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Print version ISSN 0101-3106

Ide (São Paulo) vol.42 no.69 São Paulo Jan./June 2020

 

EM PAUTA | O VALOR DA VIDA

 

O dia em que eu não nasci: história de uma adoção diabólica1

 

The day I wasn't born: story of diabolical adoption

 

 

Alicia Beatriz Dorado de Lisondo

Analista didata e docente do GEPCampinas e da Sociedade Brasileira de Psicanálise de São Paulo (SBPSP). Filiada à Associação Psicanalítica Internacional (IPA). Cofundadora do GEPCampinas. Analista de crianças, adolescentes e adultos. E-mail: alicia.beatriz.lisondo@gmail.com

Correspondência

 

 


RESUMO

Inspirada no filme O dia em que eu não nasci, de Florian Cossen (2011), pretendo aprofundar questões relativas à função da verdade e da mentira na constituição da vida psíquica da criança "adotada" (Levinzon, 1994, 1999, 2014). Maria, de 3 anos, é roubada de sua família de origem, quando seus pais desaparecem durante a ditadura argentina (1976-1983), numa trama atroz de segredos e mentiras (Lisondo, 2014). As consequências do roubo e sequestro de Maria na sua personalidade e na família de origem, o exílio, a mudança de nome e sobrenome são temas abordados. Registros sensoriais de uma canção de ninar, de um boneco, a familiaridade vivenciada ao estar na sua pátria são portais que lhe permitem entrar em contato com essa adoção diabólica.

Palavras-chave: Adoção. Mentira. Verdade. Sensorialidade. Exílio. Reconstrução.


SUMMARY

Inspired by the film The day I wasn't born, by Florian Cossen (2011), I intend to deepen issues related to the role of truth and lies in the constitution of the psychic life of the "adopted" child (Levinzon, 1994, 1999, 2014). Maria, 3 years old, is stolen from her family of origin, when her parents disappear during the Argentine dictatorship (1976-1983), in an atrocious plot of secrets and lies (Lisondo, 2014). The consequences of the theft and kidnapping of Maria on her personality and on the family of origin, exile, the change of name and surname, are topics addressed. Sensory records of a lullaby, of a doll, the familiarity experienced while being in her homeland, are portals that allow you to get in touch with this diabolic adoption.

keywords: Adoption. Lie. Truth. Sensoriality. Exile. Reconstruction.


 

 

Introdução

Inspirada no filme O dia em que eu não nasci, de Florian Cossen (2011), pretendo aprofundar questões relativas à função da verdade e da mentira na constituição da vida psíquica da criança "adotada" (Levinzon, 1994, 1999, 2014).

Uma menina de 3 anos é roubada de sua família de origem quando seus pais desaparecem durante a ditadura argentina (1976-1983), numa trama atroz de segredos e mentiras (Lisondo, 2014).

Entre as várias interpretações possíveis, cabe pensar na força da história transgeracional (Kaes, Faimberg et al., 1996; Eiguer, 1997; Trachtenberg, 2005) da família adotante de origem alemã. O governo militar tinha como modelo de inspiração as atrocidades do nazismo, tendo albergado muitos dos algozes do sistema no sul da Argentina.

Como a mente humana pode assimilar num momento de sua existência a verdade possível e descobrir o sistema orquestrado de mentiras? A verdade pode permitir ressignificar a história de vida numa mudança catastrófica (Bion, 1966). Marcelo Viñar (2017) nos encoraja a pensar como o desexilado pode deixar de estar na condição de vítima, encarcerado em uma memória melancólica, para reinventar um projeto alternativo de vida, que não repita a história.

 

O filme: O dia em que eu não nasci

Maria, a jovem protagonista, numa viagem ao Chile para participar de uma competição de natação, precisa fazer uma conexão no aeroporto de Buenos Aires. Nele escuta uma mãe cantando uma típica canção de ninar para acalmar o choro de seu bebê. Subitamente essa jovem "alemã" começa a cantar essa canção em espanhol. Ela sofre no toalete do aeroporto uma comoção emocional e chora copiosamente. Perde o voo da conexão e o passaporte, então pernoita na Argentina. Liga para seu "pai" na Alemanha, que também fica transtornado. Na delegacia de polícia, é roubada por um policial corrupto que fala alemão.

Para Maria, a cidade de Buenos Aires é estranha e familiar (Freud, 1919/1982). Encanta-se numa vitrine de antiguidades com um boneco Topo Gigio, que compra. No quarto do hotel o cheira, o toca e o embala.

Recebe seu pai no hotel, que viajou a Buenos Aires inesperadamente. Ele está muito perturbado. Essa filha lhe narra o acontecido. Ela quer saber se tinha tido um boneco como esse na infância. Quer saber como ela poderia ter cantarolado aquela canção de ninar em espanhol. O pai responde com evasivas, enquanto ela estreita o cerco para saber sobre sua origem. O pai, então, revela que ela é adotada. Maria sofre um forte impacto. Indignada, acusa-o das mentiras escutadas de sua falecida mãe adotiva, Estela. Essa mulher lhe contava, com a cumplicidade do marido, como tinha sido "sua única gravidez". Anton, o pai adotante, então revela que os pais de Maria estavam desaparecidos, tinham sido sequestrados, torturados e mortos. Um dia ninguém teria ido buscá-la no jardim de infância, e, assim, Estela, sua professora, a teria levado para a sua nova casa.

Esse homem encurralado confessa o nome dos verdadeiros pais. Maria, ajudada por um policial, seu flerte, encontra seus familiares. Ela é recebida com muita surpresa e alegria pela madrinha, tios e avó, que ainda esperava por Marcela, sua filha desaparecida. Encontra fotos e gravações amorosas que lhe permitem reconstruir sua história.

Seu verdadeiro pai, Luís, era sindicalista e trabalhava na empresa de seu pai adotante. Sua mãe era assistente universitária. Após o desaparecimento do casal, a madrinha foi à casa do empresário alemão em duas oportunidades, à procura de sua afilhada. Ele teria mentido, dizendo que nada sabia sobre a menina.

Maria impede que o empresário seja processado pela família de origem ante os crimes hediondos cometidos: o roubo dela ainda menina, as mentiras, a falsificação dos documentos, a troca do nome e a cumplicidade no desaparecimento, tortura e morte dos pais.

Anton escapa sozinho para a Alemanha rapidamente. A jovem acaba vagando nas ruas de sua terra natal, Buenos Aires. Será que ela teria um itinerário com um objetivo? O cartaz no aeroporto portenho "Buenos Aires espera por ti" foi um presságio.

 

Arte, rêverie cultural

A arte, no filme, assume o desafio semântico e permite expressar poeticamente o indizível e o impensável.

O filme oferece uma rêverie cultural, na tentativa de dar forma e criar um continente para o horror. Ele é um convite para que o espectador tome consciência e deixe de ser uma testemunha passiva dessa realidade, para que nunca más (Conadep, 1984) essa história aconteça. Recordar é um antídoto ante os efeitos nefastos da desmentida patológica e a repetição da barbárie, na perpetuação das forças thanáticas (Freud, 1920/1982).

Ante os traumas sociopolíticos trágicos como o da ditadura na Argentina, podemos afirmar que a morte, quando significada, ao encontrar um sentido, também gera vida.

A violência ultrassubjetiva, produzida pelo homem, pode ser convertível: permitir mudanças, rupturas, novas organizações sociais - como as "Mães e Avós da Praça de Maio", que resgataram 130 dos bebês outrora desaparecidos, hoje homens que podem apropriar-se da verdadeira história.

Os lenços brancos na cabeça das "Mães e Avós da Praça de Maio", além de representarem um apelo para a paz, são uma tentativa de segurar a dor mental transbordante, ante filhos e netos desaparecidos (Puget, 2002, 2015).

Muitos são os vértices possíveis para abordar esse filme. Este comentário visa abrir horizontes para a reflexão sobre os efeitos da verdade humanizante, nunca absoluta, e os efeitos deletérios da mentira na estruturação da subjetividade.

 

Contexto histórico: a ditadura na Argentina (1976-1983)

A partir da década de 1970, tanto a extrema direita quanto a extrema esquerda convulsionaram a Argentina com o terror do fanatismo.

As consequências da violência e da crueldade política da ditadura na Argentina (1976-1983) deixaram marcas devastadoras na sociedade. Ao cometerem crimes de lesa humanidade, dinamitaram valores éticos, arrasaram com a convivência civilizatória e anularam direitos básicos da condição humana, ante a impunidade do Estado.

Garantias constitucionais - o direito à vida, à integridade pessoal, o direito ao processo jurídico, a não sofrer condições inumanas de detenção, negação de justiça ou execução sumária - foram arrasadas para 30 mil desaparecidos. As consequências da dor e da violência social são da ordem do impensável! A crueldade testemunhada pelos prisioneiros sobreviventes tem sido comparada ao Shoah.

O Espaço Memória e Direitos Humanos, situado no lugar onde antigamente estava a Escola Superior de Mecânica da Armada, a antiga Esma, localizado em uma movimentada avenida da cidade, mostra as atrocidades do regime. Alguns detidos embarcavam nos voos da morte; outros eram mantidos vivos após sessões de torturas para depor. Bebês foram arrancados cruelmente das mães parturientes para entrarem no mercado ilícito, com documentação falsificada.

Música ensurdecedora tentava silenciar os berros das vítimas torturadas em local urbano.

ESPECIFICIDADES DIABÓLICAS DA ADOÇÃO DE BEBÊS E CRIANÇAS na ditadura militar na Argentina estão testemunhadas nesse museu.

 

A "adoção", o roubo de Maria e as mentiras

Entre as atrocidades cometidas pela ditadura, o roubo de bebês e crianças dos pais biológicos, prisioneiros do Estado, consta como um dos crimes mais hediondos. Essas criaturas foram "adotadas" pelos próprios militares ou por cúmplices do sistema.

Os pais de Maria foram sequestrados, torturados e mortos pelo regime, com a cumplicidade do empresário.

No filme, o empresário alemão tinha como empregado o pai de Maria, um líder sindical. Sua mãe era assistente universitária. Esses cargos eram suficientes para que o casal fosse estigmatizado como comunista, inimigo da pátria, terrorista, guerrilheiro, participante da luta armada, sem nenhuma evidência e/ou prova real.

A menina frequentava a escolinha da empresa onde o pai trabalhava. A reivindicação de direitos trabalhistas já era prova suficiente para sentenciar o sindicalista como pernicioso opositor do governo militar, aliado ao capitalismo selvagem.

Anton revela sua versão da horrenda história para Maria. Registros radioativos (Gampel, 2014) da existência dessa jovem ascenderam. As cicatrizes no tecido mental voltaram a sangrar (Green, 2014).

O algoz omite que sua madrinha teria ido à sua casa à sua procura, em duas oportunidades, quando a sobrinha estava sequestrada, antes do exílio.

O empresário precisava acabar com o incômodo sindicalista. Foi o sequestro, a tortura e a morte do casal um pedido desse empresário aos militares? Uma troca de "favores"? Anton denunciou os pais de Maria com a intenção de se apropriar da filha?

A morte dos "inimigos da pátria" não era reconhecida pelo sistema, a crueldade se potencializava na ambiguidade do nome: desaparecidos. Nem mortos, nem vivos. Muitos deles arrojados ao rio da Prata.

Também a ditadura de Pinochet no Chile assim procedia, como testemunha o filme Botão de Nácar (Patrício Guzmán, 2016). Os oceanos Pacífico e Atlântico e o rio da Prata guardam nas suas águas os cadáveres da repressão e as lágrimas de seres queridos.

Como elaborar um luto sem corpo a ser velado sem os rituais da última despedida? A permanente lembrança dos entes queridos tornava-se crueldade, sem o direito ao esquecimento, por ser equivalente a matar os desaparecidos. A família foi obrigada a realizar um luto especial, com a permanente ilusão do esperado reencontro, sem a possibilidade de elaborar o trauma em carne viva, que encarcera o psiquismo e sequestra o porvir. A madrinha de Maria mostra, no rosto envelhecido pelo sofrimento, dor infinita. A avó, alienada da realidade insuportável pela depressão e pela deterioração neurológica, após dezessete anos, ainda aguarda sua filha, que confunde com a misteriosa aparição da neta divinizada.

Maria, já órfã, foi arrancada pequena de sua família ampliada, de suas raízes, da escolinha infantil, de seu ambiente, da língua materna, da cultura portenha, da tradição, da culinária, do nome.

Ela foi levada clandestinamente para a Alemanha, com documentos falsificados. Viveu traumas cumulativos, psíquicos e pré-psíquicos, ante o clima de terror em Buenos Aires, durante sua gravidez e os primeiros anos de vida.

Os pais adotantes, fugitivos, constroem uma rede de mentiras e segredos para desmentir o protagonismo no destino dos pais de Maria e a adoção.

Ela foi privada da oportunidade de dar sentido aos registros, aninhados no seu inconsciente, ante funções parentais tóxicas e perversas, que com mentiras e mais mentiras envenenavam o ser em formação.

Será que, ao mergulhar na profundidade das piscinas, a protagonista não reencontrava, nas sensações da água sobre sua pele, vivências primordiais, análogas às registradas no útero de sua mãe, com o líquido amniótico? Que amálgama de fatores levou Maria a ser uma nadadora? Que verdades sabidas e não pensadas ela estaria procurando nessas águas?

 

A troca do nome, a falsificação dos documentos

O nome é o berço da identidade, o essencial da pessoa. Ele plasma os desejos, as expectativas, os projetos identificatórios, os sonhos parentais. Ele legitima o laço social simbólico, marca como no palimpsesto a história de várias gerações (Tesone, 2009a). Ele é portador de múltiplos significados e vocações.

O sobrenome marca o lugar do infans numa árvore genealógica, na passagem geracional. Na sua seiva circula a transmissão com os ancestrais, a herança, a linhagem materna e paterna (Tesone, 2009b).

O prenome - o primeiro nome - e o sobrenome são sagrados, únicos, direitos da criança. Com eles o infans entra nas relações parentais e familiares. "Eu sou filho de...; Sou neto de... Meu tio é...".

Os pais doam, ao nomear o filho, uma história imaginária e simbólica, num ato criativo e poético. O ser, ao nascer, inicia o percurso para se apropriar de seu nome, tarefa sempre inacabada. Ao nomeá-la, os pais argentinos inserem essa filha no universo simbólico, numa cultura mítica e familiar de descendência italiana, como o boneco Topo Gigio.

Luís e sua esposa vão muito além da biologia, são pais que constroem a subjetividade da filha. A receptividade, a alegria no encontro inimaginável de Maria com a família de origem, as gravações e o álbum de fotos testemunham a qualidade amorosa dessas relações de parentesco.

O nome, ao ser inseparável do sujeito, é como uma pele psíquica, fortalecido com a pele sonora e visual. Já a troca do nome provoca um desgarro, um buraco, um dilaceramento nessa pele (Bick, 1987/1967). Maria não podia se reconhecer no novo nome ao perder o envoltório sonoro familiar, que protegeu seu frágil ser. Também não podia se ver refletida no olhar desses seres bizarros e mentirosos. Será que ela não foi submetida a uma sobreadaptação, como mendiga de um "amor envenenado"?

Podemos conjecturar que ela sentisse um estranhamento ante o novo nome, ante a nova função da antiga professora, ante a convivência com Anton, num outro país, com outra cultura, outra língua. Maria sofre uma fratura entre a identidade construída na família de origem e a vida com o casal na Alemanha.

Quando os "pais adotantes" falsificam seu prenome e sobrenome, inscrevem-na numa constelação diabólica de relações perversas (Lisondo, 2011). Uma mentira, como um ímã, uma chama a outra e assim por diante. Uma cadeia que enforca e ascende à sede de conhecimento. Os delitos revelam todo um sistema bárbaro, corrupto e horripilante, que pretendia sepultar os preciosos primeiros anos da história de Maria - denegar os crimes cometidos, para legitimar uma adoção ilegal, que arrasa com os mais caros valores éticos da humanidade:

• O direito de essa menina ter seu próprio prenome e sobrenome;

• O direito à filiação;

• O direito dos pais à vida, à paternidade;

• O direito dos familiares à adoção legítima da afiliada órfã para garantir uma familiar continuidade;

• O direito de ocupar um lugar no laço social simbólico;

• A possibilidade de elaborar o trauma ante o "desaparecimento" dos pais com os familiares enlutados.

Há uma violência primária, pré-formada, necessária e constituinte da subjetividade, como assinala Piera Aulagnier (1975/1979), quando os pais antecipam os projetos do filho antes do nascimento, quando os pais escolhem um nome.

Nas adoções ilegítimas, a violência pré-formada é diabólica, cruel, mentirosa e perversa. Elas atingem, de variadas formas, os alicerces, os pilares fundamentais da construção da subjetividade.

Qual o pretexto do casal alemão antes desse sinistro clandestino roubo? Um planejamento bárbaro, permitido pelo Estado, para exterminar supostos inimigos da pátria e se apropriar da filha como se fosse um objeto fetiche para atender seus desejos e ocultar suas fragilidades, ao não ter filhos (Alkolombe, 2008).

Como se reconhecer na mirada de uma mulher ladra? Como esses pais podiam exercer as funções parentais ao estarem inconsciente e conscientemente interditados?

A jovem, ao perder o passaporte no aeroporto portenho, não estaria, nesse lapso, querendo se libertar de sua falsa identidade? Estaria já Maria abrindo as grades de sua prisão mental, onde estava encurralada? Essa jovem guardou os registros sensoriais inconscientes da canção de ninar, do Topo Gigio, as imagens de Buenos Aires e tantas outras, como "Objetos Tesourizados" de sua história (Gampel, 2014).2 Com o prenome e o nome falsificados, ela foi carimbada com o brasão do horror.

Anton viaja a Buenos Aires ao saber da convulsão emocional da filha no aeroporto: ter cantado em espanhol a canção de ninar, a perda dos documentos, o encontro com o boneco. Sua tentativa de perpetuar o terrível enredo mentiroso já não é mais possível.

Ante o desespero e o assombro da filha quando é informada sobre sua adoção, ante o interrogatório, silenciado durante tantos anos, ele confessa o nome dos verdadeiros pais. Ele narra, nas entrelinhas, o desaparecimento, a tortura e a morte do casal. Anton revela inconscientemente sua cumplicidade! E são justamente esses nomes o fio de Ariadne que permite que essa adolescente busque e encontre as raízes de sua eclipsada subjetividade.

 

O exílio

Enquanto o monstruoso casal voltava à sua terra natal, a intérprete do filme foi obrigada a uma migração forçada, ao exílio (Grinberg & Grinberg, 1984). Ela foi arrancada da terra natal. Mas tanto o casal quanto a filha tinham a exigência de reconstruir a identidade para ocupar os contaminados novos lugares psíquicos.

As feridas sediadas na sua alma cindida aparecem no aeroporto, nas ruas da cidade, no encontro com o boneco. Ela muito perdeu, porque muito teria recebido de seus pais e família de origem. Um luto impossível, enraizado num fundo melancólico, fonte de permanente sofrimento.

Como criar uma personalidade harmônica quando registros primordiais vitais precisam ser sepultados no seu psiquismo, cindidos, despojados de sentido, distorcidos, silenciados pelos pais ladrões e criminosos? Ela não podia integrar as vivências de sua vida pré-natal e pós-natal com o estranho e sinistro, mundo interno dos pais adotantes, o novo e desconhecido ambiente na Alemanha.

A narrativa verdadeira nas histórias de família, a palavra plena de sentido, as imagens nos álbuns de família e vídeos permitem dar figurabilidade ao exílio e cerzir o tecido mental desgarrado pelo trauma.

Essa menina escutou histórias, e lhe foram mostradas fotos montadas, como provas de que sua professora, Marcela, estava grávida de Maria. Essas tentativas tenebrosas de provar uma "normalidade" teriam forçado essa criatura a desqualificar suas vivências, suas percepções, potencializado a cisão e a denegação da terrível realidade.

Maria podia já ser capaz do trabalho de simbolização (Roussillon, 2019); ter construído uma membrana de contato3 e, portanto, ser capaz de memória; estar inserida na cultura através da linguagem, funções em permanente movimento.

Por que ela teria um dia amanhecido na Alemanha? Onde estavam seus pais, tios, avó? Por que saiu de sua escola? Essa curiosidade não podia ser compartilhada com os pais, os outros estrangeiros, inculpados e que pretendiam fazer desaparecer sua lúgubre história. Maria não era incapaz. Esse casal, ao forjar uma trágica adoção diabólica (Lisondo, 2014), ao cortar a relação entre os acontecimentos para alinhavar a história, ao desunir os elos entre os significantes, os vínculos entre as relações para criar analogias, a afinidade entre as experiências para formar a metáfora, não teria permitido à filha buscar sua verdade histórica, desenvolver e expandir seu universo mental, pensamento mediante. Ela viveu como uma estranha estrangeira, não só na Europa, mas também como uma estrangeira de si mesma, em si própria (Antonelli, 2015), num ambiente tóxico e asfixiante causado pelas mentiras.

O primitivo mundo sensorial é convocado e aparece no teatro de sua mente. Ela precisa saber sobre esse enredo mortífero.

Na sua cidade natal, Maria retorna e permanece, separada de seu pai adotivo, no lugar sempre desejado de sua origem, de sua infância. Ela conquistou a oportunidade de um encontro consigo, talvez para poder ressignificar sua história, outrora impensável. Uma reconstrução de sua identidade estava em curso. No momento em que tomou a decisão de ficar na Argentina, essa jovem será ainda estrangeira dentro de si mesma, e não mais a estrangeira na Alemanha. Com coragem enfrenta uma mudança catastrófica, com outros lutos, dores, turbulência emocional e esperança no desconhecido futuro.

 

Impunidade, justiça, perdão? Gratidão?

A revoltante impunidade no terrorismo do Estado já era prevista para todos os delitos cometidos nas vítimas indefesas. Essa couraça protetora dos fatos era o "modus operandi" de uma conduta delitiva sistematizada. A definição arbitrária "detenção--desaparição" protegia aos executores do terrorismo de Estado. Os militares atribuíam-se faculdades extraordinárias e planifica-ram um sistema complexo à margem da lei.

A tia de Maria, assim como a avó, o tio e a família ampliada, tinha vivenciado a incerteza, a escuridão, o horror ante a dor impensável e o terror. A falta de informações e o silêncio dos órgãos públicos e das autoridades anunciavam a tragédia. Como e onde procurar o paradeiro dos pais dessa menina? Por que eles teriam sido detidos? Onde estariam?

Mas a madrinha, que foi até a casa de Anton buscar notícias sobre o paradeiro da afilhada e foi enganada de maneira atroz, é a porta-voz de toda a família, do desejo de justiça. Ao consultar a sobrinha sobre sua intenção de denunciar o verdugo, Maria se opõe à denúncia. Para ela impera a ambivalência entre o ódio ao homem malvado e, talvez, o amor esgarçado, a compaixão ante esse "pai". Para essa moça o casal é também o outro nela. Talvez, para essa jovem, lidar com a história de sua vida implicasse uma re-traumatização.

A tia foi capaz de respeitar a alteridade, o desejo da sobrinha. Num profundo gesto amoroso de generosidade, essa mulher renuncia à sua sede de vingança e justiça.

Para Klein (1957), o sentimento de gratidão depende da relação que o bebê tenha tido com o seio e o posterior desmame. É possível conjecturar que a protagonista da tragédia tenha tido uma experiência suficientemente boa, com um seio estético, pensante, inspirador e transformador, num vínculo apaixonado.

Essa relação primária, na origem de sua vida, brotando de Eros, teria lhe permitido ser grata a esse homem, mesmo ao tomar consciência das barbaridades que ele e sua mulher haviam cometido na sua vida e na família ampliada. Anton era o desconhecido, próximo e hostil, a lhe garantir a sobrevivência; o estra-nho-estrangeiro malvado, não mãe/ não pai (Freud, 1926/1982). Maria inverte a novela familiar (Freud, 1909/1982), acreditando que os pais adotantes eram os "verdadeiros pais".

O investimento libidinal dessa filha no seu padrasto, Édipo mediante, acompanhante sinistro de sua vida, e as emoções associadas geram o sentimento de gratidão (Lisondo, 1992).

 

A mente primordial; a importância da sensorialidade

A concepção da mente multidimensional e da personalidade total (Bianchedi et al., 1999) contempla a vigência da mente primordial em todo ser humano.

Essas relações primeiras, marcadas pela sensorialidade, são o berço do sofrimento psíquico nos traumas precoces, vivenciados muito antes da aquisição da linguagem. Esses traumas ficam congelados no psiquismo e se repetem à procura de compreensão (Freud, 1926/1982).

Será que essas marcas, registros, nos alhures do id da segunda tópica de Freud, da vida pré-natal e pós-natal, não são um fator importante na escolha vocacional da protagonista? Da tristeza melancólica no seu rosto?

Esses estados mentais primitivos resistem à violência das mentiras e dos segredos dos pais adotantes. Essas marcas foram cercadas por uma couraça autista, como um tesouro a ser protegido (Rosenfeld, 1986), uma tentativa defensiva de preservação.

O poder evocativo da canção de ninar

A canção escutada e a cena sublime presenciada - conhecida e estranha - (Freud, 1919/1982), quando uma mãe tenta acalmar seu bebê chorando para conciliar o sono, cantando a canção de ninar "Arrorró mi Niño", com um balanço rítmico (Guerra, 2015), e a musicalidade da melodia, embalando-o, provocam em Maria uma profunda turbulência emocional.

Marcas, registros de sensações auditivas, cinestésicas e olfativas que não alcançaram a representação verbal, são reavivadas. "Esse embrião pulsional psíquico-pré-psíquico" (Roussillon, 1991/1995) foi soterrado (verschüttet). Nesse núcleo cristalizado constitui um "outro inconsciente" (Marucco, 2007), que pode se expressar na repetição (agieren) como destino. Esse algo que a criança viu e ouviu na época em que ainda não era capaz da linguagem (Freud, 1937[1939]/1982). Um significante pré-linguístico dessas marcas mnêmicas, vivências do tempo primeiro que escaparam a qualquer possível significação.

A melodia da canção tem a força memorial do afeto e guarda o segredo da própria história da vida de amor de Maria na sua família de origem, quando ela era a majestade (Freud, 1914/1982). Encontro de encantamentos que é na sua essência incognoscível e inominável (Lisondo, 2010). Canção mágica e sagrada que, alinhavada a outras descobertas de sua existência, vai compor uma narrativa mítica. Ela é o arquétipo de uma memória coletiva.

No vídeo em que José Miguel Wisnik fala sobre Grande Sertão: Veredas, ele conta que Antonio Candido colocou na canção de Siruiz4 a melodia cantada pela sua mãe (Wisnik, 2019). A força do infantil se faz presente com todos seus enigmas!

Ela busca a origem conhecida/desconhecida de sua língua materna.

Essa língua não cabe no lote comum das línguas, em uma simples ordem cronológica. O traço que a caracteriza é a constituição de um sujeito falante: uma trajetória na aquisição de linguagem que não se repete. É nesse sentido que ela é inesquecível. Tornar-se falante tem como efeito o esquecimento da fala infantil, isto é, uma vez capturada pelo funcionamento da língua (materna), a criança esquece a fala infantil (Pereira de Castro, 2006, 2010).

Nesse presente, na providencial parada na Argentina, há uma apresentação que possibilita novas marcas, que dão conta da reorganização dos vínculos, sempre cambiantes. No aeroporto, a esportista embarca numa viagem existencial, para ressignificar sua vida e dar significação ao não representado.

Nesse encontro de forte impacto emocional, ela começa uma recriação de sua história. As marcas demoníacas do irrepresentável encontram sentido na voz dos familiares e nas fotos compartilhadas.

A relação filial dá início a uma mudança catastrófica (Bion, 1966), portal para aterrissar numa triste realidade, pista libertadora para outros voos existenciais em companhia da verdade histórica possível (Freud, 1937[1939]/1982).

A protagonista rememora, através dos sentimentos, o que Klein (1957/1987) chama de "memory in feelings", ou "ampliando sua ideia", memória em sensações: auditivas, visuais, cinestésicas, gustativas, olfativas, tácteis.

Aqui a canção:

Arrorró mi niño,
arrorró mi sol,
arrorró pedazo,
de mi corazón.

Este niño lindo
ya quiere dormir;
háganle la cuna
de rosa y jazmín.

Háganle la cama
en el toronjil,
y en la cabecera
pónganle un jazmín
que con su fragancia
me lo haga dormir.

Arrorró mi niño,
arrorró mi sol,
arrorró pedazo,
de mi corazón.

Esta leche linda
que le traigo aquí,
es para este niño
que se va a dormir.

Arrorró mi niño,
arrorró mi sol,
arrorró pedazo,
de mi corazón.

Este lindo niño
se quiere dormir...
cierra los ojitos
y los vuelve a abrir.

Arrorró mi niño,
arrorró mi sol,
duérmase pedazo
de mi corazón5

A personagem é capaz de se re-apropriar de uma experiência primordial de encontro amoroso.

 

A força do encontro com boneco ratinho: Topo Gigio

 

 

Topo Gigio foi criado em 1958 pela italiana Maria Perego. O ratinho, com personalidade infantil, fez a alegria de uma geração nos anos 1980, num programa para crianças que levava o seu nome.

Além do carisma tipicamente italiano, como a família de origem de Maria, sua aparência também contribuía para que as crianças ficassem apaixonadas por ele. Topo Gigio tinha orelhas enormes, dois dentinhos, quatro fiapos de bigodes e um belo par de olhos verdes. Em suma, era um rato charmoso.

O segredo de Topo Gigio também estava na sua forma doce de falar, aliada ao seu irresistível sotaque italiano e, principalmente, na maneira como o boneco era manipulado, pois seus movimentos pareciam bem naturais. Seu rosto transmitia emoção e seus olhos até se mexiam, além de o boneco andar pelo cenário com muita desenvoltura.

Um dos momentos mais aguardados pela criançada era quando Topo Gigio pedia um beijo de boa noite, enquanto balançava a perna - momento mágico, lúdico e sonhador! Outro momento "fofo" era quando, antes de dormir, o ratinho aparecia vestindo um pijama e touca. Um rato que adorava cantar e dançar.

Quando Maria o encontra na vitrine do antiquário deambulando pela capital argentina, ela revela a convulsão emocional que o boneco lhe provocava. Marcas, registros sensoriais, albergados nos alhures do inconsciente, vibram e se iluminam.

A formação das imagens foi amplamente estudada por Freud na criação dos sonhos (1900/1982). Posteriormente, Bion (1977) as classificou na linha c da Grade. Elas surgem graças à rêverie das funções parentais. Os pais criam uma alfabetização emocional, exercem uma função conarrativa (Golse, 2020), ao significarem o mundo na polissemia das experiências compartilhadas.

Assim o boneco podia representar: a hora de dormir; a despedida dos pais; o objeto transicional (Winnicott, 1972) com o qual acompanhar e se consolar ante as angústias de exclusão, despertadas pela cena primária, na alcova nupcial; as fantasias ante a concepção de um irmãozinho... e infinitas outras possibilidades!

O psiquismo precoce sobreviveu nessa menina-moça por meio dos vínculos e das memórias afetivas sensoriais.

 

Mentiras e verdades

Alethéia, na etimologia grega, significa desvelamento e não esquecimento. Mas, em latim, verdade se diz veritas, que quer dizer vergonha. Rezende (1999) questiona se nós teríamos vergonha da nossa nudez, da nossa verdade, e a encobriremos para não a mostrar.

Em lógica, o falso é o contrário de verdade. O falso é a falta de verdade, de autenticidade, a falta de relação entre as palavras, as ideias, as emoções e a realidade.

A verdade, a adequação entre o pensamento e a realidade, é sempre transitória. Ela permite que se aprenda da experiência. É o alimento essencial, tanto quanto o amor, no vínculo primário entre a mãe e o bebê que garante o crescimento psíquico para ambos. É possível conjecturar que Maria, quando foi sequestrada e roubada, já tinha os alicerces de sua subjetividade suficientemente construídos, o que lhe teria permitido enfrentar os traumas sem enlouquecer ou se retirar do mundo numa concha autística (Korbivcher, 2001).

Quando admitimos que nos aproximamos da verdade, do "o", da realidade última, parcialmente (Bion, 1965), e que nunca a alcançaremos totalmente, porque na sua essência ela é incognoscível e infinita, afirmamos que em toda verdade algo de falsidade está presente, como exigência lógica.

A mentira exige a presença do mentiroso que afirma o contrário ao que se sabe, crê ou pensa. Mentir é induzir ao erro, falsificar, fingir, faltar ao prometido, quebrar um pacto (Bianchedi et al., 1997). Justamente a Mentira, com maiúscula, para os autores argentinos, luta para impossibilitar o contato com a verdade. Mentir é um ato consciente. É preciso saber sobre a verdade para desmenti-la. A falsidade seria a dobradiça entre a verdade e a mentira e pode vir a se transformar neste último veneno mental.

A filha foi despojada do contato com a realidade, das emoções verdadeiras, um desaprendizado do já aprendido, um desvincular o vinculado. Ela sofreu um ataque à possibilidade de pensar (Bion, 1962a, 1962b). Num vínculo parasitário, a Mentira levou à destruição do casal alemão e parcialmente à de Maria. Será que Estela não invejava com voracidade Marcela e destruiu, então, os vínculos filha ↔ mãe ↔ pai ↔ família ampliada? Será que a morte da madrasta não teria fatores emocionais implicados?

No fim do filme, o vínculo simbiótico entre o pensamento e a emoção, a verdade possível desmascarada, permite o crescimento de todos os personagens. Maria, ao sair das trevas da confusão enlouquecedora e alienante, ante suas emoções, suas lembranças, suas memórias, seu permanente estranhamento, pode escolher e decide ficar na sua terra natal. Nesse momento ela é autora, exercendo a liberdade que lhe foi arrancada outrora.

A verdade temida testemunha a criminalidade e a perversidade do pai adotivo Mentiroso. Ele aparece sendo o que era. O fugitivo levou na sua bagagem o peso da culpa, o julgamento de sua consciência, o golpe ante a evidência de sua miséria mental revelada? A humilhação ante a queda do embusteiro, que pretendia recusar à castração humana? Não sabemos.

Seu Super-Super-Eu sentenciava, outrora com máximas morais despojadas de princípios éticos, típicas das ditaduras, os inimigos do regime. Quando ficou nu, Anton era o inimigo dos princípios civilizatórios (Gampel, 2002).

Com esse ponto de inflexão na história de Maria, ao desvendar as Mentiras, ao perceber a realidade, outrora denegada, ele perde a possessão da jovem como alucinado fetiche. Maria não mais precisou ser a testemunha da fertilidade do casal. Pelo contrário, a história perversa de truculentas mentiras é revelada. Esse casal não foi capaz de suportar a dor da frustração pela esterilidade. O desejo de ter um filho, a qualquer custo psíquico, se impôs como ideia única, fanática (Sor & Senet, 1992).

Quando os pais biológicos e/ou adotantes mentem ou propositadamente silenciam e escondem verdades, eles intoxicam a mente infantil.

O infans, a criança e o adolescente inconscientemente captam as expressões faciais, os constrangimentos, a confusão nas narrativas dos pais, das testemunhas, dos porta-vozes. Registros que podem vir a ser ressignificados vida afora.

Maria, quando percebe a verdade dos traumas cumulativos sofridos, pôde iniciar um processo de historização e transformar o "destino". As verdades que encontra são elos que alinhava com a narrativa afetiva da madrinha e do tio. Essas dolorosas descobertas permitem que ela possa reconstruir sua identidade (Lisondo, 2011).

Ao escutar a gravação de sua última festa de aniversário em Buenos Aires, ela também pôde acompanhar em espanhol a canção e o ritmo6 e, metaforicamente, renasce.

 

Referências

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Correspodência:
ALICIA BEATRIZ DORADO DE LISONDO
Rua José Morano, 313, Nova Campinas
13100-055 - Campinas/SP
Tel.: 19 3251.5059 / 11 3873-8567

Recebido 30.07.2020
Aceito 14.08.2020

 

 

1 Filme comentado no Grupo de Estudos Psicanalíticos de Campinas (gep-campinas).
2 "O Objeto é um tesouro que ajuda a viver" (Gampel, 2014, p. 21).
3 Para Bion, a membrana de contato é formada por elementos alfa. Ela é responsável por sonho, memória e pensamento.
4 A canção de Siruiz é uma profecia da sina de Riobaldo. A melodia original se perdeu. Temos a composição de Luiz Henrique Xavier de uma "canção boiadeira", adaptada por Antonio Candido: "Urubu é vila alta, mais idosa do sertão: padroeira, minha vida - vim de lá, volto mais não... Vim de lá, volto mais não?. Corro os dias nesses verdes, meu boi mocho baetão: buriti -água azulada, carnaúba - sal do chão... Remanso de rio largo, viola da solidão: quando vou p'ra dar batalha".
5 Existem muitas variáveis dessa canção, inclusive canções diferentes com o mesmo ou parecido título.
6 Feliz cumpleaños é em espanhol a tradução de "Parabéns".

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