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Tempo psicanalitico

versão impressa ISSN 0101-4838versão On-line ISSN 2316-6576

Tempo psicanal. vol.48 no.2 Rio de Janeiro dez. 2016

 

ARTIGOS

 

Marcas do infantil na adolescência: automutilação como atualização de traumas precoces

 

Infant registers in adolescence: self-mutilation as very early traumas updating

 

 

Issa DamousI*; Perla KlautauII, III**

IUniversidade Federal Fluminense - UFF - Brasil
IICírculo Psicanalítico do Rio de Janeiro - Brasil
IIIUniversidade Veiga de Almeida - Brasil

Endereço para correspondência

 

 


RESUMO

Neste artigo examinamos o conceito de trauma, incluindo a questão do desamparo e do excesso pulsional em sua articulação com as falhas precoces cumulativas da função estimulante-contentora do ambiente. Nesse contexto teórico e, a partir de uma situação clínica de automutilação na adolescência, buscamos encontrar um valor mensageiro no ato impelido pela compulsão à repetição que, a despeito de sua meta desobjetalizante, pode ser entendido como um movimento de atualização e de tentativa de elaboração de traumas precoces.

Palavras-chave: trauma; desamparo; ambiente; compulsão à repetição; ato mensageiro.


ABSTRACT

In this article, we work the trauma concept, including the helplessness and instinctual issues, articulated to the precocious cumulative environmental failures, principally in its stimulant-containing function. Based on this theory context we add a clinical situation of self-mutilation in adolescence. In this way, we hope to find a messenger value to the act driven by the repetition compulsion that, despite of its desobjetalizing goal, can be understood as an update movement and an early trauma elaboration attempt.

Keywords: trauma; helplessness; environment; repetition compulsion; messenger act.


 

 

O conceito de trauma é uma das principais marcas da psicanálise. Apesar de diversos caminhos e diferentes ênfases terem sido adotados ao longo da obra freudiana, a essência da formulação inicial a esse respeito permanece e constitui uma espécie de universal do conceito: a noção de temporalidade. Isso fica claro desde a publicação dedicada aos estudos iniciais sobre histeria (Breuer & Freud, 1893-1895/1996), na qual uma das primeiras considerações efetuadas por Freud consiste na ideia de que o trauma não se constitui como tal no momento da ocorrência de um determinado evento impactante. Durante o exame dos casos expostos, Freud postula que as consequências do acontecimento traumático só se estabelecem a posteriori. Ou seja, o traumatismo não se instala logo após o acontecimento primevo supostamente traumático, mas somente num segundo tempo, ou seja, só depois, quando a lembrança da cena, despertada por algum vínculo associativo, for ressignificada.

Sem perder de vista o a posteriori como fio condutor, percorremos os caminhos do trauma no pensamento freudiano até alcançar o campo temático do desamparo e portanto da questão do excesso pulsional. Esse caminho se faz necessário à medida que se articulam ao trauma os momentos mais primitivos do desenvolvimento, e que, na sua função estimulante-contentora da atividade pulsional, o ambiente falha cumulativamente na constituição do escudo protetor que reveste o aparelho psíquico (Khan, 1963/1977). A partir de uma situação clínica de automutilação na adolescência buscamos encontrar alguma positivação no ato impelido pela compulsão à repetição em sua meta desobjetalizante (Green, 1986/1988). Apesar de levarmos em conta a dor, os aspectos agressivos, destrutivos e, em última instância, masoquistas, priorizamos buscar o valor comunicativo e o trabalho elaborativo contido nesses atos repetitivos. Sob essa ótica, a compulsão à repetição pode ser entendida como um movimento de atualização que contém em si a tentativa de elaborar acontecimentos traumáticos vividos nos momentos iniciais da constituição do psiquismo. Nesse contexto, nossa hipótese é de que o ato comportado pela automutilação pode alçar um valor potencialmente mensageiro (Roussillon, 2008) se o ambiente encontrar-se aliançado ao élan de Eros, na sua meta objetalizante, disponibilizando-se então como receptor de uma mensagem ainda não pertencente ao registro simbólico e tampouco convertida sob a forma de narrativa.

 

Marcas do trauma: da sexualidade infantil ao desamparo do eu

Seguindo a lógica temporal do a posteriori, o trauma é discutido inicialmente por Freud (1950/1996) a reboque da teoria da sedução. Nessa acepção, os danos psíquicos causados pelo acontecimento traumático estão relacionados a um acontecimento externo de cunho sexual. Para entender a lógica temporal proposta por Freud, o caso Emma é paradigmático (Freud, 1950/1996). Com o intuito de estabelecer um vinculo associativo entre dois eventos traumáticos, Freud (1950/1996) recorre a duas cenas narradas pela paciente: a primeira (cena I) ocorreu na puberdade e a segunda (cena II), durante a infância. Na primeira cena, Emma entrou em uma loja e viu dois vendedores rindo juntos. Tomada por uma espécie de afeto de susto, saiu correndo da loja, pois julgou que os dois estavam rindo de suas roupas. A Freud confessou que um deles a havia agradado sexualmente. A segunda cena recordada remontou à ocasião em que esteve desacompanhada em uma confeitaria e o proprietário agarrou-lhe as partes genitais por cima da roupa. Apesar disso, relatou que voltou à confeitaria mais uma vez. Entre as duas cenas, Emma estabeleceu um vínculo associativo: o riso.

[...] o riso dos vendedores a fez lembrar-se do sorriso com que o proprietário da confeitaria acompanhou sua investida. A marcha dos acontecimentos agora pode ser reconstituída. Na loja, os dois vendedores estavam rindo; esse riso evocou (inconscientemente) a lembrança do proprietário. De fato, a segunda situação tinha ainda outra semelhança [com a primeira]: ela mais uma vez estava sozinha em uma loja. Juntamente com o dono da confeitaria, lembrou-se de que ele a agarrara por cima da roupa; de que desde então ela alcançara a puberdade. A lembrança despertou o que ela certamente não era capaz na ocasião, uma liberação sexual, que se transformou em angústia. Devido a essa angústia, ela temeu que os vendedores da loja pudessem repetir o atentado e saiu correndo (Freud, 1950/1996, p. 476).

A descrição acima deixa claro que o sentido do atentado sexual só é atribuído a partir da relação estabelecida com o que foi vivido na adolescência. Basta destacarmos o vínculo associativo estabelecido entre as duas cenas para notarmos que violência sofrida na infância deixou impressa marcas que só puderam ter algum tipo de significado a partir do momento em que um atentado sexual passou a ter sentido, isto é, no tempo da puberdade, mais precisamente quando o atentado passa a conter, em si, o significado sexual propriamente dito. É importante ressaltar que tal significado só adquiriu sentido para a paciente quando as inscrições do atentado sofrido na infância - os vendedores, o riso e as roupas - foram acessadas pela memória e transcritas por intermédio da trilha associativa estabelecida a partir do assédio vivido na puberdade.

Com o abandono da teoria da sedução, a realidade dos fatos deu lugar às fantasias e, com isso, situações traumáticas paradigmáticas passaram a ser associadas às fantasias originárias de sedução, castração, complexo de Édipo e às angustias derivadas destas. Sendo assim, nos termos do primeiro arranjo metapsicológico, a força violenta da atividade geradora de conflito entre as pulsões sexuais e de autoconservação passou a ser associada aos desejos oriundos de fantasias incompatíveis com o funcionamento do eu (Freud, 1905/1996; 1915/1996). Como assinala Souza (2007), a primeira teoria das pulsões demarca um funcionamento contínuo e defensivo do aparelho psíquico, uma vez que é sempre preciso escoar a energia excedente da atividade pulsional. Isso inclui tanto a energia estrangulada relacionada ao trauma da teoria da sedução, quanto a energia conflituosa da primeira teoria pulsional, que precisa de caminhos substitutivos para obter satisfação.

Na medida em que a construção da psicanálise avançava, Freud (1914/1996) foi dedicando atenção especial à noção de narcisismo, fazendo desta um dos principais conceitos de sua obra. Com isso, um caminho foi aberto para o estudo da constituição da subjetividade e, sobretudo, para a inclusão do papel da dimensão alteritária no que diz respeito ao surgimento do eu. É possível dizer que essa novidade preparou o terreno para as transformações advindas da segunda teoria pulsional que, entre outras coisas, atribui um lugar de destaque ao outro enquanto objeto externo. Um dos resultados desse movimento foi o deslocamento da ênfase dada ao fator traumático: a prevalência da sexualidade cede lugar às experiências associadas também a um estado de desamparo.

Sendo assim, em "Além do princípio do prazer", Freud (1920/1996) estabeleceu como traumático o excesso de excitação frente a qual a camada protetora do aparelho psíquico é ineficaz no agenciamento de ligações. Nesse contexto, está em questão a quantidade de excitação não comportada pelo aparelho psíquico: um afluxo de excitações excessivo à tolerância do sujeito e à sua possibilidade de agenciá-las e dominá-las. O resultado disso é a efração ou ruptura do para-excitação. Ao lançar mão da imagem de uma vesícula viva para caracterizar a superfície do aparelho psíquico que exerce uma defesa contra as estimulações, Freud postulou que uma alta ou baixa intensidade de investimentos dessa superfície remonta à maior ou menor capacidade de sujeitar a energia que irrompe no aparelho psíquico. Insuficientemente investido, esse sistema de proteção impele o funcionamento para além do princípio de prazer. O corolário disso é a tendência à compulsão à repetição, como evidenciam as neuroses traumáticas e mesmo a brincadeira de crianças que transformam em jogo a experiência vivida, por mais desprazerosa que tenha sido. Nesses casos, o aparelho psíquico, submetido a uma situação de excesso pulsional, passa por uma ruptura do escudo protetor. Além do transbordamento pulsional que daí resulta, o funcionamento psíquico é atravancado ou a sua estruturação é prejudicada, principalmente em relação à instauração de defesas eficazes no sentido de conter o aumento de tensão. Nesse cenário, o mecanismo de compulsão à repetição pode ser intensificado em um esforço simultâneo de descarga e domínio da excitação não metabolizada. Dessa forma, há uma fixação das marcas traumáticas, um impedimento de suas retranscrições e, consequentemente, da articulação em uma rede representacional. A partir daí, um movimento regressivo é posto em atividade e a pulsão de morte rouba a cena. Resta senão a situação traumática marcada pelo excesso pulsional sem continência que deixa o sujeito à deriva, exposto a um estado desamparo.

A referência freudiana ao desamparo aparece primeiramente em 1895 e depois é retomada, de forma direta, em 1926, na formulação da segunda teoria da angústia. Nesse âmbito, o desamparo está associado ao funcionamento psíquico à mercê do excesso pulsional, sendo enfatizado emblematicamente como um estado de trauma gerador de angústia. O desamparo, nesse sentido, pode ser compreendido como fruto do aumento da tensão interna, refletindo o sujeito submerso no excesso pulsional que o aparelho psíquico não é capaz de dominar. Nesse contexto, a disponibilidade do objeto assessora a modulação do excesso pulsional podendo atenuar a intensidade do estado de desamparo.

No texto do "Projeto" (Freud, 1950/1996), momento em que o pensamento freudiano encontra-se ainda muito próximo da neurologia, o desamparo inicial é associado à posição de total dependência do ser humano à ajuda alheia para remover estímulos endógenos causadores de aumento de tensão e, portanto, de desprazer, assim como para obtenção de satisfação. Isso se deve ao fato de que, ao nascer, a sua condição é extremamente prematura em relação a outros animais e, considerando-se ainda que a pulsão de autoconservação encontra-se em primeiro plano exigindo satisfação que o bebê ainda não pode atender por seus próprios meios, o objeto desempenha então um papel de grande importância em termos de cuidado, proteção e amor no início da vida marcada pela vulnerabilidade.

A partir do rearranjo metapsicológico oriundo da segunda teoria pulsional, uma nova teoria da angústia possibilitou Freud (1926/1996) retomar o viés traumático que caracteriza o desamparo balizado pelo excesso. Se inicialmente a concepção da angústia remontava a um efeito da defesa adotada pelo eu, na segunda teoria a angústia passou a ser conceituada como algo que irrompe em função do nascimento. Nessa abordagem, o nascimento, considerado traumático, continha em si a condição de desamparo com marca do início da vida psíquica. Apenas a seguir a angústia foi reproduzida pelo eu como sinal, como expectativa do estado de desamparo, auxiliando o aparelho psíquico a prevenir-se do perigo de uma nova situação traumática. Ainda que no pensamento freudiano a dimensão do trauma articulado ao desamparo tenha como fio condutor a ideia de excesso pulsional, a questão da qualidade de preparação do aparelho psíquico para qualquer enfrentamento nesse sentido parece assinalar como condição imprescindível a importância do papel estimulante-contentor desempenhado pelo objeto.

 

Marcas do trauma precoce: o ambiente como escudo protetor

Influenciado pelas concepções freudianas de 1920, Ferenczi realizou uma espécie de trabalho arqueológico com o intuito de resgatar as origens do que precocemente pode adquirir caráter traumático por conta, sobretudo, da falta de amparo do ambiente. Ferenczi (1923/1992) propôs que se pensasse o trauma como uma falha ambiental. Isso significa que a falta de sustentação de um adulto, durante o processo de elaboração e produção de sentido, resultaria no desamparo da criança. Para dar corpo a esta ideia, Ferenczi (1929/1992) deslocou para o ambiente a ênfase dada por Freud à função de escudo protetor do aparelho psíquico. Com isso, a relação estabelecida entre a criança e seu entorno passou a ser concebida como constitutiva da subjetividade.

Em "A criança mal acolhida e sua pulsão de morte", Ferenczi (1929/1992) atribuiu à família e aos pais a função de amparar as crianças recém-chegadas ao mundo e postulou que desde muito cedo estas registram os sinais conscientes e inconscientes de desamparo. Se recorrermos ao trabalho publicado quatro anos mais tarde, "Confusão de língua entre os adultos e a criança", é possível entender que os sinais registrados da ausência de resposta do ambiente frente a uma situação de desamparo vão continuar presentes no psiquismo da criança mesmo ainda não sendo nomeados como tais. A permanência desses sinais, não representados no psiquismo, e a falta de resposta do objeto serão conceituados como traumáticos por Ferenczi (1933/1992). Para fundamentar a ideia ferencziana sobre o trauma, o mecanismo de sedução da criança pelo adulto é descrito como o emblemático da situação de desamparo:

As crianças sentem-se física e moralmente sem defesa, sua personalidade é ainda frágil demais para poder protestar, mesmo que em pensamento, contra a força e a autoridade esmagadora dos adultos que as emudecem, podendo até fazê-las perder a consciência. Mas esse medo, quando atinge seu ponto culminante, obriga-as a submeter-se automaticamente à vontade do agressor, a adivinhar o menor de seus desejos, a obedecer esquecendo-se de si mesmas, e a identificar-se totalmente com o agressor (Ferenczi, 1933/1992, p. 117).

Nesse sentido, a sedução deve ser entendida como uma violação psíquica capaz de disparar o dispositivo da clivagem a partir da qual se observa, simultaneamente, duas partes da personalidade em ação: uma preservada, na medida em que tudo sabe mas nada sente, ao passo que a outra parte, identificada com o agressor, destruída, destituída de valor por falta de confiança nos próprios afetos. O corolário disso é a obediência mecânica ao sentimento de culpa introjetada a partir da identificação com o agressor. Tal obediência é descrita por Ferenczi (1933/1992) como uma espécie de transe traumático que se expressa através da compulsão à repetição. A sedução da criança pelo adulto, tal como descrita por Ferenczi, foi entendida por alguns psicanalistas como um retorno às origens - fato que gerou discussões, críticas e até mesmo o afastamento de Freud.

Em um de seus últimos escritos, publicado postumamente, Freud encaminha suas ideias sobre o trauma em direção aos primeiros anos do desenvolvimento infantil. Em "Moiséis e o monoteísmo", publicado em 1939, Freud enfatizou a influência dos traumas precoces, ocorridos até aproximadamente o quinto ano de idade, sobre o desenvolvimento das neuroses: "Denominamos traumas aquelas impressões, cedo experimentadas e mais tarde esquecidas, a que concedemos tão grande importância na etiologia das neuroses" (1939/1996, p. 91). Mais adiante, complementou: "Os traumas são ou experiências sobre o próprio corpo do indivíduo ou percepções sensórias, principalmente algo visto ou ouvido, isto é, experiências ou impressões" (Freud, 1939/1996, p. 93). Se reunirmos os elementos das duas passagens, é possível perceber que um dos entendimentos da noção de trauma está relacionado à descrição de algo vivido que não pôde ser definido de forma precisa, isto é, algo experimentado através de um conhecimento obtido por meio dos sentidos que deixam marcas: vestígios e impressões de um tempo anterior ao estabelecimento da linguagem. Sendo assim, é possível entender que, nessa acepção, o trauma estaria relacionado ao que, por sua prematuridade, foi vivido sem a possibilidade de ser digerido psiquicamente, ou seja, foi experimentado corporal ou sensorialmente algo que, ao longo do tempo, deixa marcas, ou melhor, cicatrizes adquiridas nos primeiros anos do desenvolvimento infantil. Diante de tais considerações, surge a questão: como o analista pode ter acesso às marcas do trauma precoce? Como tais marcas foram inscritas no psiquismo?

 

Automutilação como atualização do trauma precoce

Bruna, uma adolescente de 15 anos, chega ao ambulatório de saúde mental da rede pública por intermédio de uma agente comunitária de saúde que pertence à equipe de saúde da família responsável pela cobertura de um certo território que abarca a casa de sua mãe. Tendo alcançado algum vínculo com Bruna, a agente comunitária pediu ajuda pela adolescente entendendo a gravidade do quadro clínico. Como muitas outras garotas de sua idade, Bruna se apresenta vestindo bermudas, camisetas, tênis, mochila nas costas, cabelo com comprimento médio tingido nas extremidades com cores diferentes, brincos e piercings, porém traz consigo outras marcas. Na verdade, várias: algumas visíveis e chocantes. São cicatrizes de muitos cortes feitos nos braços, e, como depois pôde ser falado, também nas coxas, geralmente utilizando estilete.

Desde dois ou três anos de idade, Bruna morava somente com o pai e avó paterna em um município do interior do estado do Rio de Janeiro pois sua mãe saiu de casa, se mudou e constituiu uma nova família na cidade do Rio de Janeiro. Bruna cursava o ensino médio na cidade onde morava e na escola conseguia estabelecer poucos, mas alguns relacionamentos interpessoais. Em casa pouco falava ou interagia com a família que descobre os cortes apenas quando Bruna passa a inscrevê-los nos braços. Diante do horror da descoberta, prontamente é feito contato com a mãe da adolescente para que a mesma passasse a se responsabilizar pela filha. Assim Bruna chega ao Rio de Janeiro pela primeira vez, para morar na comunidade da zona sul da cidade onde a mãe residia com o atual companheiro e cinco filhos, três do casal e dois filhos do companheiro atual de sua mãe com outra pessoa. Bruna é inserida em uma nova escola onde não estabeleceu nenhuma amizade, pelo menos até o momento em que duas entrevistas puderam ser realizadas com a psicóloga do ambulatório que a recebeu.

Durante os dois encontros, Bruna se mostrou receptiva à abordagem, respondendo questões que lhe eram colocadas, porém de modo curto, empobrecido, sem desdobramentos e tampouco sustentando o olhar. Reservada e inibida, contou, olhando para o chão, que começou a se cortar nas coxas por volta de seus 13 anos. Ninguém via. Usava bermudas ou calças compridas. Quando os braços passaram a ser incluídos, usava blusas de mangas compridas. Não sabia dizer por que começou, nem o que disparava a repetição desse movimento e tampouco o que a fazia parar. Sobre sua rotina na cidade em que morava, não se referiu a nada além de ir à escola e, sobre a dinâmica da interação familiar, disse apenas que era normal, mas, quando questionada se conversavam, se sentavam à mesa juntos, se reuniam em datas comemorativas, ou se falavam sobre as suas atividades escolares, o que apareceu foi um grande esvaziamento afetivo. Uma tia pouco presente a orientou quando teve sua primeira menstruação. A mãe nunca mais voltou à cidade para vê-la. Falavam-se pouco e muito esporadicamente ao telefone. Ela também nunca apareceu para nenhuma entrevista no ambulatório, a despeito das tentativas dos profissionais envolvidos no caso. Soube-se pela paciente alguma coisa da dinâmica na nova casa, por ocasião da segunda entrevista, quando relatou, após ser indagada, que os irmãos estavam sendo receptivos a ela - tinham-na oferecido uma cama e também não mexiam nas coisas dela. Bruna não voltou mais para os atendimentos e os telefones deixados para contato se mostraram inviáveis (número inexistente, impossibilidade de completar chamada, etc). A agente comunitária foi informada que a paciente teria sido enviada de volta para morar com o pai.

Nas entrevistas realizadas com Bruna foi possível notar o enorme vazio afetivo e de ligações associativas entre o que foi vivido e o que pôde ser simbolizado. Muito pouco foi dito a respeito de seu sofrimento: dores já amortecidas pela automatização da vida que seguiu, mas certamente atualizadas nas marcas deixadas sobre a pele. Seriam essas marcas na pele de Bruna uma atualização das repetidas falhas vivenciadas por ela no contexto dos cuidados ambientais?

Khan (1963/1977) assinala a importância do papel desempenhado pelo ambiente na constituição dos contornos do eu e formula o conceito de trauma cumulativo para designar os efeitos de falhas repetidas da mãe em sua função de atender às necessidades do eu em constituição. Para sustentar sua argumentação, Khan propõe uma aproximação entre o papel da mãe nos primeiros anos do desenvolvimento infantil e a metáfora freudiana do escudo protetor:

Proponho-me aqui a examinar a função da mãe no seu papel de escudo protetor. Esse papel de escudo protetor constitui "o ambiente normal que se pode esperar" (Hartmann, 1939) para as necessidades anaclíticas do bebê. Meu argumento é que o trauma cumulativo resulta das fendas observadas no papel da mãe como escudo protetor durante todo o curso do desenvolvimento da criança, desde a infância até a adolescência - isto é, em todas as áreas de experiência onde a criança precisa da mãe como Eu auxiliar para sustentar suas funções de Eu, ainda imaturas e instáveis (Kahn, 1963/1977, p. 62).

De acordo com o autor, essas fendas não seriam traumáticas no momento em que se instalam, só adquirem valor de trauma cumulativa e retrospectivamente, ou seja, o caráter traumático não derivaria dos acontecimentos no momento de sua ocorrência, no instante de abertura das fissuras, mas se instalaria pela repetição e pelo acúmulo de pequenos sulcos, silenciosa e invisivelmente. É importante ressaltar que as pequenas rupturas descritas irremediavelmente instalam uma quebra no sentimento de continuidade de existência do Eu. Assim, a palavra trauma pode ser usada para designar as quebras nesse tipo de sentimento. Tal ideia fica clara nas palavras de Winnicott, autor que possui uma grande influência na elaboração do conceito de trauma cumulativo. Vejamos:

O sentimento de que a mãe existe dura x minutos. Se a mãe ficar distante mais do que x minutos, então a imago se esmaece e, juntamente com ela, cessa a capacidade do bebê utilizar o símbolo da união. O bebê fica aflito mas essa aflição logo é corrigida, pois a mãe retorna em x + y minutos. Em x + y minutos, o bebê não se alterou. Em x + y + z minutos, o bebê ficou traumatizado. Em x + y + z minutos, o retorno da mãe não corrige o estado alterado do bebê. O trauma implica que o bebê experimentou uma ruptura na continuidade da vida, de modo que defesas primitivas agora se organizam contra a repetição da ‘ansiedade impensável’ ou contra o retorno do agudo estado confusional próprio da desintegração da estrutura nascente do Eu (Winnicott, 1967/1975, p. 135).

O termo ansiedade impensável é utilizado para assinalar um tipo de angústia que não deveria ser experimentada pelo bebê, pois causa a sensação de aniquilamento do eu. Essa sensação é vivida como uma intrusão, na medida em que toma conta do eu, deixando-o sem defesas e provocando uma ruptura que interrompe a continuidade da existência. Desse modo, o trauma pode ser entendido como um fracasso relativo à dependência: sem a função de escudo protetor desempenhada pela mãe, a criança é forçada a se defender e se proteger por conta própria, reagindo às intrusões do ambiente e passando a desempenhar funções para as quais ainda não estaria preparada. Por outro lado, não devemos esquecer que fracassos temporários da mãe no papel de escudo protetor são necessários para o desenvolvimento emocional da criança pois podem ser sanados pelo desdobramento da complexidade e dos processos de maturação (Khan, 1963/1977). Contudo, um perigo para o desenvolvimento infantil pode ser detectado quando as repedidas falhas ambientais se tornam frequentes e passam a constituir um padrão, provocando desse modo a inscrição de inúmeras fendas no contexto da dependência do eu infantil em relação ao cuidado desempenhado pela mãe. Ainda assim, não é possível deixar de considerar a questão da temporalidade que norteia o trauma:

É importante frisar novamente que nenhum tipo de fracasso decorrente da mãe ou de invasão do papel da mãe como escudo protetor é, por si só, traumático em qualquer sentido identificável para a criança, neste período. Daí a dificuldade de diagnosticar e corrigir, na época, tal fracasso da mãe como escudo protetor. O trauma cumulativo, portanto, se estabelece de maneira silenciosa e invisível durante toda a infância até a adolescência e deixa marcas em todas as fases vitais do desenvolvimento psicossexual, que mais tarde poderão ser clinicamente observadas na patologia do ego e na formação do caráter do tipo esquizoide (Khan, 1964/1977, p. 79-80).

Noutras palavras, constituído pelo somatório das fendas acumuladas no eu ao longo do tempo, o fator traumático só seria percebido como tal após a instalação dos efeitos patogênicos das rachaduras acumuladas. Reunidas, essas falhas assumem o caráter traumático de um eu permeado de feridas e cicatrizes que podem irromper na adolescência sob a marca patente de uma vida psíquica asfixiada, ou mesmo intoxicada. Na verdade, essas áreas feridas e danificadas de experiência são deixadas de fora do processo de ligação e, em meio às falhas ambientais, são atualizadas parecendo forçar alguma ligação, embora impregnadas prevalentemente pela pulsão de morte, o que, em contrapartida, redunda geralmente em uma compulsão à repetição.

A partir do que foi exposto, não é difícil perceber a articulação do conceito de trauma cumulativo com a falta de sustentação oferecida pelo ambiente a Bruna durante os primeiros anos de sua vida. É possível identificar que, no caso da paciente, o desamparo vivido repetidamente na relação com o ambiente muito provavelmente se atualizou na adolescência como traumático. Os cortes que Bruna inscreveu em seu corpo parecem então atualizar em ato as falhas cumulativamente repetidas de seu desamparo infantil, porém sob a égide de uma compulsão à repetição, acionada com a finalidade de engendrar um trabalho de ligação para que o excesso possa ser elaborado e, finalmente, representado.

Faz-se necessário, no entanto, traçar ainda um reconhecimento do ato em meio à compulsão à repetição. Esse direcionamento consiste em uma tentativa, assim nos parece, de vislumbrar uma saída clínica possível para casos como o de Bruna que, imersos em tamanha toxicidade psíquica, atualizam no corpo as marcas de danos precocemente experimentados. Trata-se nesse sentido de situar o ato em relação ao ambiente buscando identificar na atualização que ele promove algum valor potencialmente simbólico.

 

O valor do ato como mensageiro na compulsão à repetição

Seguindo o pensamento de André Green no esforço em articular a perspectiva teórica pulsional à teoria das relações de objeto, é possível afirmar que a prevalência do ato remonta geralmente a um curto-circuito nos processos de simbolização relacionado à incidência prevalente da pulsão de morte operando de certo modo desfusionada da pulsão de vida em função de falhas traumáticas da função contentora do ambiente. Sabemos desde Freud (1920/1996) que um movimento dialético entremeia pulsão de vida e de morte articuladas segundo os propósitos que empreendem ligação e desligamento, respectivamente. Se, como discutido por Green (1986/1988), o objetivo essencial da pulsão de vida consiste em garantir uma função objetalizante, isto é, criar relações, o trabalho psíquico é direcionado então nessa perspectiva no sentido de manter o investimento significativo, sobretudo dos processos de simbolização, como requer a construção de representações. Contudo, se desfusionados os componentes pulsionais de vida e de morte, tem-se a prevalência de desligamentos possíveis de redundar em desinvestimentos a serviço principalmente da pulsão de morte em sua função desobjetalizante. Com efeito, num contexto traumático, as pulsões dificilmente alcançam um intrincamento suficiente posto que o objeto não pode ser alçado à condição de ambivalência que congrega pulsão de vida e de morte. D iferentemente do que ocorre com Eros, que se faz representar pela libido, não há indícios evidentes no que tange à pulsão de morte, a menos que esteja imbricada com a pulsão de vida ou que se faça representar por seus efeitos destrutivos. Daí então o excesso de clivagens e de manifestações impregnadas de destrutividade em certos casos clínicos como o de Bruna que, na sua radicalidade, seguem a meta derradeira empreendida pela pulsão de morte na sua função desobjetalizante, configurando tanto mecanismos de desinvestimento em geral que tendem a um estado de vacuidade, quanto acarretando indiferença, sentimento de inexistência e de irrealidade de si mesmo e dos objetos.

Particularmente no que diz respeito à clivagem, podemos compreendê-la como uma das primeiras medidas de sobrevivência psíquica frente aos impasses vivenciados por ocasião dos estados traumáticos primários. Esse mecanismo de defesa, no entanto, não elimina os traços dessas experiências e ainda as conservam num funcionamento além do princípio de prazer que ameaça retornar via compulsão à repetição. Trata-se nesse sentido de um retorno do clivado, como sugere Roussillon (1999), um material psíquico que, justamente por não ser representado, se manifesta principalmente numa tendência ao ato e assim redundando ainda mais incisivamente no risco de reproduzir na atualidade o estado traumático primevo. A clivagem desse modo refere-se a um tipo de extraterritorialidade cujos traços só podem ser reencontrados através de modalidades de defesa como o ato.

Certamente as automutilações como as que permeiam o caso de Bruna pressupõem atuações compulsivas que refletem a insuficiência de processos simbólicos derivados de relações anaclíticas deficientes concomitantes à constituição prejudicada do sistema para-excitação. Na situação clínica apresentada, a automutilação conduz à atualização de traumas precoces e, portanto, de modos primários de defesa que ameaçam a autoconservação, tamanha a destrutividade autoengendrada presente nessas atuações. Para Roussillon (2008), contudo, a despeito dessa ameaça à autoconservação, o ato igualmente protege a vida psíquica ao comportar uma mensagem repleta de experiências arcaicas anteriores ao domínio da linguagem verbal endereçada a pessoas significativas do entorno mais próximo. Essa hipótese do autor propõe pensarmos o ato como tentativas de ligações significantes e se inscreve em uma concepção da vida pulsional que reconhece as pulsões sob um valor mensageiro, para além do valor de descarga visando satisfação, ou do valor de dominação das pulsões.

Nesse sentido, a pulsão mensageira se transmite através de três linguagens potencialmente articuladas que, identificadas, facilitam reconhecer a comunicação que porta a linguagem do ato: "a linguagem verbal e as representações de palavras, a linguagem do afeto e as representações-afetos, e a linguagem do corpo e do ato e das suas diferentes capacidades expressivas [...] que correspondem às representações de coisas" (Roussillon, 2008, p. 32). O ato que remonta a esse terceiro tipo de linguagem será então testemunha de uma atividade pulsional pouco organizada, de difícil expressão da negação, de um fracasso na pesquisa da reflexividade assim como da dependência de como o ambiente se mostra perceptivo, responsivo e, em última instância, presente.

Discutindo sua proposta sobretudo no âmbito dos sofrimentos narcísico-identitários, Roussillon acredita que o ato, como o que identificamos em Bruna, não apenas atravessa o tempo apresentando-se como atual como tenta também estabelecer uma comunicação, um reconhecimento ou mesmo um compartilhamento. Para o autor, o valor do ato como mensageiro perpassa necessariamente a resposta do ambiente:

É na verdade a resposta do entorno que, o reconhecendo como tal, dá a ele valor de mensagem, que o define como mensagem significante, como modo de narração, como significante endereçado. Se não é esse o caso, ele "degenera", perde seu valor protossimbólico potencial, é ameaçado de ser apenas evacuado como insignificante, ele é anulado em seu valor expressivo e protonarrativo (Roussillon, 2008, p. 29).

A questão é que essa comunicação expressa em ato porta um sentido apenas potencial, sendo extremamente dependente do sentido que o ambiente confere a ela. Em última instância, isso implica dizer que o ato é apenas potencialmente mensageiro. Poderíamos então supor que as automutilações de Bruna num primeiro momento seriam uma tentativa de comunicar a fragilidade das suas experiências narcísicas mais primitivas no sentido do ato mensageiro proposto por Roussillon (2008)? Se pensarmos na presença desvitalizada do ambiente no qual Bruna se encontrava, as suas primeiras experiências narcísicas possivelmente implicavam já na desqualificação ou não qualificação das suas impressões corporais e afetivas e, diante da continuidade cumulativa das respostas desqualificadas do ambiente, a compulsão à repetição do ato automutilador teria portanto se intensificado.

A compulsão à repetição maciça consiste em uma característica clínica fundamental na medida em que a pulsão de morte, operando desintrincadamente da pulsão de vida, prevalece em sua meta desobjetalizante. De todo modo, podemos ainda supor que o ato imbuído de um valor mensageiro, como sugere Roussillon (2008), traz em si alguma possibilidade de ligação, ou, de acordo com o autor, algum potencial protossimbólico ou protonarrativo, apenas se estiver em questão uma configuração não radical de desintrincação entre as pulsões, como ocorreria no suicídio e nas psicoses que revelam a desintegração do eu (Green, 1986/1988). Há que se pensar dessa maneira em uma certa função objetalizante ainda presente no ato impelido pela compulsão, ou seja, há que se considerar atuante ainda a função comprometedora da pulsão de vida nas marcas atualizadas mortiferamente no corpo de Bruna. O ato assim apresentado, contudo, precisa ainda ser recolhido e contido pelo ambiente disponível e atento, metabolizado e devolvido, para que de fato assuma o estatuto de mensagem. Talvez esse seja o elo indispensável para garantir algum comprometimento almejado pela pulsão de vida, mesmo que apenas por um resquício dele.

Analisada em sua positividade, a compulsão à repetição pode ser concebida como um meio de atualizar o evento traumático em um esforço ininterrupto de processamento e descarga. Sob essa ótica, os cortes talhados na pele de Bruna podem ser entendidos como uma tentativa repetida de ligar as zonas psíquicas não integradas ao eu e, consequentemente, de simbolizar as falhas do ambiente. Dessa forma, o movimento de compulsão à repetição traz consigo impressões precoces que, por não terem sido simbolizadas, são reexperimentadas nos cortes infligidos no próprio corpo. Cortes estes que evocam um passado que continua atual pois ainda não foi transformado em lembranças dizíveis. Em casos como o de Bruna, uma das possíveis maneiras de estabelecer uma via de elaboração para o que foi precocemente traumático é a construção de uma narratividade capaz de localizar o sujeito em seu tempo. Isso significa possibilitar a historicização do que se tornou permanentemente atual: encontrar um lugar para o passado e uma abertura para um novo tempo.

 

 

Referências

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Artigo recebido em: 10/01/2016
Aprovado para publicação em: 22/03/2016

Endereço para correspondência
Issa Damous
E-mail: issa@infolink.com.br
Perla Klatau
E-mail: pklautau@uol.com.br

 

 

*Psicanalista, Profª Ajunta Detpº de Psicologia da Universidade Federal Fluminense, pesquisadora CNPQ.
**Psicanalista, Membro Efetivo do Círculo Psicanalítico do Rio de Janeiro, Professora dos Programas de Mestrado Profissional e Doutorado em Psicanálise, Saúde e Sociedade da Universidade Veiga de Almeida.

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