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Ide

versão impressa ISSN 0101-3106

Ide (São Paulo) vol.39 no.63 São Paulo jan./jun 2017

 

OUTRAS PAUTAS

 

Anne-Joseph Terwaigne, aliás, Théroigne de Méricourt (1762-1817): revolução e loucura

 

Anne-Joseph Terwaigne, otherwise known as Théroigne de Méricourt (1762- 1817): revolution and madness

 

 

Urias Arantes

Psicanalista, sem filiação institucional

Endereço para correspondência

 

 


RESUMO

O belo estudo de E. Roudinesco sobre Théroigne de Méricourt chama a atenção sobre a possibilidade de uma outra compreensão das origens do feminismo moderno, enriquecida pela contribuição da psicanálise. Reestabelecendo os fatos e propondo uma interpretação inovadora da loucura de Théroigne, Roudinesco critica preconceitos e ilusões históricas. Seu ensaio abre caminho para novas questões relacionadas às origens dos feminismos franceses, da democracia moderna, da psiquiatria e mesmo da psicanálise.

Palavras-chave: Revolução de 1789. Feminismo. Loucura. Democracia.


SUMMARY

Elisabeth Roudinesco's distinguished study of Théroigne de Méricourt called attention to the possibility of a new understanding of the origins of modern feminism, enriched by the contribution of psychoanalysis. Reestablishing the facts, and proposing an innovative interpretation of Théroigne's madness, Roudinesco criticises preconceived ideas and historical illusions. Her teaching paves the way for new questions about the origins of French feminisms, modern democracy, psychiatry and even psychoanalysis itself.

Keywords: 1789 Revolution. Feminism. Madness. Democracy.


 

 

Ce qui m'exaspère dans l'écriture c'est son caractère successif.
[...] on voudrait créer à la manière de Dieu - tout d'un seul
coup, dans un fabuleux éclat d'énergie
[...].

(Nancy Huston)

Frères, jurons dans le premier temple de l'Empire, sous ce
vaste dais d'étendards consacrés à la religion par la liberté,
jurons que nous serons heureux.

(Claude Fauchet1)

Théroigne de Méricourt faz parte hoje do panteão dos feminismos franceses, ao lado de Olympe de Gouges, Etta Palm, Claire Lacombe e outras. O que a singulariza sobre o palco do feminismo original - quer dizer, das reivindicações feministas de igualdade de direitos à cidadania, movimento minoritário e pouco reconhecido pelos partidos políticos revolucionários, com exceção parcial dos girondinos - é a sua internação como louca, no verão de 1793, até sua morte, na Salpêtrière, em 1817.

Durante menos de cinco anos de presença nas cenas revolucionárias, suas atividades propiciaram a criação de lendas persistentes, em grande parte pela imprensa monarquista, começando pela invenção do nome de Théroigne de Méricourt para ridicularizar uma mulher nascida no campesinato ardenês cuja educação era bastante pobre. Atribui-se a ela um papel importante nas datas revolucionárias violentas e uma vida de libertina que não hesitava em vender seus charmes junto aos deputados da Assembleia Nacional e a homens ricos.

Sob a influência dos historiadores positivistas, o lugar e o papel de Théroigne na Revolução serão esclarecidos pela evidência de documentos até então ignorados e que Elisabeth Roudinesco analisa em seu belo estudo Théroigne de Méricourt, une femme mélancolique sous la Révolution (2010). Roudinesco não somente restabelece os fatos graças à leitura atenta dos documentos relativos a uma das pioneiras dos feminismos, mas também procura compreender como Théroigne pôde tornar-se louca: qual é a relação entre a sua loucura e a Revolução?

Nosso propósito é examinar esse estudo para render-lhe homenagem e também para elaborar questões relativas ao método empregado e à interpretação proposta. Como método e interpretação se reclamam da psicanálise, está em jogo a contribuição da psicanálise à compreensão de fatos históricos - em particular, um dos atos de nascimento da democracia e dos feminismos modernos -, mas também o que uma perspectiva de historiador pode esperar da psicanálise. O destino de Théroigne nos convida a considerar o nascimento da psiquiatria da qual a psicanalise é certamente uma transformação, talvez mesmo uma revolução.

Anne-Joseph Terwaigne nasce em Marcourt, perto de Liège, em 13 de agosto de 1762, em uma família próspera de camponeses ardeneses. Perde a mãe aos cinco anos e, a partir daí, passa por um período longo de maus tratos junto a diferentes membros da família. Aos 15 anos, ela abandona a família e trabalha como vaqueira, um ano depois, torna-se dama de companhia de Mme. Colbert, em Antuérpia. Passa então por um período feliz de quatro anos, Mme. Colbert a educa e a faz estudar música e canto. Ela deseja tornar-se cantora lírica. Aos 20 anos, Anne-Joseph encontra um militar inglês sedutor, debochado e rico. Começa então para ela uma vida de boemia e de decadência moral. Em resumo, uma vida de demi-mondaine. Financeiramente sua vida é confortável, vida de femme entretenue, em seguida, um arranjo com um banqueiro parisiense, a quem ela confia uma parte de seus capitais em troca de uma boa renda. Em 1788, ela viaja a Itália com um castrado, sinistro personagem que rouba parte de seu dinheiro. Ela já sofre de uma doença venérea.

Em maio de 1789, Anne-Joseph é iluminada, pelo que Michelet chama de "amor da ideia, amor da liberdade e da Revolução" (Michelet, 1980, p. 402). Ela se entrega inteiramente à nova paixão.

A imprensa monarquista destila a lenda de Théroigne de Méricourt como "catin des patriotes", como "uma amazona libertina, sensual, sedenta de crimes e de faubourgs"2 (Roudinesco, 2010, p. 52). Atribui-se a ela a redação de um famoso Catéchisme Libertin e o papel de guia durante os dias mais violentos do começo da Revolução. Os documentos indicam que Théroigne se dedica, sobretudo, a acompanhar os trabalhos da Assembleia Nacional em Versalhes, depois em Paris, durante a Constituinte, e que ela frequenta com assiduidade o Palais Royal e as reuniões de algumas seções parisienses. Sua participação nos dias de revolta, com uma única exceção, não está documentada. Quando o rei vai a Paris em 17 de julho, Théroigne está presente, vestida como amazona, mas ela não participa da marcha em Versalhes nos dias 5 e 6 de outubro. Ela abre um salão primeiro em Versalhes, onde se muda para acompanhar de perto os trabalhos da Assembleia, e, em seguida, em Paris, quando a Assembleia se estabelece na capital: ela recebe os deputados e pessoas em visita para a ceia. A partir de novembro, a imprensa monarquista se apropria do nome de Théroigne e o cobre de todos os tipos de insultos e de baixezas.

No início de 1790, Théroigne funda com Gilbert Romme a Société des Amis de la Loi, de curta existência e com no máximo 20 membros. Théroigne é a única mulher. Numa das reuniões Théroigne se propõe a redigir um texto justificando a igualdade de direitos entre homens e mulheres, mas não o escreve. Roudinesco comenta que, "se ela não é uma verdadeira militante dos direitos políticos, como Olympe de Gouges ou Etta Palm, nem o ídolo de um partido, como Madame Roland, ela ganha no entanto a consciência de ser uma mulher livre" (Roudinesco, 2010, p. 67). Com o fim da Sociéte des Amis de la Loi, Théroigne pede sua admissão como membro consultivo nos Cordeliers. Seu discurso inflamado propõe a construção de um Templo da Nação sobre as ruínas da Bastilha e produz uma reação entusiasta de Camille Desmoulins. Mas nada acontece em seguida. Pouco depois, numa investigação aberta pelo tribunal do Chatelêt, testemunhas falam da presença de Théroigne na marcha sobre Versalhes. Ameaçada de prisão e decepcionada com os patriotas, Théroigne retorna a Marcourt no verão de 1790, instalando-se em Liège algum tempo depois.

As tropas austríacas do imperador Leopold invadem Liège em janeiro de 1791, os patriotas fogem e integram o exército francês. Acusada de ser espiã dos jacobinos para derrubar a monarquia austríaca, Théroigne é raptada por dois militares franceses do antigo exército monarquista. Prisioneira na fortaleza de Kufstein, não longe de Munique, ela é interrogada por François de Blanc, um funcionário imperial honesto e zeloso. Ele pede a Théroigne que redija suas Confessions (publicadas em 1892). Segundo a narrativa minuciosa de François de Blanc, Roudinesco indica que os Cahiers incluídos nos documentos austríacos permitem supor o aparecimento de "um sinal de desequilíbrio que não existia antes de sua encarceração e que foi amplificado ou revelado por ela" (Roudinesco, 2010, p. 103). Em julho, François de Blanc pede a liberação de Théroigne, mas com obrigação de estadia em Viena, anonimamente e sob vigilância. Ela consegue obter uma audiência com o imperador, que a autoriza a sair de Viena, sem que François de Blanc esteja a par. No final de novembro, a instrução do processo termina, Théroigne deixa Viena e se instala em Bruxelas, onde retoma sua militância revolucionária. Em meados de janeiro de 1792, ela retorna a Paris e é recebida triunfalmente pelos jacobinos: a questão da guerra contra a Áustria está em pauta.

Favorável à guerra por ódio contra a aristocracia e para liberar os Países Baixos, Théroigne milita pela formação de legiões de amazonas em um discurso feito aos jacobinos em 1º de fevereiro, retomado e radicalizado em 25 de março na Société Fraternelle des Minimes. É "o apogeu de sua glória", observa Roudinesco, seguido pelo começo do fim marcado pela acusação, levantada no seio dos jacobinos, de perturbação da ordem pública. Há também o movimento dos robespierristas contra o feminismo guerreiro, e mais amplamente contra as mulheres durante os debates que seguiram à declaração de guerra contra a Áustria em 20 de abril de 1792.

Durante a jornada de 20 de junho, Théroigne provavelmente participa da invasão das Tuileries. Em todo caso, ela ajudou a mobilizar as seções parisienses nas vésperas. A humilhação sofrida pelo rei provoca um movimento em seu favor nas províncias e La Fayette quer defender a família real, sem sucesso. A situação nas fronteiras é ruim para as tropas francesas. Com a descoberta de um acordo entre o rei e os inimigos da nação, Paris se revolta e pede a destituição de Luis xvi. Théroigne, vestida como amazona e armada, reclama na seção das Tuileries a formação de um tribunal popular. Os revoltosos atacam os prisioneiros e Théroigne persegue o jornalista François Suleau, que, tentando matá-la, é massacrado pelo povo. Os cadáveres são decapitados e as cabeças transportadas como sinal de triunfo. Théroigne faz parte do grupo que força as grades do Carrousel, onde, segundo uma testemunha, ela se mostra como "uma amazona da palavra, à cabeça de seus batalhões femininos". Confirma-se assim, no decorrer do século xix, a imagem de Théroigne cometendo "todos os crimes da Revolução. E a loucura aparecerá então como sintoma do 'mal revolucionário', assimilado a uma doença venérea" (Roudinesco, 2010, p. 160).

O período revolucionário após 10 de agosto de 1792 é marcado pela ação da sans-culotterie parisiense, na qual as mulheres têm um lugar importante. Théroigne não participa dos massacres, mas o imaginário popular a mostra em ação, com espada na mão, em todos os lugares. Provavelmente ela consagra seu tempo a redigir suas memórias, sem, no entanto, conseguir escrever; parece ter entrado numa certa apatia, mas retoma o caminho dos debates parlamentares. Ela tem problemas de dinheiro que só se arranjarão em julho de 1793. Para os sans-culottes, Marat é o herói, particularmente das mulheres chamadas mégères jacobines, tricoteuses ou furies de la guillotine, frequentemente dirigidas por militantes politizadas, como Claire Lacombe ou Pauline Léon, aliadas aos Enragés. Em 1793, esse termo designa os líderes populares que exigem e tomam medidas contra o custo de vida. Uma das consequências desse movimento é a recusa (provisória, diz-se) de reconhecer os direitos civis das mulheres e, um pouco mais tarde, a proibição dos clubes femininos, particularmente do Club des Citoyennes Républicaires Révolutionnaires (outubro de 1793).

Pouco antes, Théroigne redige um placard, publicado pela primeira vez por Roudinesco (2010, pp. 182-186) e considerado por ela um testamento político. Théroigne evolui nesse texto para "uma forma idealizada de feminismo" e se identifica claramente com os girondinos pelo apelo à paz e à unidade interna contra a guerra aos inimigos estrangeiros. Ela dispõe de uma autorização dada pelos amigos girondinos para assistir aos trabalhos da Convenção nas tribunas reservadas. Em 15 de maio, Théroigne é atacada na entrada da Convenção por um grupo de jacobinas, desvestida e chicoteada em público - a intervenção de Marat parece ter evitado o pior. Trata-se praticamente de sua última aparição pública.

Na primavera de 1794 começa a longa internação asilar de Théroigne. Primeiramente, seu irmão pede ao presidente do 1º arrondissement que a declare sob tutela, pois ela sofre de delírios de perseguição. Antes do acordo oficial, ela é encarcerada como "inimiga da liberdade". Declarada louca em setembro, seu irmão a abriga durante alguns meses. Segue-se uma série de novas internações: Maison des folles de Saint-Marceau (primeiro semestre de 1795), Hôtel-Dieu (1797), Salpêtrière (dezembro de 1799), hospital Petites-Maisons (janeiro de 1800), e Salpêtrière (dezembro de 1807), até sua morte em 8 de junho de 1817. Encontrou-se uma carta de 1795 dirigida a Saint-Just, jamais aberta pelo destinatário, e uma outra de 1801 dirigida a Dan-ton, guilhotinado em 1794.

Na historiografia revolucionária, Michelet é o primeiro a reconhecer o papel "quase pontifical" das mulheres (Michelet, 1980, p. 384). Graças a uma "maternidade sobre-humana" (Michelet, 1980, p. 363), elas deram luz, a partir da segunda metade do século xviii, à geração revolucionária e, em seguida, aos grandes inventores. Théroigne encarna a ideia de liberdade e da Revolução, sua loucura sendo consequência direta do ataque bárbaro que sofreu - um curioso lapso de Michelet! - da parte dos homens. Será preciso a chegada de Hyppolyte Taine para que a Revolução seja pensada nas categorias da patologia mental. Ele não fala em particular de Théroigne, comenta Roudinesco, provavelmente porque ela não entra, como Marat, na categoria de louco lúcido, uma forma de loucura tanto mais perigosa porque invisível. Sua loucura é ordinária, como prova sua internação. Ela é só "um grão de areia, perdido nas profundezas instintivas da massa popular" (Roudinesno, 2010, p. 285).

A reunião, no trabalho de Taine, da psiquiatria e do olhar do historiador se renova mais tarde, quando, sob a influência da historiografia positivista de Alphonse Aulard e do interesse pela história do feminismo com relação à ação individual ou coletiva das mulheres no processo revolucionário, Léopold Lacour publica (1900) sua pesquisa sobre as origens do feminismo francês. Ele corrige os erros da historiografia, mas a questão da loucura de Théroigne é resolvida com a tese organicista e hereditária. Ele submete a observação de Esquirol do caso de Théroigne ao doutor Garnier3, o qual relaciona no seu diagnóstico a organicidade com a hereditariedade, passando pela degenerescência.

No posfácio de seu estudo, Roudinesco conta que sua participação no colóquio Les Femmes et la Révolution (1989), na rubrica Femmes et Folie, foi recusada, a autora foi classificada de "psiquiatra foucaultiana cúmplice-dos-homens" pelas historiadoras adeptas dos gender studies. Estas defendiam a tese segundo a qual a loucura de uma mulher é devida a uma causa orgânica ou a um julgamento emitido pela "comunidade dos homens". Ora, a tese de Roudinesco é de que a loucura de Théroigne está ligada estruturalmente ao espírito da Revolução sob a forma da melancolia. Em outros termos, seu enfoque não é o da explicação da patologia nem o de uma vítima das lendas monarquistas. O que a interessa é "compreender como se operou para ela a entrada na psicose, a partir da perda do objeto ideal ao qual ela se identificara, a Revolução, e do qual ela não consegue faire le deuil no momento em que a Revolução desliza para o Terror" (Roudinesco, 2010, p. 305). Não é difícil reconhecer aqui a tese liberal do Terror como túmulo da revolução da liberdade de 1789, mas também a distinção realizada por Freud entre luto e melancolia.

Lembremos a distinção: a melancolia é a patologia do luto e seu traço característico (ausente no luto) é "a perturbação do sentimento de estima de si" (Freud, 1968, p. 147). Nos dois casos trata-se de uma reação à perda "de uma pessoa amada ou de uma abstração colocada no seu lugar, a pátria, a liberdade, um ideal etc." (Freud, 1968, p. 146). Mas na melancolia a perda é inconsciente, o melancólico não sabe o que perdeu, seu ego torna-se pobre e vazio, ele é vítima de um "delírio de pequenez". É que a perda concerne ao ego, uma parte do ego se vira contra a outra: "as autoacusações são acusações contra um objeto de amor revertidas do objeto sobre o ego próprio" (Freud, 1968, p. 154). Há também aí uma identificação - a libido liberada pela perda não se desloca sobre um novo objeto, mas se retira ao ego e este se identifica com o objeto perdido. O ego perdido torna-se então um objeto. O ego é cindido entre a crítica do ego e o ego modificado pela identificação. Retrospectivamente é possível dizer que a escolha de objeto foi uma escolha narcisista, o que quer dizer que a relação de amor não é nunca abandonada.

A Revolução foi uma magnífica ocasião de manifestação da desigualdade entre os sexos oculta pelo sistema geral do Ancien Régime. Ela permitiu assim às mulheres o acesso "à consciência histórica de sua identidade" (Roudinesco, 2010, p. 38). Há a massa das mulheres anônimas de um lado e as heroínas do outro, mas entre as duas um grupo "tragicamente minoritário" luta pelo reconhecimento dos direitos políticos e civis das mulheres: Etta Palm, Olympe de Gouges, Théroigne de Méricourt, Claire Lacombe - figuras marginais que encarnam "mais do que as outras a forma moderna de um igualitarismo que levará mais de um século e meio para se impor na França" (Roudinesco, 2010, p. 401). É o feminismo original (combate legalista pelos direitos civis e políticos, na linha de Condorcet), transformado às vezes em feminismo guerreiro (apelo à criação de legiões de amazonas para defender a pátria), a sans-culotterie feminina (contra o inimigo interior) e, enfim, o feminismo radical, posterior à Revolução (abolição do poder masculino).

A melancolia de Théroigne se inscreve nesse quadro: uma infância feita de punições e de rejeições, uma vida adulta com homens perseguidores ou viciosos. O destino das mulheres é o sofrimento: a vergonha da doença venérea e a maternidade inseparável da morte. É assim que ela oscila entre o tédio de seu século e seus sonhos de grandeza. "Em outros termos, a busca perpétua de um 'alhures' sugere a personalidade cíclica de Théroigne onde a exaltação sucede ao tédio, a razão à loucura, a ilusão à decepção, a revolta à perseguição, a errância à fixação e a internação à liberdade" (Roudinesco, 2010, p. 138). Sua feminidade envergonhada e frágil torna-se, com sua entrada na paixão revolucionária, uma feminidade viril e triunfante. É na prisão de Kufstein que se manifestam os primeiros sinais de um universo mental clivado.

O retorno a Paris marca sua entrada no feminismo guerreiro (discurso de 25 de março de 1792), a amazona sendo "o símbolo por excelência da crença no falicismo da mulher" (Roudinesco, 2010, p. 139). Na cena revolucionária, a glória de Théroigne está no seu apogeu e a imprensa monarquista a ataca violentamente. Um ano mais tarde, Théroigne torna público seu testamento político, que desenvolve uma "forma idealizada de feminismo" (Roudinesco, 2010, p. 186). Ela constitui o outro lado da amazona na imagem de uma magistratura divinizada da mulher: "a deusa é uma representação reparadora, fusional e conquistadora, a amazona é uma versão violenta, em trapos, maldita" (Roudinesco, 2010, p. 187). A queda está perto.

Nos conflitos que vão conduzir à derrota dos girondinos, Théroigne ocupa cada vez menos um lugar e acaba entrando em delírio, os ideais revolucionários não mais a protegem. Um parágrafo resume a tese de Roudinesco:

Toda a trajetória de Théroigne corresponde a uma dialética de internação e de liberdade, de razão e de loucura, de exílio e de retorno. Alienada na sua condição de mulher do Ancien Régime, ela conquistou graças à Revolução o direito de obter uma outra identidade. A prisão austríaca quase a precipitou na loucura lembrando-lhe uma outra internação, mais estrutural, ligada à humilhação de ser mulher. A escuta de seu "juiz" e a redação de sua autobiografia permitiram um novo impulso para a liberdade. Mas o isolamento no silêncio, após a humilhação do chicote e da incapacidade de escrever, a faz partir à deriva. A partir daí, a loucura se declara de verdade quando Théroigne escreve suas cartas a Saint-Just, quer dizer, quando ela escapa à justiça do Terror ou à loucura da Revolução pelo fato de ser declarada oficialmente louca pelo irmão. Vê-se aqui que a entrada na loucura legalizada, que se transformará em loucura de asilo, coloca um termo a uma expressão "livre" da loucura que só a Revolução podia facilitar quando ela era ainda portadora da liberdade. (Roudinesco, 2010, p. 205)

E, ainda: "Durante vinte e três anos, Théroigne de Méricourt vestirá o luto da Revolução. Sua morte em plena Restauração a remete ao seu destino de mulher melancólica, para quem nada pode preencher o lugar vazio deixado pela perda irremediável do objeto ideal" (Roudinesco, 2010, p. 214).

É preciso reconhecer que sabemos muito pouco sobre Théroigne de Méricourt: as informações dos contemporâneos (quase sempre inimigos), os relatórios da polícia, os documentos austríacos e a descrição clínica de Esquirol. Dois discursos públicos, uma carta a Saint-Just e uma outra endereçada a Danton se somam aos documentos disponíveis. O personagem nos interpela pelo menos em três direções: com relação à loucura, com relação ao feminismo nascente e com relação à Revolução, sem esquecer os nós entre essas três dimensões. Roudinesco explora o material (exceção feita à carta a Danton), restabelece a verdade dos fatos contra as fantasias monarquistas, enfrenta o espinhoso problema das relações entre a participação revolucionária e a loucura, e situa Théroigne no panteão feminista. Há também, de grande importância, seu trabalho crítico das representações construídas por historiadores, psiquiatras e poetas.

Com as noções de identificação, de ego ideal e de melancolia como luto patológico, Roudinesco nos propõe uma interpretação dos laços entre loucura e Revolução, fornecendo ao mesmo tempo um fundamento para o reconhecimento histórico de Théroigne como pioneira do feminismo na versão, inicialmente, do feminismo original, em seguida, do feminismo guerreiro. Manifesta-se sem ambiguidade a reivindicação de uma igualdade de direitos, de não mais ser uma cidadã sem cidadania. Parece possível falar de um feminismo utópico, que aparece no testamento político de Théroigne sob a forma de uma magistratura feminina encarregada de restabelecer a união nacional graças à sua sabedoria.

Mas o nó da interpretação de Roudinesco é a ideia de que o Terror foi o fator que engatilhou o despertar da loucura de Théroigne, sendo também o termo do ideal revolucionário de liberdade e igualdade.

Revolução e loucura: duas trajetórias paralelas, a primeira ajudando a explicar a segunda, esta esclarecendo o sentido daquela. De um lado o ideal revolucionário que desemboca no Terror, do outro a expressão livre de uma loucura latente traduzida em revolta positiva e que desmorona quando não é mais sustentada pelo ideal revolucionário. Quando a loucura não pode mais se exprimir livremente, instala-se progressivamente uma psicose crônica que, com os anos, transforma-se na "letargia repetitiva da demência senil" (Roudinesco, 2010, p. 206).

Mas o desequilíbrio é claro: se compreendemos como a loucura advém, a emergência do Terror como fim do ideal revolucionário permanece na sombra e parece se formular como uma evidência.

Os textos não públicos nessa história merecem exame, pois talvez esclareçam sob outras luzes a figura de Théroigne.

Há primeiramente os documentos austríacos: as Confessions de Théroigne de Méricourt (publicadas em 1892). Roudinesco comenta a força de verdade do texto, mesmo se Théroigne não fala de seu filho morto nem de sua doença venérea. François de Blanc compara o texto aos Dires et Aveux, redigidos pelos aristocratas franceses que conduziram Théroigne ao Kufstein, e começa a se convencer da inocência da prisioneira. Os Cahiers encontrados nos papéis de Théroigne contêm dois tipos de textos: "dissertações perfeitamente racionais a propósito de democracia e de justiça, e de outro, pode-se ler uma série de associações livres nas quais a autora enuncia surpreendentes fantasmas homicidas" (Roudinesco, 2010, p. 104). Seriam traços do universo mental de Théroigne: um mundo de razão e de luzes resultante da experiência de militância revolucionária, ao lado de um mundo de sombras, de loucura e de isolamento. De um lado, a ideia de que uma opinião pública verdadeira na França só poderá existir quando houver igualdade universal dos direitos, de outro lado, a imagem de uma casa com a fachada em cobre cujo porão é negro; uma mulher esmaga sob os pés um homem, representando a tirania; aceitando o pedido da mulher, "eu pegarei um punhal que está ao lado e atacarei o homem"4 (Roudinesco, 2010, p. 105).

Segundo as citações dos Cahiers fornecidas por Roudinesco, parece claro que a escritura de Théroigne desenvolve temas adquiridos durante sua participação na Revolução, reflexões pessoais inspiradas pelos discursos ouvidos ou lidos e, também, imagens de uma "imaginação agitada" (Roudinesco, 2010, p. 106) em que se confundem presente e passado. Há justificações e uma tentativa de elaborar um julgamento coerente e fundado sobre a Revolução, sobre sua própria inocência ante os crimes dos quais é acusada e a propósito da condição feminina. O esforço para escrever a mobiliza e, de algum modo, parece protegê-la contra a patologia que a ameaça. Levada a sério por François de Blanc, seu "confessor", escrever parece abrir-lhe uma referência à Lei, comenta Roudinesco, ou melhor, a um ideal de justiça que será encarnado pelo próprio imperador Leopold, a quem ela se dirige em última instância. Já no início de 1790, na Société de Amis de la Loi, ela exercia a função de arquivista e queria escrever uma dissertação sobre a igualdade de direitos entre homens e mulheres. Para essa camponesa pouco educada, a Revolução aparece como um convite a se exprimir, mais do que um convite, uma exigência de existir pela expressão oral e escrita. Ela acompanha com paixão as sessões da Assembleia, recebe em casa os oradores, frequenta o Palais Royal e alguns clubes, seus cadernos contêm passagens retóricas copiadas etc. Ao lado da expressão livre da loucura, há certamente uma iniciação de liberdade pela expressão. A liberdade e a expressão se aprendem, e a Revolução oferece as circunstâncias propícias para tal aprendizado.

No verão de 1794, já internada, Théroigne escreve uma carta a Saint-Just. Há nessa carta uma dimensão de queixa contra a injustiça de sua internação e contra a indiferença dos patriotas. Ela pede sua liberação para poder realizar seus grandes projetos de união, os quais se relacionam com a escritura e com a expressão: "Tenho grandes coisas para dizer" (Roudinesco, 2010, p. 202). Théroigne se queixa de não dispor de papel e de luz e que, na impossibilidade de escrever, privada de liberdade, a união não poderá se realizar. "Posso ainda reparar tudo, se me ajudais" (Roudinesco, 2010, p. 202), quer dizer, pode ainda salvar a Revolução. Ela lhe pede igualmente dinheiro. Um momento de confusão parece se manifestar quando a carta faz referência aos amigos que tem Théroigne "mesmo no palácio do imperador" (Roudinesco, 2010 p. 201).

Roudinesco vê nessa carta a justaposição de um discurso inteligível (dirige-se a uma pessoa que pode liberá-la) e de um discurso delirante (como se a internação de 1794 fosse o mesmo que a encarceração no Kufstein). Em 1791 ela encontrava o discurso legalista de François de Blanc e fazia referência à realidade da Revolução. Agora, louca, a Revolução não funciona mais como garantia de referência ou como lei simbólica, e Saint-Just não pode liberá-la de seu isolamento físico e moral. Mas ela escreve e considera que não mais poder fazê-lo a coloca em perigo, ela e a Revolução. Suas frases são regulares e endereçadas. Se a "loucura se declara verdadeiramente quando Théroigne escreve suas cartas a Sant-Just" (Roudinesco, 2010, 205), é preciso reconhecer que sua escritura obedece ainda às leis gramaticais.

Mais ainda, seu futuro inteiro, assim como o futuro da Revolução, parece depender da possibilidade de continuar a escrever. Sem isso, a união não poderá se estabelecer e não haverá mais efeitos dos sinais de união. A liberdade, a expressão e, ao mesmo tempo, o futuro da Revolução, estão em perigo.

A carta a Danton de 1801 (Théroigne, 2005) é um curioso palimpsesto cuja primeira camada de escritura não foi apagada quando outras camadas lhe foram superpostas. O minucioso trabalho de transcrição distingue duas - às vezes três - camadas, e revela certa coerência do conjunto, mas particularmente a insistência de alguns significantes, tais como escritura, os patriotas, a República, as leis da tragédia ou ainda liberdade. As folhas são endereçadas a Monsieur Danton Député - on payera le facteur - por Théroigne em Paris. Danton fora guilhotinado em 1794.

Trata-se de uma longa queixa na qual o pedido de papel e de tinta ocupa bastante espaço: "quero escrever sem parar, como tenho o direito" (Théroigne, 2005, p. 22), e querem impedi-la de fazer. Pigeaud fala de carta-objeto que deve ser considerada por suas qualidades estéticas em que só a totalidade significa. Mas não há a preocupação de faire beau, mas de faire plein, de sobrecarregar a folha, de não separar o fundo da forma: "estamos na aglomeração, na aglutinação, não é possível separar-se, separar-se de si, fazendo-se dois, por exemplo [...] A melancolia é a doença da unidade do ser" (Théroigne, 2005, p. 17). Théroigne se confunde com ela mesma, isola-se completamente na sua loucura, na impossibilidade radical de escrever que transforma seu corpo em escritura louca no palco do asilo. O que parece confirmar a observação de Esquirol: "quis levá-la a escrever, ela traçou algumas palavras, mas não pode nunca formar uma frase" (Esquirol, 1838, p. 220). Demente a partir de 1810, ela "articula frases entrecortadas pelas palavras fortuna, liberdade, comitê, revolução, malandros, decreto etc. Ela detesta os moderados" (Esquirol, 1838, p. 221). Fora do tempo e do espaço, suas frases são trituradas, fragmentadas, escapam a todas as leis (as leis da tragédia?). Théroigne se ausentou, a revolução caiu em pedaços, a "belle liégeoise" reduziu-se a uma queixa repetitiva em que as palavras se produzem e se reproduzem mecanicamente. Desapareceu o desejo de expressão, ao qual a revolução parece ter dado um sentido. Do ponto de vista das mulheres, a Revolução anunciou uma promessa de liberdade, uma promessa que a própria Revolução acabou traindo. A vida de Théroigne é um signo da promessa e de sua traição.

Seria interessante retomar aqui a oposição entre as teses de Foucault e de Gladys Swain e Marcel Gauchet a respeito do nascimento do asilo e da psiquiatria moderna. A discussão será objeto de outro trabalho na medida em que ela não parece se interessar pelo nó proposto por Roudinesco entre Revolução, feminismo, loucura e psicanálise. Por outro lado, o estudo de Roudinesco sobre Théroigne levanta mais questões do que responde, e esse não é o seu menor mérito.

Em primeiro lugar há a questão do Terror revolucionário, sua natureza, sua importância na compreensão da Revolução. Trata-se do túmulo da Revolução ou de sua realização plena? Os jacobinos desenvolveram teses contrárias às reivindicações de igualdade de direitos políticos das mulheres, mas, entre os girondinos, apesar da importância de Condorcet, as mulheres tinham também adversários (por exemplo, a própria Madame Roland). O debate sobre o Terror começa no mesmo momento de sua instalação e a ideia de ditadura do proletariado inspirará várias revoluções posteriores, originando verdadeiras catástrofes humanas, políticas, sociais e econômicas. Mas se aproximamos o momento da entrada na loucura e o começo do Terror não corremos o risco de considerar este como uma espécie de patologia revolucionária? Não seria ingenuidade tal aproximação metafórica, caso não nos expliquemos um pouco mais sobre a Revolução? E, não se corre o risco de pensar a loucura como vinda do exterior, como um acidente de percurso numa história de desejo?

O desejo de palavra e a palavra desejante que se detectam em Théroigne parece em consonância com a eclosão de discursos que acompanha os acontecimentos revolucionários. As palavras circulam - mesmo a palavra pouco ouvida das mulheres -, cruzam-se, opõem-se, e talvez não se tenha escrito tanto na França que antes de 10 de agosto, data do desaparecimento dos jornais monarquistas, e da lei de 29 de março de 1793, que permite o envio de um jornalista diante do tribunal revolucionário por crime contra a unidade nacional tão querida pelos jacobinos. Mas qual é a relação entre a experiência coletiva da liberdade plena de expressão e a experiência individual de um desejo de expressão? Nos dois casos pode-se falar de um conflito opondo diferentes discursos, sem que uma instância apareça como superior, permitindo a solução do diferendo. O artigo 11 da Declaração de Direitos faz dessa instância uma lei que não pode ser enunciada, pois ela deve estabelecer casos em que haveria abuso. Mas um caso é particular e a lista de casos interminável, se bem que o caso de abuso permanece aberto à discussão sem termo final, com a tentação sempre presente de um discurso se apresentando como mestre absoluto dos outros. Ou a tentação da fragmentação em que cada discurso se dá como voz autônoma, isolada em si mesma, sem relação com as outras. A impossibilidade de formar frases não é um sintoma dessa dissociação? A consequência não seria o naufrágio do sentimento de si?

Se Freud deu um novo passo na compreensão da melancolia foi graças à introdução da ideia de perda inconsciente de um objeto de amor narcisista. Mas tal proposição pode se aplicar ao grupo social? Pode-se falar de sociedade melancólica ou de uma sociedade louca? Há sociedades incuráveis, como o alfaiate de Pinel? Pode-se perguntar: numa sociedade que corre o risco de se deslocar diante dos inimigos exteriores e interiores, risco contra o qual, de uma maneira ou de outra, o Terror é uma resposta, a resposta terrorista não corresponde, respeitando as devidas proporções, ao tratamento filantrópico que Pinel propõe aos loucos, a saber, opor às paixões desencadeadas uma paixão ainda mais forte, persuadir por meio de discursos doces, mas enérgicos, se possível, e, em caso de furor, aplicar a camisola de força e até mesmo acorrentar? Curiosa ideia que supõe que o Terror não é a loucura, mas o método de seu tratamento no plano social.

Nessas questões que emergem, a menos importante não é a que diz respeito às mulheres, pois a Revolução inaugura também o nascimento dos feminismos modernos, a emergência de reivindicações fundadas na universalidade dos Direitos Humanos, de igualdade dos direitos civis e políticos entre os dois sexos. Claro, trata-se de um movimento marginal, muitas boas histórias da revolução não fazem nenhuma referência a ele. Pode-se mesmo considerar a vida de Théroigne de Méricourt como um fait divers ao lado da presença luminosa de outras mulheres. Mas, retrospectivamente - uma perspectiva em que se encontram a história e a psicanalise -, é difícil não perceber que as origens dos feminismos são mais do que uma nota de rodapé nas narrativas da democracia moderna. Se democracia e feminismos modernos aparecem ao mesmo tempo - assim como a psiquiatria moderna, abrindo o espaço em que a psicanálise se inventará -, as relações de parentesco entre elas não podem ser ignoradas.

Essa dimensão política parece escapar a Roudinesco, pois em momento algum ela considera a Revolução ou os feminismos como intricados no nascimento da democracia moderna. Do fundo sem fundo da loucura de Théroigne, essas questões exigem uma elaboração, "pois todo mundo deve ser e fazer a República" (Théroigne, 2005, p. 40).

 

REFERÊNCIAS

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Esquirol, J.-E. D. (1989). Des maladies mentales considérées sous les rapports médical, hygiénique et médico-légal (2 vols.). Paris: Frénésie Éditions. (Trabalho original publicado em 1838).         [ Links ]

Freud, S. (1968). Deuil et mélancolie. In Métapsychologie (J. Laplanche & J.-B. Pontalis, trads.). Paris: Gallimard.         [ Links ]

Huston, N. (1996). Instruments de ténèbres. Paris: Actes Sud.         [ Links ]

Lacour, L. (1900). Les origines du féminisme français. Trois femmes de la Révolution, Olympe de Gouges, Théroigne de Méricourt, Claire Lacombe. Paris: Pion.         [ Links ]

Méricourt, T. de. (2005). La lettre-mélancolie. Paris: Verdier; L'Ether Vague. (Trabalho original publicado em 1801).         [ Links ]

Michelet, J. (1980). Les femmes dans la Révolution. In Œuvres complètes. Vol. 16: 1851-1854. Paris: Flammarion. (Trabalho original publicado em 1854).

Pinel, P. (2006). Traité médico-philosophique sur l'aliénation mentale ou la manie. Paris: L'Harmattan. (Trabalho original publicado em 1800).         [ Links ]

Roudinesco, E. (2010). Théroigne de Méricourt. Une femme mélancolique sous la Révolution. Paris: Albin Michel.         [ Links ]

Strobl-Ravelsberg, F. de. (1892). Les confessions de Théroigne de Méricourt. La belle liégeoise. Extrait du procès-verbal - inédit de son arrestation au pays de Liège - qui fut dressé à Koufstein (Tyrol) en 1791. Paris: Louis Westhausser.         [ Links ]

Vovelle, M. (1985). La mentalité révolutionnaire. Société et mentalités sous la Révolution Française. Paris: Ed. Sociales.         [ Links ]

 

 

Endereço para correspondência:
URIAS ARANTES
Boulevard d'Anvers, 42
67000 – Strasbourg
urias.arantes@gmail.com

Recebido 06.10.2016
Aceito 21.10.2016

 

 

1 Claude Fauchet (1744-1793) é o vicário do arcebispado de Bourges, deputado na Assembleia Nacional e na Convenção. Foi guilhotinado como girondino no início do Terror. Trata-se aqui de um discurso pronunciado na Catedral de Notre-Dame de Paris, em 27.09.1989.
2 É a imagem que Baudelaire vai transformar em heroína revolucionária em "Sisina:" "Avez-vous vu Théroigne, amante du carnage [...]" (Baudelaire, 1975, p. 60).
3 Paul-Émi Garnier (1848-1905), médico-chefe da Enfermaria Especial da Prefeitura de Polícia de Paris.
4 Não se trata sempre exatamente do texto das Confessions, pois Ravelsberg transforma o processo-verbal em narrativa romanceada e não hesita em introduzir os sentimentos dos personagens, interessando-se pouco aos fatos evocados. Ele toma claramente o partido de Théroigne e não oculta sua simpatia por François de Blanc, assim como seu desprezo pelos aristocratas franceses. Na transcrição do texto redigido por Théroigne, nada parece sugerir uma clivagem psíquica.

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