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Tempo psicanalitico

Print version ISSN 0101-4838

Tempo psicanal. vol.45 no.1 Rio de Janeiro June 2013

 

EDITORIAL

 

 

Fazendo bom uso da liberdade recém-adquirida com o término da restrição semitemática, este número da revista Tempo Psicanalítico apresenta 11 artigos - e uma resenha - que versam sobre os mais diversos temas, ligados tanto ao saber psicanalítico como a campos afins. Psicanálise, filosofia, música e teatro se articulam e entrelaçam em uma espécie de "livre associação" de artigos e ideias.

Com a versão on-line da revista (ISSN 2316-6576), disponível desde 2010 no portal PePSIC (Periódicos Eletrônicos de Psicologia), a restrição temática perde a razão de ser, uma vez que essa versão possibilita ao leitor selecionar o tema que deseja pesquisar, nos diversos números do Tempo. Além disso, com o fim da restrição temática, o processo editorial de recebimento, processamento e publicação de artigos torna-se mais ágil e fluido, beneficiando tanto autores quanto leitores.

Começando pela arte, com ela dois artigos deste número fazem interlocução. Débora da Fonseca Seger e Edson Luiz André de Sousa propõem uma interessante e rara aproximação entre psicanálise e música, com ênfase nas concepções lacaniana de voz - como objeto a - e de pulsão invocante na constituição do sujeito. Já o artigo de Paola Mieli, com tradução de Ivanisa Teitelroit Martins, traz uma reflexão sobre ciência, novas tecnologias e alienação subjetiva, a partir da peça teatral de Primo Levi: "A bela adormecida na geladeira" (Levi, 1966/1986), mostrando como a normalidade pode ser percebida como produto de uma normatividade biopolítica universalmente aceita.

O conceito de biopolítica de Foucault - tão atual - também está presente no artigo de Joel Birman, no qual o autor faz uma interessante articulação entre o conceito foucaultiano e o mal-estar na contemporaneidade para lançar luz sobre a questão da comparabilidade dos paradigmas constituídos na história da psicanálise.

O sujeito da psicanálise é a temática do trabalho de Glória Maria Monteiro de Carvalho e Alba Gomes Guerra. No artigo, as autoras discorrem sobre o sujeito que funda tanto a ciência como a psicanálise, colocando tais campos em uma relação "indissociável, porém antinômica": enquanto a ciência busca suturar, a psicanálise se esforça para manter a divisão que move o sujeito.

Na "escala invertida da Lei do desejo" Lacan situa o gozo, que neste número é tematizado em três artigos. Em O gozo na topologia borromeana: um novo paradigma?, Andréa Máris Campos Guerra parte de uma revisão dos seis paradigmas do gozo de Miller (2012) para propor um sétimo, a partir da topologia borromeana. O nó borromeano também está presente no artigo de Alinne Nogueira Silva Coppus, no qual o corpo - sede do gozo - é abordado de uma "maneira borromeana". Ainda na temática do gozo, o artigo de Ana Maria Medeiros da Costa, Maria Aimée Laupman Ferraz e Valdelice Nascimento de França Ribeiro traz uma interessante articulação entre o amor, a posição feminina e a escrita.

As possíveis conexões entre o fenômeno da maternidade tardia e o sentimento de ambivalência são investigadas no texto de Fernanda Travassos-Rodriguez e Terezinha Féres-Carneiro. As autoras discorrem sobre as dificuldades das mães tardias em conciliar certos aspectos da vida já bem estruturada com as funções da maternidade.

Daniel Dias Brepohl e Vinicius Anciães Darriba, em Um estranho irredutível no saber freudiano sobre as psicoses, partem da noção freudiana do estranho para examinar o esforço de teorização da psicose empreendido por Freud ao longo de sua obra. Neste percurso, os autores analisam textos importantes nos quais o mestre vienense se debruça sobre o tema.

No artigo A importância do brincar em Winnicott e Schiller, os autores Fábio Belo e Kátia Scodeler discutem a aplicação na prática clínica da teoria do brincar de Winnicott, bem como suas bases teóricas e semelhanças em relação à conceituação do impulso lúdico e do jogo para Schiller.

Ao discorrer sobre a "Ironia trágica" - traço distintivo do texto sofocleano -, Ingrid Vorsatz aponta para uma dimensão ética ali presente, na medida em que sendo o texto marcado pela polissemia e equivocidade "o herói trágico, ao se decidir por determinado sentido, escolhe seu destino".

Este número apresenta ainda a competente resenha do livro Compulsões e obsessões, uma neurose de futuro de Romildo do Rêgo Barros (2012), redigida pela colega Sandra Edler. Dentre outros destaques, Sandra refere-se à questão da "grande ilusão" - conforme pondera o autor - de se acreditar que alguma mudança poderá advir com o acréscimo de sentido: "pelo contrário, a transformação do sujeito se dá na ruptura com o sentido prévio à interpretação" (Barros, 2012: 45).

Boa leitura a todos!

 

Arthur Figer