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Ide

Print version ISSN 0101-3106

Ide (São Paulo) vol.43 no.72 São Paulo July/Dec. 2021

 

O OLHAR DE ULISSES

 

Odisseias psicanalíticas: a pesquisa em psicanálise

 

Psychoanalytic odysseys: research in psychoanalysis

 

 

Luca Trabucco; Tradução de Flavio Verdini; Revisão de Edoarda Paron e Anne Lise Scappaticci

Psiquiatra, psicanalista, membro da Sociedade Psicanalítica Italiana (SPI) e da Associação Psicanalítica Internacional (IPA) - Gênova / luca.trabucco@spiweb.it

 

 


RESUMO

Neste trabalho o autor, com base no pressuposto de que a psicanálise se identifica com uma função psicanalítica da mente, e que isso significa o caráter científico da pesquisa psicanalítica, ilustra tal pesquisa na vida e na obra de dois autores, que, curiosamente, produzem no mesmo ano de 1899 suas obras mais significativas: Freud com A interpretações dos sonhos e Conrad com Coração das trevas.

Palavras-chave: psicanálise, pesquisa, Freud, Conrad


ABSTRACT

In this work, the author, based on the assumption that psychoanalysis identifies with a psychoanalytic function of the mind, and that this means the scientific character of psychoanalytic research, illustrates such research in the life and work of two authors, who, curiously, produce in the same year of 1899 their most significant works: Freud with The Interpretations of Dreams and Conrad with Heart of Darkness.

Keywords: psychoanalysis, research, Freud, Conrad


 

 

Desde seu alvorecer o pensamento psicanalítico foi movido por um profundo e explícito espírito científico. Espírito que, desde o início, esteve além de modismos e estereótipos.

Agora não sei onde estou, porque falhou a minha tentativa de encontrar compreensão teórica para a repressão e o jogo das suas ... se estivesse deprimido, exausto, confuso, tais dúvidas poderiam ser tomadas como sinais de cansaço. Mas, visto que me encontro no estado oposto, forçosamente devo reconhecer que eles são o resultado de um honesto e efetivo trabalho intelectual e estou orgulhoso de poder fazer tal crítica após ter ido tão a fundo. (Freud, Carta a Fliess, 21 de setembro de 1897)

Freud nessa carta testemunha seu próprio empenho em conhecer a verdade das coisas como elas são, e recusar uma gratificação derivada da construção de uma teoria autorreferente (como, ao contrário, parece ocorrer em algumas derivadas do pensamento psicanalítico mais recente, seduzido por modelos epistemológicos do tipo neopositivista, pós-moderno e narratológico, cf. Sandler, 2011).1

"Não consigo formular uma ideia sobre a beleza intelectual deste trabalho", Freud escreve ainda a Fliess, em uma carta de 3 de outubro de1897.

Como observa Robert (1964/1967):

Freud, a partir de 1897, refere-se às várias fases de sua autoanálise ... e nos leva àquelas zonas obscuras nas quais ... se debateu sem outra ajuda além da sua intensa necessidade de conhecer ... os obscuros pressentimentos, vindos à luz durante a paciente observação dos seus doentes, que se tornaram uma experiência precisa graças ao prodigioso aprofundamento dentro de si mesmo. (pp. 98-100)

A viagem que Freud empreende em direção ao interior da sua própria mente é frequentemente facilitada pelas viagens no mundo da arte: suas cartas a Fliess são pontuadas por citações de Shakespeare, Dostoievski e Goethe; às vezes se define apenas como um comentarista de Nietzsche (sabe-se o quanto Freud muitas vezes afirmou que os poetas são os mais profundos conhecedores da alma humana); além das viagens pelos locais que lhe evocam profundos encontros de grande significado emotivo, como as cidades do Renascimento italiano ... a viagem para lugares de arte torna-se para Freud um poderoso evocador de constelações inconscientes que se entrelaçam à sua autoanálise, concorrendo para suas mais importantes descobertas. (Magherini, 1997)

Viagens no mundo e na mente que se entrelaçam, criando um profundo encontro entre consciência e paixão.

As explorações psicanalíticas, nesse sentido, podem ser empreendidas com esse espírito, atribuído não apenas aos pensadores psicanalistas, mas, em função da natureza da realidade psíquica mesma, como necessidade de se conhecer - "Fatti non foste a viver come bruti, ma per seguir virtute e conoscenza" (Dante, La divina commedia, Inferno, canto XXVI); ovvero il νοθς 2aristotélico: a função psicanalítica da mente - para todos aqueles que se debruçam a pensar sobre a mente que pensa: artistas, filósofos, físicos, psicanalistas e pacientes.

"Bion observou que as palavras não foram feitas com o intuito de significar sentimentos ou emoções" (Sandler, 1997, p. 21); mas, considerando que não fomos feitos para viver como "brutus", temos de saber que não se pode definir tudo o que pertence ao campo dos sentimentos e das emoções. Neste sentido, os poetas e os filósofos foram os principais artífices do conhecimento do homem sobre si mesmo, antes de Freud. O qual teve o grande mérito de tornar essa sua obra, além de tudo, também "terapêutica".

O homem que pensa os próprios pensamentos sem um laço com a realidade é, segundo Nietzsche, o homem apolíneo; mas é somente o homem trágico, dionisíaco, que pode chegar a uma autêntica apreensão da realidade (v. também Sandler, s.d.).

A tensão em direção à Verdade - a realidade -, entendida como paradoxo que não deve e não pode ser resolvido, caracteriza todo o pensamento de Freud, uma marca que deixa um rastro indelével no desenvolvimento do pensamento psicanalítico.

O pensamento freudiano representa uma etapa no âmbito das abordagens psiquiátricas, de um movimento que creio se possa iconograficamente identificar na imagem de Pinel, que libera de suas correntes os "loucos" de Salpetrière. Ato que deu início a um percurso que, mesmo com a diversidade das épocas e as diferentes orientações das escolas, não deixou nunca de guiar o fazer psiquiátrico. O esforço da psiquiatria francesa pós-revolucionária, até o século XIX, de individuar "síndromes", assim como a obra de Kraepelin na direção da identificação da entidade nosográfica, ou a grande sistematização da psicopatologia feita por Jaspers, tende a retirar o estranho da consciência "sadia", levando-o para o âmbito do mágico, do maléfico, do não humano, em vez de atribuir um significado de qualquer tipo à inquietante estranheza/familiaridade do "psicopatológico", ou a não o deixar vagar como um personagem sem vulto e sem orientação. A obra de Freud, nesse sentido, representa o ápice de tais operações, de conquista do significado e do pensamento do estranho, uma autêntica experiência do "trágico".

 

Odisseias de 1899: Freud

Este livro [A interpretação dos sonhos] tem, de fato para mim, também um ... significado subjetivo de que somente pude dar-me conta ao seu término. Ele surgiu como um fragmento da minha autobiografia, como a reação à morte do meu pai, portanto, o acontecimento mais importante, a perda mais lancinante na vida de um homem. (Freud, 1899/1989b, p. 5)

A obra fundamental que se pode colocar como pedra angular do edifício psicanalítico nasce, em 1899, como reação a uma perda: "a perda mais lancinante elabora este trabalho, na vida de um homem".

Antes de elaborar a reflexão sobre luto e melancolia, Freud escreve esse trabalho dirigindo genialmente todos os seus recursos para uma exploração dos próprios espaços internos, através da "via régia" do sonho.

Em uma carta a Fliess, para agradecer-lhe os pêsames, escreve:

A morte de meu pai me golpeou profundamente através de uma das obscuras vias que estão além da consciência oficial ... quando morreu já tinha vivido o seu tempo, mas a sua morte despertou em mim todos os meus antigos sentimentos. Agora me sinto completamente desenraizado. (citado em Jones, 1953/1962, p. 391)

Existem dois elementos nesse pensamento que considero particularmente significativos: a sensação de desenraizamento e a percepção de uma insuficiência da "consciência oficial" para dar conta do estado emotivo que ele está vivendo. As palavras não são suficientes, embora necessárias. Um paradoxo para tolerar. O enraizamento de si mesmo não pode ser recuperado no âmbito da consciência oficial, mas segue obscuras vias que levam ao inconsciente.

Essa obra contém múltiplas implicações para o desenvolvimento não apenas da psicanálise dos próximos anos, mas em geral para a cultura humana, que se encontrará a partir daquele momento descentrada a respeito de tudo o que até então tinha sido considerado como o baluarte fundamental da mente, ou melhor, da consciência. O caráter científico da obra de Freud vem preencher essa lacuna que anteriormente tinha sido sempre apresentada como campo dos artistas.

Na lição 18 da Introdução à psicanálise, Freud fala das duas grandes feridas que a humanidade sofreu: em relação à sua posição no universo, graças a Copérnico, e à sua posição no mundo, graças a Darwin.

Mas a terceira e mais candente mortificação, a megalomania do homem, está destinada a recebê-la com base na atual indagação psicológica, a qual pretende demonstrar que o Ego não apenas não é o patrão dentro de sua própria casa, mas lhe são atribuídos aspectos dos quais pouco sabe e que estão inconscientemente na sua psique. (Freud, 1915-1917/1989c, p. 446)

Seus próprios sintomas e a consequente análise dos próprios sonhos por parte de Freud o levam a abrir páginas da sua própria mente, que "escandalizam". São imagens ligadas a sentimentos de rivalidade, em que o indivíduo descobre, na sua intimidade, ser habitado por uma falta de moralidade inquietante. Assim como o capítulo sobre a sexualidade, e a sexualidade infantil em particular, vem a subverter estereótipos consolidados, e retirar o manto de ingênua pureza que circunda o "que deveria ser" da infância. A morte do pai torna-se uma possibilidade particular para explorar e descobrir a dimensão edípica.

O vazio deixado pelo objeto é preenchido, à medida do que é humanamente possível, pela representação e pela memória. Mas a recuperação por meio da memória não é um simples processo reprodutivo. Freud encontra nesse ponto os fenômenos ligados aos movimentos da mente: o esquecimento, a deformação, a confusão entre fantasia e realidade. Parte da realidade é reprimida, e apenas um trabalho duro permite recuperar para a consciência trechos dessa realidade, externa e interna. Através do trabalho sobre os próprios sonhos ele vai reconstruindo aquela que, no final de sua obra, definirá uma construção dotada das características de uma verdadeira semelhança3 (Freud, 1938/1989a).

Pelo estudo sistemático dos próprios sonhos Freud chega a uma definição, que retoma de Griesinger: o sonho como "realização de um desejo". E aí a entrada do desejo, a meu ver, abre um capítulo muito complexo e fundamental. O desejo introduz no âmbito da realidade da existência psíquica o não existente. O desejo apresenta aquilo que não há, aquilo que não existe na atualidade.

A partir do sonho da injeção em Irma, "o sistema das identificações", diz Anzieu (1975/1976), "sobre o qual havia até então trabalhado, se desfaz. Até então, ele era vivido, em grande parte, em conformidade com o desejo do outro. Aquela noite, a noite de 23 para 24 de julho de 1895, o sonho o interroga sobre o seu desejo" (p. 156). Deixar-se interrogar sobre o próprio desejo permite a passagem para uma análise de recuperação de tramas perdidas - a recuperação do reprimido -, a recuperação de tramas possíveis, na exploração sem preconceitos do ausente e do desconhecido.

A perda que se abre diante da indagação freudiana é o espaço infinito do inconsciente, e é, portanto, uma perda irremediável, porquanto fisiológica. Mas parece provocar a exposição de um nível subjacente de angústias e experiências arcaicas fundamentais.

Nesse período, no qual mantinha uma particular e intensíssima relação com Fliess, Freud, talvez também influenciado pelas bizarras teorizações do amigo, parece obcecado por pensamentos mágicos acerca da determinação da data de sua própria morte. Muitos dos sonhos que vem analisando tem a ver com imagens de morte, relacionadas particularmente com rivalidade e desejos homicidas. No sonho "non vixit" em particular, em que pairam os substitutos, os fantasmas de Fleischl e Paneth, colegas rivais, eliminados na fantasia. Rivais edípicos, talvez. Desejos e fantasias que a morte do pai trouxe novamente em condição de inelutável atualidade. Mas, mais do que figuras paternas com as quais competir, são também personagens que desapareceram improvisamente, jovens e ao alvorecer de uma carreira gloriosa. Nas interpretações de Freud "há uma omissão muito significativa ... ele não faz nenhuma menção a seu irmão Julius ... [que] morreu em 1858, ano em que Fliess tinha nascido ... este era, portanto, um substituto do irmão menor" (Schur, 1972/1976, p. 145). Também nas suas lembranças de infância, Freud tem uma lacuna significativa, trazida por Anzieu (1975/1976, p. 39): ele recorda ter deixado Freiberg, o vilarejo natal, com 2 anos e meio, embora a família tivesse se transferido para Viena quando ele tinha 3 anos e meio. Neste ano ocorreu a morte do irmãozinho Julius.

Fica a pergunta de que efeito poderia ter tido essa morte e a que contexto significativo poderia ser atribuído. Anzieu observa que uma das grandes sortes de Freud foi "ter sido concebido por uma mãe jovem, vivaz, doce e alegre ..., cujo amor apaixonado e orgulhoso, por ser o primogênito, lhe dá estímulos precoces, um forte sentimento de segurança e de confiança na existência" (1975/1976, p. 27). Nessa relação surge um irmão menor, que subtrai, pelo menos um pouco, ao pequeno Sigmund, a exclusividade com essa mãe. Mas sobretudo um irmão que morreu quando tinha 6 meses. Um longo período naquela idade, entre 2 anos e 2 anos e meio.

Uma experiência que marca com força a imagem da morte no interior da mente, ferindo, talvez, a confiança infantil na imortalidade da infância e na garantia onipotente dos pais.

E me pergunto também quanto a mãe jovem, viva, doce e alegre possa ter sido ferida por essa perda, mesmo se naquele tempo a mortalidade infantil não fosse tão extraordinária, e tenha feito o pequeno Freud confrontar-se com uma situação depressiva da mãe. Em um período a que, além disso, outras mudanças se seguiram, como a transferência da família, um ano depois, para Viena.

A dimensão do desejo leva Freud em direção a algo primordial. No Projeto ele já escrevia: "A imagem mnésica desejada [é] aquela do seio materno com o mamilo com plena visão" (1895/1989e, p. 233). E anos depois, em O estranho: "Amor é nostalgia ... e quando aquele que sonha uma localidade ou uma paisagem pensa, sempre sonhando, 'Este lugar é conhecido, já estive aqui' é lícita a interpretação que insere no lugar da paisagem o órgão genital ou o corpo da mãe" (1919/1989d, p. 109).

De qualquer modo, portanto, volta a ser reencontrada aquela conexão entre os grandes mistérios da existência: o nascimento e a morte. A "base segura", desenvolvida por Anzieu, permite a Freud aproximar-se criativa e rigorosamente dessa dimensão básica da vida mental.

Mais de meio século depois, Winnicott observa como a angústia que experimentamos em face da certeza de nossa morte deveria ser de algum modo correlacionada ao outro estado de não existência do qual proviemos: o tempo antes de nosso nascimento. Mas é evidente que a reação emocional diante das duas situações é muito diversa. De fato, o que me parece fundamental para determinar essa diferença é a presença do objeto. Entrar na existência, em uma história que está em "curso", implica que há alguém que pode nos dizer o que aconteceu "antes". Então, a nossa história torna-se um elemento que adquire sentido na história na qual nos inserimos. Não há, entretanto, ninguém que nos diga o que acontecerá "depois".

No entanto, ambas podem ser consideradas como motivações fundamentais da necessidade criativa do homem. Por um lado, como luta contra a angústia da morte e da perda, por outro, como a identificação com o casal criativo.

Freud em O estranho (1919/1989d) nota como "para muitos homens há um grande estranhamento no que diz respeito à morte" (p. 102) e como este sentimento - unheimlich - representa algo que "não é na realidade estranho, mas, ao contrário, tem um quê de familiar à vida psíquica desde tempos imemoriais, e essa estranheza se dá somente em função do processo de repressão". Em todo indivíduo o "efeito perturbador [depende da] projeção de forças que não supunha encontrar tão próximo, mas das quais tem a condição de perceber obscuramente a presença em ângulos remotos de sua própria personalidade" (p. 104). Aquilo que é reprimido, diz Freud, é a angústia de castração. Mas depois esta angústia, ligada à dinâmica edípica, conduz em direção às angústias de morte, que são tratadas por Freud como angústias fundamentais. Não me parece que em momento algum Freud corra o risco, bem evidenciado por Searles (1965/1974), de considerar unicamente os eventos do passado como fonte de angústia, mesmo que excepcionais, "contra a qual a doença se ergue como um escudo, ou se forma como uma rede de cicatrizes sobre uma ferida antiga ... negligenciando uma fonte de angústia mais importante" (p. 472): que é "o fato aparentemente banal da inelutabilidade da morte" (p. 471).

As angústias fundamentais do homem podem aludir a esses mistérios essenciais da existência. Mas destes, paradoxalmente, não temos experiência. Trata-se do paradoxo que Searles indica muito claramente: "Qualquer ser humano ... encontra-se diante deste dilema: não podemos encarar de frente a morte, se não somos uma pessoa inteira, no entanto, só podemos nos tornar uma pessoa inteira se pudermos encarar de frente a morte" (1965/1974, p. 484).

Talvez seja por esse paradoxo que o "estranho" torna-se um destino sempre ambíguo: elemento terrorífico e, ao mesmo tempo, fascinante. Em carta a Fliess em 1899, Freud escreve:

Você também, ... não consegue escrever sobre outra coisa que não seja um trabalho extremo, exorbitante para as forças de um pobre ser humano, que se sobrecarrega com toda ordem de preocupações e pouco a pouco absorve todas as outras capacidades receptivas, uma espécie de tecido neoplástico que se infiltra naquele humano e o substitui. ... Para mim, trabalho e atividade profissional coincidem, e eu me tornei inteiramente um carcinoma. (citado por Schur, 1972/1976, p. 170)

"O passado não é importante, porque não podemos fazer nada [em relação a ele]: as únicas coisas sobre as quais podemos fazer algo são os restos, os vestígios do passado, dos estados mentais passados" (Bion, 1997/1998, p. 60). A elaboração mental da experiência é sempre algo que diz respeito ao presente. Daquele passado, e do futuro, não se pode afirmar nada, e, no entanto, tudo em nossa vida parece surgir em função dele. Então, como entra essa não existência na nossa existência?

A construção do mundo interno e externo torna-se então reparações que permitem, après-coup, delimitar progressivamente e atribuir sentido, mas nunca exaurindo completamente esses mistérios fundamentais, a esse vazio básico que só se preenche de conteúdo vivendo. É o pensamento que se constitui à beira do abismo do nada (Bion, 1962/1972).

A capacidade de criar e a possibilidade de reparar algo que no decorrer da experiência assume o caráter traumático de uma concretização são representadas por esses eventos fundamentais, tornam-se o motor que nos seduz para explorar o desconhecido; o encargo de lidar com o fracasso e a falta de sentido sobre o que nos aterroriza: a outra parte da angústia é representada pela "Verdade bruta inicial, não mentalizada e impessoal ... a difícil e rude, intimidante e intransigente e o horror (horror devido à sua vasta, infinita e ilimitada natureza)..." (Grotstein, 2007/2010, p. 238). Verdade infinita e horror que buscam um "crepúsculo" da razão.

 

Uma outra Odisseia de 1899: Conrad, Coração das trevas

Conrad descreve um crepúsculo que ultrapassa em muito o evento natural:

na sua curva e imperceptível queda, o sol se quedou baixo, do branco incandescente passou a um vermelho opaco, sem raios e sem calor, como se estivesse para se apagar subitamente, ferido de morte por levar a escuridão sobre uma multidão de homens. (Conrad, 1899/1983, p. 301)

É o percurso em direção ao coração das trevas da mente, o espaço mais profundo e desconhecido do coração do homem. "Não conseguíamos entender, pois estávamos muito longe e não conseguíamos recordar, pois estávamos viajando na noite das primeiras eras, daquelas eras que desapareceram, deixando apenas um sinal - e nenhuma lembrança" (p. 331). O espaço da noite, povoado dos filhos do sono, os sonhos, que somente podem nos conduzir a um fragmento de sentido nessa selvagem região da mente.

Para Conrad, que em 1899 publica, em três partes, no Blackwood's Magazine, Coração das trevas (que inicia com um crepúsculo e conclui com "o horror"), o romance torna-se um complexo total no qual se condensa toda a sua história. É o resumo da experiência de um ego adulto que se consolida no comando de uma nave fluvial que sobe o Congo, a serviço do colonialismo belga; é o ápice de uma vida iniciada quando tinha 15 anos, quando, ao deixar a Polônia, vai para a França para tornar-se homem do mar; é o romance de um escritor inglês com início nas margens do Tâmisa; mas, em sua origem, é a viagem para reencontrar Kurtz, esse enigmático e fugidio personagem, incerto entre a loucura e a fascinação.

Joseph Conrad modificou seu nome polonês, quando se tornou cidadão inglês. O seu nome era Joseph Teodor Konrad Korzeniowsky. É sugestivo pensar como existe assonância entre Korzeniowsky e Kurtz. Isto me faz pensar que essa viagem seja um percurso em direção a um passado perdido, a recuperação de uma dimensão infantil e originária. Ele mesmo escreve, no romance assim como nos seus diários:

Bem, quando garoto eu tinha uma paixão pelas cartas geográficas ... Naquela época existiam diversos espaços vazios na terra, e quando na carta eu via alguma que me parecia particularmente atraente ... colocava o indicador e dizia: "quando crescer irei lá". ... Em alguns destes eu fui e ... bem, não vamos falar disso. Existia ainda um - o maior, o mais vazio, por assim dizer - que eu ansiava ardentemente. É verdade, naquela época não era mais um espaço vazio. Desde a minha infância, vinha sendo preenchido por rios, lagos e nomes. Tinha deixado de ser um espaço vazio de mistério encantador - uma mancha branca sobre a qual uma criança pode tecer magníficas fantasias. Tinha se tornado um lugar de trevas. (1908-1909/1982, p. 181)

Aqui surge um paradoxo. O conhecimento parece precipitar o espaço do desejo e da criatividade em um lugar de trevas. O clarão da consciência cega em relação à possibilidade de ver a profundeza do mundo interno, como muitos anos depois sugere Bion, quando convida a deixar-se receber um raio de intensa escuridão para obter um autêntico contato com o desconhecido.

No romance a oposição entre branco e preto, entre claro e escuro, como observa muito profundamente Todorov, é um elemento que percorre cada página: "deseja-se o preto e o branco é o resultado que desilude um desejo que se queria satisfeito ... o branco pode impedir o conhecimento, como a névoa branca 'que cega mais do que a própria noite', que impede aproximar-se de Kurtz" (1971/1989, p. 178).

Existe, portanto, uma consciência em crise. Hanna Segal, ela também uma polonesa emigrada na Inglaterra, observa como a quinta fase da vida de Conrad, depois da infância na Polônia, a juventude como marinheiro francês, uma primeira maturidade como marinheiro inglês, um período crítico como explorador colonialista belga, desemboque enfim, com a crise da meia-idade, na vocação literária que o tornará um dos principais escritores ingleses. Escreve Segal:

A ação externa não foi mais suficiente. Ele tinha que olhar para dentro de si mesmo, colocar-se em contato com seu mundo interno e tentar repará-lo. Tinha que se confrontar com o coração das trevas, com seus impulsos homicidas e suicidas, com a destruição do seu mundo interno. (1984, p. 8)

Conrad tem que retomar o fio de um discurso consigo mesmo interrompido bruscamente na idade de 15 anos, quando decidiu abandonar sua terra natal, a Polônia, e ir para a França para ser marinheiro. "Poderia parecer que foi aquele 'verme que devora' que levou à decisão imprevista do rapaz de 15 anos de abandonar tudo aquilo que lhe era familiar ... esse corte violento pode ser entendido, no entanto, como a afirmação de um objetivo vital, um ato de autodefesa" (Meyer, 1967, p. 33).

Anzieu observa como o desenraizamento de Freud de seu país natal possa ter estimulado a sua criatividade: "A obra a ser realizada toma o lugar do objeto amado e perdido que nos criou" (1975/1976, p. 31). Em um certo sentido Meyer diz algo de semelhante em relação a Conrad. O pensamento, como possibilidade de tornar mental a experiência sensível, através da transformação em sonho (ver Bion, 1962/1972), torna-se necessário exatamente em função da frustração, da perda.

Uma defesa diante de uma situação cheia de sofrimento e depressão. Conrad (cf. Baines, 1960/1967) era o filho único de um casal cujo matrimônio foi muito tumultuado. Os pais da mãe, Evelina, tinham-se oposto por muito tempo ao casamento da filha com Apolo, considerado um homem inseguro e sem senso prático. Somente quando os distúrbios nervosos da filha se acentuaram, eles consentiram no casamento, temendo que ela ficasse sem um pretendente. Seus temores eram fundados, pois o pai de Conrad sempre foi incapaz de fazer um trabalho concreto, embarcando sempre em projetos utópicos e economicamente desastrosos. A sua participação nas conspirações pela independência da Polônia em relação à Rússia levaram-no a ser preso, junto com a esposa e com o filho pequeno e exilados na Sibéria. Ali as condições de saúde da mãe pioraram, e ela morre de tuberculose quando Conrad tem 7 anos. O pai então cai em uma grave depressão, com sinais claramente delirantes, e o pequeno Conrad cresce nesse ambiente lúgubre e louco.

Quando Conrad tem 11 anos, o pai também morre, como que coroando sua situação depressiva. É então que um tio, irmão da mãe, torna-se seu tutor e lhe proporciona um ambiente mais sadio e uma educação. Mas aos 15 anos, sem que tio o impedisse, decide partir para a França para ser marinheiro. Nesse período atravessa uma fase da vida marcada por aspectos de caráter parecidos com o de seu pai: inconstante, entrando em projetos que o fazem perder repetidas vezes a ajuda econômica que o tio lhe fornece.

Aos 23 anos, após reveses e desafortunadas coincidências que o fazem perder alguns embarques, tenta a fortuna em Monte Carlo e perde tudo. Tudo isso, somado a uma desilusão amorosa, o leva a tentar o suicídio. Atira com um revólver em seu coração, mas sobrevive miraculosamente.

Após esse momento crítico, impossibilitado de ter crédito na França, inicia sua fase como marinheiro inglês. E inicia também o período de sua redenção, que o levará a tornar-se um comandante da Marinha mercantil britânica. Mas, como diz Segal, essa ação serve só até certo ponto. No passado de Conrad parecem estar suspensas experiências não elaboradas, lutos, um contato prolongado com a depressão e a loucura, diante das quais, na adolescência, encontrou o recurso da ação, com uma fuga; mesmo se, de acordo com Meyer, isso fosse um recurso, naquele momento, vital.

É preciso, então, voltar às emoções que constituíram a trama de sua infância, fios suspensos em busca de serem tecidos. E atravessar a depressão e a confusão que o levaram a buscar a morte.

Os temas da experiência infantil sobrepõem-se em uma trama inextricável com os temas fundamentais da existência.

A tentação da fuga é grande, assim como a necessidade de descobrir. No seu romance, Conrad (1899/1983) exprime em muitos modos essa ambiguidade: "por alguns segundos tive a sensação de partir, não para o centro de um continente, mas para o centro da Terra" (p. 309). "Subir novamente aquele rio era como viajar para trás em direção aos mais longínquos primórdios do mundo" (p. 329).

A terra parecia não ter nada de terrestre. Estamos acostumados a olhar a imagem de um monstro vencido, mas aí - aí se podia olhar uma coisa monstruosa e livre. Não tinha nada de terrestre e os homens eram... Não, não eram não humanos, bem, sabem, isto era o pior - esta suspeita que não fossem não humanos. Surgia lentamente. Eles urravam e pulavam, e volteavam, e faziam caretas horríveis, mas o que fazia arrepiar era exatamente o pensamento de sua humanidade - igual à nossa -, o pensamento de seu remoto parentesco com aquele tumulto selvagem e apaixonante. Desagradável. Sim, era uma coisa bastante desagradável; mas, se vocês fossem suficientemente homens, teriam de convir com vocês mesmos que havia um, mesmo que levíssimo, traço de correspondência em vocês, da terrível franqueza daquele ruído, uma vaga suspeita de existir nele um significado que vocês - mesmo tão longe da noite das eras primordiais - poderiam compreender. E por que não? A mente do homem é capaz de qualquer coisa - porque nela existe qualquer coisa, todo o passado como todo o futuro. O que havia lá depois de tudo? Alegria, temor, tristeza, devoção, coragem, furor - quem pode dizer? -, mas verdade - verdade despida do manto do tempo. (p. 331)

A verdade dos aspectos essenciais do ser humano. "Subir o rio novamente é, portanto, aceder à verdade, escreve Todorov, o espaço simboliza o tempo, as aventuras servem para compreender" (1971/1989, p. 173).

Uma verdade que desconcerta, em relação à qual não conhecer torna-se reassegurador. Quando relata sua visita à companhia de navegação, na cidade "sepulcral", Bruxelas, encontra, na antecâmara, duas mulheres.

Frequentemente, lá relembrei aquelas duas mulheres que faziam a guarda da porta das trevas e tricotavam a lã preta como para fazer uma quente vestimenta fúnebre: uma anunciando, anunciando continuamente na entrada do ignorado, a outra a prescrutar as faces idiotas e alegres com seus velhos olhos cheios de indiferença. (p. 29)

O conhecimento das trevas parece estar envolto em uma aura de drama: "uma", observa ainda Todorov, "tenta (passivamente) conhecer, a outra conduz a um conhecimento que lhe escapa" (p. 175). Se o conhecimento é sempre incerto, melhor envolver-se em um invólucro de mentira, como na conclusão do romance, considerando que a noiva de Kurtz tem uma imagem absolutamente falsa, idealizada, dele.

Mas Kurtz representa o centro, por longo tempo ausente, do romance. Um originário onde parece aglomerar-se o material de uma possível integração. É o branco na profundeza do mundo negro, o rico e ávido dono do marfim de coração absolutamente árido, o salvador e assassino ao mesmo tempo de todos os selvagens. O objeto desse longo e doloroso processo de conhecimento que escapa sempre a seu explorador. São as suas últimas palavras que definem a fundamental impossibilidade de conhecer e compreender a sua essência: "O horror, o horror!". Talvez o horror por não poder nunca conhecer definitivamente o objeto que suscita nossa curiosidade e nosso terror. Um conhecimento que escapa continuamente e que parece poder ser alcançado somente no momento supremo no qual tudo escapa.

Mas Kurtz representa também aquele que se confrontou com a verdade e acabou louco. Uma verdade confusa, em que o branco e o negro se aproximaram sem que tenha havido a capacidade, a possibilidade nem de integrá-los, nem de mantê-los separados. Kurtz não foi capaz de descrever seu encontro com o coração das trevas, ficou confuso, imerso nele, incapaz de tirar de sua originária selvageria os elementos que poderiam verdadeiramente enriquecê-lo, sem espoliar o objeto.

Na vida pessoal de Conrad, sua capacidade de escrever - e ele diz explicitamente que cada escritor escreve sempre sobre si mesmo - representa uma elaboração e uma integração dos vários elementos afetivos de sua experiência. Interromper sua peregrinação por entre os mares, os mais distantes de seu mundo, e deter-se para observar os acontecimentos, internos e externos de si mesmo, repensá-los, revê-los, revivê-los em um novo arranjo, são os elementos que lhe permitirão não acabar como Kurtz, ou melhor, como Korzeniowsky, daquele si mesmo infantil que tinha de se confrontar com a sua própria treva, mas que não podia realmente enfrentá-la. Teve de demonstrar sua coragem nos mares, e na sua vida, para ter a coragem de olhar dentro de si mesmo.

 

Conclusão

No percurso do crescimento cultural humano, reencontramos um elemento "Odisseia", que o percorre, desde sempre, desde seu passado longínquo aos dias de hoje; poderíamos pensar que isso possa ser considerado da mesma forma que consideramos o Édipo: uma figura, uma pré-concepção necessária para compreender o desenvolvimento do homem tanto do ponto de vista filogenético quanto do ontogenético.

A Odisseia percorre toda a história da literatura, da ciência, das artes figurativas e musicais, assim como a vida de todos nós, como configuração de nossa tarefa de nos confrontar com os personagens inquietantes criados por nossa mente, assim como o infinito, emaranhados na realidade, mutável, inalcançável, inacessível. Nossa capacidade de pensar pode, a essa realidade, "reconfigurá-la de modo tal, que, miraculosamente, a verdade encontre uma aparência não intimidadora e fique sempre mais tolerável de modo misericordioso" (Grotstein, 2007/2010, p. 238). A intuição que permite colher algo dessa realidade, e que nos traz um assombro maravilhoso da beleza do mundo e da mente.

 

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1 Recentemente F. Barale (2021) falou sobre a profunda diferença e a necessária interrelação entre criar um texto e traduzi-lo: traduzir um texto, que é de alguma forma falar sobre ele, ou criar um texto, que não existe, mas que é inventado. Mas isso abriria uma longa discussão sobre as "transformações em alucinose", que não seria o caso no momento.
2 Termo que em grego antigo indica, a partir de Homero, a capacidade de compreender um evento/ acon- tecimeto ou as intenções de alguém, a faculdade mental, portanto, o intelecto. Entende-se aqui como a mente tende a conhecer a si mesma.
3 Verossimilhança é um conceito sobre o qual se funda uma boa parte da literatura romântica. Manzoni o coloca como base do seu "romance histórico": um romance que se desenrola em um contexto de eventos e personagens "históricos".

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