundidade, rigor e mesmo ousadia, escritos pelos seguidores de Freud.

Nosso número se inicia pela entrevista com um economista e filósofo, Eduardo Giannetti. Convidamos o leitor a saborear a diversidade de ideias, temas e citações por ele abordadas.

Na parte consagrada aos artigos temáticos, começamos com artigos de dois economistas. Em "Dinheiro", Domério Nassar de Oliveira nos apresenta uma reflexão muito profunda e surpreendente do real sentido do dinheiro no mundo atual globalizado, por meio de uma análise muito esclarecedora do âmago da atividade bancária no sistema capitalista. O autor mostra como os bancos controlam grande parte do dinheiro circulante na forma de oferta de créditos, criando assim mais dinheiro para realizar seus imensos lucros, sob respaldo e assistência do Estado. Domério introduz a ideia de que há uma ideologia falsificadora da compreensão da origem do dinheiro atual. Ladislau Dowbor em seu artigo, "A ciranda do dinheiro", de certa maneira ilustra parte da reflexão anterior de Domério, detalhando com exemplos concretos a situação dos juros e créditos bancários no Brasil de hoje. Fica evidente o imenso poder e lucro dos bancos em nosso país.

Na sequência apresentamos o texto do psicanalista Alejandro Viviani, que aborda de forma bastante completa o tema do dinheiro na Psicanálise, sob as ópticas lacaniana e freudiana. Relaciona questões ligadas ao pagamento das sessões com a transferência que se estabelece.

O economista francês Bernard Guibert, muito próximo da Psicanálise, nos enviou um artigo ousado e interessante em que articula dinheiro, necessidade e desejo. Desenvolve uma reflexão sobre o poder mágico do dinheiro e a concepção marxista de fetiche da mercadoria. Refere-se à metamorfose das necessidades na busca compulsiva por desejos venais infinitos e inacessíveis.

Em seguida, o psicanalista argentino José Sahovaler nos brindou com seu artigo, "O dinheiro sacrificial", onde admite a ideia do dinheiro como objeto "morto-vivo", que produz efeitos subjetivantes e dessubjetivantes no indivíduo e na sociedade. Ele propõe uma origem sacrificial para o dinheiro, no cerne de uma dinâmica sadomasoquista. Dora Tognolli apresenta um excelente exemplo de como um psicanalista pode questionar sua prática, colocando questões muito pertinentes a respeito dos limites que se colocam, para nós, psicanalistas, em nossa reflexão sobre o dinheiro na análise. Levanta a necessária questão: até que ponto os psicanalistas estão preparados para lidar com o tema do dinheiro?

Por fim, nossa fiel colaboradora, a atriz e escritora Clarice Niskier, nos oferece uma saborosa crônica sobre a loucura do dinheiro em nossas vidas comuns quotidianas.

Na sessão de artigos, contamos com uma discussão por Urias Arantes, em "A agonia de Édipo", das questões atuais sobre o tema do declínio da família patriarcal, a partir das ideias de Jean-Pierre Lebrun. Nossa colega psicanalista, Marina Bilenky, propõe uma retomada do tema do sentimento de vergonha e sua relação com o sofrimento e a dignidade. Por fim, João A. Frayze-Pereira faz uma análise da obra do pintor Lucien Freud, da relação entre Lucien e Freud e suas implicações no mercado da arte.

Eis aí um breve convite à leitura desse número da ide, caro leitor.

Boas reflexões!

 

 

José Martins Canelas Neto
Editor