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Ide

versão impressa ISSN 0101-3106

Ide (São Paulo) vol.37 no.59 São Paulo fev. 2015

 

RESENHAS

 

Uma forma de investigação da personalidade

 

 

Claudiny A. S. R. de Souza*

Endereço para correspondência

 

 

Trinca, Walter. (Org.). Procedimento de Desenhos-Estórias: formas derivadas, desenvolvimentos e expansões. São Paulo: Vetor Ed., 2013. 367 p.

 

Em 2011, o Conselho Federal de Psicologia (CFP) considerou o Procedimento de Desenhos-Estórias como teste psicológico, uma decisão que colidiu com sua identidade de técnica compreensiva de investigação psicológica. O autor, Walter Trinca, recorreu da decisão junto ao CFP, encaminhando pesquisa atualizada dos inúmeros trabalhos científicos sobre essa técnica e suas derivações no decorrer das últimas quatro décadas, totalizando aproximadamente 400 publicações.

Em fevereiro de 2013, o Conselho considerou que o Procedimento de Desenhos-Estórias (D-E) e Procedimento de Desenhos de Família com Estórias (DF-E) não são realmente testes psicológicos. Diante do fato, surgiu a necessidade da publicação de dois livros: Formas compreensivas de investigação psicológica e Procedimento de Desenhos-Estórias: formas derivadas, desenvolvimentos e expansões. Nas duas publicações, encontra-se uma coletânea de capítulos escritos por vários profissionais, que salientam a abrangência e a relevância dos procedimentos tradicionais, bem como a derivação mais recente: o Procedimento de Desenhos-Estórias com Tema (D-E com Tema).

Em Procedimento de Desenhos-Estórias: formas derivadas, desenvolvimento e expansões, a ênfase é dada à ampliação do uso do D-E e suas derivações. O livro aborda, também, as diferentes modalidades de uso: como entrevista devolutiva, entrevista psicológica, adaptação a deficientes, avaliação cruzada entre pais e filhos (DFE), emprego em Psicologia Hospitalar (D-E com Tema) e inúmeras outras modalidades. Os ajustes, atualizações e aplicabilidade das formas derivadas e expansões do procedimento original, de Walter Trinca, existem em função da versatilidade e da abrangência desse instrumento, que pode se constituir tanto em captador principal quanto em meio auxiliar de detecção de conflitos e comprometimentos nas mais variadas populações, inclusive aquelas que ainda hoje se mantêm relativamente excluídas, como as populações carentes.

Por meio de casos clínicos, são ilustrados inúmeros aspectos de emprego do D-E, que apresentam conhecimentos valiosos no desvendamento dos processos psíquicos. Por exemplo, o estudo de Valéria Barbieri, em que o DF-E teve um emprego cruzado entre mãe e filha, possibilitando o conhecimento dos psicodinamismos familiares. A avaliação cruzada forneceu elementos para melhor escolha da ação terapêutica e estendeu os benefícios não só à compreensão diagnóstica da criança, que era o objetivo inicial, mas também à da família. Segundo a autora, o DF-E mostrou-se um instrumento extremamente eficiente para captar as modificações nos vínculos, derivadas das transformações socioculturais, e, indo além, para revelar o que significam, encobrem e desvelam.

O D-E com Tema, tratado em alguns capítulos, surge como uma alternativa válida para a investigação do imaginário coletivo, tanto no contexto social, como institucional e de aprendizagem. No livro, são exemplificados os trabalhos de vários profissionais que usam o Procedimento como ferramenta estratégica e investigativa da representação social. Em diferentes pesquisas, eles se valem desse instrumento de compreensão do imaginário coletivo para fins de ação interventiva em uma clínica diferenciada.

Tendo como berço a Psicanálise, o Procedimento de Desenhos-Estórias e suas formas derivadas encontram ressonâncias em todas as correntes que se nutrem do contexto do Diagnóstico Psicológico de tipo compreensivo, uma ideia também desenvolvida por Trinca. Nesse contexto, é explorado o uso do Procedimento na abordagem fenomenológico-existencial, sendo considerado o Diagnóstico Psicológico Interventivo.

A publicação de mais um livro sobre o Procedimento de Desenhos-Estórias vem ilustrar a ampla gama de possibilidades de uso desse instrumento, que de modo penetrante é capaz de facilitar a comunicação emocional de crianças, adolescentes e adultos, além de fornecer material para a compreensão clínica e não clínica, seja do sujeito individual, seja do sujeito coletivo. Marca, também, um lugar de destaque ocupado dentro da Psicologia, definindo-o amplamente como uma técnica de investigação da personalidade. Se o leitor reunir ambos os livros recentemente publicados pela mesma editora sobre o D-E, de que demos notícias acima, poderá sobrevir uma visão ampla da atualidade da técnica.

 

 

Endereço para correspondência
CLAUDINY A S R DE SOUZA
Alameda dos Guaramomis, 739/11
04076-011 – São Paulo – SP
tel.: 11 9 9213 5661
E-mail: claudinyrsouza@hotmail.com

Recebido em: 17/09/2014
Aceito em: 05/12/2014

 

 

* Psicóloga, especialista em Distúrbios de Aprendizagem, atua na área da Psicologia Hospitalar e é integrante do Projeto APOIAR.