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Ide

Print version ISSN 0101-3106

Ide (São Paulo) vol.42 no.69 São Paulo Jan./June 2020

 

EM PAUTA | O VALOR DA VIDA

 

Pandemia e pandemonios no Brasil: o valor da psicanálise

 

Pandemic and pandemonies in Brazil: the value of psychoanalysis

 

 

Luciana Saddi

Psicanalista e escritora. Membro efetivo e docente da Sociedade Brasileira de Psicanálise de São Paulo (SBPSP). Mestre em psicologia pela Pontifícia Universidade Católica de São Paulo (PUC-SP). Diretora de Cultura e Comunidade da SBPSP (2017-2020). Autora dos livros: O amor leva a um liquidificador (Ed. Casa do Psicólogo), Perpétuo socorro (Ed. Jaboticaba) e Educação para a morte (Ed. Patuá). Coordenadora da série O que fazer? (Ed. Blucher) e coautora do livro Alcoolismo: série o que fazer? (Ed. Blucher). E-mail: lusaddi@uol.com.br

Correspondência

 

 


RESUMO

O presente artigo discute questões relacionadas à pandemia e ao isolamento social em perspectiva psicanalítica. O fio condutor começa em março de 2020 e expõe as primeiras modificações do cotidiano da cidade de São Paulo, das pessoas e o impacto nos consultórios dos analistas. São exploradas interfaces entre setting, atendimento remoto, método psicanalítico, técnica e adaptações resultantes. O país, com a evolução temporal da pandemia, se vê num teatro de absurdos e contradições, piorado pela falta de liderança e coesão social - aprofundam-se as desigualdades. Loucura e negação presidem decisões bizarras. O número de casos e mortes cresce como se inexorável. A psicanálise enfrenta a crise com vigor e criatividade. As instituições psicanalíticas contornam a crise e aprendem com a experiência.

Palavras-chave: Pandemia. Covid-19. Loucura. Método psicanalítico. Técnica. Atendimento remoto. Criatividade.


SUMMARY

This article discusses issues related to the pandemic and social isolation from a psychoanalytic perspective. The guideline begins in March 2020 and exposes the first changes in the daily life of the city of São Paulo, of people and the impact on analysts' offices. Interfaces between setting, remote service, psychoanalytic method, technique and resulting adaptations are explored. The country, with the temporal evolution of the pandemic, finds itself in a theater of absurdities and contradictions, worsened by the lack of leadership and social cohesion - inequalities deepen. Madness and denial preside over bizarre decisions. The number of cases and deaths grows as if inexorable. Psychoanalysis faces the crisis with vigor and creativity. Psychoanalytic institutions circumvent the crisis and learn from experience.

keywords: Pandemic. Covid-19. Madness. Psychoanalytic method. Technique. Remote care. Creativity.


 

 

Quando a pandemia e o isolamento social, no início de março, se tornaram realidade, escrevi um texto intitulado "O que será que será?".1 Menção direta a Chico Buarque2 e ao desconhecido. Naquele momento as palavras de Svetlana Alexandrovna Alexievitch, escritora e jornalista bielorrussa, prêmio Nobel de Literatura em 2015, faziam sentido. No livro Vozes de Tchernó-bil: a história oral do desastre nuclear, Svetlana argumentou que a palavra guerra fora usada para designar a luta contra a radiação e suas consequências. No entanto se perguntava que guerra fora capaz de contaminar o solo e as águas de todo um país por um ou dois mil anos? Tornar um território completamente morto, embora plantas e animais insistissem em permanecer e prosseguir. A palavra guerra não dava conta desses acontecimentos. A escritora consumiu mais de vinte anos para escrever sobre o desastre atômico. Faltavam palavras, faltava compreensão. Foi preciso esperar o assombro decantar.

No início das medidas de isolamento, em março, o frenesi habitual da cidade de São Paulo diminuiu. Raros automóveis, baixos e esparsos ruídos. Comércio fechado, ruas vazias. A lentidão urbana prevalecia em contraponto à movimentação diária das ruas.

O atendimento remoto e o vírus colocaram os psicanalistas em estado de alerta - sob o domínio do desconhecido. O isolamento e distanciamento social geraram uma série de modificações em nossas vidas e na clínica psicanalítica, desde as mais perturbadoras, até as bem-vindas.

Analistas contrários ao atendimento remoto, ao constatarem a longa duração das medidas de isolamento, rapidamente aceitaram a nova modalidade, em nome da necessidade dos pacientes. Também eles necessitados de trabalhar. Nunca uma questão técnica caiu por terra com tanta velocidade.

Importante considerar que inovações tecnológicas nas relações pessoais e de trabalho não podem ser ignoradas pelos analistas, que, talvez, por distância geracional e defasagem no uso das tecnologias, tenham dificuldade em se adaptar aos novos meios. Preconceitos se confundem com conceitos. Incompatibilidade particular, individual, de muitos analistas não deveria ser generalizada como impedimento técnico a ponto de desconsiderar o saber de outros analistas, que utilizam ferramentas tecnológicas em seus atendimentos clínicos. Mas esse é o campo da "guerra particular" dos psicanalistas que irremediavelmente lançam grande desconfiança e desqualificam a qualidade do trabalho clínico dos colegas, em nome de algum tipo de purismo ou mesmo apregoando o exercício da verdadeira psicanálise contra a psicanálise corrompida, sempre a dos outros. E, assim, nos acostumamos a não reconhecer como analistas os colegas que não comungam do mesmo campo teórico clínico nem das mesmas escolas psica-nalíticas. Expurgos simbólicos cotidianos (que não implicam em rupturas e novas escolas) estão a serviço de reafirmar como absoluto o saber clínico e teórico, que até onde sei é sempre instável, carente de garantias e verificabilidade. O desamparo proveniente da clínica psicanalítica, quando não reconhecido, requer e gera a "guerra particular" como defesa. A clínica psicanalítica é um processo complexo, em que resistências se infiltram de lado a lado; caminha-se em terreno escorregadio, incerto, portanto a introdução de um novo elemento, o atendimento remoto, pode criar maior conturbação. Mesmo assim, tal afirmação não deve ser generalizada. A experiência prova que o processo analítico, mesmo quando as condições de setting tradicional, a chamada clínica padrão, são respeitadas, não está garantido. Não há necessidade de sacralizar a clínica padrão em detrimento de outras formas clínicas. A experimentação está na raiz da psicanálise. Muitos atendimentos remotos são reconhecidos pelos colegas como trabalho analítico, e desde a pandemia até os mais resistentes analistas se dispuseram a experimentar, podendo extrair dessa experiência um saber singular, que certamente servirá para orientar novas experiências. Cada analista, cada análise e cada experiência clínica têm valor singular e não deveria ser desautorizada ou desqualificada de forma generalizada e a priori. Melhor seria, sem medo, apresentar tais processos de forma livre e debatê-los sem receio de julgamento e invalidação. Que tenhamos maturidade para trocas férteis e debates construtivos! Assim pensava em abril de 2020, quando o trabalho clínico remoto demandava esforço e reflexão.

É importante considerar a metapsicologia quando falamos em trabalho remoto. A plasticidade da libido atesta que transferências, representações, insights, rupturas de campo e experiências emocionais não precisam, necessariamente, do apoio material da presença física. Fantasias conscientes e inconscientes, representações de palavra e de coisa, o universo da linguagem e dos símbolos, devaneios e sonhos - elementos do arcabouço psicanalítico de todas as escolas, tão caros à psicanálise-se esvaem quando entendidos na obrigatoriedade do corpo físico presente. A psicanálise é mais que setting, aliás, o setting, ainda que visto em sua concretude material, pouco nos serviria se não estivesse internalizado no analista nem fosse compreendido como função, portanto seu maior valor provém de sua dimensão abstrata, simbólica.

Psicanálise é também, e sobretudo, método. As técnicas, ainda que variadas, introduzidas por escolas e autores a partir de desdobramentos teóricos clínicos, cumprem a função interpretativa do método psicanalítico, criador de sentidos. Levam o método à frente. Permitem, muitas vezes, o próprio trabalho analítico, que de modo tradicional ou padrão não ocorreria. Possibilitam o surgimento de saberes singulares, e com isso alargam o patrimônio simbólico dos analisandos e analistas. São caminhos, estradas, meios para que a psicanálise se cumpra.

Diante de tantas novidades, muitos colegas se queixaram de exaustão. Exaustão proveniente de diversos âmbitos. Como havia uma prévia invalidação técnica do atendimento remoto, analistas para provar para eles mesmos que tal forma de trabalho era possível, eles se viram obrigados a fazer as mais produtivas intervenções, segundo critérios próprios nem sempre validados por pacientes, de fato, se sentiram na obrigação de produzir melhores interpretações. Sob desconfiança, o atendimento remoto os obrigou a dar mais de si em função do medo da desistência dos pacientes. Tal nível de atenção é muito cansativo. Além de tantos novos elementos para dominar em meio a transformações importantes no modo de vida e trabalho, o medo da morte e da pandemia se tornou um denominador comum para todos. E, como se não bastasse tudo isso, ainda tínhamos que elaborar muitos lutos. Sonhos, projetos, viagens, congressos desapareceram rapidamente. As adaptações à nova realidade, o enfrentamento do perigo; mesmo considerando todas essas dificuldades, foi possível perceber a criatividade brotando entre nós. A psicanálise nos fez fortes e flexíveis! Impressionante como reagimos bem diante de tantas transformações e inseguranças, criando espaços de conversas e trocas sobre o novo vírus, sobre a clínica remota e experimentando novos dispositivos clínicos. A adaptação do setting à análise de crianças por meio remoto é a maior testemunha do vigor da psicanálise e de sua capacidade de adaptação e criatividade.

Sabemos que o trauma percorre um longo caminho até que a elaboração o dome minimamente, o civilize. A prática nos ensinou que algumas experiências adquirem tal magnitude, causam tantos danos que a elaboração parece nunca terminar. Nesse sentido, acreditava que a covid-19 vinha para ficar tanto no âmbito analítico como na vida do brasileiro e nas relações internacionais. No sentido biológico, desejei vida breve ao vírus.

Passados três meses desde o início da pandemia no país, estamos em junho de 2020, com analistas mais ou menos adaptados aos novos meios, observo com espanto imagens de multidões desfilando na mais importante avenida da cidade de São Paulo. Caixões e esqueletos exortam a morte; populares enfurecidos enterram simbolicamente o governador e o isolamento social. Para tais fanáticos, temer a morte significa fraqueza e covardia. Vestidos de verde e amarelo, impedem, sem disfarçar o gozo, ambulâncias de chegarem aos hospitais. Querem a reabertura dos negócios - espécie de passe livre para expor os outros, sempre os outros, à morte em nome da sobrevivência. Tomam cloroquina e antipulgas como proteção ao coronavirus, se recusam a fazer o isolamento social, seguem o presidente contra os governadores que apoiaram medidas sanitárias. O virus é mentira, invenção chinesa.

A pandemia liberou ensandecidos demônios coloniais e escravocratas, preconceitos, delirios - o sanatório geral da nação corre solto! Considerar os mais pobres como ratos e piolhos, sentimento de repugnância medianamente submerso, veio facilmente à tona com a eleição do presidente nazifascista. As forças policiais parecem mais brutalizadas ainda. Grupos fascistas, organizados pelo governo, atacam o Supremo Tribunal Federal com fogos de artificio, dizem que é oração, ato biblico de amor - a corrupção das palavras é crime de custo maior! O ministro da economia, em reunião governamental, afirma que o plano é deixar os pequenos negócios falirem (80% dos negócios no Brasil), melhor para a economia do pais. Ninguém contesta! Prevalece o espirito de eugenia na economia e na saúde. Os mais pobres, mais da metade da nação, desassistidos em relação ao trabalho, à moradia, redes de internet, computadores, afrouxaram o isolamento, resistiram por poucas semanas - compreensivel, as condições são precárias e os recursos, poucos. Os mais ricos, a quem nada falta, desistiram. O isolamento social pede renúncia e criatividade. Fala de alguma consideração com o próximo. Exige capacidade de elaborar perdas. A pandemia revela. Privados da rotina, um importante medicamento contra a loucura diária, surge irascivel um movimento para que a vida volte ao normal. Cansados da pandemia, fartos do isolamento, recusam 45 mil mortos. Assassinaram o medo. Nega-cionistas atacam profissionais de saúde. Enfermeiros e profissionais vestidos de branco são agredidos em espaços públicos. Hospitais trabalham com uns repletas, profissionais de saúde estão exaustos. Dois ministros da saúde demitidos, no lugar o general cujo plano é deixar morrer. As feridas do país estão expostas, desorganização e incompetência, favorecimento das redes privadas de atendimento. Desinvestimento na saúde pública. Governadores e prefeitos contratam leitos de uTi, tais contratos facilitam a corrupção, mas não há programa de prevenção - prevenir é mais barato e não compensa em termos de marketing. Desistiram das medidas de isolamento, embora 40% da população, heroicamente, ainda o faça.

A oposição segue sem proposta, posto que isolamento social é apenas medida sanitária. Não há plano de reconstrução nacional, de recuperação econômica, nada. Nas últimas semanas, a sociedade civil se organizou em manifestos e o judiciário enfrentou alguns dos inúmeros crimes dos mandatários da nação. O país segue à deriva. Salve-se quem puder. Notas de delírio, tons de coprofilia, aroma de autismo, sabor de crueldade, retro-gosto de mentira e pitadas de nazifascismo.

Lembro das palavras de Fabio Herrmann (2004) sobre o trauma: "Como em qualquer resposta traumática, a contradição entre meios e fins aqui dá as caras abertamente".

O que será que será? A covid-19 se refestela nos pobres sob o som do clarim militar. Trauma coletivo enterrado vivo. Linguagem corrompida. Verdades cinicamente esmagadas. Pandemônios aterrorizam mais que a pandemia, que livre, leve e solta corre, talvez termine um dia, os pandemônios, sabemos que não. A razão perdeu o juízo. O absurdo é onipresente.

Em meados de agosto de 2020, superamos as 110 mil mortes no país. Incrível que em tão pouco tempo tenhamos dobrado o número de mortos.3 Não uso a palavra superamos à toa. Há ironia em seu emprego. Superamos, porque parte do país parece não ser tocada pelo terrível, absurdo e doentio número de mortos que poderia ser evitado (não digo todos) caso focássemos em medidas de prevenção, isolamento social e testagem. Essa parte, talvez 30% da população, segundo pesquisas, apoia o genocídio das populações nativas e indígenas e dos pobres - grupos com maior número de mortos devido à pandemia. Apoia a visão do presidente para quem é preciso deixar morrer, não vale o esforço de salvar, tanto faz, e daí? A vida não tem tanto valor assim. Principalmente, a dos outros!

Impossível não pensar no valor da vida, sobretudo porque sabemos, e talvez poucos ofícios saibam tanto, com tanta intimidade e competência, como a morte de um ente querido ou familiar é dolorosa e pode se tornar traumática. Quão penoso é o processo de luto, quão custoso, em todos os sentidos, são depressão e melancolia. O custo em sofrimento psicológico, em culpa, em transtornos psíquicos e psiquiátricos, em abuso e dependência de álcool e drogas, o ônus para famílias e para o sistema de saúde é imenso. É preciso colocar nessa conta o próprio sistema produtivo, econômico e social. Tais sofrimentos nunca estão isolados, produzem uma grande rede decadente, atravessam gerações e geram um círculo vicioso. Uma nação sem compaixão, que grita verde e amarelo, amo Brasil, mas, no entanto, os patriotas só pensam no próprio ganho e na própria sobrevivência. Salve-se quem puder. O que nos une - individualismo tosco - é o que nos falta.

Interessante perceber que a mesma lógica aplicada à vida pode ser aplicada à educação. O brasileiro parece preferir o bar e o shopping à escola.

A psicanálise lúcida resiste, os atendimentos permanecem, as experiências clínicas e pontuais se multiplicam. A sociedade brasileira parece curiosa com o que a psicanálise tem a dizer -pudera, o país precisa urgentemente de análise. As instituições psicanalíticas são capazes de contornar crises e aprender com a experiência. Cuidar de seu patrimônio. Pena que o país não tome a psicanálise como modelo de enfrentamento de crises. Vida longa à psicanálise!

 

Referências

Freud, S. (1980). Três ensaios sobre a teoria da sexualidade. In Edição standard das obras psicológicas completas de Sigmund Freud (v. 7). Rio de Janeiro: Imago. (Trabalho original publicado em 1905)        [ Links ]

Herrmann, F. (1997) Psicanálise do quotidiano (2ª ed.). Porto Alegre: Artes Médicas. (Trabalho original publicado em 1985)         [ Links ]

______. (2001) Andaimes do real: o método da psicanálise (3ª ed.). São Paulo: Casa do Psicólogo. (Trabalho original publicado em 1979).         [ Links ]

______. (2004, abril). Apesar dos pesares. Texto inédito apresentado como conferência na Sociedade Brasileira de Psicanálise de São Paulo (SBPSP). São Paulo, Brasil.         [ Links ]

Klein, M. (1991). As origens da transferência. In Inveja e gratidão e outros trabalhos. Rio de Janeiro: Imago. (Trabalho original publicado em 1952)        [ Links ]

Mennucci, L. E. S. (2001). Reflexões sobre o papel da supervisão oficial na formação do analista. Jornal de Psicanálise, 34(62/63),179-187.         [ Links ]

 

 

Correspodência:
LUCIANA SADDI
Praça Morungaba, 66, Jardim Paulistano
01450-090 - São Paulo/SP
Tel.: 11 99983.7195

Recebido 20.10.2020
Aceito 27.10.2020

 

 

1 Que fazia referência à canção com esse título especialmente aos seguintes versos: "Que andam suspirando pelas alcovas/ Que andam sussurrando em versos e trovas/ Que andam combinando no breu das tocas/ Que anda nas cabeças, anda nas bocas/ Estão falando alto pelos botecos/ Que gritam nos mercados, que com certeza/ Está na natureza.../ O que não tem certeza nem nunca terá/ O que não tem conserto nem nunca terá/ O que não tem tamanho..."
2 Escritor, compositor e cantor brasileiro.
3 Este artigo foi publicado originalmente no e-journal Psychoanalysis.Today (http://www.psychoanalysis.today/pt-PT/PT-Articles/Saddi170930/Notes-on-the-pandemic-and-the-pandemoniums-in-Braz.aspx). Para a presente publicação na Ide, foi bastante modificado, principalmente expandido no que tange às considerações sobre atendimento remoto. Novas ideias foram acrescentadas a partir de agosto 2020 com o aumento exponencial do número de mortos.

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